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ANAIS

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DOS GOVERNOS MUNICIPAIS GAÚCHOS:


UMA ANÁLISE DO DESEMPENHO ORÇAMENTÁRIO-FINANCEIRO DOS
MUNICÍPIOS A PARTIR DO TESTE DE 10 PONTOS DA CONDIÇÃO
FINANCEIRA DE BROWN (1993)

Daniele Mendes Caldas Antunes


(Universidade Federal do Rio Grande)

Resumo: Com o objetivo de avaliar a relação da condição financeira como artefato


condicionante ao desempenho dos municípios gaúchos, esta pesquisa traz uma
análise descritiva, post-facto, quantitativa, metodologicamente norteada pela proposta
de Brown (1993), conhecido também como o modelo dos 10 pontos de condição
financeira. Os resultados aqui demonstrados visam contribuir com o fomento da
discussão acerca da gestão de recursos públicos e a avaliação de desempenho do
setor, e também com o fornecimento de ferramentas análise, para melhorar o
desempenho da administração pública Com isso, pretende ainda, ao observar a
singularidade do contexto e os objetivos do setor, e a utilização de indicadores para a
avaliação de desempenho de aspectos entendidos como importantes para a
conjuntura. Para isso, foram analisados os 478 municípios do Estado do Rio Grande
do Sul, até 100 mil habitantes, de acordo com o IBGE (2010), abrangendo 97% dos
municípios do Estado, segregados em 4 grupos distintos, de acordo com a população,
pois o tamanho dos municípios por número de habitantes é recomendado por Brown
(1993). Os dados foram extraídos dos demonstrativos das Execuções Orçamentária
dos Municípios, SICONFI, FINBRA, STN. Como resultados. Como resultados,
verificou-se que os municípios mais populosos de cada grupo não são os municípios
que apresentam melhores condições financeiras. Avaliados como “Entre os melhores”
estão: Alpestre, Nova Pádua, São José do Norte, Piratini, Gramado e Esteio. O
município de Gramado apresenta melhor desempenho, de acordo com a proposta de
Brown (1993). Já o município mais populoso, Erechim, foi avaliado como “Na média”.
Dos quatro grupos, apenas o grupo 1, ficou abaixo da média geral dos grupos, 4,32,
sendo avaliado como “Na média”, embora 42% de seus municípios foram classificados
como “Melhor que a maioria”. Os demais foram avaliados como “Melhor que a maioria”
sugerindo um bom desempenho dos grupos, de forma geral.

Palavras-chave: Controle Gerencial no Setor Público, Condição Financeira dos


Municípios, Modelo de Brown (1993).

1 INTRODUÇÃO

Dentro da visão de planejamento e controle, a avaliação de desempenho, cada


vez mais, se mostra ser um ponto relevante na gestão das organizações, afinal
“desempenho é resultado” (FREZATTI et al., 2009). A falta de uma definição, para os
autores Micheli e Mari (2014), indica a necessidade de mais pesquisas nesse campo,

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* A revisão gramatical, ortográfica, ABNT ou APA foi realizada pelos autores.
principalmente no que tange aos aspectos de validade e legitimidade da Avaliação de
Desempenho.
De acordo o Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG -
(BRASIL, 2009), a palavra desempenho é um termo sujeito a variações conceituais e
semânticas, portanto, segundo uma abordagem mais abrangente, o desempenho
pode ser compreendido como esforços empreendidos na direção de resultados a
serem alcançados. Silva (2016) explica que para avaliar o desempenho dos
programas do governo, os resultados de suas ações e funções, seja de forma
agregada ou individual, são necessários estabelecer os critérios de avaliação. O
mesmo autor também esclarece que os critérios de avaliação são medidas para a
aferição do resultado obtido, ou seja, são mecanismos lógicos que servem como base
para escolhas ou julgamentos.
Silva e Silva (2017) explicam que avaliar eficiência no setor público torna-se um
desafio para a Ciência Contábil, dado que na sua função social é imperativo prestar
informação para a tomada de decisão e para o processo de operacionalização do
controle social no sentido de suprir as necessidades da coletividade. Nesta mesma
linha Silva (2016) expõe que o tema avaliação de desempenho é uma questão central
no setor público a qual foi ressaltada pela Nova Gestão Pública (NGP) e várias
disciplinas e conhecimentos se tornam relevantes nos estudos, como a economia,
administração pública, contabilidade (gestão do setor público) e a sociologia.
Speklé & Verbeeten (2014) relatam que levando em consideração que as
reformas trazidas pela Nova Gestão Pública levaram a mudanças importantes na
gestão destas organizações, com base na noção de mercados competitivos e da
adoção de técnicas de gestão do setor privado, a literatura demonstra que o
benchmarking pode ser utilizado para melhorar o desempenho no setor público, assim
como o faz no setor privado. No entanto, estes autores alertam que a efetividade da
introdução de um novo instrumento de avaliação de desempenho no serviço público
depende da habilidade dos gestores em utiliza-lo.
Neste mesmo sentido Oliveira e Reis (2016, p.22) reforçam que “avaliar
eficiência, eficácia e efetividade das estruturas, processos e resultados relacionados
ao risco, a vulnerabilidades, ao acesso e à satisfação dos cidadãos torna-se
ferramenta central na apropriação do planejamento para o aperfeiçoamento do
sistema” Portanto, neste caso, em que as relações entre os stakeholders se baseiam
na alta transparência e responsabilidade, como no setor público, é necessário
mensurar e avaliar os resultados em termos dos outputs e dos resultados obtidos
(GOMES, 2010). Para isso, as avaliações de desempenho precisam ser intercedidas
por normas sociais e valores dominantes, e o papel de prestação de contas também
deve ser entendido de acordo com essa cultura (SILVA, 2016).
Entretanto, um dos problemas enfrentados neste setor é que, conforme Dal Vesco,
Hein e Scarpin (2014) ressaltam é que várias das ações desenvolvidas pelos entes
públicos são avaliadas apenas com interesse em cumprimento legal, desprezando a
avaliação gerencial, em questões importantes como, o crescimento do município e,
por conseguinte, a capacidade de geração de receitas, na maioria das vezes. Por este
motivo Silva e Silva (2017) consideram que a eficiência da gestão pública ainda é algo
preocupante e difícil de mensurar no setor, pois, conforme reforçado pelos autores
Maher e Nollenberger (2009) entidades públicas tem um método de avaliação
diferente de resultados do que o utilizado no setor privado.

