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AO JUÍZO DA 3ª VARA FEDERAL DE SANTO ANDRÉ/SP

PROCESSO Nº: 5001924-22.2022.4.03.6126

LEONARDO AUGUSTO LUVISON ARAÚJO, devidamente

qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem, respeitosamente, através

de seu representante signatário, perante a presença de Vossa Excelência,

interpor o presente RECURSO DE APELAÇÃO nos termos do art. 1.009, do

Código de Processo Civil, pelas razões de fato e direito a seguir.

Requer, desde já, seu recebimento no efeito suspensivo, com a

imediata intimação do recorrido para, querendo, oferecer contrarrazões, e ato

contínuo, sejam os autos remetidos, com as razões anexas, ao Egrégio

Tribunal Regional Federal da 3ª Região, para seus devidos fins.

Nesses termos, pede e espera deferimento.

Porto Alegre, 04 de outubro de 2022.

Gustavo Mascarello Silva Luiza Mazzarino

OAB/RS 108.291 OAB/RS 116.673

Av. Borges de Medeiros , 2500 - sala 1311


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EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

RECURSO DE APELAÇÃO

PROCESSO DE ORIGEM Nº: 5001924-22.2022.4.03.6126

ORIGEM: JUÍZO DA 3ª VARA FEDERAL DE SANTO ANDRÉ/SP

APELANTE: LEONARDO AUGUSTO LUVISON ARAUJO

APELADO: REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC - UFABC E FUNDAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC - UFABC

COLENDA TURMA,

NOBRES JULGADORES

I. SÍNTESE FÁTICA

O Apelante foi aprovado em 1º lugar no processo seletivo simplificado

para contratação de professor visitante na área de Ensino de Biologia

promovido pela UFABC, conforme edital 55/2021.

Nesse sentido, teve sua contratação autorizada pelo Apelado, em

06/10/2022, sob portaria n.º 455, devidamente publicada em Diário Oficial.

Contudo, posteriormente, em 10/05/2022, foi surpreendido pela

portaria n° 486, a qual tornou sem efeito sua contratação sob o argumento de

que o Impetrante não atendia ao requisito exigido no inciso I, § 7º do artigo 2º

da Lei nº 8.745/93, bem como nomeou o 2º colocado.

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O inciso ao qual o art. 1º da Portaria faz referência, dita que o candidato

a professor visitante deve ser portador do título há pelo menos dois anos.

Assim, necessário ressaltar que o Apelante teve sua tese defendida e

aprovada em 16/07/2022, bem como encaminhou a documentação para

homologação do título de Doutor, na mesma data, nos termos do atestado

lavrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, anexo.

Diante do ato de revogação dos efeitos de sua contratação, o Apelante

impetrou Mandado de Segurança, para fins de anulação da Portaria n.º 486, e

consequente contratação do Apelante como professor visitante na área de

Ensino de Biologia da UFABC, nos termos do Edital 55/2021.

Após regular processamento do referido remédio constitucional, o juízo

a quo, em sentença, julgou improcedente o pedido deduzido, denegando a

segurança pretendida pelo ora Apelante.

Conforme será demonstrado, a r. sentença, com a máxima vênia,

merece ser reformada.

II. DO MÉRITO

A. DO DIREITO ADQUIRIDO

Inicialmente, importante sublinhar que o Apelante, após ser

aprovado em 1ª colocação no concurso sob questão, teve sua contratação

devidamente autorizada pelo Apelado, fato que por si só gera o direito

adquirido de ser contratado pela UFABC, na qualidade de professor

temporário.

Nesse sentido, denota-se o entendimento do Supremo Tribunal

Federal acerca do direito adquirido daqueles que foram aprovados em

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concursos públicos, sob julgamento do Recurso Extraordinário n. 598.099, o

qual foi apreciado sob o rito da repercussão geral, in verbis:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL.


CONCURSO PÚBLICO. PREVISÃO DE VAGAS EM EDITAL.
DIREITO À NOMEAÇÃO DOS CANDIDATOS APROVADOS. I.
DIREITO À NOMEAÇÃO. CANDIDATO APROVADO DENTRO DO
NÚMERO DE VAGAS PREVISTAS NO EDITAL. Dentro do prazo
de validade do concurso, a Administração poderá escolher o
momento no qual se realizará a nomeação, mas não poderá
dispor sobre a própria nomeação, a qual, de acordo com o
edital, passa a constituir um direito do concursando aprovado e,
dessa forma, um dever imposto ao poder público. Uma vez
publicado o edital do concurso com número específico de
vagas, o ato da Administração que declara os candidatos
aprovados no certame cria um dever de nomeação para a
própria Administração e, portanto, um direito à nomeação
titularizado pelo candidato aprovado dentro desse número de
vagas. [...] (STF, RE 598099, Rel. Min. Gilmar Mendes, Pleno,
julg. em 10/08/2011, publicado em 03/10/2011) (grifo nosso)

Portanto, tendo o Apelante sido aprovado dentro do número de

vagas, e além disso, sendo devidamente autorizado a ser contrato por meio de

portaria publicada em diário oficial pelo Apelante, é nítido seu direito

adquirido, bem como o atendimento aos requisitos autorizadores da sua

contratação.

A revogação da portaria 455 traduz-se em nítido ato ilegal,

desarrazoado e desproporcional, conforme será demonstrado abaixo.

B. DA DESPROPORCIONALIDADE E VEDAÇÃO AO EXCESSO DE

FORMALISMO:

O Apelante defendeu sua tese de doutorado em 16/07/20, sendo

devidamente aprovado, bem como encaminhou a documentação para

homologação do título da referida data. O Apelado tornou sem efeito sua

contratação sob o argumento de que o Impetrante não portaria o título de


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Doutor há dois anos até a data de 01/07/2022, sendo assim, impossível a sua

contratação, fato que resultou na publicação da Portaria 486, a qual tornou

sem efeitos a autorização de contratação do Impetrante.

Dito isto, antes de enfrentarmos a desarrazoabilidade da conduta,

necessária se faz a interpretação teleológica da norma, in casu, o § 7º do artigo

2º da Lei nº 8.745/93, in verbis:

§ 7º São requisitos mínimos de titulação e competência


profissional para a contratação de professor visitante ou de
professor visitante estrangeiro, de que tratam os incisos IV e V
do caput:
I - ser portador do título de doutor, no mínimo, há 2 (dois) anos;
II - ser docente ou pesquisador de reconhecida competência
em sua área; e
III - ter produção científica relevante, preferencialmente nos
últimos 5 (cinco) anos.

Em leitura teleológica da norma, é nítida a preocupação do

legislador em garantir que os professores visitantes sejam profissionais

gabaritados e com experiência acadêmica, sendo cumulativos os requisitos

listados nos incisos do referido parágrafo.

Nesse sentido, em que pese não conste no edital a exigência legal

dos incisos II e III, conforme depreende-se da análise do currículo lattes do

Apelante, translúcida sua relevante produção científica, incluindo publicações

internacionais, bem como a docência, desde 2020, na Universidade Federal de

São Paulo (UNIFESP), além de atualmente estar finalizando seu Pós-Doutorado

na Universidade de São Paulo (USP).

Isso é, o Apelante atende a finalidade pela qual a norma fora

redigida, possuindo as credenciais exigidas para o cargo de professor visitante

da UFABC, sendo medida desarrazoada e desproporcional seu preterimento

em razão dos 15 dias faltantes para completar dois anos de título de

Doutorado até 01/07/2022.

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Com efeito, o princípio da vinculação ao edital deve ser aplicado

com razoabilidade, de maneira que não seja frustrado o objetivo do concurso,

que visa à seleção dos candidatos mais habilitados ao desempenho das

atividades relativas ao cargo oferecido pela Administração Pública.

