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Língua (ou literatura) espanhola ou castelhana? -- Desde o sentido das palavras, literatura
castelhana é o estudo das obras escritas em língua castelhana, enquanto a literatura espanhola
é o estudo das obras feitas em Espanha. Ainda que haja obras compostas em outros dialetos
no território espanhol – como no galego, o basco, o catalão, o valenciano, o bable/asturiano,
etc. --, poucas delas integram o cânone literário, por causa do avassalamento ao castelhano, e
daí persiste a narrativa oral.
Após a invasão romana, no século III a. J. C., os idiomas falados pelos habitantes, como o
celta, a íbera, a celtíbera e o basco, foram dominados pelos latinos e
bastardeados/abastardeados, até que este se hegemonizasse. Havia três formas do latim: a) o
latim clássico ou sermo nobilis, falado pelos poetas e prosadores; b) o latim urbano ou sermo
urbanus, falado pelos cidadãos e patrícios; e c) o latim vulgar ou sermo vulgaris, falado pelo
povo. Em Espanha, entrou o latim vulgar, que vinha com os legionários e colonos.1
Documentos para o estudo das origens do romance. -- Ramón Menéndez Pidal (El idioma
español en sus primeros tiempos) menciona duas fontes sobre a origem do idioma espanhol:
1
Diz Ramón Menéndez Pidal: “Este latín vulgar se distinguía principalmente en la tendencia a expresar por
perífrasis lo que en latín clásico se expresaba por una síntesis gramatical: las preposiciones sustituían a la
declinación clásica.” (Manual de Gramática Histórica Española, 1904.)
os textos árabes da época da dominação e os arquivos e glosas dos séculos X e XI. Diz ele:
“los autores musulmanes empleaban a veces en sus obras alguna que otra voz tomada de boca
de los españoles, cuando estos aún no sabían emplear su propia lengua por escrito, valiéndose,
en este caso, sólo de la latina”. Os moçárabes escreviam em aljamía, escrita do castelhano,
mas com caracteres arábicos, que praticavam judeus e árabes que ficaram na Espanha
reconquista. Após a invasão árabe, no século XI, pelos almorávidas e almóadas, os moçárabes
emigraram das terras antes conquistadas e nenhum de seus documentos conservou-se.
Que são as glosas? Responde Menéndez Pidal: <Son explicaciones ocasionales que un monje
fue poniendo al margen y entre líneas de sendos libros latinos, para facilitar a lectores
indoctos la inteligencia de vocablos y frases de la lengua eclesiástica.> (ibid., p. 6). Foram
publicados pelo professor E. Staaff cinco documentos provenientes do reino de León (1171-
1199), em 1907; e por Menéndez Pidal quarenta e três dos séculos XII e um do XI,
provenientes de Castilla. Conservam-se as Glosas Emilianeses (séc. IX-X), do Mosteiro de
San Millán em La Rioja, e as Glosas Silenses (séc. X), do Convento de Silos em Castilla.
Esses textos revelam o processo de “romanceamiento” (como chamou Menéndez Pidal) do
latim, no qual é em muito simplificada a sintaxe latina e se geram arcaísmos.
<Las primeras obras escritas en romance debieron ser, como ocurre en otras literaturas, obras
de carácter épico y en verso. Estos primitivos poemas serían, en la península, de orígen godo,
e imitarían los cantos de guerra germánicos, que se cantaron el país después de la invasión de
estos pueblos.> (p. 8). Do século XII só ficou de Espanha um poema, El Cantar de Mío Cid,
ao passo que em França se conservam quase uma centena de poemas épicos primitivos. O que
também diferencia as gestas espanholas das francesas é a historicidade dos fatos: os heróis das
gestas francesas já haviam morrido há muito (como Carlos Magno, da Chanson de Roland),
enquanto mio Cid participava da história relembrável, e, portanto, não fictícia, do povo
espanhol. Ruy Días de Vivar, el Cid Campeador, é símbolo nacional e heroico que operou um
verdadeiro sentimento de união durante a Reconquista.
O MESTRE DE JOGRALICES
Características das primitivas gestas. -- As gestas eram narrações heroicas em verso contadas
pelos menestréis (juglares) e que:
a) Eram populares, como diz Menéndez Pidal (La epopeya castellana): “El poeta que cultiva
ese arte nacional posee, en un más alto grado que el pueblo, un tesoro de ideas y de
imaginación; es, de ordinario, mucho más instruído; pero no desdeña emplear su riqueza
intelectual en poner al alcance de los iletrados el placer artístico; y de ahí que produzca obras
del agrado a un tiempo de sabios e ignorantes, bien que estos últimos no alcancen a descobrir
cuanto los primeros ven en ellos”.
b) Eram de fundo histórico: nesta época não se fazia história, recolhiam-se os feitos de armas
e as façanhas heroicas nos poemas para incendiar de nacionalismo os ouvintes; somente
depois os reis pediram a escrita de crônicas históricas, e os cronistas empregariam as gestas
como fontes históricas. Diz Menéndez Pidal: “los juglares cantan con instrumentos y
ademones no sólo para el recreo, sino para la información de los oyentes – ad recreationem et
forte ad informationem --, rasgo éste que distingue las gestas españolas de todas las demás
gestas medievales”.
c) Eram realistas: o poeta anônimo cantava o que havia visto e ouvido. Acaba que os textos da
gestas oferecem-nos grande documentação sobre os costumes daquela época da Idade Média
espanhola. ch) A transmissão era oral: o fato dos poemas de gestas se difundirem oralmente
pelo povo abre margens para que se modificassem. As próprias crônicas podiam ser
responsáveis pela modificação das gestas, já que eram sua documentação escrita. A força e o
espírito desse tipo de poesia fazem-se presentes até o século XV, nos romances, e o século
XVI, nas novelas cavaleirescas.
d) Tinham caráter nacional: Até o século XII, a épica castelhana não sofrera influência
estrangeira. Porém, após isto, observaram-se várias outras gestas francesas difundidas pela
vida literária espanhola. As peregrinações a Santiago de Compostela, a emigração da Ordem
Cluníaca e a participação de cavalheiros franceses na Reconquista favoreceram a presença da
literatura ou narrações francesas em Espanha.
A versificação. -- Não havia uma métrica regular nas canções de gestas. Predominam os
versos de catorze ou dezesseis sílabas, de acentuação irregular e rima assonante. Essas
estruturas arcaicas de versos não sabemos se têm origens na inabilidade dos poetas ou se na
pouca formação dos juglares, que eram quem os recitavam repetitivamente. Parece que os
autores dos poemas de gestas eram homens de posição social e formação distinta à dos
juglares, eles escreviam para abastecer as recitações dos ofícios destes. As prosificações dos
cronistas demonstram que existiram muitos cantares de gesta, mas a maioria se perdeu.
Ficaram-nos o Cantar de Mio Cid, do século XII, um fragmento chamado por Pidal de
Roncesvalles, de princípios do século XIII, e um de fins do século XIV, a Crónica Rimada ou
Cantar de Rodrigo, chamada ainda de Las Mocedades de Rodrigo.
Dois poemas do período medieval devem ser destacados, para além do Cantar de Mio Cid:
um fragmento, cantar de gesta sobre Roncesvalles; e um posterior, chamado Cantar de
Rodrigo, que encerra a épica medieval espanhola.
Fragmento de um cantar sobre Rocesvalles. -- Segundo Menéndes Pidal (cit. p. 21), deve ter
sido escrito por volta do primeiro terço do século XIII e teria extensão superior (são 100
versos) ao Cantar del Cid. O valor literário considerável: dão-se pateticamente as cenas em
que Carlos Magno vai ao campo de batalha de Rocesvalles pelo corpo de seu sobrinho
Roldán, e que finalmente o encontrará com o amigo, Oliveros.
Cantar de Rodrigo o Las mocedades de Rodrigo. (Começos do século XV) -- Precedido por
um largo fragmento em prosa e interrompido bruscamente, de pouco valor literário, mas
largamente usado por retratar os anos juvenis de El Cid. “La versificación es todavía um tanto
irregular; predominan los versos de dieciséis sílabas, asonantados.” (p. 21).
Gestas prosificadas. -- São gestas que foram incorporadas a Crônicas espanholas em prosa;
por vezes, a gesta originária se perdeu. Los siete infantes de Lara (de uma crônica de 1344;
gesta originária perdida); Cantar de Sancho II de Castilla (da Crónica particular del Cid,
1270-1289); Bernardo del Carpio (leonesa), da Crónica de Alfonso el Sabio.
O MESTRE DE CLEREZIAS
O termo “mester de clerecía” é uma oposição ao “mester de juglaría”, pois os juglares eram
populares e os “mesteres de clerecía” eram eruditos, quando não clérigos: “(...) cuya
ilustración la habían recebido, por outra parte, en los conventos o monasterios, únicos centros
en donde se habían refugiado las artes y las ciencias en esta época.” (p. 22). Os cantares de
gesta tinham o dever de contar as histórias dos heróis, donde sua popularidade. O uso dos
cantares de gestas pelos religiosos, que dominavam a versificação, passava pelo desejo deles
de retomarem o prestígio narrativo à vida dos santos ou de Jesus ou Maria. Nasce o “mester
de clerecía” com Gonzalo de Berceo, e tem as características: ser narrativo e legendário (1);
“moralizador y didáctico” (2); ter a forma cuidada y bella. Mas Gutierréz afirma que, salvo o
“Libro de buen amor”, não têm o valor literário do Poema de Mio Cid.
GONZALO DE BERCEO
Los Milagros de Nuestra Sennora. -- Gutiérrez diz ser a obra de maior valor e extensão. No
poema, 911 milagres são somados dos quartetos; “es uma alegoría llena de ingenuidad y de
poesía”, a devoção a Maria alcança neste poema “alturas pocas veces igualadas en la literatura
mariana”. “La fe en Dios y la devoción por la Virgen, quien intercede en favor de sus fieles,
salvan siempre, en el momento final, a todos los pecadores.” (p. 25).
Últimas críticas de Gutiérrez. -- Toma os modelos latinos, mas “Modestamente, dice que
escribe sus ‘dictados’ em romance, y no en latín, por no ser ‘muy letrado’.” (p. 25). Afirma
que Berceo ilustra bem o desenvolvimento da língua desde o Poema de Mio Cid, com já
formação de conceitos e construções no idioma (“aún tosco”). Provincialismo do Barceo que
inicia a poesia devota na Espanha: “Su lenguaje no se destaca por su pureza, sino por la
energía del concepto y por su espíritu regional.” (p. 25) [Feligreses; paroquianos]. Segundo
Gutiérrez, há versos de Berceo que são joias de perfeição, porém, o método da cuadernavía
(ou cuarteta monorrima) impediria muito a permanência disso, pela monotoneidade das
estrofes e extensão do poema, por vezes apelando a prosaísmos. Porém, há a capacidade de
narrar e de descrever com “gracia y colorido”: “Es un poeta candoroso y rústico, que habla a
un auditorio de feligreses, de gente de aldea, también rústica y candorosa como él.” (p. 25).
Libro de Apolonio. -- De um códice escurialense, foi feito em meados do século XIII, com
mais de 2.600 versos, sendo de autor anônimo. O tema é tirado de uma novela grega
(seguindo o estilo das novelas bizantinas, “ricas en intrincadas aventuras y de pura
invención”), sobre a separação do rei de Tiro de sua família. Pioneiro no uso dos alexandrinos
monorrítmicos ou “cuadernavía”, seria modelo aos versificadores Mester de Clerecia.
Libro de Alexandre. -- São 10.000 versos de uma história imperfeita e em verso de Alexandre
Magno. Segundo Tomás Antonio Sánchez (que exumou o códice desse poema), foi escrito em
meados do século XIII. Autoria inicial foi dada a Berceo; depois, para Juan Lorenzo, de
Astorga. Gutiérrez ressaltou a versificação irregular (e predomina a “cuadernavía”) e tomou o
juízo de Sáchez sobre o Poema, em que afirma que o autor tinha talento para a poesia,
adornando-a com imagens, o que só é ofuscado atualmente pela linguagem antiga que oculta
“lo que de suyo es hermoso y brillante”.
Poema de Fernán González. -- Provavelmente foi escrito nos tempos da cruzada de São Luiz,
por um monge de Arlenza, e leva interrupções na narrativa que tornam obscuro o texto. Usa-
se o quarteto monorrítmico, nessa narrativa do primeiro conde de Castela, Fernán González.
Poema de Yusuf. -- É um poema sobre a história (referida no Alcorão, cap. XI) de José, filho
de Jacó, e pertence à “literatura aljamiada” (escrita em caracteres arábicos). Está conservado
na Biblioteca Nacional de Madrid.
Daban olor sobeio las flores bien olientes, [sobeio: com exceso]
Nunqua trobé en sieglo logar tan deleitoso, [trobé: encontré; en sieglo: en el sieglo]
descargué mi ropiella por iaçer más viçioso, [Ropiella: ropilla; viçioso: cómodo]
Unas tienen la quinta, e las otras doblaban, [la quinta:intervalo que consta de tres tonos y um semitono
[mayor
otras tienen el punto, errar non tas dexaban, [el punto: nota fundamental]
Non serie organista nin serie violero, [violero: tocador de viola o vihuela]
nin giga nin salterio, nin manoderotero, [giga: instrumento de arco de tres cuerdas; manoderotero: el que
toca la rotam instrumento de cuerda, hoy desconocido]
nin estrument, nin lengua, nin tan claro voçero, [voçero: cantor]
en qui Dios tan grant graçia, tan grant bendiçion miso [miso: metió, puso]
el que crió tal cosa, maestro fue anviso; [anviso: sabio, inteligente, avisado]
Omne que hi morasse, nunqua perdrie el viso. [perdrie: perdería; viso: vista]
El fructo de los arbores era dulz e sabrido,
GONZALO DE BERCEO.
(Versión de Florencio Janer, Poetas castellanos anteriores al siglo XV, 1921 [p. 35-37]).
A POESIA LÍRICA
Para além da literatura épica e de juglar ou clerecía na Espanha Medieval, houve também a
literatura lírica (canciones e villancicos) que foram recolhidas em cancioneros.
Obras primitivas. -- Disputa del alma y el cuerpo: escrito entre o século XII E XIII, o
argumento constitui “un símbolo de la tragedia humana” no medievo, onde a alma reclama do
corpo a vida sã que deveria ter tido para que ela não fosse condenada. Razón de amor con la
disputa del agua y el vino: Influência franco-provençal; é uma joia da lírica: primeira parte
“Razón de amor” é poesia; segunda, “disputa del agua y el vino”, uma disputa como as da
época. Elena y María o Disputa del clérigo y el caballero. -- Amores de comparados, um do
clérigo (letrado), outro do cavaleiro; sendo não só o tema franco-provençal, como a
versificação.
Escola provençal. -- Mais usado na região de Levante (Cataluña e Aragón). “Esta poesía es
erudita, aristocrática y cortesana, y gira siempre en torno a temas de amor.” (p. 28).
Versificação no “verso de arte maior”, com estrofe complexa. Escola galego-portuguesa. --
Essa arte de Galicia e Portugal também se inspirou na lírica provençal, e alcançaria seu cume
no reinado de Afonso, o Sábio. Os temas: nacionais, menos tradicionais, e com o tratamento
do amor pelo sentimento de melancolia: o estilo é o da poesia popular. A versificação em
“verso de arte menor”. A lírica castelhana. -- Sem difusão até o século XV; organizaram-se na
corte de Castela e de Leão. A escola chamada dos “Trovadores Castellanos” (desenvolvida no
século XV) demonstra a lírica castelhana, que se inspirou tanto na escola provençal e sua
métrica (verso de arte maior, com a estrofe de “oitava”), como na escola galego-portuguesa e
sua métrica (disposição métrica em coplas de pé quebrado: em que são alternados versos
octossílabos e tetrassílabos; se o octossílabo for agudo, é alternado com trissílabo).
Gutiérrez afirma que, a despeito da falta de fontes para se estudar o início do teatro medieval
na Espanha (cita só Las Partidas), pode-se inferir como teria surgido o teatro espanhol a partir
de outras evoluções da dramaturgia na Europa. Esse teatro surgiria como complemento das
canciones de gesta e se destinaria à instrução nos ofícios litúrgicos (a dramaturgia dos ciclos
solenes, Natal, Páscoa e Ressurreição). Algumas das festas francesas (Limoges, Orleáns, etc.)
contavam com os misterios, moralidades, milagros e autos; por exemplo, os monges de Cluny
(que chegaram à Espanha em 1033, por ordem de Alfonso VI) introduziram na Península os
misterios. [Misterios , “4. Lit. En la edad media, obra de teatro de tema religioso, en la que
intervenían Dios, los santos, los ángeles y el diablo.” Diccionario Larousse de la lengua
española.] No início, eram encenadas dentro da igreja, com a participação de sacerdotes-
religiosos (a evolução foi desde o padre sozinho a dialogar com o povo, até a constituição de
um grupo de personagens), mas logo seriam proibidas as representações na igreja e a
participação dos padres (por papa Inocêncio III, no séc. XII). Por outro lado, houve também
um teatro profano, relembrando as ruínas dos antigos teatros romanos da Península, em
Bigastro, Medellín, Sagunte, Toledo, Sevilla, Itálica, Mérica, etc. O gênero encenado no
teatro profana chamava-se juegos de escárnio, e foram registrados (só o nome) em Las
Partidas de Alfonso el Sabio, onde este deixa claro como eram esses “juegos” mal vistos.
Gutiérrez (p. 31-32, rodapé) cita Nicolás Coronado, afirmando que o teatro espanhol seria
uma continuação do teatro romano e profano que perdurara entre a dominação islâmica e
coexistira na Idade Média: “Nacieron, entonces, los himnos, los graves y armoniosos cantos
litúrgicos, los sermones ilustrados con rápidas escenas teatrales, em los que los misterios de
los siglos XII y XIII se hallan en gérmen.” (idem, p. 31). Os dramaturgos do teatro profano
tiveram sua origem nos trovadores, que se uniam aos jograis nos divertimentos da época.
O Auto de los reyes magos. -- “Es la obra más antigua de carácter teatral de la literatura
española, así como el Poema de Mio Cid lo es de) género épico.” (p. 31). Está conservado na
Biblioteca Nacional de Madrid e foi provavelmente escrito no século XIII. A obra está
incompleta, com apenas o início, de 147 versos, e foi provavelmente escrita por um clérigo
para os ofícios da Adoração, mas apresenta dependência de textos litúrgicos em latim. Gaspar,
Melquior e Baltasar, cada um em uma cena, monologam sobre a Estrela condutora; depois de
acompanharem-se pela direção dela, encontram Herodes que discute com os seus sábios a
respeito do nascimento do “criador”; a obra, interrompida, termina com dois rabinos
discutindo a profecia disto nas escritas. A sua versificação tem várias medidas (de seis a
dezesseis sílabas), o que, segundo Menéndez y Pelayo, exemplifica a tendência “polimétrica”
que caracterizara o teatro espanhol.
O REDONDILHO
O redondilho é, para S. Spina, um verso tipicamente ibérico, que se divide em dois tipos: as
redondilhas menores (versos pentassilábicos) e as redondilhas maiores (versos
heptassilábicos). A redondilha maior inicialmente chamara-se de “verso de arte real”. São
classificadas duas “artes” na métrica: a “arte menor” (ou arte menor, no sistema castelhano)
são os versos de sete ou oito versos ou menos nos respectivos sistemas; e a “arte maior” (ou
arte mayor, naquele sistema) são os versos de oito ou nove sílabas ou mais nos respectivos
sistemas. Claro que há uma diferença na escansão dos versos em cada sistema: enquanto as
sílabas métricas no sistema luso-brasileiro são contadas até a última sílaba tônica do verso, as
mesmas no sistema castelhano se contam até a tônica e mais uma sílaba; e, se for um verso
agudo (rematado em sílaba tônica), contará mais uma sílaba igualmente. É um verso
heptassílabo, septissílabo ou redondilho menor, este de Manuel Bandeira: “Vou-me embora
pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei”.
A acentuação do redondilho maior recai (afora a última) na segunda, terceira ou quarta sílaba.
Diz Spina (p. 36) que “o redondilho pentassilábico é o tipo de verso mais curto usado pelos
trovadores”; é acentuada no quinta sílaba e também na segunda ou terceira. “O verso
pentassilábico, também usado nas bailadas, foi assimilado mais tarde pela poesia popular
espanhola, nas saborosas seguidilhas” (p. 36). Porém, a respeito do seu uso nas estrofes
isossilábicas (isto é, as que têm idêntico número de sílabas métricas): “... o pentassilábico só
readquire a sua independência entre os poetas virtuosos do século XV, que se utilizam dele
em estrofes com outras de metros diferentes, mais longos ou mais curtos” (p. 37).
Octossílabos todos esses de Dom Denis, mas com a acentuação dum redondilho maior:
Na poesia satírica, de escárnio e maldizer, “o redondilho maior aparece com muita frequência,
bem como nos cantares d’amigo mais antigos” (p. 38). Segismundo Spina argumenta que a
importância desse verso é tamanha que, nos séculos XV e XVI, influenciará na formação
duma nova estrofe, chamada “redondilha” -- uma “forma redonda” com uma cauda ou volta
final e um argumento estrófico chamado “mote” --, de que se compunham o vilancete, a glosa
e a cantiga.
LÍRICA LUSO-GALEGA
Sobre a falta de manuais de versificação na escola luso-galega da trova medieval: “...a poesia
dos trovadores galego-portugueses dos séculos XIII e XIV apenas nos deixou um esboço de
arte versificatória imperfeito e mutilado que vem apenso ao Cancioneiro de Colocci-Brancuti,
anônimo e sem título, provavelmente contemporâneo das Leys d’Amors (1356).” (p. 107).
