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FACULDADE EVANGÉLICA DE TECNOLOGIA, CIÊNCIAS E

BIOTECNOLOGIA DA CGADB - FAECAD

RESENHA CRÍTICA A TEOLOGIA NEGRA E A TEOLOGIA FEMINISTA

Rio de Janeiro/RJ
2018
RESENHA CRÍTICA A TEOLOGIA NEGRA E A TEOLOGIA FEMINISTA

Trabalho apresentado como exigência


da disciplina de Teologia Contemporânea
do curso de Teologia, sob orientação do
Prof. Jansen.

Rio de Janeiro/RJ
2018
1

INTRODUÇÃO

Muitos costumam definir simplesmente teologia como o estudo de Deus,


como se isso fosse possível. Na verdade, falamos de um Ser infinito, atemporal e
que se revela parcialmente a nós, e dentro de nossas limitações e preconceitos
procuramos traduzir estas revelações, segundo nossas percepções, produzindo
respostas as questões do nosso tempo.
As novas teologias são respostas a movimentos sociais, por razões justas ou
não, propõem novos dogmas a igreja cristã, apesar de não serem exclusivas do
cristianismo, delimitaremos estes movimentos a fé cristã seus conceitos e
paradigmas.
Dois movimentos foram importantes para a igreja nos dias atuais, pois
impactaram de algum modo a igreja pós-moderna especialmente na igreja cristã
brasileira. Estes dois movimentos foram chamados de Teologia Negra e Teologia
Feminista.
Como movimentos inclusivistas eles têm sua importância, no Brasil a
população negra (pretos e pardos) corresponde a aproximadamente 51% da
população cristã (católicos e evangélicos) e aproximadamente 52% são mulheres,
segundo censo 2010 IBGE, vide tabela anexo. Entretanto, é notório a extrapolação
bíblica com suas novas interpretações, aborto, gênero e a eterna injustiça opressora.
Repensar a cristianismo como unidade na diversidade é o grande desafio
para os teólogos da atualidade.
2

Teologia Negra
O movimento negro no final dos anos sessenta nos Estados Unidos da
América, procurou atribuir dignidade e autoestima aos negros, lutando contra o
racismo social, política e econômica numa sociedade dominada por brancos.
As implicações religiosas do movimento permitiram a Teologia Negra
reinterpretar a fé cristã a partir da perspectiva negra, numa sociedade racista,
redefinir o significado e o papel da igreja e da religião na vida dos negros. Ser um
cristão negro na América significa que se compartilha uma cultura que incorpora a
negritude e a fé cristã em face de uma história injusta e degradante, considerando a
fé cristã de uma perspectiva negra e demonstrando que o cristianismo libera os
negros e os reconcilia não apenas com Jesus, mas também com o vizinho branco.
A teologia negra começa com a compreensão da história única do povo negro
como um povo sofrido. A escravidão faz parte da história das sociedades ao longo
do tempo, mas como comércio institucionalizado, o chamado tráfico de negros foi
iniciado em meados do século XV pelos portugueses que, ao procurarem ouro no
litoral ocidental da África, descobriram outra fonte de riqueza material, a venda de
escravos negros, primeiro na Europa e subsequentemente nas recém-descobertas
terras do novo mundo, do século XVI até quase o final do século XIX.
O racismo é a crença de que as outras raças são inferiores mental, física,
moral e culturalmente à sua própria raça. Ele pode se expressar tanto no nível
individual quanto no nível institucional. Este racismo institucional se refere ao fato de
que as políticas e regulamentos das comunidades, escolas, igrejas, empresas e
outras organizações restringem as oportunidades dos membros dos grupos
discriminados na sociedade1
A fim de desafiar o monopólio completo da definição da teologia cristã por
parte dos europeus e americanos brancos, alguns jovens estudiosos negros levaram
a luta para os seminários teológicos e universidades nos EUA, publicando livros que
explicaram sua posição sobre a tarefa da teologia cristã no contexto atual. Os
primeiros livros foram publicados por James Cone, professor da teologia sistemática
no Union Theological Seminary em Nova Iorque:

1
DUNAWAY, Filipe. A TEOLOGIA NEGRA: UMA INTRODUÇÃO. Disponível
em: <http://www2.teologica.br/webportal/home/images/stories/enade/teologia_negra.pdf>. Acesso em:
16 jun. 2018.
3

