Você está na página 1de 52

Água e saneamento

nas escolas de Angola

Diagnóstico das condições de água e saneamento


em 600 escolas de 6 províncias de Angola
Fotografias Capa:
© UNICEF/ANGA2015-0164/Célia Gonçalves
© UNICEF/NYHQ2009-1245/Pirozzi
© UNICEF/ANGA2014-0401/Bruno Caratão
© UNICEF/ANGA2014-0276/Bruno Caratão

UNICEF Angola
Março 2016 (Primeira edição publicada em Abril de 2015)

Secção de Água e Saneamento e Secção de Educação


Rua Major Kanhangulo 197
Luanda | Angola
Tel: +244 222 331 181 | +244 222 335 609
Email: luanda@unicef.org
facebook.com/UnicefAngola | www.unicef.org

© United Nations Children’s Fund, 2016


Indice

Lista de abreviaturas ii

Lista de figuras ii

Lista de gráficos iii

Sumário Executivo 1

1. Introdução 3
1.1. Breve síntese do contexto nacional do sector da educação 3
1.2. Conceito Escolas Amigas da Criança como base do diagnóstico 4

2. Aplicação de análise de obstáculos a água, saneamento e higiene em escolas de Angola 7


2.1. Objetivo do diagnóstico 7

3. Metodologia 9

4. Análise de resultados 11
4.1. Dados gerais por província 11
4.2. Tipo de construção 14
4.2.1. Teto na escola 14
4.3. Abastecimento de água 15
4.4. Saneamento ambiental 23
4.5. Práticas de higiene 25
4.6. Orçamento 28
4.7. Compromisso da escola 28

5. Discussão dos resultados 31


5.1. Análise de áreas de estrangulamentos 33
5.2. Ambiente favorável 34
5.3. Procura 35
5.4. Qualidade 36

6. Conclusão 39

7. Recomendações 41

Referências 42

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |I


Lista de abreviaturas

DNEG Direção Nacional do Ensino Geral


EAC Escolas Amigas da Criança
GEPE Gabinete de Estudo, Planeamento e Estatística
INE Instituto Nacional de Estatística
LBSE Lei de Bases do Sistema de Ensino
MED Ministério da Educação
OMS Organização Mundial de Saúde
ONG Organização Não Governamental
PAN / EPT Plano de Ação Nacional de Educação Para Todos
PEE Projecto de educação Escolar
SIGE Sistema Integrado de Gestão da Informação sobre Educação
UNICEF United Nations Children´s Education Fund

Lista de figuras

Figura 1. Escola de Kilamba kiaxi, Luanda 7


Figura 2. Sala de aulas ao ar livre, Bié 13
Figura 3. Sala de aulas de uma escola, Namibe 13
Figura 4. Sistema de água com electrobomba, Namibe 19
Figura 5. Sistema de água com bomba manual, Huíla 19
Figura 6. Fonte de água para beber, Namibe 22
Figura 7. Fonte de água para escola e comunidade, Cunene 22
Figura 8. Instalações sanitárias limpas, Huambo 25
Figura 9. Instalações sanitárias fechadas, Quilamba Kiaxi, Luanda 25

II| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Lista de gráficos

Gráfico 1. Número de crianças abrangidas por províncias 11


Gráfico 2. Número de professores abrangidos por província 11
Gráfico 3. Número de salas abrangidas 12
Gráfico 4. Número de alunos por sala 12
Gráfico 5. Existência de comissões de pais e Clubes de higiene nas escolas 13
Gráfico 6. A escola tem tecto? 14
Gráfico 7. Tipo de construção 14
Gráfico 8. A escola tem água? 15
Gráfico 9. A escola está ligada a rede? 16
Gráfico 10. A ligação a rede funciona? 17
Gráfico 11. A escola tem furo com bomba manual? 17
Gráfico 12. A bomba manual funciona? 18
Gráfico 13. A escola é abastecida por poço aberto? 18
Gráfico 14. A escola é abastecida por camião cisterna? 19
Gráfico 15. A escola é abastecida por poço protegido? 20
Gráfico 16. A escola é abastecida por chafariz? 20
Gráfico 17. A escola tem água para beber? 21
Gráfico 18. A água para beber recebe algum tratamento? 21
Gráfico 19. Que tipo de tratamento recebe a água? 22
Gráfico 20. A escola tem instalações sanitárias? 23
Gráfico 21. As instalações sanitárias funcionam? 23
Gráfico 22. A escola tem sanitários para deficientes? 24
Gráfico 23. Há urinol nos sanitários? 24
Gráfico 24. Que tipo de instalações sanitárias tem a escola? 25
Gráfico 25. Locais de defecação na escola? 26
Gráfico 26. Número de alunos e acesso médio ao WC 26
Gráfico 27. Número de professores e acesso médio ao WC 27
Gráfico 28. Higiene nas escolas 27
Gráfico 29. Ambiente favorável 34
Gráfico 30. Oferta 34
Gráfico 31. Procura 35
Gráfico 32. Qualidade 36

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |III
© UNICEF/ANGA2015-0164/Célia Gonçalves
Resumo Executivo

Água, saneamento e higiene são essenciais para saúde desenvolvimento e bem-estar de uma criança em
idade escolar. Com a necessidade de ter um conhecimento da realidade que afeta milhares de crianças em
idade escolar, a Direcção Nacional do Ensino Geral com o apoio das Direcções Provinciais de Educação do
Cunene, Huíla, Bié, Luanda, Namibe, Huambo, e UNICEF levou a cabo um inquérito breve a seiscentas (600)
escolas com o intuito de avaliar o estado sanitário das mesmas. Esta avaliação teve e tem como principal
objectivo abrir caminho a um debate sobre acesso à água, saneamento e higiene, bem como no planeamento
e orçamentação adequada para escolas primárias.

A ideia de acesso a água, saneamento e higiene, planeamento e orçamento adequado é multidimensional,


inclusivo e não limitado a construção de facilidades. Cada componente do programa que requer uma Escola
Amiga da Criança deve contemplar promoção educativa de higiene e saúde, operação e manutenção das
facilidades sanitárias, suportada por um sistema de advocacia regional e nacional.

Este estudo de caso tem como objectivo a análise de possíveis obstáculos ou áreas de estrangulamento
ao programa de água, saneamento e higiene nas escolas em Angola, através da aplicação do Modelo
abrangente de Tanahashi (1978) tendo em conta as seguintes áreas prioritárias: Ambiente Favorável, Oferta,
Procura, e Qualidade. O Modelo de Tanahashi permite a análise destas quatro áreas centrais de modo a
facilitar a definição de uma estratégia para enfrentar e reduzir os obstáculos identificados no enquadramento
Angolano.

As doenças diarreicas são responsáveis por 18% das mortes de menores de cinco anos, sendo muito
comuns em crianças em idade escolar (Ministério da Saúde 2010). As práticas de higiene precárias e a baixa
percentagem de lavagem de mãos, bem como o consumo de água contaminada constituem as principais
causas de morte infantil, doenças feco-orais, malnutrição e crescimento inadequado em Angola (Ministério
da Saúde, 2010).

O diagnóstico demonstra que cada uma das escolas visitadas nos municípios de cada província de certa
forma carece de um ambiente higiénico e sanitário favorável a execução das suas tarefas. A média de
alunos por sala é de 68.3%. Estes números claramente enfatizam o esforço do governo em tentar construir
mais salas de aulas mas não invalida a necessidade de construir em locais primeiro com maior necessidade,
através de um planeamento e financiamento mais refinado. A média de acesso pelos alunos a WC é de
58%, sendo o uso de latrinas de 28.52%, e a prática de defecação ao ar livre de 44.70% (ao lado da escola
43.90% e no mato 45.49%). Em média cerca de 310 alunos partilham um cubículo, o que se transforma
num factor inibidor para o acesso aos quartos de banho ou latrinas. Cerca de 70% das escolas não têm
ligações a rede, e as que estão ligadas a rede nâo são abastecidas durante cerca de 78% do tempo. O
abastecimento através de camiões cisternas é a terceira fonte mais usada e a mais cara, cerca de 20% das
escolas fazem uso a esta fonte alternativa que cria imensos desequilíbrios nos orçamentos escolares. Para
escolas do ensino primário que carecem de adjudicação directa de fundos, estarão impossibilitadas de fazer
gastos constantes que rondam a 40,000 Akz (400 USD) por mês, dependendo das distâncias.

Somente 35% das escolas tem água para beber disponível e 62% não possuem qualquer fonte adstrita.
Comparativamente ao tratamento, 24% das escolas responderam que davam algum tratamento a água
para consumo, 76% não tratavam a água mas tinham imensos problemas de saúde com os alunos segundo
os directores. Diferentes estudos efectuados pela OMS/UNICEF concluíram que as instalações de água
e saneamento nas escolas têm um forte impacto positivo na redução dos factores acima enumerados,
no aumento de matrículas por parte das raparigas, bem como nas taxas de retenção e conclusão. Como
acréscimo, as intervenções na água e saneamento reforçam a apropriação e participação das comunidades
na gestão escolar (OMS, UNICEF 2009).

