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VI-115 - ESTUDO DA ALTERAÇÃO PAISAGÍSTICA DO RIO GUAMÁ

NA REGIÃO DE OURÉM NORDESTE DO ESTADO DO PARÁ

Rafaella de Souza Menezes (1)


Discente de Engenharia Ambiental pelo Instituto de Estudos Superiores da Amazônia – IESAM.
Vívian Evelyne Silva Araújo (2)
Discente de Engenharia Ambiental pelo Instituto de Estudos Superiores da Amazônia – IESAM.
Maurício da Silva Borges (3)
Doutorado em Geologia e Geoquímica pela Universidade Federal do Pará. Pós Doutorado pela UNESP/RC-
SP. Docente do Instituto de Estudos Superiores da Amazônia (IESAM).

Endereço (1): Avenida Cipriano Santos, 472 – Apart. 03 - Canudos - Belém - PA - CEP: 66070-000 - Brasil -
Tel: (91) 8150-7704 - e-mail: rafaellamenezes17@hotmail.com

RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo, descrever a alteração paisagística de um trecho do rio Guamá
localizado na região de Ourém, nordeste do estado do Pará, através de mapeamento do meio ambiente físico.
Analisou-se a dinâmica do processo erosivo no rio ao longo da orla, com o auxílio de fotografias aéreas e de
bases cartográficas, processados no software ArcGis. Em seguida foi feito uma avaliação das características
físicas do rio Guamá como geologia, tipo de solo, rede hidrográfica, que possibilitou a relação com o
processo erosivo na margem do rio. Nos resultados obtidos, verificou-se através das imagens de satélite que
a sinuosidade do canal controla a dinâmica da água e influencia no processo de erosão e deposição de
sedimentos ao longo do mesmo, além disso, existe a atuação das seixeiras nas margens do rio que aceleram
esse processo.

PALAVRAS-CHAVE: Rio Guamá, Ourém-PA, Mapeamento, Ambiente Físico, Geoprocessamento.

INTRODUÇÃO
A cidade de Ourém, localizada no nordeste do estado do Pará, tem como principal acidente geográfico, o rio
Guamá, sendo este o principal meio econômico, cultural e turístico da região. O qual sofre grandes
influências no seu percurso devido às atividades antrópicas, como a extração madeireira e mineração, as
chamadas seixeiras. Essa dinâmica ao longo do rio têm acelerado o processo erosivo nas suas vertentes,
provocando assim alteração no ciclo de ecossistemas de espécies animais e vegetais, assim como nas
atividades econômicas de subsistência dos ribeirinhos. Essa problemática têm gerado a necessidade de se
buscar meios que viabilize a proteção e/ou minimização do dano socioambiental, através do estudo da região
afetada.

Entende-se que o processo de ocupação e uso do solo nas vertentes contribui para o aumento do escoamento
superficial, provocando a erosão nas encostas do rio. Com a destruição da vegetação nas margens, o solo
desagrega-se com maior facilidade, lançando sedimentos no curso principal, resultando no assoreamento
(Nascimento, 1994).

Desse modo, a erosão pode ser resultante de dois processos distintos o processo geológico, ou natural,
resultante da atividade normal da água, do vento, do gelo e da gravidade, ou mesmo a erosão pode ser
acelerada pela ação antrópica que facilita a ação intensa das águas pluviais e do vento. Isso ocasiona
diminuição da lâmina d’água e prejuízos ao ecossistema. Em meio à isso, faz-se necessário um estudo mais
apurado das influências e causas do processo erosivo, o qual pode ser avaliado através do estudo das
características da vegetação, do solo, tipo de drenagem e atividades econômicas realizadas ao longo do rio
Guamá.

Nesta pesquisa destaca-se o exercício da observação objetiva ou análise do meio físico, direta (através da
análise em campo) e indireta (através de fotografias aéreas e cartas topográficas), para fins de caracterização

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do comportamento das águas de superfície, pois conforme as características do seu deslocamento, as águas
superficiais podem provocar a erosão dos solos. Esta análise também permite distinguir regiões com maior
ou menor capacidade de infiltração, com base na análise da densidade da rede de drenagem.

Com base nesses conhecimentos, deve-se considerar as diversas formas de uso do solo que intensificam ou
atenuam o escoamento superficial. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo, descrever a
alteração paisagística de um trecho do rio Guamá localizado na região de Ourém-PA, através de
mapeamento do meio ambiente físico.

MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi realizado em um trecho do rio Guamá, localizado às margens da cidade de Ourém-PA, na
Mesorregião do Nordeste Paraense, entre as coordenadas geográficas de 1° 33’ 32” a 1° 32’ 46” de latitude
sul; e de 47° 08’ 22” a 47° 04’ 57” de longitude oeste de Greenwich. Como mostra a figura à seguir:

Figura 1: Área de estudo do rio Guamá, Município de Ourém-PA.

