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O TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL COM FAMÍLIAS NO

CONTEXTO CONTEMPORÂNEO: UMA ABORDAGEM ÉTICA

Angelina Martins
Helen Barbosa Raiz Engler

RESUMO

A profissão do Serviço Social está inserida no contexto contemporâneo onde o sistema


capitalista domina e controla as relações sociais, tecendo, portanto, a vida em sociedade.
Os/as assistentes sociais atuam nas expressões da questão social, que atingem contingentes de
pessoas assoladas em contextos de barbáries, pessoas estas que se configuram ou fazem parte
de uma família. Entendendo esta unidade como um grupo de pessoas que se reúnem por laços
afetivos, consanguíneos ou não, sendo um espaço propício para o desenvolvimento de seus
membros, para cuidar dos idosos e educar crianças e adolescentes. Atualmente a atividade
laborativa do/a assistente social que executa as políticas sociais e públicas tem sua
centralidade na família. Para tanto, os profissionais devem estar capacitados e comprometidos
com a classe trabalhadora para efetivar o projeto ético-político e o Código de Ética da
profissão. O/a assistente social ético é aquele que ousa, que supera, que tem sua intervenção
pautada na reflexão ética e se compromete com a qualidade dos serviços prestados a
população. É aquele que se apaixona na descoberta do outro e preza acima de tudo a
dignidade humana. Ser ético é refletir o trabalho profissional (desvelar o real), as legislações
com a perspectiva de um trabalho de totalidade investigativo, propositivo e interventivo na
vida com as famílias que atuam.

1. Considerações iniciais

Estudar a questão ética no trabalho do/a assistente social, em especial na atuação com
famílias (família – centralidade das políticas da assistência social) é desvelar o desafio
profissional de elaborar o trabalho embasado em um referencial teórico, ético e político,
guiado por um ideal societário, no enfrentamento da questão social.
De acordo com Dupas (2001), a era da informação, desde meados do século XIX, vem
transformando e individualizando as relações humanas, e há uma coisificação do Homem, em
que se enaltece o TER sobre o SER.
Ser ético é responder ao que fere a dignidade humana com honestidade, com caráter,
com sinceridade, entre outros valores, ou seja, com ações que garantam ao homem o encontro
dele com o seu humano genérico (capacidades, sentimentos, consciência, racionalidade,
subjetividade, entre outras potencialidades).
Ser assistente social no contexto atual de exploração de uma classe social pela outra
(capital versus trabalho), que acarreta o agravamento da questão social – objeto de trabalho
profissional do Serviço Social - e a coisificação do ser humano, exige do/a assistente social
articular sua capacidade crítica para compreender a totalidade das situações vivenciadas pela
família e sociedade para ser propositivo e interventivo frente a esta realidade.
Este é o perfil de um profissional competente e ético, ou seja, um profissional
preparado para discutir com os usuários do Serviço Social sua atividade laborativa pautada
nos princípios do Código de Ética e do projeto ético político profissional.

