Vivemos tempos conturbados. Depressão, medo, sentimento de impotência. Os
alicerces da sociedade parecem corroídos pelo ódio, pela corrupção e pela violência. Os valores éticos e morais do povo foram sequestrados. Ninguém mais se entende. A polarização das ideias e a proliferação dos preconceitos geraram o caos, um verdadeiro apagão ocorreu na comunicação e no entendimento das pessoas. Os ânimos se exaltam em manifestações, linchamentos, acusações, abusos de autoridade. Nas escolas, no trânsito, nas igrejas, nas festas, na política e no esporte; a guerra está declarada. Até onde pode chegar esta incapacidade humana de administrar conflitos? Confabulando com amigos e conhecidos; ou pelos bate-papos nas redes sociais, tudo que percebo são acusações e dedos em riste, apontando culpados. A ordem mundial nas sociedades humanas se tornou materialista demais; o capitalismo selvagem moldou o espírito competitivo e confundiu as mentes sonolentas. Progresso virou sinônimo de acumulo de bens materiais; quanto mais posses tem o indivíduo melhor sucedido ele é. É um critério perverso de avaliação. Crianças são ensinadas, desde tenra idade, a competir e dominar. Ensinamos nossos filhos a odiar, a tirar proveito de situações; sem perder nunca uma oportunidade sequer. Devem ser vitoriosos sempre! Individualizarmos o pensamento e esquecemos o valor da cooperação. Nas empresas ou nos governos; nos esportes ou na ciência; na religião e na família; ser vitorioso é mais importante que colaborar. Pouco importa os meios utilizados para vencer. Darwin, em sua teoria da evolução das espécies, salienta a competição e determina a importância dela para a sobrevivência, entretanto cita também, a necessidade de cooperação, fornecendo exemplos de espécies que só sobrevivem graças ao mútuo auxílio. Neste jogo; onde só importa vencer, sociedades inteiras são derrotadas. Como se repentinamente elas se tornassem reféns de seus indivíduos. Cada um de nós, em maior ou menor escala, é um algoz da sociedade. Se não formos capazes de encarar esta realidade, não haverá esperança de resgate da paz nem da justiça social. A humanidade está presa... de olhos vendados e amarrada firmemente, acorrentada por seus próprios fundadores. Ela não tem a quem pedir resgate, a não ser para aqueles a quem abriga que, por ironia, a tornam insuportável e despótica. Toda esta maldade que se prolifera em forma de guerra; germina na mente de cada integrante das modernas sociedades humanas. São raras e insignificantes as disposições contrárias. Diz um princípio hermético; "O que está em cima é como o que está embaixo". A sociedade é um espelho de seus indivíduos, portanto, de nada adianta reclamar que as coisas vão de mal a pior; se na individualidade, cada um produz os males que critica abertamente. Talvez a maior falha humana seja aquela que nos faz perceber claramente o erro alheio, nos incapacitando de ver e moldara o próprio espírito. Marx em suas teses constatou precisamente que "a filosofia se limitara a interpretar o mundo de várias maneiras, quando era preciso transformá-lo". Mais de cento e cinquenta anos se passaram e continuamos interpretando o mundo; muito pouco esforço temos feito, como indivíduos, para transformá- lo. A revolução social, depende da guinada no comportamento de cada indivíduo. E aí, no domínio deste campo, as coisas realmente vão mal! Pelo menos é isto que tem demonstrado a longa história das misérias humanas. O livro "viagem por um mar desconhecido", uma coletânea de palestras realizadas por Jiddu Krishnamurti, cita que em cinco mil anos de história da humanidade, ocorreram mais de quinze mil guerras. Portanto, temos média, três guerras por ano. Se considerarmos apenas o século XX e XXI, tal média é ainda maior. Somente os EUA em pouco mais de um século teve envolvimento direto em pelo menos vinte episódios. O que esperar então de uma sociedade que segue esta tendência? A resposta é simples: "Nada". Somente a coletânea de ações individuais serão capazes de transformar o mundo em que vivemos. Pessimismos a parte, parece não restar muita esperança para nós terráqueos. Conclamo então aos bem intencionados amigos e conhecidos, para que reflitam um pouco sobre vossas ações. Pensem naquilo que é objeto de reclamação. Descubra se não és também responsável por aquilo que reclamas. Sei que não é tarefa muito fácil, mas penso que seja este o único caminho viável para atingirmos um nível de vida social razoável, em uma sociedade ética e moralmente comprometida com o verdadeiro progresso humano.
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