Nesse sentido, a Jurisprudência do E. TRF3:

DIREITO ADMINISTRATIVO. REMESSA NECESSÁRIA. MANDADO


DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO DE PROVAS E TÍTULOS
PARA CARGO DE MAGISTÉRIO. RECUSA EM CONVOCAR A
CANDIDATA APROVADA. INCABIMENTO. QUALIFICAÇÃO
SUPERIOR ÀS EXIGÊNCIAS MÍNIMAS PREVISTAS NO EDITAL.
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. REMESSA NECESSÁRIA
IMPROVIDA. - A questão que se coloca nos autos da presente
remessa necessária é a de se saber se a impetrante tem ou
não formação acadêmica necessária para o exercício do cargo
de Magistério de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico junto ao
Instituto. Com efeito, o Edital coloca como condição para
ministrar a matéria Alimentos I uma formação mínima,
consistente no Bacharelado em Engenharia de Alimentos ou
Ciências dos Alimentos ou Química dos Alimentos ou nem
Curso Superior de Tecnologia em Alimentos ou Agroindústria.
- A impetrante, de outro lado, tem como última formação
acadêmica o Doutorado em Ciências - Área de Nutrição
Humana Aplicada. Na análise de casos muito assemelhados ao
que aqui se coloca, a jurisprudência dos tribunais pátrios
consolidou-se no sentido de que a admissão do candidato é
viável, tendo em vista que a formação acadêmica superior
claramente engloba as exigências mínimas contidas no Edital,
não sendo razoável que a Administração Pública se atenha a
uma disposição literal do Edital quando o candidato se revela
inteiramente capaz de desempenhar as funções relativas ao
cargo que pretende ocupar. - Remessa necessária a que se nega
provimento. (TRF-3 - REOMS: 00128348720164036100
SP, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL WILSON ZAUHY, Data
de Julgamento: 25/07/2017, PRIMEIRA TURMA, Data de
Publicação: e-DJF3 Judicial 1 DATA:08/08/2017) (grifo nosso)

Pelo que se depreende dos fatos narrados, tem-se que a revogação

dos efeitos de sua contratação configura ato desproporcional e excesso de

formalismo, uma vez demonstrado o cumprimento de todos os demais

requisitos à vaga pretendida em certame público.

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Ressalta-se que o Apelante defendeu sua tese de doutorado em

16/07/202, sendo devidamente aprovado, bem como encaminhou a

documentação para homologação do título na referida data.

Dispondo de toda qualificação necessária e exigida no certame, o

Apelante foi aprovado em 1º lugar, além disso, teve sua contratação

autorizada por meio de Portaria publicada em Diário Oficial, sendo

nítido, pois, o atendimento aos requisitos autorizadores de sua contratação.

A revogação dos efeitos de sua contratação trata-se de situação que

lesa o ordenamento jurídico, pois exclui do emprego público candidato apto e

qualificado, contrariando a própria essência do concurso público, bem

explicitada à doutrina de Marçal Justen Filho:

"O concurso público visa a selecionar os indivíduos titulares de maior


capacidade para o desempenho das funções públicas inerentes aos
cargos ou empregos públicos. Isso impõe um vínculo de pertinência e
adequação entre as provas realizadas e as qualidades reputadas
indispensáveis para o exercício das funções inerentes ao cargo ou
emprego. (...) (in Curso de Direito Administrativo, 8ª ed. pg.860)

Para tanto, a exigência de um concurso público tem como objetivo

unicamente se certificar que o candidato dispõe de determinados

conhecimentos necessários ao bom desempenho das atividades inerentes ao

cargo e jamais poderão configurar embaraço a candidatos qualificados.

