Você está na página 1de 21

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS - DCAA


COLEGIADO DE GEOGRAFIA - COLGEO

Disciplina: Hidrografia (CAA310)


Período: 2022 2
Docente: Francisco de Paula
Discentes: Igor Santos Goes, Gabriel Rocha Lago, Gabriel Nobre Nascimento,
Marina de Miranda Costa, Milena Souza dos Santos e Natan Augusto.

RELATÓRIO DA AULA DE CAMPO: BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IGUAPE

INTRODUÇÃO:
No dia 07 de outubro de 2022 foi realizada a aula de campo da disciplina de
Hidrografia (CAA310), tendo como mediador o professor Francisco de Paula. O
estudo em campo teve como foco de análise a Bacia Hidrográfica do Rio Iguape
(BHRI), que está localizada na cidade de Ilhéus-BA. O Rio Iguape é responsável por
abastecer aproximadamente 60% da cidade, colocando-o como um dos mais
importantes corpos hídricos que percorrem a localidade.
A aula de campo teve no total sete paradas em diferentes pontos ao longo
desta Bacia Hidrográfica. Esses pontos de visitação foram dos mais diversos, onde
através desta aula prática foi possível observar as dinâmicas do rio principal em
seus diferentes estágios (desde as nascentes até o seu estuário) e também ter o
entendimento de alguns conceitos aprendidos em sala, a exemplo do conceito de
divisor de águas, nascente, estuário, o próprio conceito de bacia hidrográfica, entre
outros.
Com o auxílio de um GPS (Sistema de Posicionamento Global) e de um
recorte da carta topográfica denominada “Itabuna”, de escala 1:100000, foi possível
localizar e coletar as coordenadas UTM, de latitude e longitude dos pontos visitados
ao longo do percurso realizado. Vale ressaltar que quando coletamos as
coordenadas com o GPS, ele estava apontando uma margem de erro de 3 metros;
portanto, a localização dos pontos de parada que serão descritos ao longo do
relatório pode ter uma margem de erro de 3 metros na realidade, o que na verdade
não é nada muito gritante e não compromete o entendimento e o estudo dos pontos
visitados.
Nesse sentido, a aula prática teve por objetivo observar alguns pontos
referentes à BHRI, bem como entender as suas características e interações
ambientais, visto que ela possui diversos usos da terra. Desta forma, fazendo a
conexão entre teoria e prática, este relatório visa fazer a análise de uma bacia
hidrográfica, em específico a Bacia do Rio Iguape, no que se refere aos pontos
visitados, descrevendo-os e destacando as suas características, bem como refletir
acerca do lançamento do efluente do Aterro Sanitário de Ilhéus, o qual compromete
a qualidade da água, visto que o Rio Iguape abastece grande parte da cidade.

ÁREA DE ESTUDO - BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO IGUAPE:


A área de estudo compreendeu a Bacia Hidrográfica do Rio Iguape, na
porção norte da cidade de Ilhéus. Ao todo, foram feitas sete paradas que tiveram o
objetivo de contextualizar e ilustrar os assuntos passados em classe. A Bacia do Rio
Iguape ou Microbacia do Rio Iguape como também é conhecida (ANDRADE et. al.,
2021) possui diversas características que puderam ser usadas tanto para a
confecção deste relatório, quanto para o entendimento do conteúdo da disciplina.
Uma Bacia Hidrográfica é caracterizada por ser composta de um rio principal,
cujo o abastecimento advém das porções de águas provindas das chuvas, das
montanhas, dos lençóis subterrâneos, e também é composta pelos afluentes
(PENA, [s.d]). Na Bacia do Rio Iguape, é possível observar essa composição a partir
das diversas nascentes existentes e que, como um todo, abastecem o Rio Iguape e
consequentemente a Barragem.
A área total da bacia abrange uma área de aproximadamente 49,9km² e a
sua delimitação pode ser observada na figura 1. Por estar próximo de uma zona
costeira, seu relevo é característico dessa região, além de possuir em sua maioria
um solo com alta concentração de argila e por estar inserido em uma zona tropical,
possui alto índice pluviométrico. (ANDRADE, MACEDO, PAGANOTTO, 2021, p.
3-4.).
Figura 1 - Mapa de delimitação da Bacia do Rio Iguape.