A poesia lírica provençal iria influenciar a corte galego-portuguesa a adotar uma lírica cortês,
o que renegaria a poesia folclórica; mas prevaleceu em muito o lirismo autóctone, como no
uso dos versos corais com refrão ou os paralelismos no poema. As composições que mais se
aproximavam ao ambiente palaciano e ao amor cortes chamavam-se cantigas d’amor, as
tradicionais e mais próximas ao espírito burguês que florescia com temas populares, cantigas
d’amigo; entre esses dois eixos temáticos, as cantigas de maestria diferiam-se por não
apresentarem estrutura coral, das ditas “cantigas de refrão”. Nas de “amigo” a mulher era a
protagonista em chorar a perda do amor, o que gerava uma “inversão do binômio erótico”.
2. Elementos de estrofe. -- O número de versos varia entre dois e dez, nas estrofes mais
frequentes do dístico e da quadra; também ocorrem os trísticos, as quintilhas e as sextilhas. Há
cantigas paralelísticas que usam até oito cobras, a despeito do recomendado limite de três
cobras. Quanto à rima, era utilizada mais a monorrima no poema ou a sequência regular de
rima a cada duas estrofes. A primeira era chamada (na lírica provençal) de coblas unissonans;
havia também o uso da variação rímica entre as estrofes, chamada coblas singulars; e aquela
regularidade rímica a cada duas estrofes, as coblas doblas. “A rima consoante é a mais
utilizada; porém, nos cantares de feição folclórica, a assonância pode ocorrer, e composições
há em que os dois tipos de rima podem competir (como na tão conhecida cantiga de D. Dinis,
“Ay flores, ay flores do verde piño” (...)” (p. 110). O enjabement também é frequente nas
trovas. Nas cantigas d’amigo e em trovas populares era comum o uso do redondilho (o
menor, mais popular), e o uso no máximo de dezesseis sílabas. As cantigas d’amigo (embora
também tivessem tido redondilhos) e a poesia culta preferiram octossílabos e decassílabos
jâmbicos. Octossílabo heterométrico. -- A heterometria ocorria aquando da junção de versos
agudos e graves de mesmo número de sílabas. Rodrigues Lapa defende que o octossílabo
apareceu pela evolução do verso de dezesseis sílabas, que era dividido em hemistíquios de 7 e
8, como nesta quadra de Don Dinis:
-- (p. 111).
LÍRICA HISPANO-PORTUGUESA
A lírica espanhola é dita praticamente inexistente antes do primeiro cancioneiro (de Baena,
1445), representada nas versificações das lendas dos milagres marianos por Gonçalo de
Berceo (Miraclos de Nuestra Señora) e Alfonso X o Sábio (Cantigas de Santa Maria). O
poema de Afonso X pertence à literatura lírica galego-portuguesa. Já o poema de Berceo, tem
métrica e estilo assemelhados à poesia épica castelhana – era um mester de clerecía, em cujos
textos estavam a regularidade métrica dos primeiros épicos e o bucolismo das contemplações
marianas. De suas influências, Spina (p. 158) situa o ambiente da lírica medieval peninsular,
bem como sua fonte temática, na vida palaciana e cortesã, a qual oscilava entre as influências
da nobreza e da burguesia, nas cortes de D. João II (1419-1454) na Espanha e de D. Manuel
(1521) em Portugal. Sobre a nobreza nos paços: “(...) a poesia de todo um século (desde o
Cancioneiro de Baena, 1445, até ao Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, 1516),
passando pelos poetas do gótico florido da corte de D. João II (Juan de Mena, Marquês de
Santillana), reflete essa convergência de fatores culturais e literários.” (p.158-159). A
influência francesa, diz Spina, seria toda ocupada pela poesia alegórica de Dante, a lírica de
Petrarca, a novela sentimental de Boccaccio, o humanismo renascentista, o neoplatonismo de
Florença e a cultura dos clássicos. O único manual de versificação que sobrou é o Arte de
poesía castellana, de Juan del Encina, que misturou os preceitos clássicos na poesia
castelhana; esse livro está publicado no volume III de Historia de las Ideas Estéticas em
España, de Menéndez y Pelayo. O pé era um verso, que é contado como um conjunto de
“pés” (ao modo clássico); a copla era de um verso, se este tinha até seis pés, e de dois versos
se fossem mais de seis pés. No cap. IX Encina fala de dois tipos de pés: o pé de arte real e o
mote da composição. O mote distinguiria o vilancico da canção: o primeiro, de até três pés; o
segundo, com mais. O Cancioneiro de Baena tem duas tendências de estilo e versificação em
sua antologia: a primeira corresponde ao seguimento da tradição galego-provençal, com seus
metros (redondilho maior) e temas; a segunda, à métrica mais italiana (Dante, com o uso da
“copla de arte maior”, com oito versos hendecassilábicos no ritmo datílico e rima em
abbaacca. Essa estrofe foi muito usada por Pero López de Ayala (1332-14070), em poemas
de estilo alegórico. O Cancioneiro em si distingue decires e cantigas. Sobre as cantigas aí
presentes: <(...) processos que seriam típicos da cantiga (como sucessora da cantiga de
maestria galego-portuguesa) são encontráveis, às vezes mais freqüentemente, nos decires --
tal como a fiinda, a curta extensão poema etc.> (p. 161).
