População atendida pelo Serviço
Social
1 O profissional conhecendo a
população para o qual presta serviço
O profissional precisa conhecer a
população para o qual presta um
serviço. Seja para melhor planejar as
ações, seja para cada vez mais se
aproximar das reais necessidades da
população. Para tanto alguns
procedimentos são necessários, e
sugerimos como pontos de observação
do aluno-estagiário.
Caracterização da população
atendida pelo serviço social
Vamos conversar um pouco sobre a
caracterização da população atendida
pelo Serviço Social.
Como fazer isso no cotidiano
profissional?
Geralmente o Serviço Social delimita
quais são as informações necessárias
para tanto, e passa a registrar os dados
para que ao final possa caracterizar a
população atendida, bem como analisar
o perfil desta.
O que isso quer dizer?
O Serviço Social deve criar um livro de
registro diário de atendimento. Em
alguns lugares este livro se chama livro
de ocorrência. O profissional deve
delimitar as informações importantes
para a caracterização da população
atendida.
Por exemplo: nome do usuário, sexo,
idade, local de moradia, escolaridade,
renda, demanda apresentada, etc. Estes
registros propiciarão o referido autor:
acompanhamento, o público atendido,
como também propiciara a realização da
caracterização da população atendida.
2 Para quem serão ofertados os
serviços
Para criar e desenvolver ações é preciso
conhecer para quem serão ofertados os
serviços.
Além dos exercícios antes propostos,
precisamos estudar sobre o perfil da
população historicamente atendida pela
profissão, conforme apresentado nas
várias disciplinas.
Vamos prestar atenção às mudanças
ocorridas no perfil da população
atendida pelo Serviço Social na
contemporaneidade.
E finalmente ler sobre o atual perfil da
população Brasileira. Todas essas
informações ajudam a refletir e melhor
caracterizar a população atendida no
cotidiano profissional, e analisar sobre
suas reais demandas.
O perfil da população historicamente
atendida pela profissão se refere às
camadas sociais mais pobres,
apresentando as carências advindas da
organização da sociedade em torno da
acumulação do capital.
No entanto, verificamos que a profissão
supera a prática assistencialista, rumo
ao fazer profissional cada vez mais
qualitativo, desenvolvendo ações
profissionais voltadas para as mais
diversas camadas sociais.
Faleiros (2001) nos diz que temos no
país um Estado de bem-estar social, mas
de desproteção social com uma
quantidade enorme de programas
sociais emergenciais, aleatórios, como
de distribuição de alimentos, roupas,
auxílios e vagas de internamentos em
instituições particulares que recebem
subvenções do governo. Prossegue o
“O Serviço Social poderá reduzir-se, aí,
a um mero agente burocrático na era
dos serviços, como também poderá
ampliar alternativas de ação para a
defesa da cidadania. A força de trabalho
tem seus limites e suas compensações
por meio de uma garantia social
definida pela força do direito que
precisa ser exigido para não ser
recusado, que implica ação consciente
dos sujeitos historicamente constituídos
na representação de si mesmo e do
outro, de si e dos adversários. Essa
mediação política global do sujeito
diante do Estado por meio dos
profissionais e burocratas tem ainda
outras determinações específicas como
questões psicossociais de nível
individual e familiar, que afetam a
pessoa e a própria valorização da força
de trabalho.” (p.137).
3 Transformações mundiais
Iamamoto (2001) fala que vivemos hoje
uma terceira revolução industrial
acompanhada de profundas
transformações mundiais.
Assim como em etapas anteriores do
desenvolvimento industrial, radicais
mudanças tecnológicas envolveram uma
ampla expulsão da população
trabalhadora de seus postos de trabalho.
