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TEXTO DE APOIO - UFCD 6031 IMP CDI 205a

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SISTEMAS TRIFÁSICOS
1. INTRODUÇÃO
Os sistemas trifásicos desempenham um papel fundamental na Produção, Transporte
e Distribuição de Energia Elétrica e também na sua Utilização, designadamente
em instalações industriais de média e baixa tensão, particularmente para alimentação
de motores elétricos e outras cargas de potência mais elevada.
Nestes textos procura-se apresentar as principais características destes sistemas e
analisar alguns aspetos relacionados com a sua utilização.

A.T.

Central Produtora E.E.

M.T.

B.T.

2. PRINCÍPIOS BÁSICOS
As grandezas elétricas- Tensão e Corrente – ou Voltagem – (U – ou V – e I,
respetivamente) Alternadas Trifásicas, são geradas nos Alternadores, havendo
um desfasamento entre si de 120° entre os polos de cada uma das fases.
Estas grandezas podem ser representadas por sinusoides, em função do tempo (t) ou
por vetores, como se representa nas Figuras 1 e 2, respetivamente.

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A designação das fases em baixa tensão (BT) é definida de acordo com as Normas
IEC (L1; L2; L3), em média tensão (MT) tanto podem ser designadas de formal igual à BT,
como por índice horário (0; 4; 8), de acordo com a representação vetorial e, em muito
alta e alta tensão (MAT e AT) pelo sentido horário. A Tabela 1 mostra a designação das
fases.

Quando num sistema trifásico a carga é equilibrada, a corrente no neutro é zero.


Em sistemas desequilibrados, no pior caso a corrente no neutro não
ultrapassa a corrente na fase mais sobrecarregada.

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Nos sistemas MT, AT e MAT (produção, transporte, distribuição e utilização de energia
elétrica) o neutro não é utilizado.

Nos sistemas BT o neutro pode ou não ser utilizado, dependendo das características da
carga; os motores trifásicos não necessitam do neutro.
A tensão entre uma fase e o neutro designa-se por tensão simples (Us), e a tensão entre
fases por tensão composta (Uc); a relação entre estas tensões é a seguinte:
Uc = √3xUs
A classificação dos níveis de tensão difere de país para país, razão pela qual devem ser
referidos os valores das tensões normalizadas, em Portugal os valores mais habituais
das tensões nominais das redes são:
- Baixa tensão (BT) Tensão entre fases cujo valor eficaz é igual ou inferior a 1 kV.
[Portaria 596/2010]
- Média tensão (MT) Tensão entre fases cujo valor eficaz é superior a 1 kV e igual ou
inferior a 45 kV. [Portaria 596/2010]
- Alta tensão (AT) Tensão entre fases cujo valor eficaz é superior a 45 kV e igual ou
inferior a 110 kV. [Portaria 596/2010]
- Muito Alta tensão (MAT) Tensão entre fases cujo valor eficaz é superior a 110 kV. Em
Portugal temos linhas de 150, 220 e 400 KV. [Portaria 596/2010]

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3. CARACTERÍSTICAS DAS GRANDEZAS
SiNUSOIDAIS
As grandezas sinusoidais, como a tensão (que se representa na Figura 3) e
a corrente caracterizam-se pelos seguintes parâmetros que estão representados na
figura referida, onde igualmente se indica a respetiva definição e relação entre eles:
▪ Valor de crista (Umax; Imax – unidade: V e A, respetivamente)
▪ Valor eficaz (Uef; Ief– unidade: V e A, respetivamente)
▪ Amplitude de onda (USS; ISS)
▪ Período (T – unidade: s)
▪ Frequência (f – unidade: Hz)

A frequência normalizada na generalidade dos países é 50 Hz. Na maior parte dos países
do continente americano, designadamente no Brasil (constituem exceções a Argentina,
a Bolívia e o Chile), nas Caraíbas (sendo a Jamaica uma exceção), nas Filipinas e
na Arábia Saudita a frequência normalizada é 60 Hz.
Estes valores da frequência são habitualmente designados por frequência
industrial ou frequência fundamental.
EXEMPLO: Considere uma tensão eficaz de Uef=230V, calcule os valores de:
a) Tensão máxima Umax=?
b) Tensão de pico a pico (amplitude) Uss=?
c) O Período da Onda T(ms)?

