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Como Vingadores: Ultimato (2019) copiou Uma Aventura no Tempo (2007)

No ano de 2019, Matt Goldberg publicou em sua coluna da revista Collider que
Vingadores: Ultimato (2019) é “um filme épico, que consegue ser ao mesmo tempo
empolgante, hilário e poderoso. "Vingadores: Ultimato" não é apenas tudo o que a gente queria
de um blockbuster, é algo que só o MCU poderia fazer.” (GOLDBERG, 2019)
No entanto, o que a Marvel fez em 2019 o Brasil já havia feito 12 anos antes com
A Turma da Mônica em Uma Aventura no Tempo (2007). O longa dirigido por Maurício de
Sousa reúne diversos elementos de ficção científica, posteriormente explorados pelos irmãos
Russo.
Franjinha está trabalhando na construção de uma máquina do tempo,
que funcionará quando conseguir reunir moléculas dos 4 elementos
básicos da natureza: ar, água, fogo e terra. Porém em meio aos trabalhos
seu laboratório é invadido por Cebolinha e Cascão, que estão fugindo
da Mônica. O coelhinho Sansão é atirado nos garotos, mas acaba
batendo no aparelho. O choque faz com que os elementos sejam
enviados cada um para uma época distinta. O acidente faz com que o
tempo fique cada vez mais devagar na Terra, o que faz com que Mônica,
Cebolinha, Cascão, Magali e o cachorro Bidu tenham que partir em
busca dos elementos perdidos, usando a própria máquina construída por
Franjinha. (ADORO CINEMA, 2007)
Dentre os diversos elementos que o gênero admite como próprios, os que mais se
destacam são as experiências científicas baseadas na combinação de elementos primordiais
(fogo, água, terra e ar | poder, tempo, espaço, realidade e alma).

A viagem no tempo também é frequentemente visitada nos filmes de ficção


científica, principalmente quando diferentes personagens se deslocam para momentos diversos
no espaço e no tempo. Esse artifício é utilizado para criar uma multiplicidade de narrativas e
engrandecer a obra.
O cientista é a figura preponderante nesse estilo de narrativa. Quer seja para o bem
ou para o mal, o experimento do cientista é o ponto de partida para o desenrolar de toda a trama,
mas também o ponto de convergência, onde se encerra o ato final.

Outra característica muito explorada nos filmes que se utilizam da ferramenta da


viagem no tempo é o embate entre os protagonistas. Este conflito geralmente é forçado para
duas razões maiores: ou como um obstáculo que a personagem precisa passar para continuar a
trama, ou como consequência de um “furo” na continuidade da linha temporal.

Portanto, em tudo o que Vingadores: Ultimato (2019) se propõe a fazer, Uma


Aventura no Tempo (2007) consegue responder “à altura”, ainda que a segunda seja muito mais
limitada nos sentidos de produção e distribuição em relação à primeira, fazendo cair por terra a
tese de Goldberg.
Dessa forma, Uma Aventura no Tempo (2007) supera Vingadores: Ultimato (2019)
como filme uma vez que – igualmente maduro com relação à abordagem aos temas próprios do
gênero de ficção científica – a animação dirigida por Maurício de Sousa não se prende a mais
uma história infantil e vai além: trata de temas sensíveis e muito pertinentes de forma adequada,
como a exploração, a seca, a apropriação de elementos culturais e religiosos e a representação
de minorias deficitárias – aspecto que a Marvel ignora completamente – e que permite com que
as crianças que sofrem com algumas dessas dificuldades se sintam representadas através destas
personagens.

Não bastasse, Uma Aventura no Tempo (2007) é uma animação que entrega muito
mais que a média e ainda desenvolve traços únicos e autorais. Quanto à fase de produção do
longa, Maurício de Sousa disse:
“Tentei um estúdio em Xangai e os personagens voltaram com cara de
Mickey Mouse, pois Disney é a referência deles. Com esses meninos
brasileiros [Labocine], não preciso explicar nada, porque falamos das
mesmas coisas.” (TRIBUNA DA IMPRENSA, 2006)
Trabalhando com toda a base de desenhistas brasileiros, “autodidatas e
conhecedores do trabalho de Maurício” (TRIBUNA DA IMPRENSA, 2006), Uma Aventura
no Tempo (2007) emprega abordagens inovadoras (para o Brasil e para o mundo) na animação,
não só na mescla e na harmonia do uso da bidimensionalidade com elementos tridimensionais,
mas também na integração no meio do longa de traços – junto com a música – característicos
da cultura indígena.

REFERÊNCIAS
GOLDBERG, Matt. Collider. Site da Collider, Los Angeles, 23 Abril 2019. Disponível em:
https://collider.com/avengers-endgame-review/. Acesso em: 30 Maio 2023.
TRIBUNA DA IMPRENSA. Mônica conquista aventura milionária na telona. Tribuna Bis,
Rio de Janeiro, 15-16 Abril 2006. 5.

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