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Blumenau
2022
Gabriel Socreppa Linhares
Blumenau
2022
Gabriel Socreppa Linhares
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de
Engenheiro de Materiais e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em
Engenharia de Materiais da Universidade Federal de Santa Catarina.
________________________
Gabriel Socreppa Linhares
Acadêmico
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Dr. Eng. Wanderson Santana da Silva
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Dr. Eng. Marcio Roberto da Rocha
Avaliador
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Dr. Eng. Alex Fabiano Bueno
Avaliador
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Eng. Esp. Tiago Schmidt Souza
Avaliador externo
AGRADECIMENTOS
O setor de máquinas agrícolas é estratégico para o país e cada vez mais demanda materiais
fundidos de elevado desempenho a custos competitivos. Aços e ferros fundidos cumprem
papeis estruturais e de resistência ao desgaste e, em que pese a significativa diferença que
apresentam, em termos de composição química e microestrutura, podem ser empregados em
situações similares, onde a resistência ao desgaste abrasivo severo é demandada. Desta forma
ganha importância para o setor de fundição compreender os diferentes mecanismos de abrasão
apresentados por estes materiais, de forma a otimizar o emprego dos mesmos. Neste sentido,
neste trabalho foi avaliada a resistência ao desgaste apresentada em três ligas de ferro branco,
descritas pela norma ASTM A532, além de um aço baixo carbono temperado e revenido, que
são utilizados na produção de componentes agrícolas. No estudo foram empregados os ensaios
de abrasão em roda de borracha, ensaio de impacto Charpy e dureza Rockwell C e microdureza
Vickers. As caracterizações das ligas foram feitas utilizando microscopia óptica, microscopia
eletrônica de varredura e difração de raios X. Os resultados obtidos indicam uma maior
resistência ao desgaste nas ligas que apresentaram maior fração de carbonetos, onde a matriz
metálica tinha menor exposição às partículas abrasivas do ensaio de abrasão. Foi evidenciado
também significativa diferença na tenacidade ao impacto entre a liga de aço e as de ferro branco,
onde a primeira apresentou resultado superior às demais. Diante dos resultados obtidos e análise
econômica envolvida, o emprego de ferros fundidos brancos alto cromo apresentaram um
melhor desempenho em relação à abrasão a um custo relativamente mais competitivo.
The agricultural machinery sector is strategic for the country and increasingly demands high-
performance cast materials at competitive costs. Steel and cast iron fulfill structural and wear
resistance roles and, despite the significant difference they present, in terms of chemical
composition and microstructure, they can be used in similar situations, where resistance to
severe abrasive wear is demanded. Therefore, it becomes important for the foundry sector to
understand the different abrasion mechanisms presented by these materials, in order to optimize
their use. In this sense, in this work, the wear resistance presented in three white cast iron alloys,
described by the ASTM A532 standard, in addition to a quenched and tempered low carbon
steel, which are used in the production of agricultural components, was evaluated. In the study,
sand-rubber abrasion test, Charpy impact test and Rockwell C hardness and Vickers
microhardness tests were used. Alloy characterizations were performed using optical
microscopy, scanning electron microscopy and X-ray diffraction. The results obtained indicate
a greater resistance to wear in the alloys that presented a greater fraction of carbides, where the
metallic matrix had less exposure to the abrasive particles of the abrasion test. A significant
difference in impact toughness was also pointed out between the steel alloy and the white cast
iron alloys, where the former presented a superior result than the others. In view of the results
obtained and the economic analysis involved, the use of high chromium white cast irons
presented a better performance in relation to abrasion at a relatively more competitive cost.
°C – Grau Celsius
µm – Micrômetro
AFS – American Foundry Society
ASTM – American Society for Testing and Materials
BC-01 – Liga de ferro branco fundido classe IIIA
BC-03 – Liga de ferro branco fundido classe IIA
BC-11 – Liga de aço temperada e revenida
BC-13 – Liga de ferro fundido branco classe ID
C – Carbono
CAD – Computer Aided Design
CCC – Estrutura cristalina cúbica de corpo centrado
cm – Centímetro
CNC – Controle numérico computadorizado
CO – Monóxido de carbono
CO2 – Dióxido de carbono
CP – Corpo de prova
Cr – Cromo
Cu – Cobre
DRX – Difração de Raios X
EDS – Energy Dispersive System
Fe – Ferro
Fe3C – Cementita
FFBAC – Ferro fundido branco de alto cromo
FVC – Fração volumétrica de carbonetos
g – Grama
gf – Grama-força
h – Hora
HRC – Dureza Rockwell C
HV – Dureza Vickers
ISO – International Organization for Standardization
J – Joule
kg – Quilograma
m – Metro
M3C – Carboneto metálico
M7C3 – Carboneto metálico
MEV – Microscopia eletrônica de varredura
Mf – Temperatura de início de transformação da martensita
min – Minuto
mm – Milímetro
Mn – Manganês
Mo – Molibdênio
Ms – Temperatura de início de transformação da martensita
N – Newton
Ni – Níquel
P – Fósforo
RPM – Rotação por minuto
S – Enxofre
Si – Silício
TEA – Trietilamina
TTT – Diagrama de transformação tempo temperatura
γ – Austenita
δ – Ferrita
SUMÁRIO
1 Introdução ............................................................................................................ 15
1.1 Objetivos ................................................................................................................ 16
2.1.1 Modelação............................................................................................................. 17
4 Resultados e discussões........................................................................................ 50
4.1 Composição química das amostras ........................................................................ 50
5 Conclusão.............................................................................................................. 65
6 Sugestões para trabalhos futuros ....................................................................... 67
7 Referências ........................................................................................................... 68
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1 INTRODUÇÃO
De acordo com Tamburús e Costa (2018), nas últimas décadas a agricultura brasileira
deu início a uma revolução tecnológica, apresentando novidades como a introdução do sistema
de GPS (Global Positioning System), assim como apresentou um aumento significativo em
termos de capacidade produtiva. Apesar disso, ainda são escassas as melhoras em relação a
peças e acessórios fundidos para equipamentos agrícolas, como equipamentos de preparação
do solo e peças para plantadoras.
No setor agrícola, o desgaste por abrasão é um fator de extrema relevância, dado que
em operações de manejo do solo, como corte e descompactação, a abrasão é a forma de desgaste
que melhor descreve a ação do solo sobre os componentes de manejo, ocasionando perda de
material como consequência do atrito com as partículas abrasivas presentes no solo
(MACHADO et al., 2009). Segundo Brozek et al. (2012), 90% dos componentes agrícolas
danificados são substituídos em decorrência de desgaste, sendo que 80% do desgaste se dá por
abrasão.
De acordo com Reis e Forcellini (2002), o desgaste gerado em componentes de manejo
de solo resulta em uma necessidade de troca periódica dos componentes que, além de ser
dispendioso, diminui a produtividade devido ao tempo necessário para a troca dos
equipamentos desgastados.
Desta forma, Silva (2007) afirma que as ligas de ferro fundido branco, conhecidas por
apresentarem elevada resistência ao desgaste, apresentam relevância em parte do mercado
industrial onde esta propriedade se faz necessária, como componentes de mineração e peças
agrícolas como plantadeiras, colheitadeiras e tratores.
Na indústria de componentes agrícolas, peças de uma mesma aplicação podem ser
produzidas a partir de materiais diferentes, como ligas de aço e ligas de ferro branco. Sendo
assim, ainda há uma lacuna na justificativa de qual o material mais adequado no aspecto de
durabilidade e custos que oferecem. Desta forma, a motivação do presente trabalho foi buscar
entender o comportamento abrasivo em diferentes materiais fornecidos para o setor agrícola.
Sendo assim, neste trabalho foi realizado um estudo sobre o desgaste abrasivo em ligas
utilizadas na fabricação de componentes agrícolas em uma empresa do ramo de fundição,
identificada no trabalho como Empresa 1. O trabalho é focado nas ligas das classes ID, IIA e
IIIA da norma ASTM A532, além de uma liga de aço temperada e revenida que, segundo a
Empresa 1, é comumente utilizada na fabricação de equipamentos de manejo de solo.
16
1.1 OBJETIVOS
Nas seções abaixo estão descritos o objetivo geral e os objetivos específicos deste
trabalho acadêmico.
Este trabalho teve como objetivo geral realizar um estudo comparativo sobre a
resistência ao desgaste abrasivo de diferentes ferros branco alto cromo, Ni-Hard e aço
temperado e revenido usados na fabricação de componentes agrícolas.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1.1 Modelação
os materiais mais comumente empregados nesta etapa são alumínio, aço, madeira e resinas,
diferenciando-se entre o acabamento superficial entre cada um.
O projeto do modelo deve levar em consideração as contrações que ocorrem durante a
solidificação e resfriamento do metal, de modo que suas dimensões devem ser suficientemente
maiores para que, ao final da solidificação, a peça obtida tenha as dimensões desejadas (NETO,
2004).
2.1.2 Moldagem
Nesta etapa são produzidos os moldes que receberão o metal líquido e darão o formato
final da peça bruta de fusão (NETO, 2004).
Segundo Baldam e Vieira (2013), os moldes empregados podem ser permanentes ou
não permanentes, sendo constituídos de areia, metal ou cerâmica, a depender do método de
fundição empregado, sendo que a maioria dos produtos fundidos são obtidos por moldes
fabricados em areia, utilizando moldagem manual ou mecanizada.
Dentre os métodos de moldagem se destacam a moldagem em areia verde, moldagem
em areia seca, moldagem em areia-cimento, moldagem em areia de macho, e moldagem em
casca, também conhecido como shell molding. Estes métodos utilizam como principais matérias
primas as areias bases (sílica, cromita, zirconita), ligantes (argila, resinas, cimento, silicato de
sódio) e aditivos (carvão mineral, óxido de ferro, serragem, entre outros). A escolha da matéria-
prima impacta diretamente em aspectos como resistência do molde, facilidade de moldagem e
desmoldagem, comportamento inerte em relação ao metal e acabamento superficial da peça
(BALDAM; VIEIRA, 2013).
a) Moldagem Cold-Box
2.1.3 Fusão
De acordo com Rafaelli (2015), a fusão é a etapa na qual uma carga metálica, composta
por sucata, pedaços sólidos de metal e elementos de liga, é fundida em um forno revestido por
material refratário compatível com a temperatura do metal a ser fundido. As ligas comumente
utilizadas na indústria possuem temperatura de fusão entre 200°C e 1600°C.
