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23/10/2021 -- Nilópolis (RJ).

GUTIÉRREZ, Fermín Estrella. Historia de la literatura española. Buenos Aires: 1959,


Editorial Kapelusz. Capítulo 1: Poesía Épica y Religiosa Medieval (pp. 1- 38).

ÍNDICE: Origen y formación del castellano. -- Orígenes de la poesía épica. -- El “mester de


juglaría”. -- El Poema de Mio Cid. -- Otros poemas de gestar. -- El “mester de clerecía”. --
Gonzalo de Berceo. -- Otras manifestaciones del “mester de clerecía”. -- La poesía lírica. --
Los cancioneros. -- Orígenes medievales del teatro español. -- El Auto de los Reyes Magos.

ORIGEM E FORMAÇÃO DO CASTELHANO

Língua (ou literatura) espanhola ou castelhana? -- Desde o sentido das palavras, literatura
castelhana é o estudo das obras escritas em língua castelhana, enquanto a literatura espanhola
é o estudo das obras feitas em Espanha. Ainda que haja obras compostas em outros dialetos
no território espanhol – como no galego, o basco, o catalão, o valenciano, o bable/asturiano,
etc. --, poucas delas integram o cânone literário, por causa do avassalamento ao castelhano, e
daí persiste a narrativa oral.

Do nome “castelhano”. -- Por razões históricas, o castelhano prevaleceu sobre as outras


línguas peninsulares. De Castilla, também chamada castiella ou castella, provém o nome
castellano. A região está encerada entre os Montes Cantábricos e o Duero, entre os reinos de
León e de Navarra; era dependente do reino de Astúrias, depois foi de León. A princípio era
uma região com muitos castelhanos e daí seu nome. Os governantes eram nomeados pelos reis
de León e resistiram na região durante a reconquista contra os árabes, por isso chamavam-se
de adelantados, por conquistarem um território, ganhavam as terras e o título de nobreza para
gorvenarem-na. O grande unificador da região foi Fernán Gonzáles (? -- 968), o “terror dos
mouros”, que unificou os condados em um só, e fez com que sua nobreza se passasse
hereditariamente. Quando seu bisneto García morreu, o condado de Castilla passa ao domínio
do reino de Navarra, em 1027. A unificação dos reis cristãos na Península dar-se-ia pouco a
pouco, até ficarem somente três reinos: Castilla, Portugal e o reino mouro de Granada.
Castilla tornou-se reino em 1035, após morrer o rei de Navarra, e seu primeiro rei foi
Fernando I, el Grande, quem se casou com dona Sancha, herdeira do reino de León, e assim
pôde unificar os dois reinos. Logo conseguiu hegemonia entre os reinos cristãos, chegando ao
sul e retomando território dos árabes. Quando Isabel de Castilla casa-se com Fernando de
Aragón, tem-se a unificação dos reinos espanhóis e a constituição da nação.

Os idiomas peninsulares frente ao latim. -- Os povos nativos de Espanha foram os íberos e os


celtas, tornando-se mais tarde os celtíberos. Conforme se registraram, as ocupações do
território ibérico ao longo da história foram: os fenícios, nos séculos XVI a XV a. J. C.; os
gregos, a partir do século VIII a. J. C.; os cartaginenses, nos séculos IV-III a. J. C.; e, por
último, os romanos, de 206 a. J. C. a 409 d. J. C. E, ainda assim, durante a Idade Média, foi
invadida pelos bárbaros (409-711) -- a invasão dos visigodos comandada por Ataúlfo é de 414
– e os árabes, que permaneceram no território de 711 a 1492.

Após a invasão romana, no século III a. J. C., os idiomas falados pelos habitantes, como o
celta, a íbera, a celtíbera e o basco, foram dominados pelos latinos e
bastardeados/abastardeados, até que este se hegemonizasse. Havia três formas do latim: a) o
latim clássico ou sermo nobilis, falado pelos poetas e prosadores; b) o latim urbano ou sermo
urbanus, falado pelos cidadãos e patrícios; e c) o latim vulgar ou sermo vulgaris, falado pelo
povo. Em Espanha, entrou o latim vulgar, que vinha com os legionários e colonos.1

O latim na península. -- Tanto as invasões bárbaras como os árabes introduziram


modificações nos dialetos locais e na sintaxe. O que se falava então era um latim hispanizado,
e tais invasões marcaram-lhe, com os godos, o vocabulário e a sintaxe, e, com os árabes, só a
sintaxe. Um mapa linguístico da península seria: ao oeste, o português e o leonês; ao leste, o
aragonês e o catalão; no centro, o castelhano. À medida em que avança a Reconquista, o
castelhano estende-se para o sul e vão-se isolando alguns dialetos afins.

Origem do romance (“hablar a la romana”). -- Trata-se do idioma que começou a falar-se em


Castilla e que se chamou romance, que provém de Roma. Houve dois romances: a) o romance
popular, usado a partir do século VIII, do qual não restou nada; b) o romance literário, usado
no século XII, que é o idioma do Poema de Mio Cid. Com efeito, até o século X, somente o
chamado “baixo latim” empregava-se na escrita por eruditos; mas nele se percebem
expressões romanceadas.

Documentos para o estudo das origens do romance. -- Ramón Menéndez Pidal (El idioma
español en sus primeros tiempos) menciona duas fontes sobre a origem do idioma espanhol:

1
Diz Ramón Menéndez Pidal: “Este latín vulgar se distinguía principalmente en la tendencia a expresar por
perífrasis lo que en latín clásico se expresaba por una síntesis gramatical: las preposiciones sustituían a la
declinación clásica.” (Manual de Gramática Histórica Española, 1904.)
os textos árabes da época da dominação e os arquivos e glosas dos séculos X e XI. Diz ele:
“los autores musulmanes empleaban a veces en sus obras alguna que otra voz tomada de boca
de los españoles, cuando estos aún no sabían emplear su propia lengua por escrito, valiéndose,
en este caso, sólo de la latina”. Os moçárabes escreviam em aljamía, escrita do castelhano,
mas com caracteres arábicos, que praticavam judeus e árabes que ficaram na Espanha
reconquista. Após a invasão árabe, no século XI, pelos almorávidas e almóadas, os moçárabes
emigraram das terras antes conquistadas e nenhum de seus documentos conservou-se.

Que são as glosas? Responde Menéndez Pidal: <Son explicaciones ocasionales que un monje
fue poniendo al margen y entre líneas de sendos libros latinos, para facilitar a lectores
indoctos la inteligencia de vocablos y frases de la lengua eclesiástica.> (ibid., p. 6). Foram
publicados pelo professor E. Staaff cinco documentos provenientes do reino de León (1171-
1199), em 1907; e por Menéndez Pidal quarenta e três dos séculos XII e um do XI,
provenientes de Castilla. Conservam-se as Glosas Emilianeses (séc. IX-X), do Mosteiro de
San Millán em La Rioja, e as Glosas Silenses (séc. X), do Convento de Silos em Castilla.
Esses textos revelam o processo de “romanceamiento” (como chamou Menéndez Pidal) do
latim, no qual é em muito simplificada a sintaxe latina e se geram arcaísmos.

Oficialização e expansão do castelhano (1240-1260). -- Os dois reis que lograram a


oficialização do castelhano ou língua romancesca foram Fernando III, el Santo, e Alfonso X,
el Sabio. Em 1240, Fernando III torna o romance idioma oficial nas redações dos documentos
e seu filho fá-lo obrigatório por lei, em 1260. Las Partidas de Alfonso X são a primeira prosa
em língua popular.

ORIGENS DA POESIA ÉPICA

<Las primeras obras escritas en romance debieron ser, como ocurre en otras literaturas, obras
de carácter épico y en verso. Estos primitivos poemas serían, en la península, de orígen godo,
e imitarían los cantos de guerra germánicos, que se cantaron el país después de la invasión de
estos pueblos.> (p. 8). Do século XII só ficou de Espanha um poema, El Cantar de Mío Cid,
ao passo que em França se conservam quase uma centena de poemas épicos primitivos. O que
também diferencia as gestas espanholas das francesas é a historicidade dos fatos: os heróis das
gestas francesas já haviam morrido há muito (como Carlos Magno, da Chanson de Roland),
enquanto mio Cid participava da história relembrável, e, portanto, não fictícia, do povo
espanhol. Ruy Días de Vivar, el Cid Campeador, é símbolo nacional e heroico que operou um
verdadeiro sentimento de união durante a Reconquista.

O MESTRE DE JOGRALICES

Chamamos de “mester de juglaría” (trabajo de juglares) o conjunto de poemas épicos da fase


primitiva da poesia espanhola. O gênero é narrativo e popular, sendo o escrito mais
representativo o Poema de Mio Cid. Dado a sua iniciativa no desenvolvimento da literatura
espanhola, o gênero épico tornou-se o mais importante. Os “juglares” (menestréis, em
português) eram aqueles que, numa época em que não havia imprensa, se encarregavam da
recitação dos antigos poemas de gesta. A palavra “juglar” provém do latim iocularis, de iocus,
alegria. <Para Menéndez Pidal (Poesía juglaresca y juglares, 1924), “juglares eran todos los
que se ganaban la vida actuando ante el público para recrearle con la música, o con la
literatura, o con la charlatanería, o con juegos de manos, de acrobatismo, de mímica, etc.” El
trovador sería, en cambio, el poeta -- sólo circunstancialmente recitador --, es decir, el que
“inventa o trova las canciones que canta”, y esto no lo hace como el juglar, para ganarse la
vida, sino “para su solaz y el de sus amigos”.> (p. 10).

Características das primitivas gestas. -- As gestas eram narrações heroicas em verso contadas
pelos menestréis (juglares) e que:

a) Eram populares, como diz Menéndez Pidal (La epopeya castellana): “El poeta que cultiva
ese arte nacional posee, en un más alto grado que el pueblo, un tesoro de ideas y de
imaginación; es, de ordinario, mucho más instruído; pero no desdeña emplear su riqueza
intelectual en poner al alcance de los iletrados el placer artístico; y de ahí que produzca obras
del agrado a un tiempo de sabios e ignorantes, bien que estos últimos no alcancen a descobrir
cuanto los primeros ven en ellos”.

b) Eram de fundo histórico: nesta época não se fazia história, recolhiam-se os feitos de armas
e as façanhas heroicas nos poemas para incendiar de nacionalismo os ouvintes; somente
depois os reis pediram a escrita de crônicas históricas, e os cronistas empregariam as gestas
como fontes históricas. Diz Menéndez Pidal: “los juglares cantan con instrumentos y
ademones no sólo para el recreo, sino para la información de los oyentes – ad recreationem et
forte ad informationem --, rasgo éste que distingue las gestas españolas de todas las demás
gestas medievales”.
c) Eram realistas: o poeta anônimo cantava o que havia visto e ouvido. Acaba que os textos da
gestas oferecem-nos grande documentação sobre os costumes daquela época da Idade Média
espanhola. ch) A transmissão era oral: o fato dos poemas de gestas se difundirem oralmente
pelo povo abre margens para que se modificassem. As próprias crônicas podiam ser
responsáveis pela modificação das gestas, já que eram sua documentação escrita. A força e o
espírito desse tipo de poesia fazem-se presentes até o século XV, nos romances, e o século
XVI, nas novelas cavaleirescas.

d) Tinham caráter nacional: Até o século XII, a épica castelhana não sofrera influência
estrangeira. Porém, após isto, observaram-se várias outras gestas francesas difundidas pela
vida literária espanhola. As peregrinações a Santiago de Compostela, a emigração da Ordem
Cluníaca e a participação de cavalheiros franceses na Reconquista favoreceram a presença da
literatura ou narrações francesas em Espanha.

A versificação. -- Não havia uma métrica regular nas canções de gestas. Predominam os
versos de catorze ou dezesseis sílabas, de acentuação irregular e rima assonante. Essas
estruturas arcaicas de versos não sabemos se têm origens na inabilidade dos poetas ou se na
pouca formação dos juglares, que eram quem os recitavam repetitivamente. Parece que os
autores dos poemas de gestas eram homens de posição social e formação distinta à dos
juglares, eles escreviam para abastecer as recitações dos ofícios destes. As prosificações dos
cronistas demonstram que existiram muitos cantares de gesta, mas a maioria se perdeu.
Ficaram-nos o Cantar de Mio Cid, do século XII, um fragmento chamado por Pidal de
Roncesvalles, de princípios do século XIII, e um de fins do século XIV, a Crónica Rimada ou
Cantar de Rodrigo, chamada ainda de Las Mocedades de Rodrigo.

CONTINUAÇÃO DAS FICHAS (23/01/2021 -- Nilópolis).

OUTROS POEMAS DE GESTA

Dois poemas do período medieval devem ser destacados, para além do Cantar de Mio Cid:
um fragmento, cantar de gesta sobre Roncesvalles; e um posterior, chamado Cantar de
Rodrigo, que encerra a épica medieval espanhola.

Fragmento de um cantar sobre Rocesvalles. -- Segundo Menéndes Pidal (cit. p. 21), deve ter
sido escrito por volta do primeiro terço do século XIII e teria extensão superior (são 100
versos) ao Cantar del Cid. O valor literário considerável: dão-se pateticamente as cenas em
que Carlos Magno vai ao campo de batalha de Rocesvalles pelo corpo de seu sobrinho
Roldán, e que finalmente o encontrará com o amigo, Oliveros.

Cantar de Rodrigo o Las mocedades de Rodrigo. (Começos do século XV) -- Precedido por
um largo fragmento em prosa e interrompido bruscamente, de pouco valor literário, mas
largamente usado por retratar os anos juvenis de El Cid. “La versificación es todavía um tanto
irregular; predominan los versos de dieciséis sílabas, asonantados.” (p. 21).

Poemas épicorreligiosos. -- Poemas encontrados num códice da Biblioteca de El Escorial,


escritos entre os séculos XII e XIII, Vida de Madona Santa María Egipciaqua (1451 versos),
que fala dessa eremita de Alexandria, Libre dels tres reys dorient, a respeito da fuga da
Sagrada Família e de uma história sobre o bom e o mal ladrões.

Gestas prosificadas. -- São gestas que foram incorporadas a Crônicas espanholas em prosa;
por vezes, a gesta originária se perdeu. Los siete infantes de Lara (de uma crônica de 1344;
gesta originária perdida); Cantar de Sancho II de Castilla (da Crónica particular del Cid,
1270-1289); Bernardo del Carpio (leonesa), da Crónica de Alfonso el Sabio.

O MESTRE DE CLEREZIAS

O termo “mester de clerecía” é uma oposição ao “mester de juglaría”, pois os juglares eram
populares e os “mesteres de clerecía” eram eruditos, quando não clérigos: “(...) cuya
ilustración la habían recebido, por outra parte, en los conventos o monasterios, únicos centros
en donde se habían refugiado las artes y las ciencias en esta época.” (p. 22). Os cantares de
gesta tinham o dever de contar as histórias dos heróis, donde sua popularidade. O uso dos
cantares de gestas pelos religiosos, que dominavam a versificação, passava pelo desejo deles
de retomarem o prestígio narrativo à vida dos santos ou de Jesus ou Maria. Nasce o “mester
de clerecía” com Gonzalo de Berceo, e tem as características: ser narrativo e legendário (1);
“moralizador y didáctico” (2); ter a forma cuidada y bella. Mas Gutierréz afirma que, salvo o
“Libro de buen amor”, não têm o valor literário do Poema de Mio Cid.

Versificación -- característico é “la estrofa de cuatro versos alejandrinos monorrimos, llamada


tetrástrofo alejandrino monorrimo o cuadernavía.” (p. 23). Assim, tem-se dois hemistíquios
(2/14) nesse alexandrino, com uma cesura na sétima sílaba. A palavra cuadernavía faz
referência ao quadrivium, da educação medieval, pois os Mester de Clerecía tinham essa
formação: “Mester trago fermoso; non es de ioglaría;/ mester es sen pecado, ca es de
clerecía:/ fablar curso rimado por la cuaderna vía/ a sílabas cuntadas, ca es grant
maestría.” (p. 23). Diz Gutiérrez que a isorritmia (quartas) torna os versos monótonos e
“ripios”.

GONZALO DE BERCEO

“Dilatada y humilde vida”: “Muchos de sus críticos y panegeristas, de dentro y fuera de


España, nos lo han evocado sentado, al atardecer en el pórtico de su iglesia del convento de
San Millán, cantando ante um coro de pastores y feligreses los milagros de la Virgen, y
solicitando, al terminar su cantar, como único premio, y según la tradición juglaresca, ‘un
vaso de buen vino’.” (p. 24).

Vida. -- Nascido possivelmente em 1118, morreu possivelmente em 1247: “Gonçalvo


fué so nonme, qui fizo este tractado,/ em San Millán de Suso fué de ninez criado,/ natural de
Berçeo, ond San Millán fue nado:/ Dios guarde la su alma del poder del pecado.” (p. 24).
Monge beneditino de San Millán, foi diácono em 1221 e presbítero em 1237; teve a função de
capelão na capela da igreja e a do mosteiro; foi frequentador da biblioteca desta. Obra. --
Total de 13.000 versos (alguns também lhe atribuem o Libro de Alexandre, de 10.000 versos),
com a agrupação: 1 -- Em honra da Virgem (Loores de Nuestra Sennora; Milagros de
Nuestra Sennora; Duelo que fizo la Virgen María el día de la pasion de su fijo Jesu Christo);
2 – Vidas de santos (Vida del glorioso confesor Sancto Domingo de Silos; Estoria de Sennor
Sant Millán; Vida de Sancta Oría, Virgen; Martyrio de Sant Laurençio); 3 – Religião ou
doutrina (De los signos que aparesçerán antes del juiçio; Del sacrifiçio de la Missa).

Los Milagros de Nuestra Sennora. -- Gutiérrez diz ser a obra de maior valor e extensão. No
poema, 911 milagres são somados dos quartetos; “es uma alegoría llena de ingenuidad y de
poesía”, a devoção a Maria alcança neste poema “alturas pocas veces igualadas en la literatura
mariana”. “La fe en Dios y la devoción por la Virgen, quien intercede en favor de sus fieles,
salvan siempre, en el momento final, a todos los pecadores.” (p. 25).

Últimas críticas de Gutiérrez. -- Toma os modelos latinos, mas “Modestamente, dice que
escribe sus ‘dictados’ em romance, y no en latín, por no ser ‘muy letrado’.” (p. 25). Afirma
que Berceo ilustra bem o desenvolvimento da língua desde o Poema de Mio Cid, com já
formação de conceitos e construções no idioma (“aún tosco”). Provincialismo do Barceo que
inicia a poesia devota na Espanha: “Su lenguaje no se destaca por su pureza, sino por la
energía del concepto y por su espíritu regional.” (p. 25) [Feligreses; paroquianos]. Segundo
Gutiérrez, há versos de Berceo que são joias de perfeição, porém, o método da cuadernavía
(ou cuarteta monorrima) impediria muito a permanência disso, pela monotoneidade das
estrofes e extensão do poema, por vezes apelando a prosaísmos. Porém, há a capacidade de
narrar e de descrever com “gracia y colorido”: “Es un poeta candoroso y rústico, que habla a
un auditorio de feligreses, de gente de aldea, también rústica y candorosa como él.” (p. 25).

OUTROS POEMAS DE CLEREZIAS

Libro de Apolonio. -- De um códice escurialense, foi feito em meados do século XIII, com
mais de 2.600 versos, sendo de autor anônimo. O tema é tirado de uma novela grega
(seguindo o estilo das novelas bizantinas, “ricas en intrincadas aventuras y de pura
invención”), sobre a separação do rei de Tiro de sua família. Pioneiro no uso dos alexandrinos
monorrítmicos ou “cuadernavía”, seria modelo aos versificadores Mester de Clerecia.

Libro de Alexandre. -- São 10.000 versos de uma história imperfeita e em verso de Alexandre
Magno. Segundo Tomás Antonio Sánchez (que exumou o códice desse poema), foi escrito em
meados do século XIII. Autoria inicial foi dada a Berceo; depois, para Juan Lorenzo, de
Astorga. Gutiérrez ressaltou a versificação irregular (e predomina a “cuadernavía”) e tomou o
juízo de Sáchez sobre o Poema, em que afirma que o autor tinha talento para a poesia,
adornando-a com imagens, o que só é ofuscado atualmente pela linguagem antiga que oculta
“lo que de suyo es hermoso y brillante”.

Poema de Fernán González. -- Provavelmente foi escrito nos tempos da cruzada de São Luiz,
por um monge de Arlenza, e leva interrupções na narrativa que tornam obscuro o texto. Usa-
se o quarteto monorrítmico, nessa narrativa do primeiro conde de Castela, Fernán González.

Poema de Yusuf. -- É um poema sobre a história (referida no Alcorão, cap. XI) de José, filho
de Jacó, e pertence à “literatura aljamiada” (escrita em caracteres arábicos). Está conservado
na Biblioteca Nacional de Madrid.