Fonte: Modificado do INPE. Macedo, Samuel de Amaral, 2021.

Conforme discorrido, a aula de campo nesta região contou com sete paradas
distintas (Mapa 1), sendo elas:
1. Parada do divisor de águas, na qual observamos a configuração de um
divisor de águas, estrutura presente em diversas bacias hidrográficas;
2. Parada da nascente que delimita a bacia do Rio Iguape e a bacia do Rio
Almada, na qual presenciamos a formação de uma nascente e suas
características;
3. Parada da junção de nascentes, onde observamos um corpo d’água formado
pela junção de diversas nascentes;
4. Parada do trecho de rio mais formado, no qual pudemos analisar uma parte
mais definida de um rio antes de um povoado, consequente da configuração
do ponto da 3ª parada;
5. Parada do trecho do rio em frente a pedreira, onde o rio se apresenta mais
“formado” dos pontos 3 e 4, porém após um povoado;
6. Parada da Barragem do Iguape, a qual é abastecida pelo Rio Iguape e de
outros afluentes;
7. Parada do Estuário/Foz do Rio Iguape, onde analisamos as dinâmicas
existentes na porção final da bacia hidrográfica.

Mapa 1 - Recorte da Carta Topográfica Matricial de Itabuna em escala 1:100 000


cedida pelo professor.

Fonte: Adaptação da Folha Itabuna, 2022.

Cabe ressaltar que além das sete paradas, destaca-se também a existência
do aterro de Itariri, destacado também na figura 2, de coordenadas UTM 0484150 e
8373500, que está em uma área incluída na bacia do Rio Iguape. O uso do solo
com essa finalidade nesta localidade, pode representar um risco para os corpos
hídricos que estão mais próximos, pois, a matéria depositada no solo desta região
pode mudar a composição físico-química da água, como é citado o estudo feito pelo
Biólogo Rubens Tomio Honda no Amazonas no artigo de Angela Trabbold¹:

“O chorume produzido pelo aterro controlado da cidade é


despejado no igarapé. Em contato com a água, o chorume muda as
características físico-químicas e, consequentemente, a estrutura das
populações aquáticas. Além disso, pode contaminar o lençol freático [...]
Diversas espécies de peixes que viviam no igarapé não são mais
encontradas nele. E outras, que não deveriam estar lá, passaram a
habitá-lo. A riqueza e a abundância das espécies nativas foram
completamente alteradas [...]” (HONDA, 2009, apud TRABBOLD, 2009).

O aterro fica na porção Oeste da Bacia Hidrográfica do Rio Iguape, afastado


da BA-262 e dos pontos de parada da aula de campo, dessa forma, procurou-se
embasar teoricamente sobre os assuntos ligado a ele.

1ª PARADA - DIVISOR DE ÁGUAS DAS BACIAS DO RIO IGUAPE E DO RIO


ALMADA:
O primeiro ponto de parada da aula de campo se deu na estrada que leva ao
distrito de Sambaituba, zona rural de Ilhéus. A estrada de terra que dá acesso a
essa região vem de uma ramificação da BA-262, que liga os municípios de Ilhéus e
Uruçuca, e é caracterizada por várias subidas em direção à porção norte de Ilhéus.
O ponto em específico da primeira parada foi dado na localização das coordenadas
UTM – Latitude: 8373282 e Longitude: 0489364, na qual, ao descermos do ônibus,
a explicação se deu no meio da estrada.
O ponto principal a ser discutido nessa parada era compreender na prática o
conceito de divisor de água, o qual é uma linha imaginária que delimita as bacias
hidrográficas. No caso da estrada, ela é um ponto do divisor de águas por ter um
relevo alto em comparação com suas porções leste e oeste, as quais são
depressões/vales. A porção leste corresponde à Bacia do Almada e a porção oeste
corresponde à Bacia do Rio Iguape, sendo a estrada o ponto alto que delimita essas
duas bacias, ou seja, um divisor de águas.
No que diz respeito às características ambientais, ao longo de toda a estrada
e também nesse trecho onde fizemos a parada, foi possível notar uma vegetação
com várias espécies arbóreas, sendo uma área bem preservada e densa, em
ambas as vertentes leste e oeste, podendo ser observada na figura 2.

Figura 2 - Vista aérea do divisor de águas

Fonte: Google Earth, 2022.

No que diz respeito à vertente leste, referente ao Rio Almada, se essa área
sofrer algum impacto devido ao desmatamento para alguma finalidade antrópica, as
consequências irão se manifestar na bacia do Rio Almada, sem influenciar a do Rio
Iguape. Em suma, o mesmo acontece com a vertente oeste, referente ao Rio
Iguape; se essa área sofrer algum impacto ambiental, como o desmatamento,
somente irá influenciar a bacia do Rio Iguape, e não a do Rio Almada. Isso reforça o
conceito de divisor de águas, o qual é a porção mais alta do relevo, que separa
essas duas porções (bacias hidrográficas).
Nesse contexto, foi possível fazer a conexão do que foi discutido em sala de
aula com um exemplo na realidade, e foi possível visualizar como esse elemento
delimita a margem entre bacias hidrográficas, sendo percebidos como elementos de
relevo com altitude que se destacam das áreas vizinhas, como morro montanhas e
planaltos. Desse modo, em relação à Bacia hidrográfica do Rio Iguape a qual
estudamos, o divisor de águas é delimitado por sequências de morros de altura
média de 100m do nível do mar, a separando ao leste da Bacia Hidrográfica do Rio
Almada.
Dessa forma, o processo de divisão se dá através da precipitação que
quando se manifesta na feição leste do divisor flui em direção a Bacia do Almada,
enquanto que na feição oeste flui para Bacia do Iguape. Foi discutido também
relações sobre o uso do solo da região e a influência das ações antrópicas na região
do divisor e como estas poderiam influenciar cada uma das bacias de modo que se
alterações transformações como desmatamento, compactação do solo,
asfaltamento ou outras ações de impacto ocorressem em apenas um lado do divisor
estes não afetariam o lado oposto de maneira direta.
Tratando de alterações antrópicas pode-se perceber que o modo de
utilização do solo na região do divisor se principalmente pela construção de
habitações, áreas onde se encontra parte da mata nativa preservada relacionada a
cultura do cacau em modelo cabruca, e áreas desmatadas utilizadas para plantio,
ou não utilizadas, percebe-se também a utilização do todo dos morros para a
passagem da estrada, visto que estes oferecem um terreno mais plano que a
encostas dos morros.

2ª PARADA - NASCENTE DO RIO IGUAPE:


Seguindo a estrada adiante, em direção ao distrito de Sambaituba, a segunda
parada ocorreu em uma das nascentes que alimentam a Bacia Hidrográfica do Rio
Iguape. Desse modo, o grupo se deslocou por uma estrada de terra até uma
propriedade e dentro da mesma, após um percurso em campo aberto, chegamos ao
início de um vale fluvial, que se encontra em uma trilha íngreme.
No percurso foi possível observar a presença de vegetação nativa de floresta
ombrófila densa pouco afetada pela ação antrópica, contendo também espécies
exóticas de plantas como árvores de jaca e dendê que compunham parte da área
de proteção obrigatória necessária em volta da nascente. Esse ponto de
observação, por ser uma nascente, tem sua ordem de drenagem de um rio de
ordem 1, que se encontra nas coordenadas UTM - Latitude: 8374108 e Longitude:
489283.
Nesse contexto pode-se discutir o processo de formação da nascente nas
áreas de cabeceira onde o relevo íngreme permite que a água absorvida da chuva e
agora presente no subsolo (como lençóis freáticos) aflore na superfície deixando de
correr abaixo da terra. Assim, surge a nascente onde a água de subsuperfície que
estava em um ambiente com pouco contato com a atmosfera, favorecendo a
presença de metais e outros elementos químicos de forma diluída na água (Figura
3).
Figura 3 - Represamento em nascente para coleta de água.