2. Desenvolvimento

O Serviço Social, de acordo com Iamamoto (2001) está situado no contexto das
relações sociais e na divisão sóciotécnica do trabalho, sendo impulsionado por demandas
contraditórias fruto da sociedade capitalista, que constituem determinações objetivas, e a
questão social (elemento fundamente do exercício profissional do Serviço Social na
sociedade).
A debilitação das redes de sociabilidade e sua subordinação às leis mercantis
estimulam atitudes e condutas centradas no individuo isolado, em que cada um “é livre” para
assumir os riscos, as opções e responsabilidades por seus atos em uma sociedade de desiguais.
Estando a profissão assim situada é por meio de seus agentes profissionais que se
articula a construção de respostas profissionais a partir dos quadros particulares das
conjunturas socioeconômicas e políticas.
Busca-se rompimento com a função de mediação entre o capital e o trabalho, e coloca
a ação profissional na perspectiva dos interesses e das necessidades dos usuários do Serviço
Social, em que se estabelecem vínculos e compromissos com os interesses e necessidades da
classe proletária, seguindo o Código de Ética Profissional e o Projeto ético-político que prevê
tal comprometimento.
Segundo Silva, M. (1993) as demandas colocadas ao Serviço Social se caracterizam:
por um contingente de pessoas pauperizadas que requerem atendimentos a suas necessidades
imediatas de sobrevivência; e por setores populares organizados que, no seu processo de luta,
procuram colocar a assistência no contexto da cidadania e buscam apoio ao seu esforço
organizativo.
Os impasses do presente e as (in) certezas impulsionam ao debate coletivo voltado a
compreender e identificar estratégias de enfrentamento à questão social, na defesa dos direitos
humanos e sociais, o que desafia a todos: profissionais e cidadãos.
Para Silva, A. (1993) a profissão é capaz de fazer análise da realidade, indo para além
do que está posto, compreendendo-a pela totalidade e deve responder pela sua capacidade as
demandas de serviços, embates culturais, ideológicos e políticos por meio da competência que
os/as assistentes sociais possuem do pensamento ético, crítico e estratégico.
Ou seja, os/as assistentes sociais tem formação para serem profissionais
inconformados com a barbárie social, serem insurgentes, dominarem os instrumentos
operativos, e usarem do arcabouço teórico metodológico para responder as questões que lhe
são postas no cotidiano.
Questões essas que são trazidas pelas famílias e seus membros aos profissionais do
Serviço Social nos diversos espaços sócio-ocupacionais que atuam. Algumas dessas
expressões da questão social sofridas por elas são: - transformações das relações de trabalho; -
desemprego; - baixa qualificação de mão de obra; - desigualdades econômicas, políticas,
culturais; - analfabetismo; - disparidades nas relações de gênero; - perda dos padrões de
proteção aos trabalhadores que geram: - pobreza; - exclusão; - subalternidade; -
desigualdades; - injustiças; - opressões; -situação de penúria- violência; - etc.
Segundo Sales, Matos e Leal (2009, p. 265) “a capacidade da família de prover as
necessidades de seus membros está diretamente ligada e dependente da posição que ocupa nas
relações de produção e no mercado de trabalho”.
Entende-se aqui por família, aquilo que tais autores citados acima (2009, p. 266, apud
SZYMANSKI, 2002, p. 10) afirmam:

O grupo familiar é também o núcleo em torno do qual as pessoas se unem,


primordialmente por razões afetivas, dentro de um projeto de vida comum,
em que partilham um cotidiano e, no decorrer das trocas intersubjetivas,
transmitem tradições, planejam seu futuro, acolhem-se, atendem idosos,
formam crianças e adolescentes.

É essencial o/a assistente social reconhecer as singularidades dos sujeitos com quais
trabalha, suas histórias de vida, e suas experiências sociais, pois isso é condição para o
compromisso real com a efetivação dos direitos humanos e sociais.
O conhecimento das condições de vida dos sujeitos permite ao assistente
social dispor de um conjunto de informações que, iluminadas por uma
perspectiva teórica crítica, possibilitam apreender e revelar as novas faces e
os novos meandros da questão social, que desafia a cada momento o
desempenho profissional: a falta de atendimento às suas necessidades na
esfera da saúde, da habitação, da assistência; nas precárias condições de vida
das famílias; na situação das crianças de rua; no trabalho infantil; na
violência doméstica, entre inúmeros outros exemplos (SALES, MATOS,
LEAL, 2009, p. 272).

O momento conjuntural de expressão da proposta de prática profissional coloca a


possibilidade de articulação do Serviço Social com as demandas e necessidades dos setores
populares.
Isso ocorre no trabalho com famílias, em que o profissional articula a dimensão
investigativa que possui para detectar as demandas, com a dimensão propositiva para elaborar
planos de ação, para posteriormente, acionar sua dimensão interventiva e interferir na vida dos
usuários, e, assim, a profissão se torna conhecida.
A PNAS – Política Nacional da Assistência Social (2004), afirma que o
reconhecimento da importância da família no contexto da vida social está explícito no artigo
226, da Constituição Federal do Brasil, quando declara que a “família, base da sociedade, tem
especial proteção do Estado”. Este artigo endossa o artigo 16 da Declaração dos Direitos
Humanos, que traduz a família como sendo o núcleo natural e fundamental da sociedade, e
com direito à proteção da sociedade e do Estado.
Em nosso país, este reconhecimento se reafirma nas legislações específicas da
Assistência Social: Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Estatuto do Idoso e na
própria Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, entre outras.

