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seja, imaculada antes, durante e depois de sua conceição no seio de sua mãe. O dogma da
Imaculada Conceição, proclamado pelo Papa Pio IX em 1854, teve como pano de fundo a
luta que na época a Igreja travava contra o racionalismo. Essa corrente negava a
possibilidade de forças sobrenaturais agirem no mundo. O dogma da Imaculada realça
justamente a intervenção direta de Deus no mundo ao preservar Maria do pecado original.
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ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA: Após a morte Maria subiu ao Céu em corpo
e alma. Depois de Cristo, ela foi a única criatura que teve esta distinção. Foi declarado por
Pio XII no pós-guerra, em 1950. Após a maciça mortandade da Segunda Guerra, o dogma
fala da santidade da vida e da dignidade dos corpos humanos, ao lembrar que eles também
estão destinados à Ressurreição. Na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, o
Pontífice afirmou que, depois de terminar o curso terreno de sua vida, ela foi assunta de
corpo e alma à glória celeste. Mais de 200 teólogos, em todas as partes da Igreja,
demonstraram interesse e entusiasmo pela definição dogmática. Imaculada e assunta aos
céus, Maria é a realização perfeita do projeto de Deus sobre a humanidade. A Assunção
manifesta o destino do corpo santificado pela graça, a criação material participando do
corpo ressuscitado de Cristo, e a integridade humana, corpo e alma, reinando após a
peregrinação da história (CNBB /2013 Catequese renovada, no 235).
Santo André diz: "Maria é mãe de Deus, resplandecente de tanta pureza, e radiante de tanta
beleza, que, abaixo de Deus, é impossível imaginar maior, na terra ou no céu." (santo
Andreas apost. in transitu b. v., apud amad.).
São João evangelista diz: "Maria é verdadeiramente mãe de Deus, pois concebeu e gerou
um verdadeiro Deus, deu à luz, não um simples homem como as outras mães, mas Deus
unido à carne humana." (s. joão apost. ibid).
S. Dionísio areopagita: "Maria é feita mãe de Deus, para a salvação dos infelizes." (s. dion.
in revel. s. brigit.)
Santo Agostinho: "Maria é mãe de Deus, feita pela mão de Deus". (s. agost. in orat. ad
heres.).
São Tiago Menor. O Santo Apóstolo não se limita a isso, mas torna a sua fé mais
expressiva ainda. Após a consagração e umas preces, ele faz dizer ao Celebrante:
"Prestemos homenagem, principalmente, a Nossa Senhora, a Santíssima, Imaculada,
abençoada acima de todas as criaturas, a gloriosíssima Mãe de Deus, sempre Virgem
Maria.
Santo Hipólito, bispo de Porto e mártir, escreveu em 220: "O Cristo foi concebido e tomou
o seu crescimento de Maria, a Mãe de Deus toda pura". Mais além ele diz: "Como o
Salvador do mundo tinha decretado salvar o gênero humano, nasceu da Virgem Maria".
Orígenes, que viveu em 226 e pareceu resumir a doutrina e as tradições de sua época,
escreveu: "Maria, a Virgem-Mãe do Filho único de Deus, é proclamada a digna Mãe deste
digno Filho, a Mãe Imaculada do Santo e Imaculado, sendo ela única, como único é o seu
próprio Filho."
No século quarto, aparecem inúmeros escritos sobre a Imaculada Conceição, cada vez
mais explícitos e em maior número. Temos diante de nós as figuras incomparáveis de
Santo Atanásio, de Santo Efrem, de S. Basílio Magno, de Santo Epifânio, e muitos outros,
que constituem a plêiade gloriosa dos grandes Apóstolos do culto da Virgem Santíssima e,
de modo particular, de sua Imaculada Conceição.
“Cristo era o único filho de Maria. Das entranhas de Maria, nenhuma criança além dEle. Os
‘irmãos’ significam realmente ‘primos’ aqui: a Sagrada Escritura e os judeus sempre
chamaram os primos de irmãos” (Martinho Lutero – Sermões sobre João 1-4, 1534-39)
“Cristo, nosso Salvador, foi o fruto real e natural do ventre virginal de Maria. Isto se deu
sem a cooperação de um homem, permanecendo virgem depois do parto” (Martinho
Lutero, idem.)
“Deus diz: ‘o filho de Maria é meu Filho somente.’ Desta forma, Maria é a Mãe de
Deus”(Martinho Lutero, Ibidem)
“É uma opinião doce e piedosa que a infusão da alma de Maria ocorreu sem o pecado
original; de modo que, ao infundir a sua alma imune ao pecado original, foi adornada com
presentes de Deus, recebendo uma alma pura, infusa por Deus; assim, desde o primeiro
momento em que começou a viver ela esteve livre de todo o pecado” (Sermão: “No dia da
concepção da Mãe de Deus,” Dezembro de 1527 [?].
No seu sermão em 15 de agosto de 1522, quando pregava pela última vez na festa da
Assunção, afirmou: “Não se pode haver nenhuma dúvida que a Virgem Maria está no céu.
Como isso aconteceu, nós não sabemos. E já que o Espírito Santo não nos revelou nada
sobre isso, não podemos fazer disso um artigo de fé. É suficiente sabermos que ela vive
em Cristo”
“Maria é a mulher mais elevada e a pedra preciosa mais nobre no Cristianismo depois de
Cristo… Ela é a nobreza, a sabedoria e a santidade personificadas. Nós não poderemos
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jamais honrá-la o bastante. Contudo, a honra e os louvores devem ser dados de tal forma
que não ferem a Cristo nem às Escrituras” (Martinho Lutero – Sermão na festa da Visitação
em 1537)
“Devemos honrar Maria como ela mesma desejou e expressou no Magnificat. Louvou a
Deus por suas obras. Como, então, podemos nós exaltá-la? A honra verdadeira de Maria é
a honra a Deus, louvor à graça de Deus. Maria não é nada para si mesma, mas para a
causa de Cristo. Maria não deseja com isso que nós a contemplemos, mas, através dela,
Deus” (Martinho Lutero – Explicação do Magnificat – em 1521).
“Maria é a Mãe de Jesus e a Mãe de todos nós, embora fosse só Cristo quem repousou no
colo dela… Se ele é nosso, deveríamos estar na situação dele; lá onde ele está, nós
também devemos estar e tudo aquilo que ele tem deveria ser nosso. Portanto, a mãe dele
também é nossa mãe.”(Martinho Lutero – Sermão de Natal de 1529)
Há escritores que nos legaram livros completos sobre a Virgem Maria. Outros
deixaram partes, breves ou longas, em seus escritos. Suas reflexões marianas
contribuíram no desenvolvimento da Mariologia e do culto de Nossa Senhora.
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São Jerônimo (347-420), monge e escritor eclesiástico, destacou-se pelo estudo das
Sagradas Escrituras. É conhecido principalmente por sua tradução da Bíblia para o latim,
chamada Vulgata. No culto mariano mostrou a importância da imitação da Mãe de Jesus.
Afirmava: “Propõe-te como modelo a Santíssima Virgem, cuja pureza foi tanta que mereceu
ser a Mãe do Senhor”.
O Papa Leão Magno (+ 461), que governou a Igreja de 440 a 461, é conhecido pela sua
defesa da ortodoxia e pela manutenção da unidade do povo de Deus. Pontuava: “O Filho
de Deus, que é Deus como seu Pai, e que recebe do Pai sua mesma natureza, Criador e
Senhor de tudo, que está presente em toda parte e transcende o universo inteiro, na
seqüência dos tempos, que de sua providência dependem escolher para si este dia, para
em prol da salvação do mundo, nele nascer da Bem-aventurada Virgem Maria,
conservando intacto o pudor de sua Mãe. A virgindade de Maria não foi violada no parto
como não fora maculada na conceição”. Leão Magno também comparou a fonte batismal
ao seio da Mãe de Jesus Cristo, o Salvador da humanidade. Sua afirmação lapidar é a
seguinte: “Deus concedeu à água batismal o mesmo poder que concedeu à Mãe, o de gerar
Cristo no coração dos fiéis”.
No século VII São Sofrônio exaltou a superioridade de Nossa Senhora em relação aos
anjos e homens. Com entusiasmo dizia: “Quem ousará, ó Virgem Maria, competir
convosco? Deus nasceu de vós. Haverá alguém que se não reconheça inferior a vós, e
mais ainda, não vos conceda alegremente a primazia e a superioridade? Por isso ao
contemplar as vossas eminentes prerrogativas, que superam as de todas as criaturas, eu
vos aclamo com todo o entusiasmo: Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco. Por meio
de vós foi concedida a alegria não somente aos homens, mas também aos anjos do céu”.
No século VIII Santo André de Creta, bispo, ao meditar sobre a festa da Natividade de
Nossa Senhora, asseverava: “Era absolutamente necessário ao esplendor e à evidência da
vinda de Deus aos homens uma introdução jubilosa, antecipando para nós o grande dom
da salvação. Este é o sentido da solenidade de hoje que tem início na natividade da Mãe de
Deus, cuja conclusão perfeita é a predestinada união do Verbo com a carne. Agora a
Virgem nasce, é alimentada com leite, plasmada e preparada como mãe para o Deus e rei
de todos os séculos”.
São João Damasceno (675-749), conhecido como “orador de ouro”, escreveu cerca de 150
obras. Os estudiosos mostram que ele é uma das testemunhas mais autorizadas da
tradição patrística e teológica que reconhece a Assunção da Virgem Maria. Em uma de
suas homilias, dizia a respeito da Mãe de Jesus: “Os Apóstolos, juntamente, levaram-te
aos ombros, a ti, verdadeira arca, como em tempos os sacerdotes levaram a arca
figurativa, e depuseram-te no túmulo: então através do túmulo, qual outro Jordão, fizeram-
te chegar à verdadeira Terra prometida, quero dizer, à ‘Jerusalém celeste’, a mãe de todos
os crentes, ‘de quem Deus é o arquiteto e o construtor”.
São Bernardo de Claraval (1091-1153), abade e escritor, encarnou o gênio religioso de sua
época, cuja obra combinou espiritualidade com dedicação à Igreja. Seus “Louvores à
Virgem Maria” constituem o clássico livro sobre a devoção mariana. Escreveu: “Em Maria
existe algo ainda maior que se deve admirar: a fecundidade unida à virgindade. De fato,
jamais se ouviu dizer que uma mulher fosse, ao mesmo tempo, mãe e virgem”.
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No século XII Santo Elredo, abade, abordou, com muita precisão, vários aspectos da
devoção mariana. Dizia: “Aproximemo-nos da esposa do Senhor, aproximemo-nos de sua
ótima serva. (...) Mas que faremos? Que presentes lhe ofereceremos? E se pudéssemos, ao
menos, dar-lhe de volta o que por justiça lhe devemos?! Nós lhe devemos honra, nós lhe
devemos serviço, nós lhe devemos amor, nós lhe devemos louvor. Honra, porque é a Mãe
de nosso Senhor. Quem não honra a mãe, sem dúvida alguma, despreza o filho. E a
Escritura diz: ‘Honra teu pai e tua mãe’ (Dt 5,16)”.
Ainda no século XII Santo Amadeu, bispo de Lousane, refletia, em um de seus sermões,
sobre Nossa Senhora como rainha: Maria, “assentada no mais alto cume das virtudes,
repleta do oceano dos carismas divinos, do abismo das graças, ultrapassando a todos,
derramava largas torrentes ao povo fiel e sedento. Concedia a saúde aos corpos e às
almas, podendo ressuscitar da morte da carne e da alma. Quem jamais partiu de junto dela
doente ou triste ou ignorante dos mistérios celestes? Quem não voltou para casa contente
e jubiloso, tendo impetrado de Maria, a Mãe do Senhor, o que queria?”.
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja, diz: “Que o nome de Maria
nunca saia dos teus lábios nem do teu coração. […] Seguindo-a, não te perderás; rezando-
lhe, não desesperarás; pensando nela, evitarás enganar-te no caminho. Se Ela te agarrar
pela mão, não te afundarás; se Ela te proteger, nada temerás; conduzido por Ela, ignorarás
a fadiga; sob a sua proteção, chegarás ao objetivo. E compreenderás, pela tua própria
experiência, como são verdadeiras essas palavras: «O nome da virgem era Maria».”
