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Notas de Aula

Fı́sica Geral I (F 228)

professores ...

Instituto de Fı́sica “Gleb Wataghin”


Universidade Estadual de Campinas
IFGW - UNICAMP
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professores ...

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Art. No 0317
ISBN 978–11–3991–71–9
Edition 0.1

Cover design by Cover Designer

Published by Instituto de Fı́sica “Gleb Wataghin”


Universidade Estadual de Campinas
IFGW - UNICAMP
Printed in Campinas, SP (Brasil)
Sumário

1 Gravidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1 Gravidade Universal 7
1.2 Gravidade e momento angular 12
1.3 Peso 17
1.4 Princı́pio de equivalência 23
1.5 Constante Gravitacional 30
1.6 Energia potencial gravitacional 32
1.7 Mecânica celeste 36
1.8 Força gravitacional exercida por uma esfera 42
1.9 Problemas 45

2 Relatividade Especial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.1 Medições de tempo 51
2.2 Simultâneo é um termo relativo 56
2.3 Espaço-tempo 63
2.4 Matéria e energia 71
2.5 Dilatação do tempo 78
2.6 Contração Espacial 80
2.7 Conservação de Momento 83
2.8 Conservação de Energia 86
2.9 Problemas 90

3
3 Fluidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
3.1 Forças em um fluido 94
3.2 Pressão e gravidade 98
3.3 Trabalhando com a pressão 102
3.4 Problemas 102

4 Movimento Periódico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103


4.1 Movimento periódico e energia 105
4.2 Movimento harmônico simples 109
4.3 O Teorema de Fourier 112
4.4 Forças restauradoras em movimento harmônico simples 115
4.5 Problemas 122

Literature . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
1. Gravidade

O movimento dos corpos celestiais nos fascina desde a antiguidade. O que mantém a Lua,
os planetas e outros objetos astrofı́sicos se movendo em suas órbitas? Motivados em grande
parte pela estética, filósofos gregos propuseram que corpos celestias se movem em cı́rculos
pois acrecitavam que o movimento circular era mais “natural” e a forma de movimento mais
perfeita. Como vimos, entretanto, objetos viajam em linhas retas quando não estão sujeitos a
nenhuma força externa. No inı́cio do século 17, o astrônomo alemão Johannes Kepler sugeriu
que o Sol de alguma forma conduzia os planetas em suas órbitas.
Se as leis da fı́sica são verdadeiramente universais, tal fenômeno em uma escala cósmica
deveria seguir as mesmas leis que governam objetos no nosso entorno. Neste capı́tulo veremos
que de fato podemos aplicar nossas noções de mecânica para descrever o movimento dos corpos
celestiais.
Referências para leitura: Mazur, cap.13

5
CONCEITOS

6
Capı́tulo 1. Gravidade 7

1.1 Gravidade Universal


Uma análise cuidadosa do movimento da Lua e dos planetas mostra que a Lua se move
em torno da Terra e a Terra e outros planetas se movem em torno do Sol com velocidade
aproximadamente constante e uma órbita aproximadamente circular.1 Em outras palavras,
em uma boa aproximação eles se movem em uma órbita circular com velocidade constante.
Estes corpos geralmente giram em torno de um eixo que atravessa seus centros além de
circularem em torno do Sol, mas neste capı́tulo nos concentraremos somente no movimento
orbital.
Qualquer objeto em movimento circular à velocidade constante tem uma aceleração
centrı́peta. Em relação ao Sol, a Terra tem uma aceleração que aponta na direção do Sol.
No sistema de referência da Terra, a Lua tem uma aceleração que aponta na direção da terra.
Para desenvolver uma familiaridade das quantidades involvidas na mecânica celeste, res-
pondam às seguinte perguntas:

13.1 O perı́odo orbital da Lua em torno da Terra é de 27, 32 dias; o da Terra em


torno do Sol é de 365, 26 dias. (a) qual tem maior velocidade angular, a Terra ou
a Lua? As velocidade de rotação da Terra e da Lua em torno do Sol são maiores
ou menores que as velocidades de rotação que você encontra no cotidiano? (b)
O raio da órbita da Lua em torno da Terra é RM = 3, 84 × 108 m; o da Terra em
torno do Sol é 50 × 1011 m. Qual tem maior velocidade? (c) Calcule a aceleração
centrı́peta da Terra no referencial do Sol e a aceleração centrı́peta da Lua no
referencial da Terra. (d) Como estas acelerações se compararam à aceleração da
gravidade próximo da superfı́cie da Terra?

Uma força é necessária para que um corpo tenha uma aceleração centrı́peta. Nem a Lua
nem a Terra estão em contato com nada, portanto tal força deve ser uma força de campo. No
século 17 Isaac Newton apresentou a ousada proposta de que a força que mantem os objetos
celestiais em suas órbitas é a força gravitacional - a mesma força que causa a queda de objetos
próximos à superfı́cie da Terra. Todo pedaço de matéria no universo - penas ou planetas -
atraem todo pedaço de matéria. Em outras palavras, a atração gravitacional entre a Terra
e a Lua é responsável pela aceleração centrı́peta da Lua, assim como a atração gravitacional
entre um objeto e a Terra é responsável pela queda livre desse objeto. A razão pela qual a Lua
não cai em direção à Terra é que a Lua tem a velocidade justa para seguir em uma trajetória
circular em torno da Terra.
Além disso Newton postulou que o efeito da gravidade diminui com a distância. Se a
gravidade se espalha uniformemente, como os raios de luz, então o efeito gravitacional deve
cair com 1/r 2 , o inverso do quadrado da distância. O raio da órbita da Lua é 60 vezes o
raio da Terra, então a força gravitacional exercida pela Terra na Lua deve ser menor por um
fator (1/60)2 que a força gravitacional que a Terra exerce em um objeto próximo ao solo. Um
objeto na mesma distância que a Lua então sente uma aceleração gravitacional de magnitude
g/3600 = 0, 00272 m/s2 . Este valor está em excelente acordo com a aceleração centrı́peta da
Lua, confirmando a dependência de 1/r 2 .
Mas este raciocı́nio tem uma sutileza: assumimos que o objeto na superfı́cie da Terra está
a distância de um raio da Terra do ponto de atração. Em outras palavras, uma bola caindo
1 O desvio da trajetória da Terra de uma órbita circular é quase imperceptı́vel e a sua velocidade é constante
dentro de uma variação de 3%.
8 1.1. Gravidade Universal

próximo à superfı́cie interage com a Terra como se toda sua massa estivesse concentrada
em seu centro - 6378 km abaixo da superfı́cie. Mas se a atração gravitacional cai com 1/r 2 ,
então um pedaço da matéria terrestre próximo a superfı́cie atrai a bola com uma força maior
que um pedaço de matéria terrestre no centro ou no outro lado da Terra. Certamente não é
óbfio que as forças exercidas por todas os diferentes pedaços da Terra se somam para dar o
resultado apresentado. Newton, entretanto, provou matematicamente que:

Uma esfera uniforme exerce uma força gravitacional fora da esfera com uma
dependência de 1/r 2 como se toda sua matéria estivesse concentrada em seu
centro

A prova é dada na seção 1.8. Uma consequência direta dessa sentença é que a distância
entre objetos que interagem gravitacionalmente devem ser tomadas como a distância entre
seus centros.

13.2 Se a força gravitacional cai com o inverso do quadrado da distância, por


que podemos supor que um objeto a 10 m da superfı́cie da Terra ou a 10 km
sentem a mesma atração gravitacional de 9, 8 m/s2 ?

Mais evidências da dependência com 1/r 2 da força gravitacional é obtida da observação


da relação entre raio R e perı́odo T das órbitas planetárias. Cada planeta orbitando em torno
do Sol tem uma aceleração centrı́peta ac = v 2 /R, onde v = 2πR/T é sua velocidade tangencial
e R é o raio da órbita. Então ac = 4π 2 R/T 2 , ou ac ∝ R/T 2 . Se a aceleração centrı́peta é
fornecida por uma força gravitacional que cai com 1/R2 , então ac ∝ 1/R2 . Combinando estes
resultados temos que 1/R2 ∝ R/T 2 , ou T 2 ∝ R3 . Em palavras:

O quadrado do perı́odo orbital de um planeta é proporcional ao cubo do raio


de sua órbita.

Kepler estabeleceu este fato a partir de dados astronômicos em 1619, fornecendo suporte
para a dependência 1/r 2 da força gravitacional mais tarde proposta por Newton. A excelente
concordância com observações astronômicas é mostrada na fig. 1.1
Capı́tulo 1. Gravidade 9

Figura 1.1: O perı́odo T versus o raio R das órbitas planetárias. Os dados estão plotados em
escala logarı́tmica.

13.3 Suponha que o universo fosse bidimensional em vez de tridimensional.


(a) Seguindo a linha de raciocı́nio apresentado no texto, descreva como a força
gravitacional iria depender da distância em um universo plano. (b) Como os
perı́odos das órbitas planetárias se relacionariam com os raios nesse universo?

O que determina a intensidade da atração gravitacional. Para responder a esta per-


gunta, considere dois pedaços idênticos de barro, cada um com inércia m. Se deixamos
estes pedaçõs caı́rem livremente, cada um está sujeito a uma força gravitacional e desen-
volve uma aceleração g. Portanto a força gravitacional deve ser mg. Agora se combinamos
os dois pedaços. A inércia dobrou, significando que é duas vezes mais difı́cil acelerar este
objeto. Porém a aceleração se mantém g. Desta observação concluı́mos que a Terra exerce o
dobro da força neste pedaço em comparação com a situação anterior. Portanto:

A atração gravitacional exercida pela Terra em um objeto é proporcioinal a


sua massa.

A aceleração de um objeto próximo à superfı́cio não depende do tipo de material. Esta


observação sugere que a inércia de um objeto e a força gravitacional exercida nele são propor-
cionais. Como a força gravitacional é proporcional à massa do objeto, podemos considerar
massa e inércia equivalentes e assumir a unidade no sistema internacional para a massa como
sendo quilograma (kg). Como veremos neste capı́tulo, esta igualdade entre massa e inércia
deixa de valer para velocidades muito grandes. Mas em situações do dia a dia, podemos
dizer:

A massa de um objeto é igual à sua inércia.