No séc. XV, em poetas doutros cancioneiros, as formas fixas do poema -- como a canção e o
vilancico -- são as preferidas, de modo que: <(...) se oferece modificação de vária espécie na
arte poética: os velhos processos do leixa-pren, do dobre e do mordobre, da arte de macho e
fêmea [vide: Alvaro, señor bendito, /Leal persona bendita, /Non vos pesse que rrepita. /Algo
que yo aqui rrepito ,/ Mas guardat me del maldito, /Lengua susia, vil, maldita. (Canc. de
Baena, 183)] (...) são postos de lado, bem como a maestria mayor (correspondente das coblas
unissonans da poesia provençal).> (p. 162).
Na arte versificatória da poesia portuguesa dão-se duas espécies de poema: 1) os poemas com
mote: vilancete (villancico: Santillana, foi o primeiro que utilizou o termo, significando
“poema à volta de um refrão rústico ou tema rústico”), cantiga e glosa; e 2) os poemas sem
mote: a trova, a esparsa, o romance e o epigrama.
Cantiga. -- <a) a cantiga tem o refrão (ou mote) mais longo: (quatro ou cinco versos); b) é
mais curta estroficamente, comportando normalmente uma estrofe (...); c) a cantiga é uma
forma essencialmente cortês e erudita, e quase exclusivamente reservada a temas amorosos.>
(p. 166-167). À “concentração do tema” em uma única estrofe (finalizada pela “volta”),
segue-se-lhe uma copla em oito versos, se o mote tem quatro, ou em nove versos, se o mote
tem cinco. Há uma “estrutura escolástica” na cantiga: à proposta do tema segue-se <um
comentário, variação ou explicação (mudança ou fronte) e uma conclusão (volta)> (p. 167).
Conforme à “volta”, a cantiga será imperfeita (a) se não tem “cauda-volta”; perfeita (b) se
retoma as rimas do refrão (no processo abba/ cdcd/ abba) ou retoma uma ou todas as
palavras-rimas do refrão. Também se pode repetir o último verso do refrão na parte da
“cauda-volta” da copla.
2. “Alfonso el Sabio”. -- “Fue, también, el Mecenas más rico que tuvo nunca España,
y la protección que dispensó a eruditos y sabios convertió a la España de esta época en un
centro de cultura superior, cuya influencia se irradió por toda Europa occidental.” (p. 40).
Precursor do homem polímata da Renascença, viveu nas suas cortes em Toledo, Burgos e
Servilha, onde se desenvolveram as Academias de Medicina e Astronomia. “Alfonso, en
efecto, oficializó el idioma castellano, prohibiendo que adelante los documentos públicos se
escrebieran en latin y por eso se le considera como el padre de la lengua castellana.” (p. 41).
No Libro de las esferas, explica como corrigiu seu castellano: “Tachó las expresiones que
entendió eran estranjeras o improprias y que no estaban em castellano correcto, y las
reemplazó por las que correspondían: y en cuanto al lenguaje, lo corregió de su próprio puño
y letra.” (p. 41). “Su vida”. -- Nasceu em Burgos, em 1221, filho de Fernando III, o Santo, e
de Beatriz da Suábia, (ascendência esta que lhe levaria a requerir o trono da Alemanha,
motivo que lhe levou a guerras e à ruina), sucedeu seu pai em 1252. A sua briga pelo
território alemão envolveu o papa Gregório X, seu filho Sancho (que ascenderia à coroa com
o nome Sancho IV) e seu irmão Don Fadrique , que o tentou matar. Cansado da guerra, e já
pobre, morreria de desgosto em 1284.
El infante don Juan Manuel. -- Foi dito por Menéndez Pidal que ele continuou as tradições
literárias de seu tio, Afonso X o sábio, tendo sido um grande prosador na arte do contar, da
narrativa castelhana. Nasceu em Toledo, na Escalona, em 1282 e morreu em 1348. Filho de
Dom Manuel, irmão de Afonso o Sábio, e de Beatriz de Saboia; mas ficou órfão do pai com
pouco mais de um ano. Teve, pela mãe, uma esmerada educação que não conseguiu ser
ofuscada pela grande carreira diplomática e guerreira que alcançaria. Foi historiador, poeta e
moralista, tendo produzido uma vasta obra na língua romance que não chegou completa até
nós. Obras: PUBLICADAS: 1. Libro del caballero et del escudero, um diálogo, com 51
capítulos, sobre a educação do cavaleiro. O enredo é o de um cavaleiro que antes de
estabelecer seu reino consulta um sábio e velho ermitão que lhe dá conselhos de “profunda y
elevada filosofía”. 2. Libro de la caza, um tratado de falcoaria, de 1325-1326. 3. Libro de los
estados del infante (1330), são 150 capítulos, de conduta moral a um príncipe, onde se faz
descrição perfeita das classes sociais no séc. XIV. Outros: Tratado sobre las armas (1334),
sobre sua linhagem e heráldica; Libro de los castigos et consejos, o Infinda (1334), conselhos
ao neto D. Fernando; Las maneras de amor, um tratado da amizade encomendado ao monge
Juan Alfonso; Tractado en que se prueba por razón que Santa María está en cuerpo et alma
en Parayso.