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |1


© UNICEF/ANGA2015-0062/Vinicius Carvalho
1. INTRODUÇÃO

1.1 BREVE SÍNTESE DO CONTEXTO NACIONAL DO SECTOR DE EDUCAÇÃO


O sector da educação em Angola foi profundamente afetado pela guerra civil, com a destruição de
infraestruturas escolares bem como a perda de recursos financeiros e humanos. O caminho para alcançar
uma educação primária de qualidade universal é ainda longo, devido ao desafio de aumentar o número de
crianças matriculadas na escola primária de 3,851,622 milhões em 2008 (Relação de Matrícula Neto – NER
de 66%) para 5,022,144 milhões até 2015 (NER 100%) (Ministério da Educação, 2012).

Esta melhoria notável no número de alunos matriculados deve-se maioritariamente ao significativo investimento
do governo em infra-estruturas escolares, bem como no recrutamento e destacamento de professores. Por
exemplo, em 2012, o governo construiu mais 27.437 salas de aula para o ensino básico, para o qual, em
2003, existiam apenas 25.436. Recrutou mais 55.000 professores do ensino básico no período de 2002-
2012, uma melhoria notável comparada com o nível de recrutamento de professores em 2002, que ascendia
apenas a 83.601 (ME, 2012). Analogamente, o governo efectuou investimentos avultados na formação de
professores, de modo a garantir que os professores recém-contratados ministrem aulas com qualidade.

Apesar deste progresso louvável ao nível do ensino básico, é preciso continuar a fazer mais esforços ao nível
do ensino secundário, já que Angola ainda tem uma pequena proporção de crianças no ensino secundário.
Segundo dados do Ministério da Educação, entre 2001 e 2012 o número absoluto de alunos subiu 241% no
ensino primário (do 1º ao 6º ano), 524% no 1º ciclo do ensino secundário (do 7º ao 9º) e 262% no 2º ciclo
do ensino secundário (do 10º ao 12º ou, em alguns casos, do 10º ao 13º). Esta subida melhorou as taxas
líquidas de frequência (TLF) quer ao nível do primário quer do secundário, conforme revelam os dados do
inquérito1. Segundo os inquéritos do IBEP (2008/09) e do QUIBB (2011), a TLF do primário (definida como a
proporção de crianças com 6 a 11 anos que frequentam (do 1º ao 6º ano) subira para 76,3%, em 2008/09,
e para 79,0%, em 2011. Neste período mais recente, a TLF do secundário subiu em flecha, de 18,9% (para
as crianças dos 12 aos 17 anos), em 2008/09, para 28,0% (para as crianças dos 12 aos 18), em 2011.

Em Angola os motivos pelos quais as crianças não se matriculam e mantêm na escola são multidimensionais,
mas baseiam-se na falta de infraestruturas escolares adequadas, bem como a qualidade do ensino que é
afectada por existirem professores não devidamente capacitados, e a utilização de materiais pedagógicos não
apropriados. Estes factores associados a a distâncias elevadas até as escolas originam turmas superlotadas,
acesso insuficientes a água limpa e saneamento básico, bem como a falta de capacidade para um ensino
eficiente, e que consequentemente afecta a aprendizagem2 (Ministério da Educação, 2012).

Estes fatores são ainda agravados pelo facto de frequentemente os professores (27% ao nível do ensino
primário3) não serem qualificados, pelo que a qualidade do serviço prestado se torna reduzida, não se
centrando suficientemente nas necessidades de aprendizagem das crianças.

A melhoria do acesso ao abastecimento de água potável e a instalações sanitárias nas escolas angolanas é
um fator crucial para a oferta de um ambiente seguro e saudável que permita uma aprendizagem efetiva por
parte das crianças. É sabido que a melhoria do acesso a água, saneamento e higiene nas escolas proporciona
uma melhor compreensão dos problemas de educação actuais, desafios, e ainda um ambiente favorável à
aprendizagem em estreita relação com a assiduidade e a retenção (Bowen et al, 2007).

1
A TLF (taxa líquida de frequência) é o número de alunos do grupo etário oficial de um determinado nível do sistema educativo que
frequentam esse nível de ensino, expresso em percentagem da população do grupo etário oficial.
2
UNICEF, Situation Analysis of Children in Angola, Draft 1, 25 February 2014
3
MED (2012)

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |3


Desde o início do programa de educação de médio prazo (2009-2014), o UNICEF e o Governo de Angola
(GdA) promoveram o conceito de Escolas Amigas da Criança. Uma Escola Amiga da Criança é aquela que
segue os seguintes princípios: 1) o trabalho educativo é baseada nos direitos da criança, é 2) um ambiente
de segurança e proteção da criança, é 3) saudável e higiênica, é 4) sensível as questões de género, 5) o
ensino e aprendizagem é de qualidade e 6) existe uma participação da comunidade e das famílias. Em 2013 o
Ministério da Educação (MED) concordou em concentrar-se primeiro nos três aspetos principais4; 1) Acesso
para todas as crianças ao ensino 2) Qualidade de ensino e aprendizagem 3) Saúde e higiene.

Segundo diferentes estudos efetuados pela UNICEF e Organização Mundial de Saúde (OMS), as instalações
de água e saneamento nas escolas têm um forte impacto, positivo, não apenas na redução de doenças e
da mortalidade, mas também no aumento de matrículas por parte das raparigas, bem como nas taxas de
retenção e conclusão. Como acréscimo, as intervenções na água e saneamento reforçam a apropriação
e participação das comunidades na gestão escolar. Além de mobilizarem apoio na construção de novas
instalações de água e saneamento, as comunidades são incentivadas a assumirem a total responsabilidade
pela sua concretização e manutenção, de modo a garantir o acesso sustentável e a utilização desses recursos.
(OMS 2009).

1.2 CONCEITO ESCOLA AMIGA DA CRIANÇA COMO BASE DO DIAGNÓSTICO


O Ministério da Educação, com o intuito de realizar um diagnóstico situacional e orientar a formação de
um modelo de Escolas Amigas da Criança para Angola (EAC), promoveu uma pesquisa realizada em 15
escolas, distribuídas em municípios de cinco províncias – Bié, Cunene, Huíla, Luanda e Moxico – envolvendo
crianças, gestores municipais e provinciais de educação, diretores, professores, funcionários, encarregados
de educação e comunidade.

A pergunta central da Pesquisa “Escolas Amigas da Criança” foi: qual é a escola dos teus sonhos? A
intenção foi de buscar a conceção que todos os envolvidos têm sobre uma escola ideal, que atenda às suas
expectativas e necessidades, sem, no entanto, desconsiderar o contexto em que vivem. Essas foram as
bases para a sugestão de um modelo de EAC para Angola, que resulta unicamente das necessidades da sua
população e de reflexões realizadas em função da análise do contexto e dos relatos, privilegiando as falas
dos atores envolvidos.

Os direitos da criança, referem-se à necessidade de perceber as crianças como sujeitos de direitos, e


de transformar as escolas num espaço em que esses direitos sejam assegurados. Segurança e proteção
significa eliminar todo o tipo de violência contra a criança e criar uma ambiente seguro e protetor para
todos os envolvidos no contexto escolar. Inclusão e sensibilidade ao género estão relacionados com o
respeitar a diversidade, promover a inclusão e garantir aprendizagens significativas para todas as crianças
indistintamente. Eficiência académica significa promover uma boa qualidade do ensino e aprendizagem para
todas as crianças. E, por fim, o engajamento da comunidade diz respeito à necessidade da escola criar
estratégias para favorecer o envolvimento das famílias e da comunidade.

Com base nestes conceitos, a Secção de Educação e de Água e Saneamento da UNICEF e a Delegação
Nacional do Ensino Geral viram a oportunidade de realizar um diagnóstico para chamar a atenção o facto de
que muitas escolas carecem de aspetos básicos como água, saneamento (quartos de banho ou latrinas) e
mesmo locais adequados para lavagem das mãos, causando muitas vezes a desilusão e o abandono escolar.

4
Indicado pelo MED como aspetos principais (2013)

4| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


© UNICEF/ANGA2014-0344/Federica Polselli
Cap. 1. Introdução

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |5


© UNICEF/MLWB2005-00082/Pirozzi
2. APLICAÇÃO DA ANÁLISE DE OBSTÁCULOS A ÁGUA,
SANEAMENTO E HIGIENE EM ESCOLAS DE ANGOLA

Baseados em estudos que revelam uma forte correlação entre a saúde das crianças e a sua capacidade para
participarem ativamente no processo de aprendizagem e em estudos realizados a partir de uma avaliação
inicial aos actuais estudos, análises, e pesquisas com dados sobre as condições de água, saneamento e
higiene em Angola (estudo COSEP 2007 e MED 2005), efectuou-se uma revisão e “Análise de Obstáculos
a Água, Saneamento e Higiene em Escolas de Angola em 2012”. Em 2013 perante o desafio das Escolas
amigas da Criança a DNEG achou benéfico ter uma radiografia rápida da situação na componente de água,
saneamento e higiene nas escolas.

Deste modo, a promoção de saúde refere-se não apenas à saúde física,


mas também à saúde mental de todos os envolvidos na escola (Blanton et
al, 2010). A variedade de doenças infeciosas provocadas pelos deficientes
hábitos de higiene, falta de saneamento e consumo de água impropria
contribuem para a falta de progresso escolar nas crianças, com frequentes
repetições (1,3 milhões ultrapassaram a idade da escola primária) e uma
elevada taxa de desistências 17% (Ministério da Educação, 2010).

Este estudo de caso tem como objectivo a análise de possíveis obstáculos


Figura 1 – Escola em Kilamba Kiaxi ao programa de água, saneamento e higiene nas escolas em Angola
através da aplicação do Modelo abrangente de Tanahashi 1978, tendo
em conta as seguintes áreas prioritárias: Ambiente Favorável, Oferta, Procura, e Qualidade. O Modelo de
Tanahashi permite a análise destas quatro áreas centrais de modo a permitir a definição de uma estratégia
para enfrentar e reduzir os obstáculos identificados no enquadramento Angolano.

2.1 OBJETIVO DO DIAGNÓSTICO


A realização do diagnóstico tem sempre o seu custo, tanto do ponto de vista financeiro como de tempo. Por
esta razão deve ser muito bem aproveitado e maximizado. O sentido de maximização significa direccionar a
pesquisa para objectivos concretos do sector em estudo. Maximização significa ainda motivação, interesse
e responsabilidade de toda a pessoa singular e/ou coletiva envolvida no processo e a todos os níveis da
divisão politica - administrativa vigente no País com vista a garantir a qualidade no resultado desejado e por
conseguinte dar sentido ao investimento.

Este diagnóstico tem como objetivo a análise de possíveis obstáculos e recomendar a DNEG um programa
de água, saneamento e higiene nas escolas em Angola através da verificação física de 600 escolas em seis
províncias, em diferentes municípios (Luanda, Huíla, Huambo, Bié, Cunene e Namibe), tendo em conta áreas
prioritárias como acesso a água, a casa de banho e habilidade de lavar as mãos com água e sabão. Estes
factores auxiliam a um Ambiente Favorável e, são centrais de modo a permitir a definição de uma estratégia
de acção para enfrentar e reduzir os obstáculos identificados no enquadramento angolano e aumentar o
ingresso ao ensino através de um melhor acesso as condições sanitárias nas escolas.

Estando a Direção Nacional do Ensino Geral (DNEG) e a UNICEF a trabalhar no conceito de “Escolas Amigas
da Criança”, depararam-se com o facto de que muitas salas de aulas estão a ser construídas para albergar
crianças em idade escolares, mas não se está a dar atenção necessária a alguns serviços básicos que
constituem uma parte muito importante no desenvolvimento da criança num ambiente saudável. Levantado
este facto, procurou-se trazer para discussão o estado sanitário das escolas para a criança Angolana e assim
elaborar um trabalho real sobre higiene e saúde nas escolas, baseado num inquérito simples que possa dar
luz a um inquérito a nível Nacional e assim albergar uma política e regulação nesta área.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |7


© UNICEF/NYHQ2010-1530/Asselin
3. METODOLOGIA

Em Angola, existe ainda a falta de uma metodologia sistemática de recolha de dados na área de água
e saneamento nas escolas, que dificulta a possibilidade de realizar uma análise e de comparar dados de
diferentes áreas do país. Existe uma lacuna no que se refere ao estado atual de água, saneamento e higiene
nas escolas, ou seja, é impossível obter uma cobertura real da situação. Torna-se um desafio implementar
em Angola o programa adequado de água, saneamento e higiene com uma abordagem global sendo a
recolha sistemática de dados uma das principais restrições.

Os dados disponíveis, são documentos, estudos de levantamentos, que não oferecem uma cobertura
completa da situação do país, nem para consideração numa análise estatística. Com agravante, os conjuntos
de dados atuais utilizam indicadores que não estão harmonizados entre os principais intervenientes, o que
dificulta ainda mais a possibilidade de gerar um quadro global nacional.

Perante este facto, foi necessário elaborar uma metodologia rápida, na qual pudéssemos obter informações
uteis relacionadas aos vetores acima mencionados e que as mesmas informações colocassem uma breve
reflexão ao assunto através de um debate promovido pela Direção Nacional do Ensino Geral (DNEG). Formulou-
se um simples inquérito no qual as respostas baseavam-se em “SIM e NÃO”, e para que a observação feita,
fosse comparável as respostas obtidas na entrevista aos diretores das escolas. Igualmente selecionou-se
seis (6) províncias, (Luanda, Huíla, Huambo, Bié, Cunene e Namibe) para receberem o inquérito rápido. Ficou
determinado que o diagnóstico fosse elaborado em 600 escolas, 100 escolas por província com a média de
20 escolas por município previamente acordados entre a DNEG e as DPE. Devemos salientar que a escolha
das províncias foi aleatória.

Para que tivesse lugar este inquérito a UNICEF e a DNEG formaram seis (6) equipas no preenchimento
dos formulários com formação pratica e teórica realizada no Município de Kilamba Kiaxi. Nesta formação
participaram 33 inquiridores e 6 supervisores da DNEG para compreensão e manuseamento das fichas.
Cada província recebeu a visita de uma equipa composta por quatro (4) inquiridores, um supervisor da DNEG
e outro da Direção Provincial da Educação para deslocações as escolas e para garantir a qualidade dos
inquéritos e dos dados fornecidos. Para trabalhos no terreno foram alugados veículos 4x4 para deslocações
aos municípios durante todo o período do inquérito.

Cada escola produziu um relatório que foi introduzido em tabelas de excel de onde os resultados foram
formulados. Igualmente foram tomados em consideração os relatórios de campo das equipas por província
e a ambiguidade nas respostas em alguns campos. A ficha tem sete seções: 1) Dados Gerais, 2)Tipo de
construção, 3) Abastecimento de água, 4) saneamento ambiental, 5) praticas de higiene, 6) Orçamento, 7)
compromisso da escola em assuntos de água, saneamento e higiene na escola. Estas áreas foram tratadas
individualmente durante todo o inquérito.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |9


© UNICEF/NYHQ2007-0962/Asselin
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Para facilitar a compreensão, a análise dos dados foi elaborada em conformidade com o inquérito e esta
focalizada numa primeira parte em aspetos gerais seguindo-se para aspetos mais específicos de água,
saneamento e higiene nas escolas.

4.1 DADOS GERAIS POR PROVÍNCIA


Os primeiros dados analisados foram o número gerais relacionados com números de alunos, professores
e salas de aulas. Estes dados permitiram avaliar a dimensão do acesso a água e saneamento assim como
estes podem dimensionar a agilidade e a continuidade dos alunos no funcionamento normal de uma escola.

Gráfico 1. Número de crianças abrangidas por província

1,000,000

100,000

10,000

1,000

100

10

1
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Raparigas 35,501 11,658 68,475 32,616 21,729 40,779
Rapazes 36,173 12,833 64,757 32,071 19,214 45,259
Deficientes 401 29 148 289 126 139
Total 72,075 24,520 133,380 64,976 41,069 86,177

O número total de alunos nas seis províncias é de 422,197, sendo do sexo feminino 210,758, sexo
masculino 210,307 e com deficiências físicas 1,132. Luanda com um total de 72,075 alunos, Bié com
24,520 alunos, Huambo com 133,380 alunos, Namibe com 64,976 alunos, Cunene com 41,069 alunos e
Huíla com 86,177alunos. Estes totais fazem referência às 600 escolas visitadas.

Gráfico 2. Número de professores abrangidos por província

3,500

3,000

2,500

2,000

1,500

1,000

500

0
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Professoras 1,114 2,076 1989 1,575 764 1,962
Professores 885 1,159 807 1,471 335 680
Total 1,999 3,235 2,796 3,046 1,099 2,642

Relativamente a professores, nota-se uma diferença enorme entre o número de professores e professoras
sendo quase o dobro o número de professoras em relação aos professores. Um total de 9,480 professoras,
comparando com 5,337 professores, totalizando 14,817 divididos por 600 estabelecimentos escolares.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |11
Gráfico 3. Número de salas abrangidas

1,200

1,000

800

600

400

200

0
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Salas 917 815 912 1,014 397 328
Salas  ar  livre 18 370 828 51 556 326

Verificou-se que na sua maioria as escolas funcionavam em dois turnos, um da manha e outro da tarde,
algumas exceções com o turno noturno. Igualmente nota-se uma necessidade crescente de números de
salas já que algumas províncias têm um número elevado de salas ao ar livre, como Huambo, Bié, Cunene e
Huíla. Verifica-se um número de salas de 4,383 e ao ar livre 2,149 atingindo metade neste momento das
salas existentes. Esta vertente de salas ao ar livre deve ser igualmente explorada devido ao facto de que
temos um aumento muito grande da taxa de estudantes a vários níveis e os números de salas não crescem
ao mesmo ritmo. Devemos olhar para soluções temporárias que possam albergar melhor estes alunos.

Gráfico 4. Número de alunos por sala

1000000

100000

10000

1000

100

10

1
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
total  de  alunos   72075 24520 133380 64976 41069 86177
total  s alas 935 1185 1740 1065 953 654
Alunos  s ala 77.09 20.69 76.66 61.01 43.09 131.77

Verificando os gráficos 3 e 4 e fazendo a relação do número de salas de aulas e o número de alunos por
sala a média é de 68.38 alunos por sala. Constata-se ainda que o número de salas ao ar livre ainda é muito
grande em províncias como Bié, Huambo, Cunene e Huíla. Este pode ser um factor inibidor para as crianças
irem a escola pois, muitas ficam inconfortavelmente expostas ao sol ou ao frio durante a maior parte do ano
escolar e quando instalada a época das chuvas muitas das aulas são canceladas. A educação intermitente
prejudica o interesse do aluno e leva muitas vezes ao abandono ou absentismo (MED 2014).

12| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 4. Análise dos resultados

Figura 2. Sala ao ar livre, Bié Figura 3. Sala de aulas de uma escola, Namibe

Gráfico 5. Existência de comissões de pais e Clubes de higiene nas escolas

120

100

80

60

40

20

0
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Há  Clube  de  higiene  na  escola? 21 22 46 16 26 8
Há  comissão  de  pais? 43 93 94 97 82 95

A comissão de pais e o clube de higiene representam o envolvimento dos alunos e da comunidade nas
atividades e decisões da vida escolar. Com exceção de Luanda com 43 comissões de pais, todas as
outras províncias apresentam um número significativo de comissões de pais. Quando questionados quais
as atividades desenvolvidas pela comissão de pais e quantas vezes se reúnem por mês nenhuma escola
conseguiu dar uma resposta concreta quanto as atividades desenvolvidas com os pais e a media havia uma
a duas reuniões por ano nem a importância que possuíam na vida escolar.

Mas no que diz respeito aos clubes de higiene nota-se que não existe uma promoção adequada desta
forma de acção participativa. As respostas recebidas das províncias mostram, que não há, uma estrutura
suficientemente forte que faça alusão a necessidade de atividades de caracter participativo, com intuito de
promoção do bem-estar na escola. Sendo esta atividade de caracter voluntario o clube de higiene não possui
um formato vinculado ao curriculum escolar nem meios educativos que o façam educativo e atrativo as
crianças. Devemos salientar o lançamento do Projecto Educativo Escolar (PEE) pelo Ministério da Educação
que estará em funcionamento este ano 2014 para colmatar esta lacuna.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |13
4.2 TIPO DE CONSTRUÇÃO
No que se refere ao tipo de estrutura de construção usada o inquérito procurava conhecer quais as suas
condições baseando-se nas estruturas conhecidas.

4.2.1 Tecto na escola

Gráfico 6. Cobertura na escola

NAO,  
13.69%

SIM,  
86.31%

De acordo com os dados recolhidos, as escolas inqueridas de construção permanente de uma forma geral
possuem teto. Algumas em mau estado de conservação. Nas escolas de construção mista adobo e Pau a Pic,
o teto é a parte mais importante mas igualmente precário. O teto, contribui para a criação de um ambiente
propício para a actividade educativa que requer sossego e proteção contra as agressões do meio ambiente,
como a chuva, que implica a interrupção das aulas nas escolas sem teto ou com teto muito danificado. As
escolas ao ar livre dependem das árvores em alguns casos, e noutros estão expostas ao ambiente. 86% das
escolas possuem um teto e 13,69% não possuem teto.

Gráfico 7. Tipo de construção

100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Alvenaria 83 40 78 92 59 63
Adobo 2 36 21 5 3 19
Mist o 18 23 6 0 0 13
Pau  a  Pic 0 4 0 3 38 5

O tipo de construção encontrada varia de província para província e igualmente de município para município.
Nota-se que a predominância é a alvenaria com 69% tendo a sua maior predominância em todas as províncias,
seguido do adobo com 14.3%. Escolas de construção mista mostram a sua predominância em Luanda, Bié
e Huíla com 10% assim como o pau a pic tem a sua maior representatividade no Cunene com 38% na
totalidade das escolas construídas. Devemos salientar que nesta área devemos promover um outro estilo

14| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 4. Análise dos resultados

de escolas ou sala de aulas como o pré-fabricado para colmatar as difíceis condições de ensino que alguns
municípios possuem. As salas ao ar livre não foram contabilizadas mas figuram em todas as áreas visitadas
no país.

4.3 ABASTECIMENTO DE ÁGUA


A água na escola contribui fortemente para a criação de um ambiente favorável à actividade escolar,
extraescolar e adoção de uma cultura para o respeito do meio ambiente. A água está igualmente ligada aos
níveis de aprendizagem, saúde e higiene, assim como aos níveis de retenção na escola e ao desenvolvimento
socioeconómico e cultural da criança.

Gráfico 8. A escola tem água?

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim 61.17% 28.43% 44% 86% 7% 45%
nao 38.83% 71.57% 62% 14% 93% 55%

De acordo com os dados recolhidos, o cenário diverge entre as províncias e municípios, e este facto está
ligado as zonas de inquérito escolhidas pelas Direções Provinciais de Educação (DPE). Verificamos que na
província do Namibe a DPE favoreceu o casco urbano ao invés das zonas periurbanas ou rurais dando assim
um valor de acesso a água muito alto visto o casco urbano beneficiar das ligações as instituições. Nas
províncias aonde a diversidade do inquérito foi maior, incluindo áreas periurbanas, verificou-se que o acesso
a água nas escolas é precário e merece a atenção das entidades responsáveis. Com exceção das sedes
das capitais das províncias os restantes municípios apresentam resultados preocupantes em termos de
alternativas para acesso a água. De facto o cenário reflete o problema da deterioração do sistema público de
distribuição de água nas áreas peri-urbanas e o recurso a outras fontes como chafarizes públicos, cisternas
e poços são explorados pelas direções das escolas mas com um custo muitas vezes elevado.

No interior dos municípios, áreas rurais em geral, o acesso é ainda mais difícil, pois que a água é normalmente
adquirida através de poços ou rios distantes e neste sentido a prioridade é ter água em casa, a escola carece
de atenção. Das escolas inqueridas, em média 45% possuem água e 55% não têm água. No Cunene
somente 7% das escolas possuem água sendo um desafio muito grande, Luanda 61,17% possuem água
assim como 86% no Namibe, 45% na Huíla, 44% no Huambo, e 28,43% no Bié.

Esta análise procurou olhar para as variáveis de abastecimento e determinar qual o nível de sustentabilidade
e, como tornar estas dificuldades em possibilidades para um melhor serviço para as crianças nas escolas,
desde a ligação a rede ao abastecimento por camiões cisternas, a manutenção de bombas manuais e poços
protegidos e abertos assim como chafarizes encontrado em alguns municípios.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |15
Gráfico 9. A escola está ligada a rede?

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim   39.81% 20.39% 15% 68% 7% 31.11%
nao 60.19% 79.61% 85% 32% 93% 68.89%

Relativamente a ligação a rede Namibe e Luanda apresentam o maior número de escolas ligadas a rede, este
facto deve-se ao facto dos inquéritos nestas províncias terem tido um maior incidência nas áreas das sedes.
Luanda tem um índice de 38.81% enquanto Namibe de 68% seguindo-se a Huíla com 31%. Temos uma
totalidade de 30.16% de escolas ligadas a rede e uma totalidade de 69.84% não ligadas a rede.

Quanto ao funcionamento constatou-se que é muito baixo, apenas 23.12% da totalidade de redes ligadas
funcionam. Estes dados fazem crer que a sustentabilidade e a prestação de um serviço adequado as escolas
precisa de ser melhorado, considerando que 76.88% na totalidade estavam sem funcionar, verificando-se
uma grande ineficácia no funcionamento da rede, com exceção da Província do Namibe, Luanda e Huila. O
nível de insustentabilidade varia entre 37% no Namibe, 73% na Huíla, 75.76% em Luanda, 87% Huambo e
Bié a 100% no caso do Cunene. Devemos salientar que Cunene está a fazer um esforço muito grande para
ligar as escolas a rede proveniente de Xangongo.

16| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 4. Análise dos resultados

Gráfico 10. A ligação a rede funciona?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim   24.24% 12.62% 12.26% 62.65% 0.00% 26.97%
nao 75.76% 87.38% 87.74% 37.35% 100% 73.03%

Verifica-se que 14.65% das escolas inquiridas fazem uso da bomba manual, 85% não faz uso. Há variação
nas percentagens em cada província, Huambo com um uso de 45.28% de bombas nas escolas seguida do
Bié com 17.48%, as restantes variam entre 1% em Luanda, 4.12% na Huíla e 9% no Cunene.

Gráfico 11. A escola tem furo com bomba manual?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Sim 1% 17.48% 45.28% 4.12% 9% 11.00%
Nao 99% 82.52% 54.72% 95.88% 91% 89%

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |17
Gráfico 12. A bomba manual funciona?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim   1.00% 55.56% 30.77% 14.29% 5.00% 37.50%
nao 99.00% 44.44% 69.23% 86% 95% 62.50%

A sustentabilidade das bombas manuais igualmente mostrou ser um problema com 24% a funcionarem e
76% não funcionais. Com o maior índice de funcionalidade na província Bié com 55.56% seguida da Huíla
com 37.50% e Huambo com 30.77%. Cunene com 9% de bombas manuais funcionais tem um índice
de avarias de 4%. Estes níveis de inoperacionalidade tanto da rede como nas bombas manuais instaladas
nas escolas dificultam o desenvolvimento diário das actividades escolares como educação física, higiene e
manutenção do próprio espaço (MED 2014). As principais avarias estão relacionadas com falta de peças
sobressalentes ou falta de pessoal qualificado e recursos financeiros quer a nível das escolas como das
Administrações municipais para que se possa manter as operações e a manutenção diariamente.

Gráfico 13. Abastecida por poço aberto?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim   6.86% 5.83% 0.95% 4% 4.17% 0%
não 93.14% 94.17% 99.04% 96% 95.83% 100%

O poço aberto ainda é usado na maior parte das províncias como fonte alternativa para obtenção de água.
Esta fonte normalmente é uma fonte contaminada e usada por muita gente e animais em alguns e cerca
de 3.65% das escolas inquiridas fazem uso desta fonte. Nota-se que a incidência do uso do poço aberto,

18| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 4. Análise dos resultados

Luanda tem 6.86%, Bié 5.83% e Cunene com 4.17%. Devemos salientar que não falamos de chimpacas,
como no caso de Huíla e Cunene.

Gráfico 14. A escola é abastecida por camião cisterna?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim 45% 3.88% 8.49% 36% 12.50% 17%
nao 55% 96.12% 91.51% 64% 87.50% 83%

O abastecimento por camião cisterna é uma prática comum em todas as províncias com maior incidência
nas províncias de Luanda, Namibe, Huíla e Cunene. A variação do uso de cisternas para abastecimento
varia entre 4% no Bié a 45% em Luanda. Na totalidade 20% das escolas inqueridas são servidas por
camiões cisternas. Esta prática acarreta um grande encargo financeiro e as escolas que por sua vez não têm
capacidade de sustentar a mesma por muito tempo, o que implica reduções na alocação de fundos para a
área de saneamento. Devemos entender que a média de alunos por escola é muito alta e cada mil metros
cúbicos de água custa a media de 1000Akz (10USD) variando muito da área de abastecimento e distância
da escola.

Figura 4. Sistema de água com electrobomba, Figura 5. Sistema de água com bomba
Namibe manual, Huíla

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |19
Gráfico 15. Abastecimento por poço protegido?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bié Huambo Namibe Cunene Huíla
Sim 28.16% 11.65% 4.76% 19% 1.03% 2%
Não 71.84% 88.35% 95.24% 81% 98.97% 98%

Verificou-se também que o poço protegido é uma fonte utilizada pelas escolas em todas as províncias
variando nos municípios. Cerca de 11.10% das escolas inqueridas faz uso de fontes protegidas. Igualmente
Luanda com 28.26% de escolas e Namibe com 19%, seguido do Bié com 11,65% fazem grande uso desta
fonte. Huambo com 4,76%, Huíla com 2% e Cunene com 1,03%.

Gráfico 16. Abastecimento pelo chafariz?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Sim 5.83% 0.97% 0% 14% 3.03% 0%
não 94.17% 99.03% 100% 86% 96.97% 100%

O uso de chafariz também é uma prática usada em muitos dos municípios visitados e esta partilha coloca
em competição aberta os interesses públicos e particulares. A competição entre vendedores de água e
o abastecimento as instituições tem levado ao vandalismo e a ocupação por pessoas das propriedades
causando danos e inutilizando-as. Igualmente as ligações ilegais as linhas de abastecimento têm diminuído o
caudal as instituições e privando as mesmas comunidades de uma fonte segura de abastecimento, colocando
em risco as crianças através de contaminações provenientes de más ligações.

20| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 4. Análise dos resultados

Gráfico 17. A escola tem água para beber?

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Sim 60.19% 20.59% 40% 62% 11.11% 35%
não 39.81% 79.41% 60% 38% 88.89% 65%

O acesso a água potável para consumo humano determina o bem-estar da vida escolar das crianças,
professores e do funcionamento das instituições. Esta questão revela que as escolas não têm água em
quantidade suficiente, 38.09% das escolas inqueridas tem água para beber 61.92% não possui uma fonte
de água para beber. Luanda com 60.19% e Namibe com 62% possuem uma maior cobertura Cunene a mais
baixa com 11.11% de cobertura. Ficando Huambo com 40%, Huíla 35% e Bié com 20,59%.

Gráfico 18. A água para beber recebe algum tratamento?

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
Sim 52.00% 17.38% 25% 28% 5.10% 17%
não 48.00% 82.61% 75% 72% 94.90% 83%

Em termos de tratamento de água, as respostas foram muito diversas e verificou-se que, muitas escolas
não tinham a menor ideia de como tratar a água nem tinham uma resposta em particular nos municípios.
A maior parte das escolas em Luanda, tinham uma noção de tratamento de água baseado nas campanhas
televisivas e da radio, assim como na distribuição de lixivia. As restantes províncias apresentam respostas
ambíguas ou não responderam.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |21
Gráfico 19. Que tratamento recebe a água?

18%
16%
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
lixivia 16.00% 2.00% 0% 11% 0% 3%
fervura 0.00% 0.00% 0% 0% 0% 0%
outro 1% 0% 0% 1% 0% 0%

Quando questionados com mais especificidade sobre o tipo de tratamento, foi notório o desconhecimento
quase geral, e quando as respostas foram outras as apresentadas no inquérito, nunca souberam responder.
Este facto é preocupante pois não conhecemos a qualidade de água para consumo nas escolas e sendo
a mesma responsável pelo desempenho e desenvolvimento dos alunos, está também ligada a surtos de
diarreia e cólera assim como outras doenças de origem hídricas (OMS 2009).

Figura 6. Fonte de água para beber, Namibe Figura 7. Fonte de água na Escola e
comunidade, Cunene

22| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 4. Análise dos resultados

4.4 SANEAMENTO AMBIENTAL


A Latrina ou casa de banho dentro da escola é outra condição que contribui fortemente para um ambiente
favorável à actividade escolar, pois que reduz consideravelmente o desconforto tanto do docente como do
discente. Igualmente permite ao aluno ter contacto ou reforçar os seus princípios sobre as regras básicas de
higiene. Para obter o resultado desejado, esta condição não pode ser dissociada da anteriormente abordada,
ou seja, a água.

Gráfico 20. A escola tem instalações sanitárias?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim 93% 73.79% 85.71% 96% 46.46% 61%
nao 7% 26.21% 14.29% 4% 53.54% 39%

A maior parte das escolas apresentam algum tipo de instalações sanitárias e que servem aos alunos e
professores. Tivemos uma média de cobertura 76% na totalidade, contra 24% sem cobertura. Luanda com
cobertura de cerca de 93% Namibe com 96% seguido do Huambo com 85.71% e Bié com 73.79% com
Huíla nos 61% e Cunene com 46.46%.

Gráfico 21. As instalações sanitárias funcionam?

100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim   89.90% 56.94% 73.53% 92.71% 11.46% 78.18%
nao 10.10% 43.06% 26.47% 7% 88.54% 21.82%

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |23
Quando questionados, alunos e directores das escolas se as instalações sanitárias são funcionais, todas as
províncias apresentam um certo nível de funcionamento mas igualmente um certo nível de avarias. Apesar
do nível de funcionamento geral estar em 67.12% ainda 32.88% continua a não ter acesso a sanitários
funcionais. Olhando mais próximo os números verifica-se que Cunene com 88%, Bié com 43% Huambo
com 26% e Huíla com 21% ainda possuem um caminho a percorrer para que as suas escolas possuam
wcs ou latrinas funcionais. Igualmente Luanda, Huambo e Huíla devem trabalhar para melhorar o acesso e
funcionalidade.

Gráfico 22. A escola tem sanitários para deficientes?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim 1% 3.90% 2.00% 5% 1.01% 0%
nao 99% 96.10% 98.00% 95% 98.99% 100%

O acesso a instalações sanitárias para deficientes é um grande problema em todos os municípios verificando-
se um nível de acesso muito baixo 2%. A maior parte das escolas não comtempla acesso das pessoas com
deficiências físicas nem as mesmas sabem como lidar com a situação. Bié com 3.90% e Namibe com 5%
possuem o maior índice de cobertura. Luanda e Cunene com 1%, Huambo 2% e Huíla 0%.

Gráfico 23. Tem urinol nos sanitários?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
sim   21.57% 17.11% 14.00% 40% 0% 26.98%
nao 78.43% 82.89% 86.00% 60% 100% 73.02%

24| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 4. Análise dos resultados

Verificou-se que o uso do urinol nas escolas é ainda muito baixo. Este facto está relacionado com a fase
do planeamento das áreas sanitárias. Somente 19.94% das escolas possuíam urinóis nas suas instalações
sanitárias para rapazes. Namibe lidera com cobertura de 40%, Huíla com 26.98%, seguidos de Luanda com
21.57%, Huambo com 14% e Bié com 17.11%.

4.5 PRÁTICAS DE HIGIENE

Gráfico 24. Que tipo de instalação tem a escola?

70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
latrina  seca 12% 38.00% 23.00% 11% 9.00% 12%
latrina  com  fossa   septica 62% 40.00% 61.00% 30.00% 43%
ligação   a  rede  de   esgotos 2% 2% 2%
outra 28.00% 6.00%
Defecação   a  ceu  aberto 11.00% 51%

Quando as escolas foram questionadas pelos seus hábitos de higiene as respostas foram ambíguas. Mas
a latrina ligada a fossa séptica é a mais usada seguida da latrina seca. Verifica-se que 32% das escolas
defecam ao ar livre, 18% em latrina seca, 47% em latrinas ligadas a fossa séptica e 2 % está ligada a rede
de esgotos. Este facto deve reforçar a educação de higiene sanitária nas escolas para que o corpo docente e
administrativo saiba lidar com os assuntos no tempo adequado. Este facto reflectiu-se quando encontramos
escolas com as fossas cheias e a expelir fezes e nenhuma acção a ser tomada.

Figura 8. Instalações sanitárias limpas Figura 9. Instalações sanitárias fechadas

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |25
Gráfico 25 Locais de defecação?

120%

100%

80%

60%

40%

20%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
wc 96.12% 38.38% 70.59% 80.00% 11.34% 52.04%
latrina 45.07% 39.13% 55.45% 10.23% 4.08% 17.17%
lado  da  escola 6.06% 77.45% 35.24% 37.00% 40.63% 67.00%
mato 0.00% 58.51% 21.36% 30.00% 86.73% 76.34%

Através deste gráfico verifica-se que às escolas apesar de responderem que fazem uso dos WCs e Latrinas,
a prática de defecação ao céu aberto está patente em todas as províncias. Muitas escolas pensam que a
defecação ao lado da escola não é considerada ao céu aberto. Nesta análise detalhada averigua-se que
58.08% das escolas usa WCs, 28.52% faz uso da latrina e 44.69% defeca ao céu aberto. A defecação ao
céu tem incidência em todas as províncias por falta de WCs suficientes e funcionais. Igualmente a defecação
ao ar livre coloca as crianças em perigo visto terem de deslocar-se para zonas afastadas da escola, estando
sujeitas a abuso, picadas ou mordeduras por animais. A defecação ao lado da escola torna-se uma forma
de protecçao mas é indignificante, fazendo com que as crianças muitas vezes retenham as fezes ou urina e
sofram de obstipação. Este facto faz igualmente com que as raparigas em idade menstrual faltem as aulas
por falta de áreas apropriadas para higiene (OMS 2009, UNICEF 2012, Bowen et al, 2007).

Gráfico 26. Média de alunos por WC ou latrina?

1,000,000
100,000
10,000
1,000
100
10
1
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila Total  
Raparigas 35,501 11,658 68,475 32,616 21,729 40,779 210,758
Rapazes 36,173 12,833 64,757 32,071 19,214 45,259 210,307
Deficientes 401 29 148 289 126 139 1132
Total 72,075 24,520 133,380 64,976 41,069 86,177 422,197
wcs 355 265 323 240 78 101 1362
media 203 93 413 271 527 853 310

A média de número de alunos por WCs ou Latrina é muito alta, quando devia ser de 50 alunos por Latrina ou
WC. Luanda tem uma média de 148 alunos por cubículo, Bié 65 alunos por cubículo, Huambo 301, Namibe

26| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 4. Análise dos resultados

166, Cunene 314, e Huíla 549. Esta constatação em todas as províncias pode ser um inibidor ao acesso
e uso a WC ou latrina pois as condições sanitárias dentro dos WCs não são favoráveis, alimentando assim
a ausência e a desistência escolar em particular por parte das raparigas que se sentem mais fragilizadas.
Verifica-se igualmente que as províncias com uma média muito alta, Huíla e Cunene, são as que têm maior
defecação ao ar livre nas suas escolas, mostrando assim que existe uma deficiência muito grande no acesso
ao saneamento nas escolas.

Gráfico 27. Média de professores por WC ou Latrina

100,000

10,000

1,000

100

10

1
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila TOTAL
Professoras 1,114 2,076 1989 1,575 764 1,962 9,480
Professores 885 1,159 807 1,471 335 680 5337
Total 1,999 3,235 2,796 3,046 1,099 2,642 14,817
total  wcs 133 111 120 151 53 56 624
Media 15.0 29.1 23.3 20.2 20.7 47.2 23.7

Quando calculados os números de professores e WC ou Latrinas verifica-se que os professores têm um


melhor acesso e uso das latrinas e WC. Constata-se que a media total para os professores é de 23 com a
exceção da Huíla com 47. Este facto prende-se que na maior parte das escolas os WC ou Latrinas para os
professores são adjudicadas pelo género e para alunos muitas vezes é comum.

Gráfico 28. Higiene nas escolas

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Luanda Bie Huambo Namibe Cunene Huila
escola  tem  pontos   de  lavagem   das  mãos 61.17% 16.67% 24.53% 51.00% 9.09% 25.51%
Há  Sabão   disponivel   na  escola 52.94% 3.00% 7.55% 49.00% 7.14% 17.00%
Há  Clube   de  higiene   na  escola 20.39% 21.78% 44.66% 16.00% 27.08% 8.16%

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |27
Todas as províncias apresentam de certa forma, locais para lavagem das mãos mas a percentagem é muito
baixa em relação ao número de alunos. Igualmente muitas escolas possuíam pontos para lavagem das mãos
mas não estavam funcionais. Em Luanda 61% das escolas têm um local para lavagem das mãos, Namibe
tem 51%, Huíla 25,51%, Huambo 24,53% Bié com 16% e Cunene com 9%.

Quando questionados sobre a disponibilidade de sabão para lavagem das mãos verifica-se uma queda em
relação aos pontos de lavagem das mãos. Luanda apresenta uma disponibilidade de sabão nas escolas de
53%, Namibe 49%, Huíla 17%, Huambo e Cunene 7% e Bié com 3%.

Verifica-se que as escolas procuram estar ativas através da criação de clubes de higiene promovendo as
boas práticas. Huambo apresenta cerca de 44.66% das escolas com um clube de higiene, enquanto Luanda
tem 20%, Bié 22%, Cunene 27% Namibe 16% e Huíla com 8%.

Durante a visita as escolas que tinham clubes de higiene foram questionadas sobre a assiduidade das reuniões
e que atividades faziam, não tivemos uma resposta concreta nem um plano de atividades relacionado ao
clube. Também, as escolas responderam que havia sabão disponível para lavagem das mãos facto que na
verificação física não se encontrava nos WCs.

4.6 ORÇAMENTO
Verifica-se que a orçamentação para escolas do ensino primário é um sério problema. Estas não são
orçamentadas e as mesmas carecem de meios para suportar as despeças correntes de manutenção, compra
de materiais de limpeza, água para abastecimento dos tanques da escolas assim como pagamento de uma
auxiliar de limpeza. As escolas do segundo ciclo cabimentadas e orçamentadas, vêm os seus orçamentos
não atingirem metade do ano para colmatar às áreas acima descritas. Igualmente sendo as escolas primárias
um veículo de mudança de comportamentos, sem meios essa força será ou está perdida. A falta de um
orçamento claro para escolas primárias cria um fosso no ensino que se torna ainda mais exacerbado com
a falta de um corpo docente e de pessoal administrativo qualificado. Para que uma escola primária possa
auferir deste benefício, tem de apelar ao Projecto de Educação Escolar e seguir os vários protocolos de
negociações. Se a escola não possuir quadros qualificados para atender a estes mecanismos, que muitas
as escolas não sabem como aceder a estes recursos. Devemos reforçar a capacitação dos directores das
escolas assim como as direcções provinciais e municipais nos processos de candidaturas e negociações.
Por outro lado o ensino primário deve ser orçamentado por ser a fase mais importante da carreira de um ser
humano.

4.7 COMPROMISSO DA ESCOLA


Verifica-se que todas as escolas inquiridas estão dispostas a incluir e revitalizar a educação sanitária e
ambiental nos seus currículos escolares, contudo apoios devem ser dados as escolas interessadas de forma
a ter-se uma implementação adequada, estruturada e sustentável, com identificação clara das áreas a serem
passadas aos alunos e professores de formas a direcionar os financiamentos. Ficou igualmente estampada
a vontade de mudança por parte das direcções escolares.

28| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


© UNICEF/MLWB2012-01620/Nesbitt

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |29
© UNICEF/MLWB2012-01595/Nesbitt
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os aspetos multidimensionais que abrangem a criança Angolana no seu acesso a água, higiene e ao
saneamento básico na escola, têm uma influência direta na sua aproximação e disposição ao ensino. Estes
factos agravam-se quando ainda o sistema conhece a sua fase embrionária de mudanças que vão catalisar
uma melhoria na escola e no curriculum. A elaboração dos documentos base para Escola Amiga da Criança
e a idealização do design e composição da mesma tem sido prioridade na nova formulação da escola e do
Ministério da Educação. O documento produzido pelo Ministério da Educação sobre a reforma Educativa
demonstra estas necessidades (MED 2014).

O conceito de Escolas Amigas da Criança promoveu os princípios designados em 2013 e o MED concordou
em concentrar primeiro nos 3 aspetos primordiais e seguintes5; 1) Acesso para todas crianças ao ensino 2)
Qualidade de ensino e aprendizagem 3) Saúde e higiene. É sabido que a melhoria de água, saneamento e
higiene nas escolas proporciona uma melhor compreensão dos problemas actuais de educação, desafios,
e ainda oferece ambiente favorável à aprendizagem em estreita relação com a assiduidade e a retenção
(Bowen et al, 2007).

O diagnóstico demonstra que cada uma das escolas visitadas nos municípios de cada província de certa
forma carece de um ambiente higiénico e sanitário favorável a execução das suas tarefas. Atendendo aos
números gerais verifica-se que cada uma das províncias tem um número elevado de alunos para o número
de salas existente. A média de alunos por sala começa de 43 alunos por sala no Cunene á 131 alunos
por sala na Huíla com 77 em Luanda e 76 no Huambo, uma média de 68.38 de alunos por sala. Estes
números claramente enfatizam o esforço do governo em tentar construir mais salas de aulas mas não
invalida a necessidade de construir em locais primeiro com maior necessidade, através de um planeamento
e financiamento mais refinado.

