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GUIA PARA A ORIENTAÇÃO PESSOAL

Katsumi Tokuhisa

1 - A finalidade da orientação pessoal


Como preletores ou como dirigentes da Seicho-No-Ie, precisamos renovar
a consciência de que, ao ministrarmos orientação pessoal, devemos fazê-lo de
acordo com os ensinamentos da Seicho-No-Ie e reexaminar o nosso método de
orientação, que, com o passar do tempo, tornou-se um “método particular”. Para
tanto, precisamos participar dos cursos ministrados pelos preletores da Sede In-
ternacional, bem como ler repetidas vezes a coleção A Verdade da Vida e outros
livros do professor Masaharu Taniguchi e do Supremo Presidente.
Os que vêm à Seicho-No-Ie pensando curar-se com despesa menor ou
de graça estão completamente enganados. Não estamos competindo
com médicos no preço porque sejamos inferiores a eles na capacidade
terapêutica. Se fizéssemos concorrência com a medicina no preço, rou-
baríamos o emprego dos médicos, e eles protestariam contra nós, mas
a Seicho-No-Ie não tem a mínima intenção de competir com médicos.
Aconselho que as pessoas com doenças curáveis pela medicina subme-
tam a tratamento médico. (A Verdade da Vida v. 27, p. 32)

Curar doenças é função da medicina, e não da religião. Esta tem por fina-
lidade despertar o homem para a sua Imagem Verdadeira, que é filho-de-
-Deus sem doença. A maioria das pessoas pensa que a doença existe, que
o envelhecimento existe, que a morte existe, que os sofrimentos da vida
existem. A função da religião não é livrar os homens desses males conside-
rando-os existentes, mas despertar as pessoas para o mundo onde eles
não existem. As religiões, até agora, procuraram libertar o homem desses
males considerando-os existências verdadeiras, e por isso não souberam
esclarecer que este, aqui, é o mundo sem doenças, sem envelhecimento
e sem morte. Admitiam de um lado, conformados, o mundo dos sofrimen-
tos e, por outro lado, procuravam estabelecer em algum lugar distante ou
no além-túmulo o céu ou o paraíso onde não haja sofrimentos. Mas essa
necessidade desapareceu com o surgimento da Seicho-No-Ie, que escla-
rece a Verdade de que a matéria não existe, o corpo carnal não existe,
o mundo do envelhecimento, da doença da morte não existe, embora
pareçam existir. Ela não prega o meio de se livrar do mundo cheio de sofri-
mentos; mostra que tal mundo não existe; não promete para o futuro um
mundo ideal – o céu ou o paraíso – num local distante; esclarece que o
paraíso, o céu, está aqui e agora, que o Eu búdico está aqui e agora.
Este mundo presente (não o mundo perceptível aos cinco sentidos) que
está aqui e agora é o paraíso, o céu; este ser (não o perceptível aos cinco
sentidos) que está aqui e agora é o ser búdico, o ser indestrutível, o ser
eternamente feliz, que transcende o envelhecimento, a doença e a morte.
E, como consequência dessa conversão mental, surgem também no mun-
do perceptível a infinita saúde, a infinita capacidade, a infinita provisão e a

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situação paradisíaca repleta de alegria. (A Verdade da Vida v. 27, pp. 35-36)
A Seicho-No-Ie não é, em absoluto, uma “seita que cura doenças”.
O ser humano é perfeito desde o princípio. Mas muitas pessoas estão
com os “olhos da mente” vendados ou cerrados e, sem conseguir ver a
sua perfeição inata, “sonham” que estão doentes. Basta fazer com que
elas despertem para constatarem que a doença era sonho e não existia
verdadeiramente. E isso não é “curar a doença”. É nisso que diferem a
religião e a medicina. A medicina cura doenças, mas a religião não cura
doenças. A religião, através do ensinamento da Verdade, desperta a “mente
em ilusão” que estava tendo o “sonho da doença”. Com o despertar, o
sonho (a ilusão) se apaga. Por isso, sob o ponto de vista fenomênico, não
se pode ter nenhuma ideia de como ou por meio de que processo a doença
desaparece, e a cura parece milagrosa. (Kami Shinri o Tsugetamau2 p. 58)
Quando falamos em cura de doenças por meio da religião, a maioria das
pessoas pensa que isso ocorre pela força da mente. De fato, existe o fator
psicológico, o fator “sugestionamento”. Mas a cura da doença através da
religião verdadeira ocorre quando a pessoa se conscientiza de que o ser
humano é um ser espiritual (ou um “ser divino”, um “ser búdico”, na linguagem
religiosa) e corrige o estado mental que vinha impedindo a manifestação
de sua força vital, e assim passa a exteriorizar plenamente a livre ação da
própria Vida. Esse é o mérito de se conhecer a verdadeira religião e de se
conscientizar da “Imagem Verdadeira da Vida”. Na verdade, não é a mente
que cura a doença. Cura-se quando é eliminado o “conjunto de ideias
errôneas” que estava impedindo a manifestação da força vital, a qual passa,
então, a agir com pleno vigor. Portanto, força curadora é, invariavelmente, a
força da Vida (espírito). (Yoki Jinsei no Sōzō3, p. 112)

Como podemos ver, o Mestre explica repetidas vezes, em seus livros, que a
Seicho-No-Ie não é um lugar onde se curam doenças. Quando digo isso, algumas
pessoas perguntam: “Quer dizer, então, que não devemos curar pessoas doentes?”.
Mas não é isso que quero dizer. Se um preletor da Seicho-No-Ie não é capaz de
curar (ou, mais corretamente, “fazer desaparecer”) nem mesmo a doença, ele não
pode ser considerado apto como orientador. Ao orientar pessoas que sofrem de
doença, é claro que devemos eliminar-lhes a doença, mas não devemos pensar
que, tendo eliminado suas doenças, não seja mais necessário orientá-las.
O objetivo da orientação pessoal não é curar doenças. A cura da doença
é, por assim dizer, um “subproduto” da orientação pessoal. O principal é despertar
na pessoa a consciência de filha de Deus e continuar orientando-a até que ela
se torne capaz de manifestar concretamente, na vida prática, essa sua natureza
verdadeira. O professor Masaharu Taniguchi diz: “É infeliz aquele que obtém a cura
da doença sem alcançar a conscientização de filho de Deus”.

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Como se pode constatar, pelos diversos trechos dos livros do Mestre que
citei, a Seicho-No-Ie surgiu com o objetivo de despertar em cada indivíduo de
toda a humanidade a consciência de filho de Deus. Portanto, não devemos tirar
conclusões apressadas e pensar que salvamos o outro, só porque conseguimos
curá-lo aplicando a lei mental e mudando-lhe a atitude mental.
Digo essas coisas, pelo seguinte motivo: é muito grande o número de
pessoas que foram curadas através da Seicho-No-Ie, mas, uma vez curadas,
muitas não voltam mais à Seicho-No-Ie. Há pessoas que até parecem considerar
os preletores da Seicho-No-Ie como uma espécie de médico e acham que, uma
vez curadas, não necessitam mais de seus préstimos. Se assim não fosse,
e se todas as pessoas que foram salvas através da Seicho-No-Ie tivessem se
tornado seguidoras da Seicho-No-Ie, certamente seria bem maior o número atual
de adeptos. Em relação ao grande número de pessoas que a Seicho-No-Ie vem
salvando, o número de adeptos é ainda pequeno. Isso nos leva à conclusão de
que, na maioria dos casos, o orientador não continuou orientando a pessoa até
a verdadeira salvação, isto é, até despertar nela a consciência de filha de Deus,
e limitou-se a curar-lhe a doença pela aplicação da lei mental. Se a pessoa que
recebeu a orientação compreender – mesmo que seja vagamente – que a Seicho-
No-Ie é a doutrina que prega a Verdade máxima jamais pregada antes, sendo,
pois, religião completa, é impossível que ela se afaste da Seicho-No-Ie.
Mas em que consiste a verdadeira salvação? Vejamos o que Mestre nos ensina:
Há diversas formas de salvar as pessoas: curar doenças é salvar; fazer
com que a pessoa necessitada encontre um meio de ganhar dinheiro
também é salvar; orientar as pessoas de baixa camada social e ajudá-las
a vencer na vida também é salvar. Porém, em última análise, tudo isso é
salvação temporária. Mesmo que a pessoa fique curada da doença, um
dia terá de morrer, não é? Mesmo que a pessoa consiga sair da pobreza
e acumule riquezas, quando chegar a hora de partir para o outro mundo,
terá de deixar para trás toda a sua fortuna, não é? Portanto, tais formas
de salvação não constituem a salvação eterna. Salvar verdadeiramente
é fazer com que a pessoa se conscientize de que “o homem é filho de
Deus”. De que o ser humano é aquele que não envelhece, não adoece
e não morre. Conscientizá-la de que o ser humano é a própria Vida
de Deus, verdadeiramente pura, e despertá-la para o fato de que ela é
Vida que jamais fenecerá. A religião que proporciona esse despertar é a
religião mais maravilhosa. A Seicho-No-Ie é a religião que oferece essa
salvação suprema. (Kami Shinri o Tsugetamau4, p. 162)

Assim diz o Mestre, explicando claramente “o que é a salvação pela Seicho-


No-Ie”. Portanto, devemos empenhar-nos de corpo e alma para concretizar a
salvação suprema pregada por ele. Conforme tenho declamado frequentemente,
penso o seguinte:

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“Se o objetivo da Seicho-No-Ie fosse a cura de doenças, eu não teria me
tornado adepto da Seicho-No-Ie, deixando de exercer a minha profissão
de médico. Como médico, eu podia curar doenças, mas não conseguia
salvar realmente as pessoas. Por isso, abandonei a profissão de médico e
abracei a Seicho-No-Ie, para trabalhar em prol da salvação das pessoas”.
Qual é a bênção que se alcança quando se entra para a Seicho-No-Ie?
O Mestre explica: Quando as pessoas conhecem a Seicho-No-Ie, elas
conseguem a cura da doença, a melhora do ambiente ao seu redor etc.,
graças à aplicação correta da Lei Mental. Isso também são bênçãos, mas
são “bênçãos menores”. A bênção máxima, ou Grande Bênção, consegue-
se quando se alcança a conscientização de que dentro de nós próprios se
aloja a mesma Vida de Buda (ou Vida de Deus) – a Vida eterna à qual
Sakyamuni se referiu: “Eu existo aqui, agora e sempre, e jamais morrerei”.
Se a Vida começasse no momento em que nascemos neste mundo, não
poderíamos dizer que existimos “agora e sempre”. Conscientizar-se de
que “existimos aqui, agora e sempre, e jamais morreremos” é descobrir a
nós próprios como seres eternos, no mundo sem princípio e sem fim, no
mundo que transcende o tempo e o espaço, no mundo onde o tempo e o
espaço não existem. (Yoki Jinsei no Sōzō5, p. 168)

Como vemos, o Mestre ensina que a cura da doença, a melhora de vida


etc. no plano fenomênico são bênçãos menores e que, através da Seicho-No-Ie,
pode-se conseguir bênção bem maior, ou seja, a “conscientização de que o nosso
verdadeiro Eu é filho de Deus, sendo, portanto, imortal e verdadeiramente puro”.
Orientar as pessoas até que elas alcancem tal conscientização – este deve
ser o objetivo dos orientadores da Seicho-No-Ie e a finalidade da orientação pessoal.
A Seicho-No-Ie prega a derradeira e a máxima doutrina para a
humanidade. Assim sendo, as pessoas que vêm se reunir aqui são
todas maravilhosas, de espírito elevado. E é por isso que essas
pessoas são homenageadas perante Deus, como bosatsu da Missão
Sagrada. (Kami Shinri o Tsugetamau6, p. 163)

Divulgar esta derradeira e máxima doutrina o mais amplamente possível é


a nossa missão como discípulos do professor Masaharu Taniguchi.

2 ‑ A postura mental do orientador


Ao ministrar orientação pessoal, o orientador não deve pensar que ele,
na qualidade de um filho de Deus, vai orientar um pobre mortal perdido neste
mundo. O orientador deve ter plena consciência de que a orientação pessoal
é uma prática religiosa na qual um filho de Deus (o orientador) tem a graça de
orientar outro filho de Deus (a pessoa que necessita de orientação); uma prática
em que o orientador deve reverenciar a Imagem Verdadeira de filho de Deus da
pessoa a quem vai orientar; uma prática na qual o orientador, mesmo vendo diante
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de si um ser aparentemente perdido em ilusões e sofrimentos, deve contemplar
a Imagem Verdadeira de filho de Deus que está oculta por detrás desse estado
de ilusão e fazê-la exteriorizar através da oração. O orientador não orienta por
seu próprio poder. Quando ele reverencia a Imagem Verdadeira do outro com
total despojamento do ego, as palavras de Deus fluem dele. Assim é a orientação
pessoal. Quem orienta o outro não é a pessoa do orientador, e sim Deus que se
aloja no orientador. Quando a pessoa que ministra orientação pessoal compreende
isso, ocorre espontaneamente uma grande transformação em suas atitudes.
Quando procurado por alguém que necessita de orientação pessoal,
o orientador não deve começar fazendo-lhe muitas perguntas de imediato. Em
primeiro lugar, deve convidá-lo a sentar-se à sua frente; em seguida, fazer a
Meditação Shinsokan durante cinco minutos e orar: “Deus, neste momento, por
Vossa Sabedoria infinita e Vosso Amor infinito, vou iniciar a orientação pessoal. O
que vou dizer serão as Vossas palavras; e, através delas, a Imagem Verdadeira
desta pessoa se manifestará, tornando patente a Vossa glória. Obrigado, Senhor”.
Depois, deve mentalizar: “Não sou eu quem realiza as minhas obras; é a força de
Deus-Pai, onipresente no Universo, quem as realiza”, e só então iniciar a sagrada
prática de orientação pessoal, que consiste em reverenciar e exteriorizar a Imagem
Verdadeira do outro.
O orientador não deve comportar-se de modo inconveniente, como,
por exemplo, atender o outro com um cigarro no canto da boca e perguntar
displicentemente: “Qual é seu problema, hein?”, ou aparecer exalando cheiro
de bebida alcoólica. Se o orientador agir desse modo, o outro terá a impressão
de estar sendo tratado com pouco caso, por mais maravilhosas que sejam as
palavras da orientação, não poderá sentir a orientação pessoal como uma sagrada
prática religiosa. Mesmo assim, a pessoa ouve as palavras do orientador, já que
veio em busca de orientação depois de muito sofrer, e anseia pela salvação.
Porém, quando o orientador causa má impressão à primeira vista, a pessoa que
o procurou não só se antipatizará com ele, como também passará a não gostar
da Seicho-No-Ie, já que ela foi em busca da orientação pessoal ministrada na
Seicho-No-Ie. Essa é uma das razões pelas quais algumas pessoas, apesar de
terem-se curado graças à orientação pessoal recebida, não voltam à Seicho-No-
Ie. “Respeitando os outros, seremos também respeitados” – isso é lei mental. Por
mais depauperado e miserável que seja o aspecto da pessoa que veio em busca
de orientação pessoal, o orientador deve atendê-lo com respeito, contemplando
nela a Imagem Verdadeira de filha de Deus. Assim, essa pessoa também sentirá
profundo respeito pelo orientador, estenderá esse respeito à Seicho-No-Ie e não
se afastará dela. “Menosprezando os outros, seremos também menosprezados” é
também lei mental.
A orientação pessoal ministrada na Seicho-No-Ie difere dos conselhos comuns
sobre problemas pessoais, pois ela é uma prática sagrada, em que o orientador
reverencia e faz exteriorizar a Imagem Verdadeira da pessoa que recebe a orientação.
O orientador deve ter plena consciência disso e conduzir a orientação

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pessoal num ambiente de religiosidade. Para isso, é necessário iniciar a orientação
fazendo a Meditação Shinsokan e orando a Deus juntamente com a pessoa a ser
orientada. Agindo desse modo, mesmo os que não têm nenhuma noção sobre a
Seicho-No-Ie sentem-se envolvidos por uma atmosfera de fraternidade e amor,
sua atitude para com o orientador torna-se respeitosa e séria, e a orientação será
conduzida num clima de profundo respeito.

3 - Devemos fazer com que a pessoa se torne assinante das revistas da


Seicho-No-Ie
Depois da Meditação Shinsokan, o orientador deve, sempre, perguntar à
pessoa a ser orientada se já é membro da Seicho-No-Ie ou se já leu algum livro da
Seicho-No-Ie. Isso porque a forma de conduzir a orientação varia, naturalmente, de
acordo com o grau de conhecimento que a pessoa tenha a respeito da Seicho-No-
Ie. Se a pessoa não for assinante das publicações da Seicho-No-Ie, o orientador
deve convidá-la a tornar-se assinante. Isso não é comércio, pois tem como finalidade
induzir a pessoa a manter-se em constante contato com a palavra da Verdade, a
fim de que sua salvação não seja apenas temporária, mas sim eterna. Mesmo que
a orientação pessoal surta efeito, e a pessoa fique curada da doença ou consiga
a harmonia familiar, como consequência de ter-se arrependido sinceramente dos
erros passados, isso é apenas uma salvação temporária. O orientador não deve se
envaidecer, pensando que, com isso, salvou essa pessoa para sempre.
A cura da doença, a harmonia familiar etc. são coisas que as pessoas
podem conseguir mesmo estando apenas em fase incipiente na Seicho-No-Ie. Já a
profunda Verdade fundamental pregada pela Seicho-No-Ie, que é a religião máxima
e derradeira da humanidade, não pode ser apreendida com apenas uma ou duas
orientações pessoais ou apenas um seminário de cerca de dez dias. Por serem
tão grandes as bênçãos que se podem conseguir ainda na fase de introdução à
doutrina da Seicho-No-Ie, na maioria dos casos as pessoas ficam ofuscadas; e,
assim, a pessoa que alcançou a bênção através da orientação pessoal pensa que
já despertou para a Verdade, e quem a orientou também pensa que já a salvou
definitivamente. Aí está uma das causas de expansão insuficiente da Seicho-No-Ie.
O temporário sofrimento fenomênico é problema de fácil solução. Mas a questão
de como viver na vida prática a grande e profunda Verdade de que “a matéria não existe”
e “o homem é originariamente filho de Deus” constitui uma lição que nós levamos
a vida toda para aprender, praticando assiduamente a Meditação Shinsokan, lendo
repetidas vezes A Verdade da Vida e acumulando atos de amor ao próximo. Portanto,
mesmo que o orientador consiga solucionar os problemas atuais de uma pessoa com
uma ou duas orientações pessoais, ele não deve acreditar que já salvou essa pessoa
e deixar de orientá-la sempre. Essa não é uma atitude que denota verdadeiro amor
para com essa pessoa. É preciso considerar a orientação pessoal como ponto de
partida e continuar orientando sempre essa pessoa, até que ela desperte, finalmente,
para a Verdade fundamental. Assim, o orientador a estará salvando realmente. Para
que essa pessoa mantenha sempre um vínculo firme e duradouro com a Seicho-No-

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Ie, para que ela esteja sempre em contato com as palavras da Verdade escritas pelo
Mestre e apreenda a Verdade em maior profundidade, é necessário que ela se torne
assinante das publicações da Seicho-No-Ie. O Mestre ensina o seguinte, em seu livro
Kami Shinri o Tsugetamau7, p. 75: “Este é um movimento para iluminar a humanidade.
Se uma pessoa, tendo alcançado a felicidade graças aos ensinamentos da Seicho-No-
Ie, considera-se salva, acomoda-se e nada faz em prol da salvação dos outros, essa é
uma atitude egoísta, que contraria a vontade de Deus expressa na Revelação Divina do
Novo Céu e Nova Terra. Se alguém, depois de ter sido curado, de ter alcançado êxito
nos negócios e obtido lucros, de ter-se tornado bem-sucedido ou de ter conseguido
uma posição elevada na vida, considera atingido o seu objetivo e diz ‘adeus’ à Seicho-
No-Ie, ele está sendo um egoísta, que contraria os ensinamentos da Seicho-No-Ie. A
Seicho-No-Ie não ensina que devemos ser egoístas. Na Revelação Divina está dito
claramente: ‘Não deves limitar-te a receber o amor de Deus. Não monopolizes as
graças recebidas. Colabora no Movimento de Iluminação da Humanidade, que é um
trabalho divino’”.
Mesmo que o orientador cure a doença ou melhore a vida de uma pessoa
através de orientação pessoal, se não conseguir fazer com que ela passe a
colaborar com o Movimento de Iluminação da Humanidade, isso quer dizer que ele
a orientou de modo falho, contribuindo para que essa pessoa se tornasse egoísta,
e, consequentemente, ele próprio contrariou os ensinamentos. O orientador deve
continuar orientando a pessoa até que esta se torne um membro da Missão
Sagrada. Assim, tanto o orientador como a pessoa que recebeu a orientação
estarão vivendo conforme a vontade de Deus.

