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Pietro Mascagni
CAVALLERIA
RUSTICANA
CONTAR UMA ÓPERA
Cavalleria rusticana
Pietro Mascagni
2010
Sem intervalo
Cavalleria rusticana 1
Índice
Ficha artística 8
Argumento 11
Libreto 12
Biografias 32
Fichas técnicas 37
Cavalleria rusticana 5
Caros amigos,
Bem-vindos à nossa mais recente iniciativa: Contar Uma Ópera. Neste contexto, alegro-me por poder receber
no Teatro Nacional de São Carlos uma mulher muito especial, Beatriz Batarda, actriz sobejamente conhecida
do público português por trabalhos, tais como A Caixa, de Manoel de Oliveira, ou Alice, de Marco Martins.
Reunindo-se-lhe um magnífico elenco de cantores, esperamos levar-vos numa viagem através da história
trágica desta ópera, executando-a na íntegra com a orquestra e o coro em palco. Guiados pelo desempenho
dramático de Beatriz Batarda, as cenas serão interpretadas por ordem, com pausas intercaladas, a fim de
contar a história dos protagonistas e, idealmente, tornar a experiência mais espontânea e acessível a um
público mais alargado.
Paralelamente à apresentação desta ópera, também estamos absorvidos pela preparação de três espectáculos
importantes a acontecer muito em breve. Na próxima semana, apresentamos a obra mais famosa de
Mendelssohn, Elias, no Centro Cultural de Belém. Seguidamente, recebemos os amigos e parceiros da
Companhia Nacional de Bailado, que estarão em residência no teatro, durante o próximo mês, para interpretar
o belíssimo bailado, La Sylphide. E, por fim, durante a permanência do bailado neste palco, é no Teatro Camões
que iremos apresentar a versão de câmara de Hansel und Gretel para o nosso público e também para as escolas.
Na semana passada, no Salão Nobre, tivemos o segundo da nossa série de concertos para orquestra de
câmara. É um enorme orgulho anunciar que a nossa nova aquisição para o teatro fez a sua estreia! Comprámos
um magnífico cravo, que utilizaremos em muitos dos nossos concertos, assim como em óperas de Mozart,
entre outras. Esta aquisição representa um investimento importante para a vertente artística do nosso teatro
e espelha o empenho da nossa administração, o OPART, em apoiar e, sempre que possível, contribuir para
melhorar as condições do Teatro Nacional de São Carlos. A compra de um instrumento tão especial quanto este
é uma manifestação clara da boa saúde artística do teatro.
Confio que a interpretação que oferecemos hoje desta ópera fabulosa será do vosso agrado, e espero voltar a
vê-los muito em breve numa das nossas salas.
Saudações cordiais,
Cavalleria rusticana 7
CONTAR UMA ÓPERA
Cavalleria rusticana
Pietro Mascagni
Melodramma em um acto.
Libreto de Giovanni Targioni-Tozzetti e Guido Menasci,
segundo a peça autobiográfica de Giovanni Verga.
Versão de concerto
Estreia Absoluta
Teatro Costanzi de Roma a 17 de Maio de 1890
Estreia em Portugal
Teatro de São Carlos a 12 de Outubro de 1891
8
Direcção musical Personagens e intérpretes
Martin André
Santuzza, uma aldeã
Sónia Alcobaça
Lola
Maria Luísa de Freitas
Maestro assistente
João Paulo Santos Lucia, mãe de Turiddu
Laryssa Savchenko
Maestro co-repetidor
Nuno Lopes
Cavalleria rusticana 9
Ilustração publicada numa das primeiras edições da peça de Giovanni Verga,
Cavalleria rusticana, (c. 1880).
Argumento Terminado o ofício festivo, os camponeses saem da
A acção decorre numa aldeia da Sicília, no século XIX. igreja. Turiddu dirige-se para a estalagem e oferece
vinho a todos.
Amanhece. É domingo de Páscoa; a praça da aldeia
anima-se. Ao som dos sinos que repicam alegremente, Alfio aproxima-se e saúda os presentes. Turiddu
abre-se a porta da igreja. Os camponeses vão à oferece-lhe um copo, mas ele recusa brutalmente. É o
missa e cantam em coro. Santuzza procura saber desafio. Observando um velho costume siciliano, os
junto da mãe de Turiddu onde este se encontra. rivais abraçam-se e Turiddu morde a orelha de Alfio.
Surpreendida, Lucia convida Santuzza a entrar em Depois de uma breve troca de palavras em que
sua casa. Santuzza diz não poder fazê-lo, por ser Turiddu reconhece a sua culpa, Alfio diz que esperará
uma excomungada. O diálogo é interrompido pelo por ele atrás do muro do jardim e afasta-se
ruído alegre de guizos e estalos de chicote. É Alfio, apressadamente.
o carroceiro, marido de Lola, que, em animada
companhia, se dirige para a praça. Ao passar pela Turiddu chama a mãe. Simulando embriaguês,
porta da estalagem, Alfio pede vinho a Lucia que, pede-lhe a bênção e implora-lhe que se ele não
justamente, aguarda a chegada de Turiddu com voltar, trate Santuzza como se fora sua filha.
nova remessa. Inocentemente, Alfio comenta que Turiddu afasta-se a correr, deixando Lucia inquieta,
Turiddu foi visto para os lados de sua casa. mas sem compreender toda a gravidade da
Discretamente, Santuzza faz um sinal a Lucia para situação. Santuzza cai nos braços de Lucia. Neste
que termine a conversa. preciso momento, os gritos de uma mulher
denunciam a morte de Turiddu. Lucia e Santuzza
A sós com Santuzza, Lucia quer saber por que motivo desmaiam.
tinha de se calar. Dolorosamente, Santuzza explica-se
– antes de partir para a vida militar, Turiddu namorava
Lola. Quando voltou, já esta era mulher de Alfio.
Turiddu quis esquecer o desgosto e a decepção com
um novo amor e escolheu Santuzza, que o amou de
volta. Apercebendo-se que Turiddu a trocara por
outro amor, Lola, cheia de inveja e ciúme,
reconquistou-o deixando Santuzza desonrada.
Apreensiva e triste, Lucia dirige-se para a igreja.
Cavalleria rusticana 11
Cavalleria rusticana
Libretto Libreto
Preludio Prelúdio
Siciliana Siciliana
12
(gli uomini entrano in scena) (os homens entram em cena)
Donne Mulheres
Cessin le rustiche Que cessem as tarefas
Opre: la Vergine rústicas: a Virgem
Serena allietasi regozija-se serena
Del Salvator; no Salvador;
Tempo è si mormori é tempo de cada um
Da ognuno il tenero murmurar a terna
Canto che i palpiti canção que faz redobrar
Raddoppia al cor. o palpitar do coração.
Scena Cena
Santuzza e Lucia Santuzza e Lucia
Santuzza Santuzza
Turiddu ov’è? Onde está Turiddu?
Lucia Lucia
Fin qui vieni a cercare Vieste até aqui à procura
Il figlio mio? do meu filho?
