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REDES DE MÉDIA TENSÃO EM

USINAS EÓLICAS E SOLARES:


Projeto e gestão de redes subterrâneas para fontes renováveis

DANIEL BENTO / FÁBIO BRUNHEROTO FORNER / PLÁCIDO ANTÔNIO BRUNHEROTO / RAFAEL MORGADO BATISTA

E-book 3
Projeto de rede coletora subterrânea (parte 2) - Otimização do
dimensionamento dos circuitos e otimização econômica dos condutores

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REDES DE MÉDIA TENSÃO EM
USINAS EÓLICAS E SOLARES
Projeto e gestão de redes subterrâneas para fontes renováveis

DANIEL BENTO

FÁBIO BRUNHEROTO FORNER

PLÁCIDO ANTÔNIO BRUNHEROTO

RAFAEL MORGADO BATISTA

E-book 3
Projeto de rede coletora subterrânea (parte 2) - Otimização do dimensionamento
dos circuitos e otimização econômica dos condutores

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INTRODUÇÃO 4

1 - OTIMIZAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO DOS CIRCUITOS 5

1.1 – Variáveis de otimização 5


1.2 – Procedimento de otimização 6
1.3 – Caso ilustrativo 6

2 - OTIMIZAÇÃO ECONÔMICA DOS CONDUTORES 7

2.1 – Avaliação de cenários de dimensionamento 10

3 - CONCLUSÃO 11

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INTRODUÇÃO

Seja em parques eólicos ou em usinas de geração solar fotovoltaica, há sempre a necessidade


de dimensionar e projetar corretamente as redes de média tensão, que captam a energia
produzida em cada conjunto de Unidades de Geração e a transporta até uma subestação, onde
é feita a conexão com um sistema de transmissão.
Na última edição desta série de e-books, abordamos os principais aspectos que devem ser
considerados durante a fase de projeto de uma rede de média tensão subterrânea nestes tipos
de empreendimentos, com foco especial no levantamento de dados para o dimensionamento
dos circuitos.
Com estes dados em mãos é que podemos pensar em alternativas técnicas para obter uma
boa relação custo-benefício para o projeto. Nos capítulos a seguir, você vai aprender com
exemplos práticos as variáveis que devem ser consideradas nessa etapa, sem deixar de lado os
princípios que garantem a confiabilidade, a disponibilidade e a segurança das redes.
Tenha uma ótima leitura!

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1 - OTIMIZAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO DOS CIRCUITOS

Tendo em vista que, geralmente, os projetos buscam obter uma relação custo-benefício
adequada, os resultados dos dimensionamentos iniciais devem ser avaliados para buscar
oportunidades de redução de custo que não comprometam as condições técnicas de
operação relacionadas à segurança, à confiabilidade e à durabilidade.
Nessa avaliação, vale mencionar alguns aspectos. Primeiramente, cabos com seções
superiores permitem maior número de aerogeradores por circuito e, com isso, menores
custos com cabos e obras civis. Por outro lado, a concentração de mais unidades geradoras
por circuito pode levar a uma piora dos índices de confiabilidade. Outrossim, do ponto de
vista de manutenção, é preferível utilizar cabos com seções próximas entre si, reduzindo a
diversidade de materiais e acessórios em estoque.
O dimensionamento resultante do procedimento apresentado na última edição desta
série de e-books pode ser aperfeiçoado considerando alterações em alguns parâmetros,
conforme discutidos a seguir.

1.1 – VARIÁVEIS DE OTIMIZAÇÃO


Em um determinado circuito, a seção transversal dos cabos é dimensionada para os diversos
trechos ao longo de sua extensão. A seção é determinada com base no maior carregamento previsto
para cada trecho do circuito. Sua corrente máxima admissível depende das seguintes características:

• Profundidade de instalação dos cabos;


• Temperatura máxima do solo na profundidade de instalação;
• Número de circuitos por vala;
• Distância entre os centros dos circuitos.

Pode-se adotar um procedimento de cálculo para otimizar a escolha da seção dos cabos.
Para isso, as seguintes variáveis devem ser consideradas:

Variáveis principais:

• SCC: Seção condutora do cabo, em mm2;


• NCV: Número de circuitos por vala;
• IAD: Corrente admissível do cabo, em Ampères;
• NUG: Número de unidades geradoras por circuito;
• NMV: Número mínimo de valas.

Variáveis auxiliares:

• IUG: Corrente máxima de cada unidade geradora em Ampères;


• NTUG: Número total de unidades geradoras;

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• IREF: Corrente admissível de referência, obtida da Tabela 1;
• F1: Fator de correção de IREF com relação à profundidade de instalação dos cabos;
• F2: Fator de correção de IREF com relação ao número de circuitos e ao espaçamento entre
eles;
• F3: Fator de correção de IREF com relação à correção da temperatura máxima do solo;
• F4: Fator de correção de IREF com relação à resistividade térmica do solo;
• F5: Fator de correção de IREF com relação à temperatura ambiente.