Fonte: Lago, 2022.

Desse modo, a partir do afloramento e do contato com um ambiente rico em


oxigênio e por consequência oxidante, a medida em que o corpo hídrico se
movimenta formando corredeiras e cachoeiras, o oxigênio da atmosfera vai sendo
incorporado a água e partir desse processo os metais antes dissolvidos na água vão
se depositando em forma de partícula no trajeto que o rio percorre. No caso
observado, a presença de pequenas barragens para coleta de água permitiu que
esse material ficasse retido em uma espécie de lama, facilitando a observação
(Figura 4).
Figura 4 - Deposição de material particulado em represamento abandonado

Fonte: Lago, 2022.


Dessa forma, pode-se perceber que a própria nascente é afetada pela ação
antrópica através do represamento de suas águas. No percurso da trilha, pode-se
notar a presença de duas pequenas represas, representadas pelas figuras acima,
sendo uma abandonada e outra funcional, ambas utilizadas para a coleta de água
através de bombas a combustível e encanamentos que são utilizados para o
abastecimento de água das casas do proprietário e caseiro.

3ª PARADA - PONTO DE JUNÇÃO DE NASCENTES:


Localizado em um ponto mais a Oeste da bacia do Rio Iguape, na altura das
coordenadas UTM - Latitude: 8370998 e Longitude: 0486159, deixamos o ônibus às
margens da BA-262, que liga Ilhéus a Uruçuca e seguimos a pé na estrada de um
vilarejo da localidade até uma propriedade rural. O objetivo desta parada foi
observar a dinâmica existente em um corpo hídrico mais formado, tanto que a
localização deste ponto se deu aproximadamente no trecho médio da bacia.
A caminhada durou de 15 a 20 minutos e percorremos uma estrada que se
estendeu no meio de um morro e uma planície (Figura 5), e culminou em um final
que, apesar de ser gradativamente íngreme, possuía uma imensa cobertura vegetal,
sendo rodeado por plantações de pés de cacau cabruca, outras árvores e plantas
distribuídas por toda a proximidade do riacho (Figura 6), fazendo o mesmo ser
caracterizado por pouca incidência de luz solar.

Figura 5 - Planície e morro a oeste da estrada.

Fonte: Nobre, 2022.


Figura 6 - Flora existente nas proximidades da área.

Fonte: Nobre, 2022.

Pela característica íngreme do relevo e a explicação dada no campo, o solo


desta parada pode ser caracterizado por ser sedimentar e ter em grande parte de
sua composição a presença da argila e outros compostos. Com essas
características observadas e a presença da vegetação exuberante do local, foi
possível afirmar que o solo da área é extremamente fértil e em contrapartida, que o
corpo hídrico, por receber pouca luz, possui baixa produtividade, definindo-se assim
alguns trechos deste riacho como um ambiente afótico, ou seja, que não possui
incidência direta da luz solar (Figura 7).
Figura 7 - Espelho d’água com vegetação impedindo a entrada de muita luz.

Fonte: Nobre, 2022.


Conforme constatado na análise de campo, o corpo hídrico desta parada
possui um grande índice de preservação, a água é limpa (Figura 8) em decorrência
do oxigênio bem dissolvido pelas corredeiras (Figura 9) e da matéria orgânica
acumulada ao longo destas antes de chegar na pequena represa.

Figura 8 - Qualidade da água deste ponto.

Fonte: Nobre, 2022.

Figura 9 - Detalhe das corredeiras do ponto.

Fonte: Nobre, 2022.


Em campo, foi discorrido pelo professor que o volume de água deste riacho é
resultado da junção de aproximadamente seis nascentes, localizados antes das
corredeiras, e de uma pequena represa. Como não temos um mapa em escala
adequada que mostre tal informação e consequentemente a real ordem de
drenagem deste ponto, utilizaremos como referência o Mapa 1, o qual em sua
escala 1:100000 considera esse trecho como sendo de ordem 1.

4ª PARADA - TRECHO MÉDIO DA BACIA:


A análise do trecho da Bacia Hidrográfica do Rio Iguape nessa parada foi
realizada de maneira diferente das demais, pois não foi possível entrar na
propriedade para ter acesso e observar de perto a dinâmica do corpo hídrico, com a
influência dos fatores bióticos (plantas, animais, fungos e bactérias) e abióticos
(luz, energia térmica, solo).
Destacado no Mapa 1 como “trecho de rio mais formado”, nas proximidades
de uma estrada curvilínea, sob as coordenadas UTM - 8370203 de Latitude e
485502 de Longitude, sendo a continuação do corpo hídrico mais formado,
analisado na parada anterior, a quarta parada está localizada em uma área de
trecho médio da bacia, tendo sua ordem de drenagem classificada como rio de 1ª
ordem, caracterizado como um rio de nascente, com baixa vazão.
De acordo com as observações feitas nessa área, nota-se o rio em um vale
bem mais amplo, apresentando a modelagem na superfície de um relevo plano,
conforme é ilustrado na Figura 10.

Figura 10 - Padrão de relevo

Fonte: Santos, 2022.


Quando realizada a observação nessa área, foi possível notar um vale
caracterizado pela alta incidência dos raios solares (grau de reflexão maior), em um
relevo mais plano e em área mais aberta, com presença de vegetação, tendendo a
absorver uma quantidade menor de calor, dificultando assim o aumento das
temperaturas nessa área.
Nesse trecho da Bacia Hidrográfica do Rio Iguape, não foi possível observar
o rio em seu canal, devido a presença de margens elevadas que foram retificadas (o
encurtamento do canal) por ações antrópicas, que impediram a análise, conforme
delimitado em vermelho na Figura 11.

Figura 11 - Elevação nas bordas do canal

Fonte: Lago, 2022.

Com um canal estreito, águas mais turvas e alta concentração de matéria


orgânica, esse trecho médio da bacia tem baixa velocidade no seu curso d'água em
consequência da baixa declividade, uma vez que a declividade de uma bacia
hidrográfica é um "[...] importante fator a determinar a velocidade do escoamento
superficial, que determina o tempo de concentração da bacia e define a magnitude
dos picos de enchente[...]". (JÚNIOR, 2006, p. 7).

5ª PARADA - PRÓXIMO À PEDREIRA:


Essa parada está localizada próxima à Fazenda Terra Nova, sob as
coordenadas UTM - Latitude 8369105 e Longitude 0487936. O local possui uma
forte cobertura vegetal de mata secundária, estabelecido em uma área alagada, seu
relevo é basicamente uma planície de inundação, o que favorece o alagamento em
períodos de chuva.
Observando a área e o Mapa 1 é possível destacar que esta parte da bacia
está na ordem 2 de drenagem, já que existe uma confluência dos tributários de
ordem 1, vistos anteriormente. É imperioso destacar a presença de ninféia (Figura
12) que é uma planta aquática, uma vez que elas se adaptam em rios ou lagos mais
calmos de clima temperado ou tropical. Essas plantas têm grande importância
porque se adaptam a ambientes poluídos, contribuindo para a recuperação
ecológica.
Um fato importante é que a incidência solar permite a produtividade primária,
o que possibilita que plantas como a citada acima possam se instalar e sobreviver
tranquilamente sobre o corpo hídrico. O nível da água, mesmo que relativamente
baixo, favorece a sobrevivência desta espécie de planta, já que necessitam apenas
de 40 a 50 cm para que sejam cultivadas.

Figura 12 - Presença de Ninféias.

Fonte: Costa, 2022.

