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Introdução
O ensino inclusivo nas escolas brasileiras vem aumentando e ganhando espaço a cada
ano. O censo escolar de 2020 registrou um total de 1.308.900 matrículas de alunos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e/ou altas habilidades/superdotação em
classes comuns ou especiais exclusivas nos ensinos básico, fundamental, médio e EJA
(Educação para Jovens e Adultos), um acréscimo de 4,63% em relação ao ano anterior. Para
Dischinger et al (2009), a presença destes alunos nas escolas comuns direciona a uma reflexão
sobre a acessibilidade, para que se permitam o acesso, a realização e a participação nas
atividades escolares disponíveis.
Na situação das escolas brasileiras, registra-se que os marcos legais são motivos para o
crescimento a cada ano das matrículas no ensino regular de alunos com deficiência. Ainda que
lentamente, o Brasil avança, mesmo com o quadro deficitário de infraestrutura das escolas. Há
de se considerar, contudo, que o número de evasão escolar desses mesmos alunos é
expressivo, e entre os motivos estão as más condições de acessibilidade espacial (BRASIL,
2019). Nessa discussão, é importante apontar o Decreto nº 10.502 de 30 de setembro de 2020,
que em meio às polêmicas geradas e discussões jurídicas, ainda pode alterar o processo de
inclusão e consequentemente, desdobrar-se no quesito da acessibilidade espacial escolar.
Com base no cenário apresentado, o objetivo geral dessa pesquisa foi: verificar
e classificar as condições de acessibilidade de duas escolas em município no sul de Santa
Catarina.
Métodos
A obtenção dos dados ocorreu por meio das planilhas de avaliação que constam no
“Manual de Acessibilidade Espacial para Escolas”, publicado em 2009. Este foi desenvolvido
pelo Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação Especial em parceria com a
Universidade Federal de Santa Catarina. Registra-se que estas planilhas foram elaboradas com
base na NBR 9050/2004, norma vigente na época. Contudo, a mesma foi reformulada em
agosto de 2020 e por essa razão, houve a necessidade de atualizar os quesitos de análise.
Complementando a planilha, foi definido nessa pesquisa que para cada rota avaliada
deve-se determinar um coeficiente de acessibilidade inicial que possibilita identificar, em
porcentagem, quais são os requisitos que estão em conformidade com a NBR 9050/2020.
Como referência utilizou-se a fórmula presente em Dias (2016) e Mendes (2009), e
apresentada na Equação 1.
(1)
Para que os resultados das duas escolas avaliadas pudessem ser comparados, optou-se
ainda pelo acréscimo de outro método de tabulação: o cálculo do Índice de Acessibilidade
Espacial. Esse Índice tem por objetivo apresentar diagnóstico das necessidades de cada
escola, em relação a acessibilidade espacial para alunos com algum tipo de deficiência (DIAS,
2016). O cálculo foi determinado pela equação presente em Dias (2016) e Silva (2009),
representado na Equação 2.
(2)
em que:
l = Valor por tema;
pi = Valor do requisito i; assume valor igual a zero (0) ou um (1);
qi = Peso do requisito i
Resultados e discussões
1. Avaliação da Escola A
A Escola A foi fundado em 1954. Em 2016, foi transferida para seu atual prédio. É
uma unidade escolar que atende o ensino fundamental e médio. A Escola é dividida em 4
blocos, unidos por corredores externos cobertos. O bloco pedagógico e administrativo é o
único com dois pavimentos. O terreno da escola apresenta topografia plana e a Figura 1
apresenta os ambientes.
a. A rua em frente à escola: não há calçada rebaixada junto à faixa de pedestre e a mesma
está parcialmente apagada; a calçada que contorna os muros da escola possui
irregularidades, como inadequação da sinalização podo tátil e má conservação; e não
há parada de ônibus próximo ao portão de entrada (Figura 2).
Figura 2. Piso tátil com aplicação inadequada (a), faixa de pedestres (b), má conservação (c)
(a) (b)
(c)
e. Escadas e rampas: ausência de piso tátil de alerta no início e fim das escadas; altura e
profundidade dos degraus com variações; corrimão com uma altura de apoio e sem
prolongamento de 30 cm no seu início e fim (Figura 3).
(a) (b)
h. Biblioteca: falta de contraste entre piso e paredes; as mesas de estudo possuem pés que
impedem a aproximação de uma cadeira de rodas; o corredor apesar de ser amplo,
possui mesas de estudo que se tornam obstáculos; e não existe computador com
programa de leitor de tela para alunos com deficiência visual.
k. Pátios: inexistência de rampas entre os desníveis; falta de piso tátil direcional para
sinalizar os obstáculos; e falta de placas indicativas.
(a) (b)
2. Avaliação da Escola B
A Escola B foi fundada em 2007 e em 2016 foi transferida para a edificação atual. É
uma unidade escolar que atende do ensino pré-escolar ao fundamental. A Escola é dividida
em blocos, sendo térrea. A união acontece por meio de corredores cobertos. O terreno da
escola apresenta topografia plana (Figura 5).
a. A rua em frente à escola: a calçada que contorna os muros da escola possui obstáculos
mal sinalizados e sem piso podo tátil; não há parada de ônibus e nem área para
embarque e desembarque próximo ao portão de entrada; o estacionamento não é
pavimentado e não há reserva de vagas preferenciais.
e. Salas de aula: não possui assento para obesos e não possui cortinas nas janelas,
causando ofuscamento em certas horas do dia (Figura 7).
g. Espaço da educação infantil: este ambiente não possui assento para obesos e espaço
com tapete para atividades no chão.
(a) (b)
m. Parque infantil: o parque não possui brinquedos acessíveis. Parte dos balanços
existentes não são do tipo calça, por tanto, são potencialmente perigosos para as
crianças e não há pavimentação adequada para cadeirantes ou deficientes visuais.
Considerações Finais
Assim como afirma Campos (2016, p. 213), “Até poucos anos atrás, crianças com
deficiência não tinham o direito de frequentar o ensino regular, pois lhes eram reservadas
escolas especiais, exclusivas e segregadoras”. Para sanar este problema foram criadas diversas
legislações que incentivam a promoção da inclusão de alunos com deficiência nas escolas
regulares, porém os resultados obtidos nessa pesquisa mostram que, apesar da existência
dessas legislações, os problemas ainda persistem.
Referências