1.2 – PROCEDIMENTO DE OTIMIZAÇÃO


O procedimento de otimização consiste em seguir os passos descritos a seguir:

1 - Fixar um valor de SCC;


2 - Fixar um valor de NCV;
3 - Determinar IAD, com base em SCC, NCV e nas características físicas de instalação;

IAD = IREF x F1 x F2 x F3 x F4 x F5

4 - Calcular NUG (número de unidades geradoras por circuito), com base em IAD;

NUG = Inteiro (IAD / IUG)

5 - Calcular NMV, com base em NUG e NCV;

NMV = NTUG / (NUG x NCV)

6 - Repetir os passos de 1 a 5, considerando outras combinações possíveis de SCC e NCV;


7 - As redes resultantes das combinações entre os parâmetros acima devem ser analisadas
qualitativa e quantitativamente, eliminando as combinações inviáveis. Podem ser
consideradas inviáveis as combinações envolvendo cabos com seções transversais muito
elevadas. Além de elevarem o custo de aquisição de materiais, os cabos de elevada seção
dificultam o manuseio e a manutenção. Podem ser consideradas viáveis as combinações que
reunirem os seguintes aspectos: número elevado de unidades geradoras por circuito (NUG),
número baixo de valas (NMV) e número baixo do total de circuitos.

1.3 – CASO ILUSTRATIVO


As etapas de 1 a 5, descritas no item acima, podem ser exemplificadas através dos cálculos
relativos a uma combinação específica de parâmetros:

1 - Fixa-se uma seção do condutor do cabo: SCC = 500 mm2.


2 - Fixa-se um número de circuitos por vala: NCV = 3.
3 - Consideram-se 3 circuitos separados entre si de 40 cm, instalados a 0,60 m da superfície

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do solo, cuja resistividade térmica é 2 K.m/W e apresenta temperatura máxima de 25 °C.
Assim:

IREF = 541 A, F1 = 1,04, F2 = 0,79, F3 = 0,96, F4 = 0,88, F5 = 1,00


IAD = 541 x 1,04 x 0,79 x 0,96 x 0,88 x 1,00 = 376 A.

4 - Considerando que cada unidade geradora contribua com uma corrente de 90,4 A, tem-se:
NUG = Inteiro (376 / 90,4) = 4 unidades geradoras por circuito.
5 - Considerando um total de 70 unidades geradoras, calcula-se o número mínimo de valas:

NMV = 70 / (4 x 3) = 5,83 ≈ 6.

Em resumo, a combinação de parâmetros desse exemplo consiste em 6 valas, sendo que


cada vala contém 3 circuitos, distantes 40 cm entre si e construídos por cabos isolados
unipolares de 500 mm2.

2 - OTIMIZAÇÃO ECONÔMICA DOS CONDUTORES

A avaliação econômica do projeto da rede de média tensão deve contemplar não apenas
o custo de aquisição, mas também o custo das perdas elétricas ao longo do período de
operação. Este custo se refere à energia que foi gerada, mas não foi entregue devido à sua
dissipação sob a forma de calor. O custo total dos cabos (instalação + perdas capitalizadas)
pode ser calculado conforme as expressões a seguir:

CT = 3 x CC + 3 x RC x I2 x FP x FC x CE
FC = (1+j)t -1
j x (1+j)t

Em que:
• CT: Custo dos cabos (instalação + perdas capitalizadas), em US$/km;
• CC: Custo dos cabos, em US$/km;
• FP: Fator de perdas, em 103 x horas / ano;
• RC: Resistência ôhmica dos cabos, em Ω/km;
• I: corrente máxima de operação, em Ampères;
• FC: Fator de capitalização das perdas no período;
• j: Taxa de juros, em pu (de 0 a 1);
• t: Período considerado, em anos;
• CE: Custo da energia, em US$/kWh.

No cálculo do custo total dos cabos, a primeira parcela da soma corresponde ao custo de
aquisição dos cabos, sendo dado em US$/km. A segunda parcela da soma corresponde ao

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custo das perdas elétricas ao longo do período de operação da rede. O fator de perdas FP
reflete o número equivalente de horas por ano na corrente máxima de operação. Por fim, o
fator de capitalização FC traz ao valor presente os custos anuais com perdas de energia ao
longo do período de operação da rede.
Podem ser considerados os custos dos cabos em US$/m e as resistências em Ω/km listados
na Tabela 1. Nessa tabela, os custos indicados por (I) são valores médios de mercado no
momento da publicação deste livro e os custos indicados por (II) foram estimados.