10 1.1. Gravidade Universal

Portanto para situações do dia a dia utilizaremos o termo massa para ambos os conceitos.
A igualdade entre inércia e massa pode parecer óbvia, mas considere os dois experi-
mentos mostrados na fig. 1.2. A colisão na fig. 1.2a) nos permite determinar a razão entre
as inércias dos objetos. Agora suponha que suspendamos os dois objetos em uma barra
equilibrada sobre o centro de massa. Arranjamos os pontos de suspensao dos objetos como
mostrado na fig. 1.2b). Experimentalmente descobrimos que para quaisquer dois objetos, as
razões m1 /m2 determinada pelo primeiro experimento é exatamente igual à razão r2 /r2 deter-
minada pelo segundo experimento. Utilizando as expressões para o equilı́brio dos torques,
obtemos:
G
FE1 r
G
= 2
FE2 r 1

Combinando este resultado com a observação experimental:


m1 r2
=
m2 r1
vemos que:
G
FE1 m1
G
=
FE2 m2

Figura 1.2: Estabelecendo a equivalência entre massa e inércia

Em palavras, para quaisquer dois objetos, a razão das forças gravitacionais sentidas é
igual à razão de suas inércias. Se pensarmos um pouco, não há nenhum motivo para espe-
rarmos estes resultado. Os dois experimentos são completamente diferentes: a colisão mede
a tendência dos objetos de resistir a mudanças na velocidade - suas inércias - e não involve a
gravidade; o segundo experimento mede a atração gravitacional nos objetos - suas massas, e
não envolve movimento. Esta equivalência é realmente notável.
Capı́tulo 1. Gravidade 11

Porque a força gravitacional exercida pela Terra em um objeto ser proporcioinal à massa
do objeto, espera-se que a força gravitacional que a Terra exerce na Lua seja proporcional
à massa da Lua: FTGL ∝ mL . A atração entre a Terra e a Lua é recı́proca, e então a sime-
tria exige que a força gravitacional exercida pela Lua na Terra seja proporcional à massa da
G
Terra: FLT ∝ mT . E como essas forças têm o mesmo módulo, a força da gravidade deve ser
proporcional à mL mT .
Combinando estes resultados, temos:
m m
G
F12 ∝ 12 2
r
Esta é a lei da gravitação de Newton. Ela se aplica a todas as massas no universo.

Figura 1.3: Traçando uma elipse. Quanto maior a separação entre os focos, mais alongada é
a elipse (0 < e < 1). No caso especial onde os dois focos coincidem (e = 0), a elipse se torna
um cı́rculo de raio a.

A dependência 1/r 2 também explica a forma das órbitas planetárias. Usando conservação
de energia e momento angular, podemos mostrar que a orbita de um corpo se movendo sob
a influência da gravidade tem que ser uma elipse (figura 1.3), um cı́rculo, uma parábola, ou
uma hipérbole. Um cometa ous os planetas, por exemplo, se movem em uma órbita elı́ptica
com o Sol em um dos focos. Os planetas, porém, tem uma órbita quase circular. Mas mesmo
que o efeito na forma seja mı́nimo, o efeito na velocidade é considerável. A distância entre o
Sol e os planetas variam enquanto o planeta se move entre o ponto de maior aproximação, o
periélio, e o de maior distância, o afélio.

13.4 Suponha que a força gravitacional entre os objetos 1 e 2, de massas m1


e m2 fosse proporcional à soma m1 + m2 em vez do produto m1 m2 . (a) Esta
dependência seria consistente em relação aos seguintes requisitos: (i) A força
exercida por 1 em 2 é igual em magnitude à força exercida por 2 em 1. (ii) A
força gravitacional exercida pela Terra em dois objetos idênticos é igual à soma
da força exercida em cada um dos objetos. (b) Você pode pensar em outras
combinações de m1 e m2 que satisfaça os requerimentos (i) e (ii)? (c) Suponha
que você tem uma porção de matéria de massa M. Como você deve dividir este
pedaço em duas porções de modo a maximizar a força gravitacional entre os
pedaços?
12 1.2. Gravidade e momento angular

Exemplo 13.1 Compare a força gravitacional exercida pela Terra em você com
(a) aquela exercida por uma pessoa a 1 metro de distância e (b) a força exercida
pela Terra em Plutão.

13.5 Na parte (a) do exemplo 13.1, qual deve ser a distância entre você e uma
outra pessoa para que a força gravitacional seja a mesma daquela que a Terra
exerce em você? É possı́vel verificar esta predição?

1.2 Gravidade e momento angular


A força gravitacional é uma força central - uma força cuja linha de ação sempre está sobre
uma linha reta que conecta dois objetos que interagem. Um planeta orbitando o Sol, por
exemplo, é sujeito a uma força que está sempre direcionada ao Sol. O fato da força ser
central tem uma consequência importante para a conservação do momento angular.
Por exemplo, consideremos um sistema isolado composto por duas estrelas que intera-
gem gravitacionalmente, de massas m1 e m2 1.4.

Figura 1.4: Gravitação é uma força central, ilustrado por duas estrelas orbitando o Centro de
Massa comum.

Escolhemos um sistema de coordenadas de modo que a origem esteja no centro de massa


do sistema. Porque o sistema é isolocalizado, o centro de massa permanece fixo na origem.
Isto significa que a razão r1 /r2 das distâncias dos objetos ao centro de massa deve permanecer
o mesmo, independentemente do movimento dos objetos (quando �rcm = 0, m1�r1 + m2 r�2 =
0 e assim r1 /r2 = m2 /m1 ; consulte a Seção 6.6). Observe como a razão r1 /r2 na figura 1.4
permanece constante e como as órbitas das duas estrelas têm a mesma forma (escalonadas
pelo fator r1 /r2 .)
Porque o centro de massa está sempre na linha de ação das forças gravitacionais, os tor-
ques causados por cada uma dessas forças em torno do centro de massa é zero e portanto o
momento angular de cada estrela em relação ao centro de massa não muda. Então, não é só
o momento angular do sistema das duas estrelas que é constante, mas o momento angular
de cada estrela em relação ao centro de massa é constante também.

Em um sistema isolado de dois objetos interagindo através de uma força cen-


tral, cada objeto tem um momento angular constante em relação ao centro de
massa.

Muitas vezes, consideramos situações em que um dos dois objetos é muito mais massivo
que o outro, como mostrado na Figura 1.5. Nesse caso, o centro de massa está quase no
Capı́tulo 1. Gravidade 13

centro do objeto mais massivo. Isto nos permite ver a situação a partir da posição do objeto
mais massivo, que podemos considerar fixo na origem. Na Figura 1.5, por exemplo, a Terra
se move em uma órbita quase circular em torno do sol. Porque o sol é muito mais massivo
que a Terra, o centro do Sol está muito próximo do centro de massa do sistema Sol-Terra. Por
isso podemos ignorar a pequena diferença de posição e considerar que os dois coincidem. Se
considerarmos que a órbita é circular, o centro de massa também coincide com o centro da
órbita.

Figura 1.5: Para uma órbita circular ou elı́ptica, a força gravitacional no corpo que orbita
sempre aponta na direção do Sol. Se a órbita é elı́ptica, o Sol esta em um dos focos, e não no
centro ao elipse.

A Figura 1.5b mostra um cometa se movendo ao longo de uma órbita elı́ptica sob a in-
fluência de uma força gravitacional exercida pelo sol. O centro de massa novamente fica no
centro do Sol, que está em um dos focos da elipse (não no centro da elipse).

Checkpoint 13.6 (a) Se ignorarmos a influência de outros objetos celestes, o sis-


tema Terra-Sol é isolado e, portanto, deve girar em torno do centro de massa do
sistema. Usando os dados na Tabela 13.1, determine a que distância do centro
do Sol ao centro de massa do sistema e a qual fração do raio do Sol esta distância
correponde. (b) À medida que passa pelo ponto mostrado na Figura 13.10b, o
cometa acelera, desacelera ou viaja a uma velocidade constante? E se a trajetória
mostrada faz parte de uma elipse, onde a velocidade do cometa é maior? Onde
é menor?
14 1.2. Gravidade e momento angular

Porque a força é central e porque o centro da massa está no Sol na Figura 1.5, o mo-
mento angular de cada um dos objetos em órbita sobre o Sol é constante. O significado desta
afirmação para uma órbita circular é simples: se o momento angular é constante, então a
velocidade do objeto deve ser constante (ou seja, estamos lidando com movimento circulares
com velocidade constante).

Para entendermos o significado de qualquer outro tipo de órbita, devemos primeiro in-
troduzir uma interpretação geométrica do momento angular. Considere primeiro a partı́cula
se movendo em uma linha reta como ilustrado na Figura 13.11a. Como vimos na Seção 12.8
o momento angular de qualquer partı́cula em movimento em torno da origem pode ser es-
crito como �L = �r × p � , onde �r é a posição da partı́cula. Em um intervalo de tempo dt, o vetor
de posição �r varre a área do triângulo sombreado na Figura 13.11a. A magnitude do pro-
duto vetorial de dois vetores é igual à área do paralelogramo definido por eles. Então, �r × dr �
é a área do paralelogramo tracejado na Figura 13.11a - duas vezes a área dA do triângulo
sombreado. Porque o deslocamento da partı́cula pode ser escrito como dr � = v�dt, temos
1 1
dA = 2 |�r × v�|dt = 2 L/m dt. A taxa na qual a área A é varrida pelo vetor de posição é, portanto,
dA/dt = 12 L/m. Em palavras:

O momento angular de uma partı́cula sobre uma origem é proporcional à taxa


na qual a área é varrida pelo vetor de posição da partı́cula.

Então, quando o momento angular de uma partı́cula é constante, a taxa dA/dt também
é constante. A Figura 1.6b mostra o movimento de um objeto ao longo de uma trajetória
curva. Em dois intervalos de tempo iguais dt, o vetor de posição varre as áreas dA1 e dA2 . Se
o momento angular do objeto em torno de O for constante, então dA1 = dA2 . O movimento
causado por uma força central direcionada à origem é tal que o vetor raio a partir da origem
varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais, independentemente da forma da trajetória.
No inı́cio do século XVII, antes de Newton formular a lei da gravidade e muito antes da
introdução do conceito de momento angular, Johannes Kepler já havia deduzido a partir de
observações astronômicas que a linha reta do Sol para cada planeta varre áreas iguais em
intervalos de tempo iguais . (Veja o quadro ”Leis do movimento planetário de Kepler”.)
Capı́tulo 1. Gravidade 15

Figura 1.6: O vetor posição de um objeto se movendo (a) com um momento constante so-
bre uma linha reta e (b) com um momento angular constante em torno de uma trajetória
qualquer varre áreas iguais em intervalos de tempos iguais.

A Fig. 1.7 mostra três tipos de movimento com momento angular constante: movimento
a velocidade constante ao longo de uma linha reta (sem força; velocidade constante), mo-
vimento circular a velocidade constante (força central; velocidade constante) e movimento
elı́ptico (força central; taxa constante da área varrida). Para o terceiro, não é imediatamente
óbvio que o momento angular é constante: nem a direção da velocidade nem a velocidade
do objeto em movimento são constantes. Para todos os três tipos de movimento, no entanto,
o vetor de posição varre a mesma área em intervalos de tempo iguais. Para fazer isso, um
objeto em movimento elı́ptico (Figura 13.12c) deve se mover mais rápido quando estiver
mais próximo do objeto em órbita e mais lento quando estiver mais distante, de acordo com
a resposta do Ponto de Verificação 13.6, parte b.