Santuzza Santuzza
Voglio saper soltanto, Perdoai-me, só quero
Perdonatemi voi, dove trovarlo. saber onde o posso encontrar.
Lucia Lucia
Non lo so, non lo so, Não sei, não sei,
Non voglio brighe! não quero brigas!
Santuzza Santuzza
Mamma Lucia, vi supplico piangendo, Mamma Lucia, em lágrimas vos suplico,
Fate come il Signore a Maddalena, fazei como o Senhor a Madalena,
Ditemi per pietà dov’è Turiddu... dizei-me onde está Turiddu...
Lucia Lucia
È andato per il vino Foi buscar vinho
A Francofonte. a Francofonte.
Santuzza Santuzza
No! l’han visto in paese Não! Foi visto na aldeia,
Ad alta notte. ia alta a noite.
Lucia Lucia
Che dici? Que dizes?
Se non è tornato a casa! Mas não regressou a casa!
Cavalleria rusticana 13
(avviandosi verso l’uscio di casa) (virando-se para a porta da casa)
Entra! Entra!
Lucia Lucia
E che ne sai E o que sabes tu
Del mio figliolo? do meu filho?
Santuzza Santuzza
Quale spina ho in core! Que espinho tenho no coração!
Alfio Alfio
Il cavallo scalpita, O cavalo pateia,
I sonagli squillano, os guizos ressoam,
Schiocca la frusta. Ehi là! o chicote estala. Eh, lá!
Soffi il vento gelido, Que sopre o vento gélido,
Cada l’acqua o nevichi, que caia água ou neve,
A me che cosa fa? que tenho eu com isso?
Coro Coro
O che bel mestiere Oh, que bela profissão
Fare il carrettiere é ser carreteiro,
Andar di qua e di là! andar daqui para ali!
Alfio Alfio
Schiocchi la frusta! Estala o chicote!
M’aspetta a casa Lola Em casa espera-me Lola
Che m’ama e mi consola, que me ama e me consola,
Ch’è tutta fedeltà. que é só fidelidade.
Il cavallo scalpiti, O cavalo pateia,
I sonagli squillino, os guizos ressoam,
E Pasqua, ed io son qua! é Páscoa e eu estou aqui!
Lucia Lucia
Beato voi, compar Alfio, Feliz de vós, compadre Alfio,
Che siete sempre allegro così! que estais sempre tão alegre!
Alfio Alfio
Mamma Lucia, Mamma Lucia,
N’avete ancora tendes ainda
Di quel vecchio vino? daquele vinho velho?
14
Lucia Lucia
Non so; Não sei;
Turiddu è andato Turiddu foi
A provvederne. buscar mais.
Alfio Alfio
Se è sempre qui! Mas se está cá!
L’ho visto stamattina Vi-o esta manhã
Vicino a casa mia. perto da minha casa.
(Dalla chiesa odesi intonare l’Alleluja) (da igreja ouve-se cantar o Aleluia)
Alfio Alfio
Io me ne vado, Vou-me agora embora,
Ite voi altre in chiesa. ide vós para a igreja.
(esce) (sai)
Santuzza, Lucia e coro esterno (sulla piazza) Santuzza, Lucia e coro no exterior (na praça)
Inneggiamo, Cantemos hinos,
Il Signor non è morto, o Senhor não está morto;
Ei fulgente brilhante,
Ha dischiuso l’avel, abriu o túmulo.
Inneggiam Cantemos hinos
Al Signore risorto ao Senhor ressuscitado
Oggi asceso que ascendeu hoje
Alla gloria del Ciel! à glória celeste!
(tutti entrano in chiesa tranne Santuzza e Lucia) (entram todos na igreja excepto Santuzza e Lucia)
Cavalleria rusticana 15
Romanza e scena Romança e cena
Lucia e Santuzza Lucia e Santuzza
Lucia Lucia
Perché m’hai fatto Porque me fizeste
Segno di tacere? sinal para me calar?
Santuzza Santuzza
Voi lo sapete, o mamma, Bem o sabeis, ó mamma,
Prima d’andar soldato, que antes de ser soldado
Turiddu aveva a Lola Turiddu tinha jurado
Eterna fè giurato. a Lola eterna lealdade.
Tornò, la seppe sposa; Regressou, soube que tinha casado,
E con un nuovo amore e quis apagar a chama
Volle spegner la fiamma que lhe queimava o coração
Che gli bruciava il core: com um novo amor:
M’amò, l’amai. amou-me e eu amei-o.
Quell’invidia d’ogni delizia mia, Ela, com inveja da minha felicidade,
Del suo sposo dimentica, esquecida do seu marido,
Arse di gelosia... ardendo de ciúmes...
Me l’ha rapito... roubou-mo...
Priva dell’onor mio rimango: Fiquei privada da minha honra:
Lola e Turiddu s’amano, Lola e Turiddu amam-se,
Io piango, io piango! eu choro, choro!
Lucia Lucia
Miseri noi, Pobres de nós,
Che cosa vieni a dirmi que coisas me contas
In questo santo giorno? neste santo dia?
Santuzza Santuzza
Io son dannata. Estou condenada.
Andate o mamma, Ide, mamma,
Ad implorare Iddio, implorar a Deus
E pregate per me. e rezai por mim.
Verrà Turiddu, Turiddu virá,
Vo’ supplicarlo quero suplicar-lhe
Un’altra volta ancora! mais uma vez!
Scena Cena
Santuzza e Turiddu Santuzza e Turiddu
Santuzza Santuzza
Qui t’aspettavo. Esperava-te.
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Turiddu Turiddu
È Pasqua, É Páscoa,
In chiesa non vai? não vais à igreja?
Santuzza Santuzza
Non vo. Não vou.
Debbo parlarti... Tenho de falar contigo...
Turiddu Turiddu
Mamma cercavo. Procurava a minha mãe.
Santuzza Santuzza
Debbo parlarti... Tenho de falar contigo...
Turiddu Turiddu
Qui no! Qui no! Aqui não! Aqui não!
Santuzza Santuzza
Dove sei stato? Onde estiveste?
Turiddu Turiddu
Che vuoi tu dire? Que queres dizer?
A Francofonte! Em Francofonte!
Santuzza Santuzza
No, non è ver! Não, não é verdade!
Turiddu Turiddu
Santuzza, credimi... Santuzza, acredita...
Santuzza Santuzza
No, non mentire; Não, não mintas;
Ti vidi volger vi-te dar a volta
Giù dal sentier... lá em baixo no caminho...
E stamattina, all’alba, e esta manhã, à aurora,
T’hanno scorto foste visto
Presso l’uscio di Lola. perto da porta de Lola.
Turiddu Turiddu
Ah! mi hai spiato? Ah! Espiaste-me?
Santuzza Santuzza
No, te lo giuro. Não, juro-to.
A noi l’ha raccontato Quem nos contou
Compar Alfio foi o compadre Alfio,
Il marito, poco fa. o marido, há pouco.