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Para que se alcance este objetivo de uma avaliação gerencial efetiva neste
setor, pode-se utilizar os relatórios disponibilizados pela contabilidade do setor
público, que proporcionam informações econômico-financeiras, que servem de base
tanto para um controle gerencial quanto social. “A análise dos indicadores contábeis
e financeiros para avaliação de desempenho, geralmente, é realizada de forma
individual e sequencial, ou seja, as análises são realizadas com base em
comparações” Dal Vesco, Hein e Scarpin (2014). Tais informações sobre as contas
públicas são disponibilizadas em portais da transparência dos Entes Públicos, todavia,
isso nem sempre cumprido e quando se deseja saber informações complementares
sobre a aplicação dos recursos públicos, o cidadão não consegue (SILVA, 2016).
Complementarmente, Januzzi (2002) também aclara que no Brasil, diferentemente de
outros países, as estatísticas sociais, econômicas e demográficas, que servem de
base para a construção de indicadores, são produzidas, reunidas e difundidas por
diferentes agências, situadas em âmbito federal ou estadual.
Em 2009, os autores Berry et al. já chamavam a atenção para problemas
fundamentais existentes e para as tendências que podem ser percebidas na área de
controle de gestão, que poderão servir de norte para pesquisas futuras, dentre eles,
avaliação de desempenho voltada para o controle estratégico e modelos de controle
para gestão de desempenho e medidas, problemas estes explícitos na administração
pública, até mesmo pelas suas características políticas. Os mesmos autores também
revisaram estudos que abordam o distanciamento entre teoria e prática, sugerindo
que esse gap tem sido visto tanto como um problema de transferência de
conhecimentos; como a representação de tipos distintos de conhecimento ou ainda
como um problema de produção de conhecimento (BERRY et al. 2009). Neste sentido,
para estudos posteriores, estes autores recomendam que, além de priorizar pesquisas
de campo, deve-se investigar os múltiplos aspectos dos controles de gestão e as
evoluções ao longo do tempo.
Já, em 2017, Silva et a.l ao analisar as oportunidades e potencialidade sobre
avaliação de desempenho na gestão pública na literatura internacional no período de
2010 a 2016, identificou que poucas pesquisas empíricas sobre resultados efetivos
através de indicadores de Avaliação de Desempenho. Ainda que as oportunidades e
potencialidades de pesquisas empíricas, incluindo estudos de casos e experimentos,
são lacunas pouco exploradas pela literatura. Em seu estudo Silva et al sugerem ainda
como futuras pesquisas a análise de modelo de indicadores para avaliação de
desempenho.
Dal Vesco, Hein e Scarpin (2014) elucidam que como os governantes possuem
poder sobre as transferências ou dispêndios, é necessário que haja bons indicadores
que avaliem a sua eficiência de forma que não comprometa a saúde econômico-
financeira do município. Segundo estes, uma avaliação completa da condição
financeira de municípios envolve um grande número de fatores e indicadores e pode
ser complexa. Corroborando, Nobre (2017) esclarece que a avaliação da condição
financeira é empregada em estudos não apenas na ciência contábil, como também na
economia, na ciência política, sociologia e também na gestão pública.
Frente ao exposto, no intuito de contribuir com o fomento da discussão acerca
da gestão de recursos públicos e a avaliação de desempenho do setor, e também com
o fornecimento de ferramentas análise, para melhorar o desempenho da
administração pública o objetivo desta pesquisa é avaliar a relação da condição

