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Universidade de Coimbra - UNIV-FAC-AUTOR

2011 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

Representações sociais das pessoas deficientes


mentais e sua integração socioprofissional TITULO
DISSERT
Ana Rita Santos Marques Tavares (email: rita.smt@gmail.com) - UNIV-
UC/FPCE

FAC-AUTOR

Dissertação de Mestrado em Psicologia das Organizações e do Traba-


lho sob a orientação de Professor Doutor Joaquim Pires Valentim - U
Representações sociais das pessoas deficientes mentais e sua
integração socioprofissional

Resumo
O presente estudo tem como objectivo principal identificar as repre-
sentações sociais sobre pessoas com deficiência mental e sobre a integração
destas pessoas no mercado de trabalho, através de um conjunto de entrevis-
tas a participantes inseridos num ambiente propício à integração daquele tipo
de população. É também objectivo deste estudo inferir através das represen-
tações sociais dos participantes, atitudes e acções futuras para colmatar lacu-
nas tanto na visão da deficiência mental, como da integração destas pessoas
no mercado de trabalho. O estudo segue os parâmetros da grounded theory,
pelo que a sua análise comporta uma visão única da problemática, perspecti-
vando assim uma nova abordagem ao tema em investigações futuras.

Palavras chave: Representações sociais, Deficiência mental, Integra-


ção socioprofissional, grounded theory.

Social representations of mentally disabled people and their


socio-professional integration

Abstract
The present study aim to identify the social representations about peo-
ple with mental disability and their integration in the labor market of a group
of people who work in a place which is conducive to the integration of that
kind of population. It is also an aim of this study infer by participants’ social
representations, attitudes and actions to fill the gaps in both the general vi-
sion of mental disability and the integration of these people in the labor mar-
ket. The study follows the grounded theory parameters, so this present study
has a unique vision of the problem, thus envisaging a new approach to the
topic in future investigations.

Key Words: Social representations, Mental disability, Social and Pro-


fessional integration, grounded theory.
Agradecimentos
- U Agradeço primeiramente ao Professor Doutor Joaquim Pires Va-
lentim, pela orientação.
Agradeço à Câmara Municipal de Mangualde pela disponibilidade que
me transmitiu sempre, principalmente à Divisão de Cultura, ao Serviço de
Educação, Saúde e Acção Social e ao grupo de jardinagem.
Índice

Introdução ............................................................................................ 1
I – Enquadramento conceptual ............................................................. 3
Representações sociais ..................................................................... 3
Deficiência mental ........................................................................... 5
Integração socioprofissional............................................................. 6
II - Objectivos ...................................................................................... 9
III - Metodologia ................................................................................ 10
IV - Resultados................................................................................... 12
Categoria I: Representações sociais da deficiência mental ............ 12
Categoria II: Factores auxiliadores e inibidores da integração
socioprofissional de pessoas deficientes mentais ..................................... 17
Categoria III: Papel das entidades empregadoras na integração
socioprofissional no mercado de trabalho de pessoas deficientes
mentais ..................................................................................................... 20
V - Discussão ..................................................................................... 22
VI - Conclusões .................................................................................. 28
Bibliografia ........................................................................................ 29
Anexo I – Guião de entrevista ............................................................ 33
Anexo II – Entrevistas transcritas integralmente ............................... 35
Anexo III - Caracterização social dos participantes ........................... 77
1

Introdução
No seguimento da linha de investigação que dá título a esta disserta-
ção de mestrado é pertinente centrar o nosso estudo em três concepções dis-
tintas, mas que se interligam neste caso: a concepção de deficiência mental,
as representações sociais da deficiência mental e a integração profissional
destas pessoas no mercado de trabalho.
As representações sociais, “modalidade de conhecimento, social-
mente elaborada e partilhada, com um objectivo prático e contribuindo para
a construção de uma realidade comum a um conjunto social” (Jodelet, 1989
citado em Vala, 2006, p. 458), são, neste caso específico, a forma encontrada
para auferir a opinião dos participantes (colaboradores da Câmara Municipal
de Mangualde) sobre a deficiência mental e sobre a integração de pessoas
portadoras de deficiência no mercado de trabalho. Não sendo estes partici-
pantes representativos da população de colaboradores de Câmaras Munici-
pais do país, são, pela sua experiência e pelo tipo de funções que desempe-
nham, e também pelo tipo de entidade empregadora que possuem (local pro-
pício à integração de pessoas portadoras de deficiência mental como conse-
quência de programas e incentivos governamentais), pessoas que têm sobre
este assunto algo a dizer e a incrementar aos estudos já existentes. Por esta
razão, este estudo pretende “abrir portas” a uma amostra que pode ser bas-
tante proveitosa para entender melhor os factores benéficos e os factores
prejudiciais à integração de pessoas com deficiência mental no mercado de
trabalho, assim como para encontrar melhores práticas relacionais e laborais
no local de trabalho a integrar.
É historicamente sabido que a deficiência mental, nomeadamente a
caracterização e a forma de lidar com pessoas deficientes, pode levantar
algumas questões de carácter social, nomeadamente de desejabilidade e
agradabilidade social. Apesar desta tentativa da sociedade de agradar aos
outros, as pessoas portadoras de uma deficiência mental vêem associadas a si
um estigma social que tendencialmente recai sobre aspectos negativos. É
atribuída à pessoa com deficiência mental uma vasta gama de adjectivos
pejorativos e inócuos e de condições extremamente debilitantes, que contri-
buem para o ostracismo e esquecimento deste tipo de população na socieda-
de.
A acrescentar ao que foi dito anteriormente, a questão da integração
socioprofissional de pessoas portadoras de deficiência mental é deveras im-
portante e evidente para que não seja aqui realçada. À falta de reflexão sobre
os aspectos positivos que o trabalho tem sobre a vida de qualquer pessoa,
tais como a autonomia, o sentido de responsabilidade e o apreço pessoal,
acresce o facto de haver, ou por desconhecimento ou por vontade deliberada
de que assim seja, uma falha no que toca à contratação de pessoas com defi-
ciência mental e, muitas vezes, um desrespeito pelos seus direitos.
Este trabalho, na senda dos trabalhos efectuados nos anos transactos,
tenta contribuir com uma nova visão sobre as representações sociais das

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pessoas com deficiência mental, desta vez utilizando participantes inseridos


no mercado de trabalho.
Seguidamente apresentaremos uma abordagem conceptual, embora
breve, sobre representações sociais, deficiência mental e integração socio-
profissional de pessoas com deficiência mental no mercado de trabalho.
Após essa resenha bibliográfica passaremos aos objectivos específicos desta
investigação, analisando-os e discutindo-os baseados na grounded theory,
encontrando no final um modelo teórico explicativo daquilo a que nos pro-
pomos investigar.

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I – Enquadramento conceptual

Representações sociais
O conceito de representação social provém dos estudos efectuados em
1898 por Durkheim, nomeadamente sobre representações colectivas e indi-
viduais (Vala, 2006). O motivo que levou este autor a debruçar-se sobre esta
temática foi a necessidade de fundamentar a unicidade e carácter autónomo
dos fenómenos sociais. O mesmo autor caracterizou posteriormente as repre-
sentações colectivas de certa forma principais e exteriores às representações
individuais (Durkheim, 1898 citado em Vala, 2006; Valentim, 2003), com
génese na interacção entre os membros dos grupos. Para Durkheim, a repre-
sentação colectiva, anteriormente denominada de consciência colectiva (re-
presentações partilhadas e reproduzidas pela maioria dos membros de um
grupo são caracterizadas como homogéneas, estáveis e rígidas), tornava a
consciência/representação individual (estados mentais internos e individuais,
transformáveis e passageiros) dependente da primeira, nunca considerando
esta última na sua individualidade (Valentim, 2003).
Mais tarde, em 1961, Serge Moscovici surge com um estudo sobre a
psicanálise, nomeadamente sobre a forma como diferentes grupos sociais
apropriavam este constructo, com o objectivo principal de compreender de
que forma as pessoas interiorizam e transformam uma teoria científica numa
teoria prática e social (Vala, 2006). Este estudo de Moscovici foi efectuado
através da utilização de questionários e entrevistas e análise da imprensa
utilizando como método a análise de conteúdo (Valentim, 2003).
É com Moscovici que o conceito representação social1 surge, descrito
como uma remodelação e modernização do conceito consciência colectiva,
dotando-o de um carácter heterogéneo, flexível e não superior ou sobreposto
à opinião, à consciência individual (Valentim, 2003).
Jodelet, em 1984, refere que representação social compreende diversi-
ficados fenómenos sociais com diferentes graus de complexidade, individu-
ais e colectivos, psicológicos e sociais (Oliveira, Sampaio, & Amâncio,
2004).
Valentim (2003) alude por sua vez, que representações sociais se refe-
rem a conhecimentos ou teorias presentes no senso comum e que se relacio-
nam directamente com conceitos abstractos que pairam na sociedade.
A representação social pode ser encarada como particular, que diz
respeito à interpretação e apropriação de teorias científicas pela pessoa indi-
vidualmente e pode também ser encarada como universal2, no sentido em

1
Sobre as representações sociais da deficiência mental consultar as obras de
De Rosa (1987); Jodelet (1989); Belleli (1994 em Vala, 2006) e Pereira (2010).
2
Moscovici centra-se sobre o carácter universal da representação social, em-
bora considerando alguns aspectos de particularização, uma vez que é desta forma
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que pressupõe que através de uma interacção social, suportada por questões
culturais e ideológicas, se constroem teorias práticas sobre teorias científicas
(Vala, 2006).
Ainda na senda de explicar representação social, interessa referir os
seus critérios. O primeiro critério, segundo Vala (2006), é o quantitativo,
significando que uma representação é social porque é partilhada por um gru-
po de pessoas. O segundo critério é o genético, pois a representação social é
produzida no seio do grupo como consequência da sua interacção e comuni-
cação. O último critério, ainda segundo o autor, é o da funcionalidade, con-
siderando-se assim a representação social como agente para a acção e para a
comunicação em relação ao objecto pelo grupo analisado.
A formação da representação social engloba dois processos funda-
mentais que se interligam, são eles a objectivação e a ancoragem (Valentim,
2003). A objectivação é o processo através do qual os elementos constituin-
tes da representação se organizam e se corporalizam, tornando-se manifesta-
ções daquela realidade (Vala, 2006; Valentim, 2003). A objectivação passa
ainda por três fases: a construção selectiva, onde existe uma redução ou uma
acentuação de certos elementos constituintes da mensagem; a esquematiza-
ção, que trata da organização dos elementos anteriormente seleccionados
através de uma esquematização estruturante; a naturalização, que é o mo-
mento em que o que foi reorganizado se materializa de tal forma que aparece
como natural para os membros do grupo que o definiram (Vala, 2006). A
ancoragem, por seu turno, é o processo através do qual aquilo que era inde-
finido, aquilo que não existia enquanto realidade, se torna real e aceite para
os membros do grupo e ainda organiza e regula os comportamentos e rela-
ções dentro do grupo (Vala, 2006). Estes novos conhecimentos para além de
serem aceites pelo grupo, são ainda enraizados a conhecimentos anterior-
mente estabelecidos como reais para o grupo (Valentim, 2003).
Este processo eleva a representação social ao patamar da função social
e comunicacional (Vala, 2006). Quanto ao patamar comunicacional, uma vez
que é através da comunicação e da circulação de ideias na sociedade que se
vão formando as representações sociais (Valentim, 2003), Moscovici avança
três sistemas de comunicação: a propagação, que ocorre quando as mensa-
gens são produzidas por um grupo e os receptores da mensagem são os pró-
prios elementos do grupo, incrementando a discussão entre o grupo em torno
de um qualquer objecto social com que se preocupam; a difusão, que é mais
abrangente que a propagação, uma vez que se dirige a vários grupos não se
fincando numa interpretação sólida do problema, mas sim numa indiferenci-
ação do conceito, permitindo que os vários elementos dos diferentes grupos
interpretem o problema de diversas formas; a propaganda, que analisa o
problema apenas através de uma única perspectiva oposta à dos outros, tor-
nando-a conflituosa e de certa forma autoritária (Vala, 2006; Valentim,

que melhor explica o fenómeno, pois dele carece a interacção social que constrói
teorias sobre os objectos pensados pelo grupo e que, através de processos comunica-
cionais, organiza os pensamentos e controla os comportamentos (Vala, 2006).
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2003).
As representações sociais são um conjunto de valores, ideias e práti-
cas com uma dupla função: estabelecer uma ordem que permite aos indiví-
duos orientar-se no mundo material e social, para o dominar; e permitir a
comunicação entre os membros de uma comunidade, proporcionando-lhes
um código para trocas sociais, bem como para denominar e classificar, sem
ambiguidades, os vários aspectos do seu mundo e da sua história individual e
grupal (Moscovici, 1976, citado em Duveen, 2000, em Oliveira e col., 2004).
O conceito de representação social foi evoluindo e simultaneamente
construindo a própria Psicologia Social. Contudo, apesar do seu papel na
construção da Psicologia Social, da expansão quase exponencial de investi-
gações sobre o tema, não nos encontramos, segundo as palavras de Mosco-
vici, “na era das representações”. Moscovici considera que a multiplicação e
o abuso da utilização deste conceito a nível teórico e prático o tornou vago e
também uma forma de atribuir qualquer rótulo positivo a diversos estudos
que na realidade nem sempre transpõem da melhor forma a teoria das repre-
sentações sociais (Valentim, 2003).

Deficiência mental
Assim como outros conceitos relacionados tanto com saúde física
como mental, a deficiência mental assiste a uma evolução ao longo da histó-
ria que varia segundo factores sociais, culturais e científicos. Podem consi-
derar-se três momentos históricos marcantes para o desenvolvimento con-
ceptual da deficiência mental. O primeiro momento é assinalado pelo inte-
resse académico na biologia e na psicologia, existindo uma tentativa de dife-
renciação da deficiência mental face a outras deficiências, com início no
século XIX até sensivelmente ao seu final. O segundo momento histórico
inicia-se no final do século XIX e vai até ao início da II Grande Guerra
Mundial, que enfatiza a institucionalização dos deficientes mentais e a sua
escolaridade obrigatória. O último momento, que perdura até hoje desde o
final da II Grande Guerra Mundial, é assinalado por atitudes humanistas e de
defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiência mental, assim como
pelos avanços científicos verificados (Castilho, 2003). É neste último mo-
mento que o interesse pela integração, associado ao interesse pela justiça,
pela liberdade e pela igualdade surgem (Genelioux, 2005).
Apesar dos esforços despendidos para conceptualizar deficiência
mental, esta é ainda de difícil descrição (Albuquerque, 2000 citado em Perei-
ra, 2010). Este é um conceito que engloba em si vários campos de estudo,
desde o biológico ao social, sendo assim facilmente explicada esta dificulda-
de em descrevê-lo.
A deficiência mental refere-se a uma actividade intelectual abaixo
da média acompanhada por limitações no comportamento adaptativo em
pelo menos duas de várias áreas como a comunicação, as competências soci-
ais e interindividuais, o autocontrolo, o trabalho, a saúde e a segurança. A
deficiência mental deve ter início antes dos 18 anos (DSM-IV-TR, 2006;

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AAMR, 1996).
Existem três tipos de deficiência mental: a deficiência mental ligeira
que integra a maior parte dos sujeitos com deficiência mental (com valores
de QI entre os 50-55 e os 70), que são pessoas que podem vir a desenvolver-
se de tal forma desde a infância à idade adulta ao ponto de poderem viver
autonomamente, quer em lares protegidos, quer sozinhos; a deficiência men-
tal moderada, que se refere a cerca de 10% da população com deficiência
mental (com valores de QI entre os 35-40 e os 50-55), que são pessoas que
com uma certa monitorização podem adquirir algum tipo de autonomia; a
deficiência mental grave, que constitui cerca de 3 a 4% da população com
deficiência mental (com valores de QI entre os 20-25 e os 35-40), que são
pessoas que requerem uma supervisão mais rigorosa, mas que são capazes de
se adaptar a um ambiente de um lar protegido; a deficiência mental profun-
da, que constitui apenas 1 a 2% da população alvo (com valores de QI entre
os 20 e os 25), que são pessoas que necessitam de uma terceira parte que
cuide delas (DSM-IV-TR, 2006).
A AAMR (American Association on Mental Retardation) classifica
a deficiência mental centrada nas funcionalidades em vez de centrada nas
limitações. Assim, existem três etapas, sendo que na primeira são avaliados
o funcionamento intelectual e os comportamentos adaptativos, na segunda
são enumerados os factores fracos e fortes da pessoa segundo quatro dimen-
sões (capacidade intelectual e comportamento adaptativo, apreciações emo-
cionais e psicológicas, apreciações físicas, etiológicas e de saúde e, aprecia-
ções ambientais), na terceira é definido o apoio a atribuir necessário para as
quatro dimensões (Castilho, 2003).

Integração socioprofissional
Quando se pensa em integração socioprofissional de pessoas com
deficiência mental, rapidamente nos vem à ideia trabalhos que impliquem
menor responsabilidade e trabalhos mais práticos. Contudo, não devemos
esquecer que pessoas portadoras de deficiência mental são diferentes entre
si, podendo desempenhar funções autónomas, uma vez que o seu passado, as
suas experiências e vivências são determinantes para o seu desenvolvimento
(Fernandes, 2007). Para esta população, assim como para qualquer indiví-
duo, o significado de uma função profissional revela-se uma afirmação de
cidadania e utilidade para a sociedade. Para os deficientes mentais um em-
prego surge ainda como afirmação da autonomia pessoal, afirmação perante
os outros, auxílio financeiro para o próprio e para a família. Funciona como
ponte para a edificação de um futuro profissional e como reconhecimento
social contribuindo também para a inclusão social do indivíduo (Cação,
2007).
Cabe ao Estado assegurar uma política nacional de prevenção, tra-
tamento, reabilitação e integração dos cidadãos com deficiência mental e
ainda, certificar-se dos deveres da efectiva realização desses parâmetros. As
instituições, por seu turno, têm o dever de complementar aquilo que o Estado

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deve fazer, recebendo destes apoios e privilégios (Castro, 2007).