Turiddu Turiddu
Cosi ricambi Assim retribuis
L’amor che ti porto? o amor que te tenho?
Vuoi che m’uccida? Queres que me mate?
Santuzza Santuzza
Oh! questo non lo dire... Oh! Não digas isso...
Cavalleria rusticana 17
Turiddu Turiddu
Lasciami dunque, lasciami; Então deixa-me, deixa-me;
Invan tenti sopire em vão tento acalmar
Il giusto sdegno a minha justa indignação
Colla tua pietà. com a tua piedade.
Santuzza Santuzza
Tu l’ami dunque? Então ama-la?
Turiddu Turiddu
No... Não...
Santuzza Santuzza
Assai più bella Lola é bastante
È Lola. mais bonita.
Turiddu Turiddu
Taci, non l’amo. Cala-te, não a amo.
Santuzza Santuzza
L’ami... Ama-la...
Oh! maledetta! Oh! Maldita!
Turiddu Turiddu
Santuzza! Santuzza!
Santuzza Santuzza
Quella cattiva femmina Aquela má mulher
Ti tolse a me! afastou-te de mim!
Turiddu Turiddu
Bada, Santuzza, Tem cuidado, Santuzza,
Schiavo non sono não serei escravo
Di questa vana destes teus
Tua gelosia! ridículos ciúmes!
Santuzza Santuzza
Battimi, insultami, Bate-me, insulta-me,
T’amo e perdono, amo-te e perdoo-te,
Ma è troppo forte mas a minha angústia
L’angoscia mia. é demasiado grande.
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(entrando) (entrando)
Fior di giaggiolo... Flor de gladíolo...
Oh! Turiddu... È passato Alfio? Oh! Turiddu... Alfio passou por aqui?
Turiddu Turiddu
Son giunto ora in piazza. Cheguei agora à praça.
Non so... Não sei...
Lola Lola
Forse è rimasto Talvez tenha ficado
Dal maniscalco, em casa do ferrador,
Ma non può tardare. mas não deve tardar.
(ironicamente) (com ironia)
E... voi E... vós
Sentite le funzioni in piazza? assistis à cerimónia na praça?
Turiddu Turiddu
Santuzza mi narrava... Santuzza dizia-me...
Lola Lola
Non venite alla messa? Não ides à missa?
Santuzza Santuzza
Io no, ci deve andar chi sa Eu não, devem ir apenas
Di non aver peccato. aqueles que não pecaram.
Lola Lola
Io ringrazio il Signore Eu dou graças ao Senhor
E bacio in terra. e beijo a terra.
Lola Lola
E v’assista il Signore: Que o Senhor fique convosco:
Io me ne vado. eu vou-me embora.
(entra in chiesa) (entra na igreja)
Cavalleria rusticana 19
Duetto Dueto
Santuzza e Turiddu Santuzza e Turiddu
Santuzza Santuzza
L’hai voluto, e ben ti sta. Assim o quiseste e bem o mereces.
Santuzza Santuzza
Squarciami il petto! Despedaça-me o peito!
Turiddu Turiddu
Va! Não!
Santuzza Santuzza
No, no, Turiddu, Não, não, Turiddu,
Rimani ancora. fica ainda.
Abbandonarmi Queres então
Dunque tu vuoi? abandonar-me?
Turiddu Turiddu
Perché seguirmi, Porque me persegues,
Perché spiarmi porque me espias
Sul limitare até mesmo à entrada
Fin della chiesa? da igreja?
Santuzza Santuzza
La tua Santuzza A tua Santuzza
Piange e t’implora; chora e implora;
Come cacciarla como podes
Così tu puoi? rejeitá-la assim?
Turiddu Turiddu
Va, ti ripeto Vai-te embora, repito,
Va non tediarmi, vai, não me aborreças,
Pentirsi è vano é inútil o arrependimento
Dopo l’offesa! depois da ofensa!
Turiddu Turiddu
Dell’ira tua non mi curo! Não me preocupo com as tuas ameaças!
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(la getta a terra e fugge in chiesa) (atira-a ao chão e foge para a igreja)
(Entra Alfio e s’incontra con Santuzza) (Alfio surge e encaminha-se para Santuzza)
Duetto Dueto
Santuzza e Alfio Santuzza e Alfio
Santuzza Santuzza
Oh! il Signore vi manda, Oh! É Deus que vos envia,
Compar Alfio. compadre Alfio.
Alfio Alfio
A che punto è la messa? Em que ponto está a missa?
Santuzza Santuzza
E tardi ormai, ma per voi Está a acabar, mas digo-vos
Lola è andata con Turiddu! que Lola esteve com Turiddu!
Santuzza Santuzza
Che mentre correte Que enquanto correis
All’acqua e al vento à chuva e ao vento
A guadagnarvi il pane, para ganhar o pão,
Lola v’adorna il tetto Lola adorna-vos a cabeça
In malo modo! de má maneira!
Alfio Alfio
Ah! nel nome di Dio, Ah! Em nome de Deus,
Santa, che dite? Santa, que dizes?
Santuzza Santuzza
Il ver. Turiddu A verdade. Turiddu
Mi tolse l’onore, retirou-me a honra
E vostra moglie e a vossa mulher
Lui rapiva a me! priva-me dele!
Alfio Alfio
Se voi mentite, Se mentis
Vo’ schiantarvi il core! arrancar-vos-ei o coração!
Santuzza Santuzza
Uso a mentire A minha boca não
Il labbro mio non è! costuma mentir!
Per la vergogna mia, Pela minha vergonha,
Pel mio dolore pela minha dor,
La triste verità disse-vos a triste
Vi dissi, ahimè! verdade, ai de mim!
Cavalleria rusticana 21
Alfio Alfio
Comare Santa, Então, comadre Santa,
Allor grato vi sono. estou-vos agradecido.
Santuzza Santuzza
Infame io son Fui infame
Che vi parlai così! por vos falar assim!
Alfio Alfio
Infami loro: Infames são eles:
Ad essi non perdono; não lhes perdoo;
Vendetta avrò vingar-me-ei
Pria che tramonti il dì. antes de o dia acabar.
Io sangue voglio, Quero sangue,
All’ira m’abbandono, abandono-me à ira,
In odio tutto todo o meu amor
L’amor mio finì! transformou-se em ódio!
(escono) (saem)
Uomini Homens
A casa, a casa, Amigos, para casa,
Amici, ove ci aspettano para casa onde nos esperam
Le nostre donne, as nossas mulheres,
Andiam! vamos!
Or che letizia Agora que a alegria
Rasserena gli animi serena os ânimos,
Senza indugio corriam! corramos sem demora!
Donne Mulheres
A casa, a casa, Amigas, para casa,
Amiche, ove ci aspettano para casa onde nos esperam
I nostri sposi, os nossos maridos,
Andiam! vamos!
Or che letizia Agora que a alegria
Rasserena gli animi serena os ânimos,
Senza indugio corriam! corramos sem demora!
