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Antigos

ENGENHOS
de açúcar no
Brasil

Introdução, história dos engenhos e legendas

Fernando Tasso Fragoso Pires


Estudo arquitetônico
Geraldo Gomes


EDITORA
NOVA FRONTEIRA
EDITOR Nas primeiras páginas,
Carlos Augusto Lacerda equipamentos abandonados do
e n g e n h o de I t a t i n g a , e m P a r a t i ,
COORDENAÇÃO EDITORIAL, não mais em funcionamento, e
PROJETO GRÁFICO E PRODUÇÃO formas para a purga do melaço,
João de Souza Leite também conhecidas como "pães
de a ç ú c a r " , a i n d a hoje
DESIGNER ASSISTENTE
u t i l i z a d a s n o e n g e n h o N o v o da
Claudia Mendes
Conceição, (PE).

E D I Ç Ã O DE T E X T O
Maria Ignez Duque Estrada
Luzia Ferreira de Souza

VERSAO
Peter Lenny
© 1994 Editora Nova Fronteira S.A.
2" e d i ç ã o (1* e d i ç ã o , 1994)
Rua Bambina 25, Botafogo
Tel. ( 0 2 1 ) 5 3 7 8770, Fax (021)286 6755
PESQUISA H I S T Ó R I C A
Herculano Gomes Mathias CEP 2 2 2 5 1 - 0 5 0 , R i o de J a n e i r o , R J , Brasil

CONSULTORIA C I P - Brasil. C a t a l o g a ç ã o na f o n t e
José Gabriel da Costa Pinto S i n d i c a t o N a c i o n a l d o s E d i t o r e s de L i v r o s , R J

A S S I S T E N T E DE PESQUISA Pires, F e r n a n d o T a s s o F r a g o s o , 1 9 3 4 •
Katia Maria Borges de Oliveira p744a A n t i g o s e n g e n h o s de a ç ú c a r n o Brasil / i n t r o d u ç ã o , história dos
e n g e n h o s e legendas F e r n a n d o T a s s o F r a g o s o Pires; e s t u d o
a r q u i t e t ô n i c o G e r a l d o G o m e s . - R i o de J a n e i r o : N o v a F r o n t e i r a ,
1994.
2 1 2 p . : il.
FOTOGRAFIAS
Pedro Oswaldo Cruz (Rio DE JANEIRO)
P a t r o c í n i o B a n c o Icatu
Aílton Sampaio (BAHIA)
João Tavares (PERNAMBUCO)
1. E n g e n h o s - Brasil. 2 . Indústria a ç u c a r e i r a - Brasil • H i s t ó r i a .
I. G o m e s , G e r a l d o . II. T í t u l o .

A S S I S T E N T E DE P R O D U Ç Ã O (PERNAMBUCO)
Gisela Abad CDD - 725.40981
94-1449 CDU- 725.4:664.11(81)

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Arquivo Nacional, Arquivo Público do Estado da Bahia, Biblioteca Nacional, Fundação Gilberto Freyre,
Fundação Joaquim Nabuco, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, Mapoteca Histórica do Palácio do Itamaraty, Santa Casa da Misericórdia de Oliveira dos
Campinhos e Santa Casa da Misericórdia de Santo Amaro.
V

SUMÁRIO

O CICLO DO AÇÚCAR
Página 10

A ARQUITETURA DOS ENGENHOS


Página 28

ENGENHOS DE PERNAMBUCO
Página 42

MORENOS 44 • MONJOPE 48
P o ç o COMPRIDO 52 • GAIPIÓ 56
PREFERÊNCIA 64 • LIMOEIRO VELHO 66
MASSANGANA 68 • N o v o DA C O N C E I Ç Ã O 70
MATTAS 74 • BONITO 78
PUMATY 82 • MADALENA 86
SÃO J O Ã O 88

E N G E N H O S DA BAHIA
Página 94

FREGUESIA 96 • CAJAIBA 100


PARAMIRIM 104 LAGOA 106
PIMENTEL 112 • VELHO 114
S A N T O A N T Ô N I O DO PARAGUASSU 118
D'ÁGUA 120 • CAMUCIATÁ 122
API 124 • CAETÂ 128
TAREFAS 130 • OITEIRO 134
UNHÃO 136

E N G E N H O S DO R I O DE J A N E I R O
Página 140

M A T O D E PIPA 142 • MANDIQUERA 144


QUISSAMÃ 146 • SANTA FRANCISCA 150
SÃO MANUEL 154 • SÃO JOSÉ 156
AIRIZES 160 • BARONESA 162
SÃO BENTO 167 • COLUBANDÊ 168
BOA VISTA 172 • VIEGAS 174
D'ÁGUA 176 • TAQUARA 178

ENGLISH TRANSLATION
Página 181

BIBLIOGRAFIA
Página 207
V

A ARQUITETURA DOS ENGENHOS


Geraldo Gomes

i
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A •
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arquitetura civil não tem recebi-
do, por parte daqueles que se
vocos usuais e generalizados quanto à pró-
pria conceituação da arquitetura. Costuma- / ,
dedicam ao estudo da história do Brasil colo- se confundir, por exemplo, valores arquite- ? J
nial e imperial, a atenção que merece. A cons- turais com valores decorativos, o que signifi-
ciência de que existia um patrimônio históri- ca dizer que a arquitetura somente se realiza-
co nacional a ser preservado só se delineou ria em edifício^,de formas requintadas e mui-
oficialmente por ocasião das comemorações to elaboradas. Segundo outro falso conceito, vy
do centenário da nossa independência políti- os valores arquiteturais se acrescentam, como
ca de Portugal /Tratava-se então de defender acessórios, às qualidades funcionais e estru-
x v ^ os traços brasileiros da nossa cultura contra turais do edifício. CN ír

a ameaça do "internacionalismo modernista" /1Sía verdade, qualquer edifício, indepen-


Identificava-se como brasileiro o conjunto das dentemente da sua função e do sistema de
expressões artísticas que se haviam desenvol- construção utilizado, pode vir a constituir um 0 v<-V
vido no período colonial com a inconfundí- exemplar de arquitetura, bastando que o ar-
vel marca portuguesa. bítrio estético esteja presente em todas as fa-
As listas de bens culturais imóveis organi- ses da sua concepção. Assim, por exemplo, a
zadas pelas primeiras instituições de proteção determinação da posição de uma simples ja-
ao nosso patrimônio privilegiam a arquitetu- nela pode ser resultado de uma opção estéti-
ra religiosa construída no período colonial. ca; a cor e a forma dessa mesma janela, bem
Os poucos edifícios do século X I X relaciona- como as da parede que a contém, podem ser
dos nessas listas eram, em sua maioria, aque- produto de uma reflexão na qual o gosto pre-
les construídos pelo poder público, que se ca- sida à decisão final.
racterizavam pelas grandes dimensões e de- As nossas modestas casas rurais muitas
coração profusa. A arquitetura civil, exceto vezes foram concebidas dessa forma, embora
no caso de conjuntos urbanos notáveis por sua seus projetos, quando existiram, não tenham
homogeneidade, como Ouro Preto, Olinda e sido assinados por arquitetos. Sua construção
o bairro do Pelourinho, em Salvador, foi rele- inspirou-se no saber popular, tanto no fazer
gada a segundo plano. quanto no apreciar, o que não significa que
O interesse pela arquitetura rural foi ain- no meio rural só existam exemplares de uma
da menor, salvo as honrosas exceções de tra- arquitetura despojada de valores decorativos.
balhos como os de Luís Saia, Arquitetura ru- O povo mais humilde reconhece esses valores
ral paulista do Segundo Século (1944) e Resi- e os utiliza, como também reinterpreta o gos-
dências rurais do Brasil Colônia (1958), e de to artístico erudito.
Joaquim Cardoso, Um tipo de casa rural do Mas
Distrito Federal e Estado do Rio ( 1 9 4 3 ) . So- no campo, e também na cidade, exis-
mente agora, no final do século X X , quando tem muitos edifícios cuja forma foi determi-
a grande maioria de seus exemplares não mais nada exclusivamente pelo pragmatismo fun-
existe, começam a surgir estudos sistemáti- cionalista, como alguns destinados à
cos sobre esse tipo de arquitetura, como Ar- fabricação do açúcar. Alguns edifíci- Gravura

quitetura do açúcar ( 1 9 9 0 ) , de Esterzilda de os concebidos dessa maneira podem holandesa do


Azevedo. despertar fruição estética, apesar de século XVII.
não ter sido esta a intenção do cons- Pedrademóe
energia , humana
O esquecimento a que foram relegados es- trutor. . ,
para extraçao do
ses marcos da nossa cultura deve-se a equí-
As unidades que compõem os an- caldo da cana.
V

^ V ^
y y 28
29
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A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

que hoje correspondem aos estados de Per-


nambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.
Os edifícios mais notáveis dos engenhos de
açúcar foram a fábrica, a residência do pro-
prietário, que veio a se chamar casa-grande
Fábrica do engenho Acerto, em Vicência, (PE). A beleza plástica do
no século X I X , a capela e a senzala.
edifício e sua integração harmoniosa com a paisagem são evidentes, ^ r
embora talvez não tenham sido buscadas deliberadamente. /Na década de 1 8 7 0 , houve uma tentativa / /
de transformar essa estrutura econômica com yj,
/
a criação dos engenhos centrais, unidades
v/^K'/
tigos engenhos de açúcar no Brasil formam
um complexo diversificado. A análise desses exclusivamente industriais, destinadas a pro-
conjuntos heterogêneos requer uma compre- duzir açúcar com a cana fornecida por fazen-
ensão razoável das variações do contexto so- das que, por sua vez, se limitariam a plantar
cial e econômico no tempo e no espaço. e colher as canas/Seriam instalados com re-
/Denomina-se engenho o mecanismo utili- cursos do governo, maquinaria importada e,
zado para moer a cana, daí a sua usual carac- por força da nova divisão do trabalho, eram
terização a partir do tipo de energia que em- obrigados a moer canas alheias e deveriam
prega: engenho d'água, engenho de bois... Na produzir mais e a um custo mais baixo, para
verdade, o processo de produção de açúcar que o açúcar brasileiro pudesse competir no
não pára aí, pois ainda resta o cozimento do mercado internacional.
caldo, a clarificação ou purga do açúcar, e a /Os engenhos centrais logo foram supera- vT
embalagem deste. Por extensão, porém, o ter- dos pelas usinas, também equipadas com ma-
mo engenho compreendia todas essas ativi- quinaria importada, moderna e eficiente, ins-
dades, e mais ainda o plantio e a colheita da taladas sem participação do governo. Pos-
cana// suíam fazendas e plantavam cana, e moíam /
v/
/Em Pernambuco, no entanto, no século XVII ou não a dos vizinhos. Sem condições de ri-
yA
já existiam fazendas de plantação de cana on- valizar com essas gigantescas empresas agro-
y
\ ^^
Í*
de não se produzia açúcar, porque o investi- industriais, alguns engenhos foram absorvi-
dos por elas; outros foram reduzidos à con-
Ví- mento para instalação de um engenho era
dição de meras fazendas de cana, fornecedo-
muito alto. As canas colhidas eram levadas a
ras de matéria-prima. Ainda hoje, na Zona
um engenho próximo, que as moía junto com
da Mata de Pernambuco, as propriedades ru-
as suas próprias. Naturalmente, o número e "V
rais desse tipo são chamadas de engenhos,
a diversidade de edifícios nas fazendas era A
embora não possuam sequer o edifício onde
bem menor do que nos engenhos. Estes, em
outrora se fabricava açúcar.
alguns casos, pareciam verdadeiras povoa-
//'Com os engenhos centrais e com as usinas,
ções, com a fábrica propriamente dita, as mo-
chegaram as grandes máquinas operadas por
radias do proprietário ou do administrador, Y
mão-de-obra especializada, e não mais por
dos trabalhadores especializados, dos agri-
aquela, abundante e barata, do escravo de
cultores, a senzala dos escravos, a capela, a
origem africana, cuja posse em grande núme- y s
estrebaria, oficinas, a olaria. / Y
ro era um inconfundível símbolo de poder// <y
Entre os séculos X V I e X I X , conjuntos de
/Não foi por acaso que numerosos engenhos
empresas agropecuárias dessa natureza insta-
de açúcar foram abandonados e invadidos
laram-se ao longo de quase todo o litoral bra- v<V
V yf
pelo mato logo após a Abolição: os escravos
sileiro, com maior concentração nas regiões
y

30
V./

A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

café em São Paulo, estabelece-se o contato

xs
é que faziam todos os trabalhos manuais. A
natureza escravocrata da "elite do açúcar" ex- com os colonizadores franceses e ingleses das
plica também certas peculiaridades da sua ar- Antilhas. De lá vieram então novas técnicas
de produção de açúcar responsáveis, em al-
quitetura rural.
guns casos, por transformações no modo de
/Ao longo do tempo, e em todos os espaços
construir os engenhos. Por exemplo, as chami-
V> geográficos ocupados pela produção açu- • ^

nés das fábricas foram conseqüência da ins-


careira, não existiu uma casa-grande genéri-
talação de um tipo de fornalha conhecida na
ca: um tipo de casa registrado no século X I X
KÍ' época como "trem jamaicano".
pode não ter existido no século XVI, e o que
^Depois da Abertura dos Portos em 1 8 0 8 , a
foi comum na Bahia provavelmente não se
Colônia, logo promovida a Reino Unido, mos- R " '
encontrará no Rio de Janeiro. A classificação
tra-se propensa a reinterpretar modelos de
T da arquitetura pelo século em que foi prati-
arquitetura oriundos de outros países. Datam
cada às vezes induz a conclusões equivoca-
de então os primeiros registros das constru-
das. Na identificação dos prováveis tipos de
ções civis brasileiras que alcançam certo grau
arquitetura rural, é comum a comparação com
de precisão. Sobre os três séculos anteriores
modelos preexistentes. E quais seriam esses
dispomos de pouca informação, e nisso reside
modelos?
a maior dificuldade quando se pretende fazer
/Os primeiros colonizadores portugueses
a c l a s s i f i c a ç ã o tipológica da arquitetura
não encontraram no Brasil uma arquitetura
realizada neste período. Muitas vezes a ima-
ç/V / ' semelhante às das regiões de onde provinham.
gem das construções só sobreviveu em pin-
y , O caráter provisório das habitações indíge-
turas, nem sempre retratada com a fidelidade
/ T nas já era, por si só, a manifestação de uma
desejada pelos pesquisadores.
cultura em tudo oposta à deles./Seria natural
No caso da arquitetura dos engenhos, po-
A V que, vendo-se como membros de uma civili-
rém, a antiga capitania de Pernambuco tor-
zação mais evoluída, os portugueses procu-
nou-se uma honrosa exceção. Ocupada pelos
rassem reproduzir seus padrões culturais no
holandeses de 1 6 3 0 a 1 6 5 4 , justamente por
Brasil, inclusive através da arquitetura.
causa do açúcar que produzia, foi governada
/Entretanto, para o Brasil vieram portugue-
pelo príncipe Maurício de Nassau, que se fez
ses de regiões diferentes também na sua ar-
r \ yV quitetura, o que em parte explicaria a diver-
acompanhar de artistas para documentar a
(K exótica terra conquistada.
sidade das suas construções na Colônia. Alem
^Assim, pintores holandeses como Frans 0 K*
disso, é possível que estas tenham assimilado
Post, Albert Eckhout e Zacharias Wagener nos V
alguns elementos típicos das habitações indí-
legaram um conjunto de pinturas e gravuras
genas, como os grandes espaços contínuos das
de qualidade artística indiscutível e de valor
ocas coletivas. O que se pode afirmar e que
documental inigualável. Todas retratam o Nor-
_não ocorreu no Brasil a reprodução pura e
deste brasileiro, em especial Pernambuco. Por
simples dos modelos arquitetônicos de Por-
paradoxal que possa parecer, é graças ao re-
tugal, mesmo porque era outra a estrutura
gistro dos invasores e não aos primeiros co-
social, outro o clima e outros os materiais
lonizadores que hoje se pode conhecer a ar-
disponíveis. quitetura dessa parte do Brasil em princípios
/Não só os modelos portugueses foram rein-
do século X V I I /
terpretados no Brasil, porém, No final do sé-
Nenhuma região brasileira teve como Per-
culo XVIII, com a introdução da cultura do

^ s
yX
F
w
A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

a p->'l J-

Primeira moenda a vapor construída no Brasil pela Fundição Aurora, de Harrington & Starr, no Recife. Foi instalada no engenho Caraúnas, emjahoatão,
(PE). À direita, desenho de uma secção vertical na fábrica do antigo engenho Aurora, em Vicência, (PE). Faz parte do levantamento efetuado pelo
desenhista Manuel Bandeira para documentar a persistência do uso da energia animal em pleno século XX.

nambuco o privilégio de ver suas construções situação deste no espaço geográfico./O tipo
civis documentadas na própria época e por de energia utilizada para mover as moendas p y ^
artistas de tão alta qualidade. Além dos ho- determinou em muitos casos a escolha do sítio V
landeses, registros contemporâneos da arqui- para instalação dos primeiros engenhos. Sabe-
tetura pernambucana foram feitos no século se que quatro tipos de energia foram empre-
XVIII — com a publicação dos Desagravos do gados nos engenhos brasileiros: a energia eólica,
Brasil e glórias de Pernambuco, em que Do- a hidráulica, a tração humana e a tração animal./
mingos de Loreto Couto descreve com impres- A iconografia holandesa contém algumas
sionante riqueza de detalhes o mecanismo de gravuras em que aparecem homens movimen-
tando uma pedra de mó para esmagar as ca-
•J um engenho de açúcar e o edifício que o abriga
— e no século X I X — em " D e s maisons nas e extrair-lhes o caldo. No entanto, ambas
d'habitation au Brésil", na Révue Générale — essa forma de energia e essa moenda —
^ de VArchitecture et des Travaux Publiques, podem ter sido usadas em outras regiões bra-
do engenheiro francês Louis Léger Vauthier, sileirasfNos jardins do Museu do Homem do
que morou em Pernambuco de 1 8 4 0 a 1 8 4 6 . Nordeste, no Recife, existe mesmo uma des-
Outros viajantes e artistas estrangeiros já sas pedras de mó procedente do Rio de Janei-
V y A
haviam publicado trabalhos descritivos sobre ro. Já os quadros pintados pelos holandeses 1 /
o Brasil, como Debret, Rugendas, Maria Gra- durante a sua ocupação mostram engenhos V
ham, Koster e Tollenare, mas nenhum como movidos a água e a bois./'
Vauthier descreveria com tanta minúcia os // Das quatro formas de energia, a preferida / /
edifícios dos engenhos de açúcar, assunto de foi a hidráulica, por ser a mais econômica e
./
y /

uma das quatro cartas que ele escreveu e pu- eficaz. Mas, para utilizá-la, os engenhos de- V

blicou com o título acima referido. viam localizar-se nas proximidades de um cur-
V
É tão boa a qualidade da documentação so de água; desviando-o parcialmente, cons- j
iconográfica e bibliográfica legada pelos ho- truía-se um açude cujas comportas, quando
landeses e por Vauthier que, com freqüência, abertas, movimentavam rodas que, por meio
respeitados pesquisadores da nossa arquite- de engrenagens, transmitiam o movimento às
tura civil não resistem à tentação de atribuir, moendas.//
por analogia, a construções de outras regiões /Os primeiros senhores de engenho tiveram
do Brasil características cuja existência só foi o privilégio de escolher o sítio onde se insta-
comprovada em Pernambuco. lariam e, com certeza, optaram pelas rodas
R Na análise da arquitetura dos antigos en- hidráulicas. Além de fornecer a energia, os
genhos considera-se não só a forma de cada cursos d'água serviam como vias de transporte
edifício ao longo do tempo, como também a do açúcar até os portos de onde este seria le-
sua d i s p o s i ç ã o relativa ao c o n j u n t o e a vado para a Europa/A força das marés, tam-
<R

-V

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J
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A A R Q U I T E T U R A DOS ENGENHOS

bém uma forma de energia hidráulica, che-


gou a ser utilizada em engenhos do Pará.
/ Quando o engenho ficava distante de cursos
d'água, tinha-se de usar a força animal, qua-
y
> se sempre de bois e cavalos/' A Quinta do Carbido, em Ponte de Lima, norte de Portugal, é um exemplo
/Outro fator determinante da localização da associação casa-capela no século XVIII.

dos primeiros engenhos foi a proximidade de


matas de onde se extraía lenha para alimen-
' V tar as fornalhas. A falta de outro combustí- casa em duas zonas, uma destinada à família
vel trouxe como resultado um progressivo des- e a outra aos hóspedes, desconhecemos a épo-
O "
matamento/fessas circunstâncias só seriam mo- ca de construção dessas curiosas casas, mas é
dificadas no início do século X I X , com a uti- possível que, considerado o ritmo lento das
v lização do bagaço de cana como combustível transformações ocorridas no meio rural, elas
e com a introdução dos mecanismos a vapor. tivessem sobrevivido do século anterior.
N o entanto, em pleno século X X , muitos en- fSeja qual for o modo de incorporação da
r* genhos ainda persistiam no uso da energia capela pela casa-grande, o que chama a aten-
hidráulica e da tração animal.'' Ção na maioria dessas moradias é o acesso
' yj v t S è modo geral, cada edifício do engenho privativo dos membros da família do senhor
abrigava um único programa de atividades, de engenho aos ofícios religiosos. Eles podiam
Vy Entretanto, desde o século XVII, o pavimento chegar às tribunas da nave ou da capela-mor

<v V térreo das casas de moradia dos proprietários


— recinto onde ficava o altar principal —, no
pavimento superior, sem passar pelos espa-
destinava-se a depósitos variados, como nas
ços públicos, isto é, destinados a abrigar pes-
„ casas rurais da região do Minho, em Portugal.
soas de outras classes sociais. O engenho Fre-
V A partir do século XVIII, principalmente na
guesia, na Bahia, e o de Poço Comprido, em
Bahia e em Pernambuco, temos casas-gran-
f l , . , i nat-pre ter sido Pernambuco, bem ilustram essa associaçao.
,.» > des associadas a capelas, o que parece
, o »*í-i*ít'i
freqüente no norte de Portugal. I
. . _
Outro tipo, de associaçao
; . de edifícios e o
^ C

<
''Quase sempre as capelas se justapunham a da casa-grande com a fabrica. Combinaçoes
uma das extremidades das casas, de tal for- como essa ocorreram, no século XVIII, no li-
•V- ma que ambas as construções
X* Planta do pavimento superior de parte de uma casa-grande pernambucana, em desenho de Vauthier.
tivessem suas fachadas prin-
cipais no mesmo plano. Con-
tudo, Vauthier e o imperador
D. Pedro II registraram a exis-
tência, em Pernambuco, em
c/
meados do século X I X , de
duas casas que tinham suas
\r>'
c a p e l a s na p a r t e central.
Vauthier publicou uma plan-
ta dessa moradia c o m o se 0 5m
fosse uma ocorrência comum. i ipela- b púlpito; c. tribuna para a mulher do proprietário do engenho; d. passagem pela frente
da capela à altura do primeiro andar; e. salão ou sala de estar; f. sala de jantar; g. pequeno
Ao analisá-la, podemos veri-
terraço coberto; h. quartos para hóspedes. ____
ficar que a capela divide a

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A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

Engenho d'Água, em llhabela, (SP): um exemplo de associação da casa-grande com a fábrica. A direita, no engenho Santa Rosa, em Campos, (RJ), a
casa e a fábrica sob um mesmo telhado contínuo.

toral norte de São Paulo e, no século seguin- pintor são de rodas d'água. A casa-grande a
montante da fábrica denota preocupação com
\u te, na região de Campos (RJ), e na Bahia. Ma-

,/
/ nuais técnicos destinados ã implantação da a fiscalização das atividades do engenho. A
cultura do café, a partir do final do século capela fica em nível igual ou superior ao da
-7
X V I I I , recomendam a associação das duas casa e um pouco afastada desta. Não há, nos
funções, com o argumento de que o bene- quadros holandeses, edifício que possa ser

/
(O k
ficiamento da matéria-prima exige a perma- identificado como habitação de escravos./'
nente vigilância do proprietário. Provavel- f Além dessas características, não foi possí-
mente também foi esta a razão para a asso- vel reconhecer a existência de um projeto ge-
ciação no caso dos engenhos de açúcar, pois ral que definisse com maior precisão a distri-
mesmo nas fábricas isoladas havia sempre um buição dos diversos edifícios no terreno/Já
/ f no século X I X , Vauthier publica um "plano
cômodo, em situação estratégica, reservado pa-
ra o proprietário ou para o administrador./ geral", que teria sido adotado pela maioria dos
K"
yr ^Quanto ao modo de distribuição desses engenhos de Pernambuco. Nele, todos os edi-
fícios se distribuem pelo terreno de modo a V
edifícios no terreno, não parece ter havido um
A limitar, de forma descontínua, um pátio in-
esquema muito rígido no século X V I I , se con-

// siderarmos como documentos confiáveis os terno retangular. Por sua racionalidade, tal-
vez esse modelo tenha sido seguido em ou-
}
quadros de Frans Post retratando engenhos
tras regiões do país, até porque era também / " Y fr
de Pernambuco. Neles, quase todos os enge-
nhos situam-se em terrenos pouco acidenta- recomendado pelos manuais destinados à cul-
dos. A casa-grande está sempre em meia en- tura cafeeira do Rio de Janeiro e de São Paulo.//
costa e tem sua fachada principal voltada para //h prática generalizada de construir os edi-
a fábrica, situada em plano mais baixo. A po- fícios separados uns dos outros favoreceu uma y
sição da fábrica obedece à lógica, pois todos certa autonomia na escolha dos materiais e
j>
os engenhos retratados pelo técnicas empregados. Nos enge-
nhos de a ç ú c a r do Brasil
foram utilizados todos os
Tijolos em forma de setor circular sistemas construtivos co-
para construção de colunas de fuste nhecidos nos períodos co-
cilíndrico ou de tronco cônico. <R
lonial e imperial: nas pare-
O maior tem 80 cm de diâmetro
e o menor, 32 cm. des, alvenaria de pedras, ti-
Abaixo, tijolos retangulares jolos ou adobe, taipas de
utilizados na construção dos th )/
pilão ou de pau a pique; nas y y t
edifícios do engenho. r!<í
y
O maior mede 41x20x7 cm e
cobertas, sempre estruturas yr4
o menor, holandês, mede 17x8x3,5 cm. de madeira recobertas com

34
A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

palha ou telhas cerâmicas; nos pisos térreos,


lajotas de barro, e nos elevados, assoalhos de
madeira. Notáveis por seu uso quase exclusi-
vo na arquitetura rural são os tijolos em for-
ma de setor circular, para compor os fustes Quadro do pintor holandês Frans Post (século XVII), retratando a
das colunas de seção cilíndrica dos alpendres implantação, aparentemente desordenada, do conjunto de edifícios de um
engenho em Pernambuco.
das capelas, das casas-grandes, das senzalas
e, mais raramente, das fábricas/
//A opção por qualquer um desses sistemas Plano geral de um engenho em Pernambuco, segundo Vauthier.

dependia da ^disponibilidade do material na


região, tias posses do senhor de engenho e de
uma escala de valores característica da estru-
tura s o c i a l Á s s i m , por exemplo, conforme a
distância que o separava da cidade, o proprie-
tário podia construir no engenho uma casa
onde residisse sozinho, sem a família, duran-
te a época da moagem. Com esse caráter, a
casa poderia adquirir um aspecto de abrigo IVVVVI
ivyvvv
provisório, como algumas retratadas pelos ivwv
holandeses. F YYVV
VMY
Quando a cidade era distante — e a pro- vvvvv
VVÍ/V
priedade, portanto, dependia menos dela — , V V V V1
mvv
o engenho constituía um conjunto funcional- V YVVV
Vim
mente mais complexo, onde cada edifício as- 1 VVWT
ivvvy*
sumia características e dimensões correspon-
dentes à magnitude da empresa.
//Ao se instalar o engenho, o primeiro edifí-
cio a ser construído era o da fábrica, quase
sempre em alvenaria de tijolos, com estrutu-
ra de coberta em madeira. O edifício seguinte
poderia ser o da habitação dos escravos, a
senzala. Este termo aparece na literatura es-
pecializada ora designando o edifício inteiro,
S
ora o cubículo que o constituía. A senzala era
sempre térrea, tinha as paredes em taipa de
pau a pique e podia ser coberta com palha ou
a capela; b. casa-grande; c. quartos para hóspedes; d. senzalas; e. sobra-
telhas cerâmicas. Há raros registros de sen-
dinho, casa do administrador; f. casa do engenho, fábrica propriamente
zalas construídas com material mais durável, dita, contendo a moenda e as caldeiras; g. alpendre para os cavalos da
moenda; h. telheiro acima da f o r n a l h a ; i. casa de bagaço; j. estrebaria; k.
c o m o pedra ou tijolos. Como no Brasil intei-
casa de purgar, destilaria, armazém de açúcar, oficinas d o carpinteiro, do
ro existem poucas senzalas remanescentes, po- s e r r a l h e i r o , d o s e g e i r o , etc., p a v i l h ã o p a r a o f a b r i c o da f a r i n h a de
de-se concluir que elas tenham sido construí- mandioca; 1. alpendre servindo de olaria; m,n. portões de entrada e saída
d o engenho; o. horta; p. terreno plantado de mandioca; q. pasto; r. cam-
das com materiais pouco resistentes. pos de cana de açúcar.

A construção da fábrica e da senzala em


A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

da chaminé, persiste a descontinuidade dos telhados. A direita, a capela de


Fábrica do engenho Junco, em Nazaré da Mata, (PE). Apesar da inrodução
Nossa Senhora do Socorro, em Santa Rita, (PA), construída no século XVII. VS J

/ V
primeiro lugar indica a prioridade que se dava te dois, a casa-grande e a capela, podem ser
f ,
considerados exemplares de arquitetura, ex- f V r
às atividades produtivas. A casa do senhor de
K engenho seria erguida a seguir e, ao contrá- ceção feita às raras combinações entre casa e

s
ir fábrica. Desde o primeiro século, a fábrica te-
A- rio da sua imagem idealizada quase por con-
ve seu desenho determinado pelo pragma-
V
h° y^
senso, nem sempre foi grande e nem sempre
recebeu materiais duráveis. No século X V I I , tismo funcionalista. Às vezes resumia-se a um
simples telheiro apoiado em colunas de alve-

A
documentos holandeses referem-se à precarie-
dade dessas casas em Pernambuco: " O s bra- naria de tijolos. Sua planta era basicamente re-
sileiros se contentam com uma casa de barro,
desde que lhe vá bem o engenho e a cultura."
De fato, alguns quadros holandeses mos-
tangular, refletindo o desenvolvimento linear
das atividades fabris./'
L
s tarefas complementares realizavam-se ^ V
fT o/
/R
/
/

tram pequenas casas de senhores de engenho em puxadas que eram extensões do telhado
em taipa, e até cobertas de palha, mas tam- do corpo principal da fábrica./O telhado po-
bém registram outras em alvenaria e de porte dia ser feito em duas ou em quatro águas e
médio ; A ausência de alguns proprietários, e geralmente era descontínuo, para permitir a
K não a escassez de recursos — pois muitos de- exaustão dos vapores resultantes do cozimen-
les possuíam grandes casas nas cidades — , é to do caldo da cana. Nessa descontinuidade
o que pode explicar esse aparente descaso em dos telhados não se identifica qualquer preo-
relação às suas casas rurais, i^or esse motivo, cupação com a composição plástica, o que não
do século X V I I ao X I X , em alguns engenhos elimina a eventualidade de involuntários po-
foram construídas enormes vivendas de alve- rém agradáveis resultados. Plantas em forma
naria de tijolos e até mesmo de pedras, en- de L, de T ou de cruz surgem principalmente
quanto em outros eram erguidas casas bem no século X I X , e algumas delas são sugeridas
mais simples/ pelos fabricantes estrangeiros dos mecanismos
/ De todos os edifícios dos engenhos, o mais a vapor. Até mesmo após a introdução das al-
durável e sólido foi a capela. Alguns exempla- tas chaminés de alvenaria de tijolos, os telha-
res remanescentes, construídos em alvenaria dos das fábricas preservam a sua desconti- ?
nuidade. Y
de pedra argamassada com óleo de baleia, po-
f / k iconografia holandesa não mostra edifí- s
dem datar do século X V I . A capela é também V

o único edifício do conjunto que possui co- cios que possam ser identificados como sen-
V/
zalas. É possível que os escravos tenham habi-
berta parcialmente feita em alvenaria de pe- V /
dra ou de tijolos, como é o caso da cúpula da tado o pavimento térreo das casas do propri- f
nave da capela de Nossa Senhora da Penha, do etário, habitualmente destinado a servir de
Engenho Velho, em Cachoeira (BA). depósito. É possível também que tenham sido
Dos quatro edifícios mencionados, somen- autorizados a construir casebres, neles repro-

O
V

A A R Q U I T E T U R A DOS ENGENHOS

//
/ duzindo os elementos da cultura africana.
Estes teriam sido os primeiros mocambos.
Os dados existentes sobre as senzalas, to^
dos do século X I X , convergem para a defini-
VS
ção de um partido arquitetônico comum a Quadro de Frans Post mostrando igreja com alpendre em Olinda, (PE).
A
/ todas as regiões do país e presente também
tf nas fazendas de café: um único edifício for-
mado por uma série de cubículos conjugados
variações consistiam num alpendre à frente
e voltados para uma galeria comum e aberta.
da fachada e corredores laterais à nave, às ve-
A área dos cubículos raramente ultrapassava
zes também presentes no pavimento superior,
doze metros quadrados; não dispunham de ja-
dando então origem às tribunas, local privi-
nelas e se comunicavam por uma única porta
legiado e destinado à família do senhor do
com a galeria. Em alguns casos, cada cubícu-
engenho. •
lo se comunicava com outro, de iguais dimen-
f/O elemento mais marcante nessas capelas
sões, situado nos fundos. Como disse Vau-
foi o alpendre, que teria tido função similar à
thier, " n ã o se podia reduzir uma habitação a
do nártex nas antigas basílicas, isto é, um es-
expressão mais simples"//
paço intermediário para conter os "catecú-
. Embora raríssimas senzalas tenham resis-
menos, energúmenos e penitentes". O alpen-
tido até os nossos dias, seu partido arquite-
dre também existiu em capelas urbanas e ru-
tônico, descrito da mesma maneira por dife-

/
/ rentes cronistas e viajantes, sobreviveu à Abo-
lição da Escravatura e ainda pode ser encon-
rais em Portugal, e no Brasil não foi elemen-
to exclusivo da arquitetura rural, pois em
quadros de pintores holandeses aparece in-
trado nas moradias dos trabalhadores das
corporado a igrejas de Olinda e conventos em
usinas de açúcar do Nordeste.
Igarassu.
y O edifício que mais se destacou por sua
/t) interior das capelas rurais era profusa-

£ concepção artística foi a capela. Por ser sem-


pre construída com materiais nobres, pouco
se modificou através do tempo, o que permi-
mente decorado com altares, púlpitos, bal-
cões, imagens e forros de madeira entalhada,
dourada e policromada. Quase nada resta des-
te até mesmo identificar estilos históricos ,
se esplendor. Com a decadência dos engenhos,
melhor caracterizados na arquitetura urbana/
suas capelas foram sendo esvaziadas por seus
/Àssim, é possível classificar as capelas como
donos, ou saqueadas/
protobarrocas, barrocas e neoclássicas, em-
/ C o n t u d o , essa decoração não deve ser en-
bora os exemplares dos dois primeiros sécu-
tendida como ostentação dos donos dos en-
los, mesmo quando concebidos com evidente
genhos. Convém lembrar que, no campo, a
esmero estético, primassem pela sobriedade e
vida social resumia-se aos ofícios e festas re-
contenção decorativa. ligiosos. Os mortos da família eram enterra-
//A planta da capela do engenho era muito dos, de início, nas naves ou em nichos nas pa-
simples, praticamente a mesma das outras ca- redes das capelas e, mais tarde, no terreno em
pelas rurais e urbanas que se espalharam pelo volta delas. Além disso, a religião também se
Brasil até o século X V I I I . ^ o s s u í a invariavel- integrava ao projeto escravocrata, na medida
mente uma nave, a capela-mor e a sacristia em que pregava a r e s i g n a ç ã o a desígnios
no pavimento térreo e o coro no pavimento supostamente divinos. Toda uma complexa
superior, sobre o primeiro terço da nave/ As
A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

Casa-grande do engenho Embiara, em Cachoeira, (BA), e a Quinta do Sabadão, em Ponte de Lima, Portugal. Apesar de mais requintada, essa última
assemelha-se ao tipo de construção desenvolvida no Brasil durante o século XVIII.

14
carga simbólica se expressava na arte de ins- ma iconografia uma casa de maior porte, cons-
piração religiosa, portanto./ trução mais sólida, com dois corpos que
/Ò outro edifício que pode ser considerado sobressaem no mesmo plano da fachada, co-
como exemplar de arquitetura é a morada do mo se fossem duas pequenas torres ladeando
senhor de engenho, hoje conhecida como casa- uma loggia central em arcos. Neste caso, o te-
grande. Esta denominação só se tornou usual lhado é mais complexo e lembra os do tipo
a partir do século X I X . Curiosamente, já exis- "tesouro", do Algarve português. Sob o aspec-
tia, no século XVIII, nas Antilhas francesas to da composição dos volumes, lembra casas
(grand case) e na Jamaica (great house). No senhoriais da região do M i n h o /
/Era semelhante a esse tipo a casa-grande if
^ b Brasil, até mesmo no século X I X , era costu-
me chamá-la de casa de vivenda./ do engenho de Megaípe, que existiu em Per- c .
Os quadros pintados pelos holandeses no nambuco até 1928, quando foi dinamitada ,';'
início do século XVII são o registro icono- pelo proprietário, para impedir qye fosse tom-
gráfico mais antigo dessas casas. Consideran- bada como monumento estadual/Além da tra-
do a lentidão das transformações ocorridas no dição, não existe documento que comprove a
período colonial, é lícito imaginar que os ti- data de construção dessa casa. Um engenho
pos retratados já existiam no século anterior com o mesmo nome já existia no século XVII,
e se mantiveram ainda durante algum tempo. o que não significa que ela fosse daquele pe-
As casas representadas nessas pinturas são ríodo. No entanto, a sua planta baixa, esbo-
quase sempre de porte médio e têm dois pavi- çada por um auxiliar do arquiteto Luís Saia,
mentos, telhado em quatro águas, uma varan- lembra uma outra casa de engenho, em Ca-
da embutida no meio ou num canto da facha- choeira (BA), datada de 1683. Trata-se da casa
Cr'
?
y
da principal, no pavimento superior. Os es-
teios de madeira da estrutura indicam que
de José Rodrigues Adorno, já bastante modi-
ficada, mas que ainda deixa perceber a planta
sl eram construídas em taipa de pau a pique. O original, caracterizada pelo pátio interno. Esse
pavimento térreo era parcialmente vazado, pátio viria a ser uma das marcas das casas-
> r
r* devendo destinar-se a depósito. É um tipo de grandes dos engenhos baianos do século XVIII,
<
construção oriundo, com certeza, do norte de como a do engenho Freguesia. Estas são so-
Portugal e desapareceu completamente/lJma brados de grandes dimensões, sem alpendres,
variante é a presença da torre, semelhante à no mínimo com dois pavimentos.
casa fortificada usual entre os nobres da Eu- ,/Do século XVIII só restou uma casa-gran- ^ £
de em Pernambuco, a do engenho Poço Com- L\ - »Í

J
ropa medieval. Era erguida perto da casa, in-
dependente e mais alta do que ela e, às vezes, prido, em Vicência. Sem pátio interno, tem
construída com materiais mais resistentes.) dois pavimentos e comunica-se pelo segundo
Com menos freqüência aparece nessa mes- com a vizinha capela. O telhado é em quatro

<y jr W,
r*
ei
A A R Q U I T E T U R A DOS ENGENHOS

C engenho São José, (PE), típico exemplar de bangalô, na sua versão brasileira mais freqüente.À direita, um exemplo de sobrado do século XIX: a casa-
grande do antigo engenho Santo Antônio do Beco, em Campos, (RJ).

A'
águas, e uma escada externa conduz a um al- Brasil, com a chegada da Corte portuguesa

/S
pendre, construído ao longo da fachada prin- ao Rio de Janeiro e a Abertura dos Portos,
cipal, o que é uma característica das casas dos em 1808, por D. João VI. Oito anos depois,
engenhos pernambucanos, segundo depoi- chega a Missão Artística Francesa. Durante -/ sJ
essas duas décadas, introduzem-se nos enge-
&
V n
mento de Vauthier. Casas como essa podem ser RV /
encontradas em fazendas contemporâneas de nhos as máquinas a vapor para moer as ca-
São Paulo, Mijias Gerais e em quintas do norte nas. A vapor também seriam as máquinas que,
pouco mais tarde, puxariam os vagões pelas
de Portugal.
ferrovias, levando o açúcar aos portos de em-
Do mesmo período, sobrevive ainda em
barque. Desfazia-se o isolamento do Brasil
Quissamã, no norte do Rio de Janeiro, a casa
colônia. O império parecia ávido de novida-
de Mato do Pipa, térrea, com telhado em qua-
des, e elas não paravam de chegar.
tro águas, alpendre embutido na parte cen-
/Três tipos de casas de engenho surgiram
tral da fachada principal e que se filia, evi-
naquele século: o bangalô, o sobrado neoclás-
tf ^ dentemente, ao partido das casas conhecidas
sico ^<?chalé. O primeiro, assim chamado em
V
em São Paulo como "casas bandeiristas". A
virtude da sua semelhança com o bungalow
casa da fazenda Quissamã, na mesma região,
anglo-indiano, era um edifício de porte médio
é desse tipo, embora tenha acabamento mais
e térreo mas, como em geral era erguido em
elaborado.
meias-encostas, podia ter um porão semi-
Ainda nessa região e no mesmo século XVIII,
enterrado. Aliás, essa distância do chão era
as famílias dos donos dos engenhos moravam
* f Y em cômodos contíguos aos da fábrica, tudo
recomendada pelos seus adeptos como forma
p\ & de isolamento da umidade do solo. O telhado,
num mesmo edifício. Ali, ao se iniciar a cultu-
sempre em quatro águas, se estendia, no mes-
ra do açúcar, a maioria dos membros das fa- mo plano inclinado, para cobrir também os
Y « . mílias se integrava às atividades produtivas, alpendres que acompanhavam as três fachadas
V com poucos escravos, ou nenhum. Ao^on- da casa. Em geral, esses alpendres eram inter-
/ trário das demais regiões do Brasil, a pro- rompidos por compartimentos fechados da
dução de açúcar em Campos começou em casa, nas extremidades do U formado por sua
pequenas propriedades, o que explicaria o planta, reaparecendo na parte posterior como
fato de moradia e fábrica ficarem sob o mes- um alpendre embutido, que funcionava como
mo teto. Arranjo arquitetônico semelhante um prolongamento da área de serviço./
r- **
existiu nos engenhos do litoral norte paulista //As colunas que suportavam os telhados, nos

/
também no sécu lo XVIII. alpendres, podiam ser de alvenaria, madeira
J k partir da primeira década do século X I X , e até mesmo ferro, sem que o tipo de constru-
V a vida se transforma consideravelmente em ção se descaracterizasse. Quando em alvena-
algumas cidades e em certas áreas rurais do
v^V

39
A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

Airizes, e o Solar da Baronesa, era Campos, e


ria, elas seguiam habitualmente o estilo tos-
/ V as casas-grandes dos engenhos Morenos e Gai-
cano, e eram executadas com muito apuro, co-
pió, em Pernambuco, são desse tipo.
mo ainda se pode ver em algumas casas rurais
O chalé aparece no meio rural já no fim do
do Rio de J a n e i r o /
século X I X . É um edifício de porte médio e
/dessas casas, o alpendre é a peça mais bem-
pode ter planta semelhante à do bangalô. Sua
cuidada e sua concepção ter-se-ia inspirado,
característica marcante é o telhado em duas
segundo Joaquim Cardoso, nos pavimentos
águas, com a cumeeira perpendicular ao pla-
superiores dos claustros dos conventos fran-
no da fachada principal. Os alpendres late-
ciscanos. É uma hipótese respeitável, mas con-
rais ou em forma de U são sempre cobertos
vém acrescentar que casas desse tipo já exis-
por telhados mais baixos e independentes do
tiam em meados do século X V I I I nas Anti-
telhado principal. Não são raros os que pos-
lhas francesas, de onde importamos muitas
suem janelas e portas com vergas em ogiva,
inovações tecnológicas para fabricação do
tímidas manifestações do neogótico que pro-
açúcar e beneficiamento do café. A propósi-
liferava nas cidades, ao lado de outras expres-
to, a fazenda de Colubandê, em São Gonçalo
sões formais de um universo arquitetônico
(RJ), possui, além das características citadas,
eclético. As casas-grandes dos engenhos São
um pátio interno, como as casas rurais de
José, no Rio de Janeiro, e Preferência, em Per-
origem espanhola. Sua planta é muito seme-
nambuco, são exemplos desse tipo.
lhante à da casa rural típica de Cuba no sécu-
Nem todos os tipos de arquitetura aqui
lo X I X . As casas dos engenhos Pimentel e Cae-
mencionados são encontrados ou tiveram sua
tá, na Bahia, e Sapucaji, Matas, Camarão e
existência registrada em todas as regiões onde
Novo da Conceição, em Pernambuco, são des-
se instalaram engenhos de açúcar. Alguns são
se tipo, com pequenas variações.
evidentemente excepcionais, como a casa-gran-
O sobrado neoclássico do engenho pouco
de em ferro, de procedência belga, da usina
difere do sobrado urbano. É um edifício gran-
São J o ã o , montada no bairro da Várzea, no
de, com um programa de atividades comple-
Recife, em fins do século X I X .
xo, distribuído em dois pavimentos, coberta
> em quatro águas e planta retangular, com Mas, sem dúvida, o uso adequado desses

eventuais puxadas na parte de trás, para abri- exemplares remanescentes é desejável, na me-

gar serviços/zSuas janelas e portas têm vergas dida em que estimula a sede de conhecimento

retas ou arcos plenos e abatidos, enquadra- dos leigos assim como a perspicácia dos pes-

dos por pilastras, cunhais e cornijas, para quisadores. Pois, na falta de registros sobre a
y> c história da nossa arquitetura, o edifício é o
acentuar a composição das fachadas. Nunca
€ tem alpendre e raramente dispõe de escadas seu documento mais eloqüente.
A
externas. 'É a última expressão arquitetônica
do poder do senhor de engenho. A força da
/ y J- sua imagem na paisagem rural é ainda impres-
sionante. Foi a planta de uma casa desse tipo,

V o engenho Noruega, em Pernambuco, dese-


nhada em perspectiva por Cícero Dias, que
Gilberto Freyre usou como a mais sugestiva
Planta em perspectiva, desenhada pelo pintor Cícero Dias, da
casa-grande do engenho Noruega, que ilustrou Casa-grande e
ilustração da sua monumental obra Casa- senzala, de Gilberto Freyre, obra clássica para o estudo do
grande e senzala. A casa-grande do engenho ciclo açucareiro no Nordeste do Brasil.
^r
V

A A R Q U I T E T U R A DOS E N G E N H O S

41
Copyright© 2010 Eliane Morelli Abrahão

Publishers: Joana Monteleone/ Haroldo Ceravolo Sereza/ Roberto Cosso


Edição: Joana Monteleone
Editor assistente: Vitor Rodrigo Donofrio Arruda
Projeto gráfico e diagramação: Fernanda Pedroni Portijo
Patrícia Jatobá U. de Oliveira
Revisão: íris Morais Araújo
Capa: Patrícia Jatobá U. de Oliveira

Imagens da capa: Coleção BMC, MIS-Campinas.


