E chora e dança ali! Era um sonho dantesco... Um de raiva delira, outro enlouquece, o tombadilho Outro, que martírios embrutece, Que das luzernas avermelha o brilho. Cantando, geme e ri! Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... No entanto o capitão manda a manobra, Legiões de homens negros como a noite, E após fitando o céu que se desdobra, Horrendos a dançar... Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: Negras mulheres, suspendendo às tetas "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Magras crianças, cujas bocas pretas Fazei-os mais dançar!..." Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . No turbilhão de espectros arrastadas, E da ronda fantástica a serpente Em ânsia e mágoa vãs! Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... E ri-se a orquestra irônica, estridente... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E da ronda fantástica a serpente E ri-se Satanás!... Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Castro Alves (1870) Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais...
NAVIO NEGREIRO Presa nos elos de uma só cadeia,
IV A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Era um sonho dantesco... Um de raiva delira, outro enlouquece, o tombadilho Outro, que martírios embrutece, Que das luzernas avermelha o brilho. Cantando, geme e ri! Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite... No entanto o capitão manda a manobra, Legiões de homens negros como a noite, E após fitando o céu que se desdobra, Horrendos a dançar... Tão puro sobre o mar, Diz do fumo entre os densos nevoeiros: Negras mulheres, suspendendo às tetas "Vibrai rijo o chicote, marinheiros! Magras crianças, cujas bocas pretas Fazei-os mais dançar!..." Rega o sangue das mães: Outras moças, mas nuas e espantadas, E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . No turbilhão de espectros arrastadas, E da ronda fantástica a serpente Em ânsia e mágoa vãs! Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... E ri-se a orquestra irônica, estridente... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E da ronda fantástica a serpente E ri-se Satanás!... Faz doudas espirais ... Se o velho arqueja, se no chão resvala, Castro Alves (1870) Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais...