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Português – 12º ano – Documentos informativos

Ricardo Reis

In Pinto, Elisa Costa et alii, Plural, Português 12.º ano, Lisboa Editora, pp. 195
Ricardo Reis
In Moreira, Vasco, Pimenta, Hilário, Preparação para o exame nacional 2010 – Português 12.º, Porto Editora, pp. 28-32
In Pais, Amélia Pinto, Para Compreender Fernando Pessoa, Col. A paixão de Compreender, Areal Editores, pp. 218-219
Características gerais da poesia de Ricardo Reis (quadro-síntese)

Motivos poéticos / Temas / Linhas temáticas Características formais, linguagem e estilo

 Neoclassicismo – uma atualização das temáticas Aspetos fónicos:


clássicas, por influência do neoclassicismo (corrente
 eufonias
estética de finais do séc. XVII a meados do séc. XVIII) e da
 assonâncias
formação clássica (helénica e latina)
 rimas interiores
 poesia construída com base em ideias elevadas – noção
 versos brancos (sem rima externa, isto é, em final de
de que a ideia justa é, em si, equilibrada (neoclassicismo –
verso) – influência da poesia neoclássica
o possível no homem e tempo modernos)
 didatismo - utilização de um tom moralista, sentencioso
Aspetos formais (forma poética):
(poesia como veículo de uma filosofia ética, de uma lição
de vida, destinada ao recetor intra e extratextual)  formas poéticas: preferência pela ode (de tipo horaciana);
 epicurismo “triste” (na busca dos prazeres moderados recurso ao epigrama e à elegia (formas clássicas).
- hedonismo triste - , sem ceder aos impulsos dos  regularidade estrófica (poemas uniformes, ou seja, que
instintos , na fuga à dor, na defesa da ataraxia) apresentam uma mesma estrutura estrófica - isostrófica)
 estoicismo (na aceitação calma e serena da ordem do  irregularidade métrica (estrofes com diferentes métricas
universo, do destino humano e da dor, como realidades combinadas) – versos heterométricos;
incontornáveis, na autodisciplina, na abdicação, na procura  predomínio dos versos decassílabos e hexassílabos
da apatia e da vida bucólica, em contacto com a simplici- (frequentemente combinados), mas recurso a versos de
dade e quietude da natureza) métrica diversa (ex.: dissílabos, eneassílabos, hendecas-
 ceticismo, aliado à consciência de que a felicidade é sílabos, dodecassílabos e até versos de quinze sílabas
ilusória e de que tudo é transitório, fugaz métricas)
 sentido de autodisciplina, de autodomínio, com vista ao  recurso ao versilibrismo (verso livre)
equilíbrio interior (pela busca de uma fruição moderada
dos prazeres e pela renúncia das emoções intensas) – o Linguagem e estilo:
heterónimo pessoano racionaliza as suas emoções,
 precisão, sobriedade e rigor verbal (lexical)
controla-as através da razão, e recusa ou relativiza o seu
 linguagem erudita, alatinada: no vocabulário, de origem
valor - intelectualização das emoções; sendo o destino
mitológica e latina, e na sintaxe, recorrendo com frequên-
inexorável, temos de ser “donos de nós-mesmos” e
cia à inversão da ordem lógica da frase (utilização de
construir o nosso “fado voluntário” (ainda que esta
figuras de estilo como a anástrofe e o hipérbato)
liberdade na condução do nosso destino seja ilusória)
 estilo laboriosamente construído e pensado (nos
 temática da miséria da condição humana, sem livre
antípodas de Alberto Caeiro)
arbítrio, controlada pelos deuses e comandada pelo
 uso de comparações, metáforas, eufemismos e
destino ou fatum (a “moira” dos gregos), entidade superior
perífrases
àquelas divindades pagãs.
 predomínio das frases subordinadas
 a efemeridade (fugacidade) e fragilidade da vida
 uso frequente do presente do indicativo, do imperativo e
humana – tema recorrente
do conjuntivo (com carácter exortativo, adequados ao tom
 tema horaciano (e epicurista) do carpe diem (“aproveitai
moralista e sentencioso do seu discurso poético)
o dia”), advogando que é necessário aproveitar o momento
 gosto pelo uso do gerúndio (aspeto durativo)
presente, o prazer de cada instante – “colhe o dia / Porque
 utilização do encavalgamento
és ele” –, sem fazer conjeturas futuras, dado que a vida flui
 nomes utilizados como atributos (adquirindo o valor de
inexoravelmente para a morte (como o rio corre para o mar
adjetivos)
distante)
 recurso a elementos e referentes de cariz clássico
 aceitação passiva e racional da ordem das coisas
(figuras mitológicas, nomes femininos colhidos na poesia
 busca da ataraxia, da tranquilidade e quietude da alma
de Horácio – como Lídia, Neera ou Cloe -, ou símbolos
(a magna quies), como via para afastar o sofrimento e
clássicos, como o rio ou o mar).
alcançar a felicidade
 procura da apatia (ideal ético que consiste na recusa das
paixões e de quaisquer outras emoções e sentimentos que
Em Ricardo Reis, a desarticulação sintática e o recurso ao
perturbem a alma, de que resulta a indiferença)
verso branco e livre favorecem a expressão exata e o ritmo
 procura da paz e da quietude através do contacto com a
das suas ideias.
Natureza (aurea mediocritas), onde encontra a felicidade
relativa e a calma necessárias
 constatação da inutilidade da ação (negação da práxis) –
advoga que qualquer esforço para alcançar a virtude ou a
glória se afigura inútil, porque nada acrescenta à vida
 neopaganismo – proclama-se neopagão, apregoando a
sua crença nos deuses, nas presenças quase-divinas que
habitam todas as coisas e no fatum (destino), que está
acima deles e que os comanda (a eles e ao homem) – por
oposição ao cristianismo; refúgio na aparente felicidade
pagã, que lhe atenua o desassossego; propõe-se atingir a
quietude e a perfeição dos deuses; concebe os homens
como “deidades exiladas”, com direito a vida própria
 sentimento de ser um “estrangeiro” no mundo -
apologia da civilização grega, encarando a Grécia como a
pátria de onde se considera exilado

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