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Novelas de cavalaria
Amadis de Gaula
Amadis de Gaula foi uma novela muito apreciada em toda a Europa até
o século XVI. Ela reflete muito bem o ideal do amor cortês e a atmosfera das
cantigas de amor.
Amadis é filho ilegítimo do rei Perian de Gaula e da princesa Elisena,
filha do rei da Pequena Bretanha. Repudiado, é abandonado ao mar e
encontrado pela família de Oriana. Cresce como pajem dela e, aos poucos, o
seu amor pela jovem vai-se tornando adoração. Amadis serve Oriana com
devoção. Depois de muito tempo, confessa o seu amor e os dois decidem
mantê-lo em segredo. Sagrado Cavaleiro enfrenta situações de grande perigo
em defesa de sua amada. Um dia, acusado de infidelidade, resolve isolar-se.
Mas não consegue ficar muito tempo longe dela. Certa vez, defendendo-a na
floresta, Oriana e Amadis acabam por se entregar um ao outro, jurando amor
eterno. No final, depois de mais algumas peripécias, Amadis e Oriana se
casam.
Amadis é o típico cavaleiro medieval: ele guarda o sentimento do
amante e a necessária ousadia do lutador. É, a um só tempo, forte e frágil;
decidido e terno; furioso e cortês. Seu amor por Oriana vence qualquer
obstáculo, caracterizando-se, como nas cantigas, pela submissão à dama e
pela fidelidade.
HUMANISMO
Fernão Lopes
Pouco se sabe sobre a vida de Fernão Lopes. Teria nascido entre 1378
e 1383, falecendo por volta de 1460; em 1418 foi nomeado guarda-mor da
Torre do Tombo, ou seja, tornou-se responsável pela preservação do arquivo
real, então localizado numa das torres do castelo de Lisboa. Em 1434, passou
a cronista-mor do reino, cargo que o tomava como redator oficial das crônicas
– narrativas históricas – dos reis de Portugal.
É provável que Fernão Lopes tenha escrito as crônicas de todos os reis
de Portugal até então, incluindo a do próprio D. Duarte, contemporâneo seu.
Aos nossos dias chegaram três obras cuja autoria é incontestavelmente sua: a
Crônica de D. Pedro, a Crônica de D. Fernando e a Crônica de D. João I
(primeira e segunda parte). Em 1942 e 1945 foram descobertos manuscritos de
uma Crônica dos sete primeiros reis de Portugal, conhecida também como
Crônica de Portugal de 1419, cuja autoria tem sido atribuída a Fernão Lopes.
A prosa de Fernão Lopes ultrapassa os limites da narrativa histórica,
incorporando técnicas e métodos da narrativa de ficção e alcançando
resultados de inquestionável valor estético. Sua narrativa é viva, contagiante,
capaz de criar quadros extremamente dinâmicos.Como o encadeamento das
ações é habilmente conduzido, sendo constantemente colorido pelas falas
diretas dos participantes da ação, o que cria um ritmo crescente de tensão,
uma intensidade gradativa para a qual colabora o suspense em que o narrador
mantém todo o quadro até o desfecho, que é rápido e marcante. Essa hábil
condução de vários episódios que convergem para um final único, grandioso,
dá ao texto um sentido épico – a narrativa da enérgica manifestação popular
demonstra que estão sendo dados passos importantes para a história da
coletividade portuguesa.
A historiografia portuguesa teve em Fernão Lopes um inovador que
combinou o rigor na pesquisa e seleção de documentos e testemunhos com
uma concepção abrangente do conjunto das forças que atuam socialmente.
Para a literatura, seus méritos são igualmente importantes, já que desenvolveu
uma prosa narrativa que organiza com eficiência muitos recursos, habilidade
para incutir dinamismo às sequências narradas, diálogos vivos e
caracterizadores, graduação da intensidade dramática, caracterização feliz das
figuras históricas, sentido épico na condução de vários episódios paralelos que
convergem para um mesmo fim. Combinando uma ampla visão de História com
uma técnica narrativa eficiente, Fernão Lopes criou a primeira grande obra em
prosa da literatura portuguesa.
A poesia palaciana
Cantiga, partindo-se Senhora, partem tão tristes Meus olhos por vós,
meu bem, Que nunca tam tristes vistes Outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
Tam doentes da partida,
Tam cansados, tam chorosos, Da morte mais desejosos Cem mil vezes
que a vida.