8. El libro de los enxiemplos del conde Lucanor et de Patronio (1328 a 1335). -- Trata-se da
primeira obra de caráter novelesco, escrita magistralmente no castelhano, com importância na
língua. Conhecida como El Conde Lucanor foi publicada em Sevilha em 1575. Argumento: o
onde Lucanor, desejando “obrar siempre cuerdamente” aconselha-se com Petrônio, que lhe dá
“enxiemplos” ou apólogos (49 no total), a cada caso, que são terminados por versos em
parelhas. São quatro partes, sendo intensificada a forma didática na terceira e quarta. As
fontes origem oriental são constantes, como a Bíblia e o Panchatranta; precede em treze anos
o Decamerão. Juan Manuel advoca um estilo simples e sensível, sem os ornamentos que
podem distrair o leitor da história, assumindo sua identidade artística, como conta: “Sabed que
todas las razones son dichas por muy buenas palabras et por los más fermosos latines que yo
nunca oí decir en libro que fuese fecho en romance.” e sobre a sobriedade na expressão “...et
poniendo declaradamente complida la razón que quiere decir, pónelo en las menos palabras
que pueden ser.” (GUTIÉRREZ, 1959. p. 49).
A obra La crónica abreviada, inédita, é um resumo que fez da Crónica general de seu
tio Afonso o sábio. Uma obra perdida de D. Juan Manuel foi o “Libro de cantares o de las
cantigas, colección de sus poesías, cuya pérdida es, por muchos motivos, lamentable, y del
cual se sabe que existía a media_ dos del siglo XVI. Se sospecha que el Infante, además de
eximio progigta, era un poeta, maestro en el arte de trovar.” (p. 50).
EL LIBRO DEL BUEN AMOR. -- 1) Introduções. O título hoje consagrado da obra provém
de Menéndez Pidal que o retirou da estrofe 13: Tú, Sennor Dios mio, que el homen crieste,/
enforma e ayuda a mí, el tú açipreste,/ que pueda fazer um libro de buen amor aqueste,/ que
los cuerpos alegre, e a las almas preste. O livro tem sua abertura com invocação a Deus e à
Virgem Maria, seguida de explicações à obra, de seu propósito; didática: “reduçir a toda
persona a memoria buena de bien obrar, et dar ensiempro de buenas costumbres e castigos de
salvación: et porque sean todos aperçebidos, e se puedan mejor guardar de tantas maestrias
como algunos usan por el loco amor”; tem toques autobiográficos como novela picaresca;
além de oferecer sua arte versificatória: “dar algunas lecçiones del arte de metrificar et de
rimar et de trobar”. A personagem principal, o próprio Arcipreste, deve enfrentar uma luta
interior no mundo entre o amor a Deus, “el buen amor”, e o amor carnal, ou “loco amor”. 2)
Desenvolvimento. Segundo Menéndez y Pelayo, há as seguintes interpolações: 1.
“Enxiemplos” ou apólogos que se ilustravam as lições; 2. Comentários ou paráfrases ao Arte
de Amar, de Ovídio; 3. O mesmo que “2.” ao Pamphilus; 4. “Batalla de don Carnal y de doña
Cuaresma”, um poema burlesco; 5. Sátiras várias; 6. Poesias líricas, entre cantigas da Virgem,
sagradas, e cantigas serranas e villancicos serranos, profanas; 7. “Digressões morais”.
Segundo Gutiérrez, a originalidade da obra reside em seu caráter autobiográfico, onde o poeta
expõe sua personalidade marca e forte, que se situa conflituosamente num mundo em que se
divide entre as leviandades amáveis e as verdades morais respeitáveis. 3) Versificação:
“Todos los metros (más de dieciséis, en total) y todas las combinaciones métricas conocidas
en la época, están empleados en la obra, en la que también el autor se habría propuesto como
lo dice en la explicación preliminar -— enseñar el arte de versificar a sus lectores. Predomina,
no obstante, la estrofa de cuatro versos alejandrinos monorrimos o ‘cuadernavía’, propia del
‘mester de clerecía’(...)” (p. 53). Gutiérrez também aponta ao realismo da obra, onde se
representa: “Judías, danzaderas moras, rigos, monjas y toda clase de gentes, agí encumbrados
como humildes son presentados por Juan Ruiz ‘con la implacable exactitud de un Velázquez’,
según Fitzmaurice-Kelly, quien agrega: ‘son cuadros de hermosa crudeza, debidos a un
maestro que amaba y despreciaba al mismo tiempo la farsa enloquecedora del mundo’.” (p.
54).
Rimado de Palacio ou Rima de las maneras de Palacio. “Recuerda más al hombre de Estado
que al poeta”. -- Nessa espécie de tratado que López de Ayala escreve aos nobres e reis de um
Estado, mostra as formas de ordená-lo, dirigindo-se a eles com certa autoridade. Gutiérrez o
distingue do Arcipreste de Hita (que escrevia a modo de crônica, menos que de tratado), pois
este tinha algo de benevolente ou bem humorado frente aos erros da época, ao passo que
López de Ayala mostrou-se intransigível e por vezes melancólico. É característico de López
de Ayala nesses versos o uso de uma poética purificada e castelhana, isto é, que rejeita as
influências provençais e alegórico-italianas, ficando com o “mester de clerecía”. A
versificação se distribui em 1.609 estâncias ou coplas, predomina a “cuardenavía”; os versos
variam de 16 a 8 sílabas, mas predomina o alexandrino (de catorze).
Obras em prosa. -- 1. Crónica de los Reyes de Castilla. -- Nesta obra, de influência e filiação
latinas (traduziu do francês as Décadas, de Tito Lívio), diz Gutiérrez, López de Ayala narra a
história de quatro monarcas aos quais serviu como chanceler de Castela; sua inovação no
cronismo é introduzir o diálogo. 2. Dc la caza de las aves, et de sus plumajes, et dolencias et
melecinamientos, o Libro de cetrería (1386), foi inédito até o ano 1869. 3. -- Historia del
linaje de Ayala et de las generaciones de los señores que fueron dél.
