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Figura 1. Mapa da Baía de Guaratuba com localização dos pontos de coleta de sedimentos.
dos dias de coleta e o valor do nível de redução das Regiões pouco profundas, de cota inferior a
baixa-mares de sizígia (0,44m), com os quais pode-se 1,0m, podem ser observadas principalmente no setor
corrigir os dados de profundidade coletados durante mediano e interno da Baía de Guaratuba. Estes
as campanhas amostrais na área de estudo. fundos rasos ocorrem próximos às margens do
Para a análise dos resultados foram elaborados estuário na forma de baixios e planícies de maré, que
mapas de distribuição do diâmetro médio dos grãos e chegam a ficar parcialmente ou totalmente expostos
das cotas batimétricas, gerados a partir de matrizes durante a baixa-mar de sizígia. Estas feições foram
regulares de valores interpolados. O método de identificas por meio de tratamento digital da Imagem
interpolação utilizado foi o de Triangulação com de Satélite ETM-7 Landsat (datada do ano de 2002),
Interpolação Linear (Triangulação de Delaunay) por Maurício Noernberg, e gentilmente cedidas pelo
disponível no programa Surfer 7.0 da Golden Laboratório de Oceanografia Costeira e
Software Inc. (1999), que considera os pesos das Geoprocessamento (LOCG –CEM).
amostras como tendências lineares às dos pares mais A margem sul, região a leste da foz do Rio
próximos. Boguaçú e onde se localizam os clubes náuticos e
marinas da cidade de Guaratuba, caracteriza-se por
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO profundidades mínimas de 2,5m junto à linha de
3.1. Batimetria da Baía de Guaratuba costa que passam rapidamente a 7,5m e 10,0m ao se
afastar das margens em direção ao centro do estuário.
De modo geral, observa-se no mapa batimétrico As profundidades mais expressivas na Baía de
da Baía de Guaratuba (Figura 2) a predominância de Guaratuba são observadas na estreita boca estuarina,
cotas inferiores a 2,5m ocorrendo geralmente onde os valores medidos ultrapassam os 20,0m de
próximos às margens, principalmente nas regiões profundidade. A região mediana-central da baía
mediana e interna do estuário. Cotas iguais ou apresenta pouca profundidade, associada com os
superiores a 2,5m são somente encontradas nas sistemas de ilhas localizadas nesta região. Já na região
proximidades da desembocadura dos rios São João e compreendida entre a foz do Rio Boguaçú e a foz do
na área adjacente à foz do Rio Descoberto. Rio das Ostras, a isóbata de 2,5m foi escolhida para
Figura 2. Mapa batimétrico da Baía de Guaratuba, elaborado com dados do levantamento de 2003.
definir um limite morfológico para o fundo do caracterizando regiões de alta energia hidrodinâmica.
estuário, separando-o em duas regiões: a região rasa No primeiro caso a hidrodinâmica é influenciada pelo
M1 (sentido Ilha das Garças-montante-oeste) e a elevado volume de água fluvial e, no segundo, pela
região profunda M2 (sentido Ilha das Garças-jusante- extrema velocidade das correntes de maré. Segundo
leste). Este limite morfológico ocorre, possivelmente, Marone et al. (2005), o afunilamento na boca da Baía
devido às características peculiares das condições de Guaratuba, intensifica as velocidades das correntes
hidrodinâmicas em cada região, que parecem de maré (enchente e vazante), chegando a atingir
interagir diferentemente com o fundo, contribuindo valores superiores a 2,0 ms-1. Desse modo, a
enormemente para a atual configuração do leito intensidade das correntes neste setor impede a
estuarino, sendo isto relacionado com o sistema de deposição de sedimentos finos e transporta parte do
propagação diferenciada da onda de maré assim sedimento de granulometria mais fina que 2,0φ (areia
como o regime de aporte de água doce. fina) para áreas adjacentes. Além disso, as areias
grossas e médias existentes em depósitos na região da
3.2. Distribuição dos sedimentos de fundo. desembocadura possivelmente estão associadas a
fontes litorâneas próximas, como praias e a
O mapa de distribuição de diâmetro médio de plataforma continental rasa. Estas areias são,
2003 (Figura 3) mostra o predomínio da fração areia provavelmente, transportadas pelas correntes de maré
em quase todo o fundo estuarino. Os sedimentos são e de deriva litorânea. Sedimentos de origem biológica
compostos predominantemente por areia fina (32 %), (conchas, fragmentos de conchas e corais) também
areia muito fina (28,4%) e silte grosso (22,2%). As foram encontrados nesta região. Areias muito finas
areias grossas e médias juntas, compõem 9,8 % das (2,5φ) e siltes (4,5φ) foram observadas em grande
amostras coletadas e os siltes médios perfazem os parte dos setores interno e mediano da baía. No setor
7,6% restantes. interno, estas frações distribuem-se do centro até
Areias grossas (0,5φ) e médias (1,5φ) ocorrem ambas as margens do estuário, possivelmente
nas desembocaduras dos rios São João e o Rio relacionadas a pouca energia das águas nesse setor.