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Lola Lola
Vado a casa: Vou para casa:
Non ho visto compar Alfio! ainda não vi o compadre Alfio!
Turiddu Turiddu
Non ci pensate, Não vos preocupeis,
Verrà in piazza. deve estar na praça.
(al coro) (ao coro)
Intanto amici, qua, Entretanto, amigos, vá,
Beviamone un bicchiere. bebamos um copo.
(tutti si avvicinano alla tavola dell’osteria (aproximam-se todos da mesa da hospedaria
e prendono i bicchieri) e pegam nos copos)
Viva il vino spumeggiante Viva o vinho espumoso
Nel bicchiere scintillante, que brilha nos copos
Come il riso dell’amante como o riso dos amantes
Mite infonde il giubilo! infunde docemente a alegria!
Viva il vino ch’è sincero Viva o vinho que é sincero
Che ci allieta ogni pensiero, que faz regozijar o pensamento
E che affoga l’umor nero, e afoga o negro humor
Nell’ebbrezza tenera. na terna embriaguez.
Coro Coro
Viva il vino spumeggiante, ecc. Viva o vinho espumoso, etc.
(si riprende il brindisi) (retomam os brindes)
Turiddu Turiddu
Beviam! Bebamos!
Finale Final
Alfio e detti Alfio e os anteriores
Alfio Alfio
A voi tutti salute! As minhas saudações a todos!
Coro Coro
Compar Alfio, salute. Compadre Alfio, saúde.
Cavalleria rusticana 23
Turiddu Turiddu
Benvenuto! Bem-vindo!
Con noi dovete bere: Deveis beber connosco:
(empie un bicchiere) (enche um copo)
Ecco, pieno è il bicchiere. pronto, o copo está cheio.
Lola Lola
Ahimè! che mai sarà? Ai-de mim! O que acontecerá agora?
(Tutte le donne escono conducendo Lola) (todas as mulheres saem acompanhando Lola)
Turiddu Turiddu
Avete altro a dirmi? Tendes algo a dizer-me?
Alfio Alfio
Io? Nulla! Eu? Nada!
Turiddu Turiddu
Allora sono agli ordini vostri. Então estou às vossas ordens.
Alfio Alfio
Or ora? Agora?
Turiddu Turiddu
Or ora! Agora!
(Alfio e Turiddu si abbracciano. Turiddu morde (Alfio e Turiddu abraçam-se. Turiddu morde a orelha
l’orecchio destro di AIfio.) direita de AIfio.)
Alfio Alfio
Compare Turiddu, Compadre Turiddu,
Avete morso a buono... o desafio foi aceite...
(con intenzione) (intencionalmente)
C’intenderemo bene, Ao que parece
A quel che pare! compreendemo-nos bem!
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Turiddu Turiddu
Compar Alfio! Compadre Alfio!
Lo so che il torto è mio: Sei que sou culpado:
E ve lo giuro e juro-vos,
Nel nome di Dio em nome de Deus,
Che al par d’un cane que me deixarei degolar
Mi farei sgozzar, como um cão,
Ma... s’io non vivo, mas... se eu morrer
Resta abbandonata... a pobre Santa
Povera Santa!... ficará abandonada!
Lei che mi s’è data... Ela, que se entregou a mim...
(con impeto) (impetuosamente)
Vi saprò in core Saberei cravar a minha
Il ferro mio piantar! lâmina no vosso coração!
Turiddu Turiddu
Mamma, Mãe,
Quel vino è generoso, e certo este vinho é generoso e acho
Oggi troppi bicchieri que hoje bebi uns
Ne ho tracannati... copos a mais...
Vado fuori all’aperto. Vou sair para apanhar ar.
Ma prima voglio Mas primeiro quero
Che mi benedite que me deis a bênção
Come quel giorno como no dia
Che partii soldato. em que parti como soldado.
E poi... mamma... sentite... E depois, mãe... ouvi...
S’io... non tornassi... se eu... não voltasse...
Voi dovrete fare deveríeis ser
Da madre a Santa, uma mãe para Santa
Ch’io le avea giurato porque eu jurei
Di condurla all’altare. conduzi-la ao altar.
Lucia Lucia
Perché parli così, figliuol mio? Porque falas assim, meu filho?
Turiddu Turiddu
Oh! nulla! Oh! Por nada!
È il vino che mi ha suggerito! Foi o vinho que mo sugeriu!
Per me pregate Iddio! Pedi a Deus por mim!
Un bacio, mamma... Um beijo, mãe...
Un altro bacio... addio! um beijo mais... adeus!
(l’abbraccia ed esce precipitosamente) (abraça-a e sai precipitadamente)
Cavalleria rusticana 25
Lucia, Santuzza e coro. Lucia, Santuzza e coro.
Santuzza (Getta la braccia al collo di Lucia) Santuzza (lança os braços ao pescoço de Lucia)
Oh! madre mia! Oh! Minha mãe!
26
Em cima: Pietro Mascagni e os libretistas de Cavalleria rusticana,
Giovanni Targioni-Tozzetti e Guido Menasci (in Ashton R. Willard, Pietro
Mascagni, the Author of the Cavalleria Rusticana, New England
Magazine, Vol. VIII, Março/Agosto 1893). Em baixo: Giacomo Puccini
e Pietro Mascagni no funeral de Ruggero Leoncavallo (1919).
João Pedro Cachopo De Larderel no sentido de apoiar o jovem
compositor, é determinante: é ele quem convence o
pai de Mascagni do excepcional talento do filho cujo
sucesso vindouro se sente em condições de antecipar.
Cavalleria rusticana in breve
No Conservatório de Milão, Mascagni estuda Estética,
Literatura Dramática, Harmonia, Contraponto, entre
O compositor outras disciplinas... É nesta fase que conhece Puccini,
Pietro Mascagni (1863-1945) conta-se entre aqueles com quem chega a partilhar – ambos são, na altura,
compositores de ópera – como Gounod, Bizet ou jovens compositores não propriamente abastados –
Leoncavallo, por exemplo –, de quem a maioria dos um pequeno apartamento; além deste, partilham
melómanos conhece, por vezes com injustiça, apenas também a companhia de amigos e amigas comuns e,
uma ópera. No caso de Mascagni, pensa-se, de ao que parece, uma partitura de Parsifal, que ambos
imediato, em Cavalleria rusticana. Acerca desta ópera, estudam a fundo. Mascagni permanecerá no
que compôs com vinte e quatro anos, o compositor conservatório apenas dois anos. Descontente com o
viria a declarar: «Foi uma pena eu ter escrito Cavalleria facto de a partitura, com que pretende concorrer a um
tão cedo. Fui coroado antes de ser rei.» A par de concurso aberto às classes de composição, ser
Pagliacci de Leoncavallo, Cavalleria rusticana é, de recusada por razões meramente burocráticas
facto, uma das óperas mais emblemáticas do (relativas ao prazo de entrega), Mascagni troca o
chamado verismo italiano. Quanto a Mascagni, seria estudo em Milão pela itinerância ao serviço de
obviamente simplista reduzir a sua obra àquela ópera, companhias de ópera. Esta assegura-lhe uma nova
por mais que esta tenha representado o verdadeiro experiência: a da direcção de orquestra, que tanta
«detonador» da carreira do compositor. importância terá na sua carreira futura.