Figura 1.7: O vetor posição de um objeto se movendo (a) com um momento constante so-
bre uma linha reta e (b) com um momento angular constante em torno de uma trajetória
qualquer varre áreas iguais em intervalos de tempos iguais.

exemplo 13.2 - Plutão: De todos os objetos da Tabela 13.1, Plutão possui a órbita
com maior excentricidade. (a) Qual é a razão entre o semi-eixo menor b da órbita
e o semi-eixo a? (b) Qual é a razão da velocidade de Plutão no periélio e sua
velocidade no afélio?
16 1.2. Gravidade e momento angular

Leis de Kepler do movimento planetário: o matemático e astrólogo alemão


Johannes Kepler dedicou grande parte de sua vida à análise de dados de mo-
vimento celestial coletados por Tycho Brahe. Kepler descobriu três leis do mo-
vimento planetário.
A primeira lei de Kepler descreve a forma das órbitas planetárias: Todos os
planetas se movem em órbitas elı́pticas com o Sol em um foco.
Embora o desvio das órbitas circulares seja pequeno, essa afirmação foi um afas-
tamento radical da sabedoria aceita, datada de Platão, de que os planetas, sendo
corpos celestes, eram perfeitos e, portanto, podiam se mover apenas em cı́rculos
perfeitos ou combinações de cı́rculos.
A segunda lei de Kepler revela que, mesmo que os planetas não estejam em
movimento circular em velocidade constante, seus movimentos obedecem ao
seguinte requisito: A linha reta de qualquer planeta para o Sol varre áreas
iguais em intervalos de tempo iguais.
A terceira lei de Kepler relaciona as órbitas planetárias entre si: Os quadra-
dos dos perı́odos dos planetas são proporcionais aos cubos dos semi-maiores
eixos de suas órbitas ao redor do Sol.
Kepler descobriu essa terceira lei examinando minuciosamente, durante um
perı́odo de muitos anos, inúmeras combinações de dados planetários.
De acordo com as noções aristotélicas, Kepler acreditava que era necessária uma
força para conduzir os planetas ao longo de suas órbitas, não para mantê-los em
órbita. Consequentemente, Kepler não conseguiu fornecer uma explicação cor-
reta para essas três leis. Somente com Newton que uma razão unificadora para
essas leis foi estabelecida. Como vimos, as três leis de Kepler seguem direta-
mente a lei da gravidade: a primeira e a terceira leis são uma conseqüência da
dependência 1/r 2 , e a segunda lei reflete a natureza central da força gravitacio-
nal.

A conservação do momento angular também é responsável pela forma plana e em disco


da maioria das galáxiase do nosso sistema solar. A Figura 1.8 ilustra a contração gravitacional
de uma nuvem que gira lentamente de gás e poeira interestelar. Como a inércia rotacional
da nuvem diminui à medida que ela se contrai, sua taxa de rotação deve aumentar, assim
como um skatista gira mais rápido com os braços puxados. No plano perpendicular ao eixo
de rotação, parte da força gravitacional direcionada ao centro da nuvem fornece a aceleração
centrı́peta. As regiões próximas a este plano sofrem, portanto, menos contração do que as
regiões ao longo do eixo. Essa contração diferente resulta na caracterı́stica forma de disco de
muitas galáxias.
Capı́tulo 1. Gravidade 17

Figura 1.8: a) Contração gravitacional de uma nuvem de gás e poeira interestelar em rotação
lenta. (b) A conservação do momento angular requer que a velocidade rotacional aumente
à medida que a nuvem se contrai e sua inércia rotacional diminui. (c) A contração é menos
eficiente no plano perpendicular ao eixo de rotação porque parte da interação gravitacional
entra no fornecimento da aceleração centrı́peta.

1.3 Peso
A lei da gravidade afirma que a força da gravidade depende da localização. A Figura 1.9
mostra astronautas orbitando a Terra em uma altitude de cerca de 400 km. Eles estão flutu-
ando ”sem peso”dentro de sua nave espacial, porque a força da gravidade em sua localização
foi reduzida a um valor insignificante? O cálculo é fácil e vale a pena fazer, como mostra o
próximo ponto de verificação.

Checkpoint 13.7 O ônibus espacial normalmente orbita a Terra a uma altitude


de cerca de 300 km. (a) Por qual fator a distância do ônibus espacial até o centro
da Terra aumentou em relação a de um objeto no chão? (b) De quanto a força
gravitacional exercida pela Terra sobre um objeto no ônibus é menor do que
a força gravitacional exercida pela Terra no mesmo objeto quando está na su-
perfı́cie da Terra? (c) Qual é a aceleração devido à gravidade a uma altitude de
cerca de 300 km? (d) Enquanto em órbita, os motores do ônibus espacial estão
desligados. Por que o ônibus não cai na Terra?

Figura 1.9: Astonautas Shane Kimbrough e Sandra Magnus flutuam “sem peso” no ônibus
espacial Endeavour durante a missão STS-126.

Depois de responder a esse ponto de verificação, você pode estar se perguntando em que
18 1.3. Peso

sentido os objetos dentro do ônibus espacial são ”sem peso”. Para resolver esse problema,
precisamos definir o que queremos dizer com peso.
A Fig 1.10 ilustra dois tipos de dispositivos usados para pesar objetos. Quando uma
carga é colocada em uma balança de mola, a carga comprime ou estica uma mola dentro de
uma balança. A mudança no comprimento da mola é proporcional à força exercida sobre
c
ela pela carga: Fls,x = k(x − x0 ). A deformação da mola, portanto, fornece uma medida da
força descendente exercida nela pela carga. Quando você fica em uma balança de banheiro,
por exemplo, a força descendente exercida pelo seu corpo comprime uma mola dentro dela,
que, por sua vez, gira uma disco e você lê o seu peso no disco. A rotação do mostrador é
proporcional à força exercida pelo seu corpo na balança. (A balança foi calibrada na fábrica
colocando objetos de massa conhecida.)

Figura 1.10: Dois métodos de se pesar um tijolo.

Checkpoint 13.8 Um tijolo de 1,0 kg é colocado em uma balança de mola. (a)


Qual a magnitude da força exercida pela Terra no tijolo? (b) Qual a magnitude
da força exercida pelo tijolo na balança? (c) Quantas etapas são necessárias para
responder ao item (b)? (d) A balança de mola mede a força da gravidade no
tijolo?

Outro tipo de dispositivo de pesagem, a balança, ilustrada na Figura 1.10b, funciona da


seguinte maneira. Um tijolo cuja massa mb a ser determinada é suspenso de uma extremi-
dade de uma haste articulada sobre seu centro, e objetos de massas conhecidas são suspensos
da outra extremidade até que a haste esteja em equilı́brio mecânico. No equilı́brio mecânico,
as forças descendentes exercidas pelas cargas nas duas extremidades da haste são iguais, e
então mb deve ser igual à soma mk das massas conhecidas.
Os dois dispositivos não medem a mesma coisa? Você deve estar surpreso ao saber que
a resposta a esta pergunta é não. Para ver por que, suponha que repetimos os experimentos
ilustrados na Figura 1.10 na superfı́cie da lua. A força gravitacional exercida pela Lua em
um objeto parado na superfı́cie luna é cerca de seis vezes menor que a força gravitacional
exercida pela Terra no mesmo objeto parado na superfı́cie da Terra. Se você estava carre-
gando uma carga pesada na Lua, você descobriria que a força necessária para sustentá-la é
Capı́tulo 1. Gravidade 19

menor do que na terra; na Lua a carga parece muito mais leve. Como mostram os diagramas
estendidos de corpo livre na Figura 1.11, no entanto, a menor atração gravitacional da Lua
não afeta o equilı́brio mecânico da balança: a tração para baixo diminui em ambos os la-
dos, e assim a haste permanece em equilı́brio mecânico. Com a balança, nós ainda obtemos
mb = mk , assim como fazemos na Terra.

Figura 1.11: Usando uma balança na superfı́cie da Terra e na Lua. Se balança é equilibrada
na Terra, os mesmos objetos equilibram a balança na Lua.

A leitura da balança de mola na Lua, no entanto, não é a mesma que na Terra. Por
causa da atração gravitacional menor na Lua, a deformação da mola é menor, como mostra a
Figura 1.12. Leituras da balança de mola na Lua é cerca de seis vezes menor do que na Terra.
Então a balança de mola nos diz que a carga pesa menos na Lua do que na Terra, enquanto a
balança nos diz que pesa o mesmo. Essa diferença surge porque:

Uma balança de mola mede a força descendente exercida por sua carga, mas
uma balança de pratos compara forças gravitacionais e mede massa.

Checkpoint 13.9: Um tijolo de 1,0 kg é colocado em uma balança de mola dentro


do ônibus espacial que orbita a Terra a 300 km de altitude. (a) Qual é a magni-
tude da força exercida pela Terra no tijolo? (b) Qual a magnitude da força exer-
cida pelo tijolo na balança de mola? (Dica: Veja os astronautas na Figura 1.9) (C)
A balança de mola mede a força da gravidade no tijolo? (d) Por que sua resposta
é diferente da sua resposta ao ponto de verificação 13.8, parte d?

As respostas para este ponto de verificação mostram que a leitura de uma balança de
mola depende não apenas da gravidade que puxa sua carga, mas também da aceleração
da balança. Para que veja esse ponto mais claramente, considere a situação mostrada na
Figura 1.13a. Dois tijolos de massa idêntica m são colocados em duas balanças de mola
idênticas, uma em solo sólido e a outra em um elevador que está acelerando para baixo. A
Figura 1.13b mostra os diagramas de corpo livre para os dois tijolos.
20 1.3. Peso

Figura 1.12: Diagramas de corpo livre para um tijolo em uma balança de mola na superfı́cie
da Terra e da Lua. Devido à menor atração gravitacional na Lua, a compressão da mola na
Lua é menor do que na Terra.

Figura 1.13: Uma balança de mola segurando um tijolo fornece uma leitura diferente quando
está parado e quando está em um elevador acelerando para baixo. Devido à aceleração do
elevador, Δxelev < Δxstat .

