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AMADIS DE GAULA

• Para terminar o exame da literatura


quatrocentista em Portugal, é de todo ponto
necessário demorar a atenção sôbre o Amadis
de Gaula (1508), uma das mais importantes
novelas de cavalaria escritas na Península
Ibérica, se não a mais importante
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• excetuando o Dom Quixote, e cuja autoria
continua a ser um intricado problema. Quem a
escreveu? Em que língua?
• Desde cedo, sua paternidade se envolveu de mistério,
dando origem a três correntes de opinião: a primeira,
que ligava a novela à Literatura Francesa, está hoje
inteiramente posta de lado; a segunda, defende a tese
de que sua autoria se deve a um português; e a terceira,
advoga a tese espanhola.
• Militam em favor da tese portuguesa alguns argumentos,
dos quais se apontam os seguintes: Azurara, em sua
Crônica do Conde D. Pedro de Meneses (1454, 1. I, cap.
G3 ), refere o nome de Vasco da Lobeira, tido por um dos
autores da obra, juntamente com João de Lobeira;
• nos Poemas Lusitanos ( 1598 ), de Antônio Ferreira,
incluem-se dois sonetos alusivos ao episódio de
Briolanja, personagem
• do Amadis (1. I, cap. 4U ) , o qual, por sua vez, interessa
pelas recusas de Amadis às solicitações da donzela, por
fidelidade a Oriana, apesar da interferência de D. Afonso,
irmão de D. Dinis, em favor da solicitante; o lais dedicado a
Leonoreta, inserto no Amadis, escrito em Português, teria
sido composto por João de Lobeira, trovador do tempo de
Afonso III e de D. Dinis; assim sendo, o trovador teria
escrito também os dois livros iniciais da novela, a que mais
tarde Vasco da Lobeira teria acrescentado o terceiro, o que
explicaria ter-lhe Azurara mencionado o nome.
• Fundamentam a tese espanhola os seguintes argumentos:
a primeira edição da novela é de 1508, em Espanhol, feita
por Garci-Ordónez de Montalvo, que lhe teria
acrescentado
• 4 ° li vro e emendado os anteriores; as mais remotas
referências à novela se devem a autores espanhóis, como a do
Canciller Ayala em seu Rimado de Palacio ( cêrca de 1380 ) ; no
século XIV, Pedro Fernís, poeta do Cancioneiro de Baena,
refere o Amadis em 3 livros;
• no século XV, é mencionado por vários escritores espanhóis.
• Não há, porém, argumentos cabais que permitam decidir
acêrca das duas teses citadas.
• Falta ainda encontrar qualquer prova mais concludente para
dar por solucionado o problema, se bem que alguns
pormenores internos façam pender a balança para o lado
português, como foi notado inclusive por espanhóis, dentre os
quais Menéndez Pelayo (Orígenes de la Novela, vol. I, págs.
345-6).
• Todavia, há pouco tempo se encontrou motivo suficiente
• para considerar o problema em definitivo resolvido,
ou seja, "existe um fragmento do romance na nossa
língua, do século XIII ou XIV, no arquivo dum
aristocrata castelhano residente em Madrid".
• "Está, creio bem, desde agora, encerrada a velha
questão do Amadis de Gaega ( . . . )
• Podemos portanto dizer gtte as duas mais altas
expressões do gênio literário galego-português são o
Amadis de Gaega e Os Lusíadas; e talvez não seja por
mero acaso que essas duas obras-primas, surgidas
com intervalo de três séculos, tenham como autores
dois portugueses de origem galega: João Lobeira e
Luís de Camões".
• A novela, reeditada várias vezes e continuada
ao longo do século XVI, formando o ciclo dos
Amadises, em 12 livros, filia-se ao longínquo
trovadorismo amoroso.
• Amadis é um perfeito cavaleiro-amante e
sentimental, vivendo em plena atmosfera do
"serviço" cortês, caracterizado pela dedicação
constante e obsessiva à bem-amada, a fim de
lhe conseguir os favores. esse traço
francamente medieval é equilibrado com
freqüente tendência sensualista.
• Dessa forma, ao. platonismo amoroso se junta
"um grande e mortal desejo "que incendeia o
par de enamorados: Amadis e Oriana.
• É uma nota de primitivismo erótico, vulcânico e
inebriante, desobediente a leis ou a convenções
sociais e morais.
• O cavaleiro humaniza-se, terreniza-se, a ponto
de, no livro 4 ° ( tão diferente dos demais, pelo
entrecho, pobre e monótono, e pelo estilo,
cheio de "agudezas" forçadas ), casar-se
sacramentalmente para convalidar a antiga
relação amorosa com Oriana.
• Nascem daí certos conflitos no espírito de Amadis,
não os padronizados pela tradição mas os dum
homem complexo, denso psicològicamente,
"moderno"~ o homem medieval começava a dar
vez ao homem concebido segundo os valores
renascentistas, que então iniciavam sua invasão
de modo franco e definitivo.
• Amadis anuncia o surgimento do herói moderno,
de largo curso e influência no século XV e no XVI,
servindo de verdadeiro elo de ligação entre um
mundo que morria, a Idade Média, e outro que
principiava a despontar, a Renascença,
• i M. Rodrigues Lapa, "A Questão do Amadis de Gaula na
Contexto Peninsular", Grial, Revista Galega de Cultura;
Vigo, n " 27, jan~atar. 1970, pp. 14-1$.
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• O ciclo dos Amadises compõe-se dos seguintes livros,
todos em Castelhano:
• Sergas de Esplandián (1510), escrito por Garci-Ordóííez de
Montalvo; Florisando (1510), por Páez de Rive ra; Lisuarte
de Grecia (1514), por Feliciano de Silva; Lisuarte de Grecia
(1526), por Juan Díaz; Amadís de Grecia (1530), por
Feliciano de Silva; Florisel de Niquea (1532), pelo mesmo
autor; Florisel de Niquea (1535 e 1551), pelo mesmo
autor;Silves de Ia Selva (1546), pelo mesmo autor

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