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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

NATÁLIA CARVALHO WINCK

A NOÇÃO DE SEQUÊNCIA TEXTUAL EM


AS CIDADES INVISÍVEIS

CURITIBA
2021
INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão para a disciplina optativa Narrativa Italiana I tem


como objetivo analisar o trecho de As cidades invisíveis, de Italo Calvino, intitulado As
cidades e os mortos 3. A análise se estrutura a partir do estudo realizado ao longo da
disciplina, mas especialmente sob a noção de sequência textual proposta por
Jean-Michel Adam. As cidades invisíveis é um ótimo material para o estudo das
sequências textuais, pois é capaz de conter em sua estrutura três principais tipos de
sequências: narrativa (o livro como um todo), diálogo (entre Kublai Khan e Marco
Polo) e descrição (das cidades em específico).
Contudo, como este trabalho procura destacar, não é tão simples a diferenciação
entre as três sequências, já que um mesmo trecho pode ser, às vezes, interpretado das
três maneiras. Sendo assim, procurou-se fazer a análise de As cidades e os mortos 3
neste trabalho de modo que se definisse uma sequência textual dominante para o trecho.
É importante destacar que este trabalho possui quatro seções: Introdução, As cidades
invisíveis, Análise textual (dividida em três sub-seções: Análise do livro, Análise da
sequência textual e Interpretação do texto) e Conclusão. Em As cidades invisíveis
encontra-se transcrito o trecho do livro a ser analisado, em Análise da sequência textual
é feito o trabalho de se “categorizar” o trecho escolhido e em Conclusão procuram-se
explicitar as conclusões às quais podemos chegar através desta análise.
AS CIDADES INVISÍVEIS

As cidades e os mortos
3

Não existe cidade mais disposta a aproveitar a vida e a evitar as aflições do que
Eusápia. E, a fim de que o salto da vida para a morte seja menos brusco, os habitantes
construíram no seu subsolo uma cópia idêntica da cidade. Os cadáveres, dessecados de
modo que os esqueletos restem revestidos de pele amarela, são levados para baixo e
continuam a cumprir antigas atividades. Destas, as preferidas são as que reproduzem
momentos de despreocupação: a maioria é posicionada em torno de mesas servidas, ou
colocada em posições de dança ou no gesto de tocar trombeta. Mas todos os comércios
e profissões da Eusápia dos vivos são recriados no subsolo, ao menos os que os vivos
realizaram com mais satisfação do que aborrecimento: o relojoeiro, no meio de todos os
relógios parados de sua oficina, encosta a orelha seca num relógio de pêndulo sem
corda; um barbeiro ensaboa com um pincel seco o osso dos zigomas de um ator
enquanto este repassa o seu papel examinando o roteiro com as órbitas vazias; uma
moça de crânio risonho ordenha uma carcaça de bezerra.
Claro que muitos dos vivos pedem para depois da morte um destino diferente do
que lhes coube em vida: a necrópole é apinhada de caçadores de leões, meios-sopranos,
banqueiros, violinistas, duquesas, concubinas, generais, em número maior do que jamais
contou a cidade vivente.
A incumbência de acompanhar os mortos para baixo e instalá-los no lugar
desejado é conferida a uma confraria de encapuzados. Ninguém mais tem acesso à
Eusápia dos mortos e tudo o que se sabe de lá de baixo sabe-se por intermédio deles.
Dizem que a mesma confraria existe entre os mortos e que não deixa de lhes dar
uma ajuda; após a morte, os encapuzados continuarão com o mesmo ofício também na
outra Eusápia; fazem crer que alguns deles já morreram e continuam a ir de cima para
baixo. Claro, a autoridade dessa congregação sobre a Eusápia dos vivos é muito ampla.
Dizem que cada vez que descem encontram alguma mudança na Eusápia de
baixo; os mortos apresentam inovações em sua cidade; não muitas, mas certamente
fruto de uma reflexão ponderada, não de caprichos passageiros. De um ano para o outro,
dizem, não se reconhece a Eusápia dos mortos. E os vivos, para não ficarem para trás,
querem fazer tudo o que os encapuzados contam a respeito das novidades dos mortos.
Assim, a Eusápia dos vivos começou a copiar a sua cópia subterrânea.
Dizem que não é só agora que isso ocorre: na realidade, foram os mortos que
construíram a Eusápia de cima semelhante à sua cidade. Dizem que nas duas cidades
gêmeas não existe meio de saber quem são os vivos e quem são os mortos.
ANÁLISE TEXTUAL

