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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

GEOGRAFIA - NOTURNO

LUCAS MARTINS ROMÃO

Resenha acerca do livro “ O Mito moderno da natureza


intocada” de Antônio Carlos Diegues

São Paulo - SP
2023
O livro “O mito moderno da natureza intocada” do professor Antônio Carlos
Diegues foi publicado em 1994, contendo ao todo 12 capítulos e 198 páginas. Esta
obra de suma importância tem como objetivo abordar os conceitos resultantes da
relação entre o ser humano e a natureza desde o início do século XX, tendo as
áreas naturais protegidas como ponto central desta análise.
A explicação sobre a natureza intocada e o mito moderno é abordada no
capítulo 4, onde Diegues argumenta que o mito da natureza intocada diz respeito à
representação simbólica da existência de áreas naturais intocadas pelo ser humano,
evidenciando a incompatibilidade entre a preservação da natureza junto às ações
dos grupos humanos, rompendo a ligação ancestral homem-natureza e atrelando
um papel de destruidor do meio natural ao ser humano (principalmente analisando
os efeitos do desenvolvimento da civilização urbano-industrial e os avanços
tecnológicos) e então deve-se ser mantido separado das áreas que necessitam de
proteção, logo estabelecendo a natureza intocada.
No mesmo capítulo, o autor explica que o mito moderno estaria atrelado a
uma concepção hipocêntrica das relações homem-natureza, onde os direitos do
mundo natural e mundo antropológico tem os mesmos direitos, logo o homem não
tem o direito de dominar nem destruir o meio natural, além de que este mito teria
bases fortes em religiões, principalmente a cristã, com a ideia de um “paraíso” onde
a natureza seria intocada, livre e sem nenhuma pressão da sociedade. Vale ressaltar
que este mito se confronta com outros mitos e símbolos das sociedades rurais e
indígenas, pois durante o capítulo 3, evidencia-se que o conceito de mundo natural
é, em sua fundamentação, uma percepção urbana a qual a sociedade estaria
distante deste ambiente, enquanto os habitantes destas áreas, analisam áreas como
a floresta como sua casa.
As áreas intocadas seriam estruturadas como parques e áreas de
preservação ambiental, onde na primeira, o homem poderia contemplar e adentrar
neste mundo natural, entretanto sem habitar ou estabelecer nesta. O professor,
durante o capítulo I, apresenta que nos Estados Unidos, havia duas correntes
teóricas que recaiam no debate das áreas intocáveis: O Conservacionismo de
Pinchot, que pregava um uso dos recursos naturais de forma racional, baseando-se
na prevenção de desperdícios e manejamento dos recursos em prol da maioria.
Nesta lógica, o homem seria capaz de utilizar o mundo natural de forma equilibrada,
logo não seria eficaz que este se mantivesse intocado.
Em contraparte, havia-se também o Preservacionismo de Muir, que
estabelecia que a presença do homem e suas ações são nocivas para o mundo
natural. A forma de proteger o meio natural seria atribuindo a noção de
intocabilidade a ela, com a criação de parques e áreas de preservação para este fim.
Muir compreendia a natureza com um sentido de apreciação, onde os seres têm-se
um valor independente de sua utilização. Por conta disso, no capítulo I, Diegues se
discorre sobre a origem das criações de parques nacionais, remetente aos EUA e
elabora suas análises sobre as duas correntes, para logo em seguida, durante o
capítulo II, apresentar suas críticas sobre o modelo de parques nacionais, pois para
o autor, esta evidencia ainda mais a separação entre sociedade e natureza,
contendo uma visão extremamente centrada no homem, e que este modelo foi
replicado em todo o globo.
O professor também ressalta que o Preservacionismo teve reflexos negativos
em países emergentes ( utiliza-se do termo Terceiro Mundo), principalmente ao
analisar as relações entre camponeses e povos tradicionais, a quais eles interferem
na natureza por meio de seus saberes próprios da terra e seus frutos, os quais
foram totalmente desconsiderados pela corrente de Muir e os parques nacionais
americanos.