4 - A prática do lema “Fisionomia alegre, palavras de amor e elogio”


O quarto item de As Sete Declarações Iluminadoras da Seicho-No-Ie diz
o seguinte:
Acreditamos que o amor é o alimento da Vida e que a oração, as palavras de
amor e o elogio constituem o poder criador da Palavra que concretiza o amor.
Essas palavras definem a postura fundamental dos membros da Seicho-
No-Ie perante a vida. Em tudo que fizermos, nunca devemos esquecer a oração e
as palavras de amor e elogio.
Tendo iniciado a orientação pessoal com uma oração, o que o orientador
deve fazer em seguida? Deve dirigir palavras afetuosas e elogiosas à pessoa
que recebe a orientação. Naturalmente, deve também manter a fisionomia alegre
e amável, quem quer que seja a pessoa a quem vai orientar. Não tem nenhum
sentido assumir um ar arrogante ou tomar atitude de superioridade, pensando
que, por estar na posição de orientador, é preciso mostrar sua importância. Aquele
que age desse modo deixa os outros inibidos para lhe pedirem conselhos e é um
fracasso como orientador da Seicho-No-Ie. É essencial que o orientador desperte
a simpatia e a confiança na pessoa que recebe a orientação, de modo que ela se
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sinta à vontade para se abrir e expor quaisquer problemas. Para isso, é preciso
que o orientador tenha a sensação de ser um com o orientando. Isso é amor.
Parece que muitas pessoas pensam que orientar alguém é fazê-lo arrepender-
se, apontando-lhe as faltas. Mas a base da doutrina da Seicho-No-Ie é o amor, e,
portanto, o orientador da Seicho-No-Ie tem de ser, acima de tudo, uma pessoa
que vive o amor e a fraternidade. Mesmo que a intenção seja induzir o outro à
reflexão, o orientador não deve apontar-lhe somente os defeitos, como se estivesse
repreendendo-o ou criticando-o. Racionalmente, a pessoa reconhecerá suas faltas,
arrepender-se-á, e, com isso, poderá obter bom resultado temporariamente. Mas,
em tais casos, geralmente a pessoa não sente nenhuma simpatia pelo orientador
e vai embora carregando consigo mágoa de ter sido “repreendida” e “criticada”.
Ministrar orientação pessoal consiste em expressar o amor de Deus e, com isso,
exteriorizar a Imagem Verdadeira da pessoa que recebe a orientação. Portanto, é
a prática do amor divino. A respeito do amor, o professor Masaharu Taniguchi diz:
(...) amar o próximo não é tentar melhorá-lo vendo-lhe os defeitos, o que
equivale a tocar-lhe numa ferida dolorosa; (...) o amor verdadeiro consiste
em envolver a pessoa com bondade – tal como se envolve a ferida com
uma atadura macia –, visualizando a perfeição da Imagem Verdadeira,
que existe por trás da aparência imperfeita, e fazer mentalizações para
que a perfeição se manifeste. (O Amor Supera o Castigo, p. 22)

O amor maior consiste em amar incondicionalmente, sem tocar nos


pontos fracos do outro (...). (O Amor Supera o Castigo, p. 24)

As palavras de amor e bondade envolvem as feridas da alma e abrandam


a dor. (Pensamentos de Sabedoria, p. 123)

Como vemos nessas citações, o Mestre nos ensina que amar o próximo
é reverenciar a sua Imagem Verdadeira oculta por detrás dos defeitos aparentes
e ajudá-lo a manifestar esta Imagem Verdadeira, sem nunca criticar-lhe os
defeitos. Apontar a atitude mental errônea da pessoa e resolver os seus problemas
aplicando a lei mental é ação da sabedoria. Mas só sabedoria não basta. Deus é,
ao mesmo tempo, sabedoria e amor. O amor e a sabedoria desempenham trabalho
semelhante às rodas pares de um veículo. Nem uma nem outra pode faltar.
Mas, vendo a maneira como alguns preletores vêm ministrando a orientação
pessoal, tenho a impressão de que, muitas das vezes, eles dão maior importância
à sabedoria e esquecem de agir com amor. A sabedoria disseca (separa) e tende
ao julgamento crítico. Portanto, é preciso ser contrabalançada com o amor, que
unifica e consola. Sem isso, a orientação não será perfeita.
Talvez alguns digam: “O senhor diz que devemos achar as qualidades das
pessoas que vêm receber orientação pessoal e elogiá-las. Mas, às vezes, isso é
muito difícil”. Porém, o Mestre nos ensina:
Um olhar sem amor só capta falhas e defeitos, ao passo que um olhar

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repleto de amor capta somente pontos positivos e qualidades. Tudo é
reflexo da mente. (Pensamentos de Sabedoria, p. 123)

Se o orientador vir o outro com amor, certamente poderá descobrir nele


muitas qualidades. As pessoas que vêm receber orientação pessoal são homens e
mulheres que foram derrotados no palco da vida e estão com a alma ferida. Portanto,
é preciso, acima de tudo, envolver suas “feridas” com as palavras de amor e carinho,
confortando-lhes a alma. Dependendo do modo de dizer as coisas, uma mesma
orientação pode causar impressões completamente diferentes. E é essa diferença
que torna evidentes a ausência ou a presença do amor por parte do orientador.
Suponhamos que um orientador vá orientar uma pessoa que sofre de
tuberculose. Como ele aprendeu que “os problemas do peito são reflexos da mente
intransigente”, diz com franqueza rude: “Você tem a mente excessivamente crítica, é
intransigente. Foi por isso que ficou tuberculoso”. Embora isso seja verdadeiro, a pessoa
sente-se ferida, achando que o orientador lhe apontou os defeitos de modo impiedoso
e que a repreendeu duramente. Suponhamos, agora, que o orientador se expresse de
outro modo: “Você é uma pessoa extremamente correta. Por isso, ao menor deslize
dos outros, fica aborrecido e zangado”. A expressão elogiosa “extremamente correta”
soa mais forte que as demais palavras, e a pessoa não se sente criticada.
Outro exemplo: suponhamos que a pessoa que recebe a orientação seja
um homem que teve um romance extraconjugal. Se o orientador, em vez de criticá-
lo dizendo “Você cometeu o pecado de adultério”, disser “Você é muito simpático e,
como as mulheres não o deixam em paz, acabou caindo na tentação”, certamente
ele reconhecerá o erro e se arrependerá. Quando há amor na maneira como o
orientador se expressa, o outro se comove até as lágrimas e aceita docilmente a
orientação, obtendo-se, assim, bom resultado.
Não vou continuar citando mais exemplos, pois são incontáveis. Há
muitos anos, venho ministrando orientação pessoal na Academia de Treinamento
Espiritual da Seicho-No-Ie (acho que já orientei cerca de 20 mil pessoas) e aprendi,
por experiência própria, que o método de orientação que consiste em começar
apontando os defeitos da pessoa pode surtir efeito temporariamente, mas, a longo
prazo, resulta em fracasso. Lendo os ensinamentos do Mestre, compreendi que a
verdadeira orientação consiste em manifestar concretamente o amor, elogiar as
qualidades do outro e fazer com que a sua Imagem Verdadeira se exteriorize.
Analisei o meu método de orientação, percebi que estava errado e passei a procurar
sempre as qualidades da pessoa orientada. Desde então, tenho conseguido bons
resultados com muita facilidade, e as pessoas que receberam a orientação têm-se
tornado membros firmes da Seicho-No-Ie.
“Minha doutrina não é a de julgamento. É a da reverência. É a da
magnanimidade” (A Verdade da Vida v. 22, p. 36). Todo membro da Seicho-No-Ie
deve colocar isso em prática, em todos os momentos de sua vida. Não é possível
que somente quando se ministra orientação pessoal seja permitido julgar e criticar o
outro, apontando-lhe os defeitos. Qualquer que seja o aspecto aparente, é preciso

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reverenciar a sua Imagem Verdadeira de filho de Deus e envolvê-lo com amor – este
é o princípio fundamental da orientação pessoal. O orientador deve descobrir as
qualidades da pessoa, elogiá-la, identificar-se com ela e fazer com que sinta que há
amor entre eles. Depois que tiver conseguido isso, o orientador poderá repreender a
pessoa ou apontar-lhe os defeitos, de conformidade com a adequação “pessoa, hora
e lugar”. Ela não se sentirá magoada e aceitará, de todo o coração, a repreensão
e a crítica. Portanto, o mais importante, na orientação pessoal, é o seguinte: antes
de mais nada, o orientador deve orar junto com a pessoa; depois, agindo conforme
o lema “Fisionomia alegre, palavras de amor e elogio”, estabelecer um canal de
amor entre ele e a pessoa que recebe a orientação. Uma vez estabelecido esse
canal, a pessoa que recebe a orientação consegue exteriorizar coisas que, de outro
modo, relutaria em revelar, e assim se torna fácil a orientação. Quanto à forma de
fazer perguntas sobre os problemas que afligem a pessoa, o orientador adquire
habilidade por meio de muita prática. O orientador precisa ser hábil em apreender
rapidamente os pontos essenciais do problema, fazendo perguntas breves (na Sede
Central, usa-se uma ficha na qual as principais perguntas a fazer estão impressas
em itens). Também os médicos precisam treinar bastante para adquirir a habilidade
de descobrir, com breves perguntas, as enfermidades passadas do seu paciente.
Se o orientador ficar ouvindo calmamente todos os pormenores do problema
que o outro lhe conta, não sobrará tempo para mais nada. É importante, pois, adquirir
a habilidade de fazer perguntas e captar os pontos essenciais do problema.
No item 5 das Normas Fundamentais dos Praticantes da Seicho-No-Ie,
está escrito: “Ver sempre as partes positivas das pessoas, coisas e fatos, e nunca
as suas partes negativas”. Portanto, ao ouvir a confissão da pessoa, o orientador
não deve dizer em tom de recriminação: “Aí está o seu erro”. Em vez disso, deve
orientá-la interpretando no sentido favorável tudo o que ela disser. Se se tratar de
uma esposa que está sofrendo porque o marido arranjou uma amante, o orientador
não deve dizer: “Seu marido passou a amar outra mulher porque a senhora tem
uma atitude mental que o repele”, e sim: “O amor que a senhora sente por seu
marido é maravilhoso, mas infelizmente a senhora não soube expressá-lo bem”.
O importante é orientar a pessoa vendo sempre o seu lado luminoso (lado
positivo). Assim, ela reconhecerá humildemente o seu erro e aceitará docilmente a
orientação. Todo ser humano é filho de Deus. Não há pessoas ruins. Mas, quando
uma pessoa não sabe expressar corretamente a sua verdadeira natureza de filho
de Deus, surgirão resultados negativos. O essencial é orientar a pessoa para o
caminho certo, com amor e bondade, ensinando-a a expressar corretamente a
sua verdadeira natureza.
Os médicos têm a obrigação de guardar sigilo quanto aos segredos de
seus pacientes. Também os professores da Seicho-No-Ie que ministram orientação
pessoal devem manter em segredo as confissões das pessoas que eles orientaram,
principalmente nos casos em que a revelação do segredo possa ferir a dignidade
da pessoa ou resultar na destruição de um lar. Guardar segredo das confissões é
gesto de amor. Mas, às vezes, a própria pessoa, por sua livre e espontânea vontade,

Manual do Preletor - Doutrinário 37


conta tudo em seu relato de experiência, movida pelo desejo de que o seu caso sirva
de exemplo para a salvação dos outros. O orientador deve incentivar as pessoas a
relatar em público como elas alcançaram a salvação. Não há mal algum no fato de
o orientador citar em suas palestras os casos que as próprias pessoas envolvidas
já relataram publicamente. Certa vez, uma pessoa disse-me o seguinte: “Não gosto
de receber orientação pessoal na Seicho-No-Ie, porque depois o professor conta
tudo na frente de muita gente”. Fiquei um tanto chocado com essa constatação. É
preciso que o orientador distinga corretamente “o que pode citar e o que não pode
citar diante do público”. Para isso, é preciso usar a sabedoria.

5 - O princípio fundamental da orientação pessoal


Pela assídua e cuidadosa leitura do livro A Verdade da Vida, podemos
assimilar a forma como se deve conduzir a orientação pessoal para resolver
cada um dos mais variados problemas. Mas procuremos conhecer o princípio
fundamental da orientação pessoal, lendo alguns trechos dos livros do Mestre:
Um doente “A” procura “B” e pede-lhe que o salve. Nesse caso, “B” não
irá hipnotizar “A”, nem sugestioná-lo. Ele apenas falará sobre a Imagem
Verdadeira do homem. A pessoa se curará de acordo com o grau de
compreensão da perfeita Imagem Verdadeira. Curar-se significa revelar
a sua própria perfeição. (A Verdade e a Saúde, p. 205)

Esse é o princípio fundamental da orientação pessoal, mas não só para casos


de pessoas doentes, como também para todos os demais casos. O que importa
não é discutir o problema manifestado no aspecto fenomênico da pessoa, e sim até
que ponto conseguimos fazer a pessoa compreender a Imagem Verdadeira que
constitui a verdadeira natureza do homem, e também até que ponto nós próprios
conseguimos “enxergar” a Imagem Verdadeira da pessoa.
Há duas categorias de cura por mentalização: o método argumentativo
(argumentative method) e o método intuitivo (realization method). O
método argumentativo, como a própria palavra diz, rebate mentalmente a
existência da doença usando argumentos tais como: “Só Deus é existência
real, e o mal não existe. A doença é um mal, e ela não existe. O homem
é filho de Deus; Deus é perfeito, logo, o homem só pode ser perfeito.
Portanto, mesmo que a pessoa pareça estar doente, é apenas uma
imagem da ilusão. Na verdade, ela tem saúde, pois a doença não existe”.
Mentaliza-se assim para persuadir a si mesmo, e não para convencer o
doente. Quando desaparecer da sua própria mente a ideia da doença,
desaparecerá a doença do outro, porque ele é sombra da sua mente.
O método intuitivo não argumenta usando de silogismo. Faz uma apreensão
intuitiva do fato de que o outro é filho de Deus e é perfeito. Se o terapeuta
conseguir intuir verdadeiramente a perfeição do filho de Deus, a cura será
instantaneamente efetivada. (A Verdade e a Saúde, pp. 207-208)

Aqui, o Mestre se refere à mentalização, mas o mesmo princípio se aplica

38 Manual do Preletor - Doutrinário


também à orientação pessoal. O Mestre ensina que a orientação pessoal ministrada
na Seicho-No-Ie não consiste em reconhecer a existência de doenças, desarmonia,
infelicidades etc. e procurar extingui-las, mas sim em não lhes reconhecer a
existência, afirmando terminantemente que não existem doenças, desarmonia
ou infelicidades de espécie alguma. O orientador precisa tomar cuidado porque,
às vezes, enquanto ouve o outro contar suas angústias e seus sofrimentos, ele
mesmo fica envolvido por esses aspectos fenomênicos e, sem o perceber, acaba
orientando o outro sob o ponto de vista de que “o fenômeno existe”.
O professor Masaharu Taniguchi ensina:
O “eu enfermo” também não é o “Eu verdadeiro”. Compreendendo-se
isto, não será preciso tentar ansiosamente curar a doença; e, mesmo
estando doente, torna-se possível deixar de ser envolvido pela doença e
manter o ânimo elevado. (A Verdade da Vida v. 22, p. 130)
O que dificulta a cura é sobretudo a atitude mental de se prender à
doença. No tratamento médico em si não existe benefício nem malefício;
mas, se um médico que desconhece a Verdade cuidar do enfermo,
dará demasiada ênfase à doença, o que fará com que a mente dos
familiares do paciente fique presa à doença, e isso então se torna um
malefício. (A Verdade da Vida v. 22, p. 130)

Quem praticou de fato o “método de cura” que consiste em ver a perfeição


da Imagem Verdadeira dos enfermos foi Jesus Cristo. O professor Masaharu
Taniguchi explica, como segue, o procedimento de Jesus na cura de Lázaro – ou,
melhor dizendo, na ressurreição de Lázaro, que, estando morto havia quatro dias,
já exalava mau cheiro.
A sequência das atitudes mentais de Jesus que culminou na realização
desse milagre de ressurreição deverá servir de modelo para a posteridade:
1 – Pelas expressões “Jesus chorou”, “comoveu-se profundamente, per-
turbou-se, e disse”, percebemos claramente que Jesus sentiu e assimi-
lou a tristeza de Maria e de seus conhecidos como se fosse sua própria
tristeza. É um procedimento semelhante ao do tintureiro que traz primei-
ro para a sua lavanderia as roupas sujas para depois lavá-las.
2 – A seguir, ele agradeceu a Deus “Pai, dou-te graças, porque me tens
ouvido”, lembrando-se de que Deus sempre ouvira sua oração.
3 – Além disso, disse “Eu bem sabia que me ouves sempre”, afirmando
categoricamente que “sabia” de antemão que a realização da oração já
é um fato consumado.
4 – Orou desejando que a glória de Deus se manifestasse diante da multidão.
5 – Fazendo uma conversão mental, deixou de ver a doença e, segundo
consta em outro Evangelho, disse: “Não está morto. Dorme”. No Evangelho
de João consta que Jesus disse apenas “Lázaro, sai para fora”, e não que a
doença já estava curada, ou que ele iria curá-la. Desligou-se totalmente da
ideia de doença e chamou Lázaro considerando-o unicamente “um indiví-
duo que vive com saúde”. (Preleções sobre a Interpretação do Evangelho
Segundo João à Luz do Ensinamento da Seicho-No-Ie, p. 165)

Manual do Preletor - Doutrinário 39


Como vemos, Jesus fez do sofrimento dos outros o seu próprio sofrimento
(manifestação concreta do amor, da misericórdia e solidariedade); confiou
totalmente no Pai; sabia, com toda a certeza, que o Pai haveria de realizar através
dele as Suas obras; e, sem olhar para o aspecto fenomênico da pessoa a quem
se dirigia (Lázaro), contemplou a sua Imagem Verdadeira. Assim deve ser a nossa
postura básica, ao ministrarmos orientação pessoal.
Por mais que tentemos convencer o outro por meio de teorias, ele não
aceitará, do fundo do coração, os nossos conselhos.
Somente o “amor” consegue persuadir as pessoas.
Neste momento, Cristo está perguntando especialmente a você: “E tu, quem
dizes que eu sou?”. Se você acha que sua resposta pode ser qualquer coisa
menos o amor, o fracasso será imediato, e você se atormentará, o que lhe
será inútil. Não existe nada superior ao amor para ajustar nossa vida. Sermão
sem amor nunca salvou ninguém, nem há de salvar. Somente amando a
humanidade e acolhendo com bondade os outros, você conseguirá salvar a
própria alma. (O Amor Supera o Castigo, pp. 51-52)

Isso se aplica tanto para as pregações como para a orientação pessoal.


Em última análise, orientarmos o outro significa estarmos nós próprios sendo
orientados por Deus e salvando a nossa própria alma.

6 - É preciso orientar as pessoas até a salvação definitiva

(...) como é tão frequente a ocorrência de cura na Seicho-No-Ie, muitas


pessoas nos procuram para curá-las. Às vezes, dou risada, dizendo:
“Mesmo que você seja curado dessa doença, quantas centenas de anos
acha que seu corpo durará?”. O objetivo da Seicho-No-Ie não é dar essa
vida tão curta às pessoas. Seu objetivo é dar a Vida eterna, oferecendo
a água da Vida eterna. (Preleções sobre a Interpretação do Evangelho
Segundo João à Luz do Ensinamento da Seicho-No-Ie, pp. 52-53)

Assim nos ensina o Mestre. Portanto, ao ministrarmos orientação pessoal, não


devemos ter a pretensão de realizar a cura imediata da doença e demonstrar o poder
da Seicho-No-Ie. Agindo assim, a orientação pode tornar-se forçada ou egocêntrica,
e pode acontecer de a pessoa nunca mais voltar à Seicho-No-Ie, apesar de ter
conseguido cura através da orientação recebida. Com base na minha experiência
pessoal, posso dizer que, em vez de procurarmos resolver imediatamente, de uma
só vez, os problemas de natureza física da pessoa, devemos agir com o objetivo de
despertá-la para a Verdade, orientando-a um pouco de cada vez, e fazendo com que
ela venha repetidas vezes e aprenda a sentir o prazer de ouvir as palavras da Verdade.
Devemos fazer com que ela frequente as reuniões, torne-se assinante da revista da
Seicho-No-Ie e contribuinte da Missão Sagrada; e, entrementes, leia assiduamente
A Verdade da Vida. Assim, a pessoa alcançará gradativamente, por si mesma, a
compreensão de que a Seicho-No-Ie não é uma doutrina que proporciona apenas

40 Manual do Preletor - Doutrinário


benefícios no nível fenomênico, e sim uma doutrina que ensina a Verdade muito
mais profunda. As pessoas que se convertem dessa forma dificilmente se afastam
da Seicho-No-Ie. Há muitos casos de pessoas que, tendo os seus problemas físicos
resolvidos com apenas uma sessão de orientação pessoal, vivem exultantes durante
algum tempo, mas logo perdem o entusiasmo e afastam-se da Seicho-No-Ie. Em tais
casos, geralmente houve alguma falha na forma de orientação. Não devemos levar
a pessoa a pensar que Seicho-No-Ie é como um hospital onde ela poderá “receber
alta” assim que seus problemas forem resolvidos, ou deixar que a pessoa acredite
que já alcançou a Verdade, quando, na realidade, está ainda na parte introdutória
da doutrina Seicho-No-Ie. É preciso orientar com perseverança e paciência, até
conseguir fazer com que a pessoa leia todos os volumes da coleção A Verdade da
Vida, aprofunde o sentimento de amor ao próximo e se torne contribuinte da Missão
Sagrada, como um bosatsu a trabalhar pela iluminação da humanidade.
Para isso, é preciso que o próprio orientador renove a conscientização de
que o objetivo da Seicho-No-Ie não é curar doenças, mas sim ensinar a Verdade
muito profunda, e faça com que também as pessoas que vêm receber a orientação
alcancem essa conscientização. O objetivo da orientação pessoal é fazer com
que as pessoas se tornem membros da Missão Sagrada e assim passem a ser
colaboradoras do Movimento de Iluminação da Humanidade.
Nas Palavras de Sabedoria do livro A Verdade da Vida, está escrito:
Comete um grande equívoco aquele que, ao obter a cura física, pensa ter
alcançado o despertar. Quem não compreende que seu “Eu verdadeiro”
é totalmente livre ainda que o corpo não seja curado, acaba tropeçando
mais cedo ou mais tarde. (A Verdade da Vida v. 22, p. 77)

Para finalizar, vou citar, uma vez mais, as palavras do Mestre:


Há pessoas que vêm à Seicho-No-Ie pensando em obter saúde; outras
vêm pensando em obter riqueza. Mas a verdadeira felicidade não está na
saúde nem na riqueza, pois há pessoas que se suicidam, apesar de terem
saúde ou de serem ricas. A verdadeira felicidade do ser humano está em
saber que o “Eu verdadeiro” é filho de Deus. A Seicho-No-Ie surgiu para
transmitir este segredo da felicidade. (A Verdade da Vida v. 22, p. 86)

Manual do Preletor - Doutrinário 41


A PRÁTICA DA ORIENTAÇÃO PESSOAL
Este artigo é reprodução da gravação de palestras realizadas pelo professor Masaharu Taniguchi
no Curso Especial de Ano-Novo de 1961

Palavras iniciais
As pessoas hoje aqui reunidas são, na maioria, preletores e dirigentes da
Seicho-No-Ie, como também candidatos para exame de preletor. Penso que são
poucas as que participam pela primeira vez. Por isso, desejo conduzir minha palestra
tendo em mente principalmente o modo de orientar as pessoas, na qualidade de
preletor da Seicho-No-Ie.
A Seicho-No-Ie não é um local onde se curam doenças. Aqui se fala da
filosofia que ensina sobre inexistência da doença.
Então, antes de tudo, é fundamental conhecer a diferença entre o
fenômeno e a Imagem Verdadeira. Indubitavelmente a doença existe no plano
fenomênico. Porém, inexiste no plano da Imagem Verdadeira. É preciso fazer
essa distinção, nitidamente.

Fazer conhecer a distinção entre fenômeno e Imagem Verdadeira


Por isso, há a necessidade de mostrar claramente ao doente o que é
Imagem Verdadeira e o que é fenômeno. Não adianta dizer de súbito que a doença
não existe, pois ela está aí presente de modo concreto. É preciso estabelecer
claramente a diferença entre Imagem Verdadeira e fenômeno, entre o que existe
e o que não existe. Todavia, para a pessoa que deseja ser curada da doença, o
objetivo maior é a cura, e não conhecer a distinção entre fenômeno e Imagem
Verdadeira. Aqui se encontra a dificuldade de uma orientação pessoal. Se a pessoa
curar-se muito rapidamente, a pessoa poderá confundir a Seicho-No-Ie com um
hospital, abandonando-a logo que tenha a saúde restabelecida, como se estivesse
recebendo alta do hospital, e pensará: “Virei novamente se ficar doente outra vez”.
Desse modo, não estará salvando a alma. O objetivo da Seicho-No-Ie é salvar a
alma, sendo a cura da doença uma consequência, um expediente para salvar a
alma. Portanto, mesmo que queira curar a doença, o fundamental é solucionar o
problema da alma, o problema da mente.

Quando o doente procura o orientador e quando o orientador procura o doente


No caso de orientar um doente, se este veio caminhando com suas próprias
pernas é porque a doença não é tão grave. E há diferença no modo de orientar
quando o orientador procura o doente e quando o doente procura o orientador.
A pessoa que vem à Sede Central à procura de orientação fez sua doação para
receber o ensinamento e veio com a clara intenção: “Quero ser curada”. Porém,
no caso de um doente, ou de um amigo ou familiar do doente pedir a presença do
orientador porque o médico já o desenganou, na verdade, não se deve ir por não
ser um médico. No entanto, já que a missão do religioso é salvar o próximo, mesmo

42 Manual do Preletor - Doutrinário


que seja um doente que vai morrer, precisamos salvar-lhe a alma. Por isso, haverá
casos em que teremos de ir, quando a visita for solicitada com insistência. Nessas
circunstâncias, assim como Jesus fazia, é preciso, antes de tudo, perguntar ao
doente: “Você deseja ser curado?”.
Não há como orientar uma pessoa que não queira se curar. Há inclusive
quem esteja doente por assim desejar. Para tal pessoa, há necessidade de fazer
com que ela sinta vontade de ser curada. Há quem esteja doente por achar que
é preferível morrer. Por isso, é importante perguntar-lhe, como fez Jesus Cristo:
“Você deseja ser curado?”.
Evidentemente, há pessoas que se curam sem que lhes faça essa pergunta
porque já desejavam a cura. Tanto é que houve quem tenha se curado só de tocar
na extremidade da túnica de Jesus.
Todavia, é necessário que se pergunte:
– Você quer se curar?
Cristo perguntou depois:
– Você acredita em mim?
Não ocorre a cura quando o doente não acredita no orientador e não aceita
suas palavras. Será inútil falar da Verdade se o outro não acreditar nas palavras do
orientador. Por isso, deve começar a orientação indagando ao doente:
– Você quer ser curado? Você acredita em mim?
Assim, se a resposta for positiva, inicia-se a orientação. Entretanto, é
possível haver quem não deseje ser curado. Em tal caso, há a necessidade de lhe
perguntar com atenção por que razão é melhor que não seja curado.

Caso da senhora que estava doente por achar que perdera o amor do marido
Na cidade de Kure, havia uma senhora que sofria de peritonite, e seu
abdome estava completamente distendido. Ela não urinava fazia alguns dias.
O médico perguntou-lhe se ela queria tomar uma injeção de diurético, ao
que ela respondeu:
– Não, não quero semelhante injeção. Eu sei o que fazer para me curar;
porém, desta vez não poderei me curar.
O marido disse, então:
– Se você conhece o método para se curar, aplique-o.
E a mulher retrucou:
– É que eu, antes de entrar para a Seicho-No-Ie, tive tuberculose. Na Seicho-
No-Ie, aprendi sobre gratidão e, praticando o ato de agradecer, fui curada. Por isso,
desta vez também sei que serei curada se agradecer, mas neste momento não
consigo sentir vontade de agradecer. Mesmo querendo, não me é possível.
A situação era essa: ela não conseguia sentir gratidão, por isso, não
ministrava à sua mente o remédio chamado gratidão, mesmo sabendo que seria
curada se agradecesse.
Certa noite, houve uma reunião de adeptos. O marido, pensando que
pudesse receber alguma orientação, dirigiu-se ao local da reunião e falou sobre a

Manual do Preletor - Doutrinário 43


doença de sua esposa. Estava presente, então, um adepto que assim lhe ensinou:
– Minha esposa estava sofrendo da mesma doença. Então, transcrevi em
uma peça de algodão a sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade e enfaixei-lhe
o abdome. E ela se curou!
O marido, que desejava tanto curar sua esposa, passou numa loja de
tecidos, comprou a peça de algodão e nela transcreveu a sutra sagrada. Quando
terminou de transcrever, foi ao quarto da esposa doente e lhe disse:
– Fui esta noite à reunião de adeptos e ouvi o caso de uma senhora,
semelhante ao seu. Por isso, passei a noite acordado, transcrevendo a sutra
sagrada nesta faixa de algodão. Enrolando esta faixa em seu abdome você
eliminará bastante urina, seu ventre ficará desinchado e ficará curada. Levante-se
que eu vou lhe enfaixar o abdome.
Assim dizendo, ele enrolou a faixa de algodão no abdome de sua esposa. En-
quanto enrolava, essa senhora, que no passado já havia sido curada da tuberculose
pelo ato de agradecer, pois já conhecia o ensinamen­to da Seicho-No-Ie, ficou com
as mãos em posição de oração. Porém, as mãos justapostas começaram a tremer e
lágrimas escorreram copiosamente. E, desmanchando-se em prantos, disse:
– Querido, perdoe-me! Eu estava errada. Perdoe-me, por favor!
Ela imaginava: “O amor de meu marido por mim acabou. Ele já está farto
de mim; por isso, uma pessoa como eu não consegue mais ser amada por ele.
É preferível, portanto, morrer...”. Esse era o motivo por que não conseguia sentir
gratidão. Naquele momento, porém, compreendeu o quanto seu marido desejava
que ela vivesse, que fosse salva, pois, para curá-la, foi comprar a peça de algodão,
passou a noite toda transcrevendo a sutra sagrada e enrolou-a em seu abdome.
Compreendendo isso, ela lhe pediu perdão:
– Eu estava equivocada até agora. Perdoe-me, por favor!
Após permanecer deitada por alguns momentos com o abdome enfaixado com
a transcrição da sutra sagrada, ela sentiu repentinamente vontade de ir à toalete. O
marido lhe indagou se ela conseguiria ir e, como ela confirmou, levantou-a e levou-a
à toalete. Esperou diante da toalete por muito tempo, para trazê-la de volta ao leito,
mas ela demorava a sair. Perguntou-lhe se havia acontecido algo, e ela pediu que
esperasse mais um pouco. E assim, passados cerca de 30 minutos, ela saiu com
a barriga completamente retraída. O líquido acumulado no peritônio fora totalmente
eliminado em forma de urina. E, desde então, ela se curou definitivamente.

Para que ocorra a cura deve incutir no doente a “alegria de estar vivo” e a
“esperança”
Esse foi um caso de uma pessoa enferma que não desejava ser curada.
Ao passar a sentir desejo de ser curada, ocorreu a cura. Portanto, é necessário,
em primeiro lugar, fazer com que o doente passe a sentir: “Quero me curar”. Se
ele estiver segurando o pensamento de que é mais conveniente estar doente, a
doença não será curada.

44 Manual do Preletor - Doutrinário


Por exemplo, a sra. Umeko Sawasaki, professora do colégio Jiyu-Gakuen
e articulista de culinária da revista Fujin no Tomo (Amiga da Mulher), apresentou
o seguinte relato de experiência numa reunião de adeptos realizada após a minha
primeira conferência em Tóquio, quando ainda residia na Vila Sumiyoshi, na
província de Hyogo.
Meu marido era médico e faz dez anos que ele morreu. Enquanto ele estava vivo,
eu sofria, todos os meses, de uma terrível dor abdominal provocada por crise de
cólica estomacal, que se curava logo que meu marido me aplicava injeção.
Certo dia, numa dessas crises, meu marido aplicou-me a injeção e logo
fiquei curada. Então, ele começou a rir e disse: “Sua doença é simulação”.
Retruquei então: “Simulação coisa alguma. Eu estava sofrendo e você
me aplicou a injeção. Não foi isso que me curou?” Então ele me disse:
“Justamente por isso é que digo que é simulação de doença. Você sabe
o que foi que lhe apliquei? Foi água destilada. Se é curada com injeção
de água destilada, é porque não se trata de doença verdadeira, é uma
simulação”. De qualquer forma, porém, uma vez por mês surgia a doença e
eu continuava recebendo a injeção. Entretanto, há dez anos, ele faleceu e,
desde então, acabaram-se as crises de cólica estomacal.
Esse foi um caso em que a doença se manifestava porque ela queria
receber a injeção aplicada pelo marido e, quando esse marido desapareceu, a
paciente deixou de manifestar a doença. Em conclusão, quando a pessoa pensa “é
vantajoso estar doente”, manifesta-se a doença. Portanto, nesses casos, é preciso
orientar no sentido de curar esse pensamento.
É importante indagar “Você está pensando em se curar verdadeiramente?
Não existe, por acaso, algo que lhe dê vantagem se não ocorrer a cura?” e
certificar-se da não existência do pensamento que julgue ser melhor morrer. Se
existir semelhante pensamento será preciso infundir-lhe “esperança de viver”.

Extirpar a ideia de incurabilidade


Existe doente que, por ter ouvido do médico a declaração de que é grave o
seu estado ou ter-lhe sido atribuído o nome de doença incurável, está convencido
de que não será curado. Nesse caso, é necessário retirar da mente dele a ideia de
que minha doença já não tem cura.
Zenkichi Oka, de Kyoto, era gerente da Gás Tóquio e, quando esta foi
incorporada à Gás Osaka, tornou-se funcionário graduado. Ele é uma personalidade
que recebeu no ano passado a medalha concedida pelo governo japonês por
serviços públicos prestados. O sr. Zenkichi me contou, certa vez, que um alto
funcionário de uma repartição pública municipal, muito amigo dele, recebera do
médico a declaração de que já não havia esperanças e o próprio paciente também
assim acreditava. Seu estado não permitia receber visitas.
Quando o sr. Zenkichi Oka foi visitá-lo, não o deixaram entrar, mas insistiu:
“Diga-lhe que é o Oka que quer vê-lo, por cinco minutos que seja”. Como era

Manual do Preletor - Doutrinário 45


pessoa bastante íntima, foi-lhe concedida permissão para se avistar somente por
cinco minutos. Tão logo ele entrou no quarto do doente, disse: “Já que eu vim
aqui, é certo que essa doença será curada”. Essas palavras dão ao doente uma
sensação de segurança. O doente, tomado pela ideia da incurabilidade, pensa que
já vai morrer e está aterrorizado. Está convencido de que o abandono do médico
e a proibição de visitas são uma declaração de morte. Portanto, para curar uma
pessoa que esteja assim, tomada pelo temor da morte, torna-se necessário libertá-
la desse temor. Será de grande auxílio dizer-lhe, por exemplo: “Todos os doentes
que eu visitei se curaram. Não houve um sequer que deixou de ser salvo. Portanto,
você também será curado”. Essa é a maneira de libertar o doente do medo.
Era uma visita de apenas cinco minutos, por isso o sr. Oka lhe entregou
um livrete, que havia levado consigo, e afirmou categoricamente: “Leia este livro.
Seguramente, você se curará”. E recomendou ao acompanhante: “Se o próprio
doente não puder ler, basta que a pessoa que o assiste leia tranquilamente para que
ele escute. Os homens são todos filhos de Deus, não existe doença alguma! Este
livrete diz que a doença é originariamente inexistente. Portanto, leia-o, para que ele
escute. E, quando ele compreender a Verdade, a doença desaparecerá porque o
homem se torna exatamente aquilo que sua mente pensa”. Dito isso, ele se retirou.
Naquela época, era publicada uma coleção de dez livrinhos de 64 páginas
cada um, que continham extratos do livro A Verdade da Vida, e custavam apenas 5
centavos. O sr. Oka deixara um exemplar dessa coleção. Só com isso, curou-se o
doente que tinha sido desenganado pelo médico. Como se vê, é necessário libertar
primeiramente o doente do medo que o aflige.
Esquematizando o que foi dito anteriormente, temos:
1 - Libertar o doente do desejo de não se curar.
2 - Libertá-lo do medo causado pela possibilidade de ter doença incurável.
Isso se refere ao caso em que o orientador visita um doente em estado grave.
No caso de o doente procurar o orientador com o desejo de ser curado, é
bom observar, em primeiro lugar, sua fisionomia e, fazendo a leitura fisiognomônica,
acertar algum traço de caráter dela. Então, ela passa a acreditar no orientador. É
preciso merecer a confiança do doente.
Será inútil orientar uma pessoa que responde negativamente à pergunta:
“Você acredita em mim?”. Pessoas que procuram a Sede Central em busca de
orientação pessoal, em geral, acreditam no orientador, mas pode ser que tenham
alguma dúvida e pensem: “Será que esse orientador tem mesmo força para
curar?”. Por isso, é bom acertar, de súbito, algum traço de caráter da pessoa,
deixando-a estarrecida. Então, ela passará a confiar no orientador, pensando: “Ah!
Esse orientador é bom mesmo. Acerta bem”.
Dessa forma, não haverá necessidade de indagar “Você acredita em mim?”,
pois já conquistou a confiança da pessoa. Assim, passa-se ao segundo passo da cura.
O que é necessário é o fato de fazer acreditar e, a partir daí, entra-se no campo da fé.
Há uma pessoa de renome que se autointitula “deus-vivo”. Um adepto da
Seicho-No-Ie que procurou esse “deus-vivo” contou que, na ocasião, esse “deus-

46 Manual do Preletor - Doutrinário


vivo” disse, de súbito, a uma senhora que ali havia comparecido: “Você está
cometendo adultério”. Então, a senhora levou um susto e ficou pálida. É grande
a probabilidade de acertar essa assertiva porque há atualmente muitas pessoas
que estão cometendo atos dessa natureza. Mesmo que não esteja cometendo
adultério, se disser, por exemplo, “você está traindo”, acertará, porque são poucas
as pessoas que não estejam cometendo mentalmente algo equivalente a uma
“traição”. Consequentemente, a pessoa concluirá “Esse orientador conhece até
essas coisas, é mesmo um ‘deus-vivo’”.
No capítulo 4 do Evangelho segundo João, consta que Cristo disse à mulher
samaritana que ela teve vários homens, e ela ficou admirada, e nela despertou a
fé. Pode ser que nem sempre acerte no alvo. Se errar, essa pessoa poderá não
voltar mais, mas a que ouviu do orientador algo que só ela sabia torna-se adepta
fervorosa e formará muitos outros adeptos. Por isso, em certa religião o fundador
se autointitula “deus-vivo”, fala o que quer e vai progredindo.

Fazer corrigir o defeito de caráter, acertando esses defeitos através da leitura


fisiognomônica
A Seicho-No-Ie não usa semelhante blefe. De qualquer forma, porém, o
importante é fazer com que o outro acredite. Para isso há uma forma científica. Em
primeiro lugar, ver a fisionomia do outro. É bom observar o nariz, que representa
o ego. Uma pessoa aponta o próprio nariz quando diz: “Este sou eu”. Isso porque
o nariz simboliza, em miniatura, o próprio indivíduo. O contorno do rosto simboliza
o Universo e, na área central, está o nariz. Portanto, sendo o “eu” a manifestação
individualizada de Deus, isto é, da Vida de todo o Universo, a forma do nariz revela
o caráter da pessoa. Uma pessoa que tem nariz afilado e pontiagudo é possuidora
de temperamento astuto e aguçado. Ou seja, é dona da mente correta, mas cortante
como uma navalha, e costuma criticar os outros.
Ao ver semelhante tipo de pessoa, poderá dizer, por exemplo:
– O senhor possui mente deveras correta. É correto demais, por isso
costuma julgar os outros. Essa é a causa da doença.
É melhor não dizer em tom de admoestação:
– O senhor é muito impaciente!
Em vez de apontar o defeito, procura-se falar, como se estivesse elogiando,
“Você é correto demais”. Geralmente, as pessoas pensam: “Sou correta”. Na visão
dos outros pode ser que a pessoa não seja correta, mas, como se diz que até no
assaltante há um terço de razão, até mesmo um ladrão pensa que, em algum sentido,
está correto o que ele faz. Pode ser que ache natural o pobre roubar o rico porque o
regime social está errado. Para o assaltante existe a retidão do assaltante. Por isso,
deve-se conduzir a conversa mostrando que a pessoa é possuidora de mente reta e
que o excesso dessa retidão está causando a doença. Explica-se, dizendo:
– O sábio Shinran falou que “se os bons vão para o paraíso, então, com
muito mais razão, os maus”, não é mesmo? Portanto, o inconveniente está no fato
de o senhor ser bom demais.

Manual do Preletor - Doutrinário 47


“Ir para o paraíso” quer dizer “nascer no paraíso”. Se até os bons nascem
no paraíso, então, com muito mais razão, os maus para lá irão. Conforme essas
palavras, os maus até que não ficam doentes, enquanto os bons adoecem devido
ao fato de serem demasiadamente corretos, ora odiando as mazelas da sociedade,
ora se mostrando impacientes com as pessoas incorretas que o cercam. E, como
reação, como vingança, às vezes, elas próprias acabam cometendo erros. Se esse
inconformismo não for transformado em ação, ficará armazenado na mente e se
tornará causa de doença. Deve-se explicar aos poucos esses princípios. Deve-se
também realizar um interrogatório dirigido, perguntando se não existem ao seu redor
pessoas de quem não goste. Todo doente tem, com certeza, alguma insatisfação,
pois, se tudo estivesse bem, ele não estaria doente. Portanto, deve induzi-lo a
revelar essa insatisfação. Para isso, deve-se dizer: “Se existe essa insatisfação,
significa que o senhor é demasiadamente correto”. Sendo assim elogiado, ele se
sentirá bem e começará a contar as queixas domésticas. Escuta-se, então, com
atenção o que ele diz. Só de ouvi-lo, poderá ocorrer a cura.
Quando se mantém a mente insatisfeita, o corpo carnal trabalha de modo
insatisfatório, provocando a doença, pois a mente é força motriz. Por exemplo,
a pessoa está insatisfeita e indignada, com vontade de esmurrar o outro. Esse
sentimento de ira ou de insatisfação equivale ao pensamento de preparar um soco.
Porém, não podendo colocá-lo efetivamente em prática, forma-se um nódulo em
alguma parte do corpo carnal. Assim é a força da mente. Então, o segundo passo
da cura consiste em fazer com que o doente revele espontaneamente o que está
segurando em segredo em sua mente.
Nesse estágio, é bom explicar-lhe que o pensamento tem força, que a
ação da mente é força motriz e se manifesta em forma. É frequente a pessoa não
entender só com essa explicação; por isso, no primeiro dia deve-se interromper a
orientação aqui e recomendar-lhe a leitura de uma revista que contenha artigos
sobre a força do pensamento ou livros como Convite à Felicidade ou A Verdade da
Vida v. 3. É preferível que a faça comprá-los, pois o que é de graça não se lê, como
acontece com os encartes de anúncio. Como não haverá salvação se não for lido,
é bom que a faça comprar, para que seja lido infalivelmente.

Pensamento é força motriz


Pessoas que se reúnem em cursos como este vieram e estão aqui sentadas
porque pensaram: “Haverá, hoje, o Curso da Seicho-No-Ie, e quero ouvir as
palestras”. O pensamento, que é uma ação mental, possui a força de movimentar
livremente um corpo que pesa mais de 50 quilos. Se os senhores tivessem pensado:
“Deve ser mais interessante ir ao cinema que ao curso”, seus corpos não teriam sido
transportados para cá e os senhores estariam sentados nas cadeiras do cinema.
Compreende-se com isso que o pensamento tem a força de transportar a matéria
para o lugar que o indivíduo quiser e de colocá-la aí. Se seus corpos carnais foram
transportados para cá e aqui ficaram enfileirados, foi porque o pensamento suscitado
na mente tornou-se força motriz e os dispôs na posição desejada. O pensamento

48 Manual do Preletor - Doutrinário


não só é capaz de colocar em movimento a totalidade da massa chamada corpo
carnal, como também tem a capacidade de dispor adequadamente as células e as
moléculas materiais que compõem esse corpo, movimentando-as de acordo com
a forma pensada na mente. Essa é a razão por que o nosso rosto fica enrubescido
quando pensamos: “Que vergonha!”, e por que o rosto fica pálido ou começamos a
tremer quando ocorre alguma coisa que nos assusta. Mesmo em questão de apetite,
se no momento em que estamos comendo algo delicioso aparecer um assaltante e
encostar um punhal no nosso pescoço, a comida deliciosa perderá todo o sabor. Ou,
então, se recebermos um telegrama dizendo “Papai nas últimas. Mamãe com grave
doença. Volte imediatamente”, o apetite desaparecerá totalmente.
Embora se diga que houve enfraquecimento da capacidade digestiva ou que
o rosto está pálido por causa da doença, sempre é a mente que causa transformação
na condição fisiológica das células, como também altera as condições de secreção
dos hormônios pelas glândulas endócrinas. Em consequência disso, altera-se a
composição sanguínea ou ocorre mudança nas condições de circulação do sangue.
É isso que deve ser dito ao orientar uma pessoa doente.

Explicar detalhadamente sobre a lei da mente


Por meio dessas explicações detalhadas, faz-se o outro compreender que
realmente a doença surge pela mente e é curada pela mente. É um ato de bondade
explicar tudo, teoricamente, até que o paciente passe a sentir: “Ah! Foi essa minha
mentalidade que estava provocando a doença. Vou me desfazer de tal mentalidade
que provoca doença”.
Se apenas admoestar sem dar essas explicações pormenorizadas, “O
senhor possui tal mentalidade, por isso é que não vai bem”, poderá provocar
ressentimentos, pois o paciente nada entendeu. Há preletores que admoestam
severamente dizendo: “Se você está com as amígdalas inflamadas é porque não
responde quando solicitado!”. Não há erro nisso porque o estado do corpo carnal
é reflexo da mente. Certas pessoas aceitam essa admoestação e se sentem
agradecidas: “Oh! Sim, muito obrigada”. Mas são pessoas que já leram A Verdade
da Vida e estão com a mente preparada, aceitando docilmente a orientação. Nesse
caso ocorre a cura mesmo com tal orientação.
Entretanto, se disser “amígdalas inflamadas são sinal de mente que não
responde!” a um intelectual que não tenha lido A Verdade da Vida e não tenha
nenhum conhecimento prévio sobre os ensinamentos, ele pensará: “Diz coisa
semelhante ao da seita Tenri. Não passa de superstição” e passará a desprezar
o orientador. Assim, a orientação não surtirá efeito. Será difícil a cura da doença
porque a pessoa deixou de confiar no orientador, uma das principais condições
para ocorrer a cura.
De qualquer forma, quem orienta deve ter autoridade. Por isso, há a
necessidade de explicar detalhadamente, o mais cientificamente possível, o fato de
o pensamento transformar as células, mudar a forma de como elas se dispõem,
originando células cancerosas ou células sadias. E deve-se explicar de modo

Manual do Preletor - Doutrinário 49


compreensível o seguinte: “Até agora, o seu corpo carnal estava manifestando
doença porque sua mente doentia estava dispondo as moléculas, componentes das
células, exatamente de acordo com essa imagem mental. A doença do seu corpo
não passa de reflexo do estado mental que você mantinha até agora. Portanto, daqui
para frente, basta mudar a mente, que, com certeza, mudará o estado de seu corpo
carnal”.
Deve-se convencê-lo a abandonar a mentalidade anterior e renovar a
mente, dizendo: “O corpo humano processa o metabolismo e elimina diariamente
as células antigas, substituindo-as por novas. Portanto, por mais grave que seja a
doença agora, você poderá, com sua mente renovada, dispor de modo saudável as
células novas. Até agora, sua mente insalubre estava dispondo de modo doentio as
células do seu corpo. Basta, então, abandonar essa mentalidade errada e passar
a manter a mente saudável”. E, para fazê-lo compreender isso de modo científico,
poderá falar sobre o estresse da medicina psicossomática.

Falar sobre a medicina psicossomática


Estou apresentando teorias vindas de fora porque o japonês, em geral, tem
forte tendência em acreditar num pensamento novo vindo do estrangeiro. Há mais de
32 anos, a Seicho-No-Ie diz que “o nascimento do homem ocorre por parto sem dor”,
mas, mesmo apontando exemplos concretos, as pessoas dificilmente acreditavam
nisso. Porém, quando dois médicos, que estiveram na China, começaram a dizer
que “na Rússia e na China pratica-se parto sem dor”, os japoneses passaram a
acreditar. O Hospital Central da Cruz Vermelha de Shibuya experimentou realizar
esse tipo de parto e publicou que tivera êxito em 60 por cento dos casos. O japonês
acredita imediatamente se uma pessoa que esteve no exterior regressa e diz:
“Lá fora estão praticando isso”. Ultimamente, está sendo difundida a medicina
psicossomática também no Japão e já existe a Sociedade Científica de Medicina
Psicossomática. O prof. Taiei Miura, da Universidade Keio, tornou-se presidente, e
parece que vários médicos adeptos da Seicho-No-Ie participam dessa Sociedade.
A Editora Nippon Kyobunsha lançou uma coleção de quatro volumes intitulada
Seishin Shintai Igaku Koza (Aulas de Medicina Psicossomática). Para orientar uma
pessoa doente, há necessidade de ler tais livros e aprender o modo como a mente
influi sobre o corpo.

Falha da medicina materialista


Antigamente a medicina tratava o corpo humano exclusivamente como
um elemento material. Pesquisava apenas sobre alterações químicas que um
medicamento provocava num corpo que estivesse apresentando determinado
estado físico. O corpo do homem não é simples matéria. Pode-se constatar isso
usando o detector de mentiras. Só de ligar o aparelho, a ideia de mentir provoca
uma mudança na corrente elétrica do corpo humano e muda a imagem das
ondas elétricas que aparecem no gráfico. Isso comprova o fato de que a corrente

50 Manual do Preletor - Doutrinário


elétrica que flui no corpo humano muda constantemente, conforme a mudança
da mente. Então, a velocidade de sedimentação dos glóbulos vermelhos, ou
seja, a hemossedimentação, sofre alteração, tanto para aceleração como para
retardamento, conforme as condições das cargas elétricas das hemácias. Diz-se que
há maior dificuldade na cura porque a velocidade de sedimentação das hemácias
está acelerada, mas o fato é que essa velocidade muda conforme a mudança da
mente. Isso evidencia que o tempo necessário para a cura é determinado conforme
a mudança da mente.
Além disso, quando a pessoa se zanga ou sente ódio, ocorre alteração nos
hormônios. Vejamos um exemplo. A adrenalina secretada pela medula adrenal, a
cortisona secretada pelo córtex da suprarrenal e outros hormônios, que exercem
atuação preponderante no corpo humano, mudam sua natureza ou seu volume
de acordo com a mudança emocional da pessoa. Significa que os hormônios que
circulam em nosso corpo, em outras palavras, a matéria química que compõe o
corpo humano sofre constante mudança. Se ocorre mudança na matéria química
do corpo conforme o estado psíquico da pessoa, não se obtém o mesmo resultado
sempre que administre um determinado medicamento, considerando o “homem”
um corpo material. Um mesmo medicamento poderá ter efeitos diferentes em cada
pessoa e, até numa mesma pessoa, poderá variar o efeito conforme a alteração
no estado psíquico da pessoa. Isso porque o próprio corpo humano é formado
por matérias químicas que estão em constante mudança. Se o corpo humano
fosse matéria imutável, poderia se esperar que um remédio eficaz em uma pessoa
fosse igualmente eficaz numa outra. Porém, os componentes do corpo humano
mudam constantemente, não havendo garantia de que uma pessoa seja curada
com determinado remédio porque uma outra foi curada. Há pessoas que morrem
devido à reação alérgica causada pela penicilina, que, normalmente, não provoca
tal efeito. Como o corpo humano está sofrendo constantes modificações em sua
composição, a medicina materialista – a medicina que trata apenas o corpo carnal,
considerando-o um elemento material imutável – produz medicamentos baseados
nos efeitos químicos, posicionando-se assim sobre uma premissa errada. O homem
visto superficialmente é matéria chamada corpo carnal, mas visto interiormente é
um ser espiritual. Por isso é que recentemente está se desenvolvendo a medicina
psicossomática. Para orientar intelectuais, que teimosamente não aceitam esse
progresso da medicina atual, é necessário explicar tudo detalhadamente, para
assim despertar neles a confiança no seu orientador espiritual.
A pessoa simplória acredita cegamente quando o orientador lhe indaga:
“Você acredita em mim?”, mas, de um modo geral, é melhor explicar com
todos os pormenores. Após falar, por cerca de uma hora, a respeito das leis da
mente e da medicina psicossomática, despertando-lhe o interesse, deve-lhe
dizer: “Tenho diversos afazeres e, hoje, vou parar por aqui. Quero que volte
outra vez, mas, até lá, leia este livro para obter algum conhecimento prévio”.
Assim, deve-se fazer com que a pessoa leia o volume Imagem Verdadeira
ou Luz da coleção A Verdade da Vida. Se, ignorando os livros, pensar “Vou

Manual do Preletor - Doutrinário 51


curá-lo com minha força”, fracassará. Se, após ler com atenção A Verdade
da Vida e se conscientizar verdadeiramente da essência da Vida do homem,
ocorrer a cura natural da doença, a pessoa foi salva efetivamente. Entretanto,
se ocorrer a cura apenas por ter-lhe apontado o erro mental, o doente dirá
“muito obrigado” e se retirará, sem ler livro algum e sem procurar conhecer
os ensinamentos. Consequentemente, não conhecerá a Verdade. Não será
uma salvação verdadeira, sendo comparável ao alívio que sentimos quando
o massagista nos livra do enrijecimento dos ombros. A salvação fundamental
consiste em fazer a pessoa se conscientizar do que é a Imagem Verdadeira
da Vida do homem, para que a vida dessa pessoa seja libertada em todos
os sentidos. Se o orientador se compenetrar somente em “curar a doença”,
como o massagista que alivia o enrijecimento dos ombros com massagem, não
estará salvando fundamentalmente o outro, podendo, ao contrário, ser alvo de
desprezo e crítica: “Aquela religião serve apenas para curar doenças”. Por isso,
é necessário salvar fundamentalmente o outro, explicando-lhe detalhadamente
as delicadas funções da mente e, quando notar que ele começou a entender
sobre a influência que a mente exerce no corpo (após falar por cerca de uma
hora), deve-se dizer: “Hoje, encerro por aqui. Venha novamente. Até lá, leia
estes livros e me pergunte as dúvidas”, assim recomendando a leitura de A
Verdade da Vida ou A Verdade. Com isso, a pessoa lerá o livro com interesse,
e, conhecendo o que é a Imagem Verdadeira da Vida do homem, despertará
espiritualmente e será salva verdadeiramente.

Deve fazer perguntas


Quando essa pessoa retornar, deve perguntar-lhe:
– Tendo lido aquele livro, encontrou algum ponto que não ficou claro?
Com certeza, houve muitos pontos de difícil compreensão, pois questões
referentes a fenômeno e Imagem Verdadeira são deveras difíceis, impossíveis de
compreender perfeitamente apenas com a leitura de uma parte de um livro. Sendo
assim, é bom perguntar-lhe os pontos obscuros, incentivando a manifestação das
dúvidas. Apesar de a pessoa levar o livro, se retornar sem tê-lo lido, ela não terá
assunto para fazer perguntas. Mas, se o orientador fizer as perguntas, ela não
deixará de ler e encontrará a salvação. Se ainda vier na vez seguinte sem ter lido
o livro, é bom lhe dizer: “Não deixe de ler. Se houver pontos que não compreenda,
vou lhe ensinar na outra vez”, fazendo com que ela traga dúvidas para perguntar.
E, assim, pede-se que compareça repetidas vezes à regional, à academia ou às
reuniões locais. Isso constituirá o caminho para salvar o outro.

Inquirir sobre a situação do lar


Se ainda não ocorrer a cura da doença após a pessoa ler A Verdade
da Vida, se ela não estiver mais ou menos conscientizada de que o homem é
originariamente filho de Deus e não tiver se tornado uma adepta relativamente

52 Manual do Preletor - Doutrinário


fervorosa, é bom perguntar-lhe se não está havendo alguma insatisfação com
a situação do lar ou com as condições do ambiente que a cerca. É preciso,
então, dar-lhe oportunidade para que fale a respeito de assuntos que não pode
se abrir com os outros e depois orientá-la a corrigir seu estado mental, dizendo-
lhe, por exemplo: “Se o senhor resolver este problema desta forma, ficará
curado” ou “Seu temperamento é muito aguçado e correto demais, e o senhor
costuma censurar violentamente os outros, como se estivesse cortando-os. Se
cortar sangra, por isso sofre de doença que vomita sangue”. Se a pessoa sofre
do coração, poderá dizer-lhe: “O coração é o repositório da mente e reage
prontamente às mudanças emocionais. Não está guardando alguma queixa ou
insatisfação em sua mente? Se estiver guardando mágoas, que não pode contar
aos outros, isso se manifesta no coração”. É necessário orientar a pessoa a
corrigir esse estado mental. Há casos em que ocorre a cura só de a pessoa
expor as mágoas que mantinha em segredo.

Se for solicitado para orientar um doente grave, em situação crítica


No caso de um doente em estado grave, o próprio doente não está em
condições de ler livros, e os familiares, abalados, não terão ânimo para efetuar
a leitura para ele. Em tais situações, estará diminuída a “esperança de cura”.
Nesses casos, o preletor solicitado a dar orientação deve perguntar à família
se deseja ou não que o doente seja curado. Em caso afirmativo, realiza-se a
leitura conjunta da sutra sagrada e faz-se a Meditação Shinsokan, almejando
a cura natural. Realizando oração coletiva, ou seja, a Meditação Shinsokan
em grupo, a força mental de muitas pessoas concentra-se num só ponto e
contempla-se a Imagem Verdadeira livre de doença dessa pessoa. Assim
procedendo, há casos em que, misteriosamente, ocorrem curas de doentes em
estado grave. Há muitos exemplos concretos de doenças que foram curadas
através de orações coletivas.
É evidente que a oração de várias pessoas é muito mais poderosa que a
força da oração de uma única pessoa.

Orientar para afastar a mente de preocupação e temor das pessoas próximas


Se as pessoas próximas ao doente estão acometidas de fortes temores,
deve-se proporcionar tranquilidade a elas, explicando-lhes que o estado mental
das pessoas próximas influi no paciente. Deve-se recomendar a elas a afastarem
as preocupações e os temores e a mentalizarem: “A Vida de Deus flui para o
interior do paciente e ele já está saudável”. Se o doente já se encontra inconsciente
ou sem forças para escutar o que lhe dizem, nada adiantaria fazer preleções a ele.
Deve-se, então, explicar a Verdade aos familiares e orientá-los a se manterem
tranquilos, o mais possível. É fundamental que haja uma transformação na mente
dos familiares no sentido de estarem tranquilos e em harmonia com o todo. Se
vários membros da família estiverem convencidos de que nada há que fazer, não

Manual do Preletor - Doutrinário 53


será possível ocorrer a cura, pois isso equivale a mentalizar com a força mental
concentrada: “Esta doença é grave, é grave, é grave”. Conforme o pensamento
mórbido das pessoas ao redor, seu estado se tornará cada vez pior. Portanto, é
preciso tranquilizar a mente das pessoas que cercam o doente.

Dissensões mentais entre parentes consanguíneos provocam o surgimento de


nódulos ou hemorragias no interior da carne
Este caso aconteceu quando o sr. Kakichi Eto, dono da Relojoaria Shomido
de Osaka, ainda vivia. Certo dia, ele recebeu um telefonema de um médico: “Quero
que venha até minha casa”. Estranhando semelhante solicitação de um médico,
perguntou-lhe: “O senhor deseja que eu conserte um relógio?”. Então, o médico lhe
explicou: “Não, não se trata de relógio. Minha filha está com púrpura hemorrágica,
em estado grave. Está sendo cuidada por três especialistas, mas não há nenhuma
perspectiva de recuperação. Falaram-me do senhor, que é da Seicho-No-Ie, e me
aconselharam a receber orientação sua. Por isso, estou pedindo ao senhor que
venha até minha casa”.
O sr. Kakichi Eto atendeu ao pedido, foi ver a jovem, que apresentava manchas
arroxeadas na pele em todo o corpo e o sangue extravasava do interior do corpo. O sr.
Eto, ao observar tal situação do corpo físico, viu que ali estava manifestada a situação
mental de toda a família. Por isso, disse: “Vejo que está havendo uma dissensão
sangrenta entre os familiares”. E prosseguiu, explicando: “A Seicho-No-Ie diz que o
corpo físico é sombra ou símbolo da mente. O estado da mente se manifesta no corpo
carnal. Forma-se um nódulo, ou seja, sarcomas ou carcinomas no interior do corpo
carnal, quando o ‘nódulo’ de ressentimentos mentais entre os membros da família se
manifesta no corpo carnal. No caso desta púrpura, a pele se rompe e o sangue mina
do interior da carne. Isso simboliza que está havendo, entre os familiares, um conflito
mental sangrento. A febre alta é manifestação de atrito mental. Ocorrerá a cura se os
parentes derem fim à dissensão mental e se harmonizarem”.
O diagnóstico psicológico dessa família estava correto. Esse médico, pai
da jovem doente, tinha um irmão que também era médico especialista em cirurgia
digestiva. Eram excelentes médicos, mas estavam em conflito familiar por causa
de questões de herança. O sr. Eto orientou-os dizendo que ocorreria a cura se
houvesse reconciliação e harmonização. Com isso, mesmo a púrpura hemorrágica
em estado crítico foi curada.
Num caso grave como esse, em que poderia ocorrer a morte em 12 horas se
nada fosse feito, não se deve ministrar uma orientação prolongada, pensando que
deva conversar até alcançar a salvação fundamental, explicando pouco a pouco
o que é a Imagem Verdadeira do homem e como atua a força do pensamento. O
orientador deve adaptar livremente o modo de orientar ao momento e ao caso.
Portanto, no caso de haver necessidade de cura rápida, deve apontar diretamente
os erros mentais da família. Após a doença ter sido curada, quando os familiares
estiverem admirados com essa força misteriosa, o orientador deve aproveitar a

54 Manual do Preletor - Doutrinário


oportunidade e convidá-los a se tornarem adeptos e membros da Missão Sagrada
em sinal de gratidão. Se disser: “Não preciso de pagamento ou agradecimento”,
pode demonstrar seu caráter puro e honesto, mas isso fará o outro perder a
chance de conhecer a Verdade, esquecer o sentimento de retribuição e, do ponto
de vista espiritual, estará, pelo contrário, deixando de salvá-lo. Por isso, é preciso
tomar muito cuidado. A cura da doença ocorreu pela força da Verdade e não pela
força do orientador, por isso é melhor não receber pagamento para si, mas deve
fazê-lo tornar-se adepto e membro da Missão Sagrada, para que ele participe do
movimento que faz conhecer a Verdade.
Esse renomado cirurgião se tornou fervoroso adepto da Seicho-No-Ie e, em
casos de cirurgia de pacientes vindos de outros hospitais, em estado grave, ele
procedia da seguinte forma: fazia os familiares do doente comparecerem à sala de
cirurgia, entregava a cada membro da família um exemplar da sutra sagrada Chuva de
Néctar da Verdade, pedindo-lhes que, durante a cirurgia, a lessem silenciosamente,
com toda a dedicação, procurando guardar o significado das frases. Com isso,
doentes, desenganados por outros médicos, se curavam milagrosamente. A técnica
cirúrgica desse médico devia ser excelente, mas isso não é suficiente. Mesmo que a
técnica seja muito boa, o paciente pode vir a falecer se exaurir sua força física. Mas,
se pedir aos parentes, familiares e pessoas circunvizinhas que enviem ao paciente
vibrações mentais de cura infalível, através da leitura da sutra sagrada Chuva de
Néctar da Verdade, mesmo um doente em estado de extrema gravidade pode se
curar. Esses casos podem ser considerados uma forma de oração em grupo.

Na “Revelação Divina da Grande Harmonia” encontra-se o fundamento da cura


de doença
O estado mental fundamental para a cura de doença consiste em pôr em
prática a revelação divina “Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra”,
que está inserida no início da coleção A Verdade da Vida e da sutra sagrada Chuva
de Néctar da Verdade. Portanto, no caso em que a pessoa guarda ressentimento
ou ódio por alguém, há a necessidade de orientá-la a perdoar esse alguém.
Já expliquei, em linhas gerais, sobre essa forma de orientação. Segundo um
relato de experiência apresentado aqui neste curso, a sogra má transformou-se
completamente quando a nora passou a considerá-la manifestação de Kanzeon
Bosatsu (Bodisatva que Reflete os Sons do Mundo), ajudando-a a alcançar a
iluminação, fazendo-lhe aqueles favores em prol de seu aprimoramento espiritual.
Essa sogra obrigava a nora a lavar roupas sujas de fezes que propositadamente
acumulava por três dias.
Portanto, deve-se orientar a pessoa para que consiga agradecer ao outro,
por mais maldoso que pareça ser. Com isso, sua mente sofrerá uma reviravolta, o
sentimento de ódio desaparecerá, mudando para uma mente capaz de agradecer.
Se alguém diz que perdoa o outro, sem eliminar o sentimento de ódio, apesar de
usar a palavra perdoar, na verdade está sendo condescendente, e nesse nível
mental não ocorrerá a verdadeira cura da doença. Em suma, ocorre exatamente

Manual do Preletor - Doutrinário 55


o que está escrito na Revelação Divina da Grande Harmonia: “A reconciliação
verdadeira não é obtida nem pela tolerância nem pela condescendência mútua”.

A tolerância não é reconciliação verdadeira


Penso que são muitas as pessoas que dizem “Eu perdoo você” apenas com
o sentimento de tolerância. Usa-se a palavra perdoar mesmo quando se pensa: “Isto
me provoca raiva, mas vou perdoar e deixar de lhe chamar a atenção”. Entretanto,
isso não é perdoar; nada mais é do que “não chamar a atenção e tolerar”. Como
a tolerância não leva à reconciliação verdadeira, há a necessidade de conduzir a
orientação até que a pessoa passe a sentir gratidão pelo outro. A maldade do outro
é, na verdade, ação misericordiosa de Kanzeon Bosatsu (Bodisatva que Reflete os
Sons do Mundo) manifestada nele, com a finalidade de fazer a pessoa despertar
e aprimorar-se espiritualmente. Esse é o objetivo pelo qual o outro manifesta
essa imagem provisória. É importante que a orientação vise a essa mudança de
pensamento.

Assim como se forja a espada japonesa


É conveniente dar como exemplo a forma utilizada para se forjar a espada
japonesa, orientando a pessoa da seguinte maneira: “Para produzir uma excelente
espada japonesa, inicialmente introduz-se um bloco de aço no fogo, em alta
temperatura. Quando estiver rubro, ele é malhado muitas vezes para ser alongado.
O ambiente de sofrimento em que você vive atualmente corresponde à fase em que
você está sendo introduzido no fogo e submetido aos golpes do malho. Após baixar
a temperatura, coloca-se o bloco de aço no meio do fogo de carvão incandescente
e malha-o repetidamente até tomar a forma de espada. Só com isso, porém, a
espada ainda não brilha. Sua superfície está com as marcas deixadas pelo malho,
tendo o aspecto de uma espada coberta de crosta preta. Se essa barra de aço
coberta por uma crosta preta fosse polida com um esmeril macio e fino, dificilmente
passaria a brilhar. Por isso, inicialmente, é feito o desbastamento com um esmeril
bem áspero. Então, em pouco tempo, a espada começa a brilhar. De modo análogo,
enquanto sua alma estiver ainda imatura e rugosa, só poderá ser polida com um
esmeril bem grosso. Se, porém, atingir estado de maior brandura e delicadeza, o
esmeril também se tornará mais macio. Sua mente está ainda no estágio em que
acabou de adquirir o formato da espada, por ter recebido os golpes do malho. Por
isso, assim como de nada adiantaria em tal situação brunir com um esmeril macio,
aparecem ao seu redor situações ásperas para dar polimento adequado à sua alma.
Para isso é que Kanzeon Bosatsu (Bodisatva que Reflete os Sons do Mundo) se
manifesta em uma de suas 33 formas, através das pessoas que o rodeiam”. Dessa
forma, é necessário orientar a pessoa para que ela consiga agradecer, assumindo
atitude receptiva: “Oh! Obrigada. A misericórdia daquela pessoa faz tudo isso para
me orientar. Obrigada!”.

56 Manual do Preletor - Doutrinário


Contar casos de cura de graves doenças por suscitar sentimento de gratidão
A doença será curada quando a pessoa que recebeu a orientação passar a ter
sentimento profundo de gratidão. Para isso, é aconselhável contar-lhe muitos casos
de pessoas que se curaram de doenças por terem agradecido. Isso ajudará muito a
pessoa a ter disposição para agradecer. É bom apresentar o seguinte exemplo:
Na ocasião em que realizei um Grande Seminário em Nara, o preletor Hatsuzo
Hirano passou por várias localidades dessa província fazendo palestras preparató-
rias ao seminário. O sr. Haruo Yukawa, da província de Nara, ouviu uma palestra do
preletor Hatsuzo Hirano, ficou admirado e passou a acompanhá-lo para ouvir todas
as outras palestras realizadas em diversos locais. O sr. Yukawa havia participado,
na Primeira Guerra Mundial, de uma batalha na ilha de Chintao, que era possessão
alemã. Nessa batalha, estilhaços de uma bomba inimiga atingiram os dedos da sua
mão esquerda, e as falanges dos dedos ficaram totalmente descobertas. Graças aos
pedaços de carne remanescentes em alguns pontos, os dedos não se desprende-
ram, mas, como não havia pele recobrindo, não se podia nem ao menos distinguir
as faces dorsal e frontal dos mesmos. Porém, graças aos curativos recebidos, ocor-
reu a cura, mas formou-se uma pele semelhante a queloides das queimaduras. Por
causa desse tecido cicatricial que repuxava os dedos, os cinco dedos perderam a
mobilidade. Durante mais de trinta anos eles não dobravam nem um pouco. Devido
ao sofrível aspecto daqueles dedos repuxados, o sr. Yukawa sempre usava uma luva
branca naquela mão. Ao ouvir a palestra do preletor Hatsuzo Hirano, o sr. Yukawa
comoveu-se bastante. Logo que terminou a conferência, o preletor Hirano disse que
daria orientação pessoal àqueles que quisessem curar suas doenças. Muitas pesso-
as foram se apresentando para receber orientação. O sr. Haruo Yukawa ficou o tem-
po todo ao lado, ouvindo as orientações. A certa altura, o preletor Hirano disse: “Falta
em você o sentimento de gratidão. Diga obrigado em voz alta, 10 mil vezes por dia.
Então, seguramente você se curará!”. O sr. Yukawa, que ouvia isso de perto, pon-
derou: “Ah! Em mim também faltou o sentimento de gratidão”. Decidiu dizer, em voz
alta, “obrigado”, 10 mil vezes por dia, colocando um traço num caderninho a cada
“obrigado” que pronunciava, formando o ideograma 正, como se faz na apuração dos
votos de uma eleição. Cada ideograma representava cinco “obrigados” pronuncia-
dos. Então, até por volta do meio-dia, pôde pronunciar cerca de 5 mil vezes. Depois,
na parte da tarde até o jantar, pronunciou cerca de 4 mil vezes, totalizando cerca
de 9 mil vezes. Estava confiante que as restantes mil vezes ele poderia pronunciar
mesmo deitado. Ao deitar, colocou as mãos em posição de oração, mesmo com os
dedos da mão esquerda imobilizados, e passou a pronunciar “obrigado, obrigado”,
no próprio leito. Então, começou a sentir um latejamento nos dedos que estavam
imobilizados há mais de 30 anos e, sem querer, fechou as mãos. Assustado, ele
abriu e fechou as mãos e constatou que a mão esquerda mexia perfeitamente. Foi
uma cura realmente misteriosa e milagrosa.
A musculatura, de um modo geral, perde a força de contrair se for deixada
sem atividade por um mês. É a chamada “atrofia de desuso”. Com muito mais ra-
zão, não há como explicar que os dedos do sr. Yukawa, que estiveram imobilizados

Manual do Preletor - Doutrinário 57


e sem uso durante mais de 30 anos, voltassem a se mover repentinamente, sem
treinamento algum. Se uma pessoa que tenha sofrido, por exemplo, uma cirurgia
permanecer em repouso absoluto por um mês, sem mexer as mãos, recebendo ali-
mentação pelas mãos de alguém, terá dificuldade para levantar a cabeça quando for
colocada sentada. Ocorre isso porque os músculos do dorso, que puxam o pescoço
para cima, estiveram inativos durante um mês, houve o definhamento da força mus-
cular e foi perdida a capacidade de levantar a cabeça. Com muito mais razão, não
se compreende que haja força para dobrar os dedos numa musculatura que esteve
sem uso por mais de 30 anos. Entretanto, os dedos daquele senhor dobraram per-
feitamente. Para fazer surgir na pessoa o sentimento de gratidão é bom apresentar
casos concretos como esse em que houve cura através do agradecimento.