Porque o tijolo no elevador tem uma aceleração descendente sabemos que a soma vetorial
das forças exercidas sobre ele deve ser diferente de zero e direcionado para baixo. A força
descendente da gravidade não mudou, no entanto. Consequentemente, a força para cima
exercida pela balança no tijolo deve ser menor que a magnitude da força descendente da
gravidade agindo sobre ele. Porque a força exercida pela balança no tijolo e a força exercida
pelo tijolo na balança formam um par de interação, concluı́mos que a força exercida pelo ti-
jolo na balança no elevador é menor do que a exercida pelo tijolo idêntico na balança de mola
estacionária. A balança de mola no elevador fornece, portanto, uma menor leitura do que
a balança estacionária. Se você estiver surpreso que o resultado da pesagem de um objeto
com uma balança de mola depende da aceleração, tente o seguinte experimento abaixo. Co-
Capı́tulo 1. Gravidade 21

loque um objeto na palma da sua mão com o braço esticado à sua frente, então rapidamente
mova sua mão para baixo. Enquanto você acelera sua mão para baixo, você pode sentir que
o objeto pressiona menos na sua mão do que quando você mantém a mão imóvel. Em outras
palavras, enquanto sua mão acelera para baixo, o objeto nele parece mais leve - parece que
“pesa” menos.2

Chekpoint 13.10 (a) Um objeto é colocado em uma balança de mola em um


elevador se movendo para cima a uma velocidade constante. A leitura da balaça
é maior, menor que ou igual à leitura obtida em um elevador estacionário? (b)
Como a leitura de uma balança em um elevador com aceleração para cima a =
0, 5g se compara com a leitura obtida em um elevador estacionário? (c) E se o
elevador tiver aceleração descendente a = g?

Como esse ponto de verificação mostra, objetos em um elevador que em queda livre
produzem uma leitura zero na balança de mola. Nenhuma força é necessária para apoiá-los:
eles também caem livremente junto com O elevador. Dentro de um elevador em queda livre,
uma balança de mola sob seus pés - caindo embaixo de você, juntos com o elevador e tudo
dentro dele - lê zero. E se você deveria segurar uma maleta no elevador caindo livremente,
você descobriria que a maleta não precisa ser suportado por sua mão porque a força da
gravidade fornece a ele a mesma aceleração descendente g. A maleta parece leve - você pode
até soltar a maleta que continuaria pairando ao seu lado.

Qualquer objeto em queda livre - ou seja, qualquer objeto sujeito a apenas


uma força de gravidade - experimenta sensação de leveza.

Se isso parecer estranho, considere mais uma vez os astronautas em órbita na Figura 1.9.
A única força exercida sobre eles é a força da gravidade, e então eles estão em queda livre!
Esta queda livre é precisamente o que os torna sem peso. Por causa de sua grande velocidade
e curvatura da Terra, no entanto, eles não chegam mais perto do chão. Quando caem, o chão
abaixo deles recuam na mesma velocidade em que caem (Figura 1.14).

2 Você também pode tentar isso acelerando a mão para cima; nesse caso, o objeto parece mais pesado. O efeito,
no entanto, é menos pronunciado porque é mais difı́cil acelerar o braço para cima. Na direção descendente, a
gravidade e seus músculos trabalham juntos para fornecer a aceleração; no direção ascendente, seus músculos
precisam não apenas acelerar seu braço, mas também neutralizar o efeito da gravidade.
22 1.3. Peso

Figura 1.14: Enquanto uma espaçonave orbita a Terra a uma distância h do solo, cai uma
distância Δh. Porque a nave se move tão rápido em uma direção tangente ao solo (curvo), o
solo ”cai”na mesma proporção e a distância entre a nave e o solo permanece constante.

Checkpoint 13.11 (a) A que distância o ônibus espacial da Figura 1.14, 300 km
acima da Terra, cai em 1,0 s? (b) Se o raio da Terra é 6400 km, qual é a velocidade
do ônibus?

Você não precisa ser astronauta para experimentar essa leveza. Quando você pula de uma
cadeira, fica momentaneamente sem peso; durante sua queda livre, um objeto na palma da
mão da sua mão paira sem peso acima da sua mão. Um avião que voa através de um grande
arco parabólico pode estar em uma queda livre controlada por curtos intervalos de tempo.
Como mostra a Figura 1.15, as pessoas dentro de um avião flutuam sem peso, assim como
astronautas em órbita fazem.

Checkpoint 13.12 Os aviões podem ser colocados (com segurança) em queda li-
vre por perı́odos até 40 s. (a) Se o avião mostrado na Figura 1.15 estava voando
horizontalmente antes de ser colocado em queda livre, quanta altitude perde
naqueles 40 s? (b) Qual é a velocidade vertical de descida final do avião ? (c) No
instante mostrado, o componente vertical da velocidade do avião está direcio-
nada para cima, para baixo ou para zero?

A discussão nesta seção mostra que nossa noção de peso corresponde mais à leitura de
uma balança de mola: O “peso” percebido de um objeto depende, como faz a leitura na
balança, não apenas da força da gravidade no objeto, mas também em sua aceleração. Os
astronautas ”sem peso”no ônibus espacial iriam registrar zero em uma leitura na balança,
mesmo que a força da gravidade sobre eles seja quase idêntica à força na superfı́cie da Terra.
Capı́tulo 1. Gravidade 23

Figura 1.15: Se um avião brevemente segue uma trajetória parabólica de tal forma que tenha
uma aceleração descentente g, o avião e as pessoas dentro dele estão em queda livre. Nesta
foto, candidatos a astronauta a bordo do Stratotanker KC-135 sentem brevemente a ausência
de peso durante a queda livre do avião.

Como as leituras da balança de mola dependem da aceleração, no entanto, o peso é fre-


quentemente definido como a força da gravidade exercido em um objeto. As leituras de
balança de mola são chamadas peso aparente ou efetivo. Com essa definição, os astronautas
na Figura 1.9 e as pessoas na Figura 1.15 não estão sem peso, porque a força da gravidade
sobre eles (seu ”Peso”) é o mesmo que na superfı́cie da Terra e, portanto, deve ser dito que
eles não têm peso aparente. Para evitar todas essas dificuldades e conflitos entre nossa noção
intuitiva de peso (leitura da mola) e a definição mais comum de peso (força da gravidade),
evitamos, portanto, usar a palavra peso neste livro. Em vez disso, usaremos o term mais pre-
ciso “força da gravidade” para se referir à força descendente de gravidade em um objeto e
”leitura em balança”para se referir à força exercida por um objeto em uma balança de mola.

Checkpoint 13.13 Considere um avião voando a uma velocidade constante de


900 km/h, 10 km acima do solo. (a) Qual é aceleração descendente do avião?
(b) Desenhe um diagrama de corpo livre para o avião. (c) Por que as pessoas no
avião não sentem a ausência de peso como astronautas viajando 290 km acima?

1.4 Princı́pio de equivalência


Voltemos à notável igualdade de massa e inércia. O teste mais simples possı́vel dessa igual-
dade é obtido soltando dois objetos que têm inércias diferentes e são feitos de materiais
diferentes e medindo suas acelerações. Como Galileu descobriu, todos os objetos caem com
a mesma aceleração g. É verdade que a Terra puxa com o dobro da força um objeto que tem
o dobro da massa, mas porque esse objeto também tem o dobro da inércia, não acelera mais
rápido. A igualdade de massa e inércia foi testada experimentalmente para uma parte em
1012 .
A igualdade de massa e inércia pode parecer óbvia porque estamos tão acostumados
ao fato de que objetos mais pesados não apenas exigem mais esforço para serem apoiados
contra a gravidade, mas também é preciso mais esforço para serem colocados em movimento.
Intuitivamente, ambas propriedades simplesmente passam pela quantidade de matéria no
objeto. Ainda essa igualdade sugere uma conexão muito mais profunda entre gravidade e
aceleração.
24 1.4. Princı́pio de equivalência

Na Seção 13.3, encontramos outra manifestação dessa equivalência entre gravidade e


inércia: a leitura em uma balança de mola depende não apenas da força gravitacional na
carga, mas também na aceleração da balança. Nós podemos mudar a leitura da balança
- nossa noção de peso - simplesmente acelerando a balança. Isso gera uma interessante
pergunta: podemos projetar um experimento que distinga entre gravidade e um referencial
acelerado?
Considere um tijolo colocado em uma balança de mola dentro de um recipiente em re-
pouso na superfı́cie da Terra, conforme ilustrado na Figura 1.16a. Por causa da atração gra-
vitacional exercida pela Terra no tijolo, o tijolo comprime a mola e a balança fornece uma
leitura xE . Para um observador no referencial da Terra o tijolo está em repouso e, portanto, a
força para cima exercido pela balança é igual em magnitude à força para baixo exercida pela
Terra (veja a Figura 1.16c). Agora imagine o mesmo arranjo no espaço, longe de qualquer
planetaou estrela, onde a influência da gravidade é insignificante e podemos dizer que g = 0.
Suponha que o contêiner seja rebocado por um nave espacial; se a nave espacial dispara
seus foguetes, o recipiente acelera, conforme ilustrado na Figura 1.16b. Objetos dentro do
contêiner não flutuam mais sem peso, mas sendo arrastado junto ao contêiner, eles descan-
sam contra o fundo do recipiente. Se o tijolo for colocado na balança, a balança registra uma
leitura proporcional à força exercida pelo mola no tijolo. Essa força é necessária para dar ao
tijolo a mesma aceleração a do contêiner. Do ponto de vista de um observador no referencial
da Terra, o tijolo tem uma aceleração ascendente a (veja a Figura 1.16d).

Figura 1.16: Se você observar um tijolo comprimindo uma balança de mola em um contêiner
fechado, você não pode dizer se a compressão se deve a um interação gravitacional ou
aceleração do contêiner.
Capı́tulo 1. Gravidade 25

Se os foguetes são disparados de modo que a = g, você poderia, de dentro do contêiner,


saber a diferença entre estar acelerado no espaço e estar na Terra? Para você, a leitura da
balança aparece exatamente como na Terra. Um objeto liberado de sua mão cai com uma
aceleração g, assim como na Terra. De dentro do contêiner, com os dois pés solidamente no
chão, tudo parece como acontece na Terra - todos os objetos parecem atraı́dos para o piso do
contêiner.
Tendo observado tudo isso, você desenha o diagrama do corpo livre mostrado na Fi-
gura 1.16e: Do seu ponto de vista, o tijolo está em repouso e, portanto, a soma vetorial das
forças exercidas nele deve ser zero. Portanto, além de uma força ascendente exercida no ti-
jolo pela mola comprimida, você desenha uma força descendente, igual em magnitude à da
força ascendente. Para você, parece que essa força se deve a uma atração para baixo sentida
por todos os objetos dentro do contêiner. Sem espreitar para fora, você não pode determinar
se esta atração está presente porque embaixo do contêiner existe um planeta ou porque o
contêiner está acelerando no espaço.
Observe que a força atrativa fictı́cia experimentada pelos objetos dentro do contêiner
não são menos misteriosos que a força da gravidade. Ambas as forças têm o mesmo efeito:
Objetos são puxados em direção ao fundo do recipiente de acordo com sua massa ou inércia
(a distinção agora desapareceu). Embora a força gravitacional seja mais familiar, e embora a
lei da gravidade de Newton descreva seu comportamento, nós realmente não temos idéia de
como a gravidade ”funciona”. A conclusão é portanto:

Não se pode distinguir localmente entre os efeitos de uma aceleração gravi-


tacional constante de magnitude g e os efeitos de uma aceleração do sistema
de referência de magnitude a = g.