Partem tam tristes os tristes, Tam fora d’esperar hem, Que nunca tam
tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.
Gil Vicente
CLASSICISMO
Se me levam águas
Nos olhos as levo.
Voltas
Se de saudade Morrerei ou não, Meus olhos dirão De mim a verdade.
Por eles me atrevo A lançar as águas
Que mostrem a mágoas Que nesta alma levo.
As águas que em vão Me fazem chorar,
Se elas são do mar Estas d’amar são. Por elas relevo
Todas minhas mágoas; Que, se força d’águas Me leva, eu as levo.
Todas me entristecem, Todas são salgadas; Porém as choradas Doces
me parecem.
Correi, doces águas,
Que, se em vós me enlevo, Não doem as mágoas
Que no peito levo!
Camões Luís de – Lírica. Belo Horizonte. Itatiaia, São Paulo: Edusp.
1982. p. 54-5.
Barroco anunciado
Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um
contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a
gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade,
Se tão contrario a si é o mesmo amor?
CAMÕES, Luís de. Lírica, p.155.
Eu cantei já, e agora vou chorando O tempo que cantei tão confiado;
Parece que no canto já passado Se estavam minhas lágrimas criando.
Cantei; mas se me alguém pergunta: Quando? Não sei; que também fui
nisso enganado.
É tão triste este meu presente estado Que o passado, por ledo, estou
julgando.
Fizeram-me cantar, que tudo mente? Mas eu que culpa ponho às
esperanças
Onde a Fortuna injusta é mais que os erros?
Poesia épica
Proposição
Canto I
Após a proposição e a invocação, representadas pelas cinco estrofes
iniciais, vem a dedicatória. Como já sabemos, Os Lusíadas foi dedicado a D.
Sebastião, que viveu de 1554 a 1578. Na sexta estrofe do poema, o narrador
refere- se ao jovem rei com uma série de metáforas, ligadas
predominantemente à concepção de que as navegações portuguesas e sua
expansão imperialista eram uma nova cruzada contra os “infiéis”.
Canto II
Vênus e as nereidas (ninfas aquáticas) impedem que as naus
portuguesas entrem no porto de Mombaça, onde seriam destruídas. A seguir, a
deusa dirige-se ao Olimpo, para protestar junto a seu pai Júpiter contra os
perigos a que estão sendo submetidos os viajantes. O rei dos deuses a
acalma, profetizando-lhe novos feitos dos portugueses. A frota lusitana se
dirige a Melinde, onde o rei recebe Vasco da Gama e seus comandados com
amizade e pede que o comandante lhe conte a história do povo português e da
viagem que esta realizada.
Canto III
Vasco da Gama inicia seu discurso com uma descrição da Europa e
com indicações da localização de Portugal. A seguir, conta a história do seu
país, desde os tempos mitológicos até o reinado de D. Fernando (morto em
1383). É neste canto que se encontra o célebre episódio de Inês de Castro,
baseado na história de uma dama castelhana por quem se apaixonou o Infante
D. Pedro (1320-1367), futuro rei
D. Pedro I – D. Afonso IV (1291 – 1357), pai de D. Pedro, decidiu, por
motivos políticos, mandar matar D. Inês, que se tornara amante de D. Pedro.
Essa morte foi posteriormente vingada por D. Pedro, que, segundo a tradição,
teria feito exumar o cadáver de D. Inês, para coroá-la mesmo depois de morta.
Canto IV
Vasco da Gama continua a contar a história de Portugal ao rei de
Melinde. Narra, entre outras coisas, a batalha de Aljubarrota, em versos de
sonoridade altamente expressiva, que lembram o ruído intenso dos combates.
Note principalmente a recorrência das consoantes /r/, /t/, /s/, a frequência de
encontros consonantais e sugestiva rima em “-oam”;
Canto V
Vasco da Gama narra ao rei de Melinde a viagem da frota portuguesa.
São descritos alguns fenômenos naturais, como o fogo de santelmo (chama
azulada que surge nos mastros dos navais, provocada pela eletricidade) e a
tromba-d’água.
Ainda nesse canto, encontramos o episódio do gigante Adamastor,
figura mitológica que personifica o cabo das Tormentas (depois, cabo da Boa
Esperança), no extremo sul da África. Adamastor era um dos titãs, raça de
gigantes que desafiara os deuses e fora convertido em acidente geográfico
porque se deixara enganar por Tétis, deusa marinha a quem amava.