As reconfigurações dos espaços públicos, em termos dos direitos sociais


assegurados pelo Estado democrático de um lado e, por outro, dos
constrangimentos provenientes da crise econômica e do mundo do trabalho,
determinaram transformações fundamentais na esfera privada, resignificando
as formas de composição e o papel das famílias. Por reconhecer as fortes
pressões que os processos de exclusão sociocultural geram sobre as famílias
brasileiras, acentuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial
sua centralidade no âmbito das ações da política de assistência social, como
espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias,
provedora de cuidados aos seus membros, mas que precisa também ser
cuidada e protegida. (PNAS, 2004, p. 34)

Ainda segundo tal política a família, deve ser a centralidade das ações da assistência
social e devem garantir a convivência familiar e comunitária. Independentemente dos
formatos ou modelos que assume a família, ela a é mediadora das relações entre os sujeitos e
a coletividade, delimitando, os deslocamentos entre o público e o privado, e sendo geradora
de modalidades comunitárias de vida.
Para que a família possa exercer a função que lhe é delegada de prevenir, proteger,
promover e incluir seus membros por meio dessa centralidade é necessário, em primeiro
lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal.
Nesse sentido, é preciso refletir se a formulação da política de Assistência Social é
realmente pautada nas necessidades das famílias, seus membros e nos indivíduos. De acordo
com a ética que propõe a reflexão, é necessário que o/a profissional reflita sobre a questão da
centralidade familiar. Na sociedade atual isto (a centralidade da família) significa
responsabilizar a família pela proteção de seus membros e culpabilizá-la por suas situações.
E somente se esta família falhar, o Estado deve interferir na sua proteção. Por isso, é
importante no trabalho com famílias conscientizar, problematizar estas questões e levá-las a
refletir suas condições e buscar conjuntamente alternativas de ação para efetivação de direitos.
Os/as assistentes sociais precisam ter claras as legislações que executam, saberem o
porquê fazer, como fazer, para que se fazer e ir à busca de que e para quem se faz.
A Assistência Social, enquanto política pública que compõe o tripé da Seguridade
Social deve inserir-se na articulação intersetorial com outras políticas sociais, particularmente,
as públicas de Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Emprego, Habitação, entre outras, para que
as ações não sejam fragmentadas e se mantenha o acesso e a qualidade dos serviços para todas
as famílias e indivíduos.
Ou seja, é preciso entender que o Serviço Social sozinho não consegue transformar as
relações sociais, e por isso, é importante estabelecer parcerias, além de dialogar com outras
áreas do saber, executando a interdisciplinaridade.
A interdisciplinaridade enriquece e flexiona o Serviço Social,

no sentido de romper com a univocidade de discurso, de teoria, para abrir-se


à interlocução diferenciada com outros. Isto significa romper com
dogmatismos, muitas vezes cultivados no interior da profissão. Aprendendo
a sair de seu modo de pensar e de sua metodologia consagrada, ele [o
cientista] abandona a rigidez e a fixação em mundos que julgava absolutos
(IAMAMOTO, 1998, p 157).

A interdisciplinaridade é uma postura profissional e uma atitude para conhecer uma