Antes de ser realizada a transferência do metal fundido para os moldes, deve ser feita
a análise de composição química obtida, verificando se cada elemento está dentro do padrão
especificado para cada liga. Em caso negativo, são adicionados os elementos de liga em
proporções adequadas para atingir a composição química requerida (NETO, 2004).
2.1.4 Vazamento
Consiste no preenchimento do metal líquido no interior do molde. Esta etapa deve ser
realizada com um controle rigoroso de temperatura, entre 100°C e 300°C acima da temperatura
de início de solidificação da liga, para que não ocorram defeitos que envolvem a perda de
fluidez do metal e falta de preenchimento de todas as cavidades. Temperaturas muito elevadas
também não são desejadas pois permitem uma maior quantidade de gases dissolvidos, o que
aumenta a possibilidade da formação de porosidade no produto final (NETO, 2004).
Segundo Kiminami, Castro e Oliveira (2013), o vazamento é uma das etapas mais
importantes, pois o comportamento do metal durante o vazamento e solidificação definirão a
sanidade do fundido. As principais variáveis na etapa são a temperatura, altura de vazamento,
e limpeza de impurezas e escórias presentes na panela de vazamento.
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2.1.5 Desmoldagem
De acordo com Casotti, Bel Filho e Castro (2011), os metais ferrosos são ligas de ferro
e carbono e podem ser classificados em aços e ferros fundidos. Os ferros fundidos são ligas do
sistema ternário Fe-C-Si, apresentando teor de carbono superiores a 3%, enquanto que o aço
apresenta teor máximo de carbono de 2%.
Da mesma forma que os aços, os ferros fundidos podem obter características de maior
complexidade quando adicionados elementos de liga. Variando entre as diversas possiblidades
de combinação entre composição química, condições de solidificação e tratamento térmico, é
possível obter uma gama de microestruturas e propriedades distintas (MARTINS, 2012). A
Figura 1 apresenta um esquema de classificação entre as ligas ferrosas.
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2.2.1 Aços
Dada a complexidade de sua natureza, Chiaverini (2012) afirma que a definição de aço
não é simples pois, a rigor, os aços utilizados comercialmente não são ligas binárias. Ainda que
seus principais elementos de liga sejam o ferro e o carbono, sempre há outros elementos
secundários em sua composição devido aos processos envolvidos na fabricação. Desta forma,
o autor define o aço como sendo uma liga ferro-carbono que contém entre 0,008% a 2,11%, de
carbono, aproximadamente, além de elementos residuais provenientes do processo de
fabricação.
A solubilidade máxima do carbono no ferro à temperatura ambiente é de 0,008%,
sendo este o limite inferior estabelecido na definição do aço, segundo Chiaverini (2012). Já o
limite superior, de 2,11%, corresponde à quantidade máxima de carbono que pode ser dissolvida
no ferro, ocorrendo à temperatura de 1148°C.
Apesar do limite superior estabelecido de 2,11%, Chiaverini (2012) afirma que este
valor depende da presença de elementos de liga ou elementos residuais superiores aos normais
no aço. Nestas condições, torna-se necessário considerar dois tipos fundamentais de aço, aços
carbono e aços liga, afim de estabelecer uma definição mais precisa.
22
Em aços carbono, a proporção dos elementos, com exceção ao ferro e o carbono, está
abaixo de 2%. Estes podem ainda ser classificados como aço com baixo, médio ou alto teor de
carbono. Quando o teor dos demais elementos está entre 2% e 5%, considera-se um aço de
baixa liga. Entre 5% e 10% de outros elementos, trata-se de um aço de média liga. Já os aços
de alta liga são considerados quando os demais elementos ultrapassam o teor de 10%
(ARAUJO, 1997; CHIAVERINI, 2012).
Os elementos secundários não são suficientes para alterar de modo significativo a
estrutura do aço baixa liga. Já em aços de alta liga, essas alterações são significantes, além de
exigirem técnicas especiais quanto ao tratamento térmico (ARAUJO, 1997).
O carbono é o principal elemento no que diz respeito a dureza do aço, pois, sem ele,
não há a formação de martensita no tratamento térmico de têmpera. Além do carbono, um aço
típico contém em sua composição silício (Si), manganês (Mn), enxofre (S) e fósforo (P). O
manganês e o silício, em teores normais (0,3% a 0,6% e 0,15 a 0,3%, respectivamente), atuam
como oxidantes, neutralizando a ação do CO2 ou CO.
a) Ferrita
De acordo com Carmo (2017), essa fase possui como principal característica um
máximo de 0,02% de carbono na temperatura eutética de 727ºC. Com estrutura cristalina CCC,
sua morfologia vai oscilando durante o resfriamento de uma liga de acordo com parâmetros
como %C, taxa de resfriamento e elementos de liga. Dentre as possíveis nomenclaturas, pode-
se citar a ferrita poligonal (formada com baixa taxa de resfriamento e altas temperaturas), ferrita
quase poligonal (formada com elevada taxa de resfriamento e baixo %C), ferrita de
Widmanstäten (formada em temperatura inferior a poligonal, porém com elevada taxa de
resfriamento) e ferrita bainítica (elevadas taxas de resfriamento em aços com ultra baixo %C).
b) Austenita
e variáveis como taxa de resfriamento dos aços durante o tratamento térmico podem ocasionar
a sua retenção nos grãos de martensita, denominado austenita retida.
c) Bainita
silício tem influência direta na formação da grafita, sendo determinante no tipo de ferro fundido
que será formado.
Além dos elementos de liga, tratamentos térmicos também podem ser aplicados
visando a obtenção de determinada microestrutura para atender os requisitos técnicos exigidos
pelo componente. Velocidades elevadas de resfriamento promovem a formação de cementita,
enquanto que velocidades menores favorecem a formação de grafita (CASOTTI; BEL FILHO;
CASTRO, 2011). Segundo Silva (2017), a velocidade de resfriamento é um fator que varia de
acordo com a espessura da peça e sua solidificação no interior dos moldes. Assim, as peças
podem apresentar velocidades de resfriamento diferentes em seções variadas.
De acordo com Afonso (2012), as classes II e III apresentam uma maior porcentagem
de cromo, tendo como resultado uma dureza mais elevada, sendo que, na classe II, esta dureza
é alcançada com a adição de elementos de liga que potencializam este efeito, dado que grande
parte do cromo contribui para a formação dos carbonetos, estes de elevada dureza. Já na classe
III, não é necessária a adição de elementos de liga para potencializar o efeito na dureza, pois
uma fração do elevado teor de cromo fica dissolvido na matriz metálica.
De acordo com Israel (2005), os ferros fundidos brancos de alto cromo (FFBAC)
possuem carbonetos de elevada dureza e resistência ao desgaste, no entanto elevada fragilidade.
A resistência ao desgaste, no geral, pode ser aumentada com o aumento na quantidade de
carbonetos, enquanto que a tenacidade obtém melhores resultados quando se aumenta a
proporção de matriz metálica. Segundo Ding et al. (2016), os FFBAC apresentam a resistência
ao impacto na ordem de 4 a 7 J/cm².
Segundo Silva Neto (2021), os ferros fundidos branco alto cromo são ligas compostas
basicamente por Fe, Cr e C em sua microestrutura, onde o Cr apresenta faixas entre 12% e 30%
e o C está entre 1,8% a 3,6% em massa, e são conhecidos por serem apresentarem elevada
resistência à abrasão, propriedade que está relacionada principalmente à distribuição e
morfologia de carbonetos. Em sua microestrutura estão presentes carbonetos do tipo M 7C3, e a
matriz normalmente é constituída por austenita no estado bruto de fusão em decorrência do
elevado teor de Cr e C que estabilizam esta fase. Ainda assim, Azevedo (2010) afirma que além
da austenita, a microestrutura pode apresentar também perlita, ou martensita, ou mesmo uma
combinação destas, dependendo da composição química e da taxa de resfriamento.
A microestrutura obtida na solidificação dos FFBAC pode ser representada por um
diagrama ternário Fe-Cr-C na superfície metaestável liquidus, apresentada na Figura 2. Estas
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superfícies dizem respeito às fases austenita (γ), ferrita (δ) e carbonetos M3C e M7C3 formados
no congelamento (SILVA NETO, 2021).
Silva Neto (2021) ainda cita que é possível estimar a fração volumétrica de carbonetos
(FVC) dos FFBAC por meio de uma fórmula, apresentada na Equação (1), em que considera
os teores de Cr e C presentes. Nota-se que entre os dois elementos, o carbono tem um impacto
maior na FVC, onde o aumento de 1% do elemento representa cerca de 12% na FVC, enquanto
que o mesmo aumento no teor de cromo representa somente aproximadamente 0,6%.
2.2.5 Ni-Hard
De acordo com Almeida (2014,), as ligas denominadas Ni-Hard são fundidos ligados
ao Ni-Cr, sendo classificada como ferro fundido branco de alta liga, abrangendo as ligas da
classe I da ASTM A532 (Tabela 1). Sua denominação é dada pelo fato de possuir o níquel como
elemento crucial para promover a temperabilidade do ferro.
28
Dentre os elementos citados acima, Almeida (2014) afirma que o Cromo apresenta
maior capacidade na estabilização dos carbonetos presentes nos Ni-Hard, uma vez que possuem
maior solubilidade. Dessa forma, a maior concentração de cromo resulta em uma proporção
maior de carbonetos, elevando a dureza e resistência ao desgaste. O mesmo é válido em relação
ao carbono, que também promove a formação de carbonetos eutéticos quando em maior
concentração.
29
2.3.1 Têmpera
Figura 5 - Estrutura martensítica de um aço carbono com 0,25%C: a) Aumento de 100x. b) Aumento de 1000x.
(a) (b)
Fonte: Silva; Mei (1998)
2.3.2 Revenimento
De acordo com Silva e Mei (1988), após realizada a têmpera, a martensita se apresenta
com aspecto extremamente duro e frágil. As peças mantidas nessas condições são sujeitas a um
elevado risco de trincar, devido ao alto tensionamento interno, tanto micro quanto
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2.4 DUREZA
Segundo Callister (2007), a dureza é uma propriedade dos materiais que diz respeito à
resistência que o material apresenta a uma deformação plástica localizada, como um risco ou
uma pequena impressão. Os primeiros ensaios desta propriedade consistiam na comparação
entre minerais naturais, onde uma escala de dureza era formada de acordo com a capacidade
que um material apresentava de riscar um outro.
Atualmente os ensaios de dureza consistem na aplicação de um penetrador em uma
amostra, sob determinadas condições de carga e taxa de aplicação. A medida de dureza então é
obtida determinando-se o tamanho ou profundidade da marca deixada, onde um material mais
duro apresenta uma perfuração maior, enquanto que materiais mais macios apresentam
penetrações de maiores dimensões. Os valores obtidos são medidas relativas, de modo que não
é possível comparar diretamente durezas medidas em técnicas diferentes, as quais têm suas
próprias escalas definidas (CALLISTER, 2007).
2.6 DESGASTE
De acordo com Santos (2017), o desgaste diz respeito à perda progressiva de material
causada por danos na superfície de um material, proveniente do movimento relativo entre a
superfície com outros materiais. Linzmayer (2010), afirma que o desgaste não pode ser
eliminado e constitui um dos maiores problemas industriais. Portanto procura-se minimizar e
controlar suas consequências. De acordo com Castro (2014), a tribologia é a ciência que tem
como foco o estudo no atrito, no desgaste, e por consequência, na lubrificação, como forma de
minimizar o impacto causado pelo atrito e desgaste em uma superfície. Esta ciência tem como
base fenômenos de mecânica, física, química e ciência dos materiais.
Devido à natureza complexa envolvida no fenômeno, Silva (2004) afirma que o
desgaste é subdividido em algumas categorias, dentre as quais se destacam: abrasão, erosão,
adesão, corrosão, fadiga de contato, etc. O desgaste é um tema de grande importância
econômica, dado que o fenômeno é encontrado em diversas situações. De acordo com Afonso
33
(2012), diversos mecanismos podem estar envolvidos no modo em como uma superfície é
desgastada, inclusive atuando simultaneamente, o que pode, inclusive, aumentar a taxa de
desgaste.
De acordo com Silva (2017), este tipo de desgaste está associado ao atrito resultante
do contato entre superfície metálicas, provocando uma formação adesiva localizada. Ocorrem
quando elevadas pressões de contato entre as asperezas de duas superfícies em movimento
relativo produzem adesão, deformações plásticas, rompimento e formação de junções, e
transferência de materiais entre as superfícies.
De acordo com Silva (2017), este tipo de desgaste é atribuído a formações de trincas e
esfoliações, formados em condições de carregamentos cíclicos, onde as tensões de contato entre
duas superfícies com movimento de rolamento produzem tensões de cisalhamento,
apresentando valores máximos em regiões abaixo da superfície. Com este tipo de movimento,
a zona em contato entre os materiais é constantemente deslocada, fazendo com que a tensão de
cisalhamento varie ciclicamente entre zero e um valor máximo, podendo ocorrer a falha por
fadiga no material.
34
a) Microsulcamento
cumes adjacentes aos sulcos, os quais podem ser removidos quando houver uma posterior
passagem de partícula abrasiva. A presença deste mecanismo é mais comum em materiais
dúcteis, e é demonstrado na Figura 8-a.
b) Microcorte
c) Microlascamento
A resistência dos carbonetos ao desgaste é consequência de sua dureza, sendo que para
aplicação de peças com alta resistência ao desgaste, também deve ser levado em consideração
a quantidade e distribuição das fases duras.
Dentre os minerais abrasivos, o quartzo é o principal constituinte. Sua elevada dureza,
em torno de 900 a 1280 HV, é maior do que a grande maioria das ligas ferrosas, podendo
desgastá-las com facilidade. No entanto, em ferros fundidos de alto cromo, os carbonetos de
cromo possuem dureza superior ao quartzo, conferindo maior resistência ao desgaste abrasivo.
Ainda há carbonetos com dureza superior em relação ao de cromo, porém esses têm seu uso
restrito devido ao elevado custo associado. A matriz ferrítica possui dureza em torno de 200HV,
a perlítica por volta de 350 HV e a martensítica chega à dureza de 450HV. Em contraste,
carbonetos do tipo M7C3 podem alcançar a faixa de 1200 a 1600 HV (SILVA, 2017).
Em situações que requerem elevada resistência ao desgaste abrasivo, a dureza
geralmente é uma propriedade importante. Porém, a analogia entre resistência à abrasão e
dureza é satisfeita somente para materiais monofásicos além de determinados tipos de aço, dado
que em estruturas polifásicas, como ferro fundidos ligados e aços, os aspectos predominantes
são, por exemplo, o teor de carbono e microestrutura. Pode haver ainda diferença entre
resistência ao desgaste abrasivo para um mesmo valor de dureza, e o aumento demasiado na
dureza de aços e ferros fundidos pode até diminuir a resistência ao desgaste. A propriedade de
tenacidade à fratura deve ser levada em consideração nestes casos (ZUM GHAR, 1987). Além
disso, em ferros fundidos brancos de alto cromo, parâmetros como a morfologia e quantidade
de carbonetos, teor de austenita retida, estrutura da matriz e entalhes internos influenciam
diretamente na resistência ao desgaste.