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4. LIGAÇÃO DOS SISTEMAS TRIFÁSICOS
Os sistemas trifásicos podem ser ligados em estrela (Y), ou em triângulo (Δ), como se
representa na Figura 4.

Na ligação em estrela a tensão na linha é igual à tensão simples, enquanto na ligação


em triângulo a tensão na linha é igual à tensão composta.

A relação entre as correntes na linha (IL) e na fase (IF) é expressa pelas equações:
▪ Ligação em estrela

▪ IL = IF
▪ Ligação em triângulo

▪ IL = √3xIF

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SISTEMA TRIFÁSICO EQUILIBRADO

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5. DESFASAGEM ENTRE CORRENTES E
TENSÕES. POTÊNCIAS ELÉTRICAS E FATOR
DE POTÊNCIA
A existência de componentes indutivas e capacitivas nas redes e equipamentos, causa
uma desfasagem entre a corrente e a tensão, podendo a corrente estar
em atraso (quando predomina a componente indutiva, como se mostra na Figura 5) ou
em avanço (quando predomina a componente capacitiva).

A desfasagem, que é representada por um ângulo (φ), que provoca que a potência
ativa (notação P) seja inferior à potência fornecida – a potência aparente (notação S),
sendo a diferença entre aquelas potências a potência reativa (notação Q).
Representando estas potências por vetores, obtém-se o “triângulo de potências”, que
se representa na Figura 6.

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O cos φ designa-se por fator de potência, variando entre “0” e “1”.
As equações que exprimem as potências aparente(S), ativa(P) e reativa(Q), nos sistemas
trifásicos são:
Potência aparente
S = √3 x Uc x I = 3 x Us x I <> I = S / (√3 x Uc) (VA)
Potência ativa
P = S x cos φ= √3 x Uc x I x cos φ = 3 x Us x I x cos φ (W)
Potência reativa
Q = S x sin φ = √3 x Uc x I x sin φ = 3 x Us x I x sin φ (VAr)
Um fator de potência baixo, de que os motores elétricos são um dos principais
responsáveis, para além de ser penalizado pelas concessionárias das redes
de distribuição de energia elétrica, tem consequências na exploração das
redes, públicas e privadas, das quais se destacam:
▪ Sobredimensionamento dos transformadores.

▪ Correntes mais elevadas nos cabos, causando maiores perdas por efeito
de Joule e maiores quedas de tensão.
▪ Menor potência disponível.

▪ Redução da qualidade de serviço e do rendimento das instalações.

Exemplo:
Suponha um forno trifásico resistivo com 3 resistências de 80 Ohms cada, em ligação
estrela, com uma tensão Uc=400V, calcule:
a) A tensão em cada resistência R=?
b) A Corrente na linha IL=?
c) A potência total S=?

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Suponha o mesmo forno, mas agora com as resistências ligadas em triângulo, com
uma tensão Uc=400V, calcule:
a) A tensão em cada resistência R=?
b) A Corrente na linha IL=?
c) A potência total S=?

6. COMPENSAÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA

Em vários países a energia reativa é faturada pela concessionária da rede de


distribuição de energia com base em três escalões, com contabilização diária de energia
reativa consumida. Valores habituais desses escalões são os correspondentes a:
▪ 1º Escalão: 0,3 ≤ tg φ ˂ 0,4 (0,93 ˂ cos φ ≤ 0,95).
▪ 2º Escalão: 0,4 ≤ tg φ ˂ 0,5 (0,89 ˂ cos φ ≤ 0,93).
▪ 3º Escalão: tg φ ≥ 0,5 (cos φ ≤ 0,89).
Para evitar as penalizações e otimizar a instalação é necessário proceder
à compensação do fator de potência, instalando bancos de condensadores, para o que
é necessário:
▪ Dimensionar o banco de condensadores, isto é, calcular a sua potência
reativa (Q).
▪ Definir o tipo de compensação e a localização do(s) banco(s).
▪ Definir o método de comando e controle.
O dimensionamento do banco é feito através da seguinte equação:
Q (kVAr) = P (kW) x (tg φ1 – tg φ2)
Onde:
▪ P é a potência ativa da instalação.
▪ φ1 é a desfasagem da instalação.
▪ φ2 é a desfasagem pretendida.