Estas condições, refletem-se em aspectos significantes na vida escolar, água higiene e saneamento. Apesar
de todas as escolas apresentarem alguma forma de saneamento escolar, não há uma noção muito clara do
impacto que o saneamento pode ter na vida escolar. Nem a administração da escola nem os alunos viam
estes factores como inibidores pois acham que as soluções alternativas podem ser igualmente moldadas aos
seus hábitos de higiene. Esta ideia, está patente porque poucos sabiam que tipo de instalações sanitárias a
escola dispõe. Quando questionados quais os locais de defecação obtivemos uma serie de respostas aonde
a prevalência de defecação ao céu aberto ficou muito evidente. A média de alunos usando WC é de 58%
sendo o uso da latrina de 28.52% ao lado da escola 43.90% e no mato 45.49%. A media de defecação
ao are livre é de 44.70% quando colocamos os valores de defecação ao lado da escola e os valores de
defecação no mato.

O número de WCs ou latrinas quando relacionado com a média de alunos, verifica-se que a temos entre
93 alunos por cubículo no Bié com menor número de WC, a 203 alunos por cubículo em Luanda com
maior número de sanitários, a 853 alunos por cubículo na Huíla. Temos uma média total de 310 alunos por
cubículo que se transforma num factor inibidor de um aluno aceder ao quarto de banho ou latrina. Quando
analisada as condições de higiene das latrinas e WCs verifica-se que as escolas carecem de uma política de
higiene, de uma pessoa responsável pela limpeza, materiais de limpeza e muitas vezes forçam os alunos a
executá-lo. Tornando assim um desafio ter acesso a WCs ou latrinas com cheiros fortes e condições de uso
precárias. Nota-se igualmente que muitos WCs transformaram-se em armazéns. Se olharmos a percentagem
de 64% de quartos de banho separados (rapazes e raparigas) e relacionarmos ao número de alunos por
cubículo rácio 1/50 vemos uma enorme disparidade.

5
Indicado pelo MED como aspetos principais (2013)

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |31
Igualmente a carência de água torna o acesso aos quartos de banho, um obstáculo que ramifica-se até
a retenção escolar. Quando analisamos o acesso a água nas escolas verifica-se que existe uma fonte
de abastecimento, ou seja a rede, poço aberto ou protegido assim como chafariz ou camiões cisternas.
Quando questionados sobre a funcionalidade das fontes verifica-se que a ligação a rede tem um grau de
sustentabilidade muito baixa. Cerca de 70% das escolas não têm ligações a rede e cerca de 78% das que
estão ligadas a rede não são funcionais. O uso da bomba manual ainda é muito acentuado e tem sido a
forma mais fácil de acesso a água nas zonas rurais e periurbanas. Contrariamente a ligação a rede verifica-
se um maior índice de sustentabilidade do nível de funcionamento das bombas manuais quando estas estão
inseridas na escola- cerca de 24%- e não na comunidade. O uso do poço aberto ainda faz parte da vida de
muitas escolas em várias áreas do país com maior incidência nas zonas rurais e periurbanas com 3.64%
de uso. Poços igualmente servem muitas escolas em todas as províncias sendo uma fonte encontrada
com grande frequência nas províncias a centro e sul e em Luanda. O abastecimento através de camiões
cisternas é a terceira fonte mais usada e a mais cara, cerca de 20% das escolas fazem uso. Esta fonte
de abastecimento cria imensos desequilíbrios nos orçamentos escolares e é muito perturbadora devido a
sua fonte ser difusa. Para escolas do ensino primário que carecem de adjudicação directa de fundos, estão
impossibilitadas de fazer gastos constantes que rondam a 40,000 Akz (400 USD) por mês dependendo das
distâncias.

Relativamente a água para consumo, somente 35% das escolas tem água para beber disponível, 62% não
possui qualquer fonte adstrita. Comparativamente ao tratamento 24% das escolas responderam que davam
algum tratamento a água para consumo 76% não tratavam a água mas tinham imensos problemas de saúde
com os alunos segundo os directores. Quando questionados sobre o tipo de tratamento davam a água,
5.33% tratam com lixivia e o uso era fortuito devido aos custos.

A maior parte das escolas não possuíam condições para albergar estudantes com deficiências nem
mecanismos de apoio para os mesmos. O acesso as escolas é precário, acesso ao WC ou latrina inexistente
o que não facilita a continuidade. Verificou-se igualmente que as escolas não possuem uma palavra no
planeamento dos seus espaços e logo recebem um produto que não têm como dizer NÃO.

32| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 5. Discussão dos resultados

5.1 ANÁLISE DE ÁREAS DE ESTRANGULAMENTO


A ferramenta utilizada para análise das quatro áreas centrais (Ambiente Favorável, Oferta, Procura, e
Qualidade) constitui o Modelo alargado de Tanahashi para análise de obstáculos adoptado pelo programa
água, saneamento e higiene nas escolas pelo UNICEF.

A análise de obstáculos pesquisa e avalia a situação da água, saneamento e higiene nas escolas através da
concentração na disponibilidade dos serviços bem como em factores de influência no acesso das crianças aos
serviços escolares nas áreas de água, saneamento e higiene, (tais como lavagem de mãos, abastecimento
de água ou instalações adequadas de sanitários separados para rapazes e raparigas), de modo a ultrapassar
obstáculos e barreiras aos componentes de ambiente favorável, oferta, procura e qualidade. O seguinte
quadro apresenta a análise de factores para Escolas avaliadas com os respectivos indicadores. As áreas de
estrangulamento serão mostradas nos gráficos com setas vermelhas e estas serão áreas a investir.

Categoria Determinantes Indicadores Análise

Ministério da Educação inclui água, higiene e


Enquadramento legal e
saneamento nas escolas e sistema de monitorização 25%
político
Ambiente no enquadramento EAC
Favorável
Orçamento disponível para escolas primárias para
Orçamento/despesas 6%
suprir necessidades básicas de água e saneamento

% de escolas com acesso a quartos de banho ou


Coberturas sanitárias 43%
latrinas funcionais

Cobertura de água % de escolas com acesso a água 23%


Oferta
Cobertura Geográfica % de escolas com proporção de cobertura sanitária
0%
Adequada (1:50)

% de professores capacitados em promoção de


Recursos Humanos 1%
higiene, operação e manutenção

% de escolas com orçamento para funcionamento e


Barreiras financeiras 6%
manutenção

Procura Aplicação % de escolas com sanitários limpos 25%

% de escolas com sanitários separados para


Barreiras socio culturais 32%
rapazes e raparigas

Prácticas de higiene % de escolas fazendo praticas de higiene diárias 31%


Qualidade
Qualidade de serviços % de s escolas com manutenção funcional das
6%
de água e saneamento instalações de água e saneamento.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |33
5.2 AMBIENTE FAVORÁVEL
No que refere ao Enquadramento Legal e Político, o Ministério da Educação em Angola começou a
considerar a importância jurídica e política no contexto escolar com inclusão de programas de água, higiene
e saneamento nas escolas. Neste cenário, a primeira versão das Normas de Construção de Escolas começou
a ser desenvolvida para as Escolas Amigas da Criança e água, saneamento e higiene é uma das componentes
de ambos os documentos. Seja como for, este é um processo longo até atingir a concretização de uma
Legislação Nacional consolidada no que refere a água, saneamento e higiene nas Escolas.

Grafico 29. Ambiente favorável Considerando a alocação orçamental para a água,


saneamento e higiene nas Escolas quer para
30% suprimentos das necessidades quer para recursos
25% podemos afirmar que o Governo não efectua uma
25% distribuição orçamental equitativa que beneficie todo
o tipo de escolaridade e em particular a escolaridade
20% primária que não está incluída.

15% O estudo levado a cabo pelo Ministério da Educação


em colaboração com a UNICEF (MED 2005) sobre
10%
6% a disponibilidade de Bens Essenciais e locais de
aprendizagem pelo país revelou que 53% das
5%
escolas primárias existentes possuem sanitários,
0% um número que decresce quando consideradas
Enquadramento  politico Orçamento/despesas as instalações específicas para cada sexo, mas
apenas 7% destas escolas dispõem de acesso
a abastecimento adequado de água e em pleno
funcionamento, com grandes disparidades entre
áreas urbanas e rurais. Este facto não difere muito
Grafico 30. Oferta do estudo realizado em 600 escolas com uns media
de cobertura sanitária de 43%.
50% 43%
45% Contudo, o estudo KAP (COSEP, 2007) afirma que
40%
35% 75% das escolas têm um tanque de água como
30% 23% alternativa a um abastecimento adequado de água
25% em pleno funcionamento, mas 63,6% daqueles não
20%
15% funcionam e apenas 40% destas escolas possuem
10% um tanque de água localizado nas instalações.
5% 0% 1% Igualmente verifica-se neste estudo nas 600 escolas
0%
que somente 23% tem uma cobertura funcional de
Coberturas   Cobertura  de   Cobertura   Recursos  
sanitarias água Geografica   Humanos água. A restante é intermitente.
Adequada

No que refere à cobertura geográfica adequada, constatou-se que a relação dos sanitários é de 1:93 nos
cenários rurais, podendo este valor subir aos 1:500 nas áreas periurbanas. Estas condições, em conjunto
com a falta de instalações com lavagem de mãos com inclusão de sabão, funcionamento e manutenção dos
locais não apropriados, deixam os alunos, sobretudo as raparigas adolescentes, expostos a riscos de saúde
e a desistências prematuras. Nenhuma das escolas inqueridas tem a media de 1:50.

34| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


Cap. 5. Discussão dos resultados

A actual ausência /falta de abastecimento de água em instalações sanitárias incluindo sabão impõe a não
adopção por parte dos alunos, de práticas seguras de higiene nas escolas do país. A percentagem de
professores com formação na promoção da higiene está estimada em cerca de 25% (COSEP, 2007), gerando
um desafio para o desenvolvimento de actividades de educativas relacionadas com a água, saneamento e
higiene nas escolas, sobretudo nas zonas rurais menos consideradas. E o estudo as 600 escolas demonstra
que somente 1% dos professores das escolas inqueridas tem alguma formação em água, saneamento e
higiene nas escolas. A redução/falta de recursos humanos com formação em promoção da higiene origina
uma barreira na concretização dos objectivos da água, saneamento e higiene nas escolas.

5.3 PROCURA

Grafico 31. Procura A percentagem de escolas com orçamento para


manutenção está estimada em 10% (COSEP, 2007),
35% 32% o que constitui uma barreira financeira e operacional
na implementação e manutenção da escola
30%
25% sustentável. As escolas não possuem materiais ou
25% pessoal de limpeza, deixando geralmente essa tarefa
20% para os alunos, e provavelmente, para as raparigas.
Esta barreira financeira continua a ser evidente
15%
neste estudo das 600 escolas com somente 6%
10% 6% das escolas com alguns fundos disponíveis para
5% efecturar manutenção e operação das escolas.
0%
Barreiras   Aplicação A limpeza geral das escolas ocorre inserida em
Barreiras  s ocio  
financeiras culturais actividades irregulares chamadas “campanhas de
limpeza”, e apesar da adopção desta estratégia, a
questão da higiene e limpeza nas escolas constitui
ainda um desafio a superar em todo o país; deste modo, mesmo com estas campanhas, é possível observar
na maioria das escolas a não existência de caixotes de lixo, com acumulação de sujidade nas salas de aula
e nas instalações exteriores dos edifícios escolares. A eliminação de resíduos é feita de forma inadequada,
geralmente através de fogueiras nas instalações das escolas, revelando pouco apreço pelas considerações
ambientais. Muitas vezes, por falta de pessoal de limpeza esta actividade recai nas crianças colocando-as
em situações de perigo sanitário por não terem a habilidade de lidar com sanitários sujos.

A proporção de escolas com sanitários separados por sexo é ainda baixa, estimada em 20%, o que provoca
uma forte barreira sociocultural sempre que meninos e meninas são obrigados a partilhar as mesmas
instalações. Estima-se que a percentagem de sanitários limpos/mantidos seja de 30%; em 37,2% dos casos,
os alunos são responsáveis pela limpeza das instalações sanitárias, sendo 35,3% da responsabilidade de
auxiliares (COSEP, 2007).

O actual estudo em 600 escolas revela que 25% tem quartos de banho limpos e adequados, 32% das
escolas tem quartos de banho separados mas igualmente demonstra que a limpeza das áreas escolares e
sanitárias recai muitas vezes nas crianças. A existência de clubes de higiene igualmente demonstra alguma
actividade por parte dos alunos mas sem grande promoção curricular nem por parte dos professores.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |35
5.4 QUALIDADE
No que refere às Normas Sociais, a percentagem de crianças em escolas que lavam as mãos pode ser
inferida a partir dos dados do IBEP 2009 que indica que 30% da população total lava as mãos nos momentos
essenciais. Neste estudo encontramos uma percentagem nas 600 escolas de 31%. Tendo em conta o
enquadramento das questões sobre água, saneamento e higiene nas escolas, esta percentagem poderá ainda
ser reduzida abaixo dos 30%, visto termos neste estudo uma proporção somente de 25% de quartos de
banhos limpos em 600 escolas e 23% das escolas com água disponível todo o tempo e 22% das escolas
com sabão disponível para lavagem das mãos.

Grafico 32. Qualidade

35% 31%
30%
25%
20%
15%
10% 6%
5%
0%
Praticas  de  higiene Qualidade  de  s erviços  de  
água  e  s aneamento

A qualidade dos serviços oferecidos em manutenção e funcionalidade, estão intimamente relacionados com
as finanças disponíveis de cada instituição ou na habilidade dos recursos humanos aderirem aos fundos
disponíveis nos mecanismos de estado. Desta forma a maior parte das escolas não dispõe dos recursos
humanos qualificados nem dos fundos. Desta forma maior capacitação deve ser oferecida aos técnicos para
que as escolas primárias tenham a habilidade de aderir a fundos colocados a disposição.

36| Água e Saneamento nas Escolas de Angola


© UNICEF/NYHQ2011-1758/Pirozzi
Cap. 5. Discussão dos resultados

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |37
© UNICEF/ANGA2014-0494/Bruno Caratão
6. CONCLUSÃO

O sobrecarregado número de estudantes nas escolas do ensino primário e primeiro ciclo demonstram que
melhor planeamento deve ser tido em conta assim como uma melhor base de dados deve ser criada para que
possamos ter fontes de verificação de áreas básicas como água, higiene e saneamento. Todos os factores
proeminentes fazem com que a formulação de qualquer estratégia deve conter uma concepção que defina
claramente que tipo de escola e que tipo de design se quer, conforme as diretrizes das Escolas Amigas da
Criança, assim como definir os mecanismos para torna-la sustentável, acolhendo contributos locais para
necessidades locais (MED 2014).

A orçamentação que reflecte qualquer política de implementação, não demonstra sustentabilidade a nível
provincial, municipal e comunal, que apresentam problemas enormes nas escolas primárias devido a falta
de fundos para suster qualquer actividade extraescolar, manutenção e serviços. Este facto determina de
imediato a falha de qualquer programa ou mesmo de qualquer política.

A inoperância dos mecanismos existentes nas escolas, por falta de fundos e planeamento, originam o
colapso das já débeis estruturas que muitas vezes são vandalizadas pelas comunidades, ou danificadas
por uso inadequado. Estes factores são multiplicados pelo número de alunos que nunca tiveram acesso a
WC ou latrinas e desconhecem a sua utilização por falta de informação e educação sanitária e ambiental.
A multidimensionalidade baseia-se na falta de infraestruturas escolares adequadas, bem como materiais
pedagógicos apropriados. Tal leva a turmas superlotadas, acessos insuficientes a água limpa e saneamento
básico, bem como a uma incapacidade de ensino eficiente, e consequentemente de aprendizagem (Ministério
da Educação, 2012).

Estes fatores são ainda agravados pelo facto de frequentemente os professores (27% ao nível do ensino
primário) não serem qualificados, pelo que a qualidade do serviço prestado se torna reduzida, não se
centrando suficientemente nas necessidades de aprendizagem das crianças. De igual modo, não estando
especificamente disposto no curriculum escolar estas temáticas, os professores não estão preparados com
conhecimentos suficientes para cultivar estas matérias.

As disparidades encontradas são ainda mais acentuadas quando olhamos para taxa de abandono escolar
e repetentes que rondam os 17% e 29% respetivamente e as taxas de conclusão apenas de 47% para o
ensino primário (Ministério da Educação 2010) apesar de em 2013 os dados de Ministério da Educação
indicarem melhoramentos referenciando uma taxa de conclusão ao nível do ensino primário de 80%, 13%
taxa de repetência e uma redução de abandono escolar até 7% (Ministério da Educação 2013).

Analisando a variável água segundo as alternativas que se apresentam para as escolas que não possuem
este produto dentro do seu recinto, observa-se que globalmente, necessitam de um planeamento adequado
na fase de construção para incluir o acesso. Nota-se também que em alguns casos as escolas foram
construídas sem nenhuma alternativa para acesso a água, quer seja ligação a rede, chafariz/poço, nascente
ou recolha da água da chuva.

A situação agrava-se quando analisada segundo outras alternativas em escolas localizadas fora dos municípios
sede, que não têm qualquer alternativa para aceder a água. As variáveis conhecidas apresentam-se pouco
sustentáveis devido a concorrência com a comunidade pela água estando 61.92% das escolas sem uma
fonte de água para beber e somente 24% com água para higiene.

Igualmente, esta componente sendo intimamente ligada ao saneamento, mostra que a necessidade de
intervenção é urgente. Com um media de 213 alunos por cubículo e um índice de defecação ao ar livre de
44.69% há evidencia de que algo não esta a funcionar para proporcionar um ambiente sadio as escolas.
Torna-se por isso necessário elaborar um planeamento que leve a definição de objectivos realísticos, que
possibilite a alocação de fundos e a elaboração de politicas adequadas, formuladas com base factual para
orientar a operacionalização e gestão das escolas do país, permitindo que se estabeleça progressivamente
o sonho do acesso a água, higiene e saneamento nas escolas.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |39
© UNICEF/NYHQ2015-1847/Gilberts
6. RECOMENDAÇÕES

É importante promover uma discussão ampla no sector da educação para definição dos

1
documentos reitores que devem estar sujeitos a processos de monitoria regular no âmbito do
Sistema Integrado de Gestão da Informação sobre Educação (SIGE). Para o efeito, é necessário
desenvolver uma metodologia que permita a formalização de instrumentos de recolha continua/