Cubatão, e na região da boca do estuário, As areias finas (2,0φ) aparecem margeando a linha de
Figura 3: Mapa de distribuição do diâmetro médio dos sedimentos de fundo da Baía de Guaratuba em 2003.
costa entre a foz do Rio Descoberto e a Ponta do de sedimentos de fundo, possibilitou identificar e
Cedro, na margem sul, e entre a Ilha da Corda Grande localizar feições como canais principais e
e o Rio dos Patos, na margem norte. secundários, poços profundos, baixios e planícies de
Na região mediana, as areias muito finas (2,5φ) e maré. Além disso, as informações observadas
siltes (4,5φ) ocorrem abundantemente próximas à permitiram realizar algumas interpretações sobre a
margem norte do estuário até as proximidades da Ilha dinâmica sedimentar da baía.
do Capinzal. Nesta região ocorre uma ampliação De maneira geral, os valores de diâmetro médio
efetiva da largura do corpo de água e um aumento da dos sedimentos e a profundidade decrescem de
superfície de área inter-maré. Isto é evidenciado, jusante para montante, mas podem variar
principalmente na margem norte, pela presença de lateralmente estuário adentro. Fundos rasos e lamosos
inúmeros rios e canais de maré, com extensas áreas ocorrem predominantemente nas regiões interna e
de manguezal e bancos de gramíneas. Desse modo, a mediana, bem como nas margens do estuário, sob
hidrodinâmica parece estar condicionada condições de baixa energia hidrodinâmica.
principalmente pelas correntes de maré, correntes Apresentam-se geralmente na forma de feições
residuais e as oscilações do nível do mar, tornando-se deposicionais - como, por exemplo, baixios, planícies
um ambiente calmo o suficiente para favorecer de maré e cones de sombra, caracterizados pela pouca
deposição dos sedimentos mais finos. Ainda nesse profundidade (< 1m) e por sedimentos compostos
setor, uma faixa de sedimentos finos, principalmente principalmente por areias muito finas e siltes.
silte grosso (4,5φ), atravessa de uma margem à outra Os canais das regiões interna e mediana
do estuário, podendo estar relacionada ao processo de caracterizam-se por profundidades máximas de 2,5m
floculação dos finos em suspensão de origem fluvial, com predomínio de depósitos de sedimentos arenosos
induzido pela intrusão salina da maré, na região finos. Canais com profundidades de 5 a 15m são
conhecida como zona de máxima turbidez. observados a partir da região a leste da Ilha das
A ampla distribuição de sedimentos finos no Garças, onde os sedimentos são compostos por areia
setor mediano da baía - silte grosso (4,5φ) e silte fina.
médio (5,5φ) - possivelmente está relacionada ao Sedimentos grossos e profundidades superiores a
decréscimo da velocidade das águas dos rios e da 2,5m ocorrem próximos à cabeceira do estuário, onde
maré ao penetrarem no sistema, perdendo a localizam-se as desembocaduras dos principais rios
capacidade de transportar os sedimentos por saltação que drenam para a baía, os rios São João e Cubatão,
e arrasto, além de possibilitar a deposição de bem como na região da boca estuarina, onde as cotas
sedimentos finos. batimétricas são superiores a 20,0m.