Atualmente, segmentos cada vez
maiores da população tornam-se
sobrantes, desnecessários. População,
cuja força de trabalho não tem preço,
porque não têm mais lugar no mercado
de trabalho. Fenômeno que se observa
hoje, inclusive, nos países considerados
desenvolvidos, cujos índices de
desemprego estrutural eram
comparativamente baixos. São estoques
de força de trabalho descartáveis para o
mercado de trabalho, colocando em
risco para esses segmentos a
possibilidade de defesa e reprodução da
própria vida. Existe gente demais para
as necessidades da acumulação
capitalista; ao mesmo tempo em que,
nas regiões mais pobres, a população
tem reduzido sua esperança de vida ao
nascer, mantêm-se elevados índices de
mortalidade infantil, e contingentes
populacionais são dizimados nas
guerras.
Outro ponto de reflexão apontada por
Iamamoto (2001) é a compreensão
sobre a questão social, quem nos diz
que importa deixar claro que a questão
social não deve ser focada
exclusivamente como desigualdade
social entre pobres e ricos, muito menos
como situação social problema, tal
como historicamente foi encarada no
Serviço Social, reduzida a dificuldades
do indivíduo.
O que se persegue é decifrar, em que
primeiro lugar, a gênese das
desigualdades sociais, em um contexto
em que acumulação de capital não rima
com equidade. Desigualdades
indissociáveis da concentração de renda,
de propriedade e do poder, que são o
verso da violência, da pauperização e
das formas de discriminação ou da
exclusão social. Mas decifrar a questão
social é também demonstrar as
particularidades formas de luta,
de resistência material e simbólica
acionadas pelos indivíduos sociais à
questão social.
4 Questão social
E complementa Iamamoto (2001)
falando sobre a questão social:
“A matéria prima do trabalho do
assistente social (ou da equipe
interprofissional em que se insere)
encontra-se no âmbito da questão social
em suas múltiplas manifestações:
 Saúde;
 Das relações de gênero;
 Pobreza;
 Da mulher;
 Habitação popular;
 Urbanização das favelas;
Tal como vivenciadas pelos indivíduos
sociais em suas relações sociais
quotidianas às quais respondem com
ações, pensamentos e sentimentos. Tais
questões são abordadas pelo assistente
social por meio de inúmeros recortes,
que contribuem para delimitar o
‘campo’ ou objeto de trabalho
profissional no âmbito da ‘questão
social’. Importa considerar as
características específicas que as
expressões da questão social assumem
aos níveis regional, estadual e municipal
e as alterações sócio-históricas que
nelas vêm se processando, também em
função das suas formas coletivas com
que possam estar sendo enfrentadas
pelos sujeitos envolvidos.” (p. 100).
O conteúdo anterior incentiva à reflexão
sobre as demandas oriundas do público
atendido pelo Serviço Social, que vão
além das necessidades imediatas, mas
principalmente das formatações das
relações sociais.
E Iamamoto (2007) coloca que os
assistentes sociais trabalham com as
mais diversas expressões da questão
social, esclarecendo à população seus
direitos sociais e os meios de ter acesso
aos mesmos. O significado desse
trabalho muda radicalmente ao voltar-se
aos direitos e deveres referentes às
operações de compra e de venda.
Se os direitos sociais são fruto de lutas
sociais, e de negociações com o bloco
do poder para o seu reconhecimento
legal, a compra e venda de serviços no
atendimento a necessidades sociais de
educação, saúde, renda, habitação,
assistência social, entre outras,
pertencem a outro domínio – o do
mercado -, mediação necessária à
realização do valor e, eventualmente, da
mais valia decorrentes da
industrialização dos serviços.
Neste sentido, cabe o estudo sobre a
questão social, em suas expressões na
contemporaneidade, considerando o
perfil da população atendida pelo
Serviço Social, em suas condições de
vida e demandas apresentadas.
Para contribuir na compreensão sobre o
perfil da população atendida, sugerimos
a leitura e acompanhamento dos
indicadores sociais oficiais.
5 Transformações demográficas e
alterações na estrutura etária
Verificamos que o Brasil vem passando
nas últimas décadas por profundas
transformações demográficas e
alterações na sua estrutura etária.
Dullius et all (2012) realizou um estudo
sobre a evolução populacional no
Brasil, e nos diz que os principais
responsáveis por estas mudanças
demográficas são as taxas de
fecundidade e a mortalidade. Vamos
selecionar alguns fragmentos deste
estudo para melhor compreender a
realidade de vida da população
brasileira.
Dullius et all (2012) relata neste estudo
que a taxa da fecundidade declinou de
5,8 filhos por mulheres em meados dos
anos 60 (Carvalho,1978) para 2,3 filhos
por mulheres nos anos 90 (IBGE 2001),
e em 2006 a média estava em 2,0 filhos
por mulheres, e de acordo com o último
senso o número de filhos caiu para 1,76
(IBGE 2010 dados preliminares), o que
significa que as famílias brasileiras
estão diminuídas e deverão alcançar
níveis de reposição nos próximos anos.
Esse declínio da taxa de fecundidade
demonstra que em 25 anos, isto é, de
1965 a 1990 a taxa de fecundidade caiu
56%.
A magnitude do declínio geral da
fecundidade no Brasil em um período
tão curto de tempo, por um lado, é
surpreendente quando comparado com a
experiência dos países desenvolvidos.
Sabe-se que a maioria dos países
europeus levou cerca de um século para
completar a sua transição da
fecundidade, e países como Suécia e
Inglaterra, por exemplo, levou cerca de
seis décadas (1870-1930) para diminuir
seus níveis em 50%. O Brasil
experimentou declínio semelhante em
apenas três décadas. E sobre estes dados
Dullius et all (2012) diz.
“Após a segunda guerra mundial com o
aumento da fecundidade e a evolução da
medicina, investimentos em saneamento
básico; como água encanada, redes de
esgoto nas grandes cidades, melhoria
das condições de habitação,
desenvolvimento da agricultura - que
proporcionou uma melhor qualidade nos
alimentos - e com a industrialização
mais intensa que trouxe melhores
condições de vida para parte da
população, fez com que tivemos uma
queda considerável na mortalidade e um
consequente aumento na expectativa de
vida que nos anos 80 era 62,6 em 24
anos subiu para 71,4 anos em 2004
(IBGE).” (p.03)
Com isso houve um crescimento
demográfico surpreendente que nos
anos 60 atingiu a casa de 3% ao ano. A
partir dos anos 80 com campanhas
preventivas com o uso de métodos
contraceptivos e a inserção da mulher
no mercado de trabalho, o alto custo de
vida nas grandes cidades, o aumento do
grau intelectual e a divulgação de um
modelo de família bem sucedida com no
máximo dois filhos, trouxe mudanças na
fecundidade.
6 Distribuição de renda
Sobre distribuição de renda sabemos
que apesar do desempenho
relativamente bom da economia na
segunda metade do século passado o
Brasil ainda é um país em
desenvolvimento e apresenta um perfil
entre piores países do mundo em
distribuição de renda.
É preciso desenvolver economia e
melhor a distribuição de renda,
elevando-se os níveis educacionais,
investindo-se em tecnologia para que se
possa enfrentar esse desafio, que é o de
conciliar o desenvolvimento econômico,
assegurando a manutenção dos atuais
níveis de bem estar geral e ao mesmo
tempo, buscar a redução dos elevados
níveis de pobreza e das diferenças
sociais.
7 Caracterização da população
brasileira
E sobre a caracterização da população
brasileira, os indicadores sociais
apontam que o Brasil vem tendo um
acelerado processo de envelhecimento
populacional, isso significa um
crescimento elevado da população
idosa. Refletindo sobre este aspecto, as
demandas sociais advinda do público
idoso aumentaram, exigindo do
profissional acompanhar as mudanças e
suas repercussões no contexto sócio
econômico populacional.