Essa afirmação, chamada de princı́pio da equivalência, é o ponto de partida para a teo-


ria da relatividade geral desenvolvida por Albert Einstein no inı́cio do século XX. A palavra
localmente é necessária porque, em uma escala maior, a dependência 1/r 2 da força gravita-
cional torna-se aparente: para um conteiner alto na Figura 1.16, a aceleração gravitacional
na parte superior do contêiner seria menor que na parte inferior; para um contêiner muito
largp, daria para notar que objetos estão caindo não paralelos um ao outro, mas em direção
a um ponto único - o centro do objeto que os atrai. Na teoria de relatividade geral, os efeitos
da gravidade são explicados de maneira inteiramente geométrica. Gravidade e aceleração
são uma coisa só.
Na prática, nossa incapacidade de distinguir entre gravidade e aceleração são exploradas
em simulações de vôo de aeronaves e simuladores de movimento na indústria de diversões.
Estes dispositivos estão programados para inclinar em conjunto com um filme simulando
uma viagem em um veı́culo, avião ou nave espacial. O efeito é uma sensação surpreenden-
temente realista de movimento. Os princı́pios de operação são mostrado na Figura 1.17.
Suponha que você está em um recipiente fechado, com uma bola suspensa no teto. Se o
contêiner rolar a uma velocidade constante ao longo de uma trilha, como na Figura 1.17a,
você não pode sentir o movimento e a corda se mantém na vertical, embora os sons das rodas
e pequenas saliências na pista podem revelar que o contêiner está em movimento. A lei da
inércia (consulte a Seção 6.2) nos diz no entanto que você não pode determinar a diferença
entre estar se movendo a uma velocidade constante ou estar em repouso. Então, com o re-
cipiente em uma base estacionária, como na Figura 1.17b, se o recipiente treme um pouco
para simular solavancos e você ouve os mesmos sons ao ver um filme de uma paisagem que
flui a uma velocidade constante, a ilusão de se mover a velocidade constante está completa.
26 1.4. Princı́pio de equivalência

Agora, suponha que o contêiner acelere, como na Figura 1.17c. A cadeira pressiona suas
costas para acelerar você com o recipiente e, como resultado, você se sente empurrado para
trás contra a cadeira. Como mostra a Figura 1.17d, o mesmo efeito pode ser obtido incli-
nando um recipiente estacionário para trás (junto com sons e visuais apropriados). Nos dois
casos, também, a bola suspensa do teto inclina-se em sua direção e os objetos não caem di-
retamente no chão. De dentro do contêiner, você não pode dizer se essas coisas acontecem
porque o contêiner acelera ou porque a gravidade está em uma direção diferente.

Para simular a desaceleração (veja a Figura 1.17e), o dispositivo precisa ser inclinado para
frente (veja a Figura 1.17f). O resultado é que você se sente empurrado para a frente, como
em uma frenagem acentuada, e a bola se inclina para longe de você. Novamente, você não
pode dizer se o contêiner está desacelerando ou se a gravidade está puxando em uma direção
diferente.

Checkpoint 13.14 Como o simulador da Figura 1.17 deve ser inclinado para
simular uma curva à direita?

Figura 1.17: O princı́pio da equivalência afirma que um observador dentro de um recipiente


fechado não pode distinguir entre um movimento a uma velocidade constante e repouso,
entre acelerar e inclinar para trás ou entre desacelerar e inclinar para frente.
Capı́tulo 1. Gravidade 27

Figura 1.18: Um pulso de luz atravessa um recipiente em aceleração.

O exemplo do simulador pode lhe dar a impressão que o princı́pio da equivalência tem
mais a ver com nossos sentidos do que com as propriedades do universo. No entanto, não
é assim. Porque qualquer coisa que se move ao longo de uma linha reta em um referencial
inercial deve se mover ao longo de um caminho curvo em um sistema de referência acelerado,
o princı́pio da equivalência nos diz que qualquer coisa que se aproxime de um objeto que
tem massa deve se mover ao longo de um caminho curvo. A Figura 1.18 mostra um pulso
de luz que viaja ao longo de uma linha reta no referencial da Terra, mas depois que entra
em um elevador acelerado deve se mover ao longo de um caminho curvo visto de dentro do
elevador. Esse efeito é puramente cinemático, portanto, dada a equivalência entre gravidade
e aceleração, a flexão também deve ocorrer se o elevador, em vez de acelerar para cima, for
colocado em cima de um objeto com uma grande massa.

Checkpoint 13.15 A luz viaja a aproximadamente 3, 0 × 108 m/s.(a) Quanto


tempo leva para que um pulso de lux atravesse um elevador de 2, 0 m de lar-
gura? (b) Quão grande é a aceleração necessária para fazer o pulso se desviar de
um caminho linear em 1,0 mm? É provável que esse efeito possa ser observado?
c) Se a luz é desviada pela atração gravitacional de um objeto, a luz deve “cair”
ao viajar paralelo à superfı́cie da Terra. Que distância um feixe de luz viaja em
0,0010 s, e quanto ele cai nessa distância? É provável que esse efeito possa ser
observado?

Embora os cálculos neste ponto de verificação mostrem que a detecção da curvatura gra-
vitacional da luz é difı́cil, o efeito foi observado poucos anos após sua previsão em 1915.
Por causa da grande massa do Sol, um raio que passa perto do sol deve sofrer uma deflexão.
Embora seja normalmente impossı́vel para nós terráqueos ver estrelas próximas do sol, a luz
do sol é bloqueada pela lua durante um eclipse solar (Figura 1.19). Comparando uma ima-
gem de estrelas perto do Sol, tiradas durante um eclipse, com uma foto das mesmas estrelas
tiradas quando o Sol está longe delas (em outras palavras, à noite), é possı́vel o desvio da
luz causada pela atração gravitacional do Sol. Os valores medidos de tais desvios estão em
excelente concordância com os valores teóricos.
28 1.4. Princı́pio de equivalência

Checkpoint 13.16 (a) Qual seria a leitura da balança se o container na Fi-


gura 1.16b estivesse viajando a uma velocidade constante em vez de acelerar?
(b) Descreva o caminho do pulso de luz no quadro de referência do elevador na
Figura 1.18b se o elevador estivesse viajando em velocidade constante.

Figura 1.19: Quando o Sol passa perto da nossa linha de visão para uma estrela, a gravidade
do Sol curva a luz da estrela, mudando levemente a localização aparente da estrela no céu.
Esse efeito é visı́vel apenas durante um eclipse solar, quando a lua bloqueia o brilho do sol.
Diagrama não está em escala.
Análise Quantitativa

29
30 1.5. Constante Gravitacional

1.5 Constante Gravitacional


Como vimos na Seção 13.1, a lei da gravidade de Newton afirma que a força gravitacional
exercida por um objeto de massa m1 sobre um objeto de massa m2 é atrativa, central, e
proporcional ao produto das massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância
entre eles. Se as posições dos dois objetos são dados pelos vetores �r1 e �r2 , então a distância
entre eles é �r12 = �r2 − �r1 , como mostra a Figura 1.20. Podemos, assim, escrever a magnitude
da força gravitacional como:
m m
G
F12 = G 12 2
r12
onde a constante proporcionalidade G é chamada constante gravitacional. A força é atrativa
e direcionada ao longo da linha reta que une os objetos.
Qual é a relação entre a Eq. 1.5 e a magnitude mg da força da gravidade perto da su-
perfı́cie da Terra? Para responder a essa pergunta, suponha que o objeto 1 na Eq. 1.5 seja
a Terra com massa mE e que o objeto 2 seja um objeto arbitrário de massa mo próximo da
superfı́cie da Terra:
m m
G
FEo = G E2 o
rEo

Figura 1.20: A distância entre dois objetos cujas posições são dadas pelos vetores �r1 e �r2 é
igual à magnitude do vetor �r2 − �r1 .

Para um objeto a uma distância h acima do solo, a distância entre o objeto e o centro da
Terra é rEo = RE + h, onde RE é o raio da Terra. Perto do chão, h � RE , rEo ≈ RE e Eq. 1.5
torna-se:
m m m m Gm
G
FEo = G E2 o ≈ G E 2 o = mo 2 E (1.1)
rEo RE RE
G
O termo entre parênteses representa a aceleração do objeto devido à força FEo . Sabendo de
G
nosso estudo da força gravitacional que FEo = mo g, vemos que:

GmE
g= (1.2)
R2E
Capı́tulo 1. Gravidade 31

Como G, mE e RE são todos constantes, a lei da gravidade realmente dá uma aceleração
constante perto da superfı́cie da Terra.

Checkpoint 13.17 Para um objeto liberado a uma altura h ≈ RE acima do solo, a


aceleração devido à gravidade diminui, aumenta ou permanência igual à queda
do objeto na Terra?

Trabalhando por volta de 1677, Newton conhecia o raio da Terra, mas não sua massa,
e assim ele poderia obter apenas um valor aproximado de G estimando mE (como você fez
no ponto de verificação 1.16). A magnitude de G foi determinada experimentalmente por
Henry Cavendish em 1798. O princı́pio básico da medição de Cavendish é mostrado na Fi-
gura 1.21. Duas pequenas esferas de chumbo conectadas por uma haste de luz são suspensas
em uma fibra longa e fina. Quando duas grandes esferas de chumbo são colocadas perto
das pequenas esferas, a atração gravitacional entre as esferas grandes e pequenas faz com
que a haste gire, torcendo a fibra. O equilı́brio é alcançado quando o torque causado pelas
forças gravitacionais são iguais em magnitude ao torque oposto causado pela fibra torcida.
Ao calibrar o grau em que forças conhecidas torcem a fibra, Cavendish foi capaz de medir a
força gravitacional entre as esferas de chumbo. Conhecendo essa força, ele encontrou o valor
de G medindo a separação e inércias das esferas. O valor determinado com os instrumentos
modernos é
G = 6, 673810−11 N m2 /kg 2 (1.3)

Figura 1.21: Representação esquemática da configuração experimental de Cavendish para


determinar a constante gravitacional. Toda a configuração está dentro de uma caixa para
protegê-la das correntes de ar.