Programas de carácter específico, como o Plano Nacional de Em-
prego para o período entre 2005 e 2008, despontam como principais instru-
mentos de promoção ao emprego e prevenção do desemprego. Para além
disso, aquele plano pretende ainda reajustar medidas de emprego e formação
para reabilitar profissionalmente pessoas com deficiência mental (Fernandes,
2007).
A empregabilidade destas pessoas não passa exclusivamente por
elas, pelas suas competências sociais e profissionais, passa também por
quem os recebe, pela abertura e vontade dos empregadores de facultarem a
estas pessoas a função adequada às suas limitações e, ainda, assegurarem o
bom relacionamento entre a pessoa portadora de deficiência e os restantes
colaboradores (Fernandes, 2007).
À pessoa deficiente mental cabe aceder a serviços de orientação
profissional e a apoios à integração oferecidos pelo Estado, uma vez que
simplificam a sua integração e inclusão no mercado de trabalho. É sabido
que através destes programas as taxas de empregabilidade são bastante maio-
res do que em iguais circunstâncias, mas sem aceder aos mesmos. Estas pes-
soas podem ainda beneficiar de apoios financeiros e técnicos para trabalha-
rem por conta própria (Fernandes, 2007). Quanto aos empregadores, estes
são providos de fundos financeiros para compensar algum tipo de lacuna na
produtividade alcançada por indivíduos portadores de deficiência mental,
para promover um acompanhamento mais personalizado ou ainda para adap-
tar o local e a função ao deficiente mental. Estes incentivos têm o intuito de
garantir uma melhor acessibilidade e conforto e, consequentemente, mais
produtividade. Estes têm ainda uma redução nas contribuições à Segurança
Social (Fernandes, 2007).
A taxa de empregabilidade de pessoas com deficiência mental au-
menta devido a dois factores, a existência de incentivos financeiros e outras
medidas facilitadoras e devido às constantes eliminações de barreiras ou
outros agentes inibidores (Fernandes, 2007). Para além destes factores, a
experiência de trabalho com pessoas deficientes mentais, ou até mesmo o
contacto social, têm-se revelado também factores positivos à integração pro-
fissional desta população (Fernandes, 2007).
Os factores que levam à exclusão e consequentemente à não contra-
tação e integração desta população no mercado de trabalho têm que ver com
receios e estereótipos que tendencialmente fazem com que se olhe para esta
população como menos produtiva, menos capaz e menos sociável (Fernan-
des, 2007).
Como recomendação e de acordo com as exigências dos novos desafi-
os há que ter em consideração factores como a protecção social, revendo o
regime de prestações sociais quanto à integração e reabilitação desta popula-
ção, com base no grau de deficiência e no tipo de vulnerabilidade que as
famílias ostentam e, revendo também os estatutos financeiros existentes
entre o Estado e as organizações não governamentais de pessoas com defici-
ência. Deve também ter-se em consideração a educação, adaptando os edu-

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cadores de infância e os professores do ensino básico às necessidades espe-


ciais de crianças com deficiência mental, reforçando recursos humanos e
recursos tecnológicos para uma utilização mais pedagógica e adaptada. De-
vem ser revistas as políticas de emprego e formação profissional, determi-
nando critérios para a adaptação de postos de trabalho tanto a nível físico
como de cultura organizacional. A prevenção e reabilitação médica deve
consolidar-se com um modelo de intervenção precoce a nível nacional para
regularizar as relações entre Estado, organizações e famílias e, aumentar o
número de respostas de centros públicos especializados em reabilitação físi-
ca. Outros factores como a acessibilidade e comunicação, adequando as con-
dições de habitabilidade; a cultura, desporto e lazer, promovendo o desporto
e outras actividades físicas e incentivando o acesso a locais culturais públi-
cos; a sensibilização e informação, desenvolvendo uma campanha de cariz
nacional a favor da não discriminação devem ser considerados (Godinho,
2007).

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II - Objectivos
O presente estudo enquadra-se no âmbito das representações sociais e
da integração da população de deficientes mentais no mercado de trabalho.
O alcance dos objectivos deste estudo passa pela obtenção das respos-
tas de um grupo de pessoas que se encontra num meio favorável à integração
profissional de deficientes mentais quanto à integração destes no mercado de
trabalho no geral. Através destas respostas reconheceremos se as representa-
ções sociais que eles têm desta população específica influenciam de algum
modo a integração deles no mercado de trabalho.
As questões a que este estudo pretende dar resposta efectivamente
são:

a) Quais as representações sociais da deficiência mental e da integra-


ção socioprofissional de deficientes mentais no mercado de traba-
lho?
b) Quais os factores que auxiliam a integração de pessoas deficientes
mentais no mercado de trabalho?
c) Quais os factores que dificultam a integração de pessoas deficien-
tes mentais no mercado de trabalho?
d) Qual o papel das entidades empregadoras na integração da popu-
lação de deficientes mentais no mercado de trabalho?
e) Será possível criar condições óptimas para a integração de defici-
entes mentais no mercado de trabalho?

Para além destas questões mais objectivas, é ainda interesse deste es-
tudo auferir resposta quanto à forma como o grupo de pessoas envolvido se
sente na presença de pessoas deficientes mentais e qual a sua opinião sobre a
integração de deficientes mentais no mercado de trabalho na generalidade e
no seu local de trabalho em particular.

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III - Metodologia
Este estudo tem um carácter meramente exploratório, pelo que a sua
importância é a de trazer mais informação sobre este fenómeno social em
particular e possibilitar a continuidade do seu estudo no futuro.
A informação necessária à investigação foi recolhida junto de um gru-
po de pessoas com relevância para a problemática devido à sua experiência
de trabalho com deficientes mentais e ao contacto que alguns profissionais
têm como consequência directa das suas funções profissionais.
Foram realizadas entrevistas num registo individual, presencial e se-
mi-directivo com apoio num guião de entrevista base, mas com respostas
abertas e flexíveis, para facilitar o acesso às normas, valores e representa-
ções sociais dos participantes.
A entidade patronal permitiu que as entrevistas se realizassem em
contexto e horário laborais.
As entrevistas realizaram-se junto de dois grupos distintos de parti-
cipantes, colaboradores da área da jardinagem (um total de seis), que traba-
lharam no passado com pessoas portadoras de deficiência mental e técnicos
superiores das áreas da saúde e acção social, da educação e da cultura (um
total de doze), que desempenham funções profissionais nas quais lidam com
pessoas com deficiência mental. O total de entrevistas é de dezoito.
A duração média das entrevistas dos colaboradores da jardinagem
foi de sete minutos e dezasseis segundos (a maioria não se aproximou dos
cinco minutos e apenas uma ultrapassou os vinte minutos). A duração média
das entrevistas dos técnicos superiores foi de catorze minutos e trinta segun-
dos.
O recurso a este método deveu-se à necessidade de auferir respostas
qualitativas face à problemática em estudo e também ao facto de assim ser
possível recolher experiências passadas e acontecimentos presentes. Este
método foi também escolhido para que as respostas pudessem ser mais aber-
tas e flexíveis, permitindo um maior à vontade dos participantes para acres-
centarem informação adicional que considerassem relevante e também para
desenvolver teoria.
Para que nenhum pormenor das respostas dos participantes fosse
esquecido, pediu-se aos mesmos autorização para gravar a entrevista inte-
gralmente, garantindo-se o anonimato de todos os participantes, a fim de
preservar questões éticas e funções profissionais.
As entrevistas foram transcritas integralmente, procedendo-se à sua
análise posterior fundamentada pela grounded theory, pelo que se iniciou
com uma leitura minuciosa frase a frase, para encontrar incidentes e assim se
proceder à sua conceptualização. Depois de identificados os incidentes se-
melhantes, estes foram teoricamente comparados entre si. Os incidentes que
se revelaram idênticos foram generalizados numa categoria e, posteriormen-
te atribuída uma designação emblemática do fenómeno analisado. Estas ca-
tegorias foram posteriormente comparadas de forma sistemática complexifi-

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cando-se as categorias já existentes. Foram-se formulando memorandos e


diagramas nesta fase da análise, para que se repensassem as relações existen-
tes entre os elementos constituintes das categorias. As categorias principais
foram identificadas, coincidindo neste estudo com as questões-chave do
guião de entrevista (Strauss & Corbin, 1998; Rennie, 2006).
Foram também considerados, para além dos elementos presentes nas
respostas, elementos resultantes da observação directa dos participantes, tais
como elementos não-verbais (silêncios longos, olhares, posturas corporais,
mímicas, entoações, choro, entre outros). Esses elementos podem conter
informação que cabe ao investigador desvendar.
Através da análise e junção de todos os memorandos, deu-se início à
construção do modelo teórico.
Foi também efectuada uma breve caracterização social dos partici-
3
pantes .

3
Caracterização dos participantes em Anexo III.
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IV - Resultados
Os resultados obtidos através da análise dos dados serão aqui apresen-
tados seguidamente. Importa referir, antes de iniciar a exposição detalhada
dos resultados, que não foi por nós avançada qualquer definição de deficiên-
cia mental em momento algum, nem se corrigiu qualquer resposta in situ
para não enviesar as respostas dadas pelos participantes.
Este estudo não tem como objectivo testar hipóteses, mas sim ser ex-
ploratório na medida em que intenta trazer algo de novo à temática, nomea-
damente a visão, as representações sociais da deficiência mental e da inte-
gração destes no mercado de trabalho, através de um grupo de pessoas inse-
rido activamente no mercado de trabalho. Sabido é pela literatura que o con-
vívio social e profissional com pessoas portadoras de deficiência mental se
torna uma mais-valia à integração e à contratação de pessoas com este tipo
de deficiência. Este estudo é então pioneiro por tratar este tipo de participan-
tes com este tipo de experiência.
Através dos métodos desenvolvidos anteriormente alcançaram-se três
grandes categorias:
• Categoria I: Representações sociais da deficiência mental;
• Categoria II: Factores auxiliadores e inibidores da integração socio-
profissional de pessoas deficientes mentais;
• Categoria III: Papel das entidades empregadoras na integração soci-
oprofissional no mercado de trabalho de pessoas deficientes men-
tais.
A informação relativa à caracterização social da amostra não foi con-
siderada em análise4 devido essencialmente a factores temporais, porém fica
como recomendação o estudo comparativo destas características/categorias
quanto ao mesmo fenómeno social.

Categoria I: Representações sociais da deficiência mental


A análise dos dados que constituem a resposta à primeira questão do
guião de entrevista5 “O que é para si uma pessoa com deficiência mental?”
reúne, junto dos colaboradores da jardinagem, respostas curtas e breves,
contudo possuindo mais que um conceito para definir deficiência mental,
como foi o caso da resposta de J(m)6 nº6, que respondeu da seguinte forma
“Uma pessoa que tem alguns problemas (…) fazem com que sejam diferen-

4
As breves comparações que se fazem entre as diferentes classes de partici-
pantes resultam do processo utilizado para a categorização dos elementos, para uma
mais fácil apreensão de notórias diferenças entre as mesmas, não tendo a sua análise
sido profunda.
5
Guião de entrevista em Anexo I.
6
Passaremos a designar jardineiro através da letra J, J(f) se for do sexo femi-
nino, J(m) se for do sexo masculino.
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tes (…) têm capacidades para mostrar, pouco desenvolvidas (…)”7, ou o


caso da resposta de J(m) nº3, “(…) tem alguns problemas (…) estão limita-
das (…)”.
Estes participantes mostraram-se nesta questão pensativos, mas rápi-
dos na resposta, salientando essencialmente dois focos, o das limitações,
como foi possível observar nas transcrições acima, e o da igualdade com
pessoas sem deficiência mental, como se pode ver na resposta de J(f) nº2
“(…) ser humano como outro qualquer.”.
Quanto aos técnicos superiores, estes foram mais complexos nas res-
postas que deram, na medida em que descreveram mais pormenorizadamente
e com termos mais técnicos, aquilo que consideravam ser a deficiência men-
tal. Veja-se a resposta de TS (f)8 nº1 “Têm muita dificuldade em se integrar,
precisamente porque há uma rejeição por parte da entidade patronal (…)
têm dificuldades, limitações (…) também são produtivas e que podem ajudar
na economia do país (…)”, a resposta de TS(m) nº5 “(…) é uma pessoa com
dificuldades (…) completamente incompreendida na sociedade (…)”, ou a
resposta de TS(f) nº9 “(…) são pessoas também com capacidades, muito
boas (…) há coisas que eles não conseguem desenvolver (…) são crianças
pequenas, que não crescem e não desenvolvem determinadas faculdades (…)
eles têm capacidades, eles têm sentimentos, eles apercebem-se (…) não se
conseguem é expressar da mesma forma que nós (…)”.
As respostas dos técnicos superiores foram, em larga escala, diferentes
das dos jardineiros. As respostas daqueles foram mais racionais, pelo que a
sua análise resultou em mais elementos a considerar, assim como em mais
relações a retirar. Os participantes que desempenham funções na área da
saúde e acção social foram mais directos nas respostas e utilizaram termos
mais técnicos, como a resposta de TS(f) nº2 “(…) é uma pessoa que tem um
handicap ao nível das faculdades mentais, atrasos a nível cognitivo que
podem estar ou não associados a outras deficiências (…)”, a resposta de
TS(f) nº6 “(…) alguém que ao nível da estrutura psicológica apresenta al-
gumas lacunas, algumas anormalidades que fogem à norma, e que podem
provocar alguma incapacidade na realização das tarefas de forma “nor-
mal” (…)”.
A maioria das respostas dos técnicos superiores recaiu sobre elemen-
tos como dificuldades, incapacidade, diferença, falhas, capacidade e ser hu-
mano.
Se fizermos uma primeira comparação entre as respostas dos jardinei-
ros e as dos técnicos superiores verificamos que, apesar das respostas dos
técnicos superiores serem mais extensas, logo mais ricas em conteúdo, os
elementos que ressaltaram de todas as entrevistas foram essencialmente os

7
Para evitar a transcrição integral de alguns excertos das entrevistas optou-
se, para não dificultar a leitura dos resultados, por transcrever apenas algumas pala-
vras ou pequenas frases retiradas dos discursos obtidos.
8
Passaremos a designar técnicos superiores através das siglas TS, TS(f) se
for do sexo feminino, TS(m) se for do sexo masculino.
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mesmos, recaindo sobre a esfera das limitações e dificuldades várias e, tam-


bém, sobre a esfera já mencionada acima, a da igualdade, notando-se uma
entoação diferente na voz dos técnicos superiores quando proferiam a pala-
vra “pessoa”.
Para além desta questão decidimos ainda inserir nesta dimensão, a tí-
tulo de informação adicional para analisar mais pormenorizadamente esta
dimensão, a questão nº2 do guião de entrevista “Geralmente, como se sente
na presença de uma pessoa com deficiência mental?”, a fim de avaliar o
nível de desejabilidade social apresentado e para auferir mais sobre as repre-
sentações sociais dos respondentes. Acrescentámos também a questão nº3
“Como acha que os seus colegas de trabalho se sentem na presença de pes-
soas com deficiência mental?”, para auferir qualquer tipo de exteriorização
da própria opinião nos outros. Por fim foi inserida a questão nº5 “O que é
para si uma pessoa sem deficiência mental?”, para contrastar com a primeira
questão do guião de entrevista e desta forma perceber como se vêem a si
próprios em comparação com uma pessoa com deficiência mental.
A questão nº2 reuniu, por parte dos jardineiros, uma resposta rápida e
directa, dividindo-se entre o “Estou sempre à vontade.”, resposta de J(m)
nº1, e “Houve um dia que não me senti à vontade (…)”, resposta de J(m) nº5.
No total houve a esta questão por parte destes participantes três respostas
positivas, na medida em que demonstram um à vontade geral para lidarem
com este tipo de população, houve uma resposta negativa, a dada por J(m)
nº5 que comporta a explicação para tal sentimento face a algumas pessoas
com deficiência mental, “(…)estava a podar uma árvore e esse mais compli-
cado queria-me bater. Pegou num serrote e queria cortar o que lhe apare-
cesse à frente (…)”. Houve ainda duas respostas que se distinguiram pela
indecisão, demonstrando um sentimento de compaixão “Ao mesmo tempo
uma pessoa não se sente tão à vontade (…) Dá pena.”, resposta de J(f) nº2,
e “Sei lá, pensa-se sempre que podia ter acontecido connosco (…)”, resposta
de J(m) nº3.
Focando-nos agora nas respostas dadas pelos técnicos superiores a es-
tas mesmas questões, verifica-se que na questão nº2 os participantes mostra-
ram-se por vezes pensativos, silenciosos durante algum tempo e até mesmo
nervosos, rindo. Houve também respostas rápidas e espontâneas, TS(f) nº3
respondeu “Sinto-me como estando na presença de uma outra pessoa que
não tenha deficiência (…) não me incomoda, lido com normalidade (…)”,
TS(m) nº5 disse “eu sinto-me bem (…)”, TS(f) nº6 “Perfeitamente normal,
como na presença de uma pessoa dita “normal.”, TS(f) nº10 “ (…) norma-
líssima (…)”, TS(f) nº 12 “Gosto muito (…) não sei explicar.”. A acrescen-
tar à resposta de TS(f) nº3 importa esclarecer que para este técnico superior
deve haver, através das suas palavras, “igualdade, mas tendo em considera-
ção as características próprias de cada um.”. Este ponto de vista foi ainda
corroborado por TS(f) nº 6 “todas as pessoas devem ser tratadas de igual
forma, independentemente dos seus handicaps.”. Relacionado com este as-
pecto está um excerto da resposta de TS(f) nº2 “(…) tento, claro, adequar a
linguagem, a postura, tentar fazer com que nos entendam.”. Para os técnicos

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da área da saúde e acção social tornou-se premente adicionar essa informa-


ção, muito por consequência da sua formação base.
Retomando com a resposta de TS(f) nº6 e de TS(f) nº2 encontra-se in-
cluída nas suas respostas uma comparação com pessoas sem deficiência,
referindo que se sentem como na presença de uma pessoa “dita “normal””,
como referiu TS(f) nº6 e TS(f) nº2, através da mesma palavra, utilizando as
mãos para sinalizar aspas sobre a palavra normal.
Os respondentes TS(f) nº9 e TS(f) nº8 revelaram uma resposta mais
emotiva, mais carinhosa e sentimental “Sinto-me (…) com vontade de dar
beijinhos, de mimar (…) olho para eles como seres humanos (…)”, foram as
palavras de TS(f) nº8. TS(f) nº9, baseando-se no facto de ser mãe referiu
“Alguma tristeza e alguma angústia (…) quando passo por estas pessoas o
meu coração fica muito vulnerável e custa-me muito essas situações, pronto,
eu fico emocionada com isso (…)”, emocionando-se no final da resposta,
esperando um pouco para retomarmos a entrevista.
Reunimos ainda respostas hesitantes, como o caso de TS(f) nº7 que
embora tenha respondido que se sente normal na presença de pessoas com
deficiência mental, referiu “Tenho alguma…” não terminando a frase, con-
tudo terminou a resposta dizendo “(…) mas tento ser o mais normal possí-
vel.”. A resposta de TS(f) nº4 revela também alguma hesitação quanto à
resposta, uma vez que a técnica referiu, rindo, “essas perguntas são difíceis
(…) não me sinto incomodada, se calhar sinto-me mais sensível com a ne-
cessidade de apoiar um bocadinho mais (…)”. TS(f) nº11 respondeu da
seguinte maneira “Não vou dizer-lhe que me sinto mal, mas também não me
sinto bem (…) não sei muito bem como hei-de lidar (…)”.
Em termos comparativos não se pode dizer que a resposta dos jardi-
neiros é diferente em conteúdo da dos técnicos superiores, uma vez que to-
dos dizem, no geral, estar à vontade quando lidam com pessoas com defici-
ência mental e, quanto às particularidades, a compaixão e a vontade de aju-
dar são bastante notórias nos seus discursos.
A análise das respostas dadas à questão nº3 tem que ver com a possi-
bilidade de uma provável exteriorização dos próprios sentimentos e opiniões.
Assim, quanto aos jardineiros, dois referiram que os seus colegas de trabalho
lidam da melhor forma com esta população “(…) acho que a maioria tenta
ajudar, talvez (…)” respondeu J(m) nº3 e “Aqui lida-se bem com eles. Até
trabalha aí um e lida-se bem com ele até.”, respondeu J(m) nº4.
A resposta dos restantes quatro já faz depender do carácter dos seus
colegas, a relação que mantêm com pessoas deficientes mentais, “Depende
das pessoas, porque há as que pensam que só eles é que sabem, que são
inteligentes (…), resposta de J(m) nº1 e “Há uns que compreendem, mas há
outros que não (…) Mas eu acho que há muitos que nem querem trabalhar
com pessoas deficientes mentais.”, resposta de J(f) nº6. De referir que a res-
posta de J(m) nº5 comporta a ideia de as pessoas alterarem a sua forma de
lidar dependendo do tipo de relação que vão desenvolvendo com o deficiente
mental “(…) como os dois rapazes que cá trabalharam eram tão diferentes,
as pessoas também lidavam com eles de forma diferente.”.