Oriundo de uma família da pequena burguesia de Em 1888, o ano em que se casa com Argenide
Livorno, o jovem Pietro é enviado pelo pai, após a Marcellina Carbognani, Mascagni interrompe a
morte da mãe em 1873, para o liceu comunal de composição da ópera Guglielmo Ratcliff – em que
San Sebastiano. Desde cedo, o jovem manifesta trabalhava, intermitentemente, desde 1883, e cuja
apetência para a música. Estuda Canto e Piano, estreia só terá lugar em 1895, no Scala – para
desde os doze anos, e integra, antes da mudança de concorrer ao concurso, lançado pelo editor milanês
voz – como contralto –, a Schola Cantorum da igreja Sonzogno, para a composição de uma ópera em um
local de San Benedetto. Pouco tempo depois, já no acto. Do entusiasmo de Mascagni por este desafio –
Instituto Musical de Livorno – que acabara de ser em que se lança em colaboração com os poetas
fundado por Alfredo Soffredini –, os progressos Giovanni Tozzetti e Guido Menasci, após convencer o
excepcionalmente céleres de Mascagni chamam a primeiro a colaborar como libretista, nascerá
atenção do director do instituto que, se não foi o seu Cavalleria rusticana. O melodramma em um acto é um
primeiro professor, foi certamente quem mais enorme sucesso; e não só em Itália. A reputação do
profundamente marcou os anos decisivos do seu compositor – que, nos anos seguintes, alastrará a
amadurecimento enquanto músico e compositor. outros centros musicais europeus – vê-se consolidada
Com efeito, é sob a sua direcção que Mascagni no ano seguinte com a estreia, desta vez, de uma
envereda, de modo cada vez mais confiante, na commedia lirica, L’amico Fritz (Roma, 1891).
composição de obras sinfónicas e corais – um
ciclo juvenil que culminará com In Finlandia. A obra A carreira de Mascagni prossegue, ao longo das
é interpretada, pela primeira vez, em Fevereiro décadas seguintes, em duas vertentes: a da direcção
de 1881, sob a direcção do próprio Soffredini. de orquestra – compromissos vários tornam habituais
O excelente acolhimento da obra vale ao compositor as suas viagens pela Europa e levam-no até aos
o apoio de um mecenas, o conde Florestano De Estados Unidos da América e ao Canadá – e a da
Larderel, que financiará o prosseguimento dos composição. Neste último plano, cabe dizer que,
estudos musicais de Mascagni no Conservatório apesar dos sucessos relativos de Iris (Roma, 1898), de
de Milão. O compositor terá, no entanto, de Amica (Monte Carlo, 1905), ou Isabeau (Buenos Aires,
enfrentar a resistência do pai que apostara numa 1911), o patamar de sucesso da Cavalleria não voltará
carreira de advogado para o filho. Neste processo, a ser atingido. De resto, a partir da década de Vinte,
a acção de Soffredini, que aconselhara já o conde Mascagni comporá bastante menos.
28
Ao declínio da criatividade segue-se, alguns anos mais compositor a escrever o libreto, propôs a adaptação
tarde, uma consagração de natureza bem distinta da operática do drama siciliano. O compositor soubera
que viera na esteira do sucesso inicial de Cavalleria do concurso lançado pelo editor milanês Sonzogno,
rusticana: Mascagni representará, para o regime para a composição de uma ópera em um acto, através
fascista de Mussolini, um motivo de orgulho para a do jornal Il Secolo, em Junho de 1888, e deslocara-se
nação: a sua obra constituiria a epítome musical da a Livorno no intuito, precisamente, de convidar o
raça italiana. Mascagni poderá não ter sabido escapar, antigo amigo. O libreto vai sendo escrito – a Tozzetti
no final da vida, ao lamentável estatuto de junta-se, por convite deste, um outro poeta, Guido
«compositor do regime»; a sua obra, porém – e será Menasci – e partes da adaptação da peça de Verga,
isso que hoje importa em primeiro lugar –, resistiu à em que ambos trabalham, vão sendo enviadas ao
memória dessa fase menos feliz da carreira do compositor. Em Dezembro de 1888, o libreto está
compositor e merece ser ouvida e apreciada pronto e Mascagni trabalha a bom ritmo, terminando
independentemente daquela. a composição em Maio (a data limite para a
apresentação das óperas concorrentes). Consta que
a confiança do compositor terá vacilado perto do final
A obra e que terá sido Lina, a sua mulher, a enviar a partitura
Não foi alheio ao florescimento do chamado verismo in extremis, poucos dias antes de expirar o prazo
italiano a preponderância que marcou a segunda limite para a submissão das partituras. Ao impacto
metade do século XIX, do estilo realista/naturalista de fortemente positivo que teve sobre o júri do concurso,
escritores franceses como Balzac e Zola: a arte e, segue-se o acolhimento entusiástico do público.
particularmente, a literatura, é chamada – na óptica A ópera estreia em Roma, no Teatro Constanzi, a 17
dos preconizadores desta estética, inspirados pelo de Maio de 1890, e obtém um sucesso memorável
positivismo emergente nas ciências humanas e sociais que, como se sabe, alastrou rapidamente a outros
–, a confrontar-se com a crueza do real, a lidar com ela centros musicais e alimentou a reputação do compositor
de modo naturalista, a ser, em suma, veraz. A par de durante mais de meio século.
Luigi Capuana, o siciliano Giovanni Verga, o autor de
Cavalleria rusticana – um drama estreado em Turim (no O drama de Verga e, em particular, o libreto concebido
Teatro Carignano) em 1884 – foi, em Itália, uma das por Tozzetti e Menasci, presta-se, pela sua brevidade,
figuras mais destacadas deste «movimento». a uma curta síntese. O envolvimento amoroso de
Turiddu e Lola, tendo como pano de fundo a vida
Que se possa falar de verismo, como de uma corrente quotidiana de uma aldeia siciliana no século XIX, é
independente, congénere à francesa, tem sido interrompido pela partida do jovem para a guerra.
discutido por teóricos da literatura e das artes, assim Durante a sua ausência, Lola desposa Alfio, um
como por musicólogos. Em ópera, esta discussão condutor de carroças, e Turiddu, de volta à aldeia – e
depara-se com o facto de que poucas óperas, para esquecer Lola –, envolve-se, por sua vez, com
considerando, sobretudo, algumas das compostas uma outra jovem, Santuzza. Todavia, incapazes de
por Mascagni, Leoncavallo e Giordano – Puccini, o enterrar a paixão que os une, Turiddu e Lola
compositor de La Bohème, seria, no contexto deste continuam a encontrar-se e mantêm uma relação
alinhamento de nomes, um compositor ambíguo –, amorosa secreta. A ópera passa-se ao longo de um
cumpririam o ideal verista sendo efectivamente domingo de Páscoa: Turiddu canta, numa serenata, a
representantes da corrente. Além disso, a fronteira sua paixão por Lola; Santuzza, mais tarde, pergunta
entre o exacerbamento romântico e a crueza realista à mãe de Turiddu, pelo filho; Alfio comenta tê-lo visto,
não seria nítida. Este aspecto torna-se patente bem cedo, perto de sua casa. Ao longo do dia,
quando se considera a proximidade – não só Turiddu e Santuzza encontram-se, discutem e, na
temática, mas também estilística – entre Carmen de sequência desta discussão, Santuzza – que até então
Bizet e a Cavalleria. Em todo o caso, admitindo que é encobrira Turiddu – conta a Alfio tudo o que sabe
legítimo falar em verismo, ele teria em Cavalleria sobre o envolvimento adúltero de Turiddu e Lola. Sem
rusticana de Mascagni e em I pagliacci de Leoncavallo, poder resistir à vontade de vingança, Alfio, no
os seus emblemas. decorrer de uma festa popular em que troca com
Turiddu palavras azedas, desafia este para um duelo.
Na verdade, o drama homónimo de Verga, Cavalleria Turiddu – não sem antes se despedir da mãe e de
rusticana, chamara já a atenção de Mascagni, quando lhe pedir que trate Santuzza como uma filha –
Giovanni Targioni-Tozzetti, finalmente convencido pelo comparece no duelo e é assassinado.
Cavalleria rusticana 29
Trata-se, como se vê, de uma história de paixão, espelho da coerção social. Isto reflecte-se na música,
adultério, ciúme e vingança – um enredo algo banal, de modo exemplar – como se esta também
aos olhos de hoje. No entanto, cabe salientar que a reflectisse o curso inexorável dos acontecimentos –,
acção, na sua vulgaridade e crueza, destrona as na presença intermitente de um tema reminiscente
temáticas míticas e históricas que dominavam, como de Carmen, que acompanha a entrada de Santuzza
se sabe, a tradição operática, em Itália e alhures, nas cordas, reaparece no dueto entre esta e Turiddu
substituindo-as pelo retrato – o mais cru possível – da (quando Santuzza lhe lança a maldição, gritando
violência e da dureza que caracterizaram a vida «Mala Pasca»), e ressurge, como um Leitmotiv, à
quotidiana das camadas sociais mais pobres. Há, beira do final.
entretanto, outros aspectos a ter em conta e a
problematizar. Eles são, pelo menos, dois e dizem Mantendo os números fechados que Verdi,
respeito ao contexto histórico e artístico desta ópera. designadamente em Otello, abandonara, Mascagni
Refiro-me, em primeiro lugar, a um certo apego à esgota, com Cavalleria rusticana, uma certa concepção
tradição nacional/local que torna refém de uma da ópera italiana. No entanto, este facto e um certo
perspectiva nacional(ista) a visão crítica da sociedade convencionalismo da harmonia e da orquestração são
que a ópera veicula e, em segundo lugar, a uma amplamente compensados pela concisão e pelo
concepção algo positivista da arte que, no seu equilíbrio extraordinários de Cavalleria, a que acresce
determinismo, favorece uma visão trágica e fatalista a estilização bem conseguida de uma ópera pontuada
da realidade que retrata e, por outro lado, procuraria por romances, canções e hinos religiosos. Além
denunciar e alterar. Em todo o caso – cabe constatá-lo destas características, a imediaticidade do lirismo de
–, a componente nacional e a visão trágica constituem Cavalleria rusticana é, talvez, a característica mais
dois elementos indispensáveis para compreender o saliente da ópera.
sucesso de Cavalleria rusticana, a ópera que lançou a
carreira internacional de Mascagni.
30
A obra de relance … no São Carlos
Interlúdio sinfónico
Cavalleria rusticana 31
Martin André
Direcção musical
É director artístico do Teatro Nacional de São Carlos desde Agosto último. Estudou
Piano na Escola «Yehudi Menuhin» e, posteriormente, na Universidade de Cambridge
conciliando a Direcção Musical. No Reino Unido dirigiu, entre outras, a Philharmonia,
Scottish Chamber Orchestra, BBC Concert Orchestra, English Chamber Orchestra,
Royal Scottish National Orchestra, New London Sinfonia, London Concert Orchestra,
City of London Sinfonia, e New Queen’s Hall Orchestra; concertos nos festivais de
Bournemouth e de Edimburgo; e transmissões na Rádio BBC. Trabalha regularmente
com as Orquestras Sinfónica de Limburg (Holanda); Nacional do Porto e Remix
Ensemble; e com o Collegium Musicum, e a Sinfónica de Tromsø e Filarmónica de
Bergen (Noruega). Na Austrália dirigiu a Filarmónica Queensland e a Sinfónica da
Tasmânia, com a qual lançou o seu primeiro disco. Também dirigiu a Sinfónica de
Jerusalém e a Sinfónica de Pequim (Macau). Estreou-se na direcção de óperas na Ópera Nacional do País de
Gales, onde foi maestro residente e dirigiu um leque diversificado de obras. Do seu alargado repertório,
destacam-se as interpretações de Verdi, Mozart e Janáček. É o único maestro a ter dirigido em todos os
principais teatros líricos britânicos: Royal Opera House, Glyndebourne Touring Opera, Scottish Opera, English
National Opera, Opera North, Opera 80 e Ópera da Irlanda do Norte. De 1993 a 1996 foi Director Musical da
English Touring Opera; assegurou a direcção musical de Showboat (Opera North/RSC) no Palladium (Londres).
Dirigiu uma versão televisiva, ao vivo, de Le nozze di Figaro para a BBC (2000). A sua carreira inclui os teatros
líricos do Canadá, República Checa, França, Alemanha, Holanda, Israel, Nova Zelândia, Portugal, África do Sul
e EUA. Estreou-se em Itália (Ravenna), com Julietta (Martinu), ° seguindo-se a Deutsche Oper am Rhein
(Düsseldorf), e os festivais de Bregenz e de St. Pölten com Os Gondoleiros (A. Sullivan) e Barbe-bleue (Offenbach).
Criou a Orquestra Momentum Perpetuum que dirigiu numa digressão italiana. Em 2010 prossegue a sua
colaboração com o Royal College of Music (Londres), e regressa à Central City Opera (Colorado) para dirigir
Orphée aux enfers (Offenbach).
Giovanni Andreoli
Maestro titular do Coro
32
Emanuele Pedrini
Maestro Convidado do Coro
Jorge Rodrigues
Dramaturgia
Estudou Canto com Maria Cristina de Castro. Em 1981 aceitou o convite do TNSC para
exercer as funções de assistente de encenação (colaborando com Carlos Avilez, Paolo
Trevisi, Gino Bechi, Elia Delfosse, Fred Hartmann, entre outros), e pouco depois tornou-
-se membro efectivo do Coro.