Esse ponto é um dos últimos antes do Rio Iguape entrar na Barragem, que
será a próxima parada. Nesse trecho foi possível notar a cor da água mais turva
como resultado de vários processos (Figura 13), principalmente relacionados às
atividades antrópicas, sendo alguns deles a erosão devido aos diferentes usos da
terra e uma possível contaminação de esgoto doméstico, pois ali perto existe uma
comunidade, a Vila São José. Ao redor desse trecho, em alguns pontos a vegetação
natural foi removida, o que favorece a erosão e o comprometimento da qualidade da
água, mas ainda há uma parte de vegetação natural, observado na figura XX.

Figura 13 - Destaque para a qualidade da água

Fonte: Santos, 2022.

6ª PARADA - BARRAGEM DO RIO IGUAPE:


A Barragem do Rio Iguape, que capta em média 18.500 m³ de água por dia,
está localizada nas seguintes coordenadas UTM: Latitude 8369858 e Longitude
0491119. Ela é administrada pela Embasa (Empresa Baiana de Água e
Saneamento), responsável pela captação, tratamento e distribuição para o uso da
água na cidade de Ilhéus. Segundo informações coletadas em campo, através da
representante da instituição que nos acompanhou durante a visita, a barragem do
Rio Iguape alimenta cerca de 60% do município de Ilhéus, sendo essa porcentagem
de água dividida entre duas Estações de Tratamento de Água (ETA): a ETA Centro
recebe 80% da água e a ETA Distrito recebe 20%. A barragem, que atualmente está
com nível de água estável (Figura 14), nem sempre se manteve assim.
Figura 14 - Vista da Barragem do Rio Iguape

Fonte: Lago, 2022.

Períodos de déficit hídrico, em decorrência do baixo índice pluviométrico e


barragens privadas implementadas no curso da bacia, afetam as nascentes que ao
secarem reduzem drasticamente a captação de água na barragem. Nos anos de
2015 e 2016, houve um período de seca que modificou completamente o nível e a
paisagem da barragem (Figura 15). Esse fato acarretou no primeiro racionamento
de água em toda a cidade de Ilhéus.

Figura 15 - Barragem durante a crise hídrica

Fonte: Nazal, 2016.


A barragem se encontra em meio a mata atlântica e é circundada por
fazendas com cultivo de cacau cabruca. Ela está inserida dentro da Bacia
Hidrográfica do Rio Iguape e recebe afluentes de três corpos hídricos: um de ordem
1, um de ordem 2 e outro de ordem 3. Desse modo, a ordem de drenagem da
Barragem é a ordem 3.

7ª PARADA - ZONA DE ESTUÁRIO:


A sétima e última parada da aula de campo, cujas coordenadas UTM são
8366949 (latitude) e 0493620 (longitude), estão destacadas no Mapa 1 e
corresponde ao estuário, porção final da BHRI, sendo a sua ordem de drenagem
classificada como ordem 3. O estuário é a parte final de uma Bacia Hidrográfica,
sendo a parte dinâmica dela; segundo Miranda, Castro e Kjerfve, “estuários são
ambientes de transição entre o continente e o oceano, onde rios encontram o mar
[...]” (2002, p. 15). Esse ecossistema é caracterizado pelos mangues e corresponde
à interface entre o ambiente continental e o ambiente marinho, ou seja, o estuário é
uma fronteira entre esses dois ambientes (também chamado de ecótono).
Em um ambiente estuarino as correntes são bidirecionais, que podem ir tanto
no sentido do mar para o rio, quanto do rio para o mar, sendo alternado a cada 6
horas. Na aula de campo, no momento em que fizemos as observações nessa área,
foi possível notar que naquele instante a água estava subindo, tendo a direção da
corrente indo do mar para o rio, ou seja, do ambiente marinho para o ambiente
continental. De modo geral, por conta dessa corrente bidirecional, em um estuário
as fontes de energia estão convergindo, misturando a água salina com a água do
rio, a qual é rica em MPS. Quando isso acontece, os processos biogeoquímicos são
intensos e acarretam em mudanças no ambiente.
O manguezal é uma área dinâmica que incorpora processos continentais e
marinhos, sendo caracterizado por ser um ambiente que possui um solo de cor
escura. Isso acontece devido à sua composição, que é composta principalmente de
materiais finos, como as argilas que são ali depositadas, além de ser rico em
matéria orgânica. Durante a aula de campo, foi explicado pelo professor que na
parte de morro mais para dentro do continente, ou seja, na porção onde há a
vegetação de Mata Atlântica, existem cerca de 500 espécies de árvores por hectare.
Em contrapartida, na parte de manguezal, há apenas 3 espécies, sendo elas:
rizófora, laguncularia e avicennia. Essas espécies são típicas do ambiente dinâmico
do mangue, pois são árvores adaptadas à alteração da água, que a cada 6 horas
alterna entre doce e salina.
Apesar da flora ter uma baixa diversidade nessa porção de manguezal, a
fauna apresenta uma alta diversidade. Alguns exemplos de espécies mais comuns
encontradas nesse ambiente são a ostra, moapen, caranguejo, siri e camarão. Isso
reforça a ideia que o mangue é um berçário para várias espécies de animais, pois
as raízes das plantas servem como abrigo para essas espécies, além de fornecer
muitos nutrientes, os quais vêm do rio e do próprio mangue. Dessa forma, de acordo
com Miranda, Castro e Kjerfve, “em condições naturais, os estuários são
biologicamente mais produtivos do que os rios e o oceano adjacente, por
apresentarem altas concentrações de nutrientes que estimulam a produção
primária” (2002, p. 27).
Na porção estuarina visitada, que corresponde à parte final da Bacia
Hidrográfica do Rio Iguape, encontra-se um manguezal urbano, ou seja, uma área
de mangue que já foi modificada pelo ser humano devido à expansão urbana da
cidade de Ilhéus. A Figura 16 corresponde ao estuário da BHRI, onde esse
fenômeno de ocupação pode ser observado mais ao fundo da imagem, sendo que
essa área ocupada atualmente corresponde ao bairro São Miguel, na zona norte da
cidade, e pode ser possível observar no canto direito uma parte de vegetação
preservada.

Figura 16 - Porção estuarina da BHRI

Fonte: Costa, 2022.


Conforme dizem Miranda, Castro e Kjerfve “os estuários são o receptáculo de
substâncias naturais e produtos de atividades do homem, os quais podem ocasionar
a degradação da qualidade da água” (2002, p. 29). Nos últimos anos, muitos
mangues foram aterrados para dar lugar à expansão urbana e essa pressão de
ocupação antrópica em uma área natural é devida, principalmente, à dinâmica e
grande fluxo e riqueza de fauna e flora no ambiente de manguezal. Miranda, Castro
e Kjerfve (2002, p. 15-16) afirmam que:

“Portanto, a introdução direta ou indireta de substâncias e de


energia pelo homem pode atingir níveis de elevada concentração,
causando a contaminação das águas estuarinas com efeitos nocivos para
os recursos vivos, perigo para a saúde humana, obstáculos para as
atividades marinhas e de pesca, deterioração da água e redução de seus
atrativos naturais”.