Ainda analisando o mito da natureza intocada, Antônio se desprende das
correntes originárias e analisa as atuais correntes no século XX que tratam sobre
este mundo natural, muitas vezes sendo recorrido como mundo selvagem. No
capítulo III, é apresentado a ecologia profunda de Anne Naes, que estabelece que o
meio natural deve ser preservado por si própria, onde a natureza teria os direitos
iguais ao da sociedade contemporânea. O autor ressalta que esta corrente tem
como principal ponto a lógica de o ser humano não se pode negar o seu próprio
antropocentrismo, e que as sociedades humanas deveriam-se estabelecer se
espelhando na natureza.
Além desta, existe a mais difundida, que seria a Ecologia Social, defendida
por Bookchin e Reclus, que estabelece que os problemas sociais estão atrelados
diretamente aos problemas da relação homem-natureza. Nesta corrente, os
humanos são seres sociais organizados em diversos grupos, e se propõe uma
descentralização de poder, estabelecendo uma sociedade de produção em
comunidade (comunal)
E concluindo-se, temos o Ecossocialismo, corrente estritamente ligada ao
Socialismo, que tece críticas ao naturalismo, Conservadorismo e que tem sua
origem na análise das forças produtivas da terra e da natureza. Esta corrente se
estabeleceria de um novo Naturalismo, o qual considera a natureza ligada
diretamente a história do homem, e reside no ponto onde a coletividade deve-se
relacionar com o meio natural, diferente da relação homem-natureza (que
estabelece uma relação indivíduo-meio), basicamente estabelecendo que a
sociedade seria produto e atrelada ao meio natural.
Durante os próximos capítulos, o autor compreende-se que a concepção de
natureza intocada está permeada da ideia de necessidade de salvação do meio
natural, e o autor estabelece que os mitos ( sejam eles neomitos, mitos
bio-antropomórficos) podem ser encontrados nas atividades de sociedades
primitivas além de poderem serem encontradas nas sociedades urbanas. Adiante, o
autor discorre mais sobre as relações entre o homem e o natural, onde se
apresentam a necessidade de representar e legitimar as relações do homem com a
natureza.
Além disto, durante os capítulos conseguintes, ao discorrer sobre a cultura, as
relações do homem-natureza, a identificação das propriedades destas relações e
outros conceitos, o autor divide entre dois tipos de sociedade e sua formas de se
relacionar com o meio natural: Os povos interligados ao ecossistema e os povos
biosfera, que se diferenciam por estarem interligados a economia global
(Globalização) e que é preciso ressaltar que: a noção de território é crucial na
relação entre os povos e a natureza, pois o território seria influenciado pelas
relações sociais existentes juntamente do tipo de exploração do meio-físico, sendo
estas oriundas do imaginário, quando analisamos que existem povos que
consideram o natural como sagrado, o preservando desta forma.
Quando o autor descreve as sociedades tradicionais, ele evidencia como
características desta: a simbiose com a natureza, conhecimento sobre ela,
territorialidade, preferência de atividades de subsistência, acumulação de capital
reduzida, simbioses atreladas às atividades socioeconômicas, impacto tecnológico
reduzido, auto identificação e etc. Em sua conclusão, Antônio Carlos Diegues afirma
que as sociedades urbanas devem reconhecer a importância das sociedades
tradicionais que vivem em harmonia com o meio natural, a fim de aprenderem com
elas, destacando-se principalmente o conhecimento destes povos tradicionais, além
de destacar a necessidade de compreender as relações entre a natureza e o homem
REFERÊNCIAS

DIEGUES, Antonio Carlos. O mito moderno da natureza intocada. 6.ed. rev.


ampl. São Paulo: Hucitec/NUPAUB, 2008

OLIVEIRA JÚNIOR, S. B. de. DIEGUES, Antônio Carlos Sant’Ana. O mito


moderno da natureza intocada. Revista de Educação Pública, [S. l.], v. 18, n. 36, p.
227–229, 2012. DOI: 10.29286/rep.v18i36.533. Disponível em:
https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/educacaopublica/article/view/533.
Acesso em: 20 jun. 2023.

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