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Boadella, D. Estilos de Respiraçao
Boadella, D. Estilos de Respiraçao
ESTILOS DE RESPIRAÇÃO
David Boadella
INTRODUÇÃO
Enquanto seus colegas psicanalistas trabalhavam com pacientes essencialmente com a análise
dos conteúdos de suas comunicações, Reich analisava também a forma da comunicação. Isto levou-o
ao estudo detalhado do tônus muscular, postura e padrões de respiração.
Por volta de 1934 começou a enfrentar a respiração disfuncional com um estilo especial de
massagem e manipulação, e tipicamente seus clientes liberavam uma variedade de emoções reprimidas.
A liberação emocional
era seguida por uma respiração mais rítmica
O sistema nervoso autônomo tem forte influência nos ritmos respiratórios e também no
equilíbrio emocional de uma pessoa. Na Alemanha este sistema é chamado " sistema vegetativo”, e o
termo de Reich "vegetoterapia" derivou daí.
Quase todas as emoções fortes choro, raiva, medo e prazer , envolvem aumento da
respiração. Assim não é de surpreender que se uma pessoa quer reprimir essas emoções, a redução da
respiração seja uma dinâmica central.
As tensões dos músculos respiratórios são encontradas nos peitorais, nos intercostais e em
outros músculos do alto do peito e das costas. Tensão diafragmática é extremamente freqüente em
muitos estados neuróticos. Como o diafragma se liga à coluna, métodos de mobilização da coluna e do
músculo psoas são utilizados como os meios mais eficazes para abrir o diafragma. Este trabalho não é
apenas "exercícios", e não pode ser feito mecanicamente. Há sempre um contexto emocional para a
repressão que precisa ser sentido, eliciado e resolvido, antes que padrões respiratórios disfuncionais
possam ser alterados.
Quando olhamos para os ritmos respiratórios de um bebê saudável ou de um ser humano cheio
de vida, vemos todo o tronco expandir-se na inspiração e desinflar-se na expiração. Há quatro padrões
mais comuns de distúrbio deste ritmo saudável.
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1. Super-expansão do peito na inspiração, com pouca expansão do abdômen.
4. Pouca deflação do peito na expiração. O peito é duro e firme e parece uma gaiola. Este
padrão tem sido correlacionado de perto com os caracteres tipo A com tendência para ataques
cardíacos.
Estas são as escolhas fisiológicas básicas que os pacientes podem mostrar como desvios de um
ritmo respiratório muscularmente relaxado.
A seguir tentarei apresentar alguns destes padrões focalizando seus aspectos clínicos, com
ênfase para o contexto emocional do ritmo respiratório perturbado.
Em seu teste diagnóstico muscular Nic Waal (1) distinguiu diversas variedades de respiração.
Ela mostra como na respiração natural o peito e o abdômen sobem assincronamente na inspiração e
caem na expiração. As várias formas pelas quais este ritmo natural pode ser perturbado são assim
descritas por Nic Waal:
0 tipo de respiração que Reich descreveu em primeiro lugar, foi a que se caracteriza por
enrijecimento dos músculos do peito e contração (apertar) das costelas, com uma correspondente
redução da livre mobilidade do diafragma:
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Atitude infantil: agir "out of spite" - fazer algo só por maldade, para fazer a outra pessoa se sentir mal
ou má.
"Os músculos que atuam no encouraçamento do peito são os músculos intercostais, os grandes
músculos do peito (peitorais), os músculos dos ombros (deltóides) e os músculos sobre e entre as
escápulas. A expressão do encouraçamento do peito é essencialmente ‘autocontrole e
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contenção/restrição’. Os ombros que são puxados para trás, literalmente expressam ‘holding-back’
segurar-se para trás. Junto com o encouraçamento do pescoço, o encouraçamento do peito expressa
‘spite’ e ‘stiff-neckedness’ (a ser compreendido no sentido literal). Na presença do
encouraçamento, a expressão é de ‘imobilidade’ ou ‘nada pode me atingir’" (2).
No capítulo "A Linguagem Expressiva da Vida", da qual provém esta citação, Reich não
distingue entre os variados estilos de respiração apresentados por pessoas com diferentes tipos de
couraça muscular, e diferentes tipos de experiência e background. 0 tipo de padrão defensivo descrito
acima é bastante específico dos padrões de encouraçamento rígidos, onde a característica mais evidente
é um endurecimento e tensão crônica das grandes "capas" musculares do corpo. A respiração dessas
pessoas é um respirar sem sentimentos. A respiração é reduzida pelas tensões e nem expressa emoções
fortes, nem responde facilmente às emoções dos outros. A respiração tem uma regularidade mecânica,
inspiração e expiração ocorrem de forma predizível; a respiração expande e contrai dentro dos limites
fixos impostos pela pressão da caixa torácica e da parede abdominal.
A expansão crônica do tórax cria uma série de problemas aos quais ficam sujeitas as pessoas
com tendência a encouraçamento muscular do tipo rígido (no sentido de Lowen). Reich menciona entre
elas, "a pressão alta, palpitações e ansiedade e, em estados mais severos de longa duração, também
aumento do tamanho do coração. Vários tipos de doenças cardíacas resultam diretamente da expansão
crônica ou indiretamente como resultado da síndrome de ansiedade. Enfisema pulmonar é um
resultado diretamente relacionado com a expansão crônica do tórax". (3)
Reich também aponta como o militarismo por toda a parte utiliza a expressão incorporada
neste tipo de encouraçamento. Mathias Alexander mostrou em seus livros sobre posturas do corpo,
como os métodos de educação física prevalecentes quando ele escreveu, enfatizavam a postura de
"barriga para dentro, ombros para trás, peito para fora” e reforçavam a atitude do rígido autômato
respondendo ao treinamento mecânico. Wilfred Barlow, um médico clinico, escreveu a respeito do
método Alexander que, em todos os casos de trombose coronária que encontrou "nunca viu um só caso
em que a parte superior do tórax não estivesse marcadamente erguida e super-controlada. A impressão
de ‘poderoso chefe’ é freqüentemente acompanhada pelo peito estufado super-inflado na posição
inspiratória”. (4)
"Os pacientes queixam-se de uma intolerável ‘pressão’ na barriga, ou de uma cinta que
‘restringe’. Outros têm um certo ponto no abdômen que é muito sensível. Todos têm medo de levar um
soco na barriga. Este medo torna-se o centro de ricas fantasias. Outros têm a sensação de que ‘há algo
na barriga que não pode sair’; parece que há algo como um prato na minha barriga; minha barriga
está morta; tenho que me segurar na barriga, etc. A maioria das fantasias de crianças pequenas sobre
gravidez e parto centram-se nas sensações vegetativas em seus abdomens". (3)
"Em muitos casos de bloqueio diafragmático ocorre, junto com incapacidade para vomitar,
náusea mais ou menos constante. Não pode haver dúvida de que as chamadas desordens do estômago
‘nervoso’ são o resultado direto do encouraçamento nesta região. 0 vômito é um movimento de
expressão biológica cuja função alcança com êxito exatamente o que ela ‘expressa’: expulsão
convulsiva do conteúdo do corpo. É baseado em um movimento peristáltico do estômago e do esôfago,
na direção oposta da sua função normal, isto é, na direção da boca (antiperistaltismo). 0 reflexo de
engasgar dissolve rápida e radicalmente o encouraçamento do segmento diafragmático. 0 ato de
vomitar é acompanhado de uma convulsão do corpo que se dobra rapidamente no epigastro, levando a
cabeça e a pelve para a frente com os espasmos. Na cólica infantil, o vômito é acompanhado de
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diarréia. Considerando-se do ponto de vista energético, fortes ondas de excitação partem do meio do
corpo, correndo para cima em direção da boca e para baixo em direção do ânus. Estas convulsões
desaparecem com expiração profunda".(7)
Este tipo de respiração também foi descrito independentemente por Lowen como paradoxal:
"Na respiração paradoxal, a inspiração é produzida antes por um movimento ascendente do que por um
movimento para fora... Assim a expansão do peito é acompanhada por um estreitamento da cavidade
abdominal. Às vezes observa-se que o abdômen é sugado e recolhido durante a inspiração e solto para
fora na expiração". (5)
Temos então aqui uma forma de respiração transferida do sistema intestinal para o sistema
respiratório, uma forma de respirar que seria de se esperar, particularmente, em pessoas expostas a
situações nauseantes que as façam sentir necessidade de vomitar (o “ veneno” da paranóia) ou com
pessoas expostas a situações de nojo e de humilhação anal relativos aos conteúdos abdominais (o
"pântano” do masoquista).
No caráter oral Lowen descreve o oposto do peito inflado do caráter rígido. "A tensão
muscular marcante do rígido parece ausente na parte frontal do corpo, mas isto ocorre apenas devido
à condição desinflada do peito e do abdômen". (6) Em contraste com o padrão já descrito, "o reflexo
de engasgar é bastante fácil de eliciar. Isto pode ser devido a distúrbios relativos à alimentação no
período inicial da vida, com tendências persistentes ao vômito”. (6) É como se a defesa oral fosse uma
aclimatização à sensação de vazio. "0 peito geralmente é desinflado, a barriga não tem turgor e,
quando palpada, mostra-se vazia."
“Qualquer distúrbio na função do sugar", diz Lowen, "terá imediata repercussão sobre a
função da respiração". (5)
Reich descreve como uma das funções dessa inibição de respiração é suprimir as correntes
vegetativas que se movimentam no corpo, e que sua paciente lutava contra estas correntes " não
permitindo a passagem do ar para dentro e para fora dos pulmões". Isto apresenta um paradoxo óbvio:
se a esquizofrênica se recusasse a deixar entrar o ar ela morreria de anóxia, da mesma forma que uma
pessoa que se alimentasse muito pouco morreria de anorexia. Mas os esquizofrênicos não morrem por
não respirarem. A dinâmica específica desta respiração parece envolver a minimização dos
movimentos da respiração. Em outras palavras, a entrada de ar e a sua expulsão ocorre, mas é feita de
maneira tão imperceptível quanto possível. É uma respiração interna, invisível, quando comparada
com a respiração de uma pessoa que, confiantemente, respira para fora exteriorizando-a para o mundo.
Não é que uma pessoa que viva desta forma não se sinta com direito a ser alimentada por via oral, e
portanto reduza sua necessidade de ar, como na situação descrita acima. A respiração imperceptível é
uma negação não do ar mas do próprio processo de respiração em si, o qual é um pre-requisito para a
vida fora do útero. Os movimentos respiratórios do esquizofrênico são uma duplicação tão aproximada
quanto possível da inatividade do aparelho respiratório quando dentro do útero. A respiração
imperceptível e suave descrita por Reich é a respiração "uterina". É a respiração de alguém relutante
ou impossibilitado de nascer. Devido ao conceito de "stress” transmarginal pode bem ser encontrada
alguma ambivalência: Lowen assim descreve um ataque de despersonalização em relação à respiração,
que aconteceu com um paciente seu: "Eu tinha às vezes a sensação estranha de que eu não tinha
controle sobre minha respiração. Eu tinha pensamentos de que se eu de repente parasse de respirar,
não conseguiria começar novamente. Eu parecia estar fora do meu corpo, olhando para ele, como se
não fosse meu. Eu tinha sensações de fraqueza e tontura e sentia-me como se fosse morrer. Então eu
gritava e desmaiava e as sensações desapareciam vagarosamente. Era muito amedrontador”. ( 6)
"0 ato de abrir amplamente a garganta para respirar, evocava sensações de afogamento em
muitos pacientes. Um paciente relatou esta sensação em diversas ocasiões. No entanto o paciente não
conseguia encontrar qualquer incidente em sua memória que pudesse dar motivo a tal experiência. A
interpretação lógica era que a sensação de afogamento representava sua reação a um mar de lágrimas
e tristeza que inundavam sua garganta quando suas tensões se relaxavam. Da mesma forma, as
sensações de sufocação comumente relatadas por pacientes poderia ser interpretada como o engasgar-
se e sufocar-se destes opressivos sentimentos de tristeza. Mas a sensação de afogamento, faz-nos
pensar em uma possível associação com a existência intra-uterina, onde o feto flutua em um ‘mar’ de
fluido. Sabe-se agora que o feto faz movimentos respiratórios dentro do útero, a partir do sétimo mês.
Estes movimentos não são funcionalmente significativos. No entanto, se um espasmo uterino cortasse o
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fluxo de sangue oxigenado para a placenta durante um tempo significativo, julga-se que estes
movimentos respiratórios experimentais, poderiam tornar-se tentativas reais de respirar. Nesta
situação , a sensação de afogamento resultaria do fluxo de fluido amniótíco para dentro da garganta do
feto. Isto é pura especulação, mas a possibilidade de tais experiências intra-uterinas não pode ser
descartada". (5)
Outra forma de respiração de padrão esquizoide descrita por Lowen, parece ser o oposto do
mostrado pelo paciente de Reich e pelo paciente supra mencionado. É uma situação na qual a pessoa
imobiliza a respiração durante a fase da inspiração. "Este tipo de respiração esquizofrênica", escreve
Lowen, "tem um sinal emocional. Se você o duplicar em você mesmo (infle o seu peito e encolha a
barriga) você ouvirá um ofego enquanto entra o ar nos seus pulmões. Não é difícil reconhecer isso
como uma expressão de medo 0 esquizofrênico respira como se estivesse em estado de terror". (6)
Se este ofego, uma vez inspirado, é inspirado imperceptivelmente, então a expressão de medo
é congelada e retorna para dentro. O esquizofrênico respira como um homem que se finge de morto no
campo de batalha e que levará tiro se se trair deixando perceber que está vivo pelos seus movimentos
respiratórios. Ele pode respirar, mas
não pode demonstrar que está respirando. A respiração pelo menos prova que ele está vivo e fora do
útero, mas é uma respiração ansiosa e que mostra pânico, é a respiração de alguém que apenas está
conseguindo sobreviver. Ansiedade significa constrição, e a respiração histérica é uma respiração
constrita na qual o processo respiratório luta por se afirmar.
Reich continua, descrevendo como as crianças aprendem a lutar contra estados de ansiedade
restringindo sua respiração e suprimindo os sentimentos de ansiedade. Se elas são bem sucedidas, o
padrão resultante do bloqueio do afeto e postura rígida, conduz ao bloqueio muscular torácico já
descrito. 0 padrão do corpo histérico enfrenta o "stress" expressando alguns dos sintomas de ansiedade,
aprendendo a manipular o ambiente através destes. 0 padrão de respiração aproxima-se do descrito por
Nic Waal como "respiração tremulante", e conduz a uma sensação de estar sem fôlego. Foi assim que
Katerina, a paciente de Freud respondeu à sua pergunta "do que você sofre?":
"Eu fico sem fôlego. Não é sempre. Mas às vezes o acesso é tal que penso que vou sufocar".
Freud comenta: "Isto não parecia, à primeira vista, com um sintoma nervoso. Mas logo me
ocorreu que, provavelmente, isso era apenas uma descrição que revelava um ataque de ansiedade: ela
estava escolhendo a falta de ar, dentre o complexo de sensações que se manifestam com o estado de
ansiedade e estaria manifestando uma ênfase especial por aquele único fator". (7)
"Sente-se aqui. Como é que você se sente quando fica ‘sem ar’?
"Desce sobre mim de repente. Primeiro é como se algo fizesse pressão sobre meus olhos.
Minha cabeça fica tão pesada, há um terrível zumbido e eu me sinto tão tonta que quase caio. Então
há alguma coisa que esmaga meu peito, impedindo-me de respirar".
"Eu sempre penso que vou morrer. De modo geral sou corajosa e vou a qualquer parte sozinha,
tanto ao porão como através de montanhas. Mas no dia em que isso acontece não ouso ir a parte
alguma. Eu imagino sempre nessas situações que alguém está de pé atras de mim e vai me agarrar de
repente." (7)
Isto esclarece muito sobre a transição entre padrões de respiração histérica e esquizoide.
Quando ela se sente sufocar e não pode respirar, a pressão na cabeça aumenta. Reich descreve como
"se a atitude de antecipação ansiosa for mantida por algum tempo, aparece uma pressão na cabeça.
Tenho tido diversos pacientes nos quais não foi possível eliminar a pressão na cabeça até que eu
descobri as suas atitudes de antecipação ansiosa na musculatura do peito ." (3) A tendência histérica,
no entanto, é ab-reagir (abreact) um pouco do pânico, escapar da sensação de sufocamento para a
respiração tremulante (flutter breathing), flertando com a idéia de morrer mas sempre demonstrando
uma vivacidade vigorosa. O histérico respira da forma hesitante e cheia de pânico do bebê que passou
por uma luta difícil ao nascer.
Não estou sugerindo que possamos classificar rigidamente os estilos de respirar e alocá-los
mecanicamente em padrões de caráter específicos. As pessoas têm experiências únicas que conduzem a
todas as gradações de coloração por diferentes tendências de caráter e atitudes corporais. Estilos de
respiração se mesclam, e mesmo extremos polares podem existir na mesma pessoa quando elas
ultrapassam a margem de "stress", sob condições flutuantes de ansiedade ou tensão.
REFERÊNCIAS
1. Waal, Nic, Grieg, Anne & Rasmussen, Mogans, “Psychodiagnosis of the Body", Energy & Char-
acter, Vol. 7, N.º. 1, VoI. 10, N.º. 3
2. Reich, Wilhelm, "The Expressive Language of the Living", in Character Analysis, 1949.
3. Reich, Wilhelm, The Function of the Orgasm, New York, 1942
4. Barlow, Wilfred, The Alexander Principle, London, 1973
5. Lowen, Alexander, Betrayal of the Body, New York, 1967
6. Lowen, Alexander, Physical Dynamics of Character Structure, New York, 1958
7. Freud, Sigmund, Studies in Hysteria, Penguin Books, 1975
Traduzido de Embriology and Therapy — Collected Papers (I) —, de Energy and Character