Santo Afonso Maria de Ligório, Doutor da Igreja e padroeiro dos confessores e moralistas:
“Maria é aquela torre de Davi, de que fala o Espírito Santo nos sagrados Cânticos: ‘Ao
redor dela se elevam fortalezas; ali se vêem suspensos mil escudos e todas as armas dos
valentes’ (Ct 4,4). Vós sois, portanto, Virgem Santíssima – como diz Santo Inácio Mártir –
‘um escudo inexpugnável para aqueles que andam empenhados no combate’”.
São Francisco de Assis: “Salve ó Senhora Santa, Rainha Santíssima, Mãe de Deus, ó
Maria… Em vós residiu e reside toda plenitude da graça e todo o bem”.
São Luís Maria Grignion de Montfort, autor de vários livros marianos, entre eles o “Tratado
da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem” :“Sou todo teu, Maria, e tudo o que é meu te
pertence”. “A quem Deus quer fazer muito santo, o faz muito devoto da Virgem Maria”.
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São João Bosco, grande propagador da devoção a Maria Auxiliadora :“Um sustentáculo
grande para vós, uma arma poderosa contra as insídias do demônio, tendes na devoção à
Maria Santíssima”
Santa Teresa de Jesus, mística e Doutora de Igreja: “Grande coisa é o que agrada a Nosso
Senhor qualquer serviço que se faça à sua Mãe”.
Santa Teresa de Lisieux, Doutora da Igreja e Padroeira das missões: “Com a prática fiel
das virtudes mais humildes e simples, tornaste, minha Mãe, visível a todos o caminho reto
do Céu”.
Santa Teresa dos Andes, carmelita descalça latino-americana: “Maria, és a Mãe do
Universo. Quem não se anima ao ver-te tão pura, tão terna, tão compassiva, a revelar seus
íntimos tormentos? Se é pecador, tuas carícias o enternecem. Se é teu fiel devoto, somente
tua presença acende a chama viva do amor divino”.
São João Paulo II, o Papa das famílias:“Nos deste a Tua Mãe como nossa, para que nos
ensine a meditar e adorar no coração. Ela, recebendo a Palavra e colocando-a em prática,
fez-se a mais perfeita Mãe”. “Dai-nos vossos olhos, ó Maria, para decifrar o mistério que se
esconde nos frágeis membros do Filho. Ensinai-nos a reconhecer a sua face nas crianças
de toda raça e cultura”.
A oração mais antiga dirigida a Maria é conhecida com o nome “Sub tuum
praesidium” (À vossa proteção). No ano de 1927, no Egito, foi encontrado um fragmento de
papiro que remonta ao século III. Neste fragmento estava escrito: “À vossa proteção
recorremos Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas
necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!”.
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Entre tantas outras orações e devoções, citamos as mais conhecidas : o terço,
o rosário, o Ofício da Imaculada, a reza das três Ave-Marias, da Salve Rainha, do Magnificat
e a recitação do poema Ave Maris Stella, do Angelus e Regina Caeli. É comum o uso do
escapulário, da medalha milagrosa e menos freqüente, o uso da correia de Nossa Senhora.
Há também a consagração à Mãe de Deus que pode ser feita inclusive com o método de
São Luis Maria Grignion de Montfort. Lembremos ainda a recitação das coroas das dores e
das alegrias da Santa Mãe.
Para finalizar, colocamos aqui o poema do Cardeal Dom Augusto Álvaro da
Silva, que traduz em versos a histórica criação da imagem pela qual a Igreja venera a
Imaculada Conceição.
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“Anda, pois!”… E ela foi. O artista satisfeito
A Conceição de Murillo
Tem-na diante de si, a coma em ondas solta,
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O olhar fitando o céu, as mãos em cruz no peito
Já não era criança; um maranhal de fios
Aos quando murmurando: — “Então!…Meu pai não volta?”