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financeira, por meio da execução orçamentaria, como artefato condicionante ao
desempenho dos municípios gaúchos. Contudo, visa observar a singularidade do
contexto, os objetivos do setor e a utilização de indicadores para a avaliação que
proporcione apoio ao controle gerencial e de aspectos entendidos como importantes
para a conjuntura. Para Spékle e Verbeeten (2014), a avaliação de desempenho
promove a oportunidade de gestores públicos de comunicar melhor seus propósitos,
para assim avaliar suas ações, de acordo com esses propósitos estabelecidos.
De acordo com Brown (1993) uma avaliação adequada e completa da condição
financeira que abrange uma grande quantidade de fatores e indicadores relacionados
pode levar muito tempo a um município. Avaliação esta que se torna útil tanto para o
controle gerencial público, quanto ao controle social. O acompanhamento dos atos
praticados pelo governo e das ações do Estado pelo cidadão, da execução
orçamentária e das finanças públicas de maneira clara é e conhecido como
transparência fiscal (CRUZ et al., 2012; SANTANA JUNIOR, 2009). Conforme
explicitado por Micheli e Mari (2014) este tipo de estudo também pode ter implicações
para gerentes e decisores políticos, uma vez que os sistemas de avaliação de
desempenho devem ser idealizados e implementados baseados na sua capacidade
formal de representar objetivos organizacionais e a sua influência nos interessados.
Assim sendo, para o alcance deste objetivo, este artigo está estruturado em
quatro seções além a essa introdução. Na seção seguinte, é apresentada uma breve
fundamentação teórica acerca do tema, e apresentação do modelo de Brown (1993),
eixos centrais desse estudo. Na sequência, são apresentados os procedimentos
adotados, precedendo a seção de análise discussão dos resultados. Por fim, na última
seção conclui-se o artigo com considerações finais, contribuições e sugestões para
pesquisas futuras.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Ao longo dos últimos anos, a gestão e a avaliação do desempenho foram


tratados como o bloco de construção fundamental que permeia as empresas
contemporâneas para os principais interessados para avaliar as conquistas dos
negócios (Mari & Micheli, 2014). Esse resultado é comprovado em parte, no âmbito
do setor público, por Speklé e Verbeeten (2014), que realizaram uma survey em
organizações do setor público e observaram que o uso exploratório da avaliação de
desempenho, aumenta o desempenho organizacional na medida em que fornece um
entendimento mais claro dos objetivos e também possibilita o ajuste das metas e
políticas.
Os mesmos autores citam que na literatura científica, é amplamente
reconhecido que os sistemas de avaliação de desempenho podem servir para vários
fins e podem ser aplicados de várias maneiras. No mesmo sentido, sentido Micheli e
Mari (2014) sugerem que avaliação de desempenho pode ajudar a superar fraquezas
se seus esforços se concentrarem em fornecer princípios ou diretrizes que informem
e influenciem a ação. Segundo Moreno, Walter e Damke (2017, p.19) “os sistemas de
controle, quando alinhados, permitem mudanças na estrutura organizacional que
possibilitam manter o planejamento”.
Micheli e Mari (2014) explicam que a avaliação de desempenho é o processo
de obtenção e demonstração de informações descritivas sobre a propriedade de um

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objeto, como por exemplo, um processo, uma atividade ou de pessoas. Os modelos
de avaliação de desempenho têm como principal função fornecer a seus usuários
informações acerca do desempenho de determinada unidade, além de promover o
alinhamento entre estratégias, metas, ações e incentivos oferecidos aos agentes
(GONZAGA et al., 2017) promovendo ainda o alinhamento entre estratégia, metas,
ações e incentivos proporcionados aos agentes públicos. Mesmo com distintas
finalidades entre os setores, acarretando certas limitações para a aplicação de
iniciativas de gestão estratégica em organizações desse setor, a propagação de
mecanismos instrumentais para esse tipo de iniciativas de gestão, tem sido
incentivada nos últimos tempos, em consequência da priorização da excelência na
prestação dos serviços ao cidadão em resposta aos anseios e pressões sociais para
se tornarem mais eficientes e eficazes (SPEKLÉ, VERBEETEN, 2014).
Ainda assim Maher e Nollenberger (2009) alertam que existem obstáculos para
avaliar condição financeira, que incluem a natureza de uma entidade pública, análise
financeira municipal e práticas contábeis municipais adotadas. Neste mesmo sentido
Spekle e Verbeeten (2014) advertem que a efetividade da introdução de um novo
instrumento de avaliação de desempenho no serviço público depende da habilidade
dos gerentes de usar esse sistema de avaliação. Validando tal assertiva os autores
Michele e Mari (2014) afirmam que em processos de avaliação existe um trade-ff
qualitativo entre especificidade e confiança, no qual ambos os aspectos dependem do
conhecimento experimental disponível de quem está avaliando.
A demanda por informações sociais e demográficas para a formulação de
políticas públicas municipais no país tem sido crescente na última década, no
contexto da descentralização administrativa e tributária em favor dos
municípios e da institucionalização do processo de planejamento público em
âmbito local determinado pela Constituição de 1988 (JANUZZI, 2002, p.52).
Contudo no que se refere aos indicadores usados para medir desempenho,
dificuldades em seu conteúdo ou nas dimensões dos indicadores estabelecidos
podem levar a mudanças de indicadores e fazer com que os agentes tomem ações
diversas daquelas demandadas, como redução de esforços após o alcance do nível
de resultado, manipulação de resultados, ou ainda foco apenas em um conjunto
limitado de atividades ligadas aos indicadores (GONZAGA et al., 2017).
Os autores Silva et al, (2017), em seu estudo intitulado “Avaliação de
Desempenho na Gestão Pública: análise das oportunidades e potencialidades da
literatura internacional”, analisaram periódicos internacionais sobre avaliação de
desempenho na gestão pública, em busca de lacunas e potencialidades de pesquisa,
no período compreendido entre 2010 e 2016, com o propósito de identificar como o
sistema de avaliação de desempenho pode contribuir no alcance da eficiência na
gestão pública. Neste estudo, o autor observa que há poucas pesquisas empíricas
sobre resultados efetivos através de indicadores de avaliação de desempenho na
área. As oportunidades e potencialidades de pesquisas empíricas, mesmo as que
incluem estudos de casos e experimentos, no que tange a avaliação de desempenho,
são lacunas pouco exploradas pela literatura internacional (SILVA et al, 2017) .
O autor destaca ainda que não há estudos sobre tomada de decisão por
governo local, fundamentado em informações geradas pela contabilidade e que falta
de conhecimento dos gestores eleitos pelo povo. Silva et al, (2017) sugere que futuras
pesquisas sejam realizadas nos seguintes temas: i) avaliação de desempenho e seus
reflexos econômicos na gestão pública; ii) avaliação de desempenho na gestão
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pública em parceria com a iniciativa privada; iii) modelo de indicadores para avaliação
de desempenho; iv) contribuições dos processos de reengenharia para a eficiência e
eficácia na gestão pública.
Em face ao exposto, no intuito de contribuir com as lacunas mencionadas,
nesta pesquisa foi utilizado o modelo de Brown (1993), que em seu estudo traz um
teste de condição financeira, que pode ser realizado para cidades com população
inferior a 100 mil habitantes. Chamado de teste de 10 pontos, o modelo sugerido
permite que sejam comparados 10 índices financeiros-chave para uma cidade. Este
teste inclui um procedimento de pontuação pelo qual um gestor financeiro pode
classificar sua cidade e fornecer algumas evidências da condição financeira da
mesma. Para isso, Brown realizou sua pesquisa com uma grande amostra nacional,
utilizando com dados financeiros fornecidos pela Associação de Diretores de Finanças
do Governo (GFOA) em 750 municípios.
O teste foi desenvolvido por Brown, diante da necessidade de uma ferramenta
de avaliação de condições financeiras, rápida e eficaz, e uma melhor disponibilidade
de dados comparativos, das cidades, fornecidos pelo banco de dados de indicadores
financeiros publicado em 1992 pelo Government Finance Officers Association
(GFOA's). O artigo de Brown possibilita que profissionais e acadêmicos, calculem
cada um dos 10 índices utilizados permitindo uma avaliação de condição financeira,
global em relação à comparações nacionais, baseadas em tamanho destes
municípios (MAHER; NOLLENBERGER, 2009).
Quanto aos indicadores sugeridos por Brown (1993), os mesmos se mostram
úteis para avaliar quatro fatores econômicos e financeiros básicos para uma cidade:
as receitas, os gastos, a estrutura operacional e a estrutura da dívida. Baseado nestes
fatores, o modelo traz os seguintes índices a serem calculados e analisados, conforme
exposto no quadro 1.

Quadro 1 – Indicadores propostos por Brown (1993)

Dez índices-chave de condição financeira Informação

Receitas totais
1 Receita per capita
População

2 Receita Corrente Total - Transferências Correntes Representatividade da receita própria


Receita Total
Receita de Transferências correntes
3 Participação das receitas de transferências
Receita Total

4 Despesa corrente Participação das despesas operacionais


Despesas totais
Receitas Corrente
5 Cobertura das despesas
Despesas Totais
Superávit Financeiro Recursos para cobertura de queda de
6
Receita Total arrecadação
Disponibilidades Recursos para cobertura de obrigações de
7
Obrigações curto prazo
Obrigações de Curto Prazo Comprometimento das receitas correntes
8
Receita Corrente Líquida com as obrigações de curto prazo.

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Dívida Consolidada
9 Dívida per capita
População
Dívida Consolidada Comprometimento das receitas correntes
10
Receita Corrente Líquida com o endividamento
Fonte: adaptado de Brown (1993) e Nobre (2017)

Para a utilização do modelo em pauta é necessário seguir três passos: i)


calcular os 10 indicadores para cada município; ii) atribuir notas a cada município, no
qual para cada indicador é utilizado uma medida de posição para a localização de
cada município e seu respectivo quartis; iii) Atribuição de nota à condição financeira
do município de acordo com o quartil que ele se encontra, conforme demonstrado no
quadro 2.
Maher e Nollenberger (2009) explicam que a força do trabalho de Brown é a
sua simplicidade, uma vez que os dados necessários para os cálculos são facilmente
acessíveis dos relatórios, fornecendo comparações de condições financeiras com
base no tamanho da população. Ao final, pode-se avaliar os municípios analisados de
acordo com uma escala de avaliação de condição financeira, conforme apresentado
no quadro 3.

Quadro 2 – Pontos atribuídos aos indicadores de Brown (1993)


Pontos atribuídos a cada quartil
Dez índices-chave da condição financeira
Quartil 1 Quartil 2 Quartil 3 Quartil 4
(0 a 25%) (25% a 50%) (50% a 75%) (75% a 100%)

Receitas totais -1 0 +1 +2
1
População

2 Receita corrente total - Transferências Correntes -1 0 +1 +2


Receita Total
Receita de Transferências correntes -1 0 +1 +2
3
Receita Total

4 Despesa corrente -1 0 +1 +2
Despesas totais
Receitas Corrente -1 0 +1 +2
5
Despesas Totais
Superávit Financeiro -1 0 +1 +2
6
Receita Total
Disponibilidades -1 0 +1 +2
7
Obrigações
Obrigações de Curto Prazo -1 0 +1 +2
8
Receita Corrente Líquida
Dívida Consolidada -1 0 +1 +2
9
População

10 Dívida Consolidada -1 0 +1 +2
Receita Corrente Líquida
Fonte: adaptado de Brown (1993)

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Quadro 3 – Escala de Avaliação da Condição Financeira

Score Geral Condição Financeira


10 ou mais Entre os melhores
5a9 Melhor que a maioria
1a4 Na média
0 - -4 Pior que a maioria
- 5 ou menos Entre os piores
Fonte: adaptado de Brown (1993)

Como estudo semelhante, em âmbito nacional, cabe mencionar Dal Vesco,


Hein e Scarpin (2014) que verificaram a diferença dos indicadores de desempenho
econômico e financeiro de 1.145 municípios da região Sul do Brasil com até 100 mil
habitantes. Para isso, fizeram uso do modelo de Brown de 1993. Entre os resultados,
salientaram o aspecto de que há limitações nas análises ao interpretar a condição
financeira das cidades caso não seja por meio de comparações com cidades de porte
semelhante, visto que a distinção entre tamanhos das cidades trouxe reflexos nas
análises dos indicadores utilizados.
Desta forma, observa-se que os autores encontraram resultados condizentes
com a proposta de Brown, em que a análise da condição financeira deve ser feita por
comparação com municípios que apresentem características semelhantes, por isso a
divisão por habitantes, tendo em vista que cidades com a quantidade da população
parecida tendem a apresentar características semelhantes pelo porte da cidade. A
pesquisa de Dal Vesco, Hein e Scarpin (2014) ainda destacou que o tamanho da
população não é primordial para ter um bom desempenho de sua condição financeira.
Portanto, as questões financeiras não se limitam a quantidade de habitantes, e sim
outros fatores influenciadores da mesma, segundo estes autores.

3 MÉTODO

Caracterizado como um estudo descritivo, post-facto, quantitativo, este traz


como proposta avaliar a relação da condição financeira como artefato condicionante
ao desempenho dos municípios gaúchos. Sendo assim, o mesmo foi
metodologicamente norteado pela proposta de Brown (1993), conhecido também
como o modelo dos 10 pontos de condição financeira. A escolha do referido modelo
se dá tendo vista que ele é um dos mais utilizado nas pesquisas internacionais e
nacionais, como também por ser aplicado e adequado de forma simples à realidade
brasileira (NOBRE, 2017).
Além disso, este modelo é utilizado para avaliar a condição financeira de curto
prazo para os municípios, fornecendo uma imagem de uma localidade em um dado
momento, e ainda por apresentar indicadores fiscais, o que também se constitui como
justificativa para sua escolha nesta pesquisa. “Sua operacionalização é dada pela
interpretação de dados financeiros, que são extraídos dos relatórios contábeis,
utilizados para encontrar indicadores, que podem resultar na análise de vários
exercícios” (NOBRE, 2017, p.36). Maher e Nollenberger (2009) aclaram que
funcionários municipais podem usar essa exposição para comparar a posição fiscal
de cada indicador para uma amostra, entretanto, os autores fazem um alerta que este
artigo não fornece um scorecard com base em rankings, uma vez que seu benefício é
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justamente, avaliar a posição da comunidade em cada grupo, em vez de gerar algum
escore cumulativo.
O modelo Brown (1993) utiliza variáveis como: receita total, receita própria,
receita corrente líquida, despesas correntes, despesas totais, dívida consolidada,
superávit financeiro, disponibilidade e obrigações de curto prazo, e tem como variável
de controle a população, pois o tamanho dos municípios por número de habitantes é
indicado por Brown (1993). Na mesma linha Freaztti et al., (2009) relatam que um
conjunto de indicadores, sejam monetários e não monetários, operacionais e
estratégicos, são necessários para o desenvolvimento do processo de avaliação de
desempenho de uma entidade, pois confiar somente em parâmetros financeiros é
insuficiente para garantir que as estratégias sejam executadas com sucesso.
Para a realização desta pesquisa, os dados analisados são do exercício de
2016, mais atuais publicados até o momento da sua realização, e foram coletados dos
demonstrativos de execução orçamentária dos Municípios, enviados através do
Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (SICONFI),
Finanças Municipais do Brasil (FINBRA), da Secretaria do Tesouro Nacional (STN),
em Contas anuais. Os demonstrativos são Balanço Patrimonial, Demonstração das
Variações Patrimoniais, Balanço Orçamentário, Relatório de Gestão Fiscal (RGF) e
Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO). Neste sistema, os dados são
recepcionados anualmente pelos sistemas operacionais do Tesouro Nacional e
abrangem os Estados, o Distrito Federal e mais de 5.500 municípios brasileiros.
Desta forma, o universo desta pesquisa conta com os 497 municípios do Estado
do Rio Grande do Sul. Entretanto, como amostra, obteve-se 478 municípios, com
população inferior a 100 mil habitantes, no intuito de adequar-se a metodologia
proposta por Brown (1993), o que corresponde a 97% dos municípios gaúchos. Estes
foram segregados, conforme recomendado por BROWN (1993), em grupos de acordo
com a população: Grupo 1, até 15 mil habitantes, 374 municípios; Grupo 2, entre 15 e
30 mil habitantes, com 52 municípios; Grupo 3, entre 30 e 50 mil habitantes, com 28
municípios; Grupo 4, entre 50 e 100 mil habitantes, com 24 municípios. Estas
informações estão ilustradas no gráfico 1.

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Gráfico 1 – Grupos de Municípios de Acordo com a População

Fonte: Elaborado pela autora com dados da pesquisa, software Geoda

O gráfico 1 evidencia, como são compostos cada grupo: grupo 1, em verde, os


375 municípios com menos de 15 mil habitantes; os grupo 2, em laranja, composto
pelos 52 municípios com população entre 15 e 30 mil habitantes; grupo 3, em azul,
composto pelos 28 municípios com população entre 30 e 50 mil habitantes; grupo 4,
em amarelo, composto pelos 24 municípios com população entre 50 e 100 mil
habitantes e finalmente em vermelho, o grupo 5, composto por apenas 18 municípios
com mais de 100 mil habitantes. Os municípios com população acima de 100 mil
habitantes, denominado grupo 5, foram excluídos da amostra. Desta forma totaliza
496 municípios, de acordo com Censo Demográfico IBGE (2010).
Entretanto, vale lembrar que, em 2013, houve emancipação de mais um
município, Pinto Bandeira, o qual não costa no Censo realizado em 2010 pelo IBGE,
mas constam dados publicados deste ente no site da Secretaria do Tesouro Nacional.
Dos 374 municípios com população inferior a 15 mil habitantes, mais Pinto Bandeira,
375, 3 municípios não enviaram dados a Secretaria do Tesouro Nacional: Barão do
Triunfo, Mariana Pimentel e São Valério do Sul, ficando então 372 municípios com
menos de 15 mil habitantes, totalizando 481 municípios até 100 mil habitantes. Na
sequencia são analisados os resultados apresentados por estes municípios.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para alcançar o objetivo proposto neste estudo, baseado no modelo de Brown


(1993), foram seguidas as etapas como:
663
 Segregação dos municípios de acordo com o a população;
 Cálculo dos 10 índices-chave de condição financeira para cada um dos municípios;
 Cálculo dos scores para cada município, os quais variam entre -10 a 20;
 Classificação do município de acordo com o quartil;
 Classificação do município de acordo com a Escala de avaliação proposto pelo autor,
conforme já apresentado no quadro 3.
De forma complementar foi verificada também a média aritmética de cada município
e de cada grupo. Por conseguinte, foram realizadas análises comparativas entre os
municípios em cada um dos grupos, e ao final, entre os grupos. Na continuação são
apresentados os principais destaques em cada um dos grupos analisados.
O grupo 1, no qual se encontra o maior número de municípios, representa 97%
do Estado do Rio Grande do Sul, demonstrando-se relevante para a análise. A
pontuação máxima atribuída aos municípios deste grupo foi 12, para apenas 2, dos
375 municípios: Alpestre e Nova Pádua, estando estes “Entre os melhores” do grupo.
Desta forma, estes municípios situam-se no quartil 4, composto pelos 25% melhores
neste grupo. Tais resultados se devem a Receita per capita apresentada – 6.978,78 e
7.131,66 respectivamente –, além de nenhum ponto negativo atribuído aos mesmos.
No entanto, cabe ressaltar que Alpestre não publicou Relatório de Gestão Fiscal
(RGF), de onde foram extraídos os dados de Dívida consolidada e Receita Corrente
Líquida, o que impossibilitou o cálculo de alguns índices, sendo-lhes atribuídas nota 0
nestes 3 itens. Já Nova Pádua não apresentou dados de Dívida Consolidada. Os dois
municípios não evidenciaram também, em seus Balanços Patrimoniais, os valores
respectivos a Ativo e Passivo Financeiro, impossibilitando o cálculo do Superávit
Financeiro, não apresentando assim, recursos para cobertura de queda de
arrecadação.
Neste sentido, cabe destacar que o grupo 1 foi o que mais apresentou
impossibilidade de calcular os indicadores 8, 9 e 10, por não apresentarem dados de
Dívida Consolidada e Receita Corrente Líquida, o que é comum em municípios
pequenos, que muitas vezes não publicam suas informações por completo, ou
realmente, não possuem valores como Dívida Consolidada. Lembrando ainda, como
já foi colocado na seção 3, de metodologia, que não constavam dados na página da
Secretaria do Tesouro Nacional dos municípios de Barão do Triunfo, Mariana Pimentel
e São Valério do Sul, componentes deste grupo.
Dos 375 municípios, 146 foram classificados como “Melhor que a maioria”, o
que corresponde a 42% do grupo. E também 31 foram classificados como “Pior que a
maioria”, obtendo scores abaixo de 0 (zero). Outra questão a ser observada quanto a
este grupo é a grande variação quanto a população, que varia de 1.216, André da
Rocha, a 14.380, Dom Feliciano. Além disso, outra observação que pode ser feita é
quanto aos scores e classificação destes municípios: André da Rocha: Score 6,00,
avaliado como “melhor que a maioria”; Dom Feliciano: Score -2,00, avaliado como
“Pior que a maioria”, demonstrando uma possível relação contraria entre Desempenho
e População, atestando os resultados encontrados por Dal Vesco, Hein e Scarpin
(2014) que citam que o tamanho da população não é primordial para ter um bom
desempenho de sua condição financeira.
O grupo 2, composto por 52 municípios com população entre 15 e 30 mil
habitantes, teve como nota máxima atribuída a seus municípios 14 para São José do
Norte e Piratini, estando estes situados no quartil 4, composto pelos 25% melhores
664
deste grupo. Novamente, observa-se que, neste grupo, o município mais populoso
não se encontra “Entre os melhores” do grupo. Frederico Westphalen, o mais populoso
do grupo, está classificado como “Pior que a maioria”, com score -3,00, relatando
novamente informações que ratificam os resultados apurados por Dal Vesco, Hein e
Scarpin (2014).
Entretanto, a pior nota atribuída foi ao município de São Sebastião do Caí, com
score de -4,00, tendo como único índice com score positivo, o índice de cobertura de
despesas, com 1,19. Observou-se ainda que 33% dos municípios deste grupo estão
avaliados como “Na média”.
Grupo 3, composto por 28 municípios de 30 a 50 mil habitantes, obteve como
maior nota atribuída, 16, somente ao município de Gramado, que é um dos menores
deste grupo, com 32.273 habitantes, avaliado como “Entre os melhores”. A menor
nota foi atribuída ao município de Rosário do Sul, com -7,00, único, deste grupo,
avaliado como “Entre os piores”. Este município não obteve nota negativa apenas no
índice 4, de participação das despesas correntes, o qual suas despesas totais são
compostas por 87% de despesas correntes, o que sugere que a infraestrutura não
está sendo mantida adequadamente, pois quanto menor, melhor.
Todavia, há que se atentar para questões como, no índice 5, de cobertura de
despesas, no qual o município apresentou um índice de 1,03, o que configura um
adequada cobertura das despesas totais, pelas receitas correntes. No entanto, este
município foi avaliado como “Entre os piores” dentro do seu grupo, em comparação
com os demais, como por exemplo, Dom Pedrito, Panambi e Itaqui, “Entre os
melhores”, que obtiveram índice 1,23.
O Município de Santiago, mais populoso do grupo 3, com 49.071 habitantes,
com score 2,00, está classificado como “Na média”, seguido de São Lourenço do Sul,
com 43.111, com score de -2,00, classificado como “Pior que a maioria”. Mais uma
vez observa-se uma possível relação inversa com a população. A maior parte dos
municípios deste grupo, 10, corresponde a 36 % do grupo, foi avaliado como “Melhor
que a maioria”.
O grupo 4, que contém os 24 municípios com população entre 50 e 100 mil
habitantes obteve como maior score atribuído, 15, ao município de Esteio, avaliado
como “Entre os melhores”. No entanto, destaca-se que, no índice 4, de participação
das despesas, o município apresentou um índice de 0,98, sendo-lhe atribuída nota -
1, ou seja, indicando que a infraestrutura não está sendo mantida de forma
adequada, pois quanto menor, melhor, entretanto, não constrando muito com o
melhor índice, do município de Ijuí, 0,82, classificado como “Entre os melhores” do
grupo, neste quesito.
Por outro lado, podemos analisar ainda os municípios com maior e menor
número de habitantes neste grupo. Erechim, município mais populoso, com 96.087
habitantes, com score de 3,00, avaliado como “Na média”. Também obteve nota
negativa atribuída ao índice 4, de participação da despesas, com índice 0,99,
recomendando que a infraestrutura não está sendo mantida de forma adequada e
Parobé, menos populoso, com 51.502, com score 5,00, avaliado como “Melhor que a
maioria”. Como pior score, neste grupo, aparece o município de Carazinho, com –
6,00, avaliado como “Entre os piores”, que somente obteve notas zero e -1, em todos
os índices, tendo como melhor índice o de cobertura de despesas, com 0,96. Ressalta-