Segundo Azevedo (2010), a matriz metálica possui papel fundamental no desempenho
em resistência ao desgaste, fornecendo suporte mecânico aos carbonetos, ao passo que os
carbonetos devem oferecer proteção à matriz sem se fraturarem. Matrizes martensíticas obtidas
por tratamento térmico, em geral, fornecem um suporte maior aos carbonetos, atenuando a
fratura do mesmo, quando comparado a matrizes perlíticas ou austeníticas, apresentando então
maior resistência ao desgaste. No entanto, o autor cita que em processo de desgaste com
partículas abrasivas de maior dureza, a matriz austenítica é preferível, enquanto que a matriz
martensítica é recomendada quando o abrasivo possui menor dureza.
Em um estudo sobre ligas de mandíbulas de trituradores, Sare e Arnold (1989)
concluíram que ferros brancos de alto cromo com matriz martensítica e austenítica são passíveis
de sofrer encruamento na superfície em decorrência do processo de desgaste, contudo
37
proporcionalmente o aumento na dureza da austenita é maior. Fan et al. (1990) também citam
alguns aspectos positivos em relação à matriz austenítica, dentre eles são citados: i) força de
ligação na interface carboneto/austenita é maior comparada à interação entre
carboneto/martensita, de modo que a propagação de trincas é reduzida na matriz austenítica; ii)
a transformação da austenita em martensita pelo encruamento consume energia, diminuindo a
energia de propagação da trinca. Entretanto, o autor também cita que a austenita retida diminui
a dureza do ferro fundido, podendo reduzir também a resistência à abrasão, além de causar o
lascamento por delaminação.
Em ligas de ferro com alto cromo, o desgaste abrasivo envolve o microtrincamento ou
lascamento de carbonetos de cromo na superfície. O meio abrasivo é colidido com a superfície,
agindo sobre a matriz metálica preferencialmente, ocasionando o desgaste. Assim, a matriz
desgastada expõe os carbonetos de cromo, deixando-os vulneráveis e com menor resistência ao
impacto causado pelas partículas abrasivas, ocasionando a trinca. Ocorre então a ruptura dos
carbonetos, que são removidos da superfície, expondo novamente a matriz metálica de menor
dureza. Este processo descrito se torna cíclico e provoca um rápido desgaste da superfície,
conforme apresenta na Figura 9.
Em materiais como os FFBAC, que possuem fases duras de reforço em matrizes mais
macias, Silva Neto (2021) afirma que a relação entre o tamanho da partícula abrasiva e o
tamanho de fases duras também é um fator importante na resistência ao desgaste, pois partículas
abrasivas de tamanhos menores que o espaçamento entre as fases duras causam um maior
desgaste na matriz, quando comparado a partículas abrasivas de maior tamanho, conforme
apresentado na Figura 10.
Este ensaio consiste em manter pressionada uma amostra em forma de placa ou bloco
com superfície plana, a uma determinada tensão constante, sobre um disco revestido de
borracha que é rotacionado enquanto há um fluxo de areia entre a roda e amostra, ocasionando
o desgaste. Este ensaio é padronizado pela norma ASTM G65 e tem como mecanismo de
desgaste presente a abrasão em três corpos, contudo, como as partículas abrasivas podem
eventualmente incrustar na roda de borracha, pode haver a presença do mecanismo de abrasão
entre dois corpos (DALLMANN, 2012).
A norma abrange cinco procedimentos diferentes, distintos entre a severidade do
ensaio (ASTM, 2016), sendo estes:
- Procedimento “A”: ensaio relativamente severo, aplicado para classificar materiais
que apresentam de média a extrema resistência à abrasão.
- Procedimento “B”: Uma variação do procedimento “A”, usada para a classificação
de materiais que apresentam entre baixa e média resistência à abrasão. Deve ser usada quando
a perca volumétrica pelo procedimento A exceder 100mm³.
- Procedimento “C”: Variação do procedimento “A”, aplicado em revestimentos finos.
- Procedimento “D”: Trata-se de uma variação mais leve do procedimento “A”,
aplicado na classificação de materiais com baixa resistência à abrasão.
41
3 MATERIAIS E MÉTODOS
No presente estudo, foram feitas amostras de quatro ligas diferentes: duas ligas de ferro
branco alto cromo e uma de Ni-Hard, seguindo a norma ASTM A532-16, além de um aço-baixa
liga de referência que, de acordo com a Empresa 1, é usada comumente para a produção de
componentes de manejo de solo.
Para cada liga foi utilizado um código, descrito abaixo, tendo suas faixas de
composição química definidas na Tabela 3.
• BC-01: Segundo norma ASTM A532 IIIA;
• BC-03: Segundo norma ASTM A532 IIA;
• BC-11: Aço baixa liga, sem descrição por norma;
• BC-13: Segundo norma ASTM A532 ID.
As ligas metálicas em questão são comercializadas pela Empresa 1, de modo que neste
trabalho priorizou-se manter as mesmas condições de fornecimento das peças fabricadas nestas
ligas, em questão de processo de fundição, composição química e tratamento térmico.
Para realizar a moldagem, foi projetado, em software CAD (Computer Aided Design),
um modelo contendo 6 corpos de prova (CP) para ensaio de abrasão e 4 CP a serem utilizados
nos ensaios de impacto Charpy. Considerando sobremetal para usinagem e contração metálica
do processo, os CP foram projetados com as dimensões 15x76x29 mm e 15x15x68mm para os
ensaios de abrasão e impacto, respectivamente. A partir do projeto, foi construído um modelo
de madeira. As Figuras 14 e 15 apresentam o projeto e o modelo fabricado, respectivamente.
