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Almeida Garrett

No Porto, no século XVIII (18), nasce João Baptista da Silva Leitão de


Almeida Garrett, um dos maiores vultos da cultura portuguesa e mesmo de
todos os tempos.
Grande poeta, prosador e dramaturgo português, detentor de um perfil de
homem de carácter, que sempre soube ser fiel às suas ideias e lutar por
elas, teve um papel importante como iniciador do movimento romântico em
Portugal com a publicação do poema «Camões».
Veio a falecer no século XIV (19), em Lisboa, onde está enterrado. Mais
precisamente no Mosteiro dos Jerónimos, onde, certamente, viram o seu
túmulo quando visitámos o Mosteiro no nosso 11ºano.
Ao abordar obras de Garrett encontramo-nos perante uma produção
invulgarmente extensa, não apenas pela quantidade de material produzido
como também pela diversidade dos géneros literários.
Dentre todos, destacam-se, sobretudo: (escrever no quadro e falar de cada
um)
➢ a lírica, onde teve o momento mais alto com «Folhas Caídas»
➢ o teatro, «Frei Luís de Sousa»
➢ e a novela. «Viagens na minha terra»

Viagens na minha terra


Viagens na minha terra, o livro eleito por mim, é uma obra composta por dois
eixos narrativos bastante distintos, fundamentados numa viagem que
Almeida Garret realizou de Lisboa a Santarém, para conhecer melhor as
paisagens do país, em 1843.
O primeiro eixo é mesclado de meditações literárias, históricas e filosóficas
com um tom fortemente subjetivo e repleto de intertextualidades.
Dentre as citações literárias levantam-se citações de William Shakespeare,
Luís de Camões, Miguel de Cervantes, Johann Goethe e Homero. E dentre
as citações históricas e filosóficas temos Napoleão Bonaparte, D. Fernando,
entre outros.
Já no segundo eixo, o eixo novelista, é contado o drama amoroso que
envolve cinco personagens e que tem como pano de fundo as lutas entre
aqueles que defendiam a monarquia, os Miguelistas, e os que pediam
liberalismo, os liberais. Onde a vitória foi dos liberais.

Este livro inicia-se com o narrador a contar sobre a sua vontade de partir
numa viagem de Lisboa a Santarém, e quando chega ao destino, começa a
tecer comentários através da observação de uma janela.
Ao fazê-lo, dá-se início à história de amor entre Joaninha e Carlos.

No romance, Joaninha é uma menina bonita e inocente que mora com a sua
avó, D. Francisca.
Semanalmente, recebem a visita de Frei Dinis, que traz notícias do filho de
D. Francisca, Carlos (primo de Joaninha). Carlos está ausente da cidade há
alguns anos a lutar na Guerra Civil na tropa de D. Pedro.

Frei Dinis é um nobre cheio de posses que resolveu abandonar tudo e


desaparecer, retornando a Santarém dois anos depois, como Frei.
Esta atitude é criticada por Almeida Garrett porque para ele qualquer um
poderia facilmente ser ordenado Frei de uma hora para outra.

Frei Dinis e D. Francisca guardam algum segredo sobre Carlos.

Quando a Guerra Civil atinge Santarém, Carlos, que tinha ido para Inglaterra
depois de um desentendimento Frei Dinis, resolve voltar à cidade. É então
que Joaninha e Carlos se reencontram e trocam um beijo apaixonado como
se fossem namorados.
Porém, o que até então não se sabia, é que Carlos tem uma esposa na
Inglaterra, chamada Georgina, e vê-se atormentado pela dúvida de contar ou
não a verdade para a sua prima.
Ferido durante a Guerra, Carlos fica hospedado próximo à casa de Joaninha
e a cuidado da mesma. Disposto a saber da verdade, Carlos pede que D.
Francisca lhe revele o segredo que ela esconde.
Ao ver o estado dele, D. Francisca acaba por lhe contar que Frei Dinis é seu
pai e que a sua verdadeira mãe já morreu.
Atordoado com a notícia, e já recuperado, Carlos deixa tudo e volta para
viver com a esposa. O que ele não sabia é que Georgina já tinha ouvido, de
Frei Dinis, toda a história de amor entre os dois primos (Carlos e Joaninha).
Carlos implora perdão à esposa e jura não amar mais Joaninha, porém,
Georgina declara não mais amar o marido e não o aceita de volta porque
sabe que ele mente quanto aos seus sentimentos pela prima.
No fim da novela, Carlos quer começar a carreira política como barão, onde
obtém sucesso, e acaba por largar as paixões para depois desaparecer.
Joaninha, abandonada pelo seu grande amor, enlouquece e morre.
Frei Dinis cuida de D. Francisca, que ficou cega até à sua morte.

Personagens
As personagens de “Viagens na Minha Terra” exercem uma visão simbólica
de Portugal, procurando-se através disso as causas da decadência do
Império Português.
O fim do drama, que culmina na morte de Joaninha e na fuga de Carlos para
se tornar barão, representa a própria crise de valores em que o apego à
materialidade e ao imediatismo acaba por fechar um ciclo de mutações de
caráter duvidoso e instável.

O que podemos saber mais destas personagens? (as suas possíveis


interpretações simbólicas dentro da obra)
Carlos: é um homem instável que não consegue se decidir sobre suas
relações amorosas, podendo ser ligado às características biográficas do
próprio Almeida Garrett.
Georgina: esposa inglesa de Carlos, é a estrangeira de visão ingénua, que
escolhe a reclusão religiosa como justificativa para não participar dos
dilemas e conflitos históricos que motivaram a sua decepção amorosa.
Joaninha: prima e amada de Carlos. Meiga e singela, é a típica heroína
campestre do Romantismo. Simboliza uma visão ingénua de Portugal, que
não se sustenta diante da realidade histórica.
D. Francisca: velha cega avó de Joaninha. Mostra-nos a imprudência e a
falta de planejamento com que Portugal se colocava no governo dos
liberalistas, levando a nação à decadência.
Frei Dinis: é a própria tradição calcada num passado histórico glorioso, que,
no entanto, não é mais capaz de se justificar sem uma revisão de valores e
de perspetivas.

Durante os relatos da viagem, o autor-narrador faz uma série de digressões


filosóficas, reflexões sobre fatos históricos e crítica literária sobre diversos
autores, tanto clássicos quanto modernos, e as suas obras.
Dentre estes comentários, cito o mais famoso deles, onde o autor critica o
Romantismo atual mesmo pertencendo ao movimento romancista de
Portugal:

“Eu não sou romanesco. Romântico, Deus me livre de o ser – ao menos, o


que na algaravia de hoje se entende por essa palavra”.

Uma crítica dirigida a um romantismo “fabricado” por escritores menores que


procuram modelo numa literatura fácil para agradar ao público, com
interpretações abusivas e uma vulgarização do que seria o verdadeiro
movimento modernista.

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