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Os técnicos superiores relativamente a esta questão revelaram, na sua


maioria, que os colegas de trabalho lidam no geral bem com esta população.
As respostas de TS(f) nº2, TS(f) nº3 e TS(f) nº6 são idênticas, na medida em
que referem que o facto de se integrarem numa equipa multidisciplinar, com
formação na área da intervenção social facilita esse contacto, “(…) penso
que aqui ao nível do corpo de acção social todos temos, se calhar também
pela nossa formação base, muita sensibilidade e conseguimos lidar perfei-
tamente com as pessoas que têm deficiência mental ou outros tipos de defi-
ciência.”. Apesar deste quadro positivo revelado, a maior parte destes parti-
cipantes referiu que há sempre alguém que não lida tão bem, como disse
TS(f) nº9 “(…) há pessoas que estão habituadas a lidar com pessoas com
deficiência e por isso lidam perfeitamente, mas também sei que existem pes-
soas que são mais sensíveis ou insensíveis e não lidam muito bem com a
presença de pessoas assim no seu local de trabalho.”.
Analisando agora as respostas dadas à questão nº5, que se incluiu para
registar mais alguma representação face à deficiência mental em comparação
indirecta com pessoas sem deficiência mental, verifica-se, à excepção de um
participante, que todos os respondentes hesitaram, se mostraram ansiosos,
sem saber o que responder, rindo até aquando da colocação da questão,
“Normal, sei lá.”, respondeu J(m) nº3, “Às vezes anormal.”, respondeu J(m)
nº1, “(…) pessoa que compreende os outros, que não tem deficiência e que
sabe trabalhar.”, respondeu J(m) nº5, “(…) uma pessoa que não tem qual-
quer tipo de limitação, em termos cognitivos (…)”, respondeu TS(f) nº4
rindo no início da resposta, “(…) pessoas que perante um desafio sabem
responder e sabem procurar, sabem fazer valer as suas opiniões (…)”, res-
pondeu, depois de um silêncio prolongado no início da formulação da res-
posta, TS(f) nº7. Os participantes referem também, na sua grande maioria,
que todas as pessoas têm defeitos, o que torna difícil a descrição de uma
pessoa sem deficiência mental “Eu acho que isso é muito difícil de se avali-
ar. Cada vez mais (…)” respondeu rindo TS(f) nº12, “É assim, todos nós
temos as nossas limitações (...)”, respondeu também rindo TS(f) nº1. A rir
também respondeu TS(m) nº5 “Isso hoje é difícil de explicar, porque qual-
quer pessoa tem uma deficiência qualquer mental (…) eu também sou defi-
ciente mental (…)”, “Isso é complicado dizer… é um bocado complica-
do…Todos têm os seus defeitos.”, respondeu finalmente J(m) nº4.
Nesta questão, TS(f) nº9 emocionou-se respondendo “(…) É uma pes-
soa que teve a sorte de nascer saudável, de ter todas as suas capacidades.”.
J(f) nº 6 referiu “Eu acho que são normais, simplesmente o que lhes
aconteceu não nos aconteceu a nós, mas um dia poderá acontecer (…)”
equiparando uma pessoa deficiente mental a uma pessoa sem deficiência
mental, enquanto seres humanos.
TS(f) nº6 foi quem deu uma resposta mais directa e objectiva, não he-
sitando como todos os outros, “(…) é uma pessoa que não tem esses handi-
caps ao nível da função psicológica e que portanto mais facilmente conse-
guirá adaptar-se a contextos e a actividades de forma mais fácil.”.

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Categoria II: Factores auxiliadores e inibidores da integração


socioprofissional de pessoas deficientes mentais
A questão que despoletou a construção desta categoria foi a questão
nº6 do guião de entrevista “O que é que acha que ajuda na integração de
pessoas com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que é que acha
que dificulta?”.
Os resultados consequentes desta questão serão divididos em dois
momentos de análise, o dos factores facilitadores e o dos factores inibidores.
Iniciando com a análise dos factores facilitadores pela resposta dos
jardineiros, verificamos que estes têm respostas variadas, mas que se unem
quanto à ideia de dar formação, apoiar os deficientes mentais de forma a que
estes se tornem mais aptos para desenvolverem diferentes funções “(…) co-
laboração dos parceiros (…) dar apoio no que for preciso.”, respondeu J(m)
nº1, “(…) dar oportunidades, ajudar mais (…)”, respondeu J(f) nº2 ou ainda
“(…) dar-lhes cursos, meterem-nos no activo (…)”, respondeu J(f) nº6.
Debruçando-nos agora sobre as respostas dos técnicos superiores,
identificaram-se três grandes grupos de respostas. O primeiro grupo assina-
lou que os factores facilitadores têm essencialmente que ver com a formação
dada aos deficientes mentais “(…) alguma formação (…)”, foi a resposta de
TS(f) nº11, mas essencialmente a formação dada às próprias entidades em-
pregadoras, no sentido de as dotar de informação e conhecimento sobre as
capacidades das pessoas deficientes mentais “(…) a educação especial, a
educação empresarial (…) todos dentro de uma instituição (…) é preciso é
educar esta gente (…) educar as outras pessoas que vão trabalhar com o
deficiente.”, respondeu TS(f) nº7, “(…) maior consciencialização das pes-
soas das entidades empregadoras (…) haver alguma formação nesse âmbito
para as entidades empregadoras.”, resposta de TS(f) nº6, “Alguma forma-
ção, quer por parte dessas pessoas, quer por parte do grupo de trabalhado-
res com quem ela vai trabalhar (…).”, respondeu TS(f) nº4.
Outro grupo de respostas foi o que referiu como principal factor bené-
fico à integração de deficientes mentais no mercado de trabalho, o acompa-
nhamento e disponibilidade das próprias entidades empregadoras, “(…) o
acompanhamento é muito importante, nomeadamente na fase de adaptação
(…) acompanhamento por alguém sensível a esta questão (…) e que vá tra-
balhando com a pessoa no sentido da interajuda (…).”, respondeu TS(f)
nº3, “(…)todas as instituições ou entidades que a rodearam no sentido de
que promovam uma abertura tal a toda a envolvente para que ela deixe de
ser vista como uma pessoa diferente.”, resposta de TS(f) nº12 e “(…) dispo-
nibilidade de quem está a contratar e ter talvez uma mentalidade mais aber-
ta e de arriscar também (…) é um bocado a parte social das empresas que
devia funcionar.”, resposta de TS(f) nº10.
O último grupo de respostas incide nos incentivos financeiros e nas
quotas como factores principais e quase exclusivos à integração socioprofis-
sional, “(…) acabam por ser as quotas, que pelo menos obrigam (…) nem
que seja por causa dos benefícios (…).”, resposta de TS(f) nº9, “(…) a lei
das quotas na função pública (…) isenções e os apoios para o patronato a

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nível particular.”, resposta de TS(f) nº2, “(…) apoios que têm por ter uma
pessoa com deficiência a trabalhar nos quadros (…) porque no fundo eles
não vêem muita rentabilidade em ter uma pessoa dessas a trabalhar.”, res-
posta de TS(m) nº5.
Quanto aos factores inibidores, os jardineiros referem que os princi-
pais factores que dificultam sobremaneira a integração desta população estão
na própria sociedade, nas pessoas que a incluem, “São as outras pessoas que
dificultam a sua integração (…).”, referiu J(f) nº6, “(…) falta de mentalida-
de das pessoas nesse aspecto.”, palavras de J(f) nº2, “(…) não sermos hu-
manos.” disse J(m) nº1. Distanciando-se deste aspecto está a resposta de
J(m) nº3 “(…) a burocracia, a papelada ou assim (…)”.
Nos técnicos superiores verificam-se desta vez dois grupos de respos-
tas. O primeiro grupo deu respostas baseadas na discriminação e na socieda-
de, “(…) somos nós, eu acho que somos nós, acho que falta muito humanis-
mo nas pessoas (…).”, respondeu TS(m) nº5, “(…) é o desconhecimento, é
as pessoas pensarem que essas pessoas não rendem, não produzem, porque
não há cultura de conhecimento.”, resposta de TS(f) nº2, “(…)a própria
maneira de a sociedade encarar estas pessoas (…) é preciso que haja uma
mudança de mentalidades (…) falta de sensibilidade, de conhecimento e de
vontade para perceber esta questão (…)”, resposta de TS(f) nº9, “(…) conti-
nua a ser o preconceito, continua a ser a mentalidade das pessoas e isso
acho que é incontornável.”, resposta de TS(f) nº12, “(…) algum tipo de dis-
criminação, algum tipo de falta de sensibilidade, que possa rotular inclusi-
vamente e até ridicularizar um pouco (…).”, foi a resposta de TS(f) nº3.
Quanto ao outro tipo de respostas, este recai sobre factores variados
como, “(…) o aspecto físico deles, porque alguns têm um aspecto físico que
enquanto não nos habituamos faz assim um bocadinho de impressão (…).”,
resposta de TS(f) nº11, “(…) a competitividade entre as pessoas (…) são
normalmente maus valores (…).”, resposta de TS(f) nº4, “(…) falta de in-
centivos, a falta de boa vontade, esta crise (…) o desemprego que existe
(…).”, resposta de TS(f) nº8 e “(…) situação económica do país, a baixa
escolaridade (…) ausência de formação (…) ausência de uma carta de con-
dução (…) não haver flexibilidade em termos de horários (…).”, resposta de
TS(f) nº1.
Decidimos também analisar a questão nº4, “Qual a sua opinião acerca
da integração destas pessoas no mercado de trabalho? E no seu local de tra-
balho?” a fim de auscultarmos quais as opiniões pessoais acerca desta pro-
blemática e também de saber até que ponto aceitam a integração de uma
pessoa deficiente mental no seu local de trabalho, a trabalhar conjuntamente
com eles.
As respostas a esta questão foram todas bastante idênticas, sendo to-
dos os participantes a favor da integração de deficientes mentais no mercado
de trabalho, contudo acreditando que é um processo que infelizmente não
decorre da melhor forma. Revelou-se também com alguma frequência nestas
respostas a preocupação com a adequação da função a desempenhar às ca-
racterísticas da pessoa. Demonstramos algumas respostas quanto à integra-

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ção geral no mercado de trabalho, “Eu acho bem, só tem que se procurar
colocá-las em sítios de acordo com a deficiência que tenham.”, resposta de
J(m) nº3, “Não acho que corra bem a integração destas pessoas (…).”, res-
posta de J(f) nº2, “Depende do tipo de trabalho e depende da capacidade
que o deficiente tenha e também das pessoas que vão trabalhar com eles
(…).”, resposta de J(m) nº4.
Os técnicos superiores responderam de forma idêntica, focando-se nos
mesmos aspectos, “Têm muita dificuldade em se integrar (…).”, resposta de
TS(f) nº1, “Se conseguissem acho que os deviam integrar (…) mas todos
aqueles que consigam partilhar, comunicar com o mundo exterior (…).”,
resposta de TS(f) nº8, “(…) sempre que seja possível eu acho que é bom,
tanto para eles, para se sentirem de alguma forma mais integrados na soci-
edade e penso que para nós também (…).”, resposta de TS(f) nº4, “(…) acho
muito bem (…) se forem, desde crianças incluídas e puxadas (…) ao longo
dos anos, eu acho que quando eles chegam a adultos, também dependendo
do grau de deficiência (…) são sempre capazes de fazer alguma coisa (…).”,
resposta de TS(f) nº11, “É muito difícil, muito difícil.”, disse TS(f) nº2,
“Acho muito boa, acho que deve haver, acho que se deve cada vez mais cri-
ar caminhos para que isso aconteça (…).”, resposta de TS(f) nº12. A respos-
ta de TS(f) nº7, apesar de ser também favorável à integração de deficientes
mentais no mercado de trabalho, referiu “(…) temos de compreender que em
diversas áreas e em diversos serviços isso é completamente incompatível.”.
Quanto à integração desta população no seu local de trabalho, os jar-
dineiros são a favor, precisamente pela experiência de trabalho que já tive-
ram, “Aqui no meu serviço também, aliás, já cá trabalhou um rapaz que não
era perfeito, mas trabalhava na jardinagem na mesma.”, respondeu J(m)
nº1, “Aqui na jardinagem até já cá trabalharam pessoas com dificuldades e
correu tudo bem.”, respondeu J(f) nº2. Houve dois jardineiros que referiram
que encontrariam sérias dificuldades em integrar pessoas deficientes mentais
no seu local de trabalho, J(m) nº3 que disse “Aqui na jardinagem depende do
tipo de pessoa (…) não pode vir uma pessoa que tenha problemas de braços
ou de pernas. É sempre mais difícil para o nosso trabalho.”, “No meu servi-
ço é um bocado ingrato, chato, porque eu trabalho em alturas (…).”, referiu
J(m) nº4.
Quanto aos técnicos superiores, estes dividem-se em respostas afirma-
tivas e respostas negativas. Concordando com a integração de deficientes
mentais no seu local de trabalho recolhemos, entre outras, a resposta de
TS(f) nº2, “No meu local de trabalho eu acho que era possível.”, a resposta
de TS(f) nº11 “No meu sector eu acho que sim.” e de TS(m) nº5 “Acho que
aqui na biblioteca sim, porque não?”. Quem não acredita que seja fácil ou
adequada a integração socioprofissional de deficientes mentais no seu traba-
lho deu as seguintes respostas, “(…) aqui era um bocado complicado.”, res-
pondeu TS(f) nº7, “Não sei se será possível, nomeadamente ao nível da defi-
ciência mental, embora num trabalho administrativo, algo que seja mais
simples (…).”, respondeu TS(f) nº3, “(…) eu acho que não, porque estou a
ver a deficiência mental mas muito profunda (…).”, respondeu TS(f) nº8,

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“(…) neste tipo de serviço acho que não, mas há sempre outros serviços,
mais leves que acho que realmente sim (…).”, respondeu TS(f) nº10.

Categoria III: Papel das entidades empregadoras na integração


socioprofissional no mercado de trabalho de pessoas deficientes
mentais
Esta última categoria diz respeito à opinião dos participantes sobre o
papel das entidades empregadoras na integração de deficientes mentais no
mercado de trabalho.
Todos os jardineiros responderam que as entidades empregadoras não
cumprem o seu dever social de integrar deficientes mentais nos seus qua-
dros, “Não, não fazem o seu papel.”, respondeu J(m) nº1, “Claro que não,
eles não fazem o seu papel, porque o que eles querem é produção, é dinheiro
(…).”, respondeu J(f) nº6, “Eu acho que nem contratam (…).”, respondeu
J(m) nº5.
Quanto a esta questão TS(f) nº7 referiu “Alguns fazem, já vão fazendo
mais (…) até porque existem leis próprias que beneficiam as empresas
(…).”, TS(f) nº6 disse “Acho que podiam fazer mais (…) pela minha experi-
ência me apercebo de que se houver contrapartidas financeiras, ou seja, se
receberem algo em troca (…) até são receptivos (…).” e, com alguma dúvi-
da, TS(f) nº 8 referiu “Não sei, se não fazem, deviam fazê-lo.”.
Não tão certos de que as entidades empregadoras cumprem o seu pa-
pel temos a resposta de oito dos doze técnicos superiores, “Não sei, eu gos-
tava de dizer que sim, mas se calhar muito sinceramente não sei se farão.”,
respondeu TS(f) nº4, “Não (…) acho que não estão muito virados para aí
(…).”, respondeu TS(f) nº11, “Não (…) porque há sempre aquele estigma de
ter um deficiente a trabalhar (…).”, respondeu TS(m) nº5, “Eu sei que a lei
obriga a que haja uma percentagem de vagas disponíveis para situações
dessas, mas eu acho que não.”, terminou TS(f) nº12.
Considerámos também em análise a última questão do guião de entre-
vista, “Se mandasse, o que faria para melhorar este propósito?”. Esta questão
surge com o intuito de integrar um conjunto de medidas interventivas para
uma mais eficaz integração de pessoas deficientes mentais no mercado de
trabalho por parte de quem tem o poder para integrar e contratar.
As respostas dos jardineiros vão de encontro a dois temas, o de inte-
grar na sociedade, “Eu integrava-os e tentava levá-los a desenvolverem-se
(…).”, respondeu J(m) nº5 e, o de adequar a função à pessoa, “Depende, se
tivesse trabalho adequado às capacidades do deficiente recebia-o como se
fosse uma pessoa normal.”, respondeu J(m) nº4. Encontrámos também res-
postas como “eu ajudava naquilo que pudesse.”, respondeu J(f) nº2.
Os técnicos superiores responderam de acordo com três parâmetros, o
da integração, “(…) proporcionar oportunidades, igualdade de oportunidade
a todos (…) integradas de acordo com as características que têm (…).”,
respondeu TS(f) nº3, “(…) se as entidades tiverem realmente grupos de
apoio que pudessem de alguma forma ser estruturantes relativamente a es-

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sas pessoas com diferenças (…) precisam de ser mais acompanhadas, mais
motivadas, mais acarinhadas (…).”, respondeu TS(f) nº4 e, TS(f) nº10 res-
pondeu “(…) abrir as portas a esse tipo de pessoas e integrá-los o mais pos-
sível nalguns trabalhos ditos mais leves, mais acessíveis e tentar ajuda-los e
ensiná-los (…).”. Por outro prisma olharam TS(f) nº7, “(…)creio eu que está
a ser feito, os incentivos à empregabilidade(…).”, TS(f) nº8 “(…) os tais
incentivos do Estado (...).”, TS(f) nº1 “(…) talvez criar incentivos fiscais
para as empresas (…) ficar isentos da taxa da segurança social (…).”. Estes
técnicos referiram essencialmente que o que fariam seria ao nível dos incen-
tivos fiscais para as empresas que integrassem pessoas com deficiência men-
tal.
Por último, temos ainda um conjunto de respostas que foca essencial-
mente as boas práticas, a fim de alterar a mentalidade da sociedade que atra-
sa este processo. TS(f) nº2 referiu “Acho que as boas práticas são muito
importantes, dar exemplos (…) porque a publicidade positiva é bastante
importante (…) e depois trabalhar esta cultura, a cultura do desconheci-
mento.”, TS(f) nº12 respondeu “(…) é muito complicado, porque as menta-
lidades não se mudam com muita facilidade, mas tentaria o mais possível
desenvolver mecanismos para que houvesse uma mistura muito maior dos
ditos normais e dos ditos com deficiência mental (…).”, TS(f) nº6 referiu
“(…) fazer imensas campanhas de sensibilização (…) porque o que acho que
é importante é a mudança de mentalidades e isso é muito complicado, por-
tanto tem de ser um trabalho progressivo e insistente (…).”. Obtivemos uma
resposta mais radical, a resposta de TS(m) nº 5, que referiu “(…) primeiro
abolia completamente a deficiência. Era o que fazia, ia ao cerne da ques-
tão.”.

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V - Discussão

Estudos anteriores revelaram que as representações sociais da defici-


ência mental funcionam como um obstáculo à integração socioprofissional
desta população (Martins, 2001). Neste estudo pretendemos recolher e anali-
sar as respostas do grupo de jardineiros e técnicos superiores acerca das re-
presentações sociais e da integração socioprofissional de pessoas com defi-
ciência mental no mercado de trabalho.
Os jardineiros demonstraram, quanto à primeira questão, um não co-
nhecimento técnico da definição de deficiência mental, muito devido talvez
à baixa escolaridade. Contudo, de uma forma idêntica, revelaram, com base
na experiência profissional na jardinagem que a maioria teve com dois rapa-
zes deficientes mentais, que caracterizavam uma pessoa deficiente mental
principalmente através de problemas, dificuldades, limitações e incapacida-
des várias.
Quanto aos técnicos superiores, como seria de esperar, apenas aqueles
que desempenham funções na área da saúde e acção social demonstraram
um conhecimento mais técnico de deficiência mental. Por seu turno, os téc-
nicos superiores que não desempenham funções sociais, como os do sector
da educação e da cultura, deram respostas mais complexas que as dos jardi-
neiros, com outro tipo de vocabulário e outros conhecimentos de base que
não o da experiência profissional (pese embora alguns técnicos superiores já
tenham trabalhado no passado com pessoas portadoras de outro tipo de defi-
ciência), centrando-se principalmente naquilo que retiram dos meios de co-
municação, referindo várias vezes notícias televisivas, entre outras. Apesar
disso, houve respostas que demonstraram um desconhecimento ou talvez
uma confusão na diferenciação entre deficiência mental e outro tipo de defi-
ciências ou outras doenças e, também na distinção entre os diferentes graus
de deficiência mental, pelo que alguns respondentes ficaram presos no grau
de deficiência mental de alguém que conhecem, não conseguindo transpor
para a realidade do mundo do trabalho algumas situações colocadas na en-
trevista. Estes participantes, assim como os jardineiros, caracterizaram as
pessoas deficientes mentais como tendo problemas, dificuldades, limitações
e incapacidades variadas, percebendo-se assim que as representações sociais
da deficiência mental são idênticas para todos os respondentes, independen-
temente da sua escolaridade ou da função profissional que desempenham.
Segundo Zani (1995), a caracterização da deficiência mental é feita de
conotações negativas, contrariamente à caracterização de uma pessoa sem
deficiência mental, como se verificou na maioria das respostas.
Devido à explicação prévia do estudo aos participantes, cremos ter
havido, por parte de alguns respondentes, uma tendência para responder
segundo factores profissionais e não tanto segundo a deficiência mental na
generalidade e sobre aquilo que pensam dela sem ser inserida no mundo do
trabalho.

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Funcionando como mais um elemento a inserir às representações so-


ciais da deficiência mental, a questão nº2 tenta explorar até que ponto as
respostas dadas coincidem com as respostas dadas à primeira questão.
Os jardineiros responderam essencialmente, mais uma vez, baseados
na experiência de trabalho que tiveram no passado, ponderando a sua respos-
ta relativamente à relação que desenvolveram com os ex-colegas deficientes
mentais. O factor da desejabilidade social não se mostrou muito elevado,
uma vez que as respostas foram dadas de uma forma espontânea e de acordo
com a experiência pessoal. Nesta questão, a tendência para encarar essenci-
almente a área profissional não se mostrou tão evidente.
Quanto aos técnicos superiores, a maioria considerou sentir-se à von-
tade na presença de pessoas deficientes mentais, contudo recolhemos algu-
mas respostas que revelam a importância da adequação dos comportamentos
e atitudes para uma melhor compreensão por parte dos deficientes mentais.
Estas respostas, talvez pela categoria socioprofissional em que estão inseri-
dos estes respondentes, tenham sido dadas de uma forma mais racional e
mais socialmente desejada. Por outro lado, registámos respostas com um
carácter mais pessoal, como a história do TS(m) nº5 que, pelo facto de ter
vivido a incerteza de poder ter um filho com deficiência mental, se tornou
mais sensível e tolerante relativamente à deficiência mental. Registámos
também respostas que não foram claras, demonstrando uma incerteza quanto
aos comportamentos a ter na presença de pessoas deficientes mentais, talvez
mais por desconhecimento que preconceito.
Relativamente à terceira questão em análise, ainda na primeira catego-
ria, tentámos auferir das respostas uma possível exteriorização dos verdadei-
ros sentimentos face à deficiência mental nos outros e, assim, suportando a
hipótese da desejabilidade social ter de facto existido na questão anterior.
Quanto a este aspecto, o da desejabilidade social, considerou-se que os jar-
dineiros não pareceram responder de acordo com o que acreditavam ser as
expectativas dos investigadores. As respostas deles foram então dadas, mais
uma vez, segundo aquilo que se foram apercebendo das atitudes dos seus
colegas aquando da época em que os dois rapazes deficientes mentais inte-
graram a equipa da jardinagem.
Os técnicos superiores fizeram variar a sua resposta quanto ao tipo de
funções profissionais que desempenham, sendo que os que trabalham na área
da saúde e acção social responderam referindo a formação académica base
como o factor facilitador ao contacto com deficientes mentais e aos compor-
tamentos a adoptar na presença destes. Os outros respondentes, não tendo
este factor a referir, basearam-se essencialmente nos conhecimentos exterio-
res ao local de trabalho que os colegas eventualmente possam ter com pesso-
as deficientes mentais, referindo não saber como lidam. Pensamos que este
aspecto se prende em parte com o aspecto da desejabilidade social, na medi-
da em que parece haver um refúgio no desconhecimento de causa para não
se darem respostas afirmativas. Os respondentes não deram respostas com a

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certeza do que diziam, o que faz levantar questões quanto à forma como eles
próprios possam encarar a deficiência mental e, mais uma vez, quanto à de-
sejabilidade social expressa na questão anterior.
A questão nº5 surge na nossa análise como mais um elemento a consi-
derar relativamente às representações sociais da deficiência mental, uma vez
que este é um aspecto essencial no nosso trabalho. Esta questão faz com que
os respondentes pensem em si próprios, pessoas sem deficiência mental e se
comparem a pessoas deficientes mentais. Partimos do pressuposto de que
esta questão seria desconcertante a meio da entrevista e que por isso os res-
pondentes nos dessem respostas curtas e breves, mas ao invés disso, depa-
rámo-nos com respostas que demonstraram uma total comparação positiva
com pessoas deficientes mentais, sendo que a maioria referiu que eles pró-
prios também eram “normais”, daí descrever uma pessoa não deficiente
mental resulte mais difícil do que descrever uma pessoa deficiente mental.
Uma vez que não se pensa nesta questão diariamente, não se pensa na des-
crição do que somos, mas sim limitamo-nos a ser quem somos e o que so-
mos, talvez esta questão tenha sido a que provocou mais ansiedade e nervo-
sismo, uma vez que alguns respondentes não sabiam o que dizer, rindo pela
incapacidade de responder ou de dar uma resposta coerente. Quanto a esta
questão, os jardineiros deram respostas rápidas e directas, no geral não se
dimensionando enquanto pessoas sem deficiência mental em comparação
com pessoas deficientes mentais. Consideramos que a complexidade desta
questão despoletou mais ansiedade e nervosismo aos técnicos superiores.
Referindo-nos agora à segunda categoria por nós encontrada através
da análise comparativa das respostas pelos participantes, tentámos recolher
aqui, de alguma forma, a opinião destes participantes sobre a integração
socioprofissional de deficientes mentais no mercado de trabalho geral e no
seu próprio local de trabalho em particular, assim como saber quais conside-
ram ser os factores facilitadores e inibidores à integração socioprofissional
dos mesmos.
Relativamente aos factores facilitadores e inibidores, eles são em al-
gumas das respostas, os mesmos, ou seja, alguns factores funcionam ora
como facilitadores, ora como inibidores, pela sua presença ou ausência.
Quanto aos factores facilitadores, os jardineiros referem o apoio e co-
laboração dos colegas de trabalho, o procurar este tipo de população e forne-
cer-lhes formação profissional para que se adaptem da melhor forma à vida
activa. Estes mesmos participantes, quanto aos factores inibidores, referem a
falta de humanidade, a ignorância e a própria mentalidade das pessoas.
Os técnicos superiores, por sua vez, encaram que os factores facilita-
dores são a atribuição de mais informação no sentido de consciencializar as
entidades empregadoras, incentivos financeiros e fiscais, o acompanhamento
personalizado ao deficiente mental, a formação profissional do deficiente
mental e a formação para consciencializar e sensibilizar aqueles que traba-
lharão com deficientes mentais quanto às suas capacidades e à forma mais

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adequada para lidar com eles. Também consideram a própria iniciativa e boa
vontade das entidades empregadoras para integrar deficientes mentais. Os
factores inibidores considerados pelos técnicos superiores são essencialmen-
te a crise económica e financeira actual, a ausência de formação profissional
dada aos deficientes mentais, o desconhecimento e, ao mesmo tempo, o me-
do de conhecer mais sobre a deficiência mental e de conviver com eles, a
falta de incentivos, a discriminação, o preconceito, a falta de sensibilidade e,
principalmente, referido na maioria das respostas, a mentalidade ainda retró-
grada da sociedade em que estamos inseridos. Este factor, o da mentalidade,
é largamente utilizado, e não apenas na resposta a esta questão, pelo que a
sua importância ressalta e se depreende que os participantes acreditam ver-
dadeiramente que é necessário alterar mentalidades, pensamentos pré-
concebidos, abandonar estereótipos e dar oportunidades iguais àqueles que
têm deficiência mental. Como se pôde verificar, os factores incentivos finan-
ceiros e fiscais e o conhecimento da deficiência mental, revelaram-se tanto
factores facilitadores quando estão presentes como factores inibidores quan-
do não estão presentes.
Sobre a integração socioprofissional no geral, a maioria referiu ser a
favor da integração socioprofissional de pessoas deficientes mentais pela
mais-valia que o emprego pode trazer para as suas vidas pessoais, sentimen-
to de utilidade, de autoconsciência e de responsabilidade, e para a sociedade.
A acrescentar a este desejo dos respondentes de integrar deficientes mentais
no mercado de trabalho notou-se a preocupação quanto ao facto de este pro-
cesso não ser levado a sério em Portugal, uma vez que aquilo que os respon-
dentes se apercebem é de que pouco se faz e que, na sua grande maioria, não
acreditam que possa vir a ser alterado este panorama actual, uma vez que
consideram as entidades empregadoras demasiadamente interessadas no
lucro e na produtividade e não tanto nos seus deveres sociais. Os participan-
tes também consideram que a sociedade portuguesa desconhece a realidade
da deficiência mental e as capacidades das pessoas deficientes mentais, pelo
que o preconceito, as ideias pré-concebidas de que a pessoa deficiente men-
tal não consegue fazer bem as tarefas que lhe são propostas, não percebe o
que lhes é dito, são mais lentos, são preguiçosos, toma um importante lugar
neste aspecto, sendo necessária uma alteração das mentalidades para que
esse aspecto comece a ser considerado pelas entidades empregadoras e daí
surja, no futuro, mais integração destas pessoas no mercado de trabalho.
No geral, tanto os jardineiros como os técnicos superiores referem que
a integração de deficientes mentais deveria ter em consideração as capacida-
des e limitações do deficiente mental e adaptar da melhor forma a função à
pessoa, assim como fornecer apoio e acompanhamento mais personalizados.
Quanto à integração no próprio local de trabalho, os jardineiros referiram os
seus ex-colegas deficientes mentais como casos de sucesso, por isso não
demonstraram oposições à sua integração, considerando apenas que para
algumas tarefas específicas de um jardineiro, um deficiente mental com limi-

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tações físicas encontraria mais dificuldades ao realizar as tarefas.


Os técnicos superiores mostraram-se favoráveis à integração de defi-
cientes mentais no seu local de trabalho, na sua maioria, demonstrando ape-
nas alguma preocupação relativamente à responsabilidade de algumas tare-
fas, sugerindo que a haver a sua integração eles deveriam executar tarefas
mais administrativas, mais fáceis e simples, que não envolvessem tanta res-
ponsabilidade.
Relativamente agora à última categoria e particularmente à questão
nº7, as respostas dadas foram de encontro às nossas expectativas durante o
desenvolvimento das entrevistas. A grande maioria dos respondentes, jardi-
neiros e técnicos superiores, referiu que as entidades empregadoras não fa-
zem o seu papel social de integrar pessoas deficientes mentais por variadas
razões como o estigma associado à presença de um deficiente mental no
local de trabalho e a orientação para o lucro e para a produtividade, esque-
cendo assim de uma forma um tanto ou quanto deliberada esta população de
potenciais trabalhadores. Foi também perceptível que alguns dos responden-
tes crêem que as entidades empregadoras não têm conhecimentos suficientes
para integrar pessoas com deficiência mental, como se verifica no estudo de
Tanaka e Manzini (2005). Os respondentes acrescentam ainda nas suas res-
postas uma certa reticência quanto à alteração deste quadro.
A última questão da entrevista surgiu na tentativa de angariar por par-
te de quem está inserido num local propício à integração socioprofissional de
pessoas deficientes mentais, uma panóplia de sugestões para facilitar a inte-
gração destes. As sugestões dos jardineiros vão no sentido de auxiliar os
deficientes mentais a todos os níveis, sem especificarem quais e de os inte-
grarem na sociedade e disporem de meios para os formar devidamente para
uma função. Os técnicos superiores sugeriram incentivos fiscais e o cum-
primento da lei das quotas maioritariamente, boas práticas e publicidade
positiva como formas de campanhas de sensibilização e de informação,
igualdade de oportunidades com a devida formação e adequação das funções
à pessoa, grupos de apoio ao deficiente mental inseridos nas entidades orga-
nizacionais que viessem a integrar e, por último, mas não propriamente em
último lugar, a mudança de mentalidades, referida como um processo pro-
gressivo e difícil, mas que não deve ser abandonado.
De uma forma geral, as questões que sugerimos nos objectivos e que
se concentraram nas categorias encontradas através da comparação entre
elementos foram respondidas, gerando-se dessa forma a teoria a que nos
propusemos, que de acordo com a grounded theory, responde, através obvi-
amente das respostas deste grupo de pessoas exclusivo, ao problema social
específico que são as representações sociais da deficiência mental e a inte-
gração destes no mercado de trabalho. As respostas dadas, nomeadamente
aquelas direccionadas para a problemática da integração socioprofissional da
população de deficientes mentais no mercado de trabalho, mostram-se reve-
ladoras de uma incapacidade por parte das entidades empregadoras e da so-

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ciedade em geral em aceitar pessoas portadoras de deficiência mental da


mesma forma que aceitam pessoas sem qualquer tipo de deficiência em con-
texto laboral.

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VI - Conclusões

De acordo com os resultados obtidos e com a análise efectuada pode-


mos concluir que, a forma como os participantes interpretam a deficiência
mental é, segundo o nosso parecer, o primeiro passo a considerar antes de
efectuar a integração socioprofissional de uma pessoa deficiente mental, uma
vez que, e como foi referido largamente nos dados que obtivemos, é necessá-
rio formar, informar, alertar as pessoas, a sociedade de que a população defi-
ciente mental pode desenvolver tarefas profissionais, pode integrar a socie-
dade como qualquer outra pessoa dita “normal”. Assim, através destas repre-
sentações, pensamos ser possível antever quais as opiniões quanto à integra-
ção socioprofissional de deficientes mentais no mercado de trabalho.
As opiniões quanto à integração socioprofissional de deficientes men-
tais no mercado de trabalho são em larga escala positivas, contudo adensadas
de aspectos que podem ser considerados entraves a uma efectiva integração
socioprofissional desta população, com especial incidência nas entidades
empregadoras e na sociedade em geral.
Os dados revelaram ainda que, de acordo com os discursos obtidos, as
entidades empregadoras não desempenham o seu papel e dever social de
integrar deficientes mentais nos seus quadros, como efeito de um estigma
social bastante enfatizado pelos participantes.
Através da contribuição genuína dos participantes foi possível reco-
lher uma vasta gama de sugestões para melhorar o processo de integração
socioprofissional actual.
Este estudo teve como principais limitações a ausência de um júri na
análise dos dados e na execução das entrevistas, assim como a falta de expe-
riência do investigador na área das entrevistas e da investigação, tratando-se
de um método de investigação relativamente recente. Outra limitação deste
estudo foi o número reduzido de participantes entrevistados.
Recomendamos a realização de investigações futuras sobre o tema e,
em particular, ao tipo de participantes aqui visados.

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Anexo I – Guião de entrevista

Guião de entrevista

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Guião de Entrevista

1. O que é para si uma pessoa com deficiência mental?


2. Como se sente na presença de uma pessoa com deficiência mental?
3. Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha que eles li-
dam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência mental?
4. O que é que pensa acerca da integração de pessoas com deficiência
mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho em con-
creto?
5. O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
6. O que é que acha que ajuda na integração de pessoas com deficiência
mental no mercado de trabalho? E o que acha que dificulta?
7. Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras cumprem o seu
papel neste processo de integração?
8. Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?

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Anexo II – Entrevistas transcritas integralmente

Entrevistas transcritas integralmente

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Entrevista – J(m) nº 1

1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?


Uma pessoa doente mental é talvez uma pessoa que não tenha noção
das coisas, do que está a fazer… enfim, não pensa.

2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-


cia mental?
Estou sempre à vontade. Não faz mal nenhum.

3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha


que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Depende das pessoas, porque há as que pensam que só eles é que sa-
bem, que são inteligentes e os outros não sabem nada.

4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com


deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Deviam ter oportunidade de trabalhar como as outras pessoas, as pes-
soas normais.
Aqui no meu serviço também, aliás, já cá trabalhou um rapaz que não
era perfeito, mas trabalhava na jardinagem na mesma.
Em relação a outros sítios também, deviam ter as mesmas oportunida-
des que uma pessoa normal tem.

5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?


Às vezes anormal. São pessoas que pensam que sabem tudo, que são
mais inteligentes, mas no final ainda são piores que as pessoas com deficiên-
cia.

6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas


com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
O que ajuda é a colaboração dos parceiros, dos colegas de trabalho,
em dar apoio no que for preciso.
O que dificulta é não sermos humanos.

7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras


cumprem o seu papel neste processo de integração?
Não, não fazem o seu papel.

8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?


Dava oportunidade a todas as pessoas.

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Entrevista – J(f) nº 2

1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?


Para mim é um ser normal como outro qualquer, só tem mais dificul-
dades na vida, mas para mim é um ser humano como outro qualquer.

2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-


cia mental?
Ao mesmo tempo uma pessoa não se sente tão à-vontade, porque…
por vezes é mais pena do que outra coisa qualquer, ver as pessoas assim, dá
pena.

3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha


que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Ao mesmo tempo uma pessoa não se sente tão à-vontade, porque…
por vezes é mais pena do que outra coisa qualquer, ver as pessoas assim, dá
pena.

4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com


deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Não acho que corra bem a integração destas pessoas, mas acho que se
devem integrar como outra pessoa qualquer.
Aqui na jardinagem até já cá trabalharam pessoas com dificuldades e
correu tudo bem.
Noutros sítios também acho que devem ser integrados, porque todas
as pessoas têm direito a ter uma vida normal como toda a gente. Por ter defi-
ciência não quer dizer que não seja capaz de fazer a sua função.

5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?


Para mim é um ser normal, é um ser humano que não tem tantas difi-
culdades como um deficiente.

6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas


com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?

O que ajuda mais é dar oportunidades, ajudar mais, porque são seres
humanos e têm o mesmo direito à vida que os outros.
O que dificulta é a falta de mentalidade das pessoas nesse aspecto.

7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras


cumprem o seu papel neste processo de integração?
Não, penso que não fazem.

8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?


Eu ajudava naquilo que pudesse.

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Entrevista – J(m) nº 3
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
É uma pessoa que tem alguns problemas, que ou nasceu já com essas
deficiências ou que teve algum acidente e ficou assim… são pessoas que
estão limitadas a um certo número de coisas que não podem fazer.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Sei lá, pensa-se sempre que podia ter acontecido connosco, ou qual-
quer coisa assim parecida.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Eu acho que a maioria procura ajudar, talvez. Acho que poucos deles
não o faz.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Eu acho bem, só tem que se procurar colocá-las em sítios de acordo
com a deficiência que tenham.
Aqui na jardinagem depende do tipo de pessoa, tem que se adaptar a
pessoa ao serviço, não pode vir uma pessoa que tenha problemas em andar
ou que tenha problemas de braços ou de pernas. É sempre mais difícil para o
nosso trabalho.
A outros serviços depende também do serviço, tudo depende do servi-
ço, tem de se adaptar o serviço à pessoa em questão, tem de se avaliar tudo.
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
Normal, sei lá. Que não tem dificuldades em nada, que faz tudo, não
se recusa a nada.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
O que ajuda é procurar essas pessoas, ou haver alguém que as consiga
introduzir. Da maneira que isto está, mesmo para uma pessoa que tenha to-
das as valências isto não está fácil, fará para uma pessoa que tenha uma defi-
ciência, é ainda pior.
O que dificulta seja talvez a burocracia, a papelada ou assim, que não
queiram estar com trabalho, procura-se a facilidade.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Eu acho que não, sinceramente.

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8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?


Sei lá, fazia com que as pessoas se entendessem mais e não olhava
tanto aos papéis, via mais ou menos se a pessoa dava para o serviço e pronto.

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Entrevista – J(m) nº 4
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Mental? Depende da doença que tenha e da capacidade de trabalho
que tenha.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Eu sinto-me à vontade, como se fosse uma pessoa normal, lido todos
os dias com a minha irmã…
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Aqui lida-se bem com eles. Até trabalha aí um e lida-se bem com ele
até.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Depende do tipo de trabalho e depende da capacidade que o deficiente
tenha e também das pessoas que vão trabalhar com eles. No meu serviço é
um bocado ingrato, chato, porque eu trabalho em alturas, mas dá para traba-
lhar noutros serviços. Mas desde que sejam trabalhos mais leves, com menos
responsabilidade…
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
Isso é complicado dizer… É um bocado complicado… Todos têm os
seus defeitos.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
O maior problema é que as pessoas não estão habituadas a lidar com
deficientes e a ignorância e a cultura das pessoas não dá para mais.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Não fazem nada nem os querem lá ter.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Depende, se tivesse trabalho adequado às capacidades do deficiente
recebia-o como se fosse uma pessoa normal.

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Entrevista – J(m) nº 5
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
É uma pessoa que quando a gente fala para ela não compreende às ve-
zes o que a gente diz e faz outras coisas. Tem dificuldades em se compreen-
der, porque muitas coisas que eu dizia ao rapaz que cá andou e ele nem se
interessava. Mas houve outro que era excepcional, que ao início tínhamos
medo de lhe colocar máquinas nas mãos, de cortar a relva, e a esse deixei,
mas ao outro não, porque era um miúdo muito complicado, muito complica-
do, porque às vezes faltava-lhe a medicação e era terrível.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Houve um dia que não me senti à vontade, estava a podar uma árvore
e esse mais complicado queria-me bater. Pegou num serrote e queria cortar o
que lhe aparecesse à frente, foi muito complicado mesmo trabalhar com esse
rapaz. Mas o outro, o “António” era fantástico, muito respeitador mesmo.
Porque tinha deficiência, mas não era em último grau, agora o outro, o “Pe-
dro” já era muito diferente.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Eu respondo por mim, mas tem de ver que como os dois rapazes que
cá trabalharam eram tão diferentes, as pessoas também lidavam com elas de
forma diferente.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Eu acho que temos primeiro de compreender a pessoa que é, o grau de
deficiência que tem e a maneira que temos para falar com eles, por exemplo,
não podemos falar de forma brusca, o mais suave possível, porque se altera-
mos a voz já não há nada a fazer por eles.
No meu sector acho que depende, mas é como lhe digo, o “António”
era um espectáculo, pode trazê-lo quando quiser, mas o outro já não…
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
É uma pessoa que compreende os outros, que não tem deficiência e
que sabe trabalhar.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Tem que haver uma escola que dê muito boa formação, que os enca-
minhe. Que lhes mostre como devem comportar-se e que ensinem também
as outras pessoas a comportarem-se da melhor forma com eles.

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7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras


cumprem o seu papel neste processo de integração?
Eu acho que nem contratam, penso eu. E também ouvi dizer que
quando cá andavam era para aprender, sem receberem nada. As entidades
empregadoras às tantas têm medo.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Eu integrava-os e tentava levá-los a desenvolverem-se, têm tanto di-
reito como os outros.

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Entrevista – J(f) nº 6
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Uma pessoa que tem alguns problemas e esses problemas fazem com
que sejam diferentes dos outros. Mas ao mesmo tempo acho que são pessoas
que têm capacidades para mostrar, pouco desenvolvidas, mas que se estive-
ram devidamente medicados acho que são capazes de fazer tudo. Descrevo
como sendo uma pessoa normal, no fundo.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Eu sinto-me ao mesmo tempo profissional ao ajudá-los e a tentar aju-
dá-los a compreender o que é bom, o que é mau, orientá-los. Tentar protegê-
los.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Há uns que compreendem, mas há outros que não, porque o que que-
rem é produzir, o máximo possível e, muitas vezes com eles perde-se tempo,
é ensinar, é orientar… Mas eu acho que há muitos que nem querem trabalhar
com pessoas deficientes mentais.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Eu acho muito bem, desde que sejam acompanhados psicologicamen-
te, com médicos. Acho muito bem que tenham oportunidades na vida, por-
que são iguais a nós, que claro, nem todos os dias estão bem, mas que têm
direito à vida, a estabelecer-se na vida. Eu já vi na televisão, pessoas com
deficiências e têm trabalho e têm oportunidades e assim é que é.
Aqui no meu serviço até lhe digo, seria muito bom se mandassem para
cá alguém. Eu ia tentar ajudar de qualquer maneira, tentar encontrar os obs-
táculos para essas pessoas e ajudá-los a ter mais conhecimento.
Em outros locais também, porque é sempre conhecimento que essas
pessoas estão a receber. E é como lhe digo, já há máquinas próprias onde as
pessoas podem trabalhar através da mente, por isso…têm direito a tudo.
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
Eu acho que são iguais, simplesmente o que lhes aconteceu não nos
aconteceu a nós, mas um dia poderá acontecer a nós, a um filho nosso. Eu
acho que amor, carinho, dedicação lhes dá a possibilidade de se desenvolve-
rem, mas claro, devidamente medicados. Porque havia dias em que ele anda-
va com a lua e nem a medicação fazia efeito, mas isso da lua é mais o facto
de o dia não ter corrido bem, de terem dormido mal ou até mesmo o ambien-
te familiar.

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6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas


com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
O que ajuda mais é dar-lhes cursos, meterem-nos no activo, ajudá-los
a compreender a vida, a desenvolverem-se, tudo. Acho que é muito impor-
tante terem vários professores, psicólogos, para os ajudarem, para terem uma
vida normal como nós temos.
São as outras pessoas que dificultam a sua integração, porque não têm
paciência, berram.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Claro que não, eles não fazem o seu papel, porque o que eles querem é
produção, é dinheiro, não querem pessoas que dêem problemas, dissabores e
essas coisas todas. Eles não estão para aí virados.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Eu entregava-os à sociedade porque eles têm direito a desenvolver to-
das as capacidades que têm, porque muitos deles são muito inteligentes. Eles
têm o direito de usufruir de todos os bocadinhos que nós usufruímos na Ter-
ra.

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Entrevista – TS(f) nº 1
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Deficiência mental, não falando simplesmente de pessoas com defici-
ência mental profunda, penso então que seja uma pessoa que tem limitações,
que tem dificuldades ao nível da aprendizagem, dificuldades ao nível da
inserção no mercado de trabalho e, por vezes, são pessoas que acabam por
ser rejeitadas pela própria sociedade, porque não se enquadram dentro das
normas consideradas normais, de comportamento, de atitudes.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Sinto-me bem, não noto que haja diferença.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Lidamos todos normalmente, ou seja, olhamos para as pessoas como
seres humanos que têm de ser respeitados enquanto tal, apesar das suas limi-
tações, das suas dificuldades.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Têm muita dificuldade em se integrar, precisamente porque há uma
rejeição por parte da entidade patronal, porque as pessoas acham que eles
não vão ser capazes de desempenhar uma tarefa, por mais simples que seja,
o que é um erro, porque eles devem ter as mesmas oportunidades que as
outras pessoas. Só que, infelizmente, isso não acontece. Eu tenho aqui inscri-
to um rapaz, e realmente não consigo encontrar trabalho para ele, o que me
incomoda bastante, porque neste momento ele tem o apoio da mãe, que é
uma senhora idosa, mas quando a mãe terminar o que será daquele rapaz? E
é muito complicado, porque da parte das empresas não há muita sensibilida-
de para apoiar este tipo de pessoas, que têm dificuldades, limitações. Onde
eles poderiam ser talvez integrados, seria em instituições, ou mesmo institui-
ções públicas… Mas também é sempre muito complicado porque existem as
quotas, e isso é muito complicado, porque isso não deveria existir, ou seja,
claro que são pessoas que têm limitações… Vamos criar um posto de traba-
lho que vá de encontro àquele perfil, mas vamos deixar as quotas de lado. É
assim que as coisas funcionam… No meu local de trabalho, neste momento
as pessoas ficam cá inscritas e de acordo com o perfil tentamos encontrar
alguma oferta e depois divulgar, mas neste momento, não há nenhuma oferta
que vá de encontro ao perfil das pessoas que temos cá inscritas. Depois tam-
bém há o problema de que normalmente as pessoas não têm carta de condu-
ção, têm baixa escolaridade e isso acaba por ser um impeditivo também para
elas concorrerem a algumas ofertas. Mas eu gostava de pelo menos ajudar

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algumas dessas pessoas, mas isso implica que elas possam entrar no mercado
de trabalho através de programas especiais onde haja um apoio, quer para as
instituições, quer para as empresas, de forma que elas possam mostrar que
realmente também são produtivas e que podem ajudar na economia do país.
É preciso dar-lhes a oportunidade e infelizmente isso não acontece.
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
[ri] É assim, todos nós temos as nossas limitações, mas supostamente,
em princípio, uma pessoa sem deficiência mental é uma pessoa que acaba
por se impor, por lutar pelos seus direitos, muitas vezes sem ter que ter al-
guém por trás, ou seja, é alguém que tem uma certa autonomia, ao contrário
da pessoa com deficiência mental que terá que ter sempre algum apoio, seja
de um familiar, ou de um amigo, ou de uma instituição. A pessoa sem defi-
ciência é alguém que no fundo consegue impor a sua vontade, consegue ser
autónomo, sem qualquer apoio. Basicamente é isso.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Haver alguma sensibilidade ou mais informação para a entidade pa-
tronal, porque estas pessoas portadoras de deficiência têm competências que
são úteis, basta terem uma oportunidade. Se calhar também haver incentivos
financeiros e fiscais para as empresas. E acho que passa também por uma
mudança de mentalidades, mas isso leva muito tempo, mas se calhar se hou-
ver incentivos para as empresas, sobretudo para elas, talvez também haja
esta facilidade em permitir a entrada dos deficientes no mercado de trabalho.
Os factores que dificultam, neste momento é a situação económica do país,
mas a baixa escolaridade, o facto de não haver uma especialização deste tipo
de pessoas, porque se eles tiverem uma formação, por exemplo na área da
serralharia ou mecânica, uma especialidade numa determinada área, se ca-
lhar permitia que eles fossem empregados com mais facilidade. Por isso,
ausência dessa formação, baixa escolaridade, também a ausência de uma
carta de condução, que para muitos não será possível, mas se calhar a forma
de se deslocarem, porque se estiverem na cidade têm os transportes públicos,
mas no nosso caso é muito complicado, uma pessoa ter um emprego em
Viseu e ter de se deslocar de uma aldeia para Mangualde e depois daqui para
Viseu, o que acaba por ser bastante complicado. Depois por vezes também
não haver flexibilidade em termos dos horários, ou seja, enquanto no sector
público isso ainda é possível, numa empresa isso é mais complicado, por
exemplo, numa fábrica todos entram a uma hora e saem a outra, ou seja, uma
pessoa portadora de deficiência se calhar se fosse mais fácil entrar mais tar-
de, ou seja, haver este tipo de condições para facilitar a sua entrada no mer-
cado de trabalho.

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7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras


cumprem o seu papel neste processo de integração?
A nível do sector privado eu penso que não, que não fazem. Poderiam
fazer muito mais para integrar. Há algumas associações, estou a lembrar-me
agora de uma do Porto que não sei como se chama, mas eu sei que os defici-
entes que alberga são deficientes mentais e que fazem carteiras em pele. Na
altura do Natal essa instituição costuma fazer exposições aqui em Mangual-
de onde traz os artigos feitos por deficientes, são carteiras em pele, cintos,
estojos, ou seja, vários materiais e realmente nós olhamos para aquilo e
vemos que são trabalhos perfeitos e que aquelas pessoas precisam de ter uma
oportunidade, por isso é que penso que as empresas não estão receptivas a
integrar pessoas com qualquer deficiência e, muitas vezes, pessoas com defi-
ciência física, uma coisa simples, rejeitam, quanto mais a deficiência intelec-
tual, que é preciso explicar-se. No caso de se empregar alguém, se calhar o
tempo de ensino ou de aprendizagem, é muito mais prolongado e se calhar as
empresas, como estão tão interessadas no lucro, esquecem-se também da
parte social.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
[ri] Se calhar, talvez criar incentivos fiscais para as empresas que em-
pregam pessoas com deficiência, sei lá, poderiam ficar isentos da taxa da
segurança social, podia ser isso, ao nível do imposto, dos benefícios fiscais.
Podia ser mais apelativo. Pode ser com o tempo que as coisas se alterem, por
que o que agora vemos é sobretudo na área da construção civil e nas limpe-
zas, sempre que há essas pessoas a trabalhar. Nota-se que há uma explora-
ção, é evidente, e depois não há respeito pela pessoa e isso é de evitar porque
todos nós temos de fazer alguma coisa para ajudar este tipo de pessoas.

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Entrevista – TS(f) nº 2
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Uma pessoa com deficiência mental é uma pessoa que tem um handi-
cap ao nível das suas faculdades mentais, atrasos a nível cognitivo que po-
dem estar ou não associados a outras deficiências. No nosso caso, há muitas
deficiências mentais associadas a outras deficiências, como motoras, autis-
mo. Depois roça um bocadinho o limbo entre o que é o autismo e o que é a
deficiência mental. Mas basicamente, sem grandes termos técnicos, é isto.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Eu tento fazer parecer dentro da normalidade, como se fosse uma pes-
soa dita “normal”. Todos nós temos algumas deficiências, por exemplo, a
minha é a visão [ri]. Acho que é normal, tento, claro, adequar a linguagem, a
postura, tentar fazer com que nos entendam. Depois também depende da
situação, por exemplo, eu tenho uma situação de habitação grave em que
duas pessoas portadoras de deficiência mental são irmãos e ainda por cima
um deles é alcoólico e, não conseguimos gerir a questão com eles, porque
eles não têm a capacidade de entendimento, ou seja, é quase nula. Trabalha-
se com pessoas da comunidade, pessoas que lhes dão apoio ao nível do apoio
domiciliário e, depois tudo depende, do que vemos do outro lado.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Eu acho que também da mesma forma que eu, é uma equipa multidis-
ciplinar, com alguma formação. Eu julgo que da mesma forma que eu, ten-
tam adaptar-se às circunstâncias. Acho que sim.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Hmmm… É muito difícil, muito difícil. Acho que as Câmaras são as
entidades privilegiadas que o podem fazer. Nós temos trabalhado no âmbito
da reabilitação, dos programas de reabilitação do centro de emprego, mas é
muito difícil, o executivo tem que estar muito sensível a essas questões. De-
pois há sempre a questão da produtividade, ou seja, o que é compensável ou
não, será que compensa colocar pessoas com essas características? Mas te-
nho plena consciência que é muito difícil, quer para as autarquias, as juntas
de freguesia, as empresas privadas, é muito difícil. De facto, a maioria das
privadas está virada para o lucro e, de facto, as pessoas podem não produzir
da maneira que eles querem… Tenho noção que é muito difícil. Nem com os
programas que existem, porque existem programas de apoio à integração,
mas nem com os programas acho que é fácil. No meu local de trabalho, eu
acho que era possível. De facto têm existido algumas integrações de pessoas

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portadoras de deficiência, mas não com deficiência mental, mas estamos


abertos a estágios de APPACDM e recebemos jovens com essas característi-
cas, mas que depois nunca se efectivam em contratos de trabalho, também
devido ao facto de a Câmara estar a atravessar uma fase difícil ao nível das
contratações, mas também lá está, porque é sempre complicado lidar, quer
com essas pessoas, quer com o trauma social que isso também pode trazer e,
as autarquias também trabalham com alguma política, com muita política no
meio, mas também tem de haver sensibilidade para gerir essas questões. Mas
de facto, também nunca surgiu nenhuma dessas situações, nós estamos aber-
tos a receber estágios, trabalhar com esses programas e já tivemos deficien-
tes auditivos, Síndrome de Asperger, paralisia cerebral. Eu vejo isso com
muita normalidade e acho que o executivo também, mas de facto também
não têm havido muitas licitações, porque acho que o executivo está também
muito aberto a essas situações.
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
Que terá as suas capacidades mentais em pleno, não é? Presume-se…
Ee bem que todos nós de vez em quando somos afectados por alguma insta-
bilidade mental [risos]. Mas à partida, serão pessoas que não têm à partida
nenhum problema mental, no fundo será isso, as suas capacidades mentais
estão em pleno. Agora, nós no concelho temos uma taxa elevada de pessoas
com problemas mentais que, não sendo o tradicional deficiente mental, mas
que, provocados pelo consumo excessivo de álcool, por uma relação de pa-
rentescos, por casamentos e intervenciona-se com essas pessoas. Talvez
também por ausência de estimulação e por haver uma taxa de analfabetismo
muito grande também.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Eu acho que há poucas coisas que facilitem a nível legal. Há a lei das
quotas na função pública que pode vir a facilitar. Eu acho que é um elemento
facilitador, mas não tenho a certeza se é levada à regra ou não. Depois, o que
pode facilitar, são as isenções e os apoios para o patronato a nível particular,
da segurança social e das isenções. Não sei se depois haverá informação para
poderem, quando estão a contratar alguém, optar por uma pessoa portadora
de deficiência. Depois, lá está, é o desconhecimento, é as pessoas pensarem
que essas pessoas não rendem, não produzem, porque não há cultura de co-
nhecimento. Essas pessoas só há pouco tempo é que estão a introduzir-se, até
então eram guardadas nas famílias e muito resguardadas, e ninguém sabia
muito bem do que eram capazes, porque não havia estimulação, processo de
reabilitação e, se existia era muito tardio. E depois também as próprias pes-
soas portadoras de deficiência que são tão capazes como as outras, desde que
tenham essa oportunidade.