determinada situação, que proporciona uma interlocução de saberes e constitui um aspecto
fundamental na aproximação e desvelamento da realidade. Assim, a realidade pode ser vista
por diferentes ângulos o que permite qualidade de atendimento aos sujeitos e respostas às
demandas.
O Serviço Social é dotado de instrumentos de trabalho em que não se executa a prática
pela prática, mas sim a práxis profissional, a prática embasada no referencial teórico, com
reflexão de cada ato.
Para Sales, Matos e Leal (2009) é preciso decifrar novas mediações, por meio das
quais a questão social se expressa, em uma dupla perspectiva: para apreender as várias
expressões que assumem na atualidade as desigualdades sociais e projetar formas de
resistência e de defesa da vida.
Assim, na abordagem com famílias os instrumentos dos/as profissionais são: as
entrevistas, as visitas domiciliares, os estudos socioeconômicos ou estudos sociais, e tem-se a
possibilidade de por meio deles, executar a mobilização popular, conscientizar a população
usuária das condições de classe, e proporcionar a emancipação política (democracia e
cidadania) em busca de uma nova sociabilidade.
É necessário segundo Guimarães e Almeida (2007, p. 131), “compreender que o fato
das pessoas ou famílias estarem juntas não concretiza, per se, um procedimento grupal que
possa conduzir seus membros a processos de autonomização e mudanças da realidade familiar
e social”.
Agora, como a questão ética se encontra neste contexto descrito, como relacioná-la
com o trabalho com famílias?
A ética é a ciência reflexiva da moral, estuda o comportamento moral dos homens em
sociedade.
Engler, (2011, p. 91) cita VALLS que afirma que a “Ética é daquelas coisas que todo
mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta” (1987,
p. 6).
Alguns sinais são prementes quando nos remetemos a estudar sobre ética,
pois estimula à reflexão:
 A terminação “Ética” vem do grego e quer dizer "Éthos" ou "Êthos",
que significa "modo de ser", “morada do ser, “caráter”, enquanto forma de
vida também adquirida ou conquistada pelo homem;
 A ética não é algo dado pela natureza, mas um produto de nossa
consciência histórica;
 Quem exercita a ética são indivíduos que fazem parte de uma
comunidade;
 Em qualquer atividade humana, vamos sempre confrontar com
questões éticas;
 A ética não vem pronta para ser consumida, mas é construída na ação
humana, que sempre exige a presença de outro;
 A ética é uma tomada de posição voluntária, fruto reflexivo e
estilizado do viver melhor. (ENGLER, 2011, p. 91).

A condição humana é um direito, e implica uma demanda aos semelhantes e a


aceitação de um compromisso essencial com eles, e o conhecimento humano é ilimitado,
portanto, a construção do conhecimento também é ilimitada, uma vez que esta é fruto do
trabalho humano.
A função da ética é explicar, esclarecer e investigar a construção do conhecimento na
contemporaneidade, por meio da reflexão da moralidade elaborando conceitos
correspondentes.
Sendo assim, falar de ética relacionada com o contexto e atuação profissional com
famílias é assumir um compromisso com o projeto ético-político, e com o Código de Ética da
profissão.
É defender e criar mecanismos nos espaços onde se atua o/a assistente social para que
preserve a dignidade humana, dignidade essa que começa com alimentação, saúde, moradia,
vestuário, lazer, educação, etc.
Atualmente se assume uma ética valorizadora do ser humano genérico (encontro do
ser humano com suas potencialidades), que preza por sua dignidade e que luta pela
conscientização da massa trabalhadora, para que esta se liberte das amarras da ideologia
dominante. Uma ética que torna crítico o indivíduo para que alcance a mentalidade capaz de
mudar a sociedade, e que imponha justiça, igualdade, que seja livre de todo e qualquer
desrespeito.
Por isso ainda hoje há desafio para se romper com o conservadorismo e deve-se estar
aberto para isso, tendo a ética como um dos componentes desta ruptura.
Atualmente, os/as assistentes sociais possuem a capacidade para propor, ir além das
aparências e do que a instituição demanda, para negociar com a mesma e realizar projetos que
favoreçam a população usuária, para efetivar os conhecimentos teórico-metodológicos,
técnico-operativos e ético-políticos.
Os/as assistentes sociais são chamados a levar informações e conscientizar a
população sobre seus direitos, armando-as para a sociedade capitalista em que o TER
prevalece sobre o SER, e informação nessa era da tecnologia da informação é poder.
Atuar com famílias, é um campo amplo e complexo para poder se efetivar os onze
princípios do Código de Ética, em que se deve:
- reconhecer a liberdade como valor ético central, e as demandas políticas a ela
inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;
- Defender intransigentemente os direitos humanos;
- Ampliar e consolidar a cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade,
com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras;
- Defender o aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação
política e da riqueza socialmente produzida;
- Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade
de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua
gestão democrática;
- Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à
diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças;
- Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova
ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero;
- Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos
princípios deste Código e com a luta geral dos/as trabalhadores/as;
- Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o
aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;
- Exercer a profissão do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual,
identidade de gênero, idade e condição física.
Além disso, é preciso optar por atuar no direcionamento do projeto ético-político que é
hegemônico, e que propõe ações voltadas para o fortalecimento dos sujeitos coletivos, dos
direitos sociais, e a necessidade da organização para sua defesa.

