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Alberto Caeiro
In Pinto, Elisa Costa et alii, Plural, Português 12.º ano, Lisboa Editora, pp. 173
In Moreira, Vasco, Pimenta, Hilário, Preparação para o exame nacional 2010 – Português 12.º, Porto Editora, pp. 23-27 e 40.
P o s s í v e l s í n t e s e s o b r e a p o e s i a d e Al b e r t o C a e i r o
In Pais, Amélia Pinto, Para Compreender Fernando Pessoa, Col. A paixão de Compreender, Areal Editores, pp. 188-189
Será Alberto Caeiro assim tão antimetafísico como
A o p i n i ã o d e Le yl a Pe r r o ne - M o i s é s
afirma ser?
(Obs.: A autora é brasileira, pelo que a ortografia de algumas palavras corresponde ao português variante do Brasil.)
C aract eríst icas g erais d a p o esia d e Alb ert o C aeiro ( q u ad ro - sín t ese)
a variedade e “eterna novidade do mundo” / a variedade ausência (aparente) de grandes preocupações estilísticas
inumerável da natureza (atento ao mundo exterior, sem- (“escrevo a prosa dos meus versos”), sobretudo a nível
pre “múltiplo”; olhar límpido de criança); fónico;
plena integração e comunhão com a natureza; verso livre (ausência de rima);
poesia deambulatória (passeios pelo campo); métrica irregular;
objetivismo pagão / paganismo existencial / poeta do recurso a versos longos e ritmo lento;
real objetivo (“realismo ingénuo” – adere e aceita as
linguagem simples, corrente ou familiar, próxima da lín-
coisas como elas são, na sua simples existência, sem
gua falada e da prosa (oralizante e prosaica);
lhes atribuir qualquer outro significado);
por vezes, linguagem tautológica (tautologias) – lingua-
aceitação calma do mundo e da ordem natural das
gem próxima da infantil (“uma borboleta é apenas borbo-
coisas;
leta / e a flor é apenas flor”);
panteísmo sensual – crença de que as coisas naturais
alguma pobreza lexical;
são divinas; daí o misticismo naturalista;
estilo discursivo;
sensacionismo / primado dos sentidos – reduz toda a
perceção da realidade às sensações (sobretudo visu- pendor argumentativo;
ais); vive em cada sensação o seu conteúdo original; o predomínio das frases simples ou coordenadas (tendên-
fruir das sensações desperta nele prazer (se não houver cia para a coordenação copulativa e adversativa);
lugar a excessos);
uso de polissíndetos e de assíndetos;
antimetafísico - recusa do pensamento abstrato (“com
filosofia não há árvores – há ideias apenas”), de toda a predomínio do presente do indicativo;
forma de abstração (ex.: os números), de qualquer importância dada ao substantivo concreto (associado ao
transcendência (refuta o “mistério das coisas”); predomínio das sensações visuais);
recusa do vício de pensar (“pensar é estar doente dos recurso à adjetivação objetiva (descritiva), em detri-
olhos”; “saber ver sem estar a pensar”); pensar nas coi- mento do adjetivo valorativo (subjetivo)*;
sas é transformá-las em conceitos vazios; associada à
dicotomia pensar / sentir; recurso à comparação, à antítese, ao paradoxo, ao
oxímoro e à personificação (raramente a metáfora);
visão atomizada do mundo – visão fragmentada das
coisas, dos elementos naturais, apresentado(a)s na sua transformação do abstrato em concreto, frequentemente
individualidade; poesia nominalista – nomear as coisas através da comparação (recurso a referentes naturais ou
isoladamente é fazê-las aparecer aos seus sentidos na retirados da realidade quotidiana);
sua realidade concreta (por oposição a uma visão unifica-
frequentes paralelismos;
da e abstrata, baseada no conceito);
uso de anáforas e de paralelismos estruturais.
imediatismo - vivência no presente imediato, sem admi-
tir passado nem futuro;
recusa dos poetas “místicos”;
considera-se um “pastor” (no sentido metafórico), cujas
ovelhas são as sensações, “o único poeta da natureza”,
“o argonauta das sensações verdadeiras”.
- Contudo:
poesia filosófica – que adquire um pendor filosófico,
pela construção de um sistema lógico, em que se vai
enredando n’ O pastor amoroso e nos Poemas Incon-
juntos, passando por algumas fases: 1º conformado e
abúlico; 2º destruição do mundo da visualidade pura,
caindo na auto-ironia destrutiva (últimos poemas);
contradições, cuja causa atribui à “doença” ou à neces-
sidade de “falar a linguagem dos homens” ou se ligam ao
sentimento amoroso.
* Adjetivação descritiva (valor restritivo): um girassol grande, amarelo e verde; adjetivação valorativa (valor não restritivo):
um grandioso e belo girassol.