Grisava-lhe a fronte cismadora e rude,
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Onde seus olhos profundos, tépidos, sombrios
Quando tudo acabou, nervosamente ufano,
Punham tons de mistério e indícios de virtude.
Tomou-a pela mão e alçando a voz lhe disse:
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— “Agora vem comigo. Ouviste: o soberano
Desde muito era visto a andar pelas esquinas
Garantiu-me pagar o preço que eu pedisse.”
A olhar curiosamente a turba circunstante,
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E, até, fazer parar donzelas e meninas
Quando chegaram lá, era o palácio em festa;
P’ra mirar-lhes de perto as linhas do semblante.
Clero, nobreza e povo, a fina flor da Espanha
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À mera exposição de um quadro novo, empresta,
Teria enlouquecido? O Rei crente e piedoso
Todos agora ali, solenidade estranha.
Ordenara-lhe um dia desse execução
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Ao seu desejo ardente: — em quadro primoroso
Ia-se inaugurar a “Virgem de Murilo”!…
A cópia mais fiel da imácula Conceição.
Quando um “Oh!” de repulsa, em meio à sala estoira;
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– ‘Stava junto ao pintor impávido, tranquilo,
Por isso é que ele andava inquieto, apreensivo
Inquieta e perturbada a pobrezinha moira!
Fitando a todo mundo, olhando a toda gente,
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A ver se achava, enfim, concretizado e vivo
Nisto corre a cortina e esplêndido, aparece
Modelo ao ideal que brinca-lhe na mente.
O retrato fiel da moira ali presente,
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O olhar fitando o céu, mimosa a boca em prece,
— Esta?… Não serve!… Aquela?… Causa pena vê-lo
Onde brinca o sorriso ingênuo de inocente.
Na angustia em que se agita essa alma torturada
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Por não achar nenhures, pálido modelo
Ao correr da cortina a sala estruge em palmas
Que possa traduzir ess’alma imaculada.
E os olhares se vão da moira à tela. O Rei
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Ao pintor genial que assim retrata as almas:
Junto às prisões do Estado, em pedra úmida e fria,
— “Pede quanto quiseres”, diz, “que t’o darei.”
Das ruas de Madrid; o sol ia já posto,
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Uma pobre menina, em pranto, escondia
— “Senhor, se meu trabalho algum valor alcança,
Na noite de seu véu a aurora do seu rosto.
Se m’o quereis pagar,” Murillo principia,
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“Então dai liberdade ao pai desta criança
Murilo aproximou-se e delicadamente:
Em honra da beleza e em honra de Maria!”
— “Porque choras assim? Levanta-te, sê forte!”
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Ela volveu-lhe o rosto e disse simplesmente:
E as duras férreas portas das prisões do Estado
— “Meu pai ‘stá preso ali. ‘Stá condenado à morte.”
Abriram par em par. E da prisão sombria
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Viu-se sair então, liberto, um condenado
Ao contemplar desnuda a fronte peregrina,
Louvando a Conceição sem mancha de Maria.
Artista, ele estacou, e arrebatado vai
Tomando-a pela mão, dizendo-lhe: — “Menina,
Anda daí comigo e eu livrarei teu pai!”
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— “Meu pai, senhor, é mouro e o Rei que nos persegue
É bárbaro e cruel, pesar de ser cristão…
Dos nossos nem um só que foi-lhe um dia entregue,
Senão para morrer, saiu desta prisão!”
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“Menina, vem comigo, eu juro, a liberdade
Será dada a teu pai, herege ou criminoso,
Que o rei que dizes mau e afeito à crueldade,
Tem o sangue espanhol ardente e generoso.
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“Vem; vamos daqui. Partamo-nos depressa,
Que teu pai será livre! Esta esperança é um fato,
Porque o rei cumprirá, fiel, sua promessa
De dar-me o que eu pedir, a troca de um retrato.
12 La Inmaculada Concepción – Bartolomé Esteban Perez Murillo (1617-
“Sim! O Rei prometeu, se eu lhe pintasse a gosto 1682)
A Conceição sem mancha, espórtula avultada.
E, criança, tu tens nos traços do teu rosto
Os traços mais fieis de um’ alma imaculada.
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