Para um compromisso com o usuário, é necessário romper as rotinas e a


burocracia estéreis, potencias as coletas de informações nos atendimentos,
pensar a reorganização dos planos de trabalho, tendo em vista as reais
condições de vida dos usuários; e articular as ações profissionais com as
formas de representação coletivas dos usuários e com os recursos
institucionais disponíveis. (SALES, MATOS, LEAL, 2009, p. 277).

Para se assumir este compromisso, o profissional deve ser ético, deve ser capaz de
refletir a realidade, e na perspectiva de totalidade compreender a situação vivida por cada
família. É um processo que demanda tempo, carinho, e amor ao se faz por acreditar que uma
nova sociedade é possível.
De acordo com Silva (1993) não existe um Serviço Social universal, um modelo ou
fórmula de profissional na sociedade capitalista. Existem várias possibilidades históricas de
ser assistente social. Dessa forma, cada profissional deve definir a qual projeto societário está
vinculado, qual sua identidade, qual sociabilidade é ideal e como alcancá-la.
Portanto, a intervenção profissional do/a assistente social que trabalha com família
deve-se pautar em estimular e desafiar a vida em sua plenitude de possibilidade e primar pela
descoberta apaixonada do outro, esse parceiro na imensa e enigmática aventura de viver.

3. Considerações finais

A contemporaneidade é marcada por diferentes expressões, decorrentes de cada


estágio do desenvolvimento do capitalismo a questão social instaura expressões sócio-
humanas diferenciadas e mais complexas, correspondentes à intensificação da exploração que
é a razão de ser do sistema em voga.
Essa questão social indica a existência de relações conflituosas entre portadores de
interesses opostos ou antagônicos e que se desvela em mazelas, tais como: desemprego
estrutural, diminuição da garantia de direitos sociais e trabalhistas, desmantelamento dos
direitos sociais, entre outros.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, a PNAS (2004) e outras legislações,
referentes a políticas públicas e sociais, trazem a família é o centro de ações. Porém, isso
atribui responsabilidade e atribuições a ela, o que acarreta a essa família uma culpabilização
por parte do Estado e da sociedade. Essa perspectiva é ética?
O Serviço Social lida diariamente na efetivação de direitos e execução dessas
políticas, atuando com as famílias, nas mais variadas composições e situações de
vulnerabilidade. Frente a esta realidade o Serviço Social tem desenvolvido um trabalho de
conscientização, mobilização e mudança de mentalidades que proporcionam a estas famílias
assumirem a autonomia de suas vidas?
Por isso, o profissional deve ter claro seu posicionamento ético. A ética enquanto
ciência da moral não existe para julgar, como algo impositivo, mas está presente em todo ser
humano e deve ser praticada, trabalhada, para alcançar uma outra mentalidade, com diferentes
relações sociais, além disso, a ética sozinha não muda a mentalidade, mas é um importante
elemento que combinado com outros permite que a mudança ocorra.
Portanto, a Ética não pode ser tratada simplesmente como uma questão imperativa.
Deve ser algo que vem de dentro para fora e não o oposto, pois caso contrário, se torna algo
sem sentido, sem significado e perde sua capacidade crítico-reflexiva e o trabalho profissional
se torna alienado e alienante.
A era da tecnologia e da informação atinge o seu apogeu no século XX, trazendo
benefícios e prejuízos à humanidade, pois foram feitas descobertas da ciência que são
favoráveis para a vida humana, mas houve também avanços tecnológicos que provocam
problemas sociais e humanos, instalando uma época premente de niilismo (vazio ético).
Simultaneamente a era da tecnologia e da informação se instaura um estado que não
investe no social, que está submisso ao capital, e isso acarreta o agravamento dos problemas
sociais, tais como: a fome, a miséria, a desigualdade social, a violência, a precarização do
trabalho, da educação, da saúde, do lazer, da cultura, entre outros.
Assim, é tempo de ousar, de transformar, de acreditar no “dever ser” para alcançar
outras formas de se viver, em que a dignidade humana esteja preservada.

REFERÊNCIAS

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