Pularemos o capítulo III, sobre a transição da literatura medieval para a pré-clássica, para a
leitura dos capítulos IV e V: “El Renascimiento y Humanismo” e “El Siglo de Oro: poesía”.
OS HUMANISTAS
Ademais. Os versos são ditos astrophos quando todos caem debaixo uma consonância,
como acontecia com os cantares ditos romances. E a sílaba que sobra na métrica de um verso
se chama hipermetro; quando há falta, há um cataléctico, verso com escassez; todavia, em
ambos os casos, temos versos cacômetros (mal medidos). Se não há falta nem sobra nos
versos, tem-se versos orthometros.
JUAN DE VALDÉS
1. Diálogo de Mercurio y Carón (de 1528). -- É uma sátira religiosa, que critica os
vícios da Igreja da sociedade da época; tem forte influência de Erasmo e Luciano e lembra as
danças da morte medievais. Carón pelo lago Estigia várias autoridades e ali satiriza seus
costumes e vícios. Escrito em castelhano, já anuncia o auge a que o autor levará o idioma.
2. Diálogo de la lengua (de 1535, mas só foi impresso em 1737 e sem o nome do
autor), tem quatro interlocutores, os espanhóis Valdés e o soldado Pacheco e os italisnos
Marcio e Coriolano. Fala das origens do castelhano e sua qualidade e estilo, discorrendo sobre
2
“Sin embargo, donde actuó durante casi toda su vida fué en Italia, y particularmente en Nápoles. Allí tuvo, en
materia de religión -- fue uno de los más conspicuos protestantes de su época, y precursor, en cierto modo, de los
cuákeros -- sus primeros adeptos, llegando a ampliarse considerablemente el número de los mismos. “El grupo
fuué creciendo – dice J. Morelo Villa en el prólogo de la obra citada (Diálogo de la Lengua, Madrid 1919) en la
nota anterior --; los adictos a Valdés llegaron a tres mil en Nápoles. En él figuraban nobles, canónigos,
embajadores, monjes, escritores”. “La doctrina valdesiana – agrega el mismo autor --, iba, luego de los cultos, a
los burgueses y a los campesinos. Las reuniones tenían lugar casi siempre en el palacio de Julia Gonzaga, viuda
de Vespasiano Colonna, o bien “en una quinta situada en Chiaja, cerca de Parílipo, a la orilla del golfo”. “Allí --
dice Moreno Vila --, congregaba Valdés todos los domingos, un número selecto de sus íntimos. Después de
almorzar vagaban por los jardines, recreaban sus ojos en la reverberante bahía, en la isla de Capri. Luego, ya en
la casa, Valdés leía y comentaba las Sagradas Escrituras, hacía sus ‘divinas consideraciones’, y por la tarde le
quedaba ingenio aún para responder a los temas libres que sus amigos proponían. Así, insensiblemente nació el
Diálogo de la Lengua; como de los comentarios y glosas matinales nacieron Las ciento y diez consideraciones.”
Sobre Juan de Valdés consúltese a Marselino Menéndez y Pelayo: Historia de los heterodoxos españoles,
(Madrid, 1880-82), tomos II y III; (…)
Sobre los orígenes del castellano. -- Marcio pede a Valdés que lhe esclareça onde
tiveram origem as línguas que se falam hoje na Espanha, especialmente a castelhana. Valdés
toma por pressuposto que conhecer as origens da língua é saber notícias suas de antes que os
romanos dela se assenhorearam; desse modo, percebe que houve invasões dos godos, os
romanos e os mouros, ainda que a principal influência seja o latim. “Lo que la mayor parte los
que son curiosos destas cosas tienen y creen es que la lengua que oy usan los vizcaínos es
aquella antigua española.” Isto seria pelo fato de que os romanos não conseguiram dominar os
Países Vascos e lá remanesce o caráter originário de seu falar: “Por donde se tiene casi por
cierto que aquella naçión conservó juntamente com la libertad su primera lengua”. Todavia,
diz que lendo mais chegou a outra conclusão: a língua grega era que se falava antes, assim
como a latina é que, com as naturais mudanças, se fala inda hoje. Chegou a isto após ler que
os gregos dominaram Espanha e deixaram sua língua, com a qual travavam comunicação com
tantos outros que acabavam por aceitá-la; a segunda causa é a de palavras sem origem latina
ou arábica e que seriam gregas, a concluir-se que o grego era falado consoante os hábitos de
dizer naturais: “... quedaron tambíen algunas maneras de dezir, porque, como sabéis, el que
habla en lengua agena siempre usa algunos vocablos de la suya propria y algunas maneras de
dezir, porque, como sabéis, el que habla em lengua agena siempre usa algunos vocablos de la
suya propria y algunas maneras de dezir”.
Um outro autor da época foi Francisco Sánchez de Las Brozas ou o Brocense (1523-
1600), natural de Las Brozas (Extremadura), que estudou em Salamanca e aí ditou grego e
retórica; era um eramista e escreveu em latim e castelhano. Foi comentador de Garcilaso de la
Vega, escrevendo Anotaciones y enmiendas a las obras del excelente poeta Garci-Lasso de la
Veja, de 1574; censurou às vezes a falta de originalidade de Garcilaso. Menéndez y Pelayo,
em Los Heterodoxos em la Literatura Española, chamo-o “padre de la gramática general y de
la filosofía del lenguaje” -- “como humanista es para mí hombre divino”.
b) Filósofos y moralistas