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O desafio de mudar

A Neurociência mostra que é possível – e nem tão difícil – dar um rumo diferente à
vida
LUIZ OCTÁVIO DE LIMA

Quantas vezes por mês, ou mesmo por semana, não se ouve alguém
repetir a frase: 'Sou assim mesmo, não posso mudar.'? De fato, o senso
comum acredita que cada ser humano tem um jeito de pensar e agir todo
particular, intransferível. E que, com o passar do tempo, esse
comportamento se torna imutável. Estariam todas as pessoas, então,
irremediavelmente condenadas a repetir atitudes, mesmo aquelas que as
prejudicam, sem a oportunidade de construir novos caminhos de vida? Nos
últimos anos, a neurociência - que estuda o funcionamento do cérebro
humano - vem chegando a respostas animadoras.

Para entender a realidade, as pessoas observam os fatos e os encaixam em


'esquemas', como números numa calculadora. No cérebro, a realidade
corresponde aos números, e a calculadora são os chamados modelos
mentais, esquemas criados pelas pessoas para compreender o que
acontece no mundo. Estão presentes em todo o conhecimento que se
adquire ao longo da vida - da infância, com as primeiras influências
familiares, à fase adulta, com experiências sociais e profissionais. O
problema é que, por meio desses modelos, nem sempre se interpreta de
maneira correta aquilo que se vê. Eles podem representar barreiras que
emperram o progresso pessoal e profissional. Os estudiosos, porém,
concluíram que a mente é muito mais flexível do que se imagina, e que
esses modelos podem ser transformados. Pode-se usar a maleabilidade da
mente a fim de identificar novos objetivos de vida, abandonar vícios como ä
comida, cigarro, drogas, consumo e viver de forma mais feliz. Ou seja, é
sempre possível mudar.

Um dos gurus dessa tendência é o americano Jerry Wind, professor da


Wharton School, na Pensilvânia, co-autor de A Força dos Modelos Mentais.
Para ele, visualizar a realidade sob um novo prisma, criando uma
perspectiva positiva em função dos objetivos que se deseja realizar, é
fundamental para enxergar as oportunidades que a vida apresenta e não
estão aparentes. São o que chama de 'pensamentos impossíveis'. Em seu
livro, Wind oferece diversos estudos que reforçam essa tese. Um deles
destaca uma fita que foi exibida a vários espectadores, que mostrava
jogadores trocando passes de basquete. Pediu-se aos participantes que
contassem o número de passes. Enquanto isso, em vários momentos, um
homem fantasiado de gorila atravessa a quadra. Mas esse 'detalhe' não foi
percebido pela maioria dos que assistiam à gravação. Para o autor,
situações como essa deixam claro quanto cada um pode iludir-se com a
realidade, ignorando fatos gritantes porque já está condicionado a enxergar
as coisas de determinada maneira. 'Daí a importância de aprender,
desaprender e reaprender para construir nosso conhecimento sob novos
paradigmas', diz Wind

A empresária Lucília Diniz valeu-se de uma mudança de prisma para vencer


a obesidade e impulsionar seus negócios, identificando um nicho de
mercado não atendido. 'Por meio de reflexão e meditação, deixei de me ver
como uma pessoa que 'era' gorda para alguém que 'estava' gorda. A
mudança do verbo ser, que sugere algo imutável, para o verbo estar,
provisório, foi um grande passo', diz. A linha de produtos light que criou é
fruto dessa troca de modelo mental. 'Comecei a pensar como alguém
saudável e imaginei quanto as pessoas magras deveriam se incomodar com
a falta de alternativas saudáveis e gostosas nas gôndolas dos mercados.'

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