Outro aspecto da população brasileira
que Dullius et all (2012) destacam em
seus estudos é fato conhecido que uma
das grandes conquistas deste século em
todo o mundo foi à redução da
mortalidade. Para o Brasil como um
todo, a esperança de vida ao nascer
apresentou ganhos de cerca de 30 anos
entre 1940 e 1998, como principal
resultado a queda da mortalidade
infantil que entre 1980 e 2001 houve
uma redução de 65% dos óbitos entre os
menores de 10 anos. Crianças nascidas
durante os anos 50 tinham menos de
80% chances de sobreviver até os 15
anos, enquanto as crianças nascidas no
início do século atual têm a
probabilidade de até 95% de chances. E
apontam que:
“A expectativa de vida no Brasil é
bastante elevada, aproximando-se
daquelas observadas nos países
desenvolvidos. Entre 1980 e 2003 a
esperança de vida ao nascer, no Brasil,
elevou-se em 8,8 anos: mais 7,9 anos
para os homens e mais 9,5 anos para as
mulheres. Em 1980, uma pessoa que
completasse 60 anos de idade teria, em
média, mais 16,4 anos de vida,
perfazendo 76,4 anos. Vinte e três anos
mais tarde, um indivíduo na mesma
situação alcançaria, em média, os 80,6
anos. Aos 60 anos de idade os
diferenciais por sexo já não são tão
elevados comparativamente ao
momento do nascimento: em 2003, ao
completar tal idade, um homem ainda
viveria mais 19,1 anos, enquanto uma
mulher teria pela frente mais 22,1 anos
de vida.” (Dullius et all, 2012).
Por que estudar isso tudo?
Porque precisamos valorizar o exercício
de caracterização da população atendida
pelo Serviço Social. Estudar sobre o
perfil da população brasileira, e
reconhecer tais indicadores no cotidiano
profissional é um dos desafios
profissionais.
Isto quer dizer que as demandas que se
apresentaram ao Serviço Social terão
relação direta com os indicadores
sociais brasileiros, somada a história de
vida de cada pessoa.
8 Roteiro complementar para
contribuir no levantamento das
informações
Mas agora vamos apresentar um
pequeno roteiro complementar para
contribuir no levantamento das
informações para caracterizar e analisar
sobre o perfil da população alvo dos
serviços oferecidos pela instituição onde
você realiza o seu estágio curricular.
Lembrando que são sugestões em que o
profissional selecionará as informações
que deseja levantar, considerando a
realidade de trabalho de cada área
profissional. Vejamos:
 Caracterização do local de
moradia
1. Caracterização de aspectos sociais,
econômicos, físicos e urbanísticos;
2. Descrição da situação de saneamento
- água, luz, esgotamento;
3. Sanitário, lixo - e acesso a outros
serviços públicos;
4. Existência de equipamentos
comunitários e serviços públicos
(escolas postos de saúde, quadras,
igrejas etc.) disponíveis na área e no
entorno, informando distância e grau de
atendimento à demanda;
5. Tipo de habitação predominante –
tipo, material construtivo, estágio
construtivo, etc.;
6. Tempo e a forma de ocupação da
área;
 7. Existência de situações de risco na
área e tipo de risco - enchentes,
alagamentos, deslizamentos,
desmoronamentos, erosões, lixões e
insalubridade.
 Caracterização da organização
comunitária
1. Identificar as bases associativas
formais e não formais;
2. Identificar as lideranças locais;
3. Identificar as entidades
governamentais e não governamentais
presentes na área, caracterizadas por
tipo e forma de atuação (ProjetosSociais
existentes);
4. Identificar potenciais parceiros para
desenvolvimento do PTTS.
Levantar o perfil da população
beneficiária (sexo, faixa etária,
escolaridade, composição familiar,
estado civil, procedência, tempo de
residência na área, ocupação, renda,
potencial produtivo, etc.)
Estabelecer os critérios de quem será
atendido pela instituição, justificá-los.
Todas as sugestões de levantamento de
dados e informações são para contribuir
na caracterização da população atendida
pelo Serviço Social na instituição onde
você realiza o estágio supervisionado.
No entanto, reflita com a supervisora de
campo sobre este tema. É preciso
delimitar quais os dados e informações
mais pertinentes ao trabalho
desenvolvido por vocês dentro da
instituição.