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Noutros tempos, numa província do Sul, um homem negro e de barbas brancas que
se apoiava a uma bengala criou sua família com base nos princípios de convivência dos
seus antepassados. Teve oito filhos e três mulheres fiéis a ele, dentre os filhos, uma era
Tabita, a cassula, que por força do destino foi obrigada a deixar o "Kimbo" para estudar no
Lubango, terra dos intelectuais, e a outra era a Cassova, de feliz memória. A província era
um lençol de pastos verdejantes, albergava animais das mais variadas espécies e paisagens
intrigantes.
Certo dia, já à noitinha, hora em que o sol arrecolhia-se por entre as margens do
horizonte, cansado do seu passeio sobre as terras huilanas e para ceder lugar à noite
miudinha que já no início da sua caminhada via-se seguida de esbeltas estrelas, sô Kimbito,
o "Humbi", estava sob sua cubata de dois quartos e uma sala feita de pau-a-pique, junto com
suas três esposas, seu sobrinho que é filho único da sua irmã mais velha e os seus sete
filhos. As três das mulheres estavam adornadas com missangas acastanhadas sobre a cabeça
e em torno das cinturas, à volta dos pescoços haviam cordões que se esticavam sobre as
peles nuas e negras até bem perto dos seios tesos. O fogo chamejante consumia ferozmente
a lenha arrumada sobre a "matela" ao centro da sala com uma tal maestria que só podia ser
concebida pelo próprio "Ngana Nzambi". Por entre a porta de madeira esburacada, a brisa
noturna invadia o interior da cubata, a aragem impelia-se sobre as partes dos corpos das
mulheres não cobertas por roupas, o que as obrigava a buscarem aconchego bem mais
pertinho da lenha que se contorcia ao calor do fogo.
Tabita foi levada a uma cabana no meio da floresta, onde já estavam um monte de
senhoras que tinham tranças com enfeites de missangas, e amarraram, muitas delas, panos
de "samakakas"em torno de suas cinturas, quando o jovem primo a deixou nunca mais pisou
o local. Amarraram em seus mamilos carne de cabrito para que secasse sobre ela, foi
explicado a ela que era já momento em que seria submetida a um processo de passagem
feminina, depois de ficar dias ali, ela não sairia como a mesma pessoa, seria uma mulher
preparada para cuidar, com responsabilidade, a sua casa e que teria a felicidade plena dentro
do lar, depois do "Efiko", Tabita amadureceria bastante sem nenhuma maldição dos antigos.
No princípio, foi muito difícil para ela entender o que se estava a passar, mas
quando se apercebeu da situação, começou a ficar mais calma e com o tempo foi se
submetendo aos costumes e ensinamentos da sua cultura. Volvido um espaço temporal de
duas semanas, no mesmo local do ritual, começaram a aparecer mais pessoas que
organizavam o local para uma festa enorme, prepararam barris de "macau" e "canhome",
mataram bois, trouxeram da cidade alguns panos novos que serviram de adorno para ela,
depois de ter sido esfregado óleo "mupeque" na sua pele macia. Com novas tranças e panos,
com uma maquiagem tradicional, Tabita viu-se no meio de uma festa grande, seus irmãos,
pais, tios e o resto da família estavam no local. Velho Kimbito com sua altura comprida,
entra no meio da roda interrompendo os dançarinos do "ovindjomba "ao som do batuque, e,
apesar de velho, dá uma cambalhota e grita, para surpresa de todos: -Vamos ndançare. Isso
nué ndos civilissados nem dos calcinhas. Fim!
Aos: 01/07/2022