Teologia Negra e Poder Negro (1969) e Uma Teologia Negra da Libertação


(1970). Nestes dois volumes, Cone argumentou que os elementos libertadores do
movimento “poder negro” são a encarnação histórica autêntica do cristianismo em
nossa época, pois ele é, na sua essência, uma religião de libertação. Cone foi o
escritor mais sofisticado deste novo movimento teológico, ninguém se igualou a ele
em termos de volume absoluto de escrita ou em termos do desafio proposto por
seus livros2.
É evidente que esta teologia nasce dentro de um contexto histórico de
políticas incorretas, de exclusão e discriminatórias, porém hoje vive um ciclo
contínuo de vitimização.
A teologia negra fez algumas contribuições importantes:
Primeiro, a teologia deve encontrar uma expressão prática na sociedade.
Em segundo lugar, que Deus está envolvido com o Seu povo em situações da
vida real.
Terceiro, na necessidade de alcançar os outros no corpo de Cristo que está
sofrendo.
E em quarto lugar, serve como uma acusação contra as visões racistas que
têm sido frequentes, mas nem sempre presentes entre os brancos.
Uma teologia da libertação bíblica, a Escritura e não a experiência negra,
deve ser a autoridade suprema em questões de fé e prática; um forte argumento
bíblico pode ser construído contra o racismo e que deveria estar inserido na
Teologia Negra.
A unidade da raça humana, é uma ênfase consistente nas Escrituras:
 Na criação (Gênesis 1:28);
 No pecado (Rm 3:23)
 No amor de Deus por todos os homens (João 3:16);
 Na salvação (Mat. 28:19).
Paulo enfatizou a unidade da humanidade em seu sermão aos atenienses (Atos
17:26).
Em Apocalipse 5:9 nos diz que os remidos de Deus serão de “toda tribo e
língua e povo e nação”. Por causa da unidade da humanidade, não há lugar para
2
RHODES, Ron. Teologia Negra, Poder Negro e a Experiência Negra.
Disponível em: <http://www.equip.org/article/black-theology-black-power-and-the-black-experience/>.
Acesso em: 18 jun 2018.
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discriminação racial ou de outra forma, pois todos os homens são iguais aos olhos
de Deus.

Teologia Feminista
Para entender a Teologia Feminista e sua influência na igreja e preciso
entender como o movimento feminista surge na sociedade, sua importância e
consequências, como igreja muitas vezes nos limitamos a simples questão de
ordenação feminina, porém seus ideais são mais amplos.
Os primeiros registros têm início na primeira metade dos anos de 1700
quando uma inglesa, Mary Wollstonecraft, escreveu A Vindication of the Rights of
Woman (A Vindicação dos Direitos da Mulher). Um ano depois desta publicação,
Olimpe de Gouges publicou um panfleto em Paris intitulado Le Droits de La Femme
(Os Direitos da Mulher) e uma americana, Judith Sargent Murray, publicou On the
Equality of the Sexes (Sobre a Igualdade dos Sexos).
Em 1848 cerca de 100 mulheres se reuniram em uma convenção em Seneca
Falls, Nova York, para ratificar a Declaração dos Sentimentos escrita para defender
os direitos naturais básicos da mulher. As autoras da Declaração dos Sentimentos
reclamavam que as mulheres estavam impedidas de galgar posições na sociedade
quanto a empregos melhores, além de não receber pagamento equitativo pelo
trabalho que realizavam. Notaram que as mulheres estavam excluídas de profissões
tais como teologia, medicina e advocacia e que todas as universidades estavam
fechadas para elas. Denunciavam também um duplo padrão de moralidade que
condenava as mulheres a penas públicas, enquanto excluía os homens dos mesmos
castigos em relação a crimes de natureza sexual.
A Declaração dos Sentimentos foi um marco profundamente significativo no
movimento feminista3.
A construção do feminismo moderno começou com a obra da filósofa
francesa Simone deBeauvoir, Le Deuxième Sexe (O Segundo Sexo), em 1949. As
mulheres, segundo deBeauvoir, foram definidas e diferenciadas tomando como
referencial o homem e não com referência a elas mesmas.