MILAGROS DE NUESTRA SENNORA (fragmento de la introducción)


Prado deleitoso (introducción)

Amigos e vasallos de Dios omnipotent;

si vos me escuchasedes por vuestro consiment, [consiment: merced, favor]

querriavos contar un buen avenimente [aveniment: suceso]

terrédeslo en cabo por bueno veramente. [Terrédeslo: tendréislo]

Yo maestro Gonzalo de Berçeo nomnado

iendo en romeria caeçí en un prado [caeçí: me encontré]

verde e bien sençido, de flores bien poblado,[Sençido: adornado]

Logar cobdiçiaduero pora omne cansado.

Daban olor sobeio las flores bien olientes, [sobeio: com exceso]

refrescaban en omne las caras e las mientes, [omne: hombre, uno]

manaban cada canto fuentes claras corrientes,

en verano bien frias, en yvierno calientes.

Avie hy grant abondo de buenas arboledas, [hy: allí]

milgranos e figueras, peros e manzanedas,[milgranos: granados]

e muchas otras fructas de diversas monedas,[de diversas monedas: de diversos precios]

mas non avie ningunas podridas nin açedas.

La verdura del prado, la olor de las flores,

las sombras de los arbores de temprados sabores

refrescaronme todo, e perdí los sudores:


podrie vevir el omne con aquellos olores.

Nunqua trobé en sieglo logar tan deleitoso, [trobé: encontré; en sieglo: en el sieglo]

nin sombra tan temprada, nin olor tan sabroso,

descargué mi ropiella por iaçer más viçioso, [Ropiella: ropilla; viçioso: cómodo]

poseme a la sombra de un arbor fermoso.

Yaçiendo a la sombra perdi todos cuidados,

odi sonos de aves dulçes e modulados: [odi: oí]

Nunqua udieron omnes organos mas temprados,

Nin que formar pudiessen sones mas acordados.

Unas tienen la quinta, e las otras doblaban, [la quinta:intervalo que consta de tres tonos y um semitono
[mayor

otras tienen el punto, errar non tas dexaban, [el punto: nota fundamental]

al posar, al mover todas se esperaban,

aves torpes nin roncas hi non se acostaban.

Non serie organista nin serie violero, [violero: tocador de viola o vihuela]

nin giga nin salterio, nin manoderotero, [giga: instrumento de arco de tres cuerdas; manoderotero: el que
toca la rotam instrumento de cuerda, hoy desconocido]

nin estrument, nin lengua, nin tan claro voçero, [voçero: cantor]

cuyo canto valiesse con esto un dinero.

Peroque vos dissiemos todas estas bondades, [peroque: aunque]


non contamos las diezmas, esto bien lo creades: [diezmas: décimas partes]

que avie de noblezas tantas diversidades,

que non las contarien priores nin abbades.

El prado que vos digo avie outra bondat:

por calor nin por frio non perdie su beltat,

siempre estaba verde en su entegredat,

non perdie la verdura pro nulla tempestat. [nulla: ninguna]

Manamano que fuy em tierra acostado, [manamano: en seguida]

de todo el laçerio fui luego folgado: [lacerio: sufrimiento]

oblidé toda cuita, el laçerio passado: [oblidé: olvidé]

qui alli se morasse serie bien venturado! [qui: quien]

Los omnes e las aves quantas acaeçien,

levaban de las flores quantas levar querien;

mas mengua en el prado ninguna non façien:

por una que levaban, tres e cuatro naçien.

Semeia esti prado egual de paraiso [esti: este]

en qui Dios tan grant graçia, tan grant bendiçion miso [miso: metió, puso]

el que crió tal cosa, maestro fue anviso; [anviso: sabio, inteligente, avisado]

Omne que hi morasse, nunqua perdrie el viso. [perdrie: perdería; viso: vista]
El fructo de los arbores era dulz e sabrido,

si don Adam oviesse de tal fructo comido,

de tan mala manera non serie deçibido,

nin tomarien tal danno Eva nin so marido!

GONZALO DE BERCEO.

(Versión de Florencio Janer, Poetas castellanos anteriores al siglo XV, 1921 [p. 35-37]).

A POESIA LÍRICA

Para além da literatura épica e de juglar ou clerecía na Espanha Medieval, houve também a
literatura lírica (canciones e villancicos) que foram recolhidas em cancioneros.

Obras primitivas. -- Disputa del alma y el cuerpo: escrito entre o século XII E XIII, o
argumento constitui “un símbolo de la tragedia humana” no medievo, onde a alma reclama do
corpo a vida sã que deveria ter tido para que ela não fosse condenada. Razón de amor con la
disputa del agua y el vino: Influência franco-provençal; é uma joia da lírica: primeira parte
“Razón de amor” é poesia; segunda, “disputa del agua y el vino”, uma disputa como as da
época. Elena y María o Disputa del clérigo y el caballero. -- Amores de comparados, um do
clérigo (letrado), outro do cavaleiro; sendo não só o tema franco-provençal, como a
versificação.

Manifestações posteriores. -- Posteriores ao séc. XIII, o trovadorismo provençal que passa os


Pirineus para penetrar na Pen. Ibérica: “entró em la España por los Pirineos, gracias a los
monjes que iban peregrinación hacia Santiago de Compostela (...)”. Da Galiza, chega a
Portugal por D. Diniz (rei a partir de 1279), o “Rei trovador”; logo chegaria a Castela, com
Afonso X, O sábio, e suas Cantigas, escritas em galego-português.

<ARTE MAIOR – Na métrica espanhola, classificam-se de arte mayor os versos de nove


sílabas ou mais. Na métrica luso-brasileira, os de oito sílabas ou mais. ARTE MENOR – Na
métrica espanhola, consideram-se de arte menor os versos de oito sílabas ou menos. Na
métrica luso-brasileira, os de sete sílabas (redondilho maior) ou menos.> MOISÉS, Massaud.
Dicionário de termos literários. Ed. Cultrix, 2002. p.43.

Escola provençal. -- Mais usado na região de Levante (Cataluña e Aragón). “Esta poesía es
erudita, aristocrática y cortesana, y gira siempre en torno a temas de amor.” (p. 28).
Versificação no “verso de arte maior”, com estrofe complexa. Escola galego-portuguesa. --
Essa arte de Galicia e Portugal também se inspirou na lírica provençal, e alcançaria seu cume
no reinado de Afonso, o Sábio. Os temas: nacionais, menos tradicionais, e com o tratamento
do amor pelo sentimento de melancolia: o estilo é o da poesia popular. A versificação em
“verso de arte menor”. A lírica castelhana. -- Sem difusão até o século XV; organizaram-se na
corte de Castela e de Leão. A escola chamada dos “Trovadores Castellanos” (desenvolvida no
século XV) demonstra a lírica castelhana, que se inspirou tanto na escola provençal e sua
métrica (verso de arte maior, com a estrofe de “oitava”), como na escola galego-portuguesa e
sua métrica (disposição métrica em coplas de pé quebrado: em que são alternados versos
octossílabos e tetrassílabos; se o octossílabo for agudo, é alternado com trissílabo).

Dos Cancioneiros. -- Existiram três: o do Vaticano, publicado em 1875, predominantemente


com poemas galego-portugueses; o que pertenceu a Colocci e foi à biblioteca dos condes
Brancuti di Cagli, publicado em 1880, com poemas provençais, galego-portugueses, bretões
(escola de “layes”, lendas em versos curtos) e castelhanos; e o da Biblioteca Nacional de
Lisboa, o Cancioneiro da Ajuda, publicado pela primeira vez em 1823. Também houve uma
edição crítica de 1903 com as principais obras da escola provençal. Massaud Moisés (ibid., p.
70) também diz que “o hábito de colecionar poemas parece exclusivo da península ibérica”.

DAS ORIGENS MEDIEVAIS DO TEATRO ESPANHOL

Gutiérrez afirma que, a despeito da falta de fontes para se estudar o início do teatro medieval
na Espanha (cita só Las Partidas), pode-se inferir como teria surgido o teatro espanhol a partir
de outras evoluções da dramaturgia na Europa. Esse teatro surgiria como complemento das
canciones de gesta e se destinaria à instrução nos ofícios litúrgicos (a dramaturgia dos ciclos
solenes, Natal, Páscoa e Ressurreição). Algumas das festas francesas (Limoges, Orleáns, etc.)
contavam com os misterios, moralidades, milagros e autos; por exemplo, os monges de Cluny
(que chegaram à Espanha em 1033, por ordem de Alfonso VI) introduziram na Península os
misterios. [Misterios , “4. Lit. En la edad media, obra de teatro de tema religioso, en la que
intervenían Dios, los santos, los ángeles y el diablo.” Diccionario Larousse de la lengua
española.] No início, eram encenadas dentro da igreja, com a participação de sacerdotes-
religiosos (a evolução foi desde o padre sozinho a dialogar com o povo, até a constituição de
um grupo de personagens), mas logo seriam proibidas as representações na igreja e a
participação dos padres (por papa Inocêncio III, no séc. XII). Por outro lado, houve também
um teatro profano, relembrando as ruínas dos antigos teatros romanos da Península, em
Bigastro, Medellín, Sagunte, Toledo, Sevilla, Itálica, Mérica, etc. O gênero encenado no
teatro profana chamava-se juegos de escárnio, e foram registrados (só o nome) em Las
Partidas de Alfonso el Sabio, onde este deixa claro como eram esses “juegos” mal vistos.
Gutiérrez (p. 31-32, rodapé) cita Nicolás Coronado, afirmando que o teatro espanhol seria
uma continuação do teatro romano e profano que perdurara entre a dominação islâmica e
coexistira na Idade Média: “Nacieron, entonces, los himnos, los graves y armoniosos cantos
litúrgicos, los sermones ilustrados con rápidas escenas teatrales, em los que los misterios de
los siglos XII y XIII se hallan en gérmen.” (idem, p. 31). Os dramaturgos do teatro profano
tiveram sua origem nos trovadores, que se uniam aos jograis nos divertimentos da época.

O Auto de los reyes magos. -- “Es la obra más antigua de carácter teatral de la literatura
española, así como el Poema de Mio Cid lo es de) género épico.” (p. 31). Está conservado na
Biblioteca Nacional de Madrid e foi provavelmente escrito no século XIII. A obra está
incompleta, com apenas o início, de 147 versos, e foi provavelmente escrita por um clérigo
para os ofícios da Adoração, mas apresenta dependência de textos litúrgicos em latim. Gaspar,
Melquior e Baltasar, cada um em uma cena, monologam sobre a Estrela condutora; depois de
acompanharem-se pela direção dela, encontram Herodes que discute com os seus sábios a
respeito do nascimento do “criador”; a obra, interrompida, termina com dois rabinos
discutindo a profecia disto nas escritas. A sua versificação tem várias medidas (de seis a
dezesseis sílabas), o que, segundo Menéndez y Pelayo, exemplifica a tendência “polimétrica”
que caracterizara o teatro espanhol.

