Você está na página 1de 7

AO JUÍZO DO JUIZADO ESPECIAL DE FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE

MONTES CLAROS/MG

ELIANE PEREIRA DE SOUZA, brasileira, divorciada, servidora pública, CPF nº


004.382.036-07, portadora do Documento de Identidade nº M-7.824.755, MASP nº 1201252-2,
residente e domiciliada na Rua Tocantins , nº 537, Bairro Guarujá, Montes Claros/MG, CEP 39404-
230, vem à presença de Vossa Excelência, por seus procuradores, mandato anexo, apresentar AÇÃO
DE REPOSICIONAMENTO FUNCIONAL C/C COM RESSARCIMENTO DE
PARCELAS VENCIDAS em face do INSTITUTO MINEIRO DE AGROPECUÁRIA –
IMA, pessoa jurídica de direito público, inscrito no CNPJ nº 65.179.400/0001-51, representado pelo
seu Diretor-Geral Ilmo. Sr. Antonio Carlos de Moraes, com sede na Cidade Administrativa Tancredo
Neves, Rodovia Prefeito Américo Gianetti, s/n, Serra Verde, Ed. Gerais, 10º andar, CEP 31.630-
901, em Belo Horizonte/MG, para querendo responder aos termos da presente demanda:

1. DOS FATOS

A Autora é servidora pública efetiva do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), no


qual exerce o cargo de Assistente de Gestão de Defesa Agropecuária, tendo sido posicionada na
aludida carreira atualmente no nível III e grau A, conforme quadro constante no item 1.2 do anexo
I da Lei Estadual n. 15.303/2004 e histórico funcional em anexo.
Ocorre que a aludida lei garante a todos os servidores das carreiras do “Grupo de
Atividades de Agricultura e Pecuária do Poder Executivo”, dentre elas a de “Assistente de Gestão
de Defesa Agropecuária” (art. 1º, IV), o direito de serem posicionados de acordo com a sua
respectiva escolaridade (art. 19). Desse modo, a Autora, detentora de Pós-Graduação Lato Sensu
(certificado em anexo) deveria ter sido posicionada no nível VI e grau A, estes compatíveis com o
seu nível de escolaridade atual.
Sendo assim, a Requerente, em 16/03/2023, pleiteou administrativamente sua
promoção por escolaridade adicional (requerimento administrativo em anexo). Entretanto, o
Requerido negou o pleito da Autora, por meio do memorando IMA/CRMC nº 1/2023 (em anexo),
nos seguintes termos:
Ante ao exposto, informamos por fim que, o(a) servidor(a) supramencionado(a) não cumpre
todos os requisitos supracitados, não sendo possível a concessão de Promoção por Escolaridade
Adicional requerida, uma vez que não era servidor efetivo em 07/04/2008, data quando entrou
em vigor o Decreto 44.769/2008

Contudo, foi equivocada a decisão da Autarquia Ré, pelos fundamentos que serão
expostos a seguir.

2. DO DIREITO

2.1. DO DIREITO A PROMOÇÃO POR ESCOLARIDADE SEM LIMITAÇÕES


TEMPORAIS

A Constituição Federal em seu art. 39, § 2º, estabelece que “a União, os Estados e o Distrito
Federal manterão escolas de governo para a formação e o aperfeiçoamento dos servidores públicos, constituindo-se a
participação nos cursos um dos requisitos para a promoção na carreira, facultada, para isso, a celebração de convênios
ou contratos entre os entes federados”.
Nessa linha, o art. 11 da Lei Estadual n. 14.695/2003, com as alterações feitas pela Lei
Estadual n. 15.788/2005, estabelece o seguinte acerca da promoção:

Art. 11 – Promoção é a passagem do servidor do nível em que se encontra para o nível


subsequente, na carreira a que pertence.
§ 1° – Fará jus à promoção o servidor que preencher os seguintes requisitos:
I – encontrar-se em efetivo exercício;
II – ter cumprido o interstício de cinco anos de efetivo exercício no mesmo nível;
III – ter recebido cinco avaliações periódicas de desempenho individual satisfatórias desde a sua
promoção anterior, nos termos da legislação específica;
IV – comprovar a escolaridade mínima exigida para o nível ao qual pretende ser promovido;
V – comprovar participação e aprovação em atividades de formação e aperfeiçoamento, se houver
disponibilidade orçamentária e financeira para a implementação de tais atividades.
[...]
§ 3° – Poderá haver progressão ou promoção por escolaridade adicional, nos
termos de decreto, aplicando-se fator de redução ou supressão do interstício
necessário e do quantitativo de avaliações periódicas de desempenho
individual satisfatórias para fins de progressão ou promoção, na hipótese de
formação complementar ou superior àquela exigida para o nível em que o
servidor estiver posicionado, relacionada com a natureza e a complexidade
da respectiva carreira. (Grifou-se)

Nesse contexto, salienta-se que o Decreto nº 44.769/08 regulamentou promoção por


escolaridade adicional do servidor das carreiras do Grupo de Atividades de Agricultura e Pecuária.
Ocorre que o Requerido, conforme Processo nº 2370.01.0005926/2023-29,
Memorando IMA/GGP nº 222/2023 em anexo, tem utilizado como fundamento para o
indeferimento do pedido de progressão de carreira por escolaridade adicional os requisitos 4º, V, a
e b, do Decreto 44.769/2008, quais sejam:

Art. 4º A promoção por escolaridade adicional de que trata o art. 2º fica condicionada aos
seguintes requisitos:
[...]
V - Requerimento, preenchido pelo servidor, da promoção junto à unidade de recursos humanos
do órgão ou entidade de lotação do servidor até 60 (sessenta) dias após a data de publicação da
resolução conjunta de que trata o inciso IV, mediante apresentação de documentos que
comprovem:
a) conclusão do curso até o dia 31 de dezembro de 2007, para fazer jus à promoção por
escolaridade adicional com vigência a parr de 1º de janeiro de 2008; e
b) matrícula no curso até o dia 31 de dezembro de 2007, para fazer jus à promoção por
escolaridade adicional com vigência a para de 30 de junho de 2009 ou 30 de junho de 2010,
nos termos do art. 6º.

Entretanto, é evidente que o Decreto 44.769/2008 extrapolou seu limite regulamentar


ao definir termos temporais não previstos Lei 15.788/2005.
Nesse sentido firmou entendimento o Egrégio TJMG no julgamento do Incidente de
Resolução de Demandas Repetitiva n. 1.0000.16.049047-0/001, nos seguintes termos:

“EMENTA: INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS


REPETITIVASPROMOÇÃO POR ESCOLARIDADE ADICIONAL - LEI
ESTADUAL Nº15.464/2005 - RESERVA DE MARGEM DE
DISCRICIONARIEDADE -AUTOAPLICABILIDADE - NÃO
CONFIGURADA - DECRETO Nº 44.769/08 - ABUSO DO PODER
REGULAMENTAR - CONFIGURAÇÃO -CRITÉRIOS TEMPORAIS NÃO
PREVISTOS NO TEXTO LEGAL -EXCLUSÃO - FORMAÇÃO
COMPLEMENTAR - AUSÊNCIA DEREGULAMENTAÇÃO -
INEFICÁCIA DO TEXTO LEGAL - REQUISITOS A SEREM
OBSERVADOS - ARTIGO 4º DO DECRETO LEI 44.769/08 - TESE
FIRMADA.1. A norma prevista no artigo 19 da Lei 15.464/2005 não é autoaplicável, eis
que o legislador reservou, de forma expressa, margem de discricionariedade para que o Poder
Executivo explicite a formação adicional relacionada com a complexidade da carreira, e para
que regulamente sobre a redução ou supressão do interstício necessário e do quantitativo de
avaliações periódicas de desempenho individual. 2. O Decreto nº 44.769/08 ao
estabelecer limitações temporais, não elencadas no artigo 19 da Lei Estadual
nº 15.464/05, para concessão da promoção por escolaridade adicional
extrapolou os limites do poder regulamentador, ferindo os princípios
constitucionais da legalidade e isonomia. 3. Ausente regulamentação do artigo 19
da Lei 15.454/2005 no que tange à definição de "formação complementar" tem-se por
configurada a ineficácia do texto legal quanto à referida modalidade de promoção por escolaridade
adicional. 4. A promoção por escolaridade adicional, por formação
complementar ou superior àquela exigida pelo nível em que o servidor
estiver posicionado, relacionada com a natureza e a complexidade da
respectiva carreira, depende do atendimento dos requisitos delineados no
artigo 4º do Decreto nº 44.769/08, excluindo-se, contudo, as limitações
temporais mencionadas no caput do artigo 2º; nas alíneas "a" e "b" do inciso
V, do artigo 4º e, ainda, no artigo 6º, caput, incisos I, e II, do referido ato
normativo.” (TJMG – 1ª Seção Cível – IRDR 1.0000.16.049047-0/001 – Relator
Des. Afrânio Vilela – data do julgamento: 09/11/2018 – publicação da súmula
em 22/11/2018) (grifou-se)

Desse modo, conforme documentos anexos, quais sejam: a) Diploma de graduação em


Bacharela em Psicologia, pelo Centro Universitário FIPMoc (Doc. nº 5); e b) Certificado de
conclusão de Pós-Graduação Lato Sensu, pela Faculdade Única de Ipatinga (Doc. nº 6), a Parte Autora
cumpre os demais requisitos elencados pelo art. 4º do Decreto nº 44.769/08.
Assim, implementados os requisitos impostos no Decreto, à exceção do elemento
temporal, deve ser concedida a promoção por escolaridade adicional, há que se reconhecer o direito
correlato.