43
Após serem cortados, os corpos de prova foram enviados para usinagem em CNC
(Controle Numérico Computadorizado) para remover o sobremetal, obtendo as dimensões
estipuladas para o ensaio de abrasão em roda de borracha e impacto Charpy, conforme as
normas ASTM G65-16 e ISO 148-1:2016 respectivamente. A Figura 17-a apresenta os corpos
de prova bruto de fusão e a Figura 17-b após usinagem.
As amostras BC-01 e BC-03 não passaram por nenhum tipo de tratamento térmico,
sendo realizados todos os ensaios no estado bruto de fundição. Nas amostras BC-11 e BC-13
foi realizado tratamento térmico de têmpera seguido de revenimento, conforme parâmetros
estabelecidos na Empresa 1.
Para a análise metalográfica foi selecionado um dos seis corpos de prova de abrasão,
que não foi realizado nenhum ensaio, para cada liga. Cada amostra foi cortada em seção
transversal, lixada na sequência de lixas 80, 200, 400 600 e 1200 mesh e polida com alumina
de 1µm. Após polimento, as amostras foram atacadas com Nital 3,5% por 18 segundos.
Para obtenção das imagens de microscopia óptica foi utilizado um microscópio óptico
da marca Carl Seizz, modelo Axio Vert A1, nos laboratórios da UFSC Blumenau.
46
Os ensaios de impacto Charpy foram conduzidos de acordo com a norma ISO 148-
1:2016, utilizando um equipamento da marca PANANTEC, modelo PCD-300, em empresa de
ensaio de materiais, utilizando pêndulo de 300J, em temperatura de 21°C. Por se tratar de ligas
de elevada dureza, não foi realizado nenhum entalhe nos corpos de prova. A Tabela 4 apresenta
as dimensões dos corpos de prova utilizados nos ensaios.
O ensaio de abrasão então foi conduzido de acordo com o Procedimento “A” da norma
ASTM G65-16, utilizando equipamento de uma empresa que presta serviço de ensaio de
materiais. Os parâmetros utilizados no ensaio são descritos na Tabela 5.
Antes da realização da pesagem e dos ensaios, foi realizada a limpeza das amostras em
um limpador ultrassônico com solução de álcool. Após a limpeza, foi utilizada uma balança
analítica da marca Shimadzu, modelo AY220 com precisão de 0,0001g para a pesagem das
amostras. A mesma balança foi utilizada após o ensaio para a verificação das perdas de massa.
A Tabela 6 apresenta as dimensões iniciais dos corpos de prova e suas respectivas densidades
encontradas.
48
Tabela 6 - Dimensões, massas iniciais e densidade dos corpos de prova para abrasão.
Corpo de Espessura Largura Comprimento Massa inicial Densidade
Liga
prova (mm) (mm) (mm) (g) (g/cm³)
BC-01 1 12,66 25,40 75,43 179,3499 7,39
BC-01 2 12,66 25,36 75,94 179,7931 7,37
BC-01 3 12,79 25,29 75,34 179,6821 7,36
BC-03 1 12,65 25,3 75,97 182,8542 7,51
BC-03 2 12,65 25,32 75,7 183,7183 7,57
BC-03 3 12,67 25,3 74,83 180,2935 7,51
BC-11 1 12,65 25,2 74,89 181,3188 7,55
BC-11 2 12,60 25,16 74,95 180,9690 7,58
BC-11 3 12,65 25,22 75,06 182,8918 7,60
BC-13 1 12,71 25,39 74,11 179,7235 7,50
BC-13 2 12,74 25,37 75,34 183,0193 7,50
BC-13 3 12,76 25,41 75,18 182,6837 7,48
Fonte: Autoria própria (2022)
A partir dos custos levantados para o produto de referência, foi estimado o custo de
produção do mesmo produto, porém utilizando as demais ligas em estudo, realizando as
adequações de mão de obra e matérias primas consumida para cada caso.
50
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para as ligas de ferro branco, a Equação 1, citada por Silva Neto (2021), foi utilizada
para estimar a fração volumétrica de carbonetos (FVC), tendo seus resultados apresentados na
Tabela 8.
Figura 19 - Microestruturas obtidas com aumento de 200x: a) BC-01 b) BC-03 c) BC-11 d) BC-13. Identificação
dos microconstituintes: 1) Carboneto M7C3; 2) Carboneto eutético; 3) Dendritas.
Figura 20 - Microestrutura do BC-13 obtida por MEV em aumento de 1000x.1) Martensita; 2) Carbonetos.
4.3 DUREZAS
4.3.1 Microdureza
Tabela 11 - Média de microdurezas obtidas na região da matriz e em carbonetos primários M7C3 do BC-01.
BC-01 HV0,05 Desvio padrão
Carbonetos primários 1275,0 27,3
Região da matriz 653,35 52,8
Fonte: Autoria própria (2022)
Figura 25 - Corpos de prova alinhados após ensaio de impacto: a) BC-01 b) BC-03 c) BC-11 d) BC-13.
enquanto que no BC-11 é possível notar uma região mais escura na parte inferior das arestas
laterais do corpo de prova, demonstrando que houve um grau mínimo de deformação plástica.