ANÁLISE DO LIVRO

O trecho analisado neste ensaio se encontra na sétima parte do livro As cidades


invisíveis, de Italo Calvino. Publicado na Itália em 1972, a tradução de Diogo Mainardi
chegou ao público brasileiro em 1990, pela Companhia das Letras. Antes de passarmos
à análise do trecho sobre a cidade de Eusápia, é importante tratarmos de alguns aspectos
gerais, que são de extrema importância para a compreensão da obra como um todo. As
cidades invisíveis acompanha o diálogo entre dois personagens: Kublai Khan, um
poderoso imperador mongol, e Marco Polo, seu embaixador. Khan procura, por meio
dos relatos de Marco Polo, conhecer melhor as cidades por ele dominadas. Sendo assim,
acompanhamos, ao longo de toda a narrativa, esta conversa repleta de descrições.
O livro possui nove partes. A primeira e a nona partes descrevem dez cidades
cada uma, enquanto as restantes partes se ocupam da descrição de cinco cidades cada
uma. Dessa maneira, lemos a descrição de cinquenta e cinco cidades na obra. Tais
cidades são classificadas em onze categorias temáticas, listadas aqui por ordem de
aparição: As cidades e a memória, As cidades e o desejo, As cidades e os símbolos, As
cidades delgadas, As cidades e as trocas, As cidades e os olhos, As cidades e o nome,
As cidades e os mortos, As cidades e o céu, As cidades contínuas e As cidades ocultas.
O trecho analisado neste ensaio se encontra na categoria As cidades e os mortos
e vem marcado pelo número três, característica também de grande importância na obra.
Cada categoria temática (mencionadas no parágrafo anterior) contém exatamente cinco
cidades, de modo que Calvino faz uso dos números para indicá-las em seu livro. Sendo
assim, a cidade de Eusápia é a terceira a ser mencionada na categoria As cidades e os
mortos. Essas divisões feitas por Calvino na obra são características da estrutura
combinatória da qual faz uso em alguns de seus livros, como As cidades invisíveis e Se
um viajante numa noite de inverno. Fritoli (2012) destaca:
“Como vimos, o conceito de ‘narrativa hipertextual’ se refere essencialmente à estrutura modular
combinatória; mais precisamente, ao modo em que o texto é organizado em fragmentos (blocos
ou módulos) que possuem uma certa autonomia de sentido, mas que se completam, através das
escolhas do leitor, para formar um conjunto singular coeso e coerente” (FRITOLI, 2012, p. 214).
Sendo assim, As cidades invisíveis permite uma “leitura aleatória”, já que cada
fragmento/bloco/módulo possui um sentido completo individualmente. Se o leitor
desejar, pode ler um diálogo entre Khan e Polo sem o contexto da obra como um todo e
entendê-lo como um texto individual, o mesmo acontece para as descrições das cidades.
Esta característica combinatória da obra torna, entretanto, difícil afirmar-se
categoricamente que As cidades invisíveis seja, de fato, uma sequência narrativa. Por
isso, a noção de sequência textual de Jean-Michel Adam será de grande importância
para nossa análise. Para ele, a “sequência textual (...) é vista como um conjunto de
proposições psicológicas que se estabilizaram como recurso composicional dos vários
gêneros” (BONINI, p. 208). Ou seja, as sequências textuais são estruturas mais ou
menos estáveis usadas para os mais diversos gêneros textuais. Adam define suas
sequências a partir de Werlich (1976), que “postula cinco tipos de texto: a descrição, a
narração, a exposição, a argumentação e a instrução” (BONINI, p. 210).
Apesar de Adam pensar nestas sequências como exemplos prototípicos1, ele
destaca também que:
“as sequências são atualizadas no texto mediante as exigências pragmáticas de enunciado
(correspondentes em parte ao gênero), o que faz com que uma sequência prototípica se mostre,
na superfície textual, geralmente de modo parcial em relação aos seus traços típicos. Neste
sentido, também, tais exigências podem levar o texto a explicitar, em sua superfície, mais de uma
sequência, ao que uma delas será dominante, devendo as demais a ela se adequar” (BONINI, p.
218)
Essa é uma marca importante em As cidades invisíveis, já que, sendo uma obra
literária de ficção, nos vemos naturalmente induzidos a pensá-la como uma narrativa.
Contudo, a sequência narrativa deve, segundo Adam (1992), possuir seis características
principais: 1) a sucessão de eventos; 2) a unidade temática (possuir, portanto, um
protagonista); 3) os predicados transformados (apresentar o desenvolvimento dos
personagens); 4) o processo (“ter um início, um meio e um fim”); 5) a intriga (“pode
levar o narrador a alterar a ordem processual natural dos fatos, fazendo com que a
narrativa comece, por exemplo, pelo meio”); 6) a moral (que pode estar implícita)
(BONINI, 2005, p. 219).
Este livro (como um todo) parece não apresentar a maior parte destas
características, com exceção da unidade temática. Além disso, a obra se constitui
através de um diálogo entre Khan e Marco Polo, com trechos (ao início e ao fim das
partes) poligerados2, no qual aparecem as vozes de ambos os personagem e trechos nos
quais acompanhamos apenas as descrições que Marco Polo faz das cidades à Khan.
1
“O protótipo, segundo Rosch (op. cit.), é o objeto mais típico da categoria; é aquele que reúne o maior número de
pistas de validade para ser membro dela” (BONINI, p. 210).
2
“Em relação às demais, ela traz uma característica fundamental: o fato de ser poligerada. Ou seja, enquanto as
sequências vistas até aqui são formas textuais construídas por um único interlocutor (falante/escritor), o diálogo é
uma unidade formada, necessariamente, por mais de um interlocutor, podendo estes interlocutores ser
personagens, quando a sequência está inserida em um gênero de ficção” (BONINI, p. 224-225)
Sendo assim, estão presentes em As cidades invisíveis características de três das
sequências descritas por Adam: a narrativa, o diálogo e a descrição. Contudo, se
levarmos em conta trechos específicos, como o selecionado para este ensaio, podemos
observar a constituição de narrativas individuais bem formadas, algo que ficará evidente
na próxima sub-seção.

ANÁLISE DA SEQUÊNCIA TEXTUAL

Pode-se, portanto, identificar em As cidades e os mortos 3 uma narrativa bem


estruturada, apesar de estar “camuflada” em uma estrutura que tenderíamos inicialmente
a classificar como descrição. De modo que podemos observar, na narrativa de Eusápia,
um processo e uma sucessão de eventos bem claros: No início (primeiro parágrafo),
apresenta-se a cidade em linhas gerais; No meio (segundo, terceiro e quarto parágrafos),
se detalham as especificidades da cidade dos mortos; No fim (últimos dois parágrafos),
trata-se do caráter mutável da cidade.
A intriga aparece na primeira metade do penúltimo parágrafo:
“Dizem que cada vez que descem encontram alguma mudança na Eusápia de baixo; os mortos
apresentam inovações em sua cidade; não muitas, mas certamente fruto de uma reflexão
ponderada, não de caprichos passageiros. De um ano para o outro, dizem, não se reconhece a
Eusápia dos mortos” (CALVINO, 1990).
E uma espécie de resolução à intriga constitui a segunda metade do parágrafo:
“E os vivos, para não ficarem para trás, querem fazer tudo o que os encapuzados contam a
respeito das novidades dos mortos. Assim, a Eusápia dos vivos começou a copiar a sua cópia
subterrânea” (CALVINO, 1990).
Na sequência (último parágrafo), parece haver, inclusive, uma moral implícita
para a história:
“Dizem que não é só agora que isso ocorre: na realidade, foram os mortos que construíram a
Eusápia de cima semelhante à sua cidade. Dizem que nas duas cidades gêmeas não existe meio
de saber quem são os vivos e quem são os mortos” (CALVINO, 1990).
A moral parece refletir acerca da ideia de imitação: de quem são, de fato, o
imitador e o imitado, mas trataremos disso mais adiante neste trabalho. Seguindo com a
análise da sequência narrativa, podemos observar, entretanto, que a unidade temática e
os predicados transformados são conceitos um pouco mais difíceis de serem definidos
no trecho. Acreditamos haver muitas possibilidades de “protagonistas” (unidade
temática) para esta narrativa, as mais plausíveis seriam: a cidade de Eusápia, os
habitantes e a confraria de encapuzados. Para resolver este dilema, seria interessante
analisar como ocorreriam as transformações destes predicados na narrativa.
Eusápia parece passar por uma transformação contínua, pois seus habitantes
nascem, morrem e se tornam cadáveres (habitantes da cidade subterrânea), continuando
a transformá-la na parte inferior. Sendo assim, como a transformação da cidade precisa
ser necessariamente realizada por terceiros (seus habitantes), não parece plausível
tomá-la como protagonista da narrativa, apesar da proposta da narrativa ser
precisamente descrevê-la. A transformação dos habitantes, por outro lado, está em
passarem de vivos a mortos, de modo que não deixam nunca de existir, assim como os
encapuzados.
Contudo, há entre eles uma diferença: o poder. Os encapuzados são os únicos
que podem, tanto vivos como mortos, atuar em ambas as faces (inferior e superior) da
cidade. Desta maneira, talvez não seja possível falar que haja neles alguma
transformação, já que tanto vivos como mortos continuam a atuar na cidade da mesma
maneira. A interpretação mais segura para os encapuzados seria, portanto, a de tomá-los
como agentes da narrativa, já que levam os habitantes a passarem por suas
transformações. Sendo assim, os protagonistas mais plausíveis desta narrativa seriam os
habitantes da cidade.
Através da análise de As cidades e os mortos 3 pudemos, portanto, inferir que o
trecho é um exemplo de sequência narrativa bem formada, mesmo que não prototípica,
através das características propostas por Jean-Michel Adam. Só nos resta, sendo assim,
interpretar o que Calvino espera que o público leve à reflexão a partir deste trecho.

INTERPRETAÇÃO DO TRECHO

As cidades invisíveis é uma das obras mais líricas de Calvino. Através das
cidades fantásticas descritas, o autor procura levar o leitor a refletir sobre o mundo tal
como é. As onze categorias temáticas propostas no livro - As cidades e a memória, As
cidades e o desejo, As cidades e os símbolos, As cidades delgadas, As cidades e as
trocas, As cidades e os olhos, As cidades e o nome, As cidades e os mortos, As cidades e
o céu, As cidades contínuas e As cidades ocultas - sinalizam alguns dos temas que
Calvino aborda: os desejos, a morte, a ciclicidade da vida e muito mais. Contudo, há
muito mais a se inferir desta leitura.
O trecho escolhido para este trabalho, As cidades e os mortos 3, trata de muito
mais do que a morte. A primeira frase do trecho já é digna de análise: “Não existe
cidade mais disposta a aproveitar a vida e a evitar as aflições do que Eusápia”. Os
habitantes da Eusápia dos mortos estão, como vemos mais adiante, presos àquilo que
lhes dava felicidade em vida ou, caso isso não fosse uma realidade da vida do indivíduo,
ele é posto fazendo algo que gostaria de ter realizado em vida:
“Claro que muitos dos vivos pedem para depois da morte um destino diferente do que lhes coube
em vida: a necrópole é apinhada de caçadores de leões, meios-sopranos, banqueiros, violinistas,
duquesas, concubinas, generais, em número maior do que jamais contou a cidade vivente”
(CALVINO, 1990).
Além disso, a reflexão que mais chama atenção em As cidades e os mortos 3 é
aquela que pode ser realizada através dos personagens encapuzados. Esses são,
provavelmente, os personagens mais interessantes do trecho, pois são, como
mencionado anteriormente, os mais poderosos na cidade. Eles são os únicos que podem
transitar livremente tanto na cidade subterrânea, quanto na superior. Através de seus
relatos, que a repetição de “Dizem que” nos leva a suspeitar não serem passíveis de
confiança, é que os habitantes da cidade descobrem (ou acreditam) que a cidade
subterrânea se desenvolve. E é esse conhecimento (ou crença) que os leva a
desenvolverem também a cidade da superfície.
Aqui, cabem algumas reflexões sobre as ideias de: 1) autoridade; 2) ditadura; 3)
fé; 4) imitação. A questão da autoridade é facilmente observada nos personagens
citados, os encapuzados, pois são eles a autoridade máxima da cidade: aqueles que
cuidam da cidade dos mortos. A cidade confia a eles este trabalho, mas, sendo eles os
únicos a conhecerem a cidade subterrânea, torna-se um pouco difícil de afirmar se
dizem ou não a verdade sobre aquilo que veem no subterrâneo. E aí entram tanto a
questão da ditadura, quanto a da fé, pois são os encapuzados que impulsionam os
habitantes da cidade da superfície a se desenvolverem a partir dos relatos feitos da
cidade dos mortos. Pode-se interpretar que estes habitantes sentem-se pressionados a
desenvolver-se, pois estes “mestres” o levariam a tal, através de uma pressão moral.
Além disso, podemos perceber que os habitantes depositam muita confiança (fé) nestes
líderes.
Por fim, como mencionado anteriormente, a moral, presente no último parágrafo
do texto, parece refletir acerca da ideia de imitação: de quem são, de fato, o imitador e o
imitado. Os encapuzados relatam que, na realidade (deles), é possível que a cidade dos
mortos tenha surgido primeiro e que, portanto, seja a cidade dos vivos a copiá-la e não o
contrário. De modo que a frase “Dizem que nas duas cidades gêmeas não existe meio de
saber quem são os vivos e quem são os mortos” nos leva a refletir, como nos propunham
os gregos com sua ideia de imitatio, que talvez nenhuma delas se copie realmente.
CONCLUSÃO

A análise de As cidades e os mortos 3, de Italo Calvino, realizada a partir da


perspectiva teórica de Jean-Michel Adam (exposta por Adair Bonini em sua resenha
crítica A noção de sequência textual na análise pragmático-textual de Jean-Michel
Adam) nos levou à conclusão de que, apesar da heterogeneidade sequencial da obra As
cidades invisíveis, o trecho selecionado é um bom exemplo (mesmo que não
prototípico) de uma sequência narrativa. Pudemos observar com clareza que este trecho
da obra As cidades invisíveis contém todos os critérios propostos por Adam (1992) para
uma sequência narrativa: a sucessão de eventos, a unidade temática, os predicados
transformados, o processo, a intriga e a moral.
Contudo, a análise aqui apresentada é fruto de uma interpretação individual e é,
portanto, passível de crítica, pois procura analisar um texto de cunho literário e,
portanto, muito livre e subjetivo. Essas características ficam muito claras em As cidades
e os mortos 3 justamente pelo fato de poder-se interpretar o trecho de três possíveis
maneiras: como parte de um diálogo, como uma descrição e/ou como uma narrativa. O
texto apresenta, de fato, características que o encaixam em todos os gêneros
mencionados, apesar de defendermos que sua sequência dominante seria a narrativa.
BIBLIOGRAFIA

CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. 1ª ed. [Le città invisibili, 1972] Tradução:
Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 101-102.

FRITOLI, Luiz Ernani. Italo Calvino e Osman Lins: da literatura combinatória ao


hiper-romance. Tese (Doutorado em Teoria Literária e Literatura Comparada) -
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São
Paulo, 2012, p. 165-175. doi:10.11606/T.8.2012.tde-26102012-115215. Acesso em:
2021-07-11.

BONINI, Adair. A noção de sequência textual na análise pragmático-textual de


Jean-Michel Adam. In: Meurer, J.L.; Bonini, A.; Motta-Roth, D. (orgs.). Gêneros:
teorias, métodos e debates. São Paulo: Parábola, 2005, p. 208-236.

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