Ângelo Pessoa. Campinas numa perspectiva histórica, 2003.
A Cigarra. São Paulo, n° 442,08 de dezembro de 1933-
). Laurens. Pilage du café. Acervo da Fundação da Biblioteca
Nacional - Brasil.
Almanaque de Campinas para o ano de 1873.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÂO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Ai39m

Abrahão, Eliane Morelli


MORAR E VIVER NA CIDADE, CAMPINAS ( 1 8 5 0 - 1 9 0 0 ) - m o b i l i á r i o e u t e n s í l i o s d o m é s t i c o s
Eliane Morelli Abrahão.
São Paulo: Alameda, 2010.
224p.

Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7939-028-9

1. Campinas (SP) - História. 2. Cultura material - Aspectos sociais - Campinas (SP) -


História. 3. Campinas(SP) - Usos e costumes. I. Título.

10-1850. CDD: 981.61


CDU: 94(815.61)
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ELIANE M O R E L L I A B R A H Ã O

privado, o universo familiar e a ritualização da vida cotidiana.2 A obra


de Norbert Elias, datada da década de 1930, foi inovadora nas suas
abordagens sobre as questões da civilidade e na sua proposta de análi-
se sobre as transformações dos modelos de comportamento europeus,
contribuindo não só para a teoria social, como para a História.3
Segundo Elias, a idéia de civilização nasceu na França no século
XVIII. Nessa época, o país expandia-se territorialmente com a colo-
nização de novas terras e internamente difundia maneiras e tendên-
cias aristocráticas de corte, como forma de manter uma figuração
social que assegurasse posições privilegiadas dentro da sociedade
comum tanto à aristocracia quanto à burguesia. Essas elites começa-
ram a preocupar-se com modos à mesa, higiene, gestos e a maneira
como deveriam portar-se publicamente. A sociedade europeia vivia
um momento de reposicionamento social e cultural, no qual a pos-
tura, o vestuário, os comportamentos externos ao homem atestavam
a existência de uma estrutura particular de relações humanas, de
uma estrutura social peculiar que acabou por tornar-se um padrão
ocidental de civilização.-'

2
Lima, Tania Andrade. Pratos e mais pratos: louças domésticas, divisões culturais
e limites sociais no Rio de Janeiro, século xix. Anais do Museu Paulista: nova
série, v. 3,jan./dez.i995.

3 Elias, Norbert. O processo civilizador, uma história dos costumes. 2.ed. Rio de
Janeiro: Zahar, 1994.

4 Norbert Elias analisou a influência que os manuais de bom comportamento ti-


veram para a sociedade europeia, em um momento de reposicionamento social
e cultural. Esses manuais eram difundidos pelas elites, servindo de modelo para a
burguesia e para a população em geral, que desejavam seguir os padrões adotados
Pelas classes mais ricas. Elias, op. cit. No Brasil os manuais foram amplamente
divulgados, e J. í.Roquete tornou-se bastante popular entre os nobres do Império.
Roquete, J.I. O código do bom-tom. Organização Lilia Moritz Schwacz. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997. (Série Retratos do Brasil). Esse tema sobre os modos e

139
M O R A R E V I V E R NA CIDADE. CAMPINAS ( 1 8 5 0 - 1 9 0 0 )

Esses padrões de civilização atravessaram o Atlântico e aportaram


em terras brasileiras com a família real em 1808. Foi um momento
marcado pela sociabilidade, com festas realizadas nos recém-constru-
ídos salões imperiais e nas grandes residências familiares, alterando os
modos da boa sociedade do Rio de Janeiro do século xix. 5
Para a aristocracia cafeeira paulista de meados do século xix e
para a burguesia em ascensão, era imprescindível "igualar-se à bur-
guesia e à aristocracia portuguesa." 6 Para isso "era preciso que a 'boa
sociedade' adotasse valores e modos europeus, civilizando os costu-
mes, eliminando os ares coloniais."' Como observou Maria Cecília
Naclério Homem, ser "civilizado" era ser educado e levar a vida con-
forme as metrópoles europeias, entre as quais não podia faltar Paris.
Essa civilidade ou civilité advinha de um conceito medieval de boas
maneiras denominado cortesia, justamente por ser praticado pelos
nobres da "corte", o qual teve o nome alterado após a revolução in-
dustrial européia, no século x v m . Portanto, ter civilidade significava
ter boas maneiras, saber e praticar a etiqueta, conter as emoções e

ser polido. 9

a etiqueta foi abordado por Pilla. Maria Cecília Barreto Amorim. A arte de receber
distinção e poder à boa mesa. 1900-1970. Tese (Doutorado em História). Faculda
de História, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004.
5 Rainho, Maria do Carmo Teixeira. A distinção e suas normas: leituras e leitor*
de manuais de etiqueta e civilidade - Rio de Janeiro, século xix. Acervo, M
Janeiro, v. 8, n. 1-2, p. 139-152. jan./dez. 1995.
6 Rainho, Maria do Carmo Teixeira. A cidade e a moda. Brasília: UnB. 2002, p- *

7 Idem. f
8 Homem, Maria Cecília Naclério. O palacete paulistano e outras formas de
da elite cafeeira. 1867-1918. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 55- ^
1 5
9 Elias, op. cit., Margaret Visser analisa os comportamentos à mesa da P ^ ^
até os dias atuais, em especial a partir dos múltiplos significados dos rituais^
torno do jantar. Visser, Margaret. O ritual do jantar, as origens, evolução, exce
cidades e significado das boas maneiras. Rio de Janeiro: Campus. 1998.
ELIANE MORELLI ABRAHÃO

A criação de um ambiente dedicado especialmente às refeições,


na casa moderna do século xix, mostrou a importância que essas
ocasiões e, consequentemente , os rituais à mesa, tinham para as eli-
tes; visto que as boas maneiras em sociedade tornaram-se veículo
de distinção, diferenciação e integração social.10 Além disso, os si-
nais externos de diferenciação social, desde o gestual até o aspec-
to material representado pelos utensílios e a estética das refeições,
tornaram-se imprescindíveis para a demarcação do homem polido
e bem educado."
As transformações fizeram-se visíveis no cotidiano da cidade de
Campinas da segunda metade do século xix, na medida em que os
periódicos locais (diários e almanaques) começaram a publicar anún-
cios de mobiliário, jóias, roupas finas, livros e equipamentos diversos
difundindo o modelo europeu de morar, de vestir-se e de viver.
A Livraria Casa Genoud, localizada à rua Barão de Jaguara, man-
tinha uma espécie de salão de beleza para senhoras. Sua proprietá-
ria, madame Genoud, trazia as últimas novidades de Paris para as
mulheres da sociedade. Além do salão, a livraria funcionou como
importante espaço social, um ponto obrigatório de reunião de artis-
tas, escritores e todo o \e grand monde de Campinas."

10 Püla, op. cit, p. 44.


11 Lima, op. cit., 1995.
11
Battistoni Filho, Duílio. Campinas: uma visão histórica. Campinas: Pontes, 1996.
P- Si; Lapa, op. cit., p. 141-61.

141

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