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7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras


cumprem o seu papel neste processo de integração?
Acho que não, porque de facto as leis existem, só que depois acho que
não, por falta de informação, se calhar, não sei.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Acho que as boas práticas são muito importantes, dar exemplos, fazer
com que os bons exemplos passassem, porque a publicidade positiva é bas-
tante importante e acaba por afectar as pessoas de uma forma positiva e de-
pois trabalhar esta cultura, a cultura do desconhecimento. Acho que passa
por aí, sobretudo.

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Entrevista – TS(f) nº 3
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Para mim, uma pessoa com deficiência mental é alguém diferente, que
pela sua diferença, muitas vezes não consegue ter os comportamentos esta-
belecidos pela sociedade como “normais”. É assim que eu defino.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Sinto-me como estando na presença de uma outra pessoa que não te-
nha essa deficiência… Não me incomoda, lido com normalidade, acho que
deverá ser assim, na minha opinião acho que devemos lidar com essas pes-
soas com alguma normalidade, embora tendo em atenção as especificidades
que têm. Igualdade, mas tendo em atenção as características próprias de cada
um.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Olhe, eu acho que lidam da mesma forma que eu lhe expliquei, pelo
menos ao nível dos meus colegas de gabinete, mas também somos pessoas
que ao nível de formação base, que à partida estaremos também mais sensi-
bilizados para estas questões. Ao nível do resto dos colegas aqui, não lhe
posso responder, porque não tenho a percepção de como lidam com esse tipo
de situações, não sei…
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Pronto, aquilo que referi há pouco na forma de lidar com, aplica-se
também aqui neste âmbito. Eu acho que nós deveremos querer igualdade,
sim, e a questão de igualdade de oportunidades, sim, mas tendo em conta as
especificidades. E quem fala na integração no mercado de trabalho, fala
também na integração no meio escolar. Eu, por exemplo, não concordo com
a questão da massificação, que sejam integradas pessoas com deficiência,
portadoras de algum tipo de deficiência, nomeadamente a mental, em turmas
de ensino regular, sem se ver muitas vezes as especificidades que as pessoas
têm, as suas dificuldades de aprendizagem. Por exemplo, choca-me que alu-
nos que quase não sabem ler ou escrever sejam integrados num 5º ou 6º ano
de escolaridade só por causa da idade, não me faz sentido. Acho que, sim
senhor, igualdade, não devemos descriminar, mas devemos ter em conta as
especificidades, tudo depende, às vezes em vez de provocarmos algum tipo
de desenvolvimento estamos a provocar exactamente o contrário, que não é
aquilo que pretendemos. No mercado de trabalho é exactamente a mesma
coisa, acho que devemos ter em conta realmente as capacidades, as vocações
dessas pessoas, como todas as outras, mas devemos ver as limitações que

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têm, sob pena de podermos provocar algum tipo de frustração nessas pesso-
as. Acho que aqui no gabinete, no departamento dependeria do tipo de defi-
ciência, porque como é uma área muito específica, não é propriamente um
trabalho administrativo, é uma área que exige uma certa sensibilidade, um
certo poder de comunicação, lidamos também com públicos um bocadinho
“difíceis”. Não sei será possível, nomeadamente ao nível da deficiência men-
tal, embora num trabalho administrativo, algo que seja mais simples, não tão
complexo seja possível, porque não?
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
É o contrário daquilo que lhe disse há pouco [ri]. No fundo, é uma
pessoa diferente, mas é um bocado subjectivo, nós também podemos não ter
deficiência ao nível mental e sermos diferentes, a outros níveis. Sem defici-
ência mental… No fundo todos nós podemos sofrer de algumas psicopatolo-
gias, que se calhar não são encaradas como deficiência mental, mas que se
calhar… Não sei, esta não é propriamente a minha área, mas não sei se me
estou a fazer entender… Quer dizer, é tudo muito relativo.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Para mim o acompanhamento é muito importante, nomeadamente na
fase de adaptação, se calhar poderá ser uma fase onde há algumas dificulda-
des, que é uma fase sempre difícil para todos nós, mas para alguém que seja
portador de deficiência acarreta mais medos, mais ansiedade. Eu acho que
sobretudo passa pelo acompanhamento, por ter alguém sensível a esta ques-
tão, que compreenda a questão das limitações, e que vá também trabalhando
com a pessoa no sentido da interajuda, que a possa permitir atingir os objec-
tivos. O que dificulta é a discriminação. No seguimento de todas as questões
que me coloca, do facto de poder haver eventualmente, não sei se é o caso
aqui, estou a generalizar, pessoas que achem que a pessoa por ter deficiência
não consiga atingir os objectivos como outra que não seja, quer dizer, que
haja aqui algum tipo de discriminação, algum tipo de falta de sensibilidade,
que possa rotular inclusivamente a pessoa e até ridicularizar um pouco e,
acho que essa possa ser a principal dificuldade, acho que as pessoas ainda,
na teoria, acabam por estar todas muito sensibilizadas para esta problemáti-
ca, mas na prática nem tanto, mas isso também é uma questão de mentalida-
des que, se calhar muitas vezes também é assim, as pessoas não lidam muito
bem com, porque também não conhecem. De facto, muitas vezes temos me-
do daquilo que não conhecemos, do desconhecido e acho que muitas vezes
este também pode ser um factor inibidor, na minha opinião.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Eu não tenho muito conhecimento de causa para poder ter uma opini-
ão muito formada acerca desta matéria, no entanto acho que ainda é possível

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fazer mais, é sempre possível fazer mais. Mas lá está, passa também pela
questão da sensibilização, e nomeadamente, numa altura de crise em que é
aquela em que nós nos encontramos, de as pessoas poderem reconhecer pes-
soas como sendo capazes de produzir, de serem colaboradores produtivos.
Mas isto tudo é uma questão de mudança de mentalidades, que eu acho que
ainda há um longo caminho a percorrer.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Essencialmente, é esta questão das oportunidades, de proporcionar
oportunidades, igualdade de oportunidade a todos, independentemente das
limitações que têm. E faria aquilo que, como disse, me choca um pouco,
igualdade de oportunidades, mas vocacionada com as características de cada
um e não englobar num todo. A questão da integração aí acho que, na minha
opinião, não funciona. Ou pelo menos não funciona de uma forma 100%
eficaz, porque de facto temos de ter consciência que estas pessoas têm limi-
tações, e que têm que ser integradas de acordo com as características que
têm, nomeadamente ao nível escolar e se calhar de mercado de trabalho
também. E outra coisa, se calhar também há necessidade e nós aqui sentimo-
la, é a questão da institucionalização, há muita necessidade de criação de
instituições para este tipo de pessoas. Deparamo-nos aqui às vezes com pes-
soas portadoras de deficiência, nomeadamente ao nível mental, adultos, cu-
jos pais, que geralmente são os cuidadores, já estão em idade avançada e,
depois como é que vai ser o futuro destas pessoas quando os pais falecerem,
e ficam muitas vezes um pouco desprotegidos. Eu acho que esta questão
também é muito importante, porque há de facto uma grande necessidade a
esse nível, segundo aquilo que sentimos, segundo aquela que é a nossa reali-
dade. Essa questão preocupa-me de facto, essa questão do futuro dessas pes-
soas, principalmente ao nível de quem cuida, de como serão cuidados. Por-
que actualmente assiste-se a um boom, por exemplo, ao nível da construção
de lares de idosos, mas para pessoas portadoras de deficiência há muito pou-
co e as que existem também nem sempre dão resposta, porque efectivamente
a lista de espera é muito grande e, acho também que deveria ser uma aposta
a preocupação, proporcionar um bocadinho mais de qualidade de vida a estas
pessoas. Se calhar também ajudar os próprios cuidadores informais, muitas
vezes têm alguma dificuldade em lidar com a situação. Primeiro é aceitar e
depois é saber lidar com, acho que isto também poderia ser um eixo de in-
tervenção, ajudar estas pessoas a cuidar do seu familiar e, quem diz mental
diz outro tipo de deficiências, e acho que seria essencialmente por aí.

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Entrevista – TS(f) nº 4
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Será uma pessoa que não tem a capacidade de desenvolver tarefas ou
competências ditas mais básicas, mais ou menos nesta perspectiva, embora
haja obviamente algumas diferenças entre elas, mas basicamente talvez por
aí.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
[ri] Essas perguntas são difíceis. Sinto respeito pelas pessoas, não me
sinto incomodada, se calhar sinto-me mais sensível com a necessidade de
apoiar um bocadinho mais a pessoa, do que se for uma pessoa que à partida
tem todas as condições para desempenhar determinadas tarefas.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Eu acho que de uma forma geral desta maneira também, eu acho que o
grupo de trabalho é constituído por pessoas sensíveis que, se notam que há
alguma dificuldade, alguma diferença nas pessoas que possivelmente pos-
sam vir aqui, acho que todos têm essa postura, não ficam inibidos ou com
“pena”, no geral acho que têm todos uma atitude positiva.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Eu acho que sempre que seja possível eu acho que é bom, tanto para
eles, para se sentirem de alguma forma mais integrados na sociedade e penso
que para nós também, porque eu acho que lidam um bocadinho com a tole-
rância, com o saber estar, com a solidariedade que são valores que às vezes
nós nos esquecemos quando estamos no meio em que todas as pessoas têm
todas as valências e, realmente, se calhar quando existe alguém com alguma
diferença as pessoas ficam todas com os olhos um bocadinho mais abertos e
pensam e olham para a realidade de forma diferente. Eu acho que de alguma
forma que é uma ajuda, obviamente que depois em termos de trabalho pode-
rá limitar, aliás eu estava até a esquecer-me que nós no nosso grupo de traba-
lho temos um rapaz que tem uma paralisia e que, apesar disso é um rapaz
válido e que desempenha bem as suas tarefas, portanto acho que, também
estou a generalizar, não sei se estou a entender essa deficiência que está a
falar. Eu estou a falar de pessoas que não são totalmente dependentes, que
apesar de terem uma deficiência podem desempenhar tarefas, e eu acho que
esse exemplo, o rapaz é um bom exemplo, porque realmente ele é muito
prestável, gosta muito de participar e que contribui de alguma forma para
esse bom ambiente de trabalho, porque toda a gente tem um carinho especial
por ele. Por isso, acho que seria fácil integrar uma pessoa com deficiência

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mental, mais ou menos. Eu penso que sim, que é possível.


5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
[ri] À partida é uma pessoa que não tem qualquer tipo de limitação,
em termos cognitivos, penso que é por aí.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Alguma formação, quer por parte dessas pessoas quer por parte do
grupo de trabalhadores com quem ela vai estar, para de alguma forma serem
preparados para essa diferença e de que forma podemos tirar partido ou mi-
nimizar a deficiência que o colega possa ter. E não sei, acho que com cari-
nho, sensibilidade, acho que têm de estar sempre presentes. A competitivi-
dade entre as pessoas, sei lá, o que prejudica são normalmente maus valores,
são essas posturas que têm que ver com princípios que as pessoas podem não
ter.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Não sei, eu gostava de dizer que acho que sim, mas se calhar muito
sinceramente não sei se farão. Eu acho que é natural que as entidades, algu-
mas até tenham vontade de o fazer, mas se olharem muito na perspectiva de
lucros e assim, se calhar não fazem tudo o que deviam, acho eu. Gostava de
ser mais positiva, mas tenho sérias dúvidas apesar de conhecer e de haver
sempre grupos nas sociedades que apoiam estas situações, não sei se farão
tudo.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Eu acho que, também não tenho respostas, nunca tinha pensado nisso
[ri], mas acho que se as entidades tiverem realmente grupos de apoio que
pudessem de alguma forma ser estruturantes relativamente a essas pessoas
com diferença se calhar era uma forma, acho que essas pessoas sobretudo
precisam de ser mais acompanhadas, mais motivadas, mais acarinhadas e
talvez por aí, não sei bem.

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Entrevista – TS(m) nº 5
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Primeiro é uma pessoa com dificuldades e depois é uma pessoa que é
completamente incompreendida na sociedade. Acho que esse é que é o gran-
de problema.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Eu sinto-me bem, porque, vou-lhe contar a história…Eu tenho um fi-
lho e ele teve problemas à nascença e uma das coisas que a pediatra me disse
24 horas depois era que ele iria ficar deficiente mental. Felizmente não acon-
teceu, custou-me no início, mas agora estou completamente à vontade para
falar nisso, porque ele teve só uma paralisia facial e sinto-me bem com as
pessoas, por causa daquele susto, olho com outros olhos para essas pessoas.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Alguns bem, outros nem tanto, infelizmente.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Acho que é muito fraca, mas isso também devido, lá está, acho que os
empregadores deviam olhar mais para essas pessoas, não só os empregado-
res como também os empregados, deviam olhar mais para essas pessoas e
não se dá valor, porque uma pessoa deficiente mental não significa que seja
burra, antes pelo contrário. E temos visto casos de pessoas com deficiência
mental que, especialmente nos computadores, que são “barras”. Acho que
aqui na biblioteca sim, porque não?
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
Isso hoje é difícil de explicar, porque qualquer pessoa tem uma defici-
ência qualquer mental [ri]. Não sei, não faço ideia… eu também sou defici-
ente mental, eu também bato mal da cabeça, mas é mais preconceito, não
estarmos habituados a lidar com essas pessoas, porque a partir do momento
em que a gente começa a lidar começamos a olhar mais para nós mesmos e
começamos a ver que aquilo que eles fazem nós também fazemos. Entre
aspas, há sempre um limite, mas é isso, eu acho que não há pessoas normais.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Eu só vejo um factor, que é o facto dos apoios que têm por ter uma
pessoa com deficiência a trabalhar nos quadros, ou seja, isso traz perante o
Estado algum subsídio ou um decréscimo do imposto que têm de pagar.

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Acho que é a única vantagem que eles podem ver é isso, porque no fundo
eles não vêem muita rentabilidade em ter uma pessoa dessas a trabalhar. No
geral eu acho que deveria era lavar-se a cabeça a toda a gente, porque olham
não só para os deficientes mentais como qualquer deficiente, olham sempre
de parte e apontam o dedo. Basta apontar o dedo para a pessoa ficar marca-
da, basta uma vez e a pessoa não tem nada, mas se alguém aponta o dedo a
dizer que teve ou que tem, mesmo que não se veja, já está marcada. Acho
que são os epítetos que damos “deficiente”, aliás, só por si a palavra defici-
ente já é pesada. Eu continuo a dizer o mesmo, somos nós, eu acho que so-
mos nós, acho que falta muito humanismo nas pessoas e a partir daí acho
que a partir do momento em que tenhamos humanismo e olhemos para as
pessoas, está ali, mas podia ter sido eu, podia ter sido outra pessoa, a partir
daí a integração é completa.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Não. Porque… já foi pior, mas não fazem de todo, porque há sempre
aquele estigma de ter um deficiente a trabalhar e depois, como hoje a socie-
dade é uma sociedade produtiva e o que tem que se apresentar é resultados e
não se pode falhar, eles, empregadores, têm medo ao colocar esse tipo de
pessoas que o rendimento não seja o mesmo. Mas se acho bem ou mal, da
minha óptica eu acho mal, mas da óptica de um gestor não faço ideia, temos
de estar na pele deles, eles só visam o lucro, ponto final. Mesmo nós em
Gestão de recursos humanos, eles não querem saber, é do género, está a mais
manda embora, mesmo que as suas competências sejam válidas, isso não
interessa.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Se mandasse, primeiro abolia completamente a deficiência [ri]. Era o
que fazia, ia ao cerne da questão.

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Entrevista – TS(f) nº 6
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Uma pessoa com deficiência mental é alguém que ao nível da sua es-
trutura psicológica apresenta algumas lacunas, algumas anormalidades, que
fogem à norma, e que podem provocar alguma incapacidade na realização
das tarefas de forma “normal”, considerada normalidade.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Perfeitamente normal, como na presença de uma pessoa dita “normal”
sem qualquer deficiência, exactamente da mesma forma. O meu comporta-
mento para com essas pessoas é exactamente igual ao que tenho para pessoas
sem qualquer problema. Todas as pessoas devem ser tratadas de igual forma,
independentemente dos seus handicaps.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Bem, pelo menos aqui no Serviço de Acção Social, portanto, que é um
serviço onde lidamos com uma população muito vasta, com as mais diversas
problemáticas, penso que aqui ao nível do corpo de acção social todos te-
mos, se calhar também pela nossa formação base, muita sensibilidade e con-
seguimos lidar perfeitamente com as pessoas que têm deficiência mental ou
outros tipos de deficiência.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Como já referi, acho que estas pessoas necessitam de, tal como quais-
quer outras, serem integradas no mercado de trabalho. Para elas próprias é
extremamente vantajoso serem valorizadas, saber que podem ser úteis para a
sociedade, obviamente que carecem de outro tipo de acompanhamento, exi-
gem um acompanhamento mais personalizado, mais próximo, mas que se
forem devidamente acompanhadas conseguem ter um desempenho tão bom
como o de uma pessoa sem deficiência. Obviamente que tendo em conta as
suas limitações, não podemos atribuir a este tipo de pessoas funções que não
se enquadrem no perfil da pessoa, porque mesmo uma pessoa que não tenha
qualquer deficiência, se lhe forem atribuídas funções para as quais não tem
muita competência ou capacidade, se calhar o desempenho não vai ser tão
bom como se estivesse a exercer funções de acordo com as suas aptidões e
as suas competências, portanto, exactamente o que se passa com as pessoas
com deficiência. Sim, devidamente acompanhadas, claro, mas sim, sem
qualquer problema.

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5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?


Como disse na definição de deficiente mental, alguém que ao nível da
estrutura física, psicológica, da função psicológica apresenta algumas inca-
pacidades, alguns défices, que a impedem de realizar algumas actividades de
forma “normal”. Uma pessoa sem deficiência mental é uma pessoa que não
tem esses handicaps ao nível da função psicológica e que portanto mais fa-
cilmente conseguirão adaptar-se a contextos e a actividades de forma mais
fácil.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Haver uma maior consciencialização das pessoas das entidades em-
pregadoras, se calhar também haver alguma formação nesse âmbito para as
entidades empregadoras, fazer-lhes entender que as pessoas, se forem devi-
damente acompanhadas, se tiverem as mesmas oportunidades que têm as
outras pessoas, se calhar vão conseguir ter um desempenho tão bom ou me-
lhor do que algumas pessoas sem deficiência. Porque normalmente as pesso-
as com deficiência têm mais força de vontade de trabalhar, de mostrar o seu
desempenho, de mostrar que de facto são capazes de atingir aquelas metas e
aqueles objectivos, portanto acho que passa muito por aí, de tentar sensibili-
zar as entidades empregadoras para este tipo de pessoas, esta camada de
população com handicaps, mas que se devidamente acompanhadas podem
ser óptimos funcionários e ter um óptimo desempenho. Os que dificultam
são, mais uma vez a mentalidade, estes preconceitos que existem para com
estas pessoas, que, como já referi, já está a melhorar, mas acho que ainda há
um longo caminho a percorrer, ainda se olha um bocadinho de lado para as
pessoas com deficiência. Acho que é mesmo isso, é a mudança de mentali-
dades, é a consciencialização das pessoas de que todos nós somos seres hu-
manos e portanto não há seres perfeitos e por isso todos merecemos ter as
mesmas oportunidades, para de facto mostrarmos aquilo que somos. Em
todo o lado há bons profissionais, há maus profissionais e portanto todos
devemos ter a oportunidade de mostrar aquilo que valemos e aquilo que
somos.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Acho que poderiam fazer mais, mas tem tudo a ver com a nossa soci-
edade e com a mentalidade, acho que de facto deveria haver uma maior inte-
gração de pessoas com deficiência, o que muitas vezes e, pela minha experi-
ência, me apercebo de que se houver contrapartidas financeiras, ou seja, se
receberem algo em troca por terem uma pessoa com deficiência até são re-
ceptivos, mas o integrar só por integrar, por dar mais uma oportunidade
àquela pessoa, penso que ainda há alguma hesitação por parte das entidades
empregadoras.