SPINA, Segismundo. Manual de versificação romância medieval. São Paulo: Ateliê


Editorial, 2003. Primeira parte: “O Redondilho” (p. 35-41); Segunda Parte: Lírica Luso-
Galega (p. 106-112); Lírica hispano-portuguesa (p.157-173); Poesia épica espanhola (p.173-
182).
11/01/2021 -- Nilópolis (RJ).

O REDONDILHO

O redondilho é, para S. Spina, um verso tipicamente ibérico, que se divide em dois tipos: as
redondilhas menores (versos pentassilábicos) e as redondilhas maiores (versos
heptassilábicos). A redondilha maior inicialmente chamara-se de “verso de arte real”. São
classificadas duas “artes” na métrica: a “arte menor” (ou arte menor, no sistema castelhano)
são os versos de sete ou oito versos ou menos nos respectivos sistemas; e a “arte maior” (ou
arte mayor, naquele sistema) são os versos de oito ou nove sílabas ou mais nos respectivos
sistemas. Claro que há uma diferença na escansão dos versos em cada sistema: enquanto as
sílabas métricas no sistema luso-brasileiro são contadas até a última sílaba tônica do verso, as
mesmas no sistema castelhano se contam até a tônica e mais uma sílaba; e, se for um verso
agudo (rematado em sílaba tônica), contará mais uma sílaba igualmente. É um verso
heptassílabo, septissílabo ou redondilho menor, este de Manuel Bandeira: “Vou-me embora
pra Pasárgada/ Lá sou amigo do rei”.

A acentuação do redondilho maior recai (afora a última) na segunda, terceira ou quarta sílaba.
Diz Spina (p. 36) que “o redondilho pentassilábico é o tipo de verso mais curto usado pelos
trovadores”; é acentuada no quinta sílaba e também na segunda ou terceira. “O verso
pentassilábico, também usado nas bailadas, foi assimilado mais tarde pela poesia popular
espanhola, nas saborosas seguidilhas” (p. 36). Porém, a respeito do seu uso nas estrofes
isossilábicas (isto é, as que têm idêntico número de sílabas métricas): “... o pentassilábico só
readquire a sua independência entre os poetas virtuosos do século XV, que se utilizam dele
em estrofes com outras de metros diferentes, mais longos ou mais curtos” (p. 37).

O hexassílabo, redondilho menor, também chamado de “heroico quebrado” tem acento na


sexta e na segunda, terceira ou quarta sílaba; como neste cantar d’amigo de D. Denis:

Pois o que diz meu amigo

que se quer ir comigo (etc., CV 203).


O redondilho maior foi o mais usado. Segundo José Joaquim Nunes, podia alternar com o
verso octossílabo, pois os trovadores não se importavam com a contagem até a última tônica,
mas sim com o número de versos na estrofe. Cantar d’amigo de D. Denis:

Que trist’ oj’ é meu amigo, [7]

amiga, no seu coraçom [8]

ca non pôde falar migo

nen veer-m', e faz gram razom

meu amigo de trist’ andar,

pois m’el non vir e lh’eu nembrar. (CV. 158).

Octossílabos todos esses de Dom Denis, mas com a acentuação dum redondilho maior:

Meu amigo ven oj’ aqui

e diz que quer migo falar,

e sab’ el que mi faz pesar,

madre, pois que lh’ eu defendi

que non fosse per nulha ren,

per u eu foss’ e ora ven (CV. 187).

Na poesia satírica, de escárnio e maldizer, “o redondilho maior aparece com muita frequência,
bem como nos cantares d’amigo mais antigos” (p. 38). Segismundo Spina argumenta que a
importância desse verso é tamanha que, nos séculos XV e XVI, influenciará na formação
duma nova estrofe, chamada “redondilha” -- uma “forma redonda” com uma cauda ou volta
final e um argumento estrófico chamado “mote” --, de que se compunham o vilancete, a glosa
e a cantiga.

LÍRICA LUSO-GALEGA
Sobre a falta de manuais de versificação na escola luso-galega da trova medieval: “...a poesia
dos trovadores galego-portugueses dos séculos XIII e XIV apenas nos deixou um esboço de
arte versificatória imperfeito e mutilado que vem apenso ao Cancioneiro de Colocci-Brancuti,
anônimo e sem título, provavelmente contemporâneo das Leys d’Amors (1356).” (p. 107).

1. Elementos de métrica. -- Nesse cancioneiro, delinearam-se aspectos fundamentais da arte


do verso, desde a contagem silábica e rítmica ou as observações fonéticas das sílabas, até
inovações como: o verso chamar-se palavra, a estrofe, cobra, a “estrutura poemática” era o
talho e o verso sem rima era a palavra perduda. A repetição de palavras: quando repetida na
estrofe se chama dobre, quando repetida por cognatos, mordobre. Seguir um mesmo
argumento até o fim do poema era a atafinda; a concisão do texto restringia-o a até três
estrofes. A fiinda era um refrão final como remate do tema do poema e se dava em um verso,
dístico, terceto ou até em quadra. Igualmente com o refrão, um recurso não-ideológico que
fazia coro com um ou mais versos ou mesmo apenas uma frase exclamativa ou onomatopaica,
ao final da cobra. A rima do refrão era monorrima (se mais de um verso) ou ligada ao último
verso da cobra como par rímico.

A poesia lírica provençal iria influenciar a corte galego-portuguesa a adotar uma lírica cortês,
o que renegaria a poesia folclórica; mas prevaleceu em muito o lirismo autóctone, como no
uso dos versos corais com refrão ou os paralelismos no poema. As composições que mais se
aproximavam ao ambiente palaciano e ao amor cortes chamavam-se cantigas d’amor, as
tradicionais e mais próximas ao espírito burguês que florescia com temas populares, cantigas
d’amigo; entre esses dois eixos temáticos, as cantigas de maestria diferiam-se por não
apresentarem estrutura coral, das ditas “cantigas de refrão”. Nas de “amigo” a mulher era a
protagonista em chorar a perda do amor, o que gerava uma “inversão do binômio erótico”.

2. Elementos de estrofe. -- O número de versos varia entre dois e dez, nas estrofes mais
frequentes do dístico e da quadra; também ocorrem os trísticos, as quintilhas e as sextilhas. Há
cantigas paralelísticas que usam até oito cobras, a despeito do recomendado limite de três
cobras. Quanto à rima, era utilizada mais a monorrima no poema ou a sequência regular de
rima a cada duas estrofes. A primeira era chamada (na lírica provençal) de coblas unissonans;
havia também o uso da variação rímica entre as estrofes, chamada coblas singulars; e aquela
regularidade rímica a cada duas estrofes, as coblas doblas. “A rima consoante é a mais
utilizada; porém, nos cantares de feição folclórica, a assonância pode ocorrer, e composições
há em que os dois tipos de rima podem competir (como na tão conhecida cantiga de D. Dinis,
“Ay flores, ay flores do verde piño” (...)” (p. 110). O enjabement também é frequente nas
trovas. Nas cantigas d’amigo e em trovas populares era comum o uso do redondilho (o
menor, mais popular), e o uso no máximo de dezesseis sílabas. As cantigas d’amigo (embora
também tivessem tido redondilhos) e a poesia culta preferiram octossílabos e decassílabos
jâmbicos. Octossílabo heterométrico. -- A heterometria ocorria aquando da junção de versos
agudos e graves de mesmo número de sílabas. Rodrigues Lapa defende que o octossílabo
apareceu pela evolução do verso de dezesseis sílabas, que era dividido em hemistíquios de 7 e
8, como nesta quadra de Don Dinis:

Que trit’oj’ é meu amigo, (7 sílabas poéticas)

amiga, no seu coraçon! (8)

ca non pôde falar migo (7)

nen veer-me e faz grande razon... (8)

-- (p. 111).

LÍRICA HISPANO-PORTUGUESA

A lírica espanhola é dita praticamente inexistente antes do primeiro cancioneiro (de Baena,
1445), representada nas versificações das lendas dos milagres marianos por Gonçalo de
Berceo (Miraclos de Nuestra Señora) e Alfonso X o Sábio (Cantigas de Santa Maria). O
poema de Afonso X pertence à literatura lírica galego-portuguesa. Já o poema de Berceo, tem
métrica e estilo assemelhados à poesia épica castelhana – era um mester de clerecía, em cujos
textos estavam a regularidade métrica dos primeiros épicos e o bucolismo das contemplações
marianas. De suas influências, Spina (p. 158) situa o ambiente da lírica medieval peninsular,
bem como sua fonte temática, na vida palaciana e cortesã, a qual oscilava entre as influências
da nobreza e da burguesia, nas cortes de D. João II (1419-1454) na Espanha e de D. Manuel
(1521) em Portugal. Sobre a nobreza nos paços: “(...) a poesia de todo um século (desde o
Cancioneiro de Baena, 1445, até ao Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, 1516),
passando pelos poetas do gótico florido da corte de D. João II (Juan de Mena, Marquês de
Santillana), reflete essa convergência de fatores culturais e literários.” (p.158-159). A
influência francesa, diz Spina, seria toda ocupada pela poesia alegórica de Dante, a lírica de
Petrarca, a novela sentimental de Boccaccio, o humanismo renascentista, o neoplatonismo de
Florença e a cultura dos clássicos. O único manual de versificação que sobrou é o Arte de
poesía castellana, de Juan del Encina, que misturou os preceitos clássicos na poesia
castelhana; esse livro está publicado no volume III de Historia de las Ideas Estéticas em
España, de Menéndez y Pelayo. O pé era um verso, que é contado como um conjunto de
“pés” (ao modo clássico); a copla era de um verso, se este tinha até seis pés, e de dois versos
se fossem mais de seis pés. No cap. IX Encina fala de dois tipos de pés: o pé de arte real e o
mote da composição. O mote distinguiria o vilancico da canção: o primeiro, de até três pés; o
segundo, com mais. O Cancioneiro de Baena tem duas tendências de estilo e versificação em
sua antologia: a primeira corresponde ao seguimento da tradição galego-provençal, com seus
metros (redondilho maior) e temas; a segunda, à métrica mais italiana (Dante, com o uso da
“copla de arte maior”, com oito versos hendecassilábicos no ritmo datílico e rima em
abbaacca. Essa estrofe foi muito usada por Pero López de Ayala (1332-14070), em poemas
de estilo alegórico. O Cancioneiro em si distingue decires e cantigas. Sobre as cantigas aí
presentes: <(...) processos que seriam típicos da cantiga (como sucessora da cantiga de
maestria galego-portuguesa) são encontráveis, às vezes mais freqüentemente, nos decires --
tal como a fiinda, a curta extensão poema etc.> (p. 161).

No séc. XV, em poetas doutros cancioneiros, as formas fixas do poema -- como a canção e o
vilancico -- são as preferidas, de modo que: <(...) se oferece modificação de vária espécie na
arte poética: os velhos processos do leixa-pren, do dobre e do mordobre, da arte de macho e
fêmea [vide: Alvaro, señor bendito, /Leal persona bendita, /Non vos pesse que rrepita. /Algo
que yo aqui rrepito ,/ Mas guardat me del maldito, /Lengua susia, vil, maldita. (Canc. de
Baena, 183)] (...) são postos de lado, bem como a maestria mayor (correspondente das coblas
unissonans da poesia provençal).> (p. 162).

Na arte versificatória da poesia portuguesa dão-se duas espécies de poema: 1) os poemas com
mote: vilancete (villancico: Santillana, foi o primeiro que utilizou o termo, significando
“poema à volta de um refrão rústico ou tema rústico”), cantiga e glosa; e 2) os poemas sem
mote: a trova, a esparsa, o romance e o epigrama.

(1) Poemas com mote

Chamavam-se de redondilhos, os poemas considerados na “forma redonda”, que é terem uma


glosa orbitante dum “mote” (um cantar velho, cantarcico, ou farrapos de poesias populares,
etc.), que, posto “a priori”, desafiava as habilidades do poeta. Porém, Spina (p. 165) não
defende que houvesse uma “esgrima” (o estilo galante) ao mote, já que a qualidade desse
artificialismo, da improvisação, dependeria de o próprio poeta saber ou criar o seu mote.

Vilancete. -- A etimologia de vilancete para “cantigas de vilão” é “incancioneirizável”, diz


Spina, que a deixa inconclusa. A estrutura poética do vilancete: Mote (monóstico, dístico ou
trístico); e Copla (“estrofe que pode ser musicalmente tripartida”, em fronte ou mudança ou
em cauda ou volta). A diferença poética entre os dois elementos é a musicalidade (não se trata
simplesmente de “poema musical”), posto que a copla poderá ou não seguir a melodia do
mote. Os versos costumam ser de cinco ou sete sílabas, sem restrição ao número de estrofes.
Do mote: “(...) podíamos dizer que os motes de dois versos seriam os mais antigos, a
lembrarem aquelas cantigas religiosas do rei Sábio, os rondéis e os virelais franceses; o
vilancete de refrão em terceto seria, pois, de introdução mais recente (aba/ ou /abb).” (p.166).

Cantiga. -- <a) a cantiga tem o refrão (ou mote) mais longo: (quatro ou cinco versos); b) é
mais curta estroficamente, comportando normalmente uma estrofe (...); c) a cantiga é uma
forma essencialmente cortês e erudita, e quase exclusivamente reservada a temas amorosos.>
(p. 166-167). À “concentração do tema” em uma única estrofe (finalizada pela “volta”),
segue-se-lhe uma copla em oito versos, se o mote tem quatro, ou em nove versos, se o mote
tem cinco. Há uma “estrutura escolástica” na cantiga: à proposta do tema segue-se <um
comentário, variação ou explicação (mudança ou fronte) e uma conclusão (volta)> (p. 167).
Conforme à “volta”, a cantiga será imperfeita (a) se não tem “cauda-volta”; perfeita (b) se
retoma as rimas do refrão (no processo abba/ cdcd/ abba) ou retoma uma ou todas as
palavras-rimas do refrão. Também se pode repetir o último verso do refrão na parte da
“cauda-volta” da copla.

Glosa. -- <Escolhido o sistema de glosa, o poeta compromete-se a mantê-lo em toda a


composição, isto é: reproduzir nos lugares próprios, isto é, escolhidos pelo poeta, os versos
emprestados do mote.> (p. 168). Esse sistema do glosar refere-se à escolha e a colocação do
poeta dos versos do mote no seu poema, o qual precisa seguir: se escolher repetir um só verso
(podem ser até quatro) do mote no primeiro verso ou último da estância, segue assim até o fim
(este é o sistema de Camões); o costume é citar dois versos do mote na estância, um no meio e
outro no fim. Camões pratica a “glosa típica” na glosa ao mote alheio “Campos Bem-
Aventurados...”, assim como em outras partes importa processos do vilancete à glosa; também
incorpora aos vilancetes refrões do mote (o que seria exclusivo da glosa) nos poemas
“Descalça vai para a fonte” e “Descalça vai pela neve”.
b) Poemas sem mote. -- <Como poemas desse tipo temos inicialmente a trova, formada de
duas ou mais estrofes; e a esparsa, de ascendência provençal, composição monostrófica que
compreende de oito a dezesseis versos, forma largamente cultivada em Portugal e na Espanha
na segunda metade do século XV.> (p. 171). Repete-se que a definição de Esparsa, é ser
monostrófica em versos de arte real. A trova era, na poesia galaico-portuguesa sinônimo para
cantiga, dado que os versos se faziam acompanhar de melodia; a partir do século XVI,
quando já se distinguiam as duas formas, a trova passou a ser chamada de quadrinha, segundo
Massaud Moisés. Gil Vicente foi o único poeta que usou largamente da estrutura paralelística
nos poemas sem mote.

Historia de la literatura española. GUTIERREZ, Fermín Estrella. Buenos Aires: 1959,


Editorial Kapelusz.

CAPÍTULO II – NACIMIENTO DE LA PROSA LITERARIA. LA POESÍA


MEDIEVAL (Continuación).

1. “Nacimiento de la prosa literaria”. -- A prosa em língua romance com valor


literário aparece um século depois da lírica, no século XIII. O aparecimento de documentos
em língua romance não constitui, ainda, um fenômeno literário, mas foi um impulso à língua,
oficializada para documentos públicos por Fernando III, o Santo (1200-1252). Os documentos
públicos em língua romance do séc. XII são material filológico, (não literário), e fornecem
planos da evolução do romance ao castelhano, dado a dependência do vocabulário e sintaxes
latinos neles. Primeiras obras. -- 1. El fuero juzgo (1241) foi uma tradução do código
romano-visigodo (Forum Judicium); estilo “enérgico y conciso”. 2. El libro de los Doce
Sabios o El libro de la Nobleza o Lealtat (educação de nobres). 3. Flores de Filosofía,
compêndio de sentenças de 38 filósofos, dos quais o único nomeado é Sêneca. 4. Diez
Mandamentos, tratado didático aos confessores. 5. Anales toledanos, as duas primeiras
crônicas são da época (1219 a 1250); pela simpatia aos árabes, suspeita-se que um moro tenha
escrito a segunda parte. 6. El libro de los buenos proverbios (tradução do árabe). 7. De um
códice fechado de 1243, o livro traduzido do latim à língua romance, a mando de Fernando
III, Historia Ghótica (de R. Ximenéz de Rada). 8. Em 1252, o infante Alfonso, (el Sabio),
pede tradução do árabe ao romance, do livro Calila e Dimna.

2. “Alfonso el Sabio”. -- “Fue, también, el Mecenas más rico que tuvo nunca España,
y la protección que dispensó a eruditos y sabios convertió a la España de esta época en un
centro de cultura superior, cuya influencia se irradió por toda Europa occidental.” (p. 40).
Precursor do homem polímata da Renascença, viveu nas suas cortes em Toledo, Burgos e
Servilha, onde se desenvolveram as Academias de Medicina e Astronomia. “Alfonso, en
efecto, oficializó el idioma castellano, prohibiendo que adelante los documentos públicos se
escrebieran en latin y por eso se le considera como el padre de la lengua castellana.” (p. 41).
No Libro de las esferas, explica como corrigiu seu castellano: “Tachó las expresiones que
entendió eran estranjeras o improprias y que no estaban em castellano correcto, y las
reemplazó por las que correspondían: y en cuanto al lenguaje, lo corregió de su próprio puño
y letra.” (p. 41). “Su vida”. -- Nasceu em Burgos, em 1221, filho de Fernando III, o Santo, e
de Beatriz da Suábia, (ascendência esta que lhe levaria a requerir o trono da Alemanha,
motivo que lhe levou a guerras e à ruina), sucedeu seu pai em 1252. A sua briga pelo
território alemão envolveu o papa Gregório X, seu filho Sancho (que ascenderia à coroa com
o nome Sancho IV) e seu irmão Don Fadrique , que o tentou matar. Cansado da guerra, e já
pobre, morreria de desgosto em 1284.

Obras de Alfonso, el Sabio. -- a) Históricas: 1: Estoria d’Espanna o Crónica general,


começada em 1260 ou 1270, e continuada postumamente no reinado de Sancho IV, com a
história da Espanha desde as orígens até Fernando III, santo. Diz Menéndez Pidal (que a
publicou em 1906): “El estilo de la Crónica ofrece sus sencillos encantos, precisamente a la
causa de la gran variedad que reviste, según traduce las apasionadas Heroídas de Ovídio, los
elocuentes y sentenciosos hexámetros de Farsalia de Lucano, el bullicio anecdótico de Los
Césares de Suetonio, la penetrante y cruda minuciosidad de los historiadores árabes, el
simbolismo retórico de los poetas musulmanes, los heroicos versos de los juglares castellanos,
el biblico lirismo de San Isidoro o la honda emoción personal del arzobispo Rodrigo, que a
jirones rasgan las duras sequedades de las crónicas medievales.” (p. 42). Vocabulário
“castizo” (ver dicionário p. 219), estilo vigoroso. 2. La Gran et general Estoria. (Inspira-se na
narrativa bíblica.) b) Jurídicas: Las siete partidas, também já chamada de Lo Libro de las
Leyes, a obra retoma diversos pensamentos morais, políticos e religiosos de sua época, sendo
uma fonte do direito hispânico. Partidas: 1: De la religión. 2: Del monarca, de su familia, y
sus relaciones com los vasallos; 3: De la admnistración de la justicia; 4: Del matrimonio; 5:
De los contratos; 6: De los testamentos; 7: De los delitos y penas. “Las fuentes de Las Siete
Partidas son, entre otras, el Fuero Juzgo y otros Fueros españoles, el Derecho Canónico y el
Derecho Romano, a través de las Pandectas, colección de obras de los jurisconsultos
romanos.” (p. 43). A sobreposição dos direitos canônicoo e romano ao visigótico foi uma
mudança à época. c) Científicas: 1- Libro de las tablas Alphonsíes , tentou-se “reemplazar” as
tábuas de Ptolomeu, escrita em Toledo sob a direção de Afonso X com o auxílio de 50
astrônomos. 2- Libro del saber de Astronomía (dentre os 14 livros, estão o “Libro de Alcora”
e o “Esfera”, de 1259). 3- El Lapidario (1278). 4. El Septanario, o Tratado de las siete
naturas, engendradoras de los Siete Saberes, um livro sobre os conhecimentos do “trivio” e
do “cuadrivio”. Conserva-se em dois códices, um escurialense e outro toledano. d) Poéticas:
Gutiérrez afirma que, embora as Cantigas de Santa Maria, fossem escritas em galego (no
estilo da escola escola galego-portuguesa), o papel de Afonso X é importante na literatura
castelhana por sua influência nas origens da poesia lírica, na evolução da língua romance, e
por seu papel de colecionador de poemas (foi o primeiro), com seu “Cancioneiro” (prelúdio
dos “romanceiros”). Chegou-nos conservada de um códice escurialense, com notações
musicais que, decifradas, revalaram o aspecto musical dos poemas. São 420 cantigas que
tratam ingenuamente dos milagres de Nossa Senhora (as fontes seriam os livros: Especum
Historiale, de Vicente de Bold e La vida de La Virgen María, obra latina), das quais quarenta
são líricas e o restante é narrativo. Traduções do sânscrito, árabe, francês, do latim (da
Vulgata, em 1260), e outras: “Importancia de las traducciones realizadas bajo el reinado de
Alfonso el Sabio. -- Estas y otras traducciones, citadas precedentemente, revisten una
importancia singular en la historia de la cultura española, pues permitieron la difusión de las
más grandes obras arábigas, sánscritas y latinas, sólo conocidas hasta entonces por los
eruditos que sabían estas lenguas.” (p. 46).

2. LITERATURA DE INTENCIÓN DIDÁCTICA

No século XIV, havia os seguintes reinos na Península Ibérica: o de Castela e Leão, o


de Aragão, o de Navarra e o de Portugal; ao sul, ficava o reino de Granada, dos mouros. A
cultura cortesã dá lugar à burguesia nascente que necessitava dos costumes daquela, o que se
possibibilitou pela escrita de moralistas que escreviam “literatura didáctica” (“a menudo
violentas y satíricas em su prédica”). Foi influente a literatura oriental dos “apólogos y
enxiemplos”. Autores principais: o infante Juan Manuel, o Arcipreste de Hita e o canciller
Pero López de Ayala.

El infante don Juan Manuel. -- Foi dito por Menéndez Pidal que ele continuou as tradições
literárias de seu tio, Afonso X o sábio, tendo sido um grande prosador na arte do contar, da
narrativa castelhana. Nasceu em Toledo, na Escalona, em 1282 e morreu em 1348. Filho de
Dom Manuel, irmão de Afonso o Sábio, e de Beatriz de Saboia; mas ficou órfão do pai com
pouco mais de um ano. Teve, pela mãe, uma esmerada educação que não conseguiu ser
ofuscada pela grande carreira diplomática e guerreira que alcançaria. Foi historiador, poeta e
moralista, tendo produzido uma vasta obra na língua romance que não chegou completa até
nós. Obras: PUBLICADAS: 1. Libro del caballero et del escudero, um diálogo, com 51
capítulos, sobre a educação do cavaleiro. O enredo é o de um cavaleiro que antes de
estabelecer seu reino consulta um sábio e velho ermitão que lhe dá conselhos de “profunda y
elevada filosofía”. 2. Libro de la caza, um tratado de falcoaria, de 1325-1326. 3. Libro de los
estados del infante (1330), são 150 capítulos, de conduta moral a um príncipe, onde se faz
descrição perfeita das classes sociais no séc. XIV. Outros: Tratado sobre las armas (1334),
sobre sua linhagem e heráldica; Libro de los castigos et consejos, o Infinda (1334), conselhos
ao neto D. Fernando; Las maneras de amor, um tratado da amizade encomendado ao monge
Juan Alfonso; Tractado en que se prueba por razón que Santa María está en cuerpo et alma
en Parayso.

8. El libro de los enxiemplos del conde Lucanor et de Patronio (1328 a 1335). -- Trata-se da
primeira obra de caráter novelesco, escrita magistralmente no castelhano, com importância na
língua. Conhecida como El Conde Lucanor foi publicada em Sevilha em 1575. Argumento: o
onde Lucanor, desejando “obrar siempre cuerdamente” aconselha-se com Petrônio, que lhe dá
“enxiemplos” ou apólogos (49 no total), a cada caso, que são terminados por versos em
parelhas. São quatro partes, sendo intensificada a forma didática na terceira e quarta. As
fontes origem oriental são constantes, como a Bíblia e o Panchatranta; precede em treze anos
o Decamerão. Juan Manuel advoca um estilo simples e sensível, sem os ornamentos que
podem distrair o leitor da história, assumindo sua identidade artística, como conta: “Sabed que
todas las razones son dichas por muy buenas palabras et por los más fermosos latines que yo
nunca oí decir en libro que fuese fecho en romance.” e sobre a sobriedade na expressão “...et
poniendo declaradamente complida la razón que quiere decir, pónelo en las menos palabras
que pueden ser.” (GUTIÉRREZ, 1959. p. 49).
A obra La crónica abreviada, inédita, é um resumo que fez da Crónica general de seu
tio Afonso o sábio. Uma obra perdida de D. Juan Manuel foi o “Libro de cantares o de las
cantigas, colección de sus poesías, cuya pérdida es, por muchos motivos, lamentable, y del
cual se sabe que existía a media_ dos del siglo XVI. Se sospecha que el Infante, además de
eximio progigta, era un poeta, maestro en el arte de trovar.” (p. 50).

EL ARCIPRESTE DE HITA. -- “Aparecido un siglo después de Gonzalo de Berceo, él


pertenece a la segunda época del ‘mester de clerecía’. Su vigoroso realismo su conocimiento
cabal del alma humana, su fuerte y vigorosa personalidad, puesta de manifiesto en gus
apretados y enjundiosos versos, y su maestría en el arte poético, hacen de él una figura
extraordinário de significación no sólo hispana sino universal.” (p. 50). Sua principal obra o
faz representante máximo da poesia lírica em toda a Espanha medieval – trata-se do Libro del
buen amor. O que se sabe de sua vida foi retirado de seus próprios versos, pois não se tem
registro documental de Arcipreste de Hita, cujo nome foi Juan Ruiz, clérigo (arcipreste) de
Hita, perto de Guadalajara. Segundo o verso “Fija, mucho vos saludo uno que es de Alcalá”,
da estrofe 1510, teria nascido em Alcalá de Henares. Da vida e moral do clérigo há quem
sustente que sua reflexão e repulsa moral dos amores que ocorriam injustamente no século
XIV seja uma prova de sua integridade moral; ao passo que outros sustentam que sua
experiência se deu como prova do estado de corrupção do clero no Século. Diz Gutiérrez:
“...fué un clérigo conocedor de la vida y de sus enredos, de complexión recia, impetuoso y
expansivo de carácter, buen auscultador del corazón humano, y y optimista por naturaleza.”
(p. 51).

EL LIBRO DEL BUEN AMOR. -- 1) Introduções. O título hoje consagrado da obra provém
de Menéndez Pidal que o retirou da estrofe 13: Tú, Sennor Dios mio, que el homen crieste,/
enforma e ayuda a mí, el tú açipreste,/ que pueda fazer um libro de buen amor aqueste,/ que
los cuerpos alegre, e a las almas preste. O livro tem sua abertura com invocação a Deus e à
Virgem Maria, seguida de explicações à obra, de seu propósito; didática: “reduçir a toda
persona a memoria buena de bien obrar, et dar ensiempro de buenas costumbres e castigos de
salvación: et porque sean todos aperçebidos, e se puedan mejor guardar de tantas maestrias
como algunos usan por el loco amor”; tem toques autobiográficos como novela picaresca;
além de oferecer sua arte versificatória: “dar algunas lecçiones del arte de metrificar et de
rimar et de trobar”. A personagem principal, o próprio Arcipreste, deve enfrentar uma luta
interior no mundo entre o amor a Deus, “el buen amor”, e o amor carnal, ou “loco amor”. 2)
Desenvolvimento. Segundo Menéndez y Pelayo, há as seguintes interpolações: 1.
“Enxiemplos” ou apólogos que se ilustravam as lições; 2. Comentários ou paráfrases ao Arte
de Amar, de Ovídio; 3. O mesmo que “2.” ao Pamphilus; 4. “Batalla de don Carnal y de doña
Cuaresma”, um poema burlesco; 5. Sátiras várias; 6. Poesias líricas, entre cantigas da Virgem,
sagradas, e cantigas serranas e villancicos serranos, profanas; 7. “Digressões morais”.
Segundo Gutiérrez, a originalidade da obra reside em seu caráter autobiográfico, onde o poeta
expõe sua personalidade marca e forte, que se situa conflituosamente num mundo em que se
divide entre as leviandades amáveis e as verdades morais respeitáveis. 3) Versificação:
“Todos los metros (más de dieciséis, en total) y todas las combinaciones métricas conocidas
en la época, están empleados en la obra, en la que también el autor se habría propuesto como
lo dice en la explicación preliminar -— enseñar el arte de versificar a sus lectores. Predomina,
no obstante, la estrofa de cuatro versos alejandrinos monorrimos o ‘cuadernavía’, propia del
‘mester de clerecía’(...)” (p. 53). Gutiérrez também aponta ao realismo da obra, onde se
representa: “Judías, danzaderas moras, rigos, monjas y toda clase de gentes, agí encumbrados
como humildes son presentados por Juan Ruiz ‘con la implacable exactitud de un Velázquez’,
según Fitzmaurice-Kelly, quien agrega: ‘son cuadros de hermosa crudeza, debidos a un
maestro que amaba y despreciaba al mismo tiempo la farsa enloquecedora del mundo’.” (p.
54).

PERO LÓPEZ DE AYALA. -- Encerrou o ciclo de escritores do século XIV. Nasceu em


Vitoria (Álava), em 1332 e morreu em 1407. Sua família era ilustre e lhe encaminhou a uma
vida de leal relação com os reis, além de ter sido governante, diplomático e Chanceler Maior
de Castela. Numa batalha, foi preso em Nájera (1367) e em Aljubarrota (1385). Após essas
batalhas, seria feito prisioneiro em Oviedo, num castelo português, onde escreveria a maior
parte de sua obra.

Rimado de Palacio ou Rima de las maneras de Palacio. “Recuerda más al hombre de Estado
que al poeta”. -- Nessa espécie de tratado que López de Ayala escreve aos nobres e reis de um
Estado, mostra as formas de ordená-lo, dirigindo-se a eles com certa autoridade. Gutiérrez o
distingue do Arcipreste de Hita (que escrevia a modo de crônica, menos que de tratado), pois
este tinha algo de benevolente ou bem humorado frente aos erros da época, ao passo que
López de Ayala mostrou-se intransigível e por vezes melancólico. É característico de López
de Ayala nesses versos o uso de uma poética purificada e castelhana, isto é, que rejeita as
influências provençais e alegórico-italianas, ficando com o “mester de clerecía”. A
versificação se distribui em 1.609 estâncias ou coplas, predomina a “cuardenavía”; os versos
variam de 16 a 8 sílabas, mas predomina o alexandrino (de catorze).
Obras em prosa. -- 1. Crónica de los Reyes de Castilla. -- Nesta obra, de influência e filiação
latinas (traduziu do francês as Décadas, de Tito Lívio), diz Gutiérrez, López de Ayala narra a
história de quatro monarcas aos quais serviu como chanceler de Castela; sua inovação no
cronismo é introduzir o diálogo. 2. Dc la caza de las aves, et de sus plumajes, et dolencias et
melecinamientos, o Libro de cetrería (1386), foi inédito até o ano 1869. 3. -- Historia del
linaje de Ayala et de las generaciones de los señores que fueron dél.

“Otros autores y obras de esta época”


5 de julho de 2021, Nilópolis - RJ.

Pularemos o capítulo III, sobre a transição da literatura medieval para a pré-clássica, para a
leitura dos capítulos IV e V: “El Renascimiento y Humanismo” e “El Siglo de Oro: poesía”.

Capítulo IV: “El imperio español. -- Aspectos de la civilización española. -- Difusión de la


lengua y de la literatura españolas durante este período. -- Los humanistas. -- Antonio de
Nebrija. -- Juan Luis Vives. -- La prosa didáctica. -- Juan de Valdés. -- Otros autores.” (pp.
144-167).

Trata-se de um período esplendoroso da história espanhola, onde seu Império já


dispunha grande parte dos territórios descobertos do globo e alcançava um controle político
na Europa. Todos os imperadores espanhóis são da casa de Áustria: Carlos I (V da Alemanha)
(1517-1556); Felipe II (1556-1598); Felipe III (1598-1621); e Felipe IV (1621-1665). O
ditado é que “nos domínios de Carlos V ‘nunca se ponía el sol’”; no reinado de Felipe II,
Portugal é anexado à Espanha.

Cronologia dos fatos mais importantes: 1517: Ascenção de Carlos I ao trono de


Espanha; 1519: Eleição de Carlos I (filho de Felipe I, el Hermoso, e de Juana la loca) para
imperador da Alemanha; 1521: Derrota dos comunheiros na Batalha de Villalar; 1525:
Perdem os franceses em Pavia, levando-se Francisco I prisioneiro à Madrid; 1540: Fundação
da Companhia de Jesus; 1556: Carlos V abdica e se retira no Mosteiro dos Jerônimos de
Yuste; 1557: derrota dos franceses em San Quintín; 1560: Transferência da Corte, de Toledo
para Madrid; 1571: Os turcos são derrotados em Lepanto, por Juan de Austria; 1581:
Coroação de Felipe II como rei de Portugal; 1588: Destruição da Armada Invencível, dirigida
contra a Inglaterra; 1622: O conde-duque de Olivares comanda expedição contra os Países
Baixos; 1640: Independência de Portugal. No reinado de Carlos II, el Hechizado, a Espanha já
não tinha mais sua preponderância na Europa.

“Aspectos de la civilización española”. -- O Renascimento já havia nascido na Espanha,


timidamente, com Imperial, Mena e Santillana, italianizantes. O primeiro humanista foi
Nebrija, mas o mais importante renascentista em Espanha foi Juan Luis Vives (1492-1540),
que era amigo e discípulo de Erasmo. Importantes manifestações desse renascimento. 1)
Destaque ou criação das universidades: Foi criada a de Alcalá de Henares, em 1508, pelo
cardeal Francisco Jiménez de Cisneros; tinha cátedras de Teologia, Direito Canônico,
Medicina, Artes, Ética, Matemáticas, Línguas clássicas, Retórica e Gramática. A de
Salamanca, que no século XIII ajudara na elaboração de Las Partidas e Tablas Alphonsíes,
estava entre as melhores da Europa. 2) Empesas culturais de magnitude tal como a da Biblia
Poliglota Complutense (Complutum é o nome romano de Alcalá de Henares), de 1552, que é
tradução da Bíblia nos idiomas caldeu, hebreu, grego, latino e castelhano; deu-se a
coordenação do cardeal Jimenez Cisneros e helenistas e judeus conversos, Cisneros inclusive
teve acesso à Biblioteca Vaticana; foi publicada em seis volumes. 3) “Intercâmbio frequente
de humanistas espanhóis e estrangeiros, facilitados pela união de tantos países numa só
coroa.” (p. 147).

Difusão da língua e da literatura espanhola durante este período. -- É o esplendor


da língua, que contará novo trabalho das gramáticas e o revigoramento que trazem os
literatos, a própria sintaxe se torna flexível e séria. As expansões geográficas dos falantes da
língua e a influência crescente da coroa espanhola na Europa deixam rastros de influência,
particularmente na Itália e França. A literatura espanhola, porém, continua uma linha
tradicional da literatura, dividindo-se em quatro influências: a) a grega ou clássica, mais nas
referências mitológicas que nas formas poéticas; b) a latina, de Horácio e Virgílio; c) a
Italiana, com Dante, Petrarca, Sannazaro, etc.; d) hebraica ou bíblica, sobretudo em Herrera e
Fray Luis de León; e) a flamenga, erasmiana.

OS HUMANISTAS

Distinguem-se renascimento e humanismo: renascimento -- palavra de origem


francesa, Renaissance, usada desde o século XVIII -- significa a renovação das letras, das
artes e das ciências que começa na Itália, logo a Alemanha e mais à frente a Espanha, nos
séculos XV e XVI, com o redescobrimento da cultura greco-latina, que servirá de inspiração e
modelo. Já o humanismo -- palavra que remete à Cícero pelo resgate de Petrarca da
“humanitatis studis”, justamente o estudo dos antigos que valora o homem – foi o empenho
que renascentistas, estudiosos da língua e literatura antigas, fizeram para repensar os ideais
humanos.
A origem do humanismo europeu se deve ao êxodo dos intelectuais bizantinos, quando
da queda de Constantinopla, em 1453, para a Europa, pois trouxeram o que havia de
manuscritos helênicos. Petrarca (1304-1374) foi o grande erudito da cultura e literatura
antigas, precedendo o Renascimento propriamente dito. Deste, teve a Europa Eramos de
Rotterdam (1467-1536) e Juan Luis Vives (1492-1540). Mas o Humanismo também tem uma
raiz medieval, no século XII, com a fundação das universidades e aquele restauro do
aristotelismo conforme a uma interpretação cristã que empreendeu São Tomás de Aquino (e a
Universidade de Paris). Porém, era um pensamento que exigia mais que a simples explicação
dos textos clássicos -- havia a crítica e revisão das ideias filosóficas, cujas consequências se
viu na Reforma.

Do florescimento do humanismo na Europa floresceram Ariosto, Tasso e Maquiavel


na Itália; Rabelais e Montaigne na França; e na Alemanha e Países Baixos predomina a luta
contra a escolástica, “Erasmo piensa y sueña em latín - dice Américo Castro, refiriéndose a la
producción de este genio máximo del humanismo --, y todo cuanto le rodea no tiene sentido
sino em función de la humanidad clásica, especie de Ciudad de Dios, entre cuyos jerarcas
descuellan Cicerón, Sócrates y Platón.” (p. 150). Na Espanha, Antonio de Nebrija escrevera
Gramática e o Vocabulario (1492) e Juán de Valdés, o Diálogo de la lengua (1535), de fortes
influências latinas, que renovariam e aperfeiçoariam a língua castelhana; na poesia, Boscán e
Garcilaso triunfarão com o petrarquismo; no campo “filosófico-didáctico-moral”, há o grande
Juan Luis Vives.

ANTONIO DE NEBRIJA Y SU GRAMÁTICA DE LA LENGUA CASTELLANA

O reinado dos Reis Católicos marcou um apogeu dos estudos humanísticos na


península. Também, com a queda de Constantinopla, em 1453, os sábios gregos e bizantinos
recorrem ao Ocidente (principalmente Itália), participando, portanto, do Renascimento
europeu. Na corte espanhola, havia o mesmo reflorescimento dos modelos clássicos -- que
precisavam de novas traduções --; destacaram-se preceptores de latim como os irmãos
Geraldino, Pedro Mártir de Anglería e Lúcio Marineo Sículo e mulheres como Beatriz
Galindo (chamada “La Latina”). Nesse contexto, o humanista e gramático Antonio de Nebrija
foi o mais importante latinista, assim como o português Arias Barbosa (que se formou na
Sorbonne e passou sua carreira de professor na Universidad de Salamanca) foi-o do grego.
Obra de Antonio de Nebrija. -- 1. Gramática sobre la lengua castellana ou Arte de la
gramática y artes de la lengua castellana (1492) é a primeira gramática de uma língua
romance. Esta obra tem o mérito de dar rigor ao idioma castelhano e de entroncá-lo
novamente com o latim, que Nebrija conhecia bem. No ensino dos idiomas, era defensor de
um “método natural”: “los idiomas deben enseñarse conforme a la Naturaleza, esto es,
hablándolos, como se aprende la lengua materna.” 2. Vocabulario latino-español y español-
latino (1492), supera todos os dicionários predecessores, inclusive o primeiro a aparecer, o de
Palencia (1490). Escreveu muitas outras obras, dicionários e traduções. Segue comentado um
texto seu:

“DE LAS COPLAS DEL CASTELLANO E COMO SE COMPONEN LOS


VERSOS”, da Gramática sobre la lengua castellana (Versão de Marcelino Menéndez y
Pelayo, Antología de poetas líricos castellanos, tomo V. Madrid 1911). -- Os “pés” (a métrica
adotada é greco-latina) compõem os versos e dos versos se compõem as “coplas”. Os poetas
chamam coplas um “rodeio” ou “ajuntamento” de versos sobre uma sentença, diz Nebrija.
Chamam isto de “período” os gregos, e de “circuita” os latinos. As coplas podem ser
uniformes ou disformes: são uniformes (ou “unimenbre”) as coplas que têm os versos de
mesmo pé, como as do “Labirinto”, de Juan de Encima, com versos todos adônicos duplos e a
coroação (volta), de versos dímetros iâmbicos; os disformes (em grego chamados “dicolos”)
são os “proverbios del marques”, composta a copla de dímetros ou menômetros iâmbicos,
que nossos poetas chamam pés de arte real e pés quebrados.