Desse modo, pode-se concluir que a ocupação e intervenção antrópica nesse


ambiente acarreta em ameaças ao ecossistema, visto que a ocupação humana
nessa área leva consequências ambientais tais como o lançamento de esgoto, lixo e
outros poluentes, o que acaba contaminando e impactando o ambiente. Para
finalizar reforçando essa ideia, Miranda, Castro e Kjerfve (2002, p. 45) afirmam que
“sendo assim, as atividades humanas diretas ou remotas ocasionaram variações
com diferentes graus de impacto, sendo as causas potenciais da degradação
ambiental dos estuários”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A aula ministrada e o relatório em questão teve como foco a Bacia
Hidrográfica do Rio Iguape e a análise acerca dos seus afluentes e efluentes, uso e
ocupação do solo, morfologia e vegetação. Observamos as dinâmicas do rio das
nascentes até o seu estuário, ratificamos conceitos vistos em sala como o divisor de
águas, nascente, estuário, e o próprio conceito de bacia hidrográfica que é
composta por um rio principal com abastecimento advindo de água da chuva e dos
lençóis subterrâneos.
Além da bacia hidrográfica, fez parte da análise o Aterro Sanitário de Itariri,
que está situado dentro dos limites da bacia hidrográfica, apresentando risco para o
corpo hídrico e nos traz interrogações acerca da preservação de áreas de APPs,
quem vem sido constantemente desrespeitadas, como aponta Oliveira (2006, apud.
OLIVEIRA, 2004) pesquisador que também estudou a Bacia Hidrográfica do Rio
Iguape, ele diz: “O uso da terra na bacia hidrográfica de Rio Iguape [...] de 1964
para 2002, houve uma redução das florestas e expansão das áreas de mata
secundária avançada (que incluem as plantações de cacau no sistema “cabruca”)
[...]” (p. 17).
Nesse processo, as APPs também não foram respeitadas, sendo isto um
aspecto padrão nas ocupações humanas. Hoje, novas problemáticas se somam a
essas, como a construção de barragens privadas, que alteram a captação de água
na Bacia e consequentemente na Barragem.
Diante disto, a partir dos conhecimentos adquiridos na disciplina, concluímos
que as ações antrópicas podem ter afetado o curso dos rios, mas nada ao ponto
que pudesse ter sido observado. O mesmo acontece com o aterro sanitário, pois
sabemos que o local onde ele está inserido influencia na qualidade da água, porém
seriam necessários testes mais específicos a fim de medir os níveis de poluentes
advindos do aterro. Este projeto é de suma importância para o tema, e serve como
aporte para futuras pesquisas na Bacia Hidrográfica do Rio Iguape.
Referências bibliográficas:

ANDRADE, A. L. S.; MACEDO, S. de A.; PAGANOTTO, V. D. Caracterização morfométrica da


microbacia do Rio Iguape, Ilhéus-BA. XIII SINAGEO - Geomorfologia: complexidade e
interescalaridade da paisagem. Ilhéus, p. 1-12, novembro, 2021. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/360574074_Caracterizacao_morfometrica_microbacia_do_
rio_Iguape_Ilheus-BA>. Acesso em: 25 de out. de 2022.

JÚNIOR, A. R. B. Bacia hidrográfica. Hidrologia Aplicada. Disponível em:


<http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17403/material/Cap2%20-%20B
acia%20Hidrografica_UFOP.pdf>. Acesso em: 25 de out. de 2022.

MIRANDA, Luiz Bruner de; CASTRO, Belmiro Mendes de; KJERFVE, Björn. Princípios de
Oceanografia Física de Estuários. São Paulo: EdUSP, 2002.

OLIVEIRA, J. T. de. Evolução do uso da terra e dos solos na bacia de captação da barragem
Água Fria I e II em Barra do Choça/BA. Ilhéus: UESC/PRODEMA, 2006.

PENA, Rodolfo F. Alves. Assoreamento de rios. Brasil Escola, Disponível em:


<https://brasilescola.uol.com.br/geografia/assoreamento-rios.htm>. Acesso em: 27 de out. de 2022.

PENA, Rodolfo F. Alves. O que é bacia hidrográfica?. Brasil Escola. Disponível em:
<https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-bacia-hidrografica.htm>. Acesso em: 27 de
out. de 2022.

RIBEIRO, Krukemberghe D. K. da Fonseca. Classificação dos ambientes marinhos. Brasil escola.


Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/biologia/classificacao-dos-ambientes-marinhos.htm>.
Acesso em: 25 de out. de 2022.

TRABBOLD, Angela. Aterro sanitário provoca impactos ambientais em rios do Amazonas.


EcoDebate, 2009. Disponível em:
<https://www.ecodebate.com.br/2009/03/21/aterro-sanitario-provoca-impactos-ambientais-em-rios-do-
amazonas/>. Acesso em: 27 de out. de 2022.

Você também pode gostar