Fazer suscitar o sentimento de gratidão falando sobre as “bênçãos do Universo”


Como vimos, o fato de pronunciar “obrigado, obrigado” faz surgir, através do
poder da palavra, o sentimento de gratidão. Deve-se orientar a pessoa a mentalizar
com verdadeiro sentimento de gratidão, e não simplesmente pronunciando a
palavra “obrigado”, num ato mecânico. Para isso, é necessário que a conduza
a perceber as bênçãos do Universo, que costumam passar despercebidas. Para
conduzir as pessoas a perceberem as bênçãos do Universo, é bom falar sobre as
bênçãos do ar e do Sol.

Falar das bênçãos do ar e do Sol


Não criamos o ar. O ar não é propriedade nossa. Se esse ar nos faltar por
cinco minutos, todos os homens morrerão. É tão valioso, mas o recebemos de Deus
de modo gracioso e infinito. Nem pagamos uma taxa de consumo. Ele é um fato
pelo qual devemos sentir imensa gratidão. E, se não houvesse a luz do Sol, tudo
se tornaria gélido, nosso corpo se transformaria em gelo e, perdendo a mobilidade,
morreríamos todos. O Sol está nos enviando essa valiosa luz e calor, e estamos
recebendo-os sem pagar um tostão sequer. Isso é realmente uma bênção do Univer-
so, bênção de Deus. Entretanto, nem uma vez sequer havíamos agradecido a eles.

Falar sobre as bênçãos da água


Consideremos, agora, o caso da água. Se deixarmos de tomar água durante
uma semana, acabaremos morrendo. E também, se não houver água, não se poderá
lavar roupa, as plantas secarão e extinguir-se-ão nossos alimentos. Teríamos uma
situação caótica. Todavia, se estamos providos inesgotavelmente dessa valiosa água
é porque ela é uma bênção do Universo, é bênção de Deus. Pagamos a taxa de
consumo da água da torneira, porém, isso nada mais é que despesa correspondente
aos gastos com o tratamento da água e as instalações necessárias à distribuição da
mesma. A água, propriamente dita, não necessita ser produzida pelo homem, pois
ela é recebida do Universo. É natural que agradeçamos a essa bênção.
Falar a respeito das bênçãos do vestuário

58 Manual do Preletor - Doutrinário


Pensemos a respeito do vestuário. A roupa que vestimos é também bênção
do Universo. Há roupas feitas de algodão natural, de lã de carneiro ou de fios
sintéticos, mas a matéria-prima fundamental é a bênção do Universo, que não
foi produzida pelo homem. O que dispõe a matéria-prima no formato de roupa é
o engenho do homem, mas a maioria das pessoas não tece o pano, tampouco
costura sua vestimenta. Até que ela chegue às nossas mãos como vestimenta,
já houve a soma de diversos trabalhos de operários que atuaram no plantio, na
colheita, no transporte e na fabricação têxtil do algodão. As bênçãos desses seres
vivos é que vão se somando seguidamente e nos vestem. Se considerarmos esses
aspectos, é natural que não consigamos deixar de agradecer.

Falar a respeito das bênçãos da moradia


A moradia também é algo realmente digno de gratidão, pois a maioria das
pessoas se abriga da chuva e do vento morando em casas que não foram construídas
por elas próprias. Ao orientar uma pessoa, para que esta crie o sentimento de
gratidão, é aconselhável conduzi-la no sentido de fazer com que ela sinta gratidão
espontaneamente, enumerando-lhe as bênçãos da natureza ou bênçãos dos seres
vivos. Há pessoas que se julgam pobres porque nada herdaram dos pais, porém,
se pensarem, por exemplo, no globo ocular, poderão considerá-lo realmente uma
bênção maravilhosa.

Falar sobre a bênção dos olhos


Como existem dois globos oculares, se alguém pedir a uma pessoa que
lhe venda um deles por um milhão de ienes, dificilmente essa pessoa concorda-
rá em vender. Evidentemente, um globo ocular vale muito mais que um milhão
de ienes. Ele tem uma estrutura maravilhosa. Pode-se dizer que é um televisor
colorido portátil. Desde o nascimento, estamos providos de dois televisores co-
loridos portáteis. Os pesados televisores coloridos de 21 polegadas custam 520
mil ienes e os de 17 polegadas 420 mil ienes. Então, esses televisores coloridos,
ou melhor, os nossos olhos, que recebemos de Deus, são bem superiores. Não
têm aquele peso enorme e podem ser levados a qualquer lugar. Além disso, no
televisor colorido a imagem só aparece no tamanho correspondente ao aparelho,
mas os olhos recebidos de Deus captam todos os tamanhos de imagem. Têm for-
mato diminuto, mas captam tudo, por maior que seja o objeto visualizado. Temos
a bênção de estarmos equipados com duas unidades desse excelente televisor
colorido. São artigos valiosíssimos, cujo preço não podemos avaliar, nem por
milhões de ienes.

Falar sobre as bênçãos dos ouvidos


Nossos ouvidos são como um aparelho de rádio portátil. Se alguém lhe
propuser: “Você não precisa vender o interior do ouvido, mas pode me vender pelo
menos o lóbulo da orelha por um milhão de ienes?”, não gostaria de vender, não é

Manual do Preletor - Doutrinário 59


mesmo? Então, apenas o lóbulo da orelha vale mais que um milhão de ienes.
Mesmo o nariz, que necessita apenas de que as narinas estejam abertas e
permitam a respiração, se alguém lhe pedir: “Venda-me um pedaço da ponta do seu
nariz”, você não se disporá a vender, não é mesmo? Se pensamos sobre isso e con-
tabilizamos o valor de cada parte do nosso corpo carnal, nós nos tornamos imediata-
mente arquimilionários. Se considerarmos que herdamos de nossos pais coisas de
valor tão elevado, devemos perceber que constitui grave erro não agradecer aos pais.
Falando pacientemente sobre esses fatos, devemos suscitar na pessoa
o sentimento de gratidão, orientando-a, até que se torne capaz de agradecer
sinceramente “Muito obrigado!”. Sugiro a leitura do livro Convite à Felicidade, onde
encontrarão assuntos semelhantes.

Caso de cura de rigidez generalizada do corpo através do agradecimento


Neste livro, encontra-se o caso de cura orientado pelo preletor Katsuichi
Fujita, de Wakayama. Um senhor, cujo corpo apresentava rigidez generalizada,
estava totalmente imobilizado. O preletor Fujita orientou dizendo-lhe que pronun-
ciasse 10 mil vezes a palavra “obrigado”. Porém, como ele estava com as mãos
rígidas, não podia contar nos dedos nem fazê-lo escrevendo. Os olhos podiam
ver, e, olhando para o teto, ele percebeu que as tábuas do forro tinham veios.
Ele contou um a um esses veios, pronunciando “obrigado, obrigado”. Marcou que
de determinado veio para outro completava 100 vezes “obrigado”, e desse para
outro, 200. Então calculou quantas repetições eram necessárias para perfazer
as 10 mil vezes. Nisso, uma criancinha, certamente seu neto, apanhou um caqui
e colocou-o sobre o seu peito, dizendo: “Vovô, trouxe-lhe este caqui, coma!”. Ele
estava contando os veios da tábua do teto, pronunciando “obrigado, obrigado”,
e o poder dessa palavra havia criado uma situação propícia para suscitar-lhe o
sentimento de gratidão. Nesse momento, em que o neto lhe trouxe o caqui, sur-
giu nele um indefinível sentimento de gratidão, que lhe deu vontade de juntar as
mãos e agradecer: “Muito obrigado”. Então, os braços, que estavam rígidos como
uma estaca de carvalho, moveram-se espontaneamente, e ele pôde realmente
juntar as palmas das mãos. A partir desse momento a rigidez generalizada se
desfez e ele recuperou os movimentos.

O corpo carnal é onde se manifestam simbolicamente os pensamentos da pessoa


Como acabamos de ver, o importante é conduzir a pessoa a ter sentimento
de gratidão. Ao orientar um doente para a cura, é fundamental fazer com que ele
transforme em gratidão o sentimento de ira ou de ódio, perdoando as pessoas.
Assim, deve-se fazer com que ele se arrependa profundamente do pensamento
errado de até então e peça perdão, do fundo da alma. “Perdão”, “obrigado” – a
doença é curada por meio desses dois sentimentos.

Livrar dos sentimentos de ódio e de inveja

60 Manual do Preletor - Doutrinário


Visto que o pensamento ideado na mente se manifesta simbolicamente no
corpo físico, a pessoa se tornará sadia se tiver pensamento sadio, porque esse
pensamento fará com que as células se disponham corretamente, de modo sadio.
Porém, uma mente doentia, um pensamento doentio, um sentimento mórbido,
disporão as células em forma de imagem doentia e provocarão, além disso,
uma alteração química nas moléculas que estruturam a célula, resultando num
corpo doente. Para ocorrer a cura, é preciso que o doente abandone essa mente
errada. Entretanto, não conseguirá eliminar esse pensamento doentio se continuar
mantendo ódio em relação a alguém, achando que o outro é que está errado e
que o natural é guardar ressentimento. Dessa forma, a doença não desaparecerá
porque não foi eliminada a mente que faz surgir a doença.
Para orientar de modo que ocorra a cura, há necessidade de conduzir a
pessoa até a eliminação completa da mente de ódio ou de ira, arrependendo-se
através do sentimento “Estava errada ao pensar daquela forma, perdão, perdão”.
A sra. Umeko Hishikari fez seu relato de experiência dizendo que ocorreu a
cura de seu câncer uterino quando passou a ter o seguinte sentimento: “Apesar de
eu ter essa mente negativa, meu marido tem me tratado com tanta bondade. Seria
natural que ele desejasse o divórcio, mas me conservou ao seu lado, como esposa.
Oh! Como me sinto arrependida. Obrigada, obrigada. Perdoe-me, obrigada!”.
“Perdoe-me” e “Obrigado” constituem o nyoihoju (alma que manifesta tudo
conforme a nossa vontade). O sentimento “Perdoe-me” corresponde a Shiohiru-no-
tama, que faz desaparecer o que houve de ruim. Em seguida, torna-se necessário
o espírito que agradece: “Muito obrigado”, que corresponde a Shiomitsu-no-tama,
que traz tudo que deseja. Suscitar a mente de gratidão: “Obrigado”, corresponde a
criar ativamente vibrações mentais que captam as vibrações curadoras (vibrações
salvadoras) de Deus. Como consequência, a doença será curada em grande parte.
Porém, é necessário mais um fator, ou seja, o oferecimento de leitura da sutra
sagrada Chuva de Néctar da Verdade aos antepassados. Vejamos o porquê disso.

Passamento deste mundo e nascimento no mundo espiritual


Quando a alma vai para o mundo espiritual despindo o corpo carnal,
para nós, que moramos neste mundo, é um acontecimento triste, pois houve o
passamento de uma pessoa. Mas, pelo lado do mundo espiritual, é considerado a
data provável do parto no mundo espiritual e os espíritos dos antepassados ficam
na expectativa de receber o ente que nascerá no mundo espiritual. Entretanto, se
essa alma não tiver alcançado a iluminação e pensar: “O homem é o corpo carnal
e, se este desaparecer, não haverá mais nada”, ela ficará apegada ao corpo carnal
e, mesmo chegando a data provável do nascimento, não atravessará normalmente
o “canal do parto” que a conduz ao mundo espiritual, ocorrendo um parto difícil,
que constitui a chamada agonia final. Se essa agonia for intensa demais, a alma
sofrerá uma comoção e nascerá no mundo espiritual em estado de inconsciência.
Enquanto permanece inconsciente no mundo espiritual, seu corpo carnal recebe o

Manual do Preletor - Doutrinário 61


nome budista póstumo8 e é cremado. E o monge lê a sutra e ora por ela. Porém, a
alma que está inconsciente no mundo espiritual não sabe o que se passou. Após
algum tempo, que pode ser breve ou longo, a alma acorda. Todavia, ela desconhece
o fato de que o cadáver foi cremado e que houve o funeral em que lhe foi dado o
nome budista póstumo. Por isso, quando vê algo ao seu redor, pensa: “Oh, estou
vivo!”. Então, começa a lhe aflorar a lembrança do que aconteceu antes de entrar
no estado de inconsciência e pensa: “Oh, como foram horríveis as dores no coração
que senti há pouco!”. Então, apesar de já não possuir o coração do corpo carnal,
que foi incinerado no crematório, passa a sofrer do coração que ainda existe na
sua consciência. O mundo espiritual é um mundo em que a projeção da mente
se processa rapidamente, podendo levar a sofrimentos, assim como está escrito
na sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade: “espíritos que não têm coração
e sofrem de doença cardíaca”. Dessa forma, no mundo espiritual existem almas
sofrendo de doenças cardíacas, de doenças pulmonares, de doenças gástricas ou
de diversas outras doenças. Por isso, dentre os espíritos de nossos antepassados
há muitos que estão ainda padecendo de doenças.

Espíritos que continuam doentes e sofrendo no mundo espiritual


Mesmo que uma pessoa esteja na Seicho-No-Ie há mais de 20 anos e
tenha dedicado aos antepassados a leitura da sutra sagrada, pode haver algum
antepassado que esteja sofrendo por causa de pensamentos doentios, por ter
recobrado a consciência somente há pouco tempo e não estar ainda usufruindo
as bênçãos da sutra sagrada. Então, ele volta a lembrar da doença que padecera
enquanto vivia na Terra e sofre com a conscientização da doença. E essa alma
pensa: “Por que o médico não vem me ver?”, e chama desesperadamente o nome
de parentes ou de pessoas da família. Com isso, a vibração mental doentia é
transmitida às pessoas da família ou a parentes deste mundo, sendo captada
instantaneamente por quem entrar em sintonia. Assim, sendo transmitida do
mundo espiritual uma doença que não é da própria pessoa, esta pode manifestar a
doença, como um televisor que capta as imagens emitidas pela emissora.

A necessidade de ler a sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade e como ler


No caso de haver alguém que esteja assim manifestando uma doença,
é preciso dissolver a ilusão dessa alma que mantém ondas mentais da doença,
oferecendo-lhe a leitura da sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade.
Entretanto, é um erro considerar que todas as doenças, sem exceção,
são causadas pela captação de ondas mentais de espíritos que estão em ilusão.
Mesmo que não haja necessariamente a influência do mundo espiritual, são
muitos os casos de pessoas que adoecem devido ao erro da mente delas mesmas.
Portanto, o orientador não deve dizer indiscriminadamente: “Basta oferecer a
leitura da sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade aos antepassados que será

8
No budismo, a pessoa falecida recebe um novo nome, por ter nascido no mundo espiritual.

62 Manual do Preletor - Doutrinário


curado”. Todavia, sendo grande o número de espíritos dos antepassados, há, entre
eles, aqueles que, tendo recobrado a consciência recentemente, sofrem porque o
pensamento doentio não desapareceu. Por isso, o doente deve ser incentivado a
ler a sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade para os antepassados, não com
o intuito de curar doenças, mas para agradecer aos espíritos dos antepassados,
com o sentimento: “Sinto muito não ter agradecido até agora aos antepassados,
por isso vou oferecer-lhes a leitura da sutra sagrada em sinal de gratidão”. Se
for lido com a intenção de apenas agradecer aos antepassados, a proporção de
cura será maior.
Quando se lê a sutra sagrada com a intenção de curar a doença, após cada
leitura, a pessoa se pergunta: “Em que grau já se processou a cura?”. Vendo que
os sintomas ainda não desapareceram, decepciona-se pensando: “Não se curou
ainda”. No dia seguinte, lerá novamente e, vendo a doença, pensará novamente:
“Não foi curada ainda”. E assim mentaliza repetidamente: “Não foi curada, não
foi curada ainda”. Se assim considera existente a doença visível aos sentidos e
acumula o pensamento “A doença existe, existe”, segundo o princípio “Manifesta-
se aquilo que se pensa”, ao invés de fazer desaparecer a doença, estará criando-a
novamente com o próprio pensamento. Por isso, deve-se orientar com o seguinte
sentido: “Não leia a sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade pensando em curar
a doença. Apenas suscite sentimento de gratidão em relação aos antepassados. É
a gratidão que cura a doença. Como uma das formas de manifestar gratidão, leia a
Chuva de Néctar da Verdade e demais sutras para os antepassados”. Ocorrerá a
cura da doença quando essa prática de gratidão se tornar efetiva.
Os espíritos dos antepassados não se desenvolvem comendo alimentos
materiais. Eles adquirem poder sobrenatural no mundo espiritual, ou seja, aumentam
sua força espiritual, absorvendo as vibrações mentais da Verdade que lhes são
transmitidas. Ocorre assim o “crescimento do espírito”. Não se obtém esse crescimento
por meio de alimentos materiais, mas recebendo a transmissão das palavras da
Verdade. O desejo natural dos antepassados é proteger os descendentes, fazê-los
prosperar e torná-los saudáveis. Sendo assim, basta procurar facilitar o crescimento
da força sobrenatural dos antepassados, o que fará com que aumente a proteção
deles sobre os descendentes, que passarão a ser protegidos em todos os sentidos,
ocorrendo naturalmente a cura de doenças. Essa é a razão porque se aconselha a
leitura da sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade. A cura não ocorre pelo simples
fato de ler a sutra sagrada. A leitura da sutra sagrada constitui um ato de gratidão aos
antepassados, que, ao absorverem a Verdade explicada na sutra sagrada Chuva
de Néctar da Verdade, terão aumentada a sua força sobrenatural e conseguirão dar
suficiente pro­te­ção aos descendentes. Em consequência, a doença será curada.
Então, é um equívoco deixar de ler a sutra porque houve a cura da doença. Melhor
será que os espíritos dos antepassados se elevem cada vez mais. Portanto, deixar
de oferecer-lhes a leitura da sutra porque já leu muito, demonstra falta de gratidão.
A quantidade de leitura da sutra necessária para obter-se a cura depende
do estado mental da pessoa que lê, da intensidade das vibrações espirituais vindas

Manual do Preletor - Doutrinário 63


dos antepassados ou de a quantidade cármica ser maior ou menor. Relaciona-se
também com a qualidade do estado mental dos antepassados. Existem casos em
que ocorre a cura com uma leitura e outros em que se requerem vários meses.
O caso orientado pelo sr. Seiichi Taguchi era o de um surdo-mudo de nascença,
que morava na cidade de Yamato, na província de Yokohama. Ele orientou, dizendo:
“Uma deficiência física ou uma doença de nascença são manifestações em forma
visível dos carmas dos antepassados ou do carma da vida anterior do próprio
indivíduo. Por isso, leia a Chuva de Néctar da Verdade”. A mãe desse deficiente
auditivo leu, diariamente, durante seis meses, a sutra sagrada diante do oratório
dedicado aos espíritos dos antepassados e houve a cura. Se, nesse caso, a mãe
tivesse abandonado a leitura por não ocorrer a cura em três meses de leitura, não teria
obtido a cura porque precisaria de seis meses de leitura. Esse foi um caso em que se
completou a graça e ocorreu a cura em seis meses de leitura. Portanto, não se pode
determinar arbitrariamente, dizendo “Basta ler durante tantos meses”. Com muito mais
razão, a gratidão aos antepassados deve ser praticada permanentemente e não se
pode estabelecer: “Basta ler durante tantos meses para curar a doença; se ocorrer
a cura, pode abandonar”. São aspectos importantes a serem observados ao orientar
uma pessoa. Para conhecer melhor a questão da gratidão aos antepassados, peço
que leiam atentamente o livro Melhore seu Destino Orando pelos Antepassados.
Há casos em que é recomendável apontar os erros da mente que estão
provocando a doença em determinada parte do corpo. Creio que terei oportunidade
de explicar pormenorizadamente a respeito dessa questão, mas, se der muita
ênfase aos erros da mente, faz-se com que haja apego demasiado ao aspecto
fenomênico e pode, pelo contrário, prejudicar a pessoa. Dizer que a doença é
projeção da mente é uma Verdade, porém, como consta na sutra Dharmamitra,
a orientação suprema consiste em fazer despertar para o fato de que a mente
também não existe.