Distrophos, quando o terceiro verso consona com o primeiro e o quarto ao segundo:


“Al muy prepotente don juan el segundo./ Aquel com quien jupiter tuvo tal zelo./ Que tanta de
parte le haze em el mundo./ Cuanta a si mesmo se haze em el cielo.” (Labirinto). Tristrophos,
quando o quarto consona torna ao primeiro: “Al gran rei de españa al cesar novelo./ Aquel
com fortunas bien afortunado./ Aquel em quien cave virtud e reinado./ A el las rodillas
hincadas por suelo.” (ibid.) Há um outro consonante que ele diz ser pouco fácil de
memorizar, que os latinos chamam de tetrastrophos, que é quando um quinto verso, passados
outros quatros, torna a consonar com um primeiro..

Ademais. Os versos são ditos astrophos quando todos caem debaixo uma consonância,
como acontecia com os cantares ditos romances. E a sílaba que sobra na métrica de um verso
se chama hipermetro; quando há falta, há um cataléctico, verso com escassez; todavia, em
ambos os casos, temos versos cacômetros (mal medidos). Se não há falta nem sobra nos
versos, tem-se versos orthometros.

JUAN LUIS VIVES

Este pensador foi um grande representante do humanismo em Espanha, era amigo de


Erasmo de Roterdã, e o seu ensino de filosofia e seus escritos revelaram um pensamento
novo. Grande parte de sua obra foi escrita em latim. Ele privilegiava a experiência, como um
racionalista empírico; de tal forma que era mais mister o conhecimento objetivo que se deter
na abstração; também defendeu a educação no lar e a instrução das mulheres.

Nasceu em Valencia, em 1492, e tinha entre os ascendentes maternos Ausias March.


Quando criança, seu pai, avó e bisavó foram executados como judaizantes a mando da
Inquisição; aos quinze anos, sua mãe foi absolvida, mas morreu de peste; ao sair da Espanha
com dezessete anos, nunca mais retornaria. Estudou na Universidade de Valencia e, aos
dezoito anos, em Paris, cuja Universidade seguia a tradição escolástica. Ao terminar os
estudos, mudou-se para Bruges, na Bélgica, onde ensinara; ao ser nomeado professor da
Universidade de Lovaina, em 1519, torna-se amigo de Erasmo. Depois, iria para a Inglaterra,
como professor da Universidade de Oxford, por vezes assistindo suas aulas o rei Enrique VIII
e sua esposa Catarina de Aragão. Ao voltar para Bruges, tornou-se amigo de Ignacio de
Loyola. Morreu com quarenta e oito anos, em 1540, em Vives.

Suas obras. -- “...practicó la sabiduría cristiana y estoica y fué, además de filósofo, un


erudito y un grande y original pensador.” (p. 153). 1. De institutione faeminae christianae
(1524). 2. Introductio ad Sapientiam (1524). 3. De subventione pauperum (1526), da
organização da caridade pública. 4. Tratado de la Enseñanza (1536), com os textos De
ratione studii puerilis e De tradentis disciplinis. 5. De anima et vita (1538), esta é sua obra
filosófica mais importante, que trata de passar uma concepção biológica da psicologia, a partir
do básico conceito de vida. 6. Diálogos (1538-1597), sobre o ensino do latim e a necessidade
da gramática e da retórica.

“LA PROSA DIDÁCTICA”. -- Trata-se de textos publicados numa época em que o


idioma já estava bem desenvolvido e se privilegiou temas morais e didáticos. Numa época de
confronto entre a Reforma e a Contrarreforma, que foi encabeçada por Ignacio de Loyola e
pela Companhia de Jesus, a ascética, a mística e a moral seriam fixados no pensamento da
época. Quanto à Renascença e sua valorização por este tipo de prosa, havia uma influência de
Platão e Lucaano -- pois tal gênero se escrevia em Diálogos -- mas principalmente de Erasmo.
“Dentro da denominação geral de ‘escritores didáticos’, compreenderemos: a) críticos e
preceptores; b) filósofos e moralistas; c) políticos, e d) autores de cartas.” (p.155).

JUAN DE VALDÉS

Um dos grandes renascentistas espanhóis e um reformador protestante 2, seguidor de


Erasmo. Foi amigo de Garcilaso, dentre tantos outros eminentes de sua época. Nasceu em
Cuenca, em 1501, e não se sabe de sua infância e juventude, mas que deixou a Espanha e foi
para a Itália em 1531 por força de sua heterodoxia. Foi camareiro do papa Clemente VII e, em
Nápoles, seria o mesmo do cardeal Ércole Gonzaga. Uma dentre seus discípulos foi Julia
Gonzaga, que, por ser tão bela, foi cantada por Tasso e por Ariosto. Francisco de Encina
descreveu-o nesta época: “Era delgado de cuerpo, de hermoso y agradable continente, de
modales suaves y corteses; no se casó, y su vida fué inmaculada”.

1. Diálogo de Mercurio y Carón (de 1528). -- É uma sátira religiosa, que critica os
vícios da Igreja da sociedade da época; tem forte influência de Erasmo e Luciano e lembra as
danças da morte medievais. Carón pelo lago Estigia várias autoridades e ali satiriza seus
costumes e vícios. Escrito em castelhano, já anuncia o auge a que o autor levará o idioma.

2. Diálogo de la lengua (de 1535, mas só foi impresso em 1737 e sem o nome do
autor), tem quatro interlocutores, os espanhóis Valdés e o soldado Pacheco e os italisnos
Marcio e Coriolano. Fala das origens do castelhano e sua qualidade e estilo, discorrendo sobre
2
“Sin embargo, donde actuó durante casi toda su vida fué en Italia, y particularmente en Nápoles. Allí tuvo, en
materia de religión -- fue uno de los más conspicuos protestantes de su época, y precursor, en cierto modo, de los
cuákeros -- sus primeros adeptos, llegando a ampliarse considerablemente el número de los mismos. “El grupo
fuué creciendo – dice J. Morelo Villa en el prólogo de la obra citada (Diálogo de la Lengua, Madrid 1919) en la
nota anterior --; los adictos a Valdés llegaron a tres mil en Nápoles. En él figuraban nobles, canónigos,
embajadores, monjes, escritores”. “La doctrina valdesiana – agrega el mismo autor --, iba, luego de los cultos, a
los burgueses y a los campesinos. Las reuniones tenían lugar casi siempre en el palacio de Julia Gonzaga, viuda
de Vespasiano Colonna, o bien “en una quinta situada en Chiaja, cerca de Parílipo, a la orilla del golfo”. “Allí --
dice Moreno Vila --, congregaba Valdés todos los domingos, un número selecto de sus íntimos. Después de
almorzar vagaban por los jardines, recreaban sus ojos en la reverberante bahía, en la isla de Capri. Luego, ya en
la casa, Valdés leía y comentaba las Sagradas Escrituras, hacía sus ‘divinas consideraciones’, y por la tarde le
quedaba ingenio aún para responder a los temas libres que sus amigos proponían. Así, insensiblemente nació el
Diálogo de la Lengua; como de los comentarios y glosas matinales nacieron Las ciento y diez consideraciones.”
Sobre Juan de Valdés consúltese a Marselino Menéndez y Pelayo: Historia de los heterodoxos españoles,
(Madrid, 1880-82), tomos II y III; (…)

Isto está em nota infra página 155 de GUTIÉRREZ, ibid., 1959.


obras literárias, embora sendo severo ao falar de Nebrija. “Según algunos autores, sólo El
Cortesano, de Castiglione, traducido por Boscán, anterior a él, y el Quijote, de Cervantes,
aparecido posteriormente, son superiores al Diálogo en valor literario.” (p. 157), e Menéndez
y Pelayo pensa parecidamente. “... y todo el bien hablar castellano consiste em que digáis con
las menos palabras que pudiéredes, de tal manera que, explicando bien el concepto de vuestro
ánimo, y dando a entender lo que queréis decir, de las palabras que pusiéredes en una cláusula
o razón no se pueda quitar ninguna sin ofender o a la intención de ello o al encarecimiento o a
la elegancia”.

3. Alfabeto cristiano (1535), é onde encerrou sua doutrina reformista e protestante; 4.


Las ciento diez consideraciones divinas (1538), escrita originalmente em italiano e traduzida
depois. E há muitas traduções bíblicas ao castelhano.

Leitura do Diálogo de la Lengua, dois fragmentos nas páginas 163-165.

Sobre los orígenes del castellano. -- Marcio pede a Valdés que lhe esclareça onde
tiveram origem as línguas que se falam hoje na Espanha, especialmente a castelhana. Valdés
toma por pressuposto que conhecer as origens da língua é saber notícias suas de antes que os
romanos dela se assenhorearam; desse modo, percebe que houve invasões dos godos, os
romanos e os mouros, ainda que a principal influência seja o latim. “Lo que la mayor parte los
que son curiosos destas cosas tienen y creen es que la lengua que oy usan los vizcaínos es
aquella antigua española.” Isto seria pelo fato de que os romanos não conseguiram dominar os
Países Vascos e lá remanesce o caráter originário de seu falar: “Por donde se tiene casi por
cierto que aquella naçión conservó juntamente com la libertad su primera lengua”. Todavia,
diz que lendo mais chegou a outra conclusão: a língua grega era que se falava antes, assim
como a latina é que, com as naturais mudanças, se fala inda hoje. Chegou a isto após ler que
os gregos dominaram Espanha e deixaram sua língua, com a qual travavam comunicação com
tantos outros que acabavam por aceitá-la; a segunda causa é a de palavras sem origem latina
ou arábica e que seriam gregas, a concluir-se que o grego era falado consoante os hábitos de
dizer naturais: “... quedaron tambíen algunas maneras de dezir, porque, como sabéis, el que
habla en lengua agena siempre usa algunos vocablos de la suya propria y algunas maneras de
dezir, porque, como sabéis, el que habla em lengua agena siempre usa algunos vocablos de la
suya propria y algunas maneras de dezir”.
Um outro autor da época foi Francisco Sánchez de Las Brozas ou o Brocense (1523-
1600), natural de Las Brozas (Extremadura), que estudou em Salamanca e aí ditou grego e
retórica; era um eramista e escreveu em latim e castelhano. Foi comentador de Garcilaso de la
Vega, escrevendo Anotaciones y enmiendas a las obras del excelente poeta Garci-Lasso de la
Veja, de 1574; censurou às vezes a falta de originalidade de Garcilaso. Menéndez y Pelayo,
em Los Heterodoxos em la Literatura Española, chamo-o “padre de la gramática general y de
la filosofía del lenguaje” -- “como humanista es para mí hombre divino”.

b) Filósofos y moralistas

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