Figura 2 - Área de detalhe do rio Guamá, com destaque para as seixeiras na margem direita do rio.
Fonte: Google Earth (2011).

O trabalho foi conduzido em duas fases: a primeira através da análise em campo, a fim de observar as
atividades antrópicas nas margens do rio Guamá, como se pode identificar através da imagem acima. A

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segunda fase consistiu no processamento das fotografias aéreas, cartas geológicas, cartas hidrológicas, afim
de transferí-los para uma base de dados georreferenciada.

PRIMEIRA FASE: ANÁLISE EM CAMPO


Escolheu-se o trecho do rio Guamá em que se torna bastante visível e intenso o processo de assoreamento.
Nesta área o solo é utilizado por moradias e edificações voltadas para o lazer, estas construídas de forma
desordenada ao longo das vertentes do rio.

Para melhor compreender a descaracterização do meio físico, foi realizado o mapeamento da geologia e
hidrografia da região, para verificar o processo de assoreamento do rio Guamá. Um dos fatores que afetam a
dinâmica do escoamento superficial são o carreamento de sedimentos, para o leito do rio e a sua
consequência é a diminuição da lâmina d’água nesse trecho. Analisou-se também a influência da atividade
mineradora na região, pois elas atuam nas margens do rio, onde é retirada a vegetação para a realização da
escavação e retirada de seixo.

SEGUNDA FASE: MAPEAMENTO DO MEIO FÍSICO DA REGIÃO DE ESTUDO


O mapeamento do meio ambiente físico envolveu a leitura de cartas geológicas, hidrogeológicas e shapes
pesquisados na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA) e Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais (CPRM). Em seguida os dados foram processados e transferidos para uma base georreferenciada.
As informações mapeadas foram modeladas em Sistema de Informação Geográfica (SIG), pois essa
ferramenta leva à uma maior precisão dos resultados à serem obtidos nas análises ambientais promovendo a
interpretação do processo de assoreamento do rio Guamá.

Na elaboração dos mapas foi utilizado o software ArcGIS 9.2, que constitui SIG produzido pela
Environmental Systems Research Institute (ESRI), grupo de programas que possibilita realizar
procedimentos para a visualização, exploração e análise de informações espaciais (Sales, 2005). Para
isso ele oferece ferramentas de mapeamento, análise e gerenciamento de dados, além de incorporar os
recursos de edição, cartografia avançada, administração de dados e análises espaciais.

RESULTADOS OBTIDOS
Carta hidrológica do rio Guamá:

Figura 3: Hidrografia da região do rio Guamá.

O rio Guamá é o rio principal da bacia atlântico norte/nordeste conforme a figura 3. A rede de drenagem é
dentrítica, com alta densidade e segmentos predominantemente curvos formando ângulos agudos. O alto
número de ramificações é responsável pelo maior deflúvio, ou seja, a água permanece por um longo tempo

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na bacia hidrográfica até alcançar o seu exutório. Essa dinâmica é responsável pelo arraste das partículas de
rocha no interior da bacia provocando a erosão e a deposição no trecho sinuoso do rio.

A energia disponível para o transporte de carga sólida quando é suficiente, mantêm o leito do rio em
condições estáveis. Caso exista um excedente de energia, esta será usada para erodir os lados e o fundo do
canal, assim como transportar o material sólido que lhe está sendo fornecido, contribuindo para aumentar a
carga de sedimentos para a jusante.

A geometria do canal é definida pelas falhas e fraturas conforme a figura abaixo:

Figura 4: Identificação das falhas e fraturas controlando o canal do rio.


Fonte: Google Earth (2011)

Na região pertencente ao rio Guamá, ocorrem as falhas e fraturas, como se ver na imagem acima.
As falhas são rupturas e deslocamentos identificados com setas vermelhas, as fraturas são uma deformação
por ruptura identificadas por setas azuis que se destacam em vários trechos sinuosos do rio. Esses elementos
estruturais definem o padrão retangular do rio com mudanças de direção do curso com ângulos de 90° de
NW para SE e de NE para SW. O tipo mais comum são as falhas normais que controlam os trechos de
erosão do rio, mas não formam nas margens escarpas.

Carta da Geologia do rio Guamá:

Figura 5: Geologia da região de Ourém-PA


Fonte: Villa, (2007)

ESTRATIGRAFIA

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Conforme a figura acima, a geologia da região de estudo é caracterizada da seguinte maneira:
Pré-Cambriano
Granitos
1) Granitóide Ourém: aflora em um trecho do rio e parte na sede do município;
2) Granito Jonasa: aflora na fazenda cachoeira. Apresentando coloração cinza esbranquiçada com
granulação variando de fina a grossa (Palheta, 2009).
3) Granito Ney Peixoto: tem granulação média, embora ocorram fáceis finas e grossas, ocorrem em
afloramentos rasos e moderadamente intemperizados (Rossetti, 1989).