A classe areia fina (2,5φ) predomina no fundo
estuarino a partir da região a leste da Ilha das Garças, 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
distribuindo-se até as proximidades da boca da baía. Os mapas batimétrico e de distribuição dos
Isto se deve, possivelmente, a pouca variabilidade sedimentos de fundo demonstram que a Baía de
espacial na intensidade das correntes predominantes e Guaratuba possui características sedimentológicas e
ao regime de propagação da onda de maré. morfológicas espacialmente diversificadas, resultado
da complexa interação entre a hidrodinâmica, a
3.3 Batimetria e distribuição dos sedimentos de geomorfologia e o leito estuarino.
fundo. A partir dos resultados das análises e da
interpretação dos dados coletados podem ser
O mapa batimétrico da Baía de Guaratuba, identificados três compartimentos distintos, do ponto
elaborado com os dados obtidos simultaneamente ao de vista hidrodinâmico, na Baía de Guaratuba:
(H1) Setor interno ou de domínio fluvial, inserido AGRADECIMENTOS
no M1, que compreende desde a foz dos rios São
João e Cubatão até as proximidades do extremo leste Este trabalho faz parte do Projeto Dinâmica e Fluxos
da Ilha da Corda Grande, na margem norte, as Hídricos da Baía de Guaratuba-PR (Banpesq/Tales:
proximidades da foz do Rio Descoberto, na margem 2003012626) financiado pelo Conselho Nacional de
sul. Neste, os processos de transporte e sedimentação, Pesquisa e Tecnologia (CNPq). Os autores
bem como a conformação do fundo parecem estar agradecem ao Laboratório de Oceanografia
sendo influenciados principalmente pela descarga Geológica (CEM-UFPR) pela disponibilização dos
fluvial; equipamentos de coleta e de análise granulométrica.
(H2) Setor mediano ou de amortecimento (inserido Ao Iate Clube de Caiobá, pelo apoio logístico durante
no M1), do limite do setor anterior até a região da foz os trabalhos de campo. Nossos sinceros
do Rio Boguaçú. Neste setor, os padrões de agradecimentos aos colegas Joaquim P.B. Netto Jr. e
distribuição dos sedimentos e das profundidades são Pietro S. Moro pela inestimável ajuda nas coletas de
resultado do decréscimo das correntes, relacionado sedimento.
tanto à diminuição do aporte de águas fluviais quanto
à necessidade das águas se redistribuírem numa 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
maior superfície de inundação. A forma assimétrica
de propagação da onda de maré ao adentrar esta CAMARGO, M.G. 1999. SysGran para Windows:
região também deve ser um fator coadjuvante na Sistema de análises granulométricas. Pontal do
dinâmica local. Nesta área os fundos são rasos e são Sul,. 2 disquetes de 5 ¼.
representados por baixios e planícies de maré, que FOLK, R. and W. WARD.1957. Brazos river bar: A
progradam lateral e longitudinalmente ao eixo study in the significance of grain size
principal da baía. Obstáculos naturais que interferem parameters. Journal of Sedimentary Petrology,
na dinâmica das correntes de maré, como a Ponta do 27: 3-27.
Cedro e as Ilhas da Corda Grande e do Araçá, GOLDEN SOFTWARE INC. 1999. User´s Guide.
parecem também controlar a sedimentação, Colorado, USA. 619 p .
favorecendo a gênese de ambientes de baixa energia MARONE, E.; M. NOERNBERG; L. LAUTERT;
onde predominam os processos de sedimentação e a I.. DOS SANTOS, O. ANDREOLI; H.
progradação das feições de fundo; BUBA and H. FILL. 2005. Hidrodinámica de
(H3) Setor de domínio da desembocadura ou de alta la bahía de Guaratuba - PR, Brasil. XXV
energia (inserido no M2): compreendido das Congreso de Ciencias del Mar de Chile y XI
proximidades da foz do rio Boguaçú até a boca da Congreso Latino Americano de Ciencias Del
baía propriamente dita. Esta região é caracterizada Mar, Viña Del Mar, Chile. p.165.
canais profundos (variando entre 5m e 20,0m) e SUGUIO, K. 1973. Introdução à Sedimentologia.
depósitos arenosos formados por processos de arrasto Universidade de São Paulo, São Paulo, 316 p.
e saltação, caracterizando um ambiente de alta ZEM, R.; E. MARONE and S. PATCHINEELAM.
energia hidrodinâmica. Neste setor possivelmente 2005. Síntesis comparativa de métodos de
ocorra o predomínio de processos erosivos, análisis granulométrico de sedimentos. XXV
evidenciados pelas grandes variações de Congreso de Ciencias del Mar de Chile y XI
profundidade, predominância de depósitos de Congreso Latino Americano de Ciencias Del
sedimento não coesivos e aumento progressivo do Mar, Viña Del Mar, Chile. p.211.
tamanho de grão dos sedimentos.