665
se ainda que 33% dos municípios deste grupo estão avaliados como “Melhor que a
maioria”.
De forma geral, ao analisar o desempenho dos grupos entre si, verifica-se que
os municípios mais populosos de cada grupo não são os municípios que apresentam
melhores condições financeiras, avaliados como “Entre os melhores”: Alpestre e Nova
Pádua, São José do Norte e Piratini, Gramado e Esteio. Destes, destaca-se Gramado
(32.273), componente do grupo 3, com score 16, o que apresenta melhor desempenho
de todos os municípios analisados, de acordo com a proposta de Brown (1993). Já o
município mais populoso entre os grupos analisados, Erechim (96.087) com score 3,
avaliado como “Na média”.

Quadro 4 – Média dos Scores por Grupo

Grupo Score Médio


1 4,32
2 5,35
3 5,11
4 5,00
Fonte: dados da pesquisa.

Dos quatro grupos, apenas o grupo 1, maior deles, ficou abaixo da média geral
dos grupos, 4,32, conforme observa-se no quadro 4, sendo avaliado como “Na média”.
Lembrando que na análise do grupo, 42% de seus municípios foram classificados
como “Melhor que a maioria”. Vale mencionar também que seu resultado pode ter sido
afetado pela falta de dados completos, publicados, de vários municípios deste grupo,
como já esclarecido anteriormente. Os demais, apresentaram scores acima de 5,
avaliados como “Melhor que a maioria” sugerindo um bom desempenho dos grupos,
de forma geral.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a proposta avaliar a relação da condição financeira como artefato


condicionante ao desempenho dos municípios analisados, e orientado pela proposta
de Brown (1993), este estudo buscou utilizar indicadores, já validados, para uma
avaliação que proporcione apoio ao controle gerencial do setor público e de aspectos
entendidos como importantes para a conjuntura, observando a singularidade do
contexto. Na finalidade de contribuir com as lacunas já citadas, foi utilizado o modelo
de Brown (1993), apresentando um teste de condição financeira, que pode ser
realizado para cidades com população inferior a 100 mil habitantes, através do qual
um gestor pode classificar sua cidade e fornecer algumas evidências da condição
financeira da mesma.
O teste dos 10 pontos, como é chamado, foi desenvolvido diante da
necessidade de uma ferramenta de avaliação de condições financeiras, rápida e
eficaz, e uma melhor disponibilidade de dados comparativos dos municípios. Estes
índices, segundo os autores referenciados, se mostram úteis para avaliar fatores
econômicos e financeiros básicos como as receitas, os gastos, a estrutura operacional
e a estrutura da dívida.