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8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?


Se calhar começaria por tentar fazer imensas campanhas de sensibili-
zação, mostrar que de facto as pessoas com deficiência são pessoas com
muitas capacidades como as pessoas “normais”, porque o conceito de nor-
malidade e de anormalidade é muito díspar e muito vasto. Se calhar começa-
ria por aí, sensibilizar as pessoas para a importância deste tipo de pessoas
poderem ter oportunidade de mostrar aquilo que são e de facto, fazer enten-
der que nas pessoas ditas normais, há pessoas com mais e menos capacida-
des, tal como nas pessoas com deficiência, há pessoas com deficiência, por-
tanto, a deficiência mental também é muito vasta, há a ligeira, a moderada, a
grave, portanto, também depende do tipo de deficiência mental que estamos
a falar, mas se esse tipo de pessoas estiverem devidamente acompanhadas e
forem devidamente estimuladas, facilmente conseguem integrar o mercado
de trabalho e desempenhar correctamente as funções que lhes são atribuídas,
obviamente adaptando sempre à pessoa que temos à nossa frente. Acho que
iria por aí, porque o que acho que é importante é a mudança de mentalidades
e isso é muito complicado, portanto tem de ser um trabalho progressivo e
insistente para que as pessoas comecem a ter uma mente mais aberta e co-
meçar a dar mais oportunidades às pessoas com deficiência mental e não só.

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Entrevista – TS(f) nº 7
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Da minha convivência com essa pessoa, descrevo uma pessoa muito
fechada, pelo menos com as pessoas do prédio ele não tem convivência ne-
nhuma. Como as descrevo? Depende também muito da educação que se lhes
dá, porque estas pessoas creio que são pessoas inteligentes, limitadas, mas
inteligentes. Capazes, mas em determinados contextos, como é óbvio. Não
serão para todas as vivências, mas acho que sim, que são pessoas capazes.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Normal. Tenho alguma… [silêncio] Tento-me pôr o mais normal pos-
sível, consciente das limitações que essas pessoas têm. Não posso extravasar
para todas, mas sei que essas pessoas têm limitações e a convivência com
elas é diferente, cada uma dessas pessoas é diferente e estando com elas, no
meio de algumas, não convivendo com elas, mas tenho a perfeita noção que
a maneira de lidar com essas pessoas é completamente diferente, é distinta,
mas tento ser o mais normal possível.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Aí já é mais complicado, porque não lhe vou dizer como lidam ou
deixam de lidar, posso é dizer-lhe, não no trabalho porque já lhe disse que aí
não tive convivência nenhuma, posso descrever é situações comuns de nós
passarmos na rua e pessoas que não são minimamente responsáveis e, como
costumamos dizer, não têm dois dedos de testa, gozam com essas pessoas, o
que não faz sentido, porque eles nasceram com uma deficiência, infelizmen-
te, portanto…
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Eu diria que a resposta mais correcta é que todos devem ser integra-
dos, sem dúvida nenhuma, agora temos de compreender que em diversas
áreas e em diversos serviços isso é completamente incompatível. Por exem-
plo, na área onde estamos hoje, na área da comunicação, eu acho que era um
bocadinho complicado, a não ser que a tarefa fosse do tipo taylorista, fosse
sempre exactamente a mesma…Portanto, havia a necessidade de “educar”,
mas aqui era um bocadinho complicado. Noutras áreas não vejo qualquer
problema da integração destas pessoas, lá está, desde que formadas, com
gente com paciência e formadas para formar esta gente, sem dúvida nenhu-
ma.

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5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?


[Silêncio] Por exemplo, pessoas que, perante um desafio sabem res-
ponder e sabem procurar, sabem fazer valer as suas opiniões que maioritari-
amente, na minha opinião, pessoas com deficiência mental não conseguem
extrapolar tanto, digo eu, na minha ignorância.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Para já, a educação social, a educação empresarial e todos estarem
convictos, e quando falo de todos, é todos dentro de uma instituição, então, é
todos estarem convictos que estas pessoas são tão ou mais capazes que aque-
las ditas normais, e se todas estiverem viradas para essa vertente, acredito
que todos aqueles que são deficientes conseguem valer as suas capacidades,
limitadas, é verdade, mas conseguem valer. É preciso é educar esta gente,
porque se houver uma pessoa, imagine, dono de uma empresa que quer inte-
grar na sua instituição uma pessoa com deficiência mental, mas ele antes de
integrar esta pessoa tem que educar as outras pessoas todas que vão trabalhar
com o deficiente nesse sentido, acho eu. O que mais dificulta este processo
são as pessoas. Sem dúvida, porque como disse há pouco, ainda existe um
estigma social muito grande, muito grande. Porque, estou-me a lembrar de
pessoas que, aparentemente não têm semelhanças com deficientes mentais
mas que à posteriori sabemos que têm, e estou a fazer a comparação com as
pessoas que têm Trissomia 21, que eu tenho conhecimento que são pessoas
extremamente inteligentes, ainda mais inteligentes que qualquer um de nós
ditos normais, mas têm as suas limitações. E é preciso educar as pessoas, a
sociedade, de que estas pessoas são capazes, não de tudo, mas são capazes.
Primeiro as pessoas ditas normais e depois toda a envolvência da empresa,
da instituição, todas as pessoas que se relacionem com essa empresa e com
essa instituição, mas em primeira instância as pessoas “normais”.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Algumas fazem, já vão fazendo mais, acho que já foi alertado um bo-
cadinho para este problema, até porque existem leis próprias que beneficiam
as empresas que integram este tipo de pessoas, mas eu também julgo que,
integram estas pessoas, porque existem benefícios. Ou seja, é uma faca de
dois gumes, as pessoas empregam porque têm benefícios e as entidades pú-
blicas querem que empregue porque dão benefícios, é um bocadinho… não
sei como explicar, acho que não existe para já, o bom senso e aquilo que
gostávamos, pelo menos eu gostava que acontecesse, não só para os defici-
entes mentais, para todos os tipos de deficientes, então que as empresas e as
pessoas, por autodidactas que sejam, dizerem “Eu quero estas pessoas cá,
porque estas pessoas fazem um trabalho tão bom ou melhor que as outras
que são normais”. Mas lá está, existe ainda o benefício que o Estado dá, que

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sei que dá à empregabilidade destas pessoas.


8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Eu não mando e não sei se algum dia gostaria de mandar a esse ponto,
mas, há pouco faltou-me também uma coisa, para já faria exactamente aqui-
lo que está a ser feito, ou seja, existe uma tentativa para que seja dado algum
conforto a nível laboral a estas pessoas, para que não se sintam umas verda-
deiras inúteis, mas eu também acho que muitas vezes as próprias instituições
que educam estas pessoas podem não incrementar o suficiente nelas a auto-
estima, a capacidade de, portanto se calhar nas duas vertentes, tentar que
estas pessoas, dependendo obviamente do grau de deficiência, que se auto-
motivassem, que também fossem à luta, que não ficassem à espera que al-
guém fizesse algo por eles. O que podia eventualmente ser feito, creio eu
que está a ser feito, os incentivos à empregabilidade a estas pessoas, não são
muitos, é verdade, mas… existem. Mas, por outro lado, as diversas institui-
ções que existem também deviam dar um bocadinho mais de ânimo, força,
como nós tivemos alguns professores que nos incentivaram a, falo por mim.

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Entrevista – TS(f) nº 8
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Como eu conheço algumas, eu acho que uma pessoa que tenha defici-
ência mental é um ser humano, que merece cuidados especiais, carinhos
redobrados, muito amor, porque ele está cá por algum motivo. Se veio para
ficar, há-de ficar até Deus querer, de maneira que quem o rodeia, quer seja a
família, quer sejam as entidades públicas, têm que tomar conta deles.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Sinto-me… olho para ele com vontade de dar beijinhos, de mimar,
porque nós não sabemos o que é que eles sentem, eu olho para eles e penso,
como é que ele me vê a mim? Como é que gostaria que ele me visse a mim?
Ou seja, sempre no lado dos afectos, portanto, eu dou afecto e trato como um
ser humano, não sei se ele me entenderá ou não, porque eu não sei o que é
ser, há aqui um contraditório… Aquilo que posso dar e aquilo que não sei se
estou a ser interpretada correctamente ou não. Eu olho para eles como seres
humanos que precisam de tudo como nós, só que não se conseguem exprimir
pela deficiência que têm, mas às vezes gostaria muito de entrar dentro deles
e de ver o que eles percebem, porque eles manifestam-se, por pequena que
seja a reacção, isso eu sei, qualquer reacção que eles tenham, por mais pe-
quena, é sinal que estão presentes e que nos ouvem, que se calhar nos perce-
bem.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Eu posso referir só como deficiência, como deficiência mental já refe-
ri que aqui dentro só se for mesmo o gabinete de acção social que nos seus
contactos com famílias que tenham alguém portador de deficiência os nossos
técnicos lidem directamente com eles, eu pessoalmente aqui na Câmara
ainda não recebi ninguém. Recebi pessoas com outro tipo de deficiências,
com mobilidade reduzida, por exemplo, mas sobre a deficiência mental es-
pecífica não sei dizer como os meus colegas se sentirão, não posso falar por
eles. Pessoas com mobilidades, acho que todos nos preocupamos em receber
bem, encaminhamos a porta de entrada, os acessos aos nossos gabinetes, se
não tiverem acesso somos nós que nos deslocamos lá, mas isso são outras
deficiências.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Eu posso estar aqui a fazer alguma confusão, porque pessoas com de-
ficiência mental, a ideia que tenho, ou o que conheço são aqueles mais pro-
fundos e não sei como é que essas pessoas… Mas eu não sou conhecedora e

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se calhar não vou responder, não sei até que ponto eles conseguem. Se con-
seguissem acho que os deviam integrar, sou a favor da integração e não da
exclusão, ou seja, integrá-los, mas todos aqueles que consigam partilhar,
comunicar com o mundo exterior, com as pessoas que entram nestas institui-
ções e entram na câmara. [silêncio] As pessoas que trabalham mais próximo
de mim são pessoas mais técnicas, de atendimento ao público, de obras, de
iluminação e eu acho que não, porque estou a ver a deficiência mental mas
muito profunda… Em termos de edifício e espaços físicos, acho que não
temos nada e em termos de trabalho efectivo colocá-los a trabalhar, não es-
tou a ver. Estou a ver outro tipo de deficiência, mas mental acho que não.
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
Somos todos nós, acho eu. Eu olho para mim, felizmente não tenho
nenhuma deficiência, olho para si e também vejo que não, não é o usar ócu-
los ou termos um braço a doer ou um braço mais curto, ou seja, nada que nos
impeça de produzir, de falar, de comunicar, de trabalhar, de discernir por
nós, de pensarmos por nós, portanto, isso para mim é a resposta.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Os incentivos, por exemplo, do Estado, é um deles. Para os emprega-
dores, sobretudo incentivos do Estado, porque não vejo que… os incentivos
acho que são o principal. E se calhar a boa vontade das pessoas, a boa von-
tade interior, do ser humano, do empresário que dê oportunidade a essas
pessoas de também terem uma vida. O que dificulta são a falta dos tais in-
centivos, a falta da boa vontade, esta crise que hoje também estamos a atra-
vessar, uma crise económica e financeira a nível internacional, o desemprego
que existe para tanta gente que não tem problemas. Não sei se nesta altura
seria a altura mais indicada para empregar pessoas com estes problemas, mas
tudo depende se calhar, de muita boa vontade e eu continuo a insistir nos
incentivos do Estado.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Não sei, se não fazem, deviam fazê-lo. Nós por acaso, estou-me a re-
cordar, de um funcionário que temos na biblioteca, que é um jovem que tem
conseguido, consegue fazer o seu trabalho e para além disso ainda tem a
qualidade de ser um artista e ele exprime, se calhar, todo o seu problema na
pintura, mas eu acho que ele não é, não é de facto deficiente mental. Por isso
é como lhe digo, toda a entidade patronal pode muito bem empregar jovens
ou menos jovens que tenham estas limitações. Eu não sei se há alguma lei
que obrigue a entidade patronal a empregar uma quota de pessoas… Existe,
se existe também deveriam ser responsáveis e serem inspeccionados perante
os pedidos que sejam colocados à entidade patronal e se eles não aceitarem
deviam dar a resposta porquê, portanto tem que haver uma certa fiscalização

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e uma corresponsabilidade, quer do Estado quer do Instituto de emprego,


para ver se essas pessoas são efectivamente empregadas ou não e perguntar
porquê. Mas se calhar não, não porque não há fiscalização. Acho que é mais
isso e como não há fiscalização não cumprem com as obrigações legais.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Também tenho que me colocar no lugar dos empresários. Primeiro, se
eles aceitassem que para receberem os tais incentivos do Estado e que há
uma lei que os obriga, eu cumpria. Eu cumpria. Perante este cumprimento, é
óbvio que também me estou a por no lado deles, que também vão ter de ava-
liar a pessoa que está à frente deles, que se tivesse capacidades acho que
deve haver, também depende do trabalho que fosse dirigido a essa pessoa,
que é especial, tem que ter um local de trabalho especial, um trabalho espe-
cial, mas que pelo menos estava integrada na sociedade.

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Entrevista – TS(f) nº 9
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Eu penso que eles entendem e sabem o meio onde estão. Daquilo que
conheço são pessoas também com capacidades, muito boas, são pessoas com
as quais conseguimos lidar, temos de ter é alguma paciência, porque há coi-
sas que eles não conseguem desenvolver, o que é natural, temos é de enten-
der em parte as necessidades deles directamente para que depois consigamos
lidar com eles. Porque é isso que está em causa, em parte são crianças pe-
quenas, que não crescem e não desenvolvem determinadas faculdades que
nós temos porque não temos questões dessas. Eu acho que o que é importan-
te é conhecer o mundo deles, saber as necessidades deles e também tentar de
alguma forma insistir para que eles de alguma forma se tornem mais inde-
pendentes e há casos de sucesso. Acho que é conhecer o mundo deles, saber
isso e, depois, lidar com isso, dar-lhes mais conhecimento, mas acho que
com esforço e entendimento nós conseguimos de alguma forma fazer o me-
lhor por eles num dia-a-dia difícil para todos. Porque eles têm capacidades,
eles têm sentimentos, eles apercebem-se. Eles precisam de muitos mimos,
muito mimo, porque se retiveram numa etapa de vida que não desenvolve-
ram mais, são uns meninos. Porque eles sabem quem lá está, quem os mima
e são capazes de berrar se alguém lhes faz mal, não se conseguem é expres-
sar da mesma forma que nós, mas eles têm expressões de angústia e felicida-
de, porque isso entende-se nos olhos dessas pessoas, pelo menos daquilo que
eu lido, daquilo que eu conheço. A alegria do olho, o sorriso, eu acho que
quem lida com situações dessas é de louvar a capacidade.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Alguma tristeza e alguma angústia. Custa-me porque tenho uma filha
e dei graças a Deus por ela ter nascido com muita saúde, e desde que fui
mãe… Eu sempre fui muito sentimental, em relação às crianças, adultos,
mas uns porque ficaram assim por questões de parto, outros porque infeliz-
mente, por alguma questão de uma doença, assim ficaram também com a
vida, mas uma mãe pede saúde, muita saúde e infelizmente poderá acontecer
no futuro um acidente, que fiquem incapazes para a vida, mas quando é con-
nosco e quando temos que lidar com situações dessas o que se pede é saúde,
porque eles dependem de nós e o máximo que se podia fazer numa situação
dessas é dar o máximo de carinho possível e colo, muito colo. Eu lido bem
com essas situações, mas é verdade que quando estou num ambiente em que
estejam pessoas com alguma deficiência que me custa, que me angustia e
que eu penso que as pessoas que estejam com eles, que dêem o melhor deles,
porque eles não são uns coitados, eles são como nós, mas infelizmente a vida
pregou-lhes uma partida, infelizmente. Eu até conseguiria trabalhar com
eles, mas admito que tenho muita tristeza e muita angústia e que dou graças
a Deus por nós, pelos nossos e desde o nascimento principalmente dos fi-

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lhos, que agradecemos a Deus o facto de nos ter proporcionado para eles
muita saúde. Aguardamos o futuro e eu lido com estas situações um dia de
cada vez, porque não sabemos o dia de amanhã. Mas quando passo por estas
pessoas o meu coração fica muito vulnerável e custa-me muito essas situa-
ções. Pronto, eu fico muito emocionada com isso [emociona-se], porque
achava que todos nós devíamos ter uma vida feliz para todos.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Falando no geral, eu acho que alguns deles se sentem à vontade, quer
dizer, há pessoas que estão habituadas a lidar com pessoas com deficiência e
por isso lidam perfeitamente, mas, também sei que existem pessoas que são
mais sensíveis ou insensíveis e não lidam muito bem com a presença de
pessoas assim no seu local de trabalho. Acho que é uma questão de incómo-
do por não se saber lidar com, mas no geral acredito que aqui se lida muito
bem… Aliás, houve em tempos um rapaz que tinha uma deficiência e que
trabalhou aqui nas instalações e, por vezes, havia problemas. Essa pessoa
não suportava estar rodeada de muitas pessoas, começava aos berros e a
comportar-se de forma alterada, mas, entre todos encontrámos uma solução
e, de manhã, quando tínhamos de picar o ponto acordámos que essa pessoa
seria a 1ª a chegar e a 1ª a picar o ponto para não ter de estar na confusão da
chegada de toda a gente por volta das 8:30, assim como à saída, essa pessoa
saía mais cedo, bastava 5 minutos, mas já se evitava perturbar esse trabalha-
dor que, desempenhava lindamente a sua função. Por isso acho mesmo que
aqui se lida muito bem.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Eu acredito que a integração destas pessoas no mercado de trabalho é
hoje muito pobre, muito deficitária, ou seja, esta integração não é levada a
cabo de uma forma séria, é feito apenas o estritamente necessário, refiro-me
às quotas, as empresas contratam, quando contratam, o número mínimo de
pessoas com limitações e, na maior parte das vezes, as pessoas contratadas
não são deficientes mentais, mas sim físicos, como invisuais, surdos-mudos,
deficientes motores. A economia do nosso país não está voltada para esse
lado, infelizmente.
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
Uma pessoa sem deficiência mental?! É uma pessoa que teve a sorte
de nascer saudável, de ter todas as suas capacidades. É uma pessoa com saú-
de, mas infelizmente não acontece sempre assim, há azares na vida que são
cruéis para pessoas inocentes, para crianças inocentes, anjinhos… (emocio-
na-se). Lá estou eu, emociono-me, porque creio que toda a gente deveria
viver com saúde e feliz, mas não é assim, não é assim… Vamos lá avançar.

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6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas


com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Os factores que dificultam, na minha opinião, a integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho, prendem-se muito com a
própria maneira de a sociedade encarar estas pessoas, ou seja, é preciso que
haja uma mudança de mentalidades, que as pessoas na sociedade em geral e
nas empresas, os responsáveis por estas questões nas empresas, se aperce-
bam das potencialidades destas pessoas para que possam vir a ser integradas.
Há uma falta de sensibilidade, de conhecimento e de vontade para perceber
esta questão e, por isso, que não é pouco, é que se faz muito pouco. Os facto-
res positivos acabam por ser as quotas, que pelo menos, obrigam, e obrigar é
uma palavra tão feia, mas pelo menos obrigam a aceitar estas pessoas, nem
que seja por causa dos benefícios, sempre se dá trabalho a uma pessoa que
pode trabalhar e que vai valorizar o trabalho de uma forma que muitas vezes
nem nos passa pela cabeça. O que também ajuda é a existência de escolas
que formam estas pessoas a executar certas funções, ou seja, a existência de
escolas próprias que se encarregam de adaptar mais estas pessoas com difi-
culdades ao mundo em que vivem, ao nosso mundo.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Não acho, não acho. É como lhe disse ainda agora, a mentalidade das
pessoas na generalidade não está evoluída para tratar uma questão tão deli-
cada quanto esta. Um dia quando estes preconceitos deixarem de estar tão
presentes aí sim, aí acredito que tudo vai mudar e que toda a gente vai ser
responsável pelo melhor destas pessoas na sociedade, mas para já ainda não.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Se mandasse… Se mandasse faria de tudo, mas de tudo mesmo para
integrar o mais possível estas pessoas na sociedade, faria de tudo para que as
suas diferenças fossem cada vez mais esbatidas, não havendo diferença entre
o “normal” e o “anormal”. Tentaria que estas pessoas fossem felizes.

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Entrevista – TS(f) nº 10
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
É uma pessoa que de facto tem algumas dificuldades. Nas pessoas que
conheço tem mais que ver com o discernimento, talvez, se calhar não têm
aquela agilidade mental que nós, pessoas ditas normais, temos. De facto,
aquilo de que me apercebo nas pessoas que conheço, é mais esse tipo, a defi-
ciência nota-se mais nesse tipo, ao nível do discernimento mental e algumas
até motor, depois agravadas com outras situações da vida, como atropela-
mentos, avc’s, esse tipo de coisas.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Normalíssima. Normalíssima, porque as pessoas que eu conheço dá
para conversar na mesma sobre coisas normais e portanto não sinto diferença
nenhuma, de facto não. Claro que se calhar temos de ter algum cuidado, se
calhar não percebem as coisas como as outras pessoas se calhar percebem à
primeira, se calhar temos de ter outro tipo de explicações e, se calhar usar
outro tipo de palavras, mas acho que são normais na mesma, dá para conver-
sar, dá para perceber perfeitamente.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
De facto aqui nós não temos isso, mas eu penso que, pelo menos na
parte teórica, toda a gente lida bem. Na teoria acho que toda a gente lida
bem, na prática de facto não sei, não vi ainda como é que eles lidam, ainda
não tive esse conhecimento por parte deles, não sei.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Acho óptimo e acho que devia haver até mais, porque alguns têm de-
ficiência mental sim, não a todos os níveis, por isso há sempre alguma parte
que pode ser recuperada ou pode ser estimulada, por isso acho que deviam
ser integrados, porque acho que eles têm capacidades na mesma, têm sempre
algum tipo de capacidade que pode ser desenvolvida e que pode ser aprovei-
tada. Em termos práticos acho que não, neste tipo de serviço acho que não,
mas há sempre outros serviços, mais leves que acho que realmente sim, que
eles podiam ser ensinados e podiam funcionar perfeitamente, eu penso que
sim. Neste sector não, mas eu sei que havia, a nível de jardinagem, o filho de
um colega que ele funcionava perfeitamente, ele sabia muito bem o que es-
tava a fazer e era muito bom funcionário, muito bom trabalhador. E ele tinha
uma deficiência mental de facto, mas não estava de todo incapacitado e ele
podia portanto trabalhar e era uma experiência óptima e acho que foi bem
aproveitado [risos].

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5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?


É uma pessoa que tem as suas capacidades físicas e psíquicas normais,
que realmente consegue ser autónomo. Eu acho que é essencialmente isso.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Eu penso que é a disponibilidade de quem está a contratar e ter talvez
uma mentalidade mais aberta e de arriscar também, e porque não? Um boca-
do também de interajuda, acho que é um bocado a parte social das empresas
que devia funcionar e realmente dar oportunidades a estas pessoas. Acho que
esse é um factor essencial, é um bocado a mentalidade de quem está a con-
tratar e a própria política da empresa que devia dar essa oportunidade tam-
bém. Os factores que prejudicam são essencialmente a mentalidade das pes-
soas, acho que é isso e que será sempre isso. Na minha opinião acho que é
sempre a mentalidade [risos].
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Nem sempre, nem sempre. Porque nós vemos que a entidade empre-
gadora, mesmo com pessoas normais há sempre algum tipo de perseguições,
de injustiças, de situações que prejudicam os colegas e, às vezes penso, se eu
fosse uma pessoa com deficiência se calhar não aguentava certas pressões
que acabamos por fazer uns aos outros, sem querer. Acho que é um bocado
complicado até para uma pessoa normal, quanto mais para uma pessoa com
deficiência.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Uma coisa que acho que se devia fazer mais era abrir as portas a esse
tipo de pessoas e integrá-los o mais possível nalguns trabalhos ditos mais
leves, mais acessíveis e tentar ajudá-los e ensiná-los, porque de facto eles
ensinados rendem tanto como os outros. Acho que era uma boa oportunidade
que se devia fazer, até porque a lei também diz que sim, que devemos dar
essas oportunidades, mas de facto, depois na prática não se faz isso e então
no sector público é um bocado mais. Ainda não se vê muito, vê-se um ou
dois casos, não se vê muito, até porque quando se vê são notícia, porque
realmente é raro, infelizmente é assim.

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Entrevista – TS(f) nº 11
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
Para mim, não sei muito sobre o assunto, mas deve ser uma falha, ou
uma carência a nível do cérebro, a nível cerebral.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Não vou dizer que me sinto mal, mas também não me sinto bem. Sin-
to-me, não sei muito bem como hei-de lidar, porque graças a Deus, na famí-
lia não tenho ninguém assim, não contacto com ninguém assim. Quando
eventualmente, uma vez por ano, estou em contacto com pessoas assim, por
acaso me encontro ou encontro algum amigo ou alguém conhecido que traz
com ele pessoas assim, não sei muito bem como hei-de lidar, mas pronto,
tenta-se lidar da melhor maneira, não é?
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
A nível profissional sei que não têm muito contacto, a nível pessoal
não sei porque também não as conheço a esse nível para poder dizer algo,
por isso não sei se até algum dia privaram com uma pessoa assim.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Eu isso é que acho muito bem, acho que todos eles devem ter a mesma
oportunidade que nós, os ditos normais. Eu acho que sim, até porque eles se
forem, desde crianças, incluídas e puxadas, digamos assim, formadores,
professores, educadores que vão puxando por eles ao longo dos anos, eu
acho que eles quando chegam a adultos, também dependendo do grau de
deficiência, porque há graus de deficiência em que é mesmo difícil fazer
alguma coisa a nível profissional, mas há outros que dá para fazer, portanto
eu acho que chegam a adultos e são sempre capazes de fazer alguma coisa e,
por pouco que façam, acho que ficam muito satisfeitos com o que fazem,
porque sentem-se úteis para a sociedade e acho que os ajuda a desenvolver
melhor até a nível pessoal, acho que se tornam outras pessoas, quando não,
quando isso não acontece eles têm tendência a regredir e digamos que a ficar
uns bichinhos, pronto… no meu sector eu acho que sim. Eu por acaso até já
trabalhei num sector onde tínhamos um rapazinho que tinha uma derivação
do espectro do autismo, mas não lhe sei explicar qual era e ele até era muito
inteligente. Ele trabalhava com o computador, eu estive num sector onde
dávamos entrada e saída de correspondência, e o que ele fazia era estar a dar
saída da correspondência, ou seja, ele tinha que inserir no computador o
número de saída do ofício, tinha que por o assunto, o dia em que saiu e ele
era capaz de fazer isso. Também só fazia isso, se calhar também porque não

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lhe davam mais, porque eu acho que ele foi uma criança que não foi muito
puxada e ele era um bocadinho preguiçoso nesse aspecto, porque ele fazia
aquilo e pensava que o trabalho era só isso e não fazia mais nada, mas eu
acho que ele era muito inteligente e que podia até fazer outras coisas, ele era
é preguiçoso. Aqui no nosso serviço de educação eu acho que sim, há coisi-
tas, desde que ele soubesse, por exemplo, mexer num computador, que eu
acho que é o mais importante hoje em dia, sempre podia fazer alguma coisi-
nha, nem que fosse estar a inserir números, estar a fazer… Eu acho que sim,
que era possível. Claro que não podíamos contar com ele, porque às vezes é
uma correria a resolver assuntos, mas há certas coisinhas que acho que sim,
que poderia fazer.
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
Uma pessoa que se calhar não tem carência nenhuma, pensamos nós.
Às vezes não tem carência nenhuma mas [risos] tem ali alguma coisa que
não… Se calhar a chamada dita “normal”, que não tem nenhuma falha nem
carência a nível cerebral, quer dizer… Eu acho que sou uma pessoa normal,
porque acho que não tenho nenhuma dessas falhas nem nenhuma dessas
carências, não sei…
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Se calhar, se tiverem alguma formação, digamos assim, eu sei que há
alguns deficientes que até sabem, por exemplo, trabalhar com o computador,
há outros que não sabem, mas que se calhar, se tiverem um bocadinho de
paciência e se lhes forem ensinando aos pouquinhos, se calhar eles até lá
chegam. O básico sabem fazer, mas aqui no nosso caso eu acho que se se
soubesse trabalhar o mínimo com um computador eu acho que era meio
caminho andado para entrar e fazer algo, porque depois com o dia-a-dia ia-
se-lhe ensinando. Eu também quando vim para aqui havia muitas coisas que
não sabia, mas já estou aqui há 3 anos e já aprendi muito, quer dizer, acho
que o próprio dia-a-dia com o ensinamento dos colegas vai entrando, vai-se
desenrolando. Acho que sim, que seria o principal, trabalhar um bocadinho
com a informática, ou ter algumas noções, porque acho que o mais importan-
te hoje é isso, para qualquer lado que se vá… Ou, por exemplo telefonista,
quer dizer, perceber assim de informática, o básico. O que dificulta mais?
Sei lá, acho que para responder a isso se calhar um chefe ou uma pessoa de
recursos humanos responderia melhor, mas não sei. Se calhar o aspecto físi-
co deles, porque alguns realmente têm um aspecto físico que enquanto não
nos habituamos faz assim um bocadinho de “impressão”, mas depois vamo-
nos habituando… Não sei, ou o aspecto físico ou a própria pessoa pensar “oh
coitadinho, é deficiente, não tem capacidade para fazer algo”. Não sei, se
calhar assim de repente o que me ocorre é isso.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras

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cumprem o seu papel neste processo de integração?


Não. A nível europeu e mundial não sei muito bem como é que estão
as coisas, mas eu acho que em Portugal não, acho que não estão, os patrões,
as instituições, acho que não estão muito virados para aí. Acho que ainda
não perceberam que essas pessoas às vezes podem ser uma mais-valia, de-
pendendo dos locais onde os integrarem, porque também é preciso saber os
locais onde os integram, porque uma pessoa com deficiência não pode ocu-
par qualquer lugar, tem de ser um lugar que se adapte a ela própria e eu acho
que os nossos patrões e os nossos chefes não estão sensibilizados para isso,
acho que em Portugal não há sensibilização para a integração de um defici-
ente no mercado de trabalho.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Eu acho que existe lei para isso. Ou a lei não está a ser cumprida ou
teria da haver algumas modificações, porque eu sei que são atribuídos alguns
subsídios. Será que esses subsídios não são suficientes? Será que mesmo
sendo suficientes as empresas mesmo assim não querem porque, digamos só
o transtorno de terem de estar a “aturar” uma pessoa com aquelas deficiên-
cias? Não sei, na altura teria que ver, mas alguma coisa mudaria.

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Entrevista – TS(f) nº 12
1- O que é para si uma pessoa com deficiência mental?
É uma pessoa! Que eventualmente terá algum tipo de faculdade que
por alguma questão ficou privada dela. Dependendo do tipo de deficiência
ou da área afectada, terá de depender eventualmente dos outros para que
consiga ter o mínimo de uma vida dita normal.
2- Como se sente na presença de uma pessoa com deficiên-
cia mental?
Gosto muito, gosto muito, principalmente a nível de autismo, porque
são crianças e pessoas com quem tenho um afecto muito grande e não sei
explicar.
3- Relativamente aos seus colegas de trabalho, como acha
que eles lidam ou sentem na presença de uma pessoa com deficiência
mental?
Olhe, eu acho que são pessoas já bastante “mente aberta” e sem pre-
conceito e acho que também têm uma boa postura perante isso, acho que
também têm algum afecto, acho que também têm algum tipo… Não sei
exactamente no interior delas o que é que pensam, mas nas situações em que
me apercebi a reacção e atitude é muito correcta.
4- O que é que pensa acerca da integração de pessoas com
deficiência mental no mercado de trabalho? E no seu local de trabalho
em concreto?
Acho muito boa, acho que deve haver, acho que se deve cada vez mais
criar caminhos para que isso aconteça, dentro das possibilidades todas que
houver. Nós temos sido aqui na Câmara muito, temos cooperado muito com
situações dessas, temos inclusivamente colegas com deficiência, físicas e
não só, e temos sempre tido todos os anos estagiários de ensino especial com
vários tipos de limitações que têm sido colegas e pessoas tão capazes como
nós. No meu sector acho que era possível, porque não? Até porque nós pre-
cisamos sempre de gente, não conseguimos estar sempre em todo o lado e
ver as situações no terreno e seria sempre mais um apoio, uma ajuda, acho
que seria muito interessante até…
5- O que é para si uma pessoa sem deficiência mental?
[Risos] Eu acho que isso é muito difícil de se avaliar. Cada vez
mais… Ainda há pouco tempo tive uma situação em que foi diagnosticada
numa pessoa muito próxima da minha família, que tem uma doença obsessi-
va compulsiva e até à data nunca ninguém tinha, apesar dos comportamen-
tos, nunca ninguém, ou talvez por não quererem aceitar por parte de quem
era responsável, pela mãe eventualmente, que isso pudesse ser verdade e só
já muito tarde é que de facto se enfrentou a situação e confirmou-se. Eu acho
que uma pessoa que não tem deficiência mental é uma pessoa que à partida

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consegue, o seu cérebro e todo o desenvolvimento físico, cognitivo se de-


senvolveu dentro do dito normal e que consegue, que tem as capacidades
todas, as faculdades todas, que são à partida normais num ser humano, mas
não sei até que ponto não temos todos qualquer tipo de “handicapzito”.
6- O que é que acha que ajuda na integração de pessoas
com deficiência mental no mercado de trabalho? E o que acha que difi-
culta?
Eu penso que ajuda todo o tipo de ambiente que rodeia enquanto tem
vindo a desenvolver-se como pessoa, desde que é gente e, principalmente
todas as instituições ou entidades que a rodearam no sentido de que promo-
vam uma abertura tal a toda a envolvente para que ela deixe de ser vista co-
mo uma pessoa diferente. Eu acho que isso é muito, muito importante. E
mostrar que em contextos, em ambientes normais ou rotineiros, provar e
mostrar que essa pessoa acompanha tanto como nós e acho que a partir daí
deixa de haver qualquer tipo de… Acho que ao fim de algum tempo já nin-
guém reparava que a pessoa era diferente. O que mais dificulta continua a
ser o preconceito, continua a ser a mentalidade das pessoas e isso acho que é
incontornável.
7- Na sua opinião, acha que as entidades empregadoras
cumprem o seu papel neste processo de integração?
Eu sei que a lei obriga a que haja uma percentagem de vagas disponí-
vel para situações dessas, mas eu acho que não.
8- Se mandasse, o que fazia para melhorar esse propósito?
Se mandasse, eu acho que… É muito complicado, porque as mentali-
dades não se mudam com muita facilidade, mas tentaria o mais possível
desenvolver mecanismos para que houvesse uma mistura muito maior dos
ditos normais e dos ditos com deficiência mental, que à partida são deficiên-
cias comprovadas… Mas, de forma a que houvesse uma maior mistura…
Fala-se tanto da multiculturalidade, não é, acho que é um conceito de cultu-
ras, mas que acaba por… Eu terminei há relativamente pouco tempo a licen-
ciatura e tive disciplinas em que de facto falava-se só muito da questão da
cultura e das origens culturais, mas eu transpunha sempre isto tudo para
estas diferenças, para a mistura de pessoas diferentes, em termos de handi-
caps físicos ou não, ou mentais. Eu acho que tentaria desenvolver o mais
possível mecanismos para que houvesse, de uma forma natural, uma inclu-
são o mais possível dessas pessoas, não sei como mas...

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Anexo III - Caracterização social dos participantes

Caracterização social dos participantes

Representações sociais das pessoas deficientes mentais e integração socioprofissional


Ana Rita Santos Marques Tavares (e-mail: rita.smt@gmail.com) 2011
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Aspectos a consi- Informação


derar na caracterização
dos participantes
Jardineiros
Idade 27; 36; 40; 47; 56; 62
Dois participantes do sexo feminino e quatro
Sexo
do sexo masculino.
Um participante tem o 4º ano de escolarida-
Habilitações literá- de; dois participantes têm o 6º ano de escolaridade;
rias um participante tem o 8º ano de escolaridade; dois
participantes têm o 9º ano de escolaridade.
Destes participantes um conheceu uma pes-
soa com deficiência mental no anterior local de traba-
Conhecimento de al- lho; um tem um familiar directo com deficiência
guém com deficiência mental mental; três trabalharam com deficientes mentais no
actual local de trabalho; um não conhece ninguém
com deficiência mental.

Aspectos a consi- Informação


derar na caracterização
dos participantes
Técnicos superiores
Idade 29; 34; 34; 36; 36; 37; 37; 37; 38; 40; 41; 51.
Um participante do sexo masculino, os res-
Sexo
tantes 11 do sexo feminino.
Um participante tem o 12 ano de escolarida-
Habilitações literá- de; os restantes 11 têm licenciatura (Antropologia;
rias Comunicação Social; Educação; Gestão de Recursos
(enumeração das li- Humanos; História; Marketing; Psicologia; Serviço
cenciaturas) Social; Sociologia; Turismo; Turismo, hotelaria e
termalismo.
Destes participantes quatro conhecem pesso-
as com deficiência mental como consequência da sua
Conhecimento de al- actividade profissional; um tem um familiar directo
guém com deficiência mental com deficiência mental; três conhecem vagamente
alguém com deficiência mental; quatro não conhecem
ninguém com deficiência mental.

Representações sociais das pessoas deficientes mentais e integração socioprofissional


Ana Rita Santos Marques Tavares (e-mail: rita.smt@gmail.com) 2011

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