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Cada fase dos bancos de condensadores é constituída por conjuntos de condensadores,
sendo cada conjunto ligado em série. As três fases são depois ligadas em estrela com
o ponto de neutro ligado à terra.
A correção do fator de potência em instalações BT pode ser feita das seguintes formas:
▪ Centralizada: apenas um banco de condensadores é instalado, junto
do QE (quadro de entrada) da instalação.
▪ Descentralizada: são instalados bancos de condensadores junto
aos quadros parciais (QP) da instalação que alimentam os equipamentos
responsáveis pelo valor baixo do fator de potência.
▪ Localizada: os bancos de condensadores são instalados junto
dos equipamentos responsáveis pelo valor baixo do fator de potência.
As figuras 7 a 9 ilustram estes métodos de compensação para instalações BT.

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Os bancos de condensadores, para evitar a injeção de energia reativa na rede, o
que também é penalizado pelas concessionárias, são normalmente divididos em
escalões, para ajustar o valor da energia reativa de compensação às cargas. A entrada
e saída dos escalões é feita através de um relé varimétrico.
Na Figura 10 mostra-se um exemplo de um relé varimétrico e o respetivo esquema de
ligações para instalações BT.

No caso de instalações MT os bancos de condensadores são habitualmente ligadas


no Quadro de Média Tensão (QMT) de entrada da instalação e não têm escalões,
utilizando-se o número de bancos, cujas potências são determinadas pelo cálculo, de
acordo com a evolução do consumo diário de energia reativa, fazendo-se o comando
de entrada e saída dos diversos bancos de condensadores através de um IED, que
desempenha também a função de proteção dos bancos.
IED (Intelligent Eletronic Device): unidade eletrônica microprocessada, atendendo
à Norma IEC 61850, que tem cerca de 5 a 12 funções de proteção, 5 a 8 funções de
comando e controle, medidas de grandezas elétricas e portas de comunicação.

EXEMPLO: Uma empresa tem uma potência instalada de 100KW, com um fator de
potência de 0,8 indutivo, que quer corrigir para 0,95, qual será o valor de potência da
bateria de condensadores que terá de instalar?

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7. QUEDA DE TENSÃO
As componentes resistivas e indutivas dos cabos e linha aéreas provocam
nos circuitos quedas de tensão (notação: ΔU) que podem causar mau funcionamento
dos equipamentos.
Os valores máximos das quedas de tensão admissíveis nas redes de distribuição e
nas instalações de utilização são definidos nas normas e regulamentos aplicáveis, que
no caso de instalações BT.

Deve referir-se ainda que no caso dos motores elétricos a queda de tensão não pode
ultrapassar 5% em funcionamento normal e 10% no arranque.
As expressões que permitem calcular a queda de tensão são:
Circuitos monofásicos
ΔU = 2 x (R.cos φ + X.sen φ) x I [V]
Circuitos trifásicos
ΔU = √3 x (R.cos φ + X.sen φ) x I [V]
Onde:
▪ I é a corrente(A).
▪ R é a resistência do cabo de alimentação(Ω).
▪ X é a reatância indutiva do cabo de alimentação(Ω).
▪ φ é a desfasagem.
A queda de tensão exprime-se habitualmente em [%], sendo calculada pela expressão:
ΔU [%] = (ΔU [V] x 100 ) / Uef [V]
EXEMPLO: Num circuito de tomadas domésticas monofásicas temos um comprimento
de cabo de 2,5mm2 de 50m, considerando a corrente de serviço de Is=15A, e um
cosφ=0,8 ( senφ=0,6), sabendo que o valor dado pelo fabricante de R=7,41Ω/Km e
XL=0,1 Ω/Km a 20ºC. Sabendo que o ΔUmax=5%. Confirme se a secção está correta.

