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“As mulheres, de modo contrário, têm uma tendência, em sua maioria, a viver uma
espiritualidade baseada no amor e em relações menos hierárquicas, a partir da
linguagem vernácula comum aos seus ouvintes, sem mediações clericais em figura
masculina e sem qualquer interferência externa às suas crenças que pudessem desviar o
foco maior, que era a deidade.” (OLIVEIRA, 2018, p. 49).
“Para Maria-Milagros Rivera, os séculos XII e XIII foram propícios para a liberdade
feminina na manifestação de sua espiritualidade. Isto porque os movimentos espirituais,
como o do Livre Espírito, os cátaros e as beguinas eram carismáticos e acolhedores ao
se identificarem com a vida cotidiana das comunidades medievais ocidentais, sobretudo
das mais pobres, distintamente das doutrinas impostas pelo catolicismo que não se
aliavam à realidade cotidiana das populações, estando ao largo de seus anseios
espirituais e materiais.” (OLIVEIRA, 2018, p. 49).
“Marguerite Porete, pelo que se conhece das fontes históricas ligadas à sua vida, é
natural da região do Reno, tendo vivido entre 1250-1310, no Condado de Hainaut,
pertencente à cidade de Valenciennes, noroeste da França e nos atuais limites entre a
França e a Bélgica. Em 1944 ela tem atribuída a si a autoria do livro Mirouer, por
intermédio da estudiosa italiana” (OLIVEIRA, 2018, p. 50).
“Ela testemunhou não apenas a grande efervescência espiritual de seus dias, mas
também um clima de transformação econômica e política que marcaram os séculos XIII
e XIV” (OLIVEIRA, 2018, p. 52).
“A cidade modificou a vida medieval ao alargar a rede de comunidades de que
participava e por surgirem preocupações materiais. Nesse ambiente urbano nasceram os
movimentos pauperistas, que chamaram a atenção às realidades de desigualdades
econômicas e sociais. Cátaros, albingenses, goliardos e beguinas, dentre outros,
despontaram em dissonância com a alta hierarquia eclesiástica, criticando o desacordo
entre a pregação da igreja e a sua prática, unindo nesta crítica temas que diziam respeito
aos dogmas da igreja” (OLIVEIRA, 2018, p. 53).
“O Movimento do Livre Espírito pode ser entendido como um processo que conduz a
alma a se unir com o divino, realizado com práticas mistagógicas, incluindo a pobreza
como princípio de liberdade e com uma capacidade de renovação extrema até o
discernimento de si mesmo. Para o Livre Espírito a união com o divino se opera de uma
forma tão radical que leva a alma ao reconhecimento do divino em si, a deificatio.”
(OLIVEIRA, 2018, p. 57).
“Nas experiências místicas permitia-se que a pessoa comparecesse diretamente diante
do sagrado, sem intermediação ou qualquer regra clerical previamente estabelecida para
regular esta exposição. [...].” (OLIVEIRA, 2018, p. 57).
“O movimento cátaro surgiu na Europa para logo se tornar uma ameaça à hegemonia do
cristianismo pregado pela igreja. O período de maior crescimento documentado está
entre 1140 a 1170, quando, segundo Nachman Falbel a “Reforma Gregoriana,
acompanhada de início por entusiasmo popular, não conseguiu que a igreja canalizasse
o entusiasmo a seu favor”.” (OLIVEIRA, 2018, p. 62).
“A falta de hierarquia entre corpo e alma acarreta uma expressão da masculinidade sem
hierarquia, ou seja, desvincula o entendimento simbólico da superioridade do masculino
sobre o feminino, e da alma sobre a matéria, presente na cultura grega.” (OLIVEIRA,
2018, p. 69).
“As comunidades de beguinas abrigavam mulheres que fugiam aos modelos tradicionais
próprios do período, como religiosas inseridas numa determinada instituição ou casadas.
Abdicavam tanto do latim quanto das instituições e hierarquias regulares da Igreja e,
portanto, sozinhas ou em companhia de outras mulheres, formavam suas comunidades
independentes fora dos monastérios, levando uma vida de pobreza, contemplação e
serviço espontâneo. [...] Como não faziam votos formais, apenas promessas, eram livres
para abandonar a possível situação passageira de beguinas. A expressão da liberdade
podia ser vista na opção por não se casarem, afastando o “contrato sexual e a
heterossexualidade obrigatória”, mas também sem voto de castidade.” (OLIVEIRA,
2018, pags. 71-72).
“o estilo de vida beguine era livre, não somente quanto à busca de experiências
espirituais, mas também de sua organização em comunidade” (OLIVEIRA, 2018, p.
77).