Tabela 1 – Custos e resistências de cabos de alumínio XLPE 18/30(36) kV


Seção (mm²) Preço (US$/m) Resistência (Ω/km) (III)
70 5,20 (II) 0,568
95 5,60 (II) 0,411
120 5,96 (I) 0,325
150 6,50 (II) 0,265
185 7,00 (II) 0,211
240 7,89 (I) 0,161
300 9,00 (II) 0,129
400 10,89 (I) 0,101
500 13,0 (II) 0,0778
630 15,79 (I) 0,00629
800 19,41 (II) 0,00367

Os custos totais dos cabos (instalação + perdas capitalizadas) são calculados considerando
cada seção de condutor e levando em conta as correntes correspondentes aos agrupamentos
de unidades geradoras.
Como exemplo, o cálculo do custo total de cabos para um agrupamento de unidades
geradoras de 180 A resulta nos valores da Tabela 2, que produz o gráfico da Figura 1. Nesse
exemplo, verifica-se que 95 mm2 é a seção mais econômica.

Tabela 2 – Custo total de cabos de alumínio para agrupamento de UGs com corrente de 180 A
Seção (mm²) 70 95 120 150 185 240
Custo (mil x US$) 231,5 222,3 222,7 229,1 238,7 258,5
Seção (mm²) 300 400 500 630 800
Custo (mil x US$) 288,0 340,3 401,1 482,1 587,3

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Figura 1 - Custo total de cabos de alumínio para agrupamento de UGs com corrente de 180 A.

Um exemplo similar ao anterior, porém explicitando os custos de instalação e as perdas


capitalizadas, é exibido no gráfico da Figura 2. Para essa análise, são consideradas as seguintes
premissas:

• Corrente de carga: 100 A;


• Custo da energia: 0,25 R$/kWh;
• Fator de carga: 0,4;
• Taxa de juros: 10 % ao ano;
• Período de análise: 5 anos;
• Cabo com condutores de alumínio.

Figura 2 – Custos de instalação e de perdas capitalizadas referentes a um cabo conduzindo 100 A por 25 anos.

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O gráfico da Figura 3 ilustra os custos totais (instalação + perdas capitalizadas) em função
das correntes de operação e das seções transversais dos cabos. As curvas foram determinadas
considerando as seguintes premissas:

• Custo da energia: 0,25 R$/kWh;


• Fator de carga: 0,3;
• Taxa de juros: 10% ao ano.

Figura 3 - Custos totais (instalação e perdas capitalizadas) em função das correntes de operação e das seções transversais.

Mais detalhes exemplificando a otimização econômica dos cabos serão apresentados no item a
seguir.

2.1 – AVALIAÇÃO DE CENÁRIOS DE DIMENSIONAMENTO

Alguns cenários de dimensionamento podem ser avaliados combinando possíveis alterações


das especificações de cabos e a compactação do solo. São consideradas as seguintes possibilidades:

• Reaterro utilizando material de empréstimo (backfill) de menor resistividade térmica, a fim de


reduzir a resistividade térmica global do conjunto;
• Alteração das seções de condutores para trechos do circuito.

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Em cada cenário, devem ser analisados o custo total de aquisição dos cabos e o volume total de
material de empréstimo utilizado.
No caso do reaterro, deve ser adotado um cuidado especial em relação à compactação. Ao
remover o solo de um local para acomodar em outro, não necessariamente ele apresentará o
mesmo valor de resistividade térmica. Quando o material de reaterro é colocado no local das valas
dos circuitos sem cuidados em relação à compactação, possivelmente, a resistividade térmica neste
novo local deve ficar acima das medições no local de onde este solo foi removido.
Em situações de travessia de vias de acesso, em que os cabos são instalados em banco de dutos,
por exemplo, pode ocorrer de a capacidade de condução de corrente nos cabos ser reduzida, o que
pode comprometer o seu desempenho e a confiabilidade da operação. Nestes casos, devem ser
adotados cuidados especiais para que isto não se torne o ponto frágil da rede.
Para o exemplo citado dos cabos no banco de dutos das travessias, podem ser adotadas medidas
como o preenchimento do banco de dutos com bentonita para melhorar a sua dissipação térmica,
ou ainda, pode-se avaliar aumentar a seção dos cabos neste trecho.

3 - CONCLUSÃO

Durante este material de estudo, observamos as variáveis que podem ser consideradas durante
a otimização de um projeto de rede de média tensão em parques eólicos e solares fotovoltaicos, a
fim de não comprometer a confiabilidade, a disponibilidade e a segurança das redes.
Uma delas são os circuitos que compõem as redes de média tensão, que podem ser otimizados
considerando a profundidade de instalação dos cabos, a temperatura máxima do solo na
profundidade de instalação, o número de circuitos por vala e a distância entre os centros dos
circuitos. Outro aspecto que pode ser levado em conta durante essa otimização são os condutores,
pensando não apenas no custo de aquisição dos cabos, mas também no custo das perdas elétricas
ao longo do período de operação dos parques.
Na próxima edição, traremos um estudo de caso real que ilustra os conceitos e procedimentos
abordados nesta e na segunda edição dessa série de e-books (que pode ser acessada aqui), com
diversas avaliações de cenários de dimensionamento que buscam otimizar as redes de média
tensão nestes tipos de empreendimentos.
Até as próximas!

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