120
Perda volumétrica (mm³)
100
80
60
44,5
40
20 14,7
9,9
0
BC-01 BC-03 BC-11 BC-13
liga apresentou uma dureza maior, o que tem tese deveria proporcionar uma maior resistência
à abrasão. Porém, como citado por Zum Ghar (1987), a dureza não é o único fator determinante
na resistência ao desgaste, podendo prevalecer outros fatores como a microestrutura. Esta
diferença de dureza decorre do fato de que o BC-13 se encontra na condição de temperada e
revenida, a qual, de acordo com as análises de DRX, apresenta uma estrutura de martensita
revenida, enquanto o BC-03 se encontra no estado bruto de fundição, apresentando valores
maior elevados de austenita retida. Desta forma, a menor resistência do BC-13 (mais dura) em
relação ao BC-03 pode decorrer da diferença de presença de austenita retida nas duas ligas.
Conforme citado por Fan et al. (1990) e Sare e Arnold (1989), teores mais elevados de austenita
retida podem estar associados a maiores resistências à abrasão em decorrência da transformação
induzida por deformação de austenita para martensita, assim como reduzindo a propagação de
trincas devido à maior força de ligação apresentada entre austenita/carboneto, em relação à
ligação de martensita/carboneto.
Além disso, o comportamento do BC-13 também pode ser associado ao menor teor de
Cr em sua composição química, formando menos carbonetos, além de apresentar um
espaçamento interdendrítico aparentemente maior em relação ao BC-03, deixando a matriz mais
suscetível ao desgaste.
O BC-11 apresentou um desempenho 1138% inferior quando comparado ao BC-01,
tendo uma média de 122,8mm³ de perda volumétrica. Tal fato está correlacionado à sua dureza
de 45,5HRC, menor resultado entre as ligas estudadas, associado ao fato de ter somente a
martensita revenida como mecanismo de aumento de dureza, sem a presença de carbonetos de
cromo.
Figura 28 - Aspecto de desgaste obtido por MEV. Aumento de 40x. a) BC-01 b) BC-03 c) BC-11 d) BC-13.
a) b)
c) d)
A Figura 29 apresenta análise obtida por EDS de uma dessas manchas escuras
presentes na superfície de desgaste do BC-01. Pela presença de silício e oxigênio, é constatado
o fenômeno de incrustação de areia nessas regiões.
Figura 30 - Análise do desgaste em MEV com aumento de 5000x: a) BC-01; b) BC-03; c) BC-11; d) BC-13.
Nota-se que dentre todas as ligas estudadas, o BC-03 foi o que obteve um menor custo
de produção, em parte, por não requerer nenhum tratamento térmico, reduzindo a mão de obra
e tempo envolvido no processo. O BC-11, apesar de ter o processo de tratamento térmico,
obteve o segundo menor custo de produção em função dos menores teores de elementos de liga
usados na sua fabricação.
A liga BC-01, apesar de não haver tratamento térmico em seu processo, apresentou
um custo superior ao BC-11 devido ao elevado percentual de cromo presente na composição,
enquanto que o BC-13 apresentou-se como a opção de maior custo pois, além de ter o custo
agregado do tratamento térmico, tem elevados teores níquel em sua composição comparado aos
demais (conforme Tabela 7), o que acaba aumentando consideravelmente o custo da carga
metálica.
65
5 CONCLUSÃO
resultado, tendo a martensita como único mecanismo de aumento de dureza, sem a presença de
carbonetos para atuar como barreira à abrasão.
Dentre todas as ligas estudadas, o BC-11 (liga de referência), é a que obtém o segundo
menor custo de produção, ficando atrás somente da liga BC-03, que apresenta uma economia
de 18% em sua produção. Apesar do menor custo, o BC-03 demonstrou, nos ensaios de abrasão,
uma resistência ao desgaste 736% superior em relação à liga de referência, demonstrando-se
como uma opção mais viável economicamente e com maior durabilidade quando exposta ao
desgaste abrasivo, principal mecanismo presente na aplicação de ponteiras escarificadoras. Já
as ligas BC-01 e BC-03 apresentaram custos de produção 23% e 62% maior em relação ao BC-
11, respectivamente, além de apresentaram uma resistência ao desgaste superior em ambos os
casos. Também deve ser considerado que a maior resistência ao desgaste acarreta em uma
menor necessidade de parada de máquina para a substituição de componentes, ganhando assim
maior produtividade e reduzindo o custo de produção do cliente final.
Os resultados de resistência ao desgaste apresentados levam em consideração os
critérios da norma ASTM G65-16, onde os procedimentos são padronizados e a resistência ao
desgaste apresentada tem como base a metodologia utilizada na norma. Assim, em uma
primeira análise é possível concluir que as ligas de ferro branco tendem a apresentar um
desempenho superior em campo, quando usadas em ponteiras escarificadoras, devido à maior
resistência à abrasão em relação à liga BC-11. Contudo, para o uso dos componentes em campo,
podem haver variações nos resultados apresentados, dado que há uma série de variáveis não
consideradas no ensaio, como composição e umidade do solo.
67
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