Diante do perigo da guerra nuclear


Falei bastante a respeito dos cuidados a serem observados no caso de curar
doenças, mas de nada adiantará ter livrado as pessoas de doenças se, devido às
grandes transformações que o mundo está passando, for deflagrada uma guerra
nuclear, aniquilando grande parte da humanidade. Essa é a razão pela qual os
orientadores da Seicho-No-Ie não podem se dedicar somente à cura de doenças.
É preciso pensar em fazer perdurar por longo tempo a paz mundial. Por isso,
nós todos devemos orar, para que a paz mundial seja mantida por longo tempo,
cessando a Guerra Fria travada entre os EUA, a URSS e a China, para que se
deem as mãos fraternalmente, e assim evitar a catástrofe de uma guerra nuclear.
Devemos concentrar nossos esforços no movimento que faz transformar em ondas
mentais pacíficas as ondas mentais de dissensão e de guerra que encobrem quase
que totalmente o mundo atual. Só seremos salvos do perigo da guerra nuclear se
incrementarmos ao máximo o número de participantes deste movimento espiritual

64 Manual do Preletor - Doutrinário


para a paz (movimento de oração pela paz). Portanto, não podemos permitir que
as pessoas que foram salvas de doenças se afastem de nosso grupo, como se
estivessem deixando o hospital após receber alta. Então, quando alguém se curar
de doenças, devemos, impreterivelmente, solicitar-lhe que se torne um adepto,
em sinal de gratidão, inscrevendo-o como membro da Missão Sagrada, para que
assim seja um participante do nosso movimento para a paz. Entre os dirigentes da
Seicho-No-Ie, especialmente entre os jovens, há aqueles de espírito puro e ativo
que dizem: “Não estamos em época que é possível ficar calmamente curando
doenças. Precisamos nos dedicar integralmente à causa da paz mundial”. Porém,
quem está padecendo de doença não se tornará nosso aliado se não o curarmos.
Além disso, não podemos dizer: “Doença? Deixe pra lá!”. Se encontrarmos um
doente, vamos curar-lhe a doença, mas também torná-lo um adepto que atuará no
movimento em prol da paz mundial.

Causa psicológica das doenças oculares


O fundamento da cura de doença está na conscientização da Verdade vertical:
“O homem é filho de Deus; a doença é originalmente inexistente”. Porém, esse filho de
Deus adoece em razão da Verdade horizontal: “O corpo carnal é projeção da mente”.
A seguir, falarei a respeito das doenças que cada tipo de projeção mental
manifesta. Vejamos o que simbolizam as doenças dos olhos, localizados um
pouco abaixo. Em Tóquio, não sei como é dito, mas, na região de Kansai, usa-se
a expressão “Buda dos olhos” referindo-se à pupila. Nossas palavras expressam
naturalmente a essência interior das coisas e fatos. Por isso, os cabelos (kami, em
japonês, que significa também Deus e cima) representam aquilo que se relaciona
com os superiores, pois se localizam na parte superior da cabeça. A razão de
denominarmos a pupila de “Buda dos olhos” deve-se ao fato de estar representando,
através de palavras nascidas naturalmente, o que a pupila simboliza. Quando
surge uma mancha em forma de estrela nos olhos, diz-se que “Buda dos olhos está
toldado pela nuvem”. Isso porque se diz que a mente está nublada, referindo-se ao
fato de o espírito do antepassado, isto é, de Buda, estar em ilusão ou entristecido.
Se as vibrações da ilusão do espírito de um antepassado forem captadas por
uma criança, esta adquire uma doença em que os olhos ficam embaçados ou
incapacitados de ver. Os olhos são órgãos destinados a ver a luz. Luz é símbolo
da bênção de Deus. Não existe ser humano que tenha acendido a luz do Sol. É a
Vida da natureza, isto é, a bênção de Deus que nos faz ver tudo. Portanto, o fato
de podermos ver os objetos significa que estamos recebendo a bênção de Deus. A
pessoa cujo coração não recebe com sinceridade essa bênção de Deus, ou seja, a
pessoa que não possui o sentimento de gratidão passa a não enxergar.
Em Osaka, havia uma pessoa chamada Yoshinosuke Shikaura, que era dono
de uma loja atacadista de perfumes. Esse caso foi apresentado no livro Shinyu e
no Michi (Caminho para a Cura Divina), de minha autoria. Apresento-o aqui por
ser um caso verídico muito apropriado para explicar o princípio do adoecimento

Manual do Preletor - Doutrinário 65


e da cura dos olhos. Essa pessoa foi examinada pelo chefe de Oftalmologia da
Faculdade de Medicina de Osaka, por estar sofrendo gradual enfraquecimento
de sua capacidade visual. Então, assim disseram-lhe, atenciosamente: “É um tipo
de catarata. Na medicina atual não há absolutamente nenhum método de cura.
Dentro de um ano, a sua capacidade visual irá definhar gradualmente, até perdê-la
totalmente. É melhor se preparar desde já para o momento em que tiver perdido
a visão”. O sr. Shikaura entendeu que sua doença era muito séria e só de pensar:
“Agora, a visão está diminuída e preciso recorrer a uma lente para ler as letras do
jornal, mas de alguma forma ainda enxergo. Daqui a um ano estarei absolutamente
cego. É insuportável viver pensando, desde já, na vida de absoluta escuridão que
terei de levar”, teve um esgotamento nervoso e não conseguia mais dormir. Ao
sofrimento da insônia acrescentou-se o temor de ficar cego, e a cabeça começou
a doer violentamente. Era um sofrimento verdadeiramente infernal. Chegou até a
pensar: “Médico desumano! Porque ele falou aquela besteira, eu tenho de sofrer
desse jeito. Quero matá-lo e suicidar-me”.
Quando foi realizada minha conferência no Centro Cívico de Osaka, o sr.
Shikaura foi levado por alguém e ouviu minha palestra. Então, falei a respeito da
Revelação Divina que diz “Reconcilia-te com todas as coisas do céu e da terra”.
Eu disse: “Aquele que se reconcilia com todas as coisas do céu e da terra não
é ferido por coisa alguma. Se uma pessoa é ferida por alguma coisa é porque
não está reconciliada com todas as coisas do Universo”. Quando ouviu isso, ele
se sentiu profundamente emocionado. O sr. Shikaura percebeu: “Eu não estava
reconciliado com todas as coisas do céu e da terra. Mesmo agradecendo a Deus,
aquele que não agradece ao pai e à mãe não está em conformidade com o coração
de Deus. Eu não estava agradecendo a meus pais. Por isso é que estou perdendo
a capacidade de ver a luz do céu e da terra”.
O pai do sr. Shikaura era uma pessoa extraordinariamente esquisita. Segundo
o que ele me contou no recinto da conferência, seu pai tinha uma longa barba, que
atingia mais ou menos a altura do peito. O fato de ter essa barba não caracteriza
esquisitice, mas ele a envolvia com uma espécie de bainha confeccionada com um
tecido de fios de ouro. E para impedir que a bainha caísse, prendia-a lateralmente
com dois barbantes e amarrava no topo da cabeça. Por isso, a mãe do sr. Shikaura
dizia ao marido: “Querido, por favor, retire essa bainha da barba. Se você andar
na rua desse jeito ficaremos envergonhados e não poderemos sair à rua”. Então,
ele retrucava: “Se não podem sair, deixem de sair, ora essa! Que mal existe em eu
colocar na barba, que é minha, uma bainha que eu confeccionei?”. Dessa forma, seu
pai respondia enfaticamente, dizendo “eu... eu...”, tal era a intensidade do seu ego.
Além disso, ele instalou sua lápide tumular em seu jardim, num local visível
frontalmente por uma visita que porventura se sentasse na sala. E, se a mãe
dissesse: “Querido, se você apronta uma coisa dessa, quando vier uma visita, nós
nos sentiremos muito envergonhados”, ele responderia: “Por que sentir vergonha?
Que mal existe em eu construir a minha lápide tumular no jardim da minha casa?”.
Era um pai deveras esquisito e teimoso, por isso a mãe, entristecida,

66 Manual do Preletor - Doutrinário


derramava suas queixas sobre seu filho Yoshinosuke. De sua parte, o sr.
Yoshinosuke, segundo suas palavras, chegara a pensar: “Que velho genioso e
teimoso. Só porque você existe, mamãe tem de sofrer tanto. Não será melhor
acabar com isso de uma vez, apunhalando esse velho e me matando também?”.
Entretanto, seu sentimento se transformou e ele entendeu o seguinte: “A
imagem das pessoas que surgem ao meu redor é projeção da minha mente. Eu
pensava que meu pai era intransigente, teimoso, mas na verdade eu é que era
intransigente e teimoso. Se aquele oftalmologista me falou que eu perderia a visão
daqui a um ano e que seria bom preparar-me para essa eventualidade, aprendendo,
por exemplo, massagem, ele me avisou com bondade e amor. No entanto, eu,
movido por um sentimentalismo unilateral, dotado de uma vontade intransigente
que se rebela contra os atos de bondade dos outros, cheguei a pensar: ‘Tenho
vontade de matá-lo, pois ele disse coisas desnecessárias e agora estou sofrendo
dessa forma’. O teimoso, o intransigente não era meu pai, era eu”.
Então, o sr. Yoshinosuke Shikaura, sentado em sua casa em Osaka, virou-
se em direção à casa de seu pai, que se localizava na província de Hyogo, orou
de mãos postas, visualizando no fundo das pálpebras a imagem de seu pai, e
lhe pediu perdão: “Eu estive errado até agora. Pensava que o senhor, papai, era
intransigente e teimoso. Porém, na verdade, eu é que era intransigente e teimoso.
A culpa era minha. Perdoe-me!”. Então, sem entender como nem quando, a bainha
da barba de seu pai desapareceu, como também a lápide tumular do jardim foi
mudada de lugar. Assim normalizou-se a vida com seu pai e ficou claro para o sr.
Shikaura que “de fato, aquilo era projeção da minha mente. Eu era o culpado”. E,
desaparecendo a intransigência e a teimosia dele, seus olhos, que tinham sido
considerados incuráveis pelo médico, pois em um ano perderiam totalmente a
capacidade visual, curaram-se e ele se tornou capaz de ver perfeitamente. Além
disso, curou-se também da miopia de dois graus que sofria antes de ter catarata e
que o obrigava a usar óculos. Ele me agradeceu dizendo que não precisava mais
usar óculos.
Esse é um exemplo concreto de recuperação da capacidade visual de uma
pessoa que sofria da visão porque sua mente não via a luz, mas que se dispôs a vê-la.

Catarata e o ato de orar pelos antepassados


Nesse caso, houve a recuperação da capacidade visual porque sua mente
passou a ver a luz (benefício) do pai. Há, porém, muitos exemplos de cura de
catarata ao passar a realizar orações aos antepassados por meio da leitura da
sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade em sinal de gratidão. A cura ocorre
porque a mente vê a luz (benefício) dos antepassados.
Certa ocasião, por exemplo, realizou-se uma reunião de leitores em minha
casa e, devido à grande afluência de pessoas, não pude permanecer na sala.
Sentei-me numa cadeira, na varanda, voltado para o interior da sala. Então, uma
pessoa, em traje japonês, que estava sentada logo diante de mim, olhando-me no
rosto de baixo para cima, disse:

Manual do Preletor - Doutrinário 67


– Professor, eu tenho catarata. Só consigo ver vagamente os contornos do
seu rosto, que se apresentam como uma sombra escura. Professor, como deve
ficar minha mente para que isso seja curado?
– Reverencie os budas, lendo a sutra sagrada Chuva de Néctar da Verdade
diante do oratório – assim respondi.
– Professor, sou monge do Templo Tenno, de Osaka. Portanto, meu ofício é
prestar culto aos budas e reverenciá-los. A que tipo de buda devo cultuar?
– Os budas a que me refiro são seus antepassados.
– Ah!... Antepassados. Muitas famílias confiam a mim as tabuletas memoriais,
por isso tenho orado pelos antepassados dos outros, mas não para os meus próprios.
– Casa de ferreiro, espeto de pau, é isso? – disse-lhe, rindo.
Há monges budistas que interpretam a não existência do ego, pregada pelo
budismo, como sendo a inexistência de uma substância no ego. Sendo assim, não
existirá alma após a morte do corpo carnal. Por essa razão, não veem necessidade
de orar pelas almas. Então, esse monge orava profissionalmente diante das
tabuletas memoriais dos antepassados dos fiéis, mas não estava orando pelos
seus próprios antepassados. Por isso, eu lhe disse:
– Ore pelos seus antepassados e leia a sutra sagrada Chuva de Néctar
da Verdade.
Após meio ou um ano, na ocasião em que foi realizada uma conferência
da Seicho-No-Ie no Auditório Público Central de Nakanoshima, em Osaka, esse
monge apresentou seu relato de experiência, dizendo:
Senhoras e senhores, sou monge budista e me chamo Kanshu Sawada.
Peço-lhes licença para não citar o nome do templo onde atuo. Como veem
por esta vestimenta, sou mesmo um monge. Eu tinha catarata e minha
acuidade visual era tal que apenas conseguia ver como uma mancha escura
a coluna da casa. Fui à casa do professor Taniguchi e, quando o consultei,
ele me disse: “Cultue seus budas, que vai se curar”. Minha profissão é
cultuar budas, por isso indaguei qual era o nome desse buda. Então, ele me
disse: “Cultue seus antepassados”. Por isso, orei pelos espíritos dos meus
antepassados, lendo a Chuva de Néctar da Verdade, e fiquei curado.
Os olhos estão relacionados com os budas, por isso é que as pupilas são
chamadas espontaneamente de “buda dos olhos”. O fato de que isso está ou não
relacionado com a existência da “mente que vê a luz” ficou claro com o exemplo
anterior. Mas há também exemplos como o seguinte.

Para curar o entrópio


Isso aconteceu na época em que, após a palestra das 13 horas, na Escola de
Noivas da Academia de Akasaka, eu atendia as pessoas que me procuravam para
orientação a respeito de problemas da vida. Uma senhora, com mais de 80 anos
de idade, sofria de entrópio e dizia não poder abrir os olhos porque, se o fizesse,
sentia muitas dores provocadas pelas picadas dos cílios no globo ocular. Não é que

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os olhos não enxergassem, apenas não podia abri-los. Por isso, fora trazida por sua
filha de cerca de 55 anos, que lhe segurava as mãos como se fosse uma cega.
– Professor, minha mãe está com mais de 80 anos e sofre de entrópio, por
isso não consegue abrir os olhos sem que sinta muita dor ao abri-los.
Então, eu a orientei:
– Os globos oculares são bênçãos de Deus. Ele os criou para nós e são
manifestações do amor dEle. A senhora não está agradecendo a essa bênção de
Deus, estando, ao contrário, com a mente que espeta. Projetando essa atitude
mental, os cílios estão espetando os globos oculares. Em suma, está faltando
gratidão. Portanto, procure demonstrar gratidão a todas as coisas.
Então, a filha, que era a senhora de 55 ou 56 anos que estava sentada ao
lado, acrescentou:
– Professor, explique muito bem a ela, pois, por mais atenção que se dê, ela
está sempre reclamando e não sabe agradecer.
Então, virando-se para essa senhora, eu disse:
– Minha senhora, esta velhinha é sua mãe, não é? Se a senhora cuida dela
imbuída do sentimento “Estou dando-lhe tanta atenção”, isso revela que seu coração
espera reconhecimento. Mesmo que, na verdade, ela pense em agradecer-lhe,
torna-se difícil manifestar gratidão. Só o simples fato de sua mãe ter vivido até atingir
essa idade de 80 e tantos anos já deve ser encarado como fato digno de gratidão. Só
o fato de sua mãe ter vivido tanto tempo já é um acontecimento muito grato, porém
falta sentimento de gratidão na senhora, por isso é que ela não lhe agradece.
Assim dizendo, chamei a atenção de ambas. Com isso, creio que as
duas mudaram de mentalidade e passaram a ver a luz. Ao se retirarem, os
olhos da anciã estavam perfeitamente abertos, e ela podia caminhar livremente.
Curou-se do entrópio. Passados dois ou três dias, a filha trouxe-me uma caixa
de doces em sinal de agradecimento pela cura da mãe. Porém, ela não se
tornou adepta. Quando se cura de uma vez, a pessoa pensa que já alcançou
o objetivo e vai embora sem se tornar adepta. Isso ocorre de fato. Portanto,
para salvar a alma, é necessário sempre fazer com que a pessoa que recebeu
a orientação se torne adepta e, ciente da sagrada missão, torne-se membro da
Missão Sagrada.
Este caso é um ótimo modelo para compreender que o corpo carnal é
sombra da mente e que, observando a forma, pode-se deduzir como é a mente.
No entrópio, os cílios ficam na posição invertida em relação ao globo ocular.
Essa anciã não era portadora de entrópio quando nasceu. Quando lhe perguntei:
“Desde quando a senhora tem o entrópio?”, ela me respondeu: “Começou a
aparecer quando atingi cerca de 60 anos”. Então, procurei orientá-la, dizendo:
“Quer dizer que durante 60 anos foi normal, não é mesmo? No entanto, no meio
do caminho, os cílios começaram a virar. O que ocorreu é que durante o percurso
da sua vida a mente acabou se voltando para o lado contrário, ou seja, deixou de
sentir gratidão pelas coisas dignas de serem agradecidas”.
Portanto, a doença é sempre uma manifestação do estado mental da pessoa.