Nesse sentido, precedentes sobre o tema:

REEXAME NECESSÁRIO - Mandado de Segurança - Impetrante que foi


aprovado em primeiro lugar no processo seletivo promovido pelo
Município de Bofete para a contratação por prazo determinado de
Professor de Geografia, mas não foi contratado para o exercício da
função temporária porque não apresentou diploma de conclusão do
Bacharelado em Geografia ou certificado de colação de grau, embora
tenha fornecido Declaração de Integralização Curricular, atestando a
conclusão do curso superior em Geografia - Ilegalidade - Exigência
que se afigura desarrazoada, vez que a declaração, emitida por

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instituição federal (Universidade Federal de Goiás) de inquestionável
idoneidade, é suficiente à demonstração de que o impetrante reúne
os predicados necessários ao exercício de função pública para a qual
foi aprovado em primeiro lugar em certame - Demandante que, em
data posterior à impetração, trouxe aos autos o diploma de
Licenciatura em Geografia, tardiamente expedido em 05/05/2016 em
virtude de greve envolvendo os servidores da Universidade Federal
de Goiás (UFG) - Princípio da razoabilidade e dever constitucional de
motivação desrespeitados - Direito líquido e certo caracterizado -
Concessão da segurança - Precedentes desta Corte de Justiça -
Sentença mantida - Recurso oficial desprovido. (TJ-SP - REEX:
10004909420168260470 SP 1000490-94.2016.8.26.0470, Relator:
Marcos Pimentel Tamassia, Data de Julgamento: 06/09/2016, 1ª
Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 09/09/2016) (grifo
nosso)

CONCURSO PÚBLICO. Professora de Desenvolvimento Infantil. Posse.


Diploma ainda sem registro. Certificado de conclusão do curso que é
documento apto a comprovar que a candidata tem a formação
exigida para o cargo. Afirma que, atendendo exigência da
Administração, apresentou, juntamente com os demais documentos,
declaração de conclusão do curso, expedido por Universidade
Anhanguera (fls. 21), não juntando o diploma cuja confecção e
registro depende de providências administrativas perante o órgão
competente, que não forneceu o documento em tempo hábil. A falta
do diploma, registrado no órgão competente, providência que
costuma demorar, não autoriza a recusa da prova de conclusão do
curso de nível superior emitida pela instituição de ensino. Atenta
contra o princípio da razoabilidade a eliminação do concurso por
esse fato, já que o indispensável foi cumprido pela impetrante, que
comprovou ter a graduação exigida para o cargo". (TJ SP Apelação nº
0001577-48.2015.8.26.0176, 12ª Câmara).

Desta forma, em consonância com a jurisprudência, necessária a

reforma da sentença prolatada em primeiro grau de jurisdição. A superação

da literalidade da legislação, em homenagem aos princípios constitucionais da

razoabilidade e proporcionalidade autorizam a contratação do Apelante para o

cargo em que foi aprovado, em primeiro lugar, e possui extrema qualificação e

experiência profissionais devidamente comprovadas.

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Conclui-se, portanto, que a exigência feita pela Universidade não se

coaduna com os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, que devem

nortear a conduta administrativa, razão pela qual merece guarida o presente

pleito, com a consequente reforma da sentença proferida pelo juízo a quo.

III. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

1. O recebimento do presente recurso, em seus efeitos ativo e suspensivo,

nos termos do art. 1.012 do Código de Processo Civil;

2. A intimação dos Apelados para se manifestarem, querendo, nos termos

do §1º do art. 1.010 do Código de Processo Civil;

3. A total procedência do recurso, para fins de reforma da decisão

recorrida e determinar a anulação da Portaria n.º 486 da

Superintendência de Gestão de Pessoas da Fundação Universidade

Federal do ABC (UFABC), com a consequente investidura em cargo

público do ora Apelante.

Nesses termos, pede e espera deferimento.

Porto Alegre/RS, 04 de outubro de 2022.

Gustavo Mascarello Silva Luiza Mazzarino

OAB/RS 108.291 OAB/RS 116.673

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