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ESTRUTURAS DA UFPB
Introdução
O valor exato do carregamento que atua nas estruturas é praticamente impossível de ser
determinado com precisão. Basta pensar nas cargas a que está submetida uma laje de uma
edificação comercial, por exemplo: ora cheia de pessoas, ora sem ninguém, ora com um certo
mobiliário, ora com um outro, por vezes com paredes divisórias que podem mudar de local
quando muda o humor do seu proprietário, e assim por diante. No entanto, é preciso se adotar um
critério para elaborar o projeto. Assim, com base em critérios estatísticos, vai-se admitir um certo
valor para esses carregamentos tão variáveis ao longo do tempo.
A NBR 6120 (ABNT, 1980), cuja última versão data de 1980, fixa as condições exigíveis
para a determinação dos valores de carga que devem ser consideradas no projeto de estruturas de
edificações, qualquer que seja sua classe e destino, salvo os casos previstos em normas próprias,
como é o caso de pontes, por exemplo.
Assim, seja para estruturas de madeira, seja para estruturas de alvenaria, seja para
estruturas de aço, de bambu ou de terra, seja para estruturas de concreto armado ou mesmo
protendido, devem ser adotados valores de carregamento constantes nessa norma. Estruturas para
as quais se dispõe de normas específicas, como no caso de pontes rodoviárias, pontes ferroviárias
e estruturas especiais, como as das plataformas de petróleo, por exemplo, além das cargas
constantes na citada NBR 6120, constam também outras ações próprias de tais estruturas como
peso dos veículos nas pontes rodoviárias, dos trens nas pontes ferroviárias, e assim por diante.
A citada norma não se refere ao efeito do vento nas construções. Este é tratado em uma
norma própria, a NBR 6123 (ABNT, 1988).
Na NBR 6120 (ABNT, 1980) é ainda usado o termo carga. Modernamente ele é
substituído por ação. Por definição, ação é tudo que provoca solicitação. As solicitações
correspondem aos esforços internos que surgem nos elementos estruturais, quais sejam,
momento fletor, M, esforço cortante, V, esforço normal, N, momento torsor, T. Assim, carga é
um tipo de ação, chamada ação direta. Como um recalque de apoio em uma estrutura
hiperestática também provoca solicitações, ele também é chamado de ação, no caso ação
indireta. Este tema será retomado em capítulo futuro. Aqui, vai-se manter a terminologia da NBR
6120, chamando de carga o que seria uma ação.
Com referência a seu valor ao longo do tempo, as cargas podem ser classificadas em:
- permanentes (g)
- acidentais (q)
Cargas permanentes
São as que ocorrem na estrutura sem variação significativa, em relação ao seu valor
médio, durante toda a vida da construção.
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O peso próprio das estruturas vai ser obtido à partir do conhecimento do peso específico
dos materiais de que são feitas. A maneira de considerar o peso próprio vai depender do
elemento estrutural. Por exemplo, em lajes, elementos planos, vai-se usar a carga permanente em
kN/m2 , ou seja carga por unidade de área. Em vigas e pilares, elementos lineares, o peso próprio
vai ser expresso em kN/m. Para obter-se o valor do peso próprio, na falta de medições
experimentais, pode-se adotar os pesos específicos constantes na Tabela 1
Para avaliar o peso próprio das paredes podem-se considerar os pesos específicos dos
materiais constantes na Tabela 2.
A Tabela A, no final deste fascículo, indica o peso específico que pode ser adotado para
vários materiais de construção conforme a NBR 6120.
Em certos raros casos, como acontece em alguns edifícios de luxo cujo adquirente tem
liberdade de escolher os ambientes, o projetista estrutural não tem definida a posição das
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paredes. Então, a NBR 6120 cita que ele pode adotar uma carga distribuída por metro quadrado
de piso não menor que um terço do peso por metro linear de parede pronta, observando o valor
mínimo de 1 kN/m2 . Isto é aplicável a lajes cuja relação entre vão maior e vão menor seja no
máximo igual a dois. (A justificativa será apresentada no capítulo referente às lajes de edifícios).
Outra carga permanente que atua nas lajes dos edifícios é o seu revestimento. Muitas
vezes a laje é revestida nas duas faces, e com diferentes materiais. O calculista muitas vezes não
sabe quais são esses materiais. Assim, na prática, é comum adotar-se para peso do revestimento
nas lajes valores da ordem de 1 kN/m2 . No entanto, se a execução da estrutura não é bem
caprichada, acontece de as camadas de revestimento serem bastante espessas para promover o
nivelamento das superfícies, então aquele valor passa a subestimar o carregamento real.
Cargas acidentais
São aquelas que podem atuar sobre a estrutura em função do seu uso: peso de pessoas, de
móveis, de materiais diversos, de veículos, etc. É dit a acidental porque em um determinado
instante pode atuar, em outro não. Por exemplo, o peso das pessoas em um apartamento. Ora, em
uma reunião, a sala pode estar recebendo o peso de 10 pessoas. De madrugada, esta mesma laje
estará sem ninguém sobre ela. A carga acidental é também conhecida como sobrecarga.
Da Tabela 3, vê-se que nos prédios residenciais, na maioria de seus ambientes, deve-se
admitir uma carga correspondente a 150 kgf/m2 . Essa carga deve ser aplicada em toda a área das
lajes correspondentes e simula o peso de pessoas, de mobiliário, de eletrodomésticos que ocupam
os apartamentos. Já nos edifícios comerciais, onde pode haver maior concentração de pessoas e
mercadorias, o valor a adotar passa a 200 kgf/m2 , chegando a 400 kgf/m2 nas lojas. A Figura 1 dá
uma idéia da concentração de pessoas correspondente às sobrecargas de 2 kN/m2 e 3 kN/m2 .
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Nas lajes de forro das edificações, com acesso apenas a pessoal de manutenção dos
telhados, adota-se uma carga acidental de 0,5 kN/m2 (50 kgf/m2 ).
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Muitos edifícios apresentam corredores e varandas. Estas são fechadas por paredes de
menor altura chamados parapeitos e mesmo por corrimões ou outras estruturas metálicas (Figura
2) ou de madeira. É preciso que sejam capazes de resistir a esforços provocados por pessoas que
neles se apóiam. Então a NBR 6120 diz que ao longo dos parapeitos devem ser consideradas
aplicadas uma carga horizontal de 0,8 kN/m na altura do corrimão e uma carga vertical mínima
de 2 kN/m.
Garagens e estacionamentos
Se L é o vão menor vão da laje ou da viga que pode receber carga de veículo, a NBR
6120 indica o que segue:
em lajes:
ϕ = 1,00 quando L = 5 m
ϕ = 5/L = 1,43 se L = 5 m
em vigas:
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Quando uma escada for formada por degraus isolados (Figura 3), estes devem ser
projetados para suportarem com segurança uma carga concentrada de 2,5 kN, aplicada na
posição mais desfavorável. Este carregamento é unicamente para o cálculo do batente, não sendo
considerada para a ou as vigas de suporte, às quais deverão ser calc uladas para a carga indicada
na Tabela.3.
Para o dimensionamento das vigas a carga concentrada não entra. A viga, além do peso
próprio e do peso dos degraus, vai ser submetida à carga distribuída q e a um momento torsor
também distribuído t, dados por:
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As solicitações para o dimensionamento da viga vão ser função das suas condições de
contorno, ou seja, de seus apoios. Aqui se deseja apenas mostrar como considerar a carga
acidental nesse tipo de estrutura.
Elementos de cobertura
Todo elemento isolado de cobertura, como ripas, terças e barras de banzo superior de
treliças deve ser projetado para receber na posição mais desfavorável uma carga vertical de 1 kN,
além da carga permane nte. Esta recomendação é feita porque durante a construção ou montagem
pode um operário de apoiar sobre um desses elementos (Figura 4).
Como indicado na Tabela 3, os valores das cargas acidentais que são aplicadas no projeto
dos edifícios são relativamente altas, portanto, de baixa probabilidade de acontecer. Em um
prédio com vários andares é ainda muitíssimo menor a possibilidade de todos os ambientes em
todos os pavimentos estarem com os valores indicados na citada Tabela. Por isto, na avaliação do
esforço normal nos pilares e nas fundações de edifícios para escritórios, residências e casas
comerciais, não destinados a depósitos, as cargas acidentais podem ser reduzidas de acordo com
a Tabela 5. Nela, o forro deve ser considerado como piso.
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a) b)
Esse método das áreas de influência era muito usado quando se desejava avaliar as cargas
nas fundações do edifício. Era muito comum se iniciar a obra sem o projeto completo ter sido
terminado. Isto porque os projetos estruturais eram elaborados manualmente, com operações
matemáticas feitas usando-se réguas de cálculos e desenhos muito trabalhosos elaborados por
desenhistas usando canetas nankin. Assim o tempo de preparação do projeto era muitíssimo
maior que nos dias atuais, quando se dispõe de programa s computacionais que geram inclusive
os desenhos. Então, para se calcular as fundações, admitia-se uma carga por metro quadrado da
construção pronta (cuja ordem de grandeza é de 1 tf/m2 (10 kN/m2 )). Multiplicada pela área de
influência do pilar e o número de andares tinha-se o valor aproximado do esforço normal. Poder-
se-ia tirar partido do que aqui está sendo apresentado, reduzindo-se a carga acidental em função
dos pavimentos.
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No edifício menor, de três lajes, o valor da carga acidental no pilar seria de 29,6 kN (dois
primeiros pavimentos) mais 0,5 kN/m x 7,4m2 (correspondendo a laje de cobertura), num total de
33,3 kN, não tendo havido nenhuma redução.
Na prática, muitas vezes não se usa esse procedimento porque é relativamente pequena a
influência dessa redução da carga acidental na carga total.
As lajes e vigas de cada pavimento devem se calculadas usando-se os valores das cargas
acidentais constantes na Tabela 2.3, não havendo nenhum tipo de redução.
Referências
ABNT (1980) - NBR 6120 - Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro,
1980.
ABNT (1988) - NBR 6123 – Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro,1987.
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Local q em kN/m2
Edifícios residenciais Dormitórios, sala, copa, cozinha e banheiro 1,5
Despensa, área de serviço e lavanderia 2
Escadas Com acesso ao público 3
Sem acesso ao público 2,5
Escolas Anfiteatro com assentos fixos, corredor e sala
de aula 3
Outras salas 2
Escritórios Salas de uso geral e banheiro 2
Forros Sem acesso a pessoas 0,5
Galerias de artes A ser determinada em cada caso, porém com o
valor mínimo 3
Galerias de lojas A ser determinada em cada caso, porém com o
valor mínimo 3
Garagens e estacionamentos Para veículos de passageiros ou semelhantes
com carga máxima de 25kN por veículo. 3
Ginásios de esportes 5
Hospitais Dormitórios, enfermarias, sala de recuperação,
sala cirurgia, sala de raio X e banheiro 2
Corredor 3
Laboratórios Incluindo equipamentos, a ser determinada em
cada caso, porém com o mínimo 3
Lavanderias Incluindo equipamentos 3
Lojas 4
Restaurantes 3
Teatros Demais dependências: cargas iguais às
especificadas para cinemas -
Terraços Sem acesso ao público 2
Com acesso ao público 3
Inacessível a pessoas 0,5
Destinados a heliportos elevados: as cargas
deverão ser fornecidas pelo órgão competente
do Ministério da Aeronáutica -
Vestíbulo Sem acesso ao público 1,5
Com acesso ao público 3
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Tabela C – Peso específico e ângulo de atrito interno de produtos que podem ser
estocados nas estruturas de edificações
2- Que peso específico se usa para o concreto armado convencional para o cálculo do peso
próprio dos elementos estruturais ?
4 – Uma parede de 2,6 m de altura é feita com tijolos furados de 9 cm revestida com 2,5 cm de
argamassa em cada lado. Calcular o peso de um metro de comprimento dessa parede,
considerando os valores dos pesos específicos dos materiais constantes na NBR 6120.
6 – Numa laje de garagem de edifício, onde não entram caminhões, cujo menor vão é 4 m, qual a
o valor da carga acidental a adotar considerando o efeito do coeficiente de majoração ϕ ?
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