TERCIÁRIO SUPERIOR
A geologia da região de estudo pertence ao Grupo Barreiras, apresenta sedimentos não estruturados ou com
estruturação bastante rudimentar. Isso pode corresponder tanto a um caráter primário, refletindo as
condições de sedimentação, quanto pode ser resultante de forte intemperismo. Esse por sua vez é formado
por fácies Conglomeráticas, restrita à porção mais ao sul da área estudada, estas fácies são representadas por
conglomerados mal selecionados, cujos constituintes são suportados por uma matriz areno-argilosa.

As rochas depositadas ou precipitadas no leito do rio, são aquelas que se formam a partir do transporte e do
acúmulo das partículas sedimentares (areia e lama), estas últimas provenientes das seixeiras localizadas nas
extremidades do rio Guamá.

QUATERNÁRIO
Areias e Argilas: A areia presente nas vertentes do rio é um material de origem natural, derivado de rochas
que sofreram a ação de agentes intempéricos e erosivos, formando depósitos sedimentares
predominantemente de grãos de quartzo. A argila presente, apresenta granulometria finíssima, encontra-se
compacta e aflora nas extremidades do rio.

Além do processo natural, existe também a ação antrópica que acelera esse dinâmica, o que facilita a
formação de uma grande área assoreada, como se ver na figura 6 a seguir:

Figura 6: Fotografia do assoreamento no leito do rio Guamá.


Fonte: Matos, (2012).

CONCLUSÕES
A utilização da ferramenta SIG foi importante para compreensão do processo de assoreamento do rio
Guamá. Através da carta hidrológica, se pode compreender a dinâmica da água ao longo do mesmo
através da caracterização do rio. A partir da imagem de satélite pode-se verificar a distância da atuação

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das seixeiras que se desenvolvem nas margens do rio e sua influência nos despejos de sedimentos como,
por exemplo, lama e silte. Estes por sua vez provocam a diminuição da lâmina d’água e, por conseguinte o
assoreamento do mesmo.

Pode também ser verificado que o arraste das partículas de rocha no interior da bacia se depositam à
jusante do rio, pois nesse local o regime de velocidades do fluido é bem menor. Através da imagem de
satélite da geometria do canal observou-se que a sinuosidade controla a dinâmica da água, sendo este um
processo natural, que provoca erosão onde há máxima velocidade e deposita os sedimentos em locais onde
há mínima velocidade de arraste.

Conclui-se também, que a geologia da região, é muito importante para dinâmica evolutiva do processo de
assoreamento do rio Guamá, pois a granulometria das partículas irão influenciar na dinâmica de arraste
pelo curso do rio.

A dinâmica de erosão e deposição de sedimentos irá ser influenciada tanto pela geometria natural do
canal, como pela ação das atividades antrópicas ao longo das margens do rio. Sendo este último
intensificador do processo, havendo o descontrole de suas produções, pois atuam de forma irregular.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. NASCIMENTO, M. C. H., COSTA, T. C. O. Mapeamento geológico básico de Ourém-pa: estágio de campo
III.1994. Relatório Final UFPA Belém-PA, 1994.
2. CPRM<http://www.cprm.gov.br> (acedido a 29 de abril de 2013) Serviço Geológico do Brasil – CPRM.
Sistema de Informação geológica básica – Geobank.
3. MACHADO, M. Secretaria Estadual de Meio Ambiente - SEMA. Disponível em: <www.sema.rs.gov.br>
Acesso em: 22 de setembro de 2013.
4. PALHETA, E. S. M., ABREU, F. A. M., MOURA, C. A. V. Granitóides proterozóicos como marcadores da
evolução geotectônica da região nordeste do Pará, Brasil, 2009.
5. ROSSETTI, D. F., TRNCKENBRODT, W., GÓES, A. M. Estudo paleoambiental e estratigráfico dos
sedimentos barreiras e pósbarreiras na região bragantina, nordeste do pará, 1989.
6. SALES, G. M. Ecologia da paisagem da ilha do Mosqueiro, nordeste do estado do Pará. UFPA: Centro de
Geociências. Tese de Mestrado. Belém-PA, 2005.
7. VILLAS, R. N., SOUSA, F. D. S. O granito de duas micas Ney Peixoto, nordeste do Pará: aspectos
petrológicos e significado tectônico. Revista Brasileira de Geociências, 2007.

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