Como G é extremamente pequeno, a força exercida por dois objetos de 1 kg que estão a
1 m de distância é um mero 6, 7 × 10−11 N. Para comparação, a força da gravidade exercida
pela Terra no cabelo é cerca de 10−3 N, - 15 milhões de vezes mais forte! Essa comparação
mostra quão excessivamente pequena é a força gravitacional. Somente quando pelo menos
um dos dois objetos em interação têm uma massa muito grande (1011 kg no mı́nimo) a força
gravitacional se torna considerável.
32 1.6. Energia potencial gravitacional

exemplo 13.3 Pesando a Terra: Diz-se que Cavendish ”pesou a Terra”porque


sua determinação de G forneceu o primeiro valor para a massa mE do planeta.
Dado que o raio da Terra é de cerca de 6400 km e dado o valor de G na Eq. 1.3,
determine mE .

1.6 Energia potencial gravitacional

Em um capı́tulo anterior, determinamos a energia potencial associada à força de gravidade


perto da superfı́cie da Terra. Vamos agora obter expressões gerais para a energia potencial
a partir da lei da gravidade. Para fazer isso, consideramos dois objetos 1 e 2 de massas m1 e
m2 . Suponha que a massa do objeto 1 seja muito maior que a massa do objeto 2, m1 � m2 ,
de modo que, se colocarmos o objeto 1 na origem, poderemos considere que está fixo lá.
Agora, deixe o objeto 2 se mover ao longo do eixo x de xi a xf sob a influência da atração
gravitacional entre os dois (Figura 1.22). Qual é o trabalho realizado pela força gravitacional
exercida pelo objeto 1 no objeto 2? Se escolhermos o eixo x apontando para a direita, como
indicado na Figura 1.22, a componente x da força exercida pelo objeto 1 no objeto 2 quando
o objeto 2 está em algum posição arbitrária x é:

G m1 m2
F12,x = −G . (1.4)
x2

Figura 1.22: Um objeto de massa m2 se move em direção a um objeto de massa m1 � m2 fixo


na origem.

O componente x da força é negativo porque a força aponta na direção negativa de x. A


força gravitacional varia com a distância e, portanto, para avaliar o trabalho realizado pelo
objeto 1 no objeto 2, devemos avaliar a integral:
� xf
W= Fx (x)dx. (1.5)
xi

Substituindo a Eq. 1.4 na Eq. 1.5, obtemos


� xf � �
1 1 1
W = −Gm1 m2 dx = Gm1 m2 − (1.6)
xi x2 xf xi

Este é o trabalho realizado pela força gravitacional exercida pelo objeto 1 no sistema con-
sistindo apenas pelo objeto 2 (Figura 1.23a). Porque a força e o deslocamento apontam na
mesma direção, sabemos que o trabalho deve ser positivo. De fato, o lado direito da Eq. 1.6
é positivo porque xf < xi .
Capı́tulo 1. Gravidade 33

Figura 1.23: Diagrama de energia para a situação mostrada na fig 1.22

À medida que o objeto 2 se move de xi para xf , ele acelera e, assim, sua energia cinética
aumenta. Como nenhuma outra energia associada a ela muda, o aumento da energia cinética
deve ser igual ao trabalho realizado pelo objeto 1, ΔK = W , como ilustrado no diagrama de
energia da Figura 1.23a.
Se, em vez do objeto 2 por si só, considerarmos agora o sistema (fechado) dos dois objetos
interagindo como um todo, então o aumento da energia cinética do objeto 2 não se deve
ao trabalho realizado pela força gravitacional externa exercida pelo objeto 1, mas a uma
diminuição da energia potencial gravitacional do sistema (Figura 1.23b e compare com a
Figura 18 do capı́tulo 9. Essa energia potencial gravitacional é uma medida da configuração
do sistema. A mudança na energia potencial gravitacional do sistema é, portanto, ΔUG =
−ΔK. Porque amudança na energia cinética não depende da escolha do sistema, vemos que
a mudança na energia potencial do sistema de dois objetos é o negativo de W em Eq. 1.6:
� �
1 1
ΔUG = Gm1 m2 − (1.7)
xi xf

É habitual escolher a energia potencial gravitacional de um sistema a ser zero na separação


infinita (x = ∞), que é a distância de separação na qual a força gravitacional é zero: UG (∞) =
0. Portanto, se deixarmos o objeto 2 passar de x = ∞ para uma posição arbitrária x sob a
influência da aceleração gravitacional devido ao objeto 1, Eq. 1.7 leva a:
� �
1
ΔUG = UG (x) − UG (∞) = UG (x) − 0 = Gm1 m2 0 − (1.8)
xf

então a energia potencial gravitacional é


m1 m2
UG (x) = −G (1.9)
xf

que é zero no infinito x. À medida que o objeto 2 se move a partir de uma posição infini-
tamente longe, sua energia cinética aumenta e, portanto, a energia potencial do sistema de
34 1.6. Energia potencial gravitacional

dois objetos diminui. Portanto, definir UG (∞) = 0 em x = ∞ faz com que a energia potencial
seja negativa para todos os valores de x < ∞.

exemplo 13.4 Energia potencial gravitacional perto da superfı́cie da Terra: A


distância entre a superfı́cie da Terra e um objeto de massa m é alterado por
uma quantidade Δx. Mostre que quando x ≈ RE e Δx � RE , onde RE é o raio
da Terra, a expressão geral para energia potencial gravitacional se reduz a ex-
pressão ΔUG = mgΔx.

Figura 1.24: Para calcular o trabalho realizado pelo objeto 1 no objeto 2 enquanto o objeto
2 se move no caminho tracejado de P a Q, aproximamos o caminho por (a) uma distância
radial e uma circular ou (b) vários deslocamentos sucessivos.
Capı́tulo 1. Gravidade 35

Como a força da gravidade é uma força central, podemos generalizar facilmente a Eq. 1.9
para mais de uma dimensão. Suponha que o objeto 2 se mova de P para Q na Figura 1.24a
ao longo de parte de uma órbita elı́ptica. Vamos primeiro aproximar o deslocamento do
objeto 2 por dois deslocamentos sucessivos: um ao longo da direção radial de P a R e um ao
longo de um arco circular de R a Q. O trabalho realizado pela força da gravidade no objeto
2 sobre o deslocamento radial é dado pela Eq. 1.6. Ao longo do arco RQ, a magnitude da
força da gravidade é constante, mas sempre orientada pendicular ao deslocamento. Porque o
trabalho em mais de uma dimensão é dado pelo produto escalar da força pelo deslocamento,
o trabalho realizado pela força da gravidade no objeto 2 ao longo do arco circular é zero.

� Q
WR→Q = � Q .dr
F � =0 (1.10)
12
R

Portanto, o trabalho realizado pelo objeto 1 no objeto 2 à medida que ele se move de P para
Q ao longo do caminho PRQ é igual ao trabalho realizado apenas ao longo do deslocamento
radial.
Uma melhor aproximação do caminho real do objeto 2 pode ser obtida dividindo o movi-
mento em pequenos segmentos e aproximando cada segmento pela soma dos deslocamentos
radiais e circulares, como mostra a Figura 1.24b. Novamente, o trabalho realizado no objeto
2 ao longo de cada deslocamento circular é zero. Além disso, todos os deslocamentos radi-
ais simplesmente somam os mesmos deslocamentos radiais como na Figura 1.24a. Portanto,
apenas a mudança na distância radial é importante e o trabalho gravitacional realizado pelo
objeto 1 no objeto 2 enquanto o objeto 2 se move de P a Q é:

� �
1 1
WP→Q = Gm1 m2 − (1.11)
rQ rP

Seguindo o mesmo raciocı́nio anterior, podemos escrever a energia potencial gravitacional


do sistema como:
m1 m2
UG (r) = −G (1.12)
r

onde r é a distância entre os dois objetos


Observe que o resultado obtido na Eq. 1.11 vale para qualquer caminho que leve de P a Q.
Qualquer caminho arbitrário pode ser dividido em pequenos segmentos radiais e circulares
e, como mostra a Figura 1.24b, o trabalho realizado pela força gravitacional depende apenas
da posição dos pontos finais em relação a m1 , não do caminho percorrido. Considere, por
exemplo, os caminhos 1 e 2 de P a Q na Figura 1.25a. O trabalho realizado é o mesmo nos
dois caminhos:

WP→Q,caminho 1 = −WP→Q,caminho 2 (1.13)

Essa independência de caminho é caracterı́stica das interações não dissipativas.


36 1.7. Mecânica celeste

Figura 1.25: O trabalho da força gravitacional no objeto 2 depende somente dos pontos
inicial e final.

Também sabemos que o trabalho realizado ao longo de um caminho se movendo em uma


direção é o negativo do trabalho realizado ao longo desse caminho que se move na direção
oposta. Isso pode ser facilmente visto na Figura 1.24b: Invertendo a direção do trajeto inverte
o sinal do deslocamento (e, portanto, o sinal do trabalho) ao longo de todos os componentes
radiais. Portanto, se deixarmos o objeto 2 passar de Q para P ao longo do caminho 2 na
Figura 1.25a, o trabalho realizado é

WQ→P,caminho 2 = −WP→Q,caminho 2 (1.14)

Uma conseqüência da Eq. 1.13 e 1.14 é que, se um objeto se move de P para Q ao longo
do caminho 1 e depois de volta a P ao longo do caminho 2, como mostra a Figura 1.25b, o
trabalho realizado pela força gravitacional no objeto é zero:

W = WP→Q,caminho 1 + WQ→P,caminho 2 = 0 (1.15)

Um caminho como o mostrado na Figura 1.25b, no qual qualquer objeto após o caminho
retorna à sua posição original, é chamado de caminho fechado. Porque a energia potencial
gravitacional depende apenas da posição dos pontos finais e os pontos finais são os mesmos,
a mudança na energia potencial do sistema de dois objetos é zero. Consequentemente, o
trabalho realizado pela força gravitacional exercido por um objeto no outro enquanto se
move ao longo de um caminho fechado é zero, como Eq. 1.15 mostra.

Checkpoint 13.18 Perto da superfı́cie da Terra, quando ΔUG = mgΔx, é habitual


escolher a energia potencial gravitacional zero na superfı́cie da Terra, em vez de
a uma separação infinita como fizemos na Eq. 1.8. Essa escolha de zero produz
valores maiores ou menores para a energia potencial gravitacional? Em que
quantidade?