Adamastor profetiza a Vasco da Gama todos os infortúnios (em geral,
naufrágios) que maçariam a expansão comercial portuguesa para a Índia.
Percebe- se, pois, que a identificação entre o titã da mitologia e o acidente
geográfico que tanto significado teve para as navegações portuguesas foi um
criativo recurso artístico capaz de personalizar a “fúria dos elementos naturais”,
particularmente os perigos do oceano, superados pelos portugueses à custa de
muitas vidas humanas.
Vasco da Gama, ainda nesse canto, continua a narrativa da viagem até
a chegada a Melinde. Nas estrofes finais, o narrador recrimina os
contemporâneos portugueses pelo pouco valor que dão à poesia.
Canto VI
A frota parte de Melinde levando um piloto que conhece o caminho para
as Índias. Baco desce então ao fundo do oceano, onde, no palácio de Netuno,
organiza um novo concílio com alguns deuses. Os portugueses encontram
calmaria, e Veloso, um marinheiro, aproveita a pausa para contar aos seus
companheiros as heroicas aventuras dos “Doze de Inglaterra”, verdadeira
novela de cavalaria dentro do poema épico. Mas o descanso é interrompido por
violenta tempestade, desencadeada por Netuno e outros deuses que,
persuadidos por Baco, decidem destruir a frota portuguesa. Note a
impressionante sonoridade dos versos em que se descreve essa tempestade:
Canto VII
Os portugueses chegam a Calicute, na Índia. Um degredado, João
Martins, é enviado a terra, e encontra Moncaide, mouro que, nascido na África
do Norte, conhecia as línguas da Península Ibérica. Estabelecem-se
entendimentos iniciais entre Vasco da Gama e autoridades indianas,
intermediados por Moncaide, o Catual sobe a bordo da nau capitânia
portuguesa, onde é recebido por Paulo da Gama, irmão do comandante da
frota. Algumas figuras e cenas pintadas em painéis de seda atraem a atenção
do indiano, que pede esclarecimentos.
Canto VIII
Paulo da Gama satisfaz a curiosidade do Catual, narrando-lhe os feitos
dos vários heróis portugueses representados nos painéis. Enquanto isso, Baco
aparece em sonhos a um sacerdote maometano, indispondo-o contra os
portugueses. Surgem propósitos de destruir a frota portuguesa; Vasco da
Gama, após entrevista com o Samorim, em que ficara acertada a troca da
especiaria por mercadorias, é vítima da traição do Catual, que estava ligado
aos interesses dos mouros e pretendia fazer aproximar a frota portuguesa da
costa para poder atacá-la. Gama, percebendo isso, envia seus homens de
volta aos navais, permanecendo em terra a fim de procurar resolver a questão.
O Catual o mantém preso por algum tempo, só permitindo que parta em troca
de mercadorias.
Canto IX
O Catual e seus aliados procuram atrasar a partida portuguesa, pois
esperam a chegada de uma armada proveniente de Meca que seria capaz de
destruir os barcos europeus. Moncaide previne Vasco da Gama desses pianos,
e o comandante resolve partir, não sem antes experimentar novos atritos por
causa de dois mercadores portugueses que haviam sido aprisionados em terra
e que acabam trocados por mercadores indianos que estavam a bordo. Os
portugueses deixam a Índia levando expressivas provas de que haviam
alcançado: Mocaide, (que os acompanha e posteriormente se converte ao
cristianismo), alguns prisioneiros indianos e, principalmente, mercadorias de
vários tipos.
Vênus decide recompensar os marinheiros portugueses pelas
tribulações da viagem, oferecendo-lhes repouso e deleite na “Ilha dos Amores”,
local paradisíaco dedicado ao prazer. Assim, as ninfas aguardam os
navegantes para o amor:
Oh! Que famintos beijos na floresta, E que mimoso choro que soava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta, Que em risinhos alegres se
tomava
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vênus com prazeres inflamava, Melhor é experimentá-la que julgá-
lo;
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.
Canto X
Tétis, deusa marinha, e as ninfas oferecem um banquete aos
navegantes. São feitas profecias acerca do futuro glorioso dos portugueses.
Tétis mostra a Vasco da Gama uma miniatura do Universo. Indicando-lhe os
lugares por onde os portugueses estenderão o império. A frota deixa então a
“Ilha dos Amores” e regressa a Portugal.
O epílogo inicia com a seguinte estrofe, uma das mais conhecidas do
poema: