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“Viagens na minha terra” – Resumo da obra de Almeida Garret

A obra foi publicada originalmente em folhetins na Revista Universal


Lisbonense entre 1845 e 1846, sendo editada em livro apenas em 1846. Tida
como obra única no Romantismo português por sua estrutura e linguagem
inovadoras, Viagens na minha terra é um marco para a moderna prosa
portuguesa e um importante documento de referência para entender a
decadência do império português.
Resumo

A obra é composta por dois eixos narrativos bem distintos. No


primeiro, o narrador conta suas impressões de viagens,
intercalando citações literárias, filosóficas e históricas das mais
diversas, com um tom fortemente subjetivo e repleto de
digressões e intertextualidades.
Dentre as referências literárias, podemos levantar citações a
Willian Shakespeare, Luís de Camões, Miguel de Cervantes,
Johann Goethe e Homero. Já dentre as citações históricas e
filosóficas, temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando, Bacon e
outros.
Já o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos de
viagem, conta o drama amoroso que envolve cinco personagens.
Essa narrativa amorosa tem como pano de fundo as lutas entre
liberais e miguelistas(1830 a 1834).
O livro começa com o narrador contando sobre a sua vontade de
partir em uma viagem de Lisboa à Santarém. Chegando a seu
destino, o narrador começa a tecer comentários através da
observação de uma janela. Nesse ponto, dá-se início à história de
amor entre Joaninha e Carlos.
No romance, Joaninha é uma moça que mora apenas com sua
avó, D. Francisca. Semanalmente, elas recebem a visita de Frei
Dinis, que traz notícias do filho de D. Francisca, Carlos. Ele está
ausente da cidade já há alguns anos e faz parte do grupo de D.
Pedro. Frei Dinis e D. Francisca guardam algum segredo sobre
Carlos.
Frei Dinis foi um nobre cheio de posses, mas resolveu abandonar
tudo e sumir e volta para Santarém dois anos depois, como frei.
O narrador critica essa mudança, por para ele qualquer um
poderia facilmente ser ordenado frei de uma hora para outra.
Quando a guerra civil atinge Santarém, Carlos, que havia ido para
a Inglaterra após desentender-se com Frei Dinis, resolve voltar à
cidade. É quando ele reencontra sua prima Joaninha. Eles trocam
um beijo apaixonado como se fossem namorados. Porém, Carlos
tem uma esposa na Inglaterra, chamada Georgina, se vê
atormentado pela dúvida de contar ou não a verdade para sua
prima.
Ferido durante a guerra, Carlos fica hospedado próximo à casa
de Joaninha. Após se recuperar, ele pede para que D. Francisca
revele o segredo que ela esconde. Então, ela acaba contando
que Frei Dinis é o pai de Carlos e que sua verdadeira mãe já
morreu.
Ao saber da verdade, Carlos parte e volta a viver com a esposa.
Porém, Georgina diz ter ouvido de Frei Dinis toda a história de
amor entre Carlos e Joaninha e declara não mais amar o marido.
Carlos pede perdão à esposa e diz não mais amar Joaninha,
porém, Georgina não o aceita de volta.
Na parte final sabemos através de Frei Dinis o destino das
personagens: Carlos larga as paixões e começa sua carreira na
política como barão, mas depois de um tempo desaparece.
Joaninha, sem seu grande amor, e D. Francisca morrem.
Georgina vai para Lisboa. “Santarém também morre; e morre
Portugal”, termina por relatar Frei Dinis.
Durante os relatos da viagem, o autor-narrador faz uma série de
digressões filosóficas, reflexões sobre fatos históricos e crítica
literária sobre diversos autores, tanto clássicos quanto
modernos, e suas obras.
Dentre estes comentários, podemos citar o mais famoso deles:
“Eu não sou romanesco. Romântico, Deus me livre de o ser – ao
menos, o que na algaravia de hoje se entende por essa palavra”.
Garrett, embora pertencente ao movimento romancista de
Portugal, deixa claro nessa passagem uma crítica ao Romantismo
então vigente. Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado”
por escritores menores que buscavam modelo numa literatura
fácil para agradar ao público, com interpretações abusivas e uma
vulgarização do que seria o verdadeiro movimento modernista.
Personagens
Carlos: é um homem instável que não consegue se decidir sobre
suas relações amorosas, podendo ser ligado às características
biográficas do próprio Almeida Garrett.
Georgina: namorada inglesa de Carlos, é a estrangeira de visão
ingênua, que escolhe a reclusão religiosa como justificativa para
não participar dos dilemas e conflitos históricos que motivaram
sua decepção amorosa.
Joaninha: prima e amada de Carlos. Meiga e singela, é a típica
heroína campestre do Romantismo. Simboliza uma visão ingênua
de Portugal, que não se sustenta diante da realidade histórica.
D. Francisca: velha cega avó de Joaninha. Mostra-nos a
imprudência e a falta de planejamento com que Portugal se
colocava no governo dos liberalistas, levando a nação à
decadência.
Frei Dinis: é a própria tradição calcada num passado histórico
glorioso, que no entanto, não é mais capaz de justificar-se sem
uma revisão de valores e de perspetivas.

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