1.7 Mecânica celeste


Agora que derivamos uma expressão para a energia potencial gravitacional, podemos escre-
ver uma expressão para a energia de um sistema de dois objetos celestes. Considere um sis-
tema que consiste em dois objetos, dos quais um tem uma maior massa que o outro (M � m),
Capı́tulo 1. Gravidade 37

para que possamos considerar o centro de massa do sistema de dois objetos a ser fixado no
centro do objeto maior. Exemplos desse sistema são um planeta orbitando uma estrela, uma
lua orbitando um planeta, e um satélite orbitando a Terra (Figura 1.26). Por conveniência,
vamos nos referir ao objeto com a massa maior M como estrela e objeto com a massa menor m
como o satélite, mas os resultados se aplicam a qualquer par de objetos celestes com M � m.
Consideraremos o sistema fechado e isolado para que nem sua energia nem seu momento
angular possam mudar:

ΔE = 0 ; Δ�L = �0. (1.16)

A energia do sistema consiste na energia potencial gravitacional e na energia cinética. Porque


apenas o satélite está em movimento, temos

1 1
E = K + UG = mv 2 − GMm (1.17)
2 r

onde v é a velocidade do satélite e r é a distância entre o satélite e a estrela.


38 1.7. Mecânica celeste

Figura 1.26: Quando um objeto orbita outro de massa muito maior, podemos considerar que
o centro de massa do sistema está no centro do objeto maior.

Como a força da gravidade é central, o momento angular de cada objeto é constante. Para
o satélite, temos
L = r⊥ mv (1.18)

As equações 1.16–1.18 permitem determinar a forma da órbita do satélite dados os valores


de �r e v� em qualquer instante.
Capı́tulo 1. Gravidade 39

Checkpoint 13.19 (a) Se um objeto de massa m for liberado do repouso, a uma


distância r de uma estrela de massa M � m e raio Rs , a energia mecânica do
sistema estrela-objeto Emech é positiva, negativa ou zero? (b) Descreva o mo-
vimento do objeto e determine os valores máximos e mı́nimos de sua energia
cinética durante seu movimento. c) O movimento que você descreveu na parte
b satisfaz a conservação do momento angular em torno do centro da estrela? (d)
Suponha que o objeto agora seja lançado com velocidade diferente de zero em
uma direção perpendicular à linha reta que a une ao centro da estrela. Emech é
positivo, negativo ou zero?

Como mostra esse ponto de verificação, a energia mecânica Emech de um sistema de


estrela-satélite pode ser negativo porque UG é sempre negativo quando deixamos a ener-
gia potencial gravitacional seja zero na separação infinita. Para entender as consequências
da energia ser negativa, veja a Figura 1.27, que mostra a energia potencial gravitacional UG
em função da distância r entre satélite e estrela. Como vimos, UG tem uma dependência 1/r
e se aproxima de zero quando r vai para o infinito. Se a energia E do sistema for negativa,
haverá um valor r = rmax para o qual UG = Emech - toda a energia mecânica está na forma
de energia potencial e, portanto, a energia cinética do satélite é zero. Qualquer distância
de separação r maior que rmax produziria uma energia cinética negativa porque UG > Emech
para r > rmax . Porque a energia cinética não pode ser positiva, o movimento do satélite para
valores negativos de Emech é restrito a valores de r < rmax para o qual UG < Emech . A distância
máxima de separação rmax ocorre quando UG = Emech :

GMm
rmax = (1.19)
−Emech

Em palavras, dizemos que, para Emech negativo, o satélite está ligado à estrela: não pode
escapar para o infinito porque não possui energia cinética suficiente. Quando a energia
mecânica Emech é positiva, a energia potencial gravitacional é sempre menor que Emech , e
mesmo em separação infinita, onde a energia potencial gravitacional é máxima, ainda existe
uma quantidade positiva de energia. Portanto, não há limite na distância de separação r para
o Emech > 0; neste caso, dizemos que o satélite não está ligado porque tem energia suficiente
para “escapar” ao infinito.

Checkpoint 13.20 (a) Se nosso satélite de massa m atingir a posição rmax dada
pela Eq. 1.19, qual seria seu momento angular? (b) Qual seria sua trajetória
para satisfazer a conservação do momento angular? (c) Se seu momento angular
é não zero, o satélite pode atingir rmax ?

Para determinar a forma da órbita do satélite, precisamos resolver as Eqs. 1.16–1.18.


A solução dessas equações simultâneas produz órbitas que correspondem a seções cônicas
ilustradas na Figura 1.28, com a estrela no foco da seção. As seções mostradas na figura
se enquadram em duas categorias: elipses (incluindo o cı́rculo, que é um tipo especial de
elipse) e hipérbole. A seção limitadora entre essas duas categorias é a parábola. Elipses são
vinculados e, portanto correspondem a energia mecânica negativa; hipérbole são ilimitadas
e, portanto, correspondem a energia mecânica positiva. O caso limitante entre vinculado
e movimento livre ocorre para Emech = 0, quando o satélite possui cinética suficiente ener-
gia para se aproximar do infinito (com energia cinética zero). A órbita correspondente é a
40 1.7. Mecânica celeste

parábola. Resumindo, temos

Emech < 0 : orbita eliptica


Emech = 0 : orbita parabolica
Emech > 0 : orbita hiperbolica (1.20)

Figura 1.27: Quando a energia mecânica do sistema é negativa, a distância de separação r


entre dois objetos é limitada pela região onde UG < Emech

Figura 1.28: Seções cônicas

exemplo 13.5 Ciência de foguetes: Um satélite de massa m está em uma órbita


elı́ptica ao redor de uma estrela de massa M � m. Se a energia mecânica do
sistema satélite-estrela é Emech e a magnitude do momento angular do satélite
em torno da estrela é L, quais são os eixos principais a e a excentricidade da
órbita do satélite?
Capı́tulo 1. Gravidade 41

Checkpoint 13.21: Considere um planeta de massa m movendo-se a uma velo-


cidade constante v em uma órbita circular do raio R sob a influência da atração
gravitacional de uma estrela de massa M. (a) Qual é a energia cinética do pla-
neta, em termos de m, M, G e R? (b) Qual é aenergia do sistema estrela-planeta?
(c) Usando a expressão para a excentricidade obtida no Exemplo anterior, obte-
nha uma expressão para Emech para a órbita circular. (d) Compare suas respostas
para as partes b e c.

Os resultados obtidos no Exemplo 13.5 mostram que o comprimento do eixo principal


da elipse depende apenas da energia mecânica Emech do sistema. Porque Emech é negativo,
quanto maior o Emech , mais próximo está de zero e maior a.

Figura 1.29: Órbitas de um satélite de massa m lançado em diferentes direções com velo-
cidade fixa e distância fixa de um objeto de massa M. Por causa da energia mecânica ser
sempre a mesma, a distância 2a do semi-eixo maior da órbita (linha tracejada) é constante.
Quando o ângulo entre v�i e �ri diminui, o momento angular diminui e a excentricidade da
órbida aumenta.

A Figura 1.29 mostra cinco órbitas com a mesma energia fixa, mas diferentes valores de
L. A energia Emech = UG + K é fixa porque o satélite é lançado a uma velocidade inicial fixa
(então K é fixo) a partir de um ponto P que é uma distância fixa ri do centro do objeto maior
de massa M (então UG é fixo). Porque Emech é fixo, o comprimento 2a do eixo principal é o
mesmo para todas as órbitas. Como a direção de v�i é alterado (sem alterar a velocidade vi
e, portanto, Emech e 2a), a magnitude do momento angular muda, afetando a excentricidade
da órbita, que depende de L e Emech . Para uma energia mecânica fixa Emech (ou seja, para um
valor fixo do eixo principal), e aumenta à medida que L diminui. Assim, enquanto o ângulo
entre v�i e �ri diminui, a elipse se torna mais alongada. Em todos os casos, o objeto de massa
M está em um dos focos da elipse.

Figura 1.30: Órbitas de um satélite de massa m lançadas com diferentes velocidades e a uma
distância fixa de um objeto de massa M.

A Figura 1.30 mostra as órbitas de um objeto lançado várias vezes a partir de um local
fixo a uma distância ri do centro da Terra. Todos os lançamentos são na mesma direção,
perpendicular à linha reta que conecta o objeto ao centro da Terra, mas a velocidade de
42 1.8. Força gravitacional exercida por uma esfera

lançamento é aumentada para cada lançamento sucessivo. Porque a energia potencial gravi-
tacional inicial UG é sempre a mesma, o valor da energia mecânica Emech é determinada pela
energia cinética inicial: Emech = UG + K.
Se o objeto for liberado do repouso, K = 0 e, portanto, Emech = UG . Como você viu em
Ponto de verificação 13.19, o objeto cai em uma linha reta em direção à superfı́cie da Terra.
Quando o objeto recebe uma pequena velocidade inicial, no entanto, a órbita é uma elipse
com o centro da Terra no foco mais distante do ponto de lançamento. Para v pequeno, a
órbita cruza a Terra e o objeto para. À medida que vi aumenta, a elipse torna-se mais redonda
e mais longa, e para vi suficientemente grande, o objeto o circula ao redor do planeta.
À medida que continuamos a aumentar vi , chegamos a um ponto em que vi tem a mag-
nitude certa para tornar vi2 /ri igual à aceleração centrı́peta causada pela Terra pela força
gravitacional, e o objeto entra em uma órbita circular. Para vi maior, a órbita é novamente
elı́ptica, mas o centro da Terra agora coincide com o foco mais próximo da elipse.
À medida que aumentamos vi , chegamos a um ponto em que a energia mecânica do
sistema não é mais negativa e a órbita é ilimitada. Isso acontece quando:
1 2 GmmE
Emech = mvesc − =0 (1.21)
2 ri
onde vesc é a velocidade de escape do objeto, m é a massa do objeto lançado, mE é a massa
da Terra e ri é a distância do ponto de lançamento ao centro da Terra. O objeto lançado na
velocidade de escape e movendo-se sem mais propulsão viaja para o infinito ao longo de um
caminho parabólico. Em velocidades de inicialização maiores que vesc a órbita corresponde
a um ramo de uma hipérbole.

Checkpoint 13.22 (a) Determine uma expressão para a velocidade de escape na


superfı́cie da Terra. (b) qual é o valor dessa velocidade de escape? (c) Importa
em que direção um objeto é disparado com a velocidade de escape?

1.8 Força gravitacional exercida por uma esfera


Central à lei da gravidade de Newton é a afirmação de que uma esfera sólida exerce uma
força gravitacional em um objeto fora da esfera como se toda a sua massa estivesse concen-
trada no centro da esfera. Para provar esta afirmação, calcularemos a força exercida sobre
uma partı́cula de massa m por uma fina camada esférica de massa M e raio R; a distância
entre a partı́cula e o centro da casca é r. Uma vez que tivermos um resultado para a casca,
podemos obter o resultado para uma esfera sólida tratando a esfera sólida como um grande
número de cascas esféricas concêntricas, como as camadas de cebola.
Considere primeiro um pedaço vertical da casca em forma de anel - a parte contida entre
os ângulos θ e θ + dθ na Figura 1.31a. A força exercida por um pequeno segmento do anel
G
próximo a P é FPp . Somente os componentes dessas forças ao longo do eixo x contribuem
para o vetor soma das forças exercidas na partı́cula. O mesmo cancelamento ocorre para
cada par de pequenos segmentos diametralmente opostos que compõem todo o anel. Para
calcular a soma vetorial das forças exercidas na partı́cula, precisamos, portanto, considerar
apenas os componentes x. O componente x da força exercida por um pequeno segmento do
anel de massa dm próximo a P na partı́cula é

G m dm
dFPp,x = −G cos α (1.22)
s2
Capı́tulo 1. Gravidade 43

onde α é o ângulo entre a força e a linha reta da partı́cula para o centro da casca e s é a
distância da partı́cula a P. A componente x dos elementos das forças exercidas por todos os
segmentos do anel têm a mesma magnitude. A soma vetorial das forças exercidas por todo o
anel é assim igual à soma das contribuições de todos os segmentos do anel:

G m dM
dFPp,x = −G cos α (1.23)
s2

onde dM é a massa de todo o anel (a soma das massas de todos os segmentos). Sendo a lar-
gura do anel igual ao comprimento do arco Rdθ, a área do anel é (comprimento) × (largura) =
(2πRsenθ)(Rdθ) = 2πR2 sin θdθ. Se a massa M da casca inteira é distribuı́da uniformemente
sobre a casca, então a massa por unidade de área é M/4πR2 , então

M M
dM = 2πR2 sin θdθ = sin θdθ (1.24)
4πR2 2

ou combinando as Eqs.1.23 e 1.24,

G Mm cos α sin θdθ


dFPp,x = −G (1.25)
2 s2

A equação 1.25 fornece a força exercida por um anel vertical de nossa casca esférica
na partı́cula. Agora devemos integrar esse resultado em todo a casca. Antes de podermos
realizar essa integração, devemos reduzir as variáveis α, s, e θ, todos relacionados, a uma
variável. Na Figura 1.31b, vemos que

r − R cos θ
cos α = (1.26)
s

e da lei dos cossenos, temos:

s2 = R2 + r 2 − 2Rr cos θ (1.27)


44 1.8. Força gravitacional exercida por uma esfera

Figura 1.31: Para calcular a força gravitacional exercida por uma casca esférica de massa M
em um objeto de massa m, a casca é dividida em anéis verticais.

A diferenciação do lado esquerdo desta equação em relação a s produz 2s. Para o lado
direito chegamos em:

d 2 2 d dθ
(R + r − 2Rr cos θ) = (R2 + r 2 − 2Rr cos θ) (1.28)
ds dθ ds
Igualando as derivadas nos dois lados, obtemos:


2s = 2rR sin θ (1.29)
ds
dθ s ds
sin θ = (1.30)
ds rR
Substituindo a Eq. 1.30 e R cos θ da Eq. 1.27 na Eq. 1.26 e depois na Eq. 1.25 leva à:
� �
G GMm r 2 − R2
dFsp,x =− 2 − 1 ds (1.31)
4r R s2

Para obter a força exercida por toda a casca, precisamos integrar essa expressão de s = r − R
(em θ = 0) para s = r + R (em θ = π):
� r+R � 2 �
G GMm r − R2
Fsp,x =− 2 − 1 ds (1.32)
4r R r−R s2
Capı́tulo 1. Gravidade 45

Ao resolver a integral (consulte o Ponto de Verificação 13.23), obtemos:

� r+R � 2 �
r − R2
− 1 ds = 4R (1.33)
r−R s2

e:

G mM
Fsp,x = −G (1.34)
r2

onde o sinal de menos indica que a força aponta para o centro da casca. Então, vemos que a
casca exerce uma força como se toda a sua massa M estivesse concentrada no centro.
Agora, podemos facilmente estender esse resultado a uma esfera sólida, considerando
muitas cascas concêntricas. Para cada casca, obtemos uma expressão da forma dada pela
Eq. 1.34; adicionando todos os termos (um para cada casca) gera:

G
mMesf era
Fsp =G (1.35)
r2

para a magnitude da força gravitacional exercida por uma esfera sólida de massa M em uma
partı́cula de massa m a uma distância r do centro da esfera. A equação 1.35 mostra que a
esfera sólida exerce uma força como se toda a sua massa M estivesse concentrada no centro.

Checkpoint 13.23 (a) Calcule a integral na Eq. 1.33 (b) Mostre que a Eq. 1.31
ainda vale se a partı́cula de massa m estiver dentro da casca. (c) Quais são os
limites de integração com esta partı́cula dentro da casca? Qual é o valor da
integral na Eq. 1.33 para esses limites?

1.9 Problemas

Atividade 1.1 problemas

Exercı́cio 1.1 (a) Para qual aceleração para baixo a mola na balança de mola na Fi-
gura ?? marca zero? (b) Qual seria a resposta na parte (a) se o experimento fosse reali-
zado na Lua? (c) Como sua conclusão mudaria se o tijolo fosse pendurado da balança
em vez de posto sobre a balança?
46 1.9. Problemas

Figura 1.32

Exercı́cio 1.2 A distância entre os centros de uma esfera de chumbo de 200 g e uma
esfera de chumbo de 800 g é de 0,120 m. Um objeto de 1,00 g é colocado 0,0800 m do
centro da esfera de 800 g ao longo da linha juntando os centros das duas esferas. (a)
Ignorando todas as fontes da força gravitacional, exceto as duas esferas, calcule o força
gravitacional exercida sobre o objeto. (b) Determine o energia potencial gravitacional
por grama na posição do objeto. (c) Quanto trabalho é necessário para trazer o objeto
0,0400 m mais perto da esfera de 800 g?

Exercı́cio 1.3 Suponha que um buraco seja feito no centro da Terra. Eu deixo cair
uma pequena massa neste buraco e depois de algum tempo vejo-a emergindo no lado
oposto da Terra. A massa então cai de volta novamente e continua a oscilar. Encontre o
perı́odo dessa oscilação. Indique claramente todas as suposições feitas. Se o diâmetro
do furo for uma fração significativa do tamanho da Terra isso afetaria sua resposta? Se
sim, como?

Problema 1.1 Um estudante de fı́sica decide se infiltrar na Sociedade da Terra Plana,


que acredita que a Terra é um disco plano de raio até o horizonte visto do topo do
edifı́cio mais alto da cidade. Ele decide calcular a aceleração devido à gravidade na
superfı́cie de tal Terra usando a massa conhecida da Terra e o conhecimento de que o
edifı́cio mais alto da cidade tem 50 m de altura. Que valor ele obteve para g? É dife-
rente o suficiente do valor conhecido para convencer integrantes razoáveis a desertar?

Problema 1.2 Calcule a aceleração devido à gravidade dentro da Terra como uma
função ção da distância radial r do centro do planeta. Presumir que a densidade do
planeta varia como 1/r. (Dica: imagine que um poço de mina foi perfurado da su-
perfı́cie ao centro da Terra e um objeto de massa m foi jogado no poço para alguma
posição radial r < RE do centro, onde RE é o raio da Terra. Qual é a soma vetorial das
Capı́tulo 1. Gravidade 47

forças exercidas sobre o objeto por toda a massa da Terra que se encontra a qualquer
distância d > r do centro? E para d < r do centro?)

Problema 1.3 Derive uma expressão para a energia potencial gravitacional de um sis-
tema consistindo na Terra e um tijolo de massa m colocado no centro da Terra. Assuma
que a energia potencial do sistema com o tijolo colocado no infinito é zero.

Problema 1.4 Uma haste uniforme de massa m e comprimento l encontra-se ao longo


de um eixo x longe de quaisquer estrelas ou planetas, com o centro da haste na origem
(Figura 1.33). Uma bola de massa mbola está localizada na posição xbola no eixo. (a) Es-
creva uma expressão para a energia potencial gravitacional do sistema constituı́do pela
bola e um pequeno elemento dmhaste da haste localizada na posição ção xdm . (b) Inte-
gre a sua expressão ao longo do a haste para determinar a energia potencial do sistema
para xbola > lhaste /2. (c) Pode ser mostrado que para tal sistema a força gravitacional
exercida pela haste sobre um objeto localizado a a distância x da origem é Fx = −dU /dx.
Usando esta relação, calcule a força exercida pela haste na bola a qualquer distância x
do centro da haste.

Figura 1.33

Problema 1.5 Eu esculpo um pequeno volume esférico V em algum lugar dentro de


um esfera sólida uniforme. Mostre que o campo gravitacional neste vazio é uniforme,
calculando a força em uma pequena massa de teste no espaço vazio (Figura 1.34).

Figura 1.34
48 1.9. Problemas

Problema 1.6 Um anel uniforme de massa manel e raio Ranel é mostrado na Figura 1.6.
Um pequeno objeto de massa mobj está a uma distância s do anel na linha que é perpen-
dicular ao plano do anel e passa pelo seu centro. Obtenha uma expressão (em termos
das variáveis fornecidas e constantes universais) para a magnitude da força gravitaci-
onal exercida pelo anel no objeto.

Figura 1.35

Problema 1.7 Considere um disco fino de raio R e massa mdisco uniformemente dis-
tribuı́da sobre sua área. (a) Derive uma expressão para a magnitude da força gravitaci-
onal que este disco exerce sobre uma partı́cula de massa m localizado a uma distância
y diretamente acima do centro do disco. (b) Se y � R, mostre que esta expressão se
reduz àquela para duas partı́culas.

Problema 1.8 Os cientistas ainda não têm certeza se o universo é aberto (o que signi-
fica que continuará se expandindo para sempre) ou fechado (o que significa que even-
tualmente ele voltará a si mesmo em um “Big Crunch”). O que determina se ele está
aberto ou fechado é basicamente a mesma coisa que calculamos para determinar as
velocidades de escape. Suponha que o universo tem uma densidade uniforme ρ. Então
a massa contido em algum volume esférico de espaço de raio R é 4/3πR3 ρ. Modele
uma galáxia localizada na borda deste volume esférico como um partı́cula e considere
sua energia. De acordo com a lei de Hubble, a velocidade desta galáxia é HR, onde
H = 2, 210−18 s−1 é chamada de constante de Hubble. (a) Qual é a densidade máxima
do universo de tal forma que ele não fecha? (b) A atual estimativa da densidade do
universo é de 10−26 kg/m3 , incluindo cerca de 25 % de matéria escura, que é matéria
que não podemos observar diretamente, e 70 % de energia escura, outro constituinte
que não é diretamente observável. Tanto a matéria escura quanto a energia escura con-
tribuem com a gravidade, e portanto são incluı́dos neste valor da densidade. Compare
este valor com o seu resultado e discuta que diferença faria se não houvesse matéria
escura no universo.

Lista de problemas escolhidos para aula exploratória:

Atividade ...

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