Manual do Preletor - Doutrinário 69


As doenças do ouvido também são projeções de atitudes mentais
Já que os ouvidos são órgãos para ouvir, começam a se manifestar
dificuldades de audição quando surge a “mente que não quer ouvir”. Na verdade,
não há nada mais conveniente que a surdez, pois se pode falar o que quiser e não
escutar nada o que o outro fala. É uma situação extremamente cômoda. Quando
alguém passa a não querer ouvir o que os outros dizem, ele cria uma couraça
denominada surdez e nela se refugia. Por isso, quando se tem esse sentimento, o
ouvido vai perdendo naturalmente a audibilidade.
No subúrbio de Kyoto, residia um chefe de correio chamado Shuichi Nozawa,
que, na ocasião, exercia um serviço de correio da categoria B. A sua esposa sofria
de surdez parcial, pois ela ouvia com dificuldade se lhe fosse dito em voz alta, no
seu ouvido. Porém, a uma distância de 30 centímetros, já não ouvia nada. Como
não ouvisse o que a sogra lhe dizia, a família decidiu que ela deveria ficar na
casa dos pais até sarar. Na casa dos pais, foi tratada por um médico durante seis
meses, mas ela não se curou dessa hipoacusia.
Pouco tempo depois de eu ter-me mudado para Tóquio, pediram-me para
comparecer a uma Reunião de Leitores em Kyoto, que seria realizada na casa do
sr. Yoshijiro Ishikawa. Nesse dia, o casal Nozawa veio se encontrar comigo, vindo
ele do correio e ela da casa dos pais.
Segundo as palavras da sra. Nozawa, ela não se dava bem com a sogra.
Certa ocasião, afrontou a sogra, que, por sua vez, esbofeteou-a na face. Ela tentou se
esquivar, mas a palma da mão da sogra atingiu seu ouvido e houve rompimento do
tímpano. Ela me disse que, desde então, o ouvido se tornou surdo. Além do mais, a
sogra estava desgostosa porque a nora se mantinha indiferente quando ela lhe dirigia
a palavra.
– Mas o rompimento do tímpano foi de um lado só, não?
– Sim.
– Entretanto, os dois lados se tornaram surdos concomitantemente. Isso
prova que há outra causa dessa surdez além do fato físico de ter sido agredida.
Assim expliquei e acrescentei:
– Porém, sua doença do ouvido não será curada enquanto a senhora
mantiver essa mente que “não deseja ouvir os outros”, tomando a sogra como
argumento de sua justificativa, imputando-lhe a culpa.
Pelas explicações da sra. Nozawa, quando ficou surda e deixou de atender
ao que a sogra lhe dizia, ela foi expulsa, sob o argumento de que deveria voltar para
a casa dos pais e se cuidar. Se estava incapacitada de ouvir, de nada adiantaria
ficar naquela casa. Por isso é que ela compareceu à reunião vindo da casa dos
pais, para onde havia retornado.
Prossegui explicando a respeito da causa das doenças do ouvido.
– Se o ouvido do lado que não foi atingido, cujo tímpano permanece intacto,
também se tornou surdo, é prova de que essa surdez nada tem a ver com o
tímpano. O ser humano não ouve com o tímpano; ouve com a mente. Não existindo
a membrana do tímpano, o som penetra diretamente até o fundo. O tímpano não

70 Manual do Preletor - Doutrinário


exerce nenhum trabalho de amplificador do som. É por isso que há aparelhos
para surdez que se colocam no ouvido e também os que são colocados na boca e
mantidos sob pressão dos dentes. As vibrações do ar transmitem-se aos ouvidos
médio e interno tanto pela cavidade bucal como pela cavidade nasal e fazem vibrar
os órgãos auditivos. Não há obrigatoriedade de se escutar pelo ouvido, pois se
pode ouvir tanto pelo nariz como pela boca. Pode-se ouvir inclusive ficando com
a boca aberta. Escuta-se até melhor não existindo o tímpano. A membrana do
tímpano nada mais é que uma tela cuja função é impedir a penetração de poeira
no ouvido médio. Para provar isso, ligue um aparelho de rádio e coloque-o dentro
de uma caixa, feche-a e ouça. Perceberá que é mais difícil ouvir quando a caixa
estiver fechada. Ouve-se melhor com a caixa aberta. Portanto, dizer que se tornou
incapaz de ouvir porque o tímpano foi rompido é uma desculpa sua, que joga a
culpa na sogra. A senhora pensa que se tornou surda porque a sogra lhe agrediu
e, assim, a odeia. Por isso é que não consegue escutar. Quando alguém lhe causar
um dano, se a senhora mantiver sentimento de censura contra ele, sem conseguir
perdoá-lo, o seu subconsciente atuará no sentido de manter a prova que incrimina
o outro. Com isso, continuará sofrendo a consequência desse dano. A senhora tem
o desejo de guardar por tempo indefinido essa “prova”, ou seja, a surdez, e não
consegue a cura. Para se curar, perdoe sua sogra. Se perdoá-la, já não precisará
da prova material e ocorrerá a cura dessa surdez.
Dizendo isso, realizamos, nós dois, a Meditação Shinsokan para perdoar a
sogra dela.
Posteriormente, ela me informou que após uma semana a dificuldade
auditiva desaparecera e ela passara a escutar bem.
Curada da surdez, pediram-lhe que voltasse a viver com o marido. Porém,
teve de conviver novamente com a sogra, e, com isso, vez ou outra voltava a surdez.
Todavia, quando saía da casa, escutava bem. Houve esse período de transição, mas
ela refletiu e corrigiu sua atitude mental, passando a ter disposição de ouvir tudo o
que a sogra dissesse. Assim, ela passou a escutar bem, curando-se completamente.
Complementando esse caso, a sra. Nozawa engravidara na época em que
não se dava bem com a sogra e pensava em sair dessa casa. Enquanto vivia
na indecisão de sair ou não dessa casa, chegou o momento do parto e, embora
passassem dois dias e duas noites, a criança não nascia. Foi um parto extremamente
difícil. Por isso, chamaram um médico e a criança foi retirada com fórceps. A causa
desse parto foi a projeção física do sofrimento mental da parturiente, que pensava:
“Saio ou não saio desta casa que tem esta sogra?”.

Luxação coxofemoral congênita


Essa criança começou a andar quando atingiu mais ou menos o primeiro
aniversário. Observando o seu modo de andar, percebeu-se que ela coxeava.
“Que estranho...”, pensou e, observando a criança deitada, percebeu que
uma das pernas era cerca de uma polegada mais comprida que a outra. Diante dessa
situação anômala, ela foi levada ao médico, que diagnosticou “Luxação congênita

Manual do Preletor - Doutrinário 71


da articulação coxofemoral”. A explicação foi de que ocorrera o deslocamento da
articulação da coxa que se enganchou no momento da extração da criança com
o fórceps. Com isso, uma das pernas ficou mais comprida. Se fosse logo após a
luxação, seria possível tomar alguma providência, mas, como havia passado um
ano, o problema se agravara muito.
– Doutor, não há uma forma de colocar isso no lugar?
– Não. Houve penetração de carne na depressão que existe no osso dessa
articulação e, se o osso for introduzido à força nesse lugar, a carne será esmagada
e ocorrerá infecção, o que será muito grave.
– Então, será que o senhor não poderá realizar uma cirurgia para a retirada
dessa carne e colocação da articulação no lugar?
– Não se pode realizar tal cirurgia numa criança tão pequena; portanto,
é necessário esperar até ela alcançar idade adequada. Se for para operar, é
necessário esperar a época propícia. Agora, nada há a fazer.
– Ela ficará boa se for operada na época adequada?
– Não posso garantir isso, pois se ela estiver coxeando até chegar a essa
idade, significará um desequilíbrio no movimento de ambas as pernas e terá havido,
provavelmente, um desequilíbrio no desenvolvimento das pernas. Portanto, neste
momento, não posso dizer se haverá cura perfeita.
Assim disse o médico. Mas, quando a sra. Nozawa se dispôs a perdoar a sogra e,
voltando para sua casa, passou a reverenciá-la, começando assim a reinar verdadeira
harmonia nesse lar, certo dia, ao observar inadvertidamente a criança, verificou que ela
não coxeava. A criança estava andando direito. Então, alinhando as pernas, verificou
que as duas pernas tinham o mesmo comprimento. Havia ocorrido a cura espontânea
da luxação coxofemoral congênita e o restabelecimento da articulação.

Cura de luxação congênita quando o coração se dispôs a agradecer aos pais


Quanto a exemplos concretos de curas de luxação congênita da articulação
coxofemoral em pessoa adulta, houve duas pessoas que se levantaram voluntariamente
e apresentaram seus relatos na ocasião do Grande Seminário de Nara. Uma senhora
de cerca de 30 anos e uma jovem de uns 20 anos disseram que tinham se curado de
luxação da articulação coxofemoral quando passaram a agradecer verdadeiramente
ao pai e à mãe, ao ouvir o ensinamento da Seicho-No-Ie.
O jardim que existe nos fundos do Centro Cívico de Nara é coberto por um
gramado realmente bonito. Após a guerra, não se tem visto grous nesse local,
mas naquela época criavam-se grous. No intervalo do meio-dia desse seminário,
almocei com os seminaristas, sentados sobre o gramado. Chamei a jovem que se
curara da luxação congênita da articulação coxofemoral e pedi-lhe que contasse
pormenorizadamente a sua experiência.
Ela foi orientada pelo sr. Matsuda, que é atualmente o presidente da
Associação dos Preletores da Seicho-No-Ie de Nara e é ortopedista. Sendo
ortopedista, ele tratava as luxações com a manipulação da parte afetada. Porém,

72 Manual do Preletor - Doutrinário


após tornar-se adepto da Seicho-No-Ie, só de explicar a Verdade ao paciente, o
osso deslocado voltava à posição correta, mesmo sem o contato físico das mãos.
Segundo a narrativa da jovem que se curara da luxação, certo dia, o sr. Matsuda
foi requisitado por uma escola de corte e costura para fazer uma palestra de cunho
moral-educativo. Lá, falou o seguinte: “O respeito aos pais é o caminho do Universo.
Quando se cumpre o caminho do Universo, não há doenças”. Então, essa jovem se
sentiu profundamente tocada e voltou para casa. Nessa noite, quando dormia, teve
uma vaga sensação de que seu corpo se movia suavemente. Era uma espécie de
movimentos espirituais. Uma força misteriosa, que não podia distinguir o que era,
segurou-a na parte superior do corpo e outra a segurou na perna. A sensação era de
que estava sendo estirada, puxada vigorosamente em ambos os sentidos, e esses
movimentos espirituais continuaram a noite toda. Chegada a manhã seguinte, percebeu
que a luxação congênita estava curada e que podia andar sem coxear. Ainda, segundo
suas palavras, chegando o outono, ela pôde participar da ceifa de trigo, conseguindo
ceifar com velocidade não inferior a dos demais. A tarefa de ceifar o trigo em posição
agachada era-lhe, até então, impossível devido à imperfeição da perna.
De fato, este é um ótimo exemplo que mostra que o fenômeno é sombra
da mente.

Causa psicológica do surgimento da luxação


A causa psicológica do surgimento da luxação é o estado mental que separa
aquilo que deveria estar unido em perfeita harmonia. Por exemplo, é natural que
o filho viva em harmonia com os pais e os respeite, estando ligado a eles como
nessa articulação. Apesar disso, esquece-se dos favores recebidos e deseja se
evadir do local onde deve favores. Essa mentalidade se manifesta fisicamente sob
a forma de luxação do osso. O filho da sra. Nozawa, citado há pouco, teve luxação,
porque existia nela a mente que queria escapar do lugar onde era maltratada pela
sogra. Por isso, o estado mental dela, que era a mãe, refletiu-se no filho, que
sofrera deslocamento da articulação coxofemural. Porém, quando ela voltou para
onde devia e sua mente decidiu permanecer junto com a família do marido, o fêmur
do filho voltou à posição original, projetando essa mentalidade.
Há, frequentemente, crianças que luxam com facilidade a articulação do
joelho ao saltar de um local alto e, também, as que costumam ter a articulação do
cotovelo deslocado quando puxadas pela mão. Isso ocorre nos casos em que os
pais têm a mente que deseja escapar do lugar onde receberam benefícios, porque
a criança é projeção da mente dos pais.
Portanto, sendo a doença manifestação do estado mental, vendo o estado da
doença, pode-se compreender perfeitamente qual é a mentalidade dessa pessoa.

Doenças de ouvido são manifestações da mente que “não quer ouvir”


Portanto, a pessoa ficará surda se não desejar ouvir alguém e será curada
quando resolver ouvir tudo docilmente. Se a pessoa tiver sentimento que repele o que

Manual do Preletor - Doutrinário 73


os outros dizem, por estar muito atarefada e achar que é um incômodo dar ouvidos
aos que falam por perto, pode começar a ter zumbido nos ouvidos. Certa ocasião, na
Academia de Akasaka, uma senhora disse-me o seguinte: “Professor, tenho zumbido
nos ouvidos que me perturba muito e não sei o que fazer”. Nesse momento, disse-
lhe: “Tem zumbido no ouvido? Deixe-me ouvir”. Aproximei meu ouvido à orelha dessa
pessoa e declarei: “Ora, não há nenhum zumbido. Se estivesse realmente com
zumbido, deveria ser audível para mim também. O zumbido não está no seu ouvido,
está na sua mente. Sua mente está desejando apagar a voz dos outros, achando que
a incomoda. A senhora está pensando, por exemplo, que a família, a nora ou outras
pessoas lhe incomodam? Cure primeiro essa atitude mental. Não é seu ouvido que está
com zumbido. É sua mente”. Com essa orientação, o zumbido sarou completamente.

Há recidiva porque a mente deseja preservar a doença


Depois, apresentei na academia esse caso de cura ao dizer sobre a Verdade:
“Não é o ouvido que está com zumbido, é a mente”. Então, no dia seguinte, ela me
enviou uma carta dizendo: “Professor, gostaria que o senhor mantivesse segredo, pois
terei problemas se o senhor falar sobre aquilo na academia”. Passados alguns dias,
veio nova carta da mesma pessoa: “Professor, o ouvido começou a zumbir outra vez.
Por favor, peço-lhe que me cure mais uma vez”. Houve essa recidiva porque, apesar
de Deus tê-la curado, ela não utilizou esse fato para fazer manifestar a glória de Deus,
procurando novamente não dar ouvidos ao que lhe aconteceu. Ela queria dizer que
ainda não estava curada do zumbido nos ouvidos e aconteceu exatamente isso.
Quando Cristo curou a cegueira do jovem, seus discípulos perguntaram-
lhe: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”. E
Cristo respondeu: “Nem ele nem seus pais pecaram; mas foi para manifestarem
nele as obras de Deus”. É preciso prestar muita atenção ao fato de Jesus ter
dito que o jovem esteve provisoriamente cego, para que, com a sua cura, se
manifestasse a glória de Deus.

Se foi curado, deve manter a glória de Deus


Se os senhores receberam a cura, foi porque Deus realizou um milagre
para que os senhores pudessem manifestar a glória de Deus. Não foi para que os
senhores pudessem se salvar utilizando-se de Deus.
Não obstante, se a pessoa que recebeu a cura esconder esse fato e não
pensar em retribuir essa graça, beneficiando os outros com a divulgação dos
ensinamentos, acabará tendo de volta a doença. O milagre acontece para que,
através da experiência, a pessoa possa mostrar Deus àqueles que não O conhecem
e assim fazer manifestar a glória divina. Para Deus não existe grande significado em
curar o corpo carnal, pois, mesmo que o cure, este não perdura por séculos e logo
acaba se deteriorando. Porém, Deus deseja aprimorar a alma, que está no âmago
desse corpo carnal, e efetua a cura para que a pessoa tenha a oportunidade de
conhecer a existência de Deus. Portanto, a pessoa que se curou deve devolver a

74 Manual do Preletor - Doutrinário


Deus essa glória e procurar difundir o caminho de Deus. Com isso, a graça da cura
se estenderá até as questões financeiras e a vida da pessoa se tornará próspera.
Por isso, os preletores da Seicho-No-Ie não devem dar orientações que promovam
apenas a cura temporária porque depois os doentes voltam a sofrer recidiva.

A salvação verdadeira é o renascimento global do homem


Os senhores ouviram há pouco o relato de experiência da senhora viúva
(sra. Kikuyo Maki) que é costureira profissional. Ela largou tudo o que segurava,
inclusive aqueles 1.100 ienes que restavam na sua carteira, pensando: “Quero
oferecer isto para difundir o caminho de Deus. Fui curada do mal de Pott, da
doença cardíaca, como também de diversas outras doenças, e, acima de tudo,
conheci a razão de o homem viver neste mundo. Portanto, se estou vivificada
desta forma, não existe uma coisa sequer que seja propriedade minha. Tudo é
de Deus. Em sinal de gratidão, vou entregar este dinheiro a Deus, para que seja
utilizado na difusão deste ensinamento... depois disso, Deus resolverá tudo da
melhor maneira”. Então, desfez-se o apego que estava obstruindo o canal por
onde fluía a provisão infinita de Deus e esta começou a fluir abundantemente para
o seu interior. Assim, seus negócios começaram a prosperar tanto que teve de
redobrar seu trabalho. Essa é a cura verdadeira.
A verdadeira cura não consiste na simples cura da doença de uma parte do
corpo carnal. Só é verdadeira quando ocorre a cura da totalidade do homem. Não se
deve orientar o outro de forma que, em consequência da cura exclusiva da doença e
por ter fortalecido o corpo físico, a pessoa se torne capaz de praticar descaradamente
qualquer ato maléfico ou esqueça a gratidão e torne-se egocêntrica. Não será verda-
deira a forma de orientar que cura apenas o corpo, mas não cura a mente e a alma.
Se orientar de forma que a pessoa se cure e se retire dizendo “adeus”, esta terá sido
uma má orientação do ponto de vista espiritual, tendo em vista o sentimento de ingra-
tidão e egoísmo que se criou na pessoa. Portanto, desejo que os senhores divulguem
estes ensinamentos, orientando as pessoas para que cada uma os transmita, sem
falta, a pelo menos dez pessoas. Qualquer pessoa deve ter cerca de dez parentes
ou amigos a quem possa facilmente apresentar a Seicho-No-Ie. Dizem que os cor-
retores de seguro de vida, inicialmente, oferecem o seguro a parentes e conhecidos
e, assim, atingem o índice mínimo contratual. Depois disso, depende da dedicação e
capacidade dessa pessoa. Se mesmo com seguro de vida é assim, então, tratando-se
do ensinamento da Seicho-No-Ie, que salva e desperta as pessoas para a verdadeira
razão de viver, creio que seja muito fácil cada um transmitir a cerca de dez pessoas.
Se uma pessoa transmitir a dez pessoas, pelo menos uma ou duas poderão
se tornar fervorosas adeptas e, conscientizando-se verdadeiramente da missão que
lhes foi atribuída por Deus, se empenharão na divulgação do caminho. Dessa forma,
paulatinamente, irá aumentando o número de pessoas que transmitem seriamente a
Verdade e, por fim, tornar-se-á possível iluminar toda a humanidade. Portanto, desejo
que salvem a alma das pessoas, sem visar apenas à cura do corpo carnal, e assim
multipliquem continuamente o número de pessoas que manifestam a glória de Deus.

Manual do Preletor - Doutrinário 75

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