Manteve em finais dos Anos 80 uma colaboração regular com o Diário de Notícias.
Apresentou e foi autor, na Antena 2, dos programas: «Palcos de Ópera»; «Cantores do
Passado»; «A Palavra aos Músicos»; «Vozes do São Carlos»; «Para a História da Ópera
Romântica Italiana»; «Óperamania»; «Dicionário dos Grandes Pianistas» (este último
em co-autoria com Paulo Santiago). Foi ainda aí, durante mais de onze anos, autor e
apresentador do «Ritornello», recorde de longevidade de um programa diário em
directo. Foi, de resto, o programa que mais internacionalizou a Antena 2, com uma
Viagem à Volta do Mundo (Junho a Agosto de 2006) que foi emitida em directo de Berlim, S. Petersburgo,
Tóquio, Pequim, Macau, Sidney, Auckland, Los Angeles, Buenos Aires e Rio de Janeiro, entre outras. Outras
emissões internacionais levaram o «Ritornello» a São Paulo, Fortaleza, Curitiba, Florianópolis, Banguecoque,
Díli, Goa, Madrid, ou Viena.
Como encenador assinou já várias produções com obras de Purcell, Donizetti, Scarlatti, Salieri e Boismortier.
Em 2007 foi convidado pelas universidades de Moscovo e de São Petersburgo para proferir conferências sobre
Luisa Todi.
Apresenta-se regularmente em Portugal e no Brasil como comentador em concertos. Colaborou com a Casa
Museu Teixeira Lopes (Gaia), à frente do ciclo «Esculpir a Música» (2007, 2008). Em 2009 apresentou e foi co-
-autor, com Ana Paula Lemos, do programa «Esferas» (diário e em directo) na CSB Rádio.
Foi apresentador e anfitrião de todo o «Festival ao Largo» em 2010.
Cavalleria rusticana 33
Beatriz Batarda
actriz
Sónia Alcobaça
soprano
34
Fernando del Valle
tenor
Nascido em New Orleans, já cantou nos EUA, Europa, América do Sul e Canadá.
Diplomado pela Universidade de Tulane, integrou o Programa Merola da Ópera de S.
Francisco e foi distinguido com o prémio da Ópera de Dallas. Posteriormente, venceu
o Concurso de Bel Canto de Chicago, o que lhe possibilitou estudos na Europa com
Carlo Bergonzi. O International Institute of Vocal Arts atribuiu-lhe um prémio para
estudar com William Woodruff, em Itália, e uma bolsa de estudos para frequentar o
Israeli Vocal Arts Institute em Telavive. Já se fez ouvir nos seguintes teatros: Ópera de
Roma, La Fenice de Veneza, Carlo Felice de Génova, Massimo Bellini de Catania,
© Lisa Kohler
Deutsche Oper de Berlim, Ópera de Frankfurt, Nacional de Mannheim, Opéra National
du Rhin, e nos teatros de Darmstadt, Wiesbaden, Bremen, Giessen, Kassel, Dortman,
Finlândia (Ópera Nacional), Palm Beach, Festival de Wexford, Ópera de Dorset, Belo
Horizonte (Brasil) e Seul (Centro de Artes); nos papéis de Andrea Chénier, Forresto
(Attila), Don José (Carmen), Rodolfo (La Bohème), Hoffmann, Faust (Gounod e Boito), Enzo Grimaldi (La
gioconda), Macduff (Macbeth), Canio (I pagliacci), Werther, Nadir (Les Pêcheurs de perles), Ismaele (Nabucco),
Pinkerton (Madama Butterfly), Oronte (I Lombardi alla prima crociata), Narraboth (Salome), Alfredo (La traviata),
Duque (Rigoletto), Edgardo (Lucia di Lammermoor), Paolo (Fosca) e Salvator Rosa. Apresenta-se regularmente em
concerto com um vasto repertório que inclui a Missa Solemnis e a Nona Sinfonia de Beethoven, Stabat Mater de
Dvořák e Rossini, Requiem de Verdi, War Requiem de Britten, Requiem de Lloyd-Webber, Messa di Gloria de Puccini
e Dream of Gerontius de Elgar.
Luís Rodrigues
barítono
Cavalleria rusticana 35
Maria Luísa de Freitas
meio-soprano
Laryssa Savchenko
meio-soprano
36
Teatro Nacional de São Carlos Director Artístico do Teatro Nacional de São Carlos
Martin André
Conselho de Administração do OPART E.P.E.
Director Técnico
Francisco Vicente
Director de Marketing
Mário Gaspar
Cavalleria rusticana 37
Orquestra Sinfónica Portuguesa Violas
Pedro Saglimbeni Muñoz (Coordenador de Naipe)
Maestro Titular
Julia Jones Céciliu Isfan (Coordenador de Naipe Adjunto)
Galina Savova (Coordenador de Naipe Assistente)
Adjunto Musical do Maestro Titular
Moritz Gnann Cécile Pays (Coordenador de Naipe Assistente)
Etelka Dudas
I Violinos
Isabel Teixeira da Silva
Teimuraz Janakashvili (Concertino Convidado) Joaquim Lima
Alexander Stewart (Concertino Adjunto) Maria Cecília Neves
Pavel Arefiev (Concertino Adjunto) Maria Lurdes Gomes
Leonid Bykov (Concertino Assistente) Rogério Gomes
Veliana Hristova (Concertino Assistente) Sandra Moura
Alexander Mladenov Ventzislav Grigorov
Anabela Guerreiro Vladimir Demirev
António Figueiredo
Asmik Bartikian
Ewa Michalska
Violoncelos
Iskrena Yordonova
Irene Lima (Coordenador de Naipe)
Jorge Gonçalves
Hilary Alper (Coordenador de Naipe Adjunto)
Laurentiu Ivan Coca
Kenneth Frazer (Coordenador de Naipe Adjunto)
Luís Santos
Ajda Zupancic (Coordenador de Naipe Assistente)
Margareta Sandros
Alberto Campos (Coordenador de Naipe Assistente)
Marjolein de Sterke
Diana Savova
Natalia Roubtsova
Emídio Coutinho
Nicholas Cooke
Gueorgui Dimitrov
Pedro Teixeira da Silva
Luís Clode
Regina Stewart
Margarida Matias
Maria Lourdes Santos
II Violinos
Klara Erdei (Coordenador de Naipe Adjunto)
Contrabaixos
Rui Guerreiro (Coordenador de Naipe Adjunto)
Pedro Wallenstein (Coordenador de Naipe)
Mário Anguelov (Coordenador de Naipe Assistente)
Petio Kalomenski (Coordenador de Naipe)
Nariné Dellalian (Coordenador de Naipe Assistente)
Adriano Aguiar (Coordenador de Naipe Adjunto)
Aurora Voronova
Duncan Fox (Coordenador de Naipe Adjunto)
Carmélia Silva
Anita Hinkova (Coordenador de Naipe Assistente)
Inna Rechetnikova
João Diogo
Kamélia Dimitrova
José Mira
Katarina Majewska
Manuel Póvoa
Maria Filomena Sousa
Svetlin Chichkov
Maria Lurdes Miranda
Slavomir Sadlowski
Sónia Carvalho
Tatiana Gaivoronskaia
Witold Dziuba
38
Flautas Trombones
Katharine Rawdon (Coordenador de Naipe) Hugo Assunção (Coordenador de Naipe)
Nuno Ivo Cruz (Solista A) Jarrett Butler (Solista A)
Anthony Pringsheim (Solista B) Kevin Hakes (Solista A)
Anabela Malarranha (Solista B) Vítor Faria (Solista B)
Oboés Tuba
Ricardo Lopes (Coordenador de Naipe) Ilídio Massacote (Solista A)
Hristo Kasmetski (Solista A)
Elizabeth Kicks (Solista B)
Luís Marques (Solista B) Tímpanos e Percussão
Luís Alves (1.º oboé convidado)* Elizabeth Davis (Coordenador de Naipe)
Richard Buckley (Solista A)
Lídio Correia (Solista B)
Clarinetes Pedro Araújo e Silva (Solista B)
Francisco Ribeiro (Coordenador de Naipe)
Joaquim Ribeiro (Solista A)
Felício Figueiredo (Solista B) Harpas
Jorge Trindade (Solista B) Carmen Cardeal (Solista A)
Fagotes
David Harrison (Coordenador de Naipe)
Carolino Carreira (Solista A)
João Rolo Brito (Solista B)
Piotr Pajak (Solista B)
Trompas
António Nogueira (Coordenador de Naipe)
Laurent Rossi (Solista A)
Paulo Guerreiro (Solista A)
António Rodrigues (Solista B)
Carlos Rosado (Solista B)
Tracy Nabais (Solista B)
Trompetes
Jorge Almeida (Coordenador de Naipe)
António Quítalo (Solista A)
Latchezar Goulev (Solista B)
Pedro Monteiro (Solista B) * Reforço
Cavalleria rusticana 39
Coro do Teatro Nacional de São Carlos Tenores
Alberto Lobo da Silva
Maestro Titular
Giovanni Andreoli Alcino Vaz
Álvaro de Campos
Maestro Convidado
Aníbal Real
Emanuele Pedrini
Arménio Afonso Granjo
Maestro Assistente Carlos Pocinho
Kodo Yamagishi
Carlos Silva
Diocleciano Pereira
Sopranos
Francisco Lobão
Ana Cosme
João Miguel Queirós
Ana Luísa Assunção
João Miguel Rodrigues
Ana Rita Cunha
Luís Castanheira
Angélica Neto
Mário Silva
Ana Maria Serro
Miguel Calado
Filipa Lopes
Nuno Cardoso
Glória Saraiva
Vítor Carvalho
Isabel Biu
Isabel Silva Pereira
Luísa Brandão
Barítonos e baixos
Maria do Anjo Albuquerque
Patrícia Ribeiro Aleksandr Jerebtsov
Rita Paiva Raposo António Louzeiro
Sandra Lourenço Carlos Homem
Sónia Alcobaça Carlos Pedro Santos
Teresa Gomes Ciro Telmo
Costa Campos
Daniel Paixão
Meio-sopranos David Ruella
Ana Cristina Carqueijeiro Eduardo Viana
Ana Margarida Serôdio Frederico Santiago
Ana Maria Neto João Miranda
Ângela Roque João Rosa
Antónia Ferraz de Andrade Joel Costa
Cândida Simplício Jorge Rodrigues
Isabel Assis Pacheco Mário Pegado
Laryssa Savchenko Osvaldo Sousa
Luísa Lucena Simeon Dimitrov
Luísa Tavares
Manuela Teves
Maria da Conceição Martinho
Natália Brito
Neide Gil
Susana Moody
40
Gabinete de Estudos Musicais e Dramaturgia Sector de Som e Vídeo
Director de Estudos Musicais e Director Musical de Cena Miguel Pessanha (Chefe do Sector)
João Paulo Santos (Coordenador) Luís Santos
Cavalleria rusticana 41
Direcção de Marketing Limpeza e Economato
Director de Marketing Lurdes Mesquita
Mário Gaspar Maria Conceição Pereira
Maria de Lurdes Branco
Anabela Tavares (Assistente) Maria de Lurdes Moura
Maria do Céu Cardoso
Relações Públicas Maria Teresa Gonçalves
Ana Fonseca Maria Isabel Sousa
Design
Ana Rego Direcção de Recursos Humanos
Directora de Recursos Humanos
Desenvolvimento Comercial Sofia Dias
Bruno Silva
Diogo Faro Manuel Alves
Sofia Teopisto
Canais Internet Vânia Guerreiro
João Mendonça Zulmira Mendes
José Luís Costa
Gabinete de Gestão do Património
Projectos Especiais
Nuno Cassiano (Coordenador)
Maria Gil
António Silva
Daniel Lima
Comunicação
Maria João Franco
Gabinete de Sistemas de Informação
Patrocínios/Marketing Directo Pedro Penedo (Coordenador)
Venâncio Gomes João Filipe Reis
Luís Miguel Costa
Bilheteira
Luísa Lourenço Gabinete Jurídico
Mário Oliveira Fernanda Rodrigues (Coordenadora)
Rita Martins Juliana Mimoso*
Susana Clímaco Sandra Correia
Expediente e Arquivo
Susana Santos
Carlos Pires
Miguel Vilhena * Prestadores de Serviço
42
Teatro Nacional de São Carlos
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Dias úteis – das 13:00h às 19:00h O Teatro reserva-se o direito de alterar a sua programação
Dias de espectáculo - (incluindo sábados, domingos e em casos de força maior. A alteração substancial da sua
feriados): das 13:00h até trinta minutos após o início do programação constitui causa única para efeitos de
espectáculo. Duas horas antes do início do mesmo apenas reembolso de bilhetes adquiridos.
poderão ser adquiridos bilhetes para o próprio dia.
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bem como através de contacto telefónico com a Ticketline
(707 234 234). Pontualidade
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qual os espectadores serão conduzidos aos seus lugares
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As reservas podem ser efectuadas por e-mail ou telefone
da bilheteira, as quais serão garantidas por 48 horas após Gravações e fotografias
a reserva. Só serão aceites reservas até 48 horas antes do Não é permitida a utilização de qualquer tipo de gravadores
dia do espectáculo. ou máquinas fotográficas no interior do Teatro.
Tel. 213 253 045/6
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O Teatro conta com um serviço de bengaleiro situado dos
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uma caixa de multibanco durante o seu horário de Agradecemos que sejam desligados telemóveis e relógios
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A partir do terceiro adulto, estes pagarão preço de récita
normal. É necessário apresentar comprovativo de idade dos
jovens no acto de compra dos bilhetes para matiné família.
Cavalleria rusticana 43
O Teatro Nacional de São Carlos é membro da
Opera-Europa e observador da Pearle*
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Paula Vilafanha
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Preço do programa5D
Tiragem 400 exemplares