2.2. DO CORRETO ENQUADRAMENTO NÍVEL E GRAU DA AUTORA EM SUA


CARREIRA E DA DIFERENÇAS NÃO PERCEBIDAS EM RAZÃO DO
ENQUADRAMENTO EQUIVOCADO

Atualmente a Requerente encontra-se no nível III, grau A, percebendo o valor base de


R$ 2.163,47 conforme tabela salarial do IMA:

Entretanto, a Requerente deveria estar auferindo vantagem pecuniária do nível VI, grau
A, com vencimento base no valor de R$ 3.933,61, tendo em vista os documentos ora juntados, os
quais comprovam que a Requerente possui graduação de nível superior pela UFMG e especialização
de Pós-Graduação Lato Sensu, pela Faculdade Única de Ipatinga.
Nesse contexto, tem-se que a diferença entre o nível III, grau A e nível VI, grau A, é de
R$ 1.770,14 mensais. Conforme planilha abaixo:
Período Nível III- Grau A Nível VI- Grau A Diferença
Março/2023 R$ 2.163,47 R$ 3.933,61 R$ 1.770,14
Abril/2023 R$ 2.163,47 R$ 3.933,61 R$ 1.770,14
Maio/2023 R$ 2.163,47 R$ 3.933,61 R$ 1.770,14
Junho/2023 R$ 2.163,47 R$ 3.933,61 R$ 1.770,14
Julho/2023 R$ 2.163,47 R$ 3.933,61 R$ 1.770,14
Agosto/2023 R$ 2.163,47 R$ 3.933,61 R$ 1.770,14
Setembro/2023 R$ 2.163,47 R$ 3.933,61 R$ 1.770,14
TOTAL R$ 12.390,98

Portanto, faz-se necessário que o Requerido seja condenado no pagamento das


diferenças entre a verbas remuneratórias supra expostas, com reflexos em férias acrescidas de 1/3,
décimo terceiro salário, adicionais de desempenho, parcelas as quais devem ser incluídas os
consectários legais (juros mais correção), a incidir desde o dia em que deveria ter sido concedida a
promoção (16/03/2023), até o cumprimento da sentença.

IV – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, REQUER a Vossa Exa.:

a) Os benefícios da Justiça Gratuita, na hipótese de interposição de recurso;


b) A citação do Requerido, no endereço indicado no preâmbulo, na pessoa do seu
Diretor-Geral, para que, querendo, responda a presente ação, sob pena de confissão e revelia quanto
à matéria de fato.
c) Seja JULGADO PROCEDENTE o direito pleiteado à PROMOÇÃO POR
ESCOLARIDADE ADICIONAL PARA O NÍVEL VI - GRAU – A, com reflexos em férias
acrescidas de 1/3, décimo terceiro salário, adicionais de Desempenho (ADE), parcelas as quais
devem ser incluídas os consectários legais (juros mais correção), a incidir desde o dia em que deveria
ter sido conferida a promoção (16/03/2023), até o cumprimento da sentença, abrangidas as parcelas
vincendas.
d) A aplicação de multa em caso de descumprimento da obrigação.
e) Que sejam realinhadas também as progressões da Requerente a partir da data em que
se deferir a promoção por escolaridade, nos termos da fundamentação, garantindo-se as publicações
posteriores que tenha auferido após o ingresso em Juízo, considerando que atualmente a Requerente
se encontra no nível III-A, com as devidas correções monetárias;
f) Alternativamente caso a promoção deferida seja tão somente para o nível
subsequente ao que a Requerente se encontra posicionado, o que se admite apenas a título de
argumentação, que sejam deferidas novas promoções a cada dois anos, até que ela seja posicionada
no nível VI, compatível com sua escolaridade, nos termos do inciso II, do art. 3º, do Decreto nº.
44.769/08;
g) Que seja o Requerido condenado ao pagamento de custas e despesas processuais,
bem como honorários advocatícios, em grau de recurso.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos e


moralmente aceitos, especialmente documental.

Dá-se a causa o valor de R$ 33.632,661 (trinta e três mil seiscentos e trinta e dois reais e
sessenta e seis centavos).

Nestes termos, pede o deferimento.

Montes Claros/MG, 18 de setembro de 2023.

(assinatura eletrônica) (assinatura eletrônica)


GILMAR ARAÚJO VIANA LEANDRO COSTA REBELLO DE
OAB/MG 164.116 FREITAS
OAB/MG 168.279

1O valor da causa considera as parcelas vencidas, monetariamente corrigidas (pelo IPCA-E, conforme julgamento do
Tema 810 [RE 870.947] pelo Supremo Tribunal Federal) até a data de propositura da ação, e a estimativa das doze
parcelas vincendas.

Você também pode gostar