3
LOPES, Augustus Nicodemus. O Feminismo Cristão: Como Tudo
Começou.
Disponível em: <http://tempora-mores.blogspot.com/2011/12/o-feminismo-cristao-como-tudo-
comecou.html>. Acesso em: 16 jun 2018.
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No início dos anos 60 uma jornalista americana, Betty Friedan, transformou os


conceitos filosóficos de Simone deBeauvoir em alguma coisa mais assimilável para
a mulher moderna, ao publicar A Mística Feminina, um livro onde examinava o papel
da mulher norte-americana. De acordo com Friedan, as mulheres dos seus dias
foram ensinadas a buscar satisfação apenas como esposas e mães. Ela afirmou que
esta mística do ideal feminino tornou as mulheres infantis e frívolas.
Alguns consideram que o movimento feminista se inicia na igreja com a obra
de Katherine Bliss,The Service and Status of Women in the Church (O Trabalho e o
Status da Mulher na Igreja, 1952) como o marco inicial do moderno movimento
feminista dentro da cristandade. O livro era baseado numa pesquisa sobre as
atividades e ministérios nos quais as mulheres cristãs estavam comumente
envolvidas. Bliss observou que, embora as mulheres estivessem extremamente
envolvidas na vida da Igreja, a participação delas estava limitada a papéis auxiliares
tais como Escola Dominical e Missões. As mulheres não participavam em lideranças
tradicionalmente aceitas, tais como as atividades de ensino, pregação,
administração e evangelismo, ainda que muitas delas pareciam estar preparadas e
terem dons para este exercício. Bliss chamou a atenção da Igreja para a reavaliação
dos papéis homem/mulher na Igreja, particularmente da ordenação de mulheres.
A obra de Bliss serviu de munição para ativistas cristãos na luta pelos direitos
civis e políticos em 1961. Eles, junto as feministas na sociedade secular, começaram
a vocalizar o seu descontentamento com o tratamento diferenciado que as mulheres
recebiam por causa do seu sexo, inclusive dentro das igrejas cristãs. Neste mesmo
ano, vários periódicos evangélicos publicaram artigos sobre a “síndrome das
mulheres limitadas aos papéis da casa e esposa”, onde se argumentava que as
mulheres estavam restritas a papéis inferiores na Igreja. Os homens podiam se
tornar ministros ordenados, mas às mulheres se lhes impunham barreiras nas
atividades ministeriais como ensino, aconselhamento e pastoreamento. As
mulheres, afirmavam os ativistas, desejam participar da vida religiosa num nível
mais significativo do que costura ou a direção de bazares ou arrumar a mesa da
Santa Ceia ou serviços gerais tais como o levantamento de recursos para os
necessitados, os quais frequentemente são designados a elas. Tanto quanto com
trabalho físico, elas desejam contribuir com ideias para a Igreja.
A atenção sobre os papéis do homem e da mulher dentro da Igreja se tornou
mais intenso na medida em que o movimento secular das mulheres foi ganhando
6

força. Em 1961 o Concílio Mundial de Igrejas distribuiu um panfleto intitulado Quanto


à Ordenação de Mulheres, chamando as igrejas afiliadas para um “reexame de suas
tradições e leis canônicas”.
A Teologia Feminista veio a ser profundamente afetada pela hermenêutica
pós-moderna, a qual ensina que a escrita e a leitura de qualquer texto são
irremediavelmente determinadas pelas perspectivas sociais e experiências de vida
dos seus autores e leitores desconsiderando ou mesmo não dando ênfase ao
conceito da inspiração e infalibilidade da Bíblia. Ela é uma corrente de pensamento
que propõe uma reflexão a respeito do papel e da visão da mulher na Bíblia, prega
uma interpretação sociológica das escrituras em detrimento de uma leitura literal e
fundamentalista.
Apesar de não parecer a teologia feminista tem uma amplitude e influência
muito maiores que possamos imaginar, muitas vezes ficamos presos somente a
questões de liderança ou cargos eclesiásticos, porém questões sobre aborto,
homossexualismo, ou mesmo o gênero de Deus tem influenciado uma geração.
Numa breve pesquisa é notório uma imensa produção literária sobre a
Teologia Feminista bem como um significativo número de teólogas estudiosas do
tema.

Conclusão
As Escrituras são inclusivistas, porém o que temos visto no cristianismo é um
sectarismo crescente, reinterpretando a Bíblia segundo interesses e visões.
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ANEXO
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUNAWAY, Filipe. A TEOLOGIA NEGRA: UMA INTRODUÇÃO. Disponível em:


<http://www2.teologica.br/webportal/home/images/stories/enade/teologia_negra.pdf>
. Acesso em: 16 jun. 2018.

LOPES, Augustus Nicodemus. O Feminismo Cristão: Como Tudo Começou.


Disponível em: <http://tempora-mores.blogspot.com/2011/12/o-feminismo-cristao-
como-tudo-comecou.html>. Acesso em: 16 jun 2018.

RHODES, Ron. Teologia Negra, Poder Negro e a Experiência Negra. Disponível em:
<http://www.equip.org/article/black-theology-black-power-and-the-black-experience/>.
Acesso em: 18 jun 2018.

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