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EXEMPLO: Numa instalação industrial trifásica Uc=400V temos um motor trifásico com
3KW e fator de Potência de 0,87, colocado a uma distância do quadro elétrico de 25m,
qual será a secção dos condutores do cabo, para garantir uma queda de tensão inferior
a 5% em funcionamento e 10% no arranque direto (6xIn).

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8. HARMÔNICAS
A existência de cargas não lineares, designadamente os fornos a arco, utilizados na
indústria de fundição de metais, máquinas de soldar a arco e os equipamentos
eletrônicos de potência, tais como os retificadores(designadamente os utilizados em
tração elétrica) e os conversores estáticos, podem induzir outras tensões (ou correntes)
com frequências múltiplas da frequência fundamental (habitualmente múltiplos de
ordem ímpar) que são as harmônicas, isto é: 3ª harmônica – 150 Hz ou 180 Hz; 5ª
harmônica – 250 Hz ou 300 Hz; 7ª harmônica – 350 Hz ou 420 Hz; etc.
A Figura 12 ilustra um exemplo da frequência fundamental e da 3ª e 5ª harmônica.

A onda de tensão (ou corrente) resultante é uma onda distorcida – distorção


harmônica – como se representa na figura 13.

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Habitualmente a 3ª harmônica é a mais prejudicial para o funcionamento


dos equipamentos e sistemas, mas a 5ª e a 7ª harmônicas, em certas condições, não
devem ser negligenciadas.
De acordo com a Norma IEC 61000-2-4: Eletromagnetic compatibility (EMC) –
Environment – Compatibility levels in industrial plants for low-frequency conducted
disturbances, a distorção harmônica é caracterizada pelo parâmetro THD (sigla inglesa
de Total Harmonic Distortion – Distorção Harmônica Total).

A Norma IEC anteriormente referida considera o “ambiente” eletromagnético dividido


em três classes:

1. Classe 1 – Aplica-se a alimentações e respetiva compatibilidade para


níveis baixos da distorção harmônica, menores que as da rede pública.
Está relacionada com equipamentos sensíveis, tais como instrumentação
elétrica e eletrônica, sistemas de proteção e comando e equipamento de
laboratório.

2. Classe 2 – Aplica-se na generalidade a PCC e a IPC em ambiente


industrial ou em redes não públicas. Os níveis de compatibilidade desta
classe são idênticos aos da rede pública, admitindo a utilização de

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equipamentos com características semelhantes aos utilizados para a rede
pública.

PCC é a sigla inglesa de point of common coupling – ponto de uma rede pública
eletricamente próximo de uma carga particular, á qual outras estão ligadas ou possam
vir a ser ligadas
IPC é a sigla inglesa de in-plant point of coupling – ponto de uma rede incluída num
sistema elétrico, ou uma instalação, eletricamente próximo de uma carga particular, á
qual outras estão ligadas ou possam vir a ser ligadas. Normalmente o IPC é o ponto onde
se estuda a compatibilidade eletromagnética.
▪ Classe 3 – Aplica-se apenas a IPC em ambiente industrial. Os níveis de
compatibilidade são superiores aos da Classe 2, para certo tipo de
perturbações, devendo ser considerado quando: a maior parte das
cargas é alimentada a partir de conversores de tensão e/ou frequência;
são utilizadas várias máquinas de soldar; existem motores de potência
elevada com arranques frequentes; existem variações rápidas das cargas.

Os níveis de compatibilidade da THD para cada uma das classes são:


▪ Classe 1 – 5%.
▪ Classe 2 – 8%.
▪ Classe 3 – 10%.

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Filtros de harmónicas

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