666
Para a realização deste estudo analisou-se os dados do exercício de 2016,
mais atuais publicados até o momento da sua realização, coletados dos
demonstrativos de execução orçamentária dos Municípios, enviados através do
Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (SICONFI).
Como amostra, obteve-se 478 municípios, com população inferior a 100 mil
habitantes, no intuito de adequar-se a metodologia proposta por Brown, o que
corresponde a 97% dos municípios gaúchos dos 497 do Estado do Rio Grande do Sul,
mostrando-se relevante. Estes municípios foram separados em 4 grupos, de acordo
com o número de habitantes.
Os municípios, logo após a realização dos cálculos, foram comparados nos
seus respectivos grupos e em seguida, um comparativo dos grupos entre si. Como
resultados, verificou-se que os municípios mais populosos de cada grupo não são os
municípios que apresentam melhores condições financeiras, avaliados como “Entre
os melhores”: Alpestre e Nova Pádua, São José do Norte e Piratini, Gramado e Esteio.
O maior score foi atribuído ao município de Gramado (32.273), componente do grupo
3, com score 16, o que apresenta melhor desempenho, de acordo com a proposta de
Brown (1993). Já o município mais populoso, Erechim (96.087), apresentou score 3,
avaliado como “Na média”.
Dos quatro grupos, apenas o grupo 1, ficou abaixo da média geral dos grupos,
4,32, sendo avaliado como “Na média”, embora 42% de seus municípios foram
classificados como “Melhor que a maioria”. Outra questão levantada quanto a este
grupo é a grande variação quanto a população e quanto aos scores e classificação
destes municípios: André da Rocha (1.216), Score 6,00, avaliado como “melhor que a
maioria, e Dom Feliciano (14.380), Score -2,00, avaliado como “Pior que a maioria.
Nos demais grupos, podemos citar como destaques: no grupo 2, os municípios
melhores avaliados são São José do Norte e Piratini, e o município mais populoso,
Frederico Westphalen, está classificado como “Pior que a maioria”. Com menor score
o município de São Sebastião do Caí; no grupo 3, os principais resultados, como já
citado, maior score atribuído ao município de Gramado (32.273), que é um dos
menores deste grupo. Já o menor foi atribuído ao município de Rosário do Sul. O
Município de Santiago, mais populoso do grupo 3, está classificado como “Na média”,
seguido de São Lourenço do Sul, com score, classificado como “Pior que a maioria.
No grupo 4, os municípios com maior e menor número de habitantes neste grupo,
Erechim, município mais populoso, avaliado como “Na média” e Parobé, menos
populoso, avaliado como “Melhor que a maioria”. Já o município com maior score foi
Esteio. Como pior score, neste grupo, aparece o município de Carazinho, avaliado
como “Entre os piores”. Ressalta-se ainda que 33% dos municípios deste grupo estão
avaliados como “Melhor que a maioria”.
Como delimitação, este estudo apresenta a análise de um único exercício,
sendo realizado um comparativo de desempenho entre municípios do Estado e não
da sua evolução nos últimos períodos, o que pode servir como sugestão de pesquisas
futuras. Quanto a isso Maher e Nollenberger (2009) fazem um alerta, afirmando que
a análise financeira de um município é frequentemente relacionada apenas com a
solvência financeira não com a avaliação de longo prazo. E ainda delimitado apenas
as informações disponíveis no site da Secretaria do Tesouro Nacional, que são
publicados mediante o recebimento de dados contábeis por meio do sistema
SICONFI.

667
Como limitações, esta análise apenas compara os municípios por grupo,
limitando-se a metodologia do modelo de Brown (1993), e ainda as condições
impostas por este como, por exemplo, apenas para municípios com menos de 100 mil
habitantes. Por isso, para se verificar o desempenho, de acordo a condição financeira
dos municípios Gaúchos, outros procedimentos podem ser adotados e ainda outros
períodos. Ainda como limitação, pode ser mencionada a falta de uma análise de
correlação entre população e desempenho, visto que, na análise, foi observada uma
possível relação inversa entre estas variáveis, legitimando os resultados encontrados
por Dal Vesco, Hein e Scarpin (2014) os quais frisam que o tamanho da população
não é primordial para ter um bom desempenho de sua condição financeira.
Desta forma percebe-se então a importância de se avaliar o desempenho e
verificar a situação que um ente, uma entidade ou uma organização apresenta. Vários
estudos empíricos mostraram, segundo Micheli e Mari (2014) que a avaliação de
desempenho pode ser produtiva e ajudar a melhorar o desempenho organizacional.
Porém, segundo os mesmo autores, se torna crucial entender quais as condições
específicas que a avaliação de desempenho e as práticas de gerenciamento podem
efetivamente oferecer melhor desempenho. Neste mesmo sentido os autores Maher
e Nollenberger (2009) destacam que, ademais é difícil comparar as características
financeiras entre os governos locais, pois estas são diferentes, e ainda que as práticas
contábeis municipais são baseadas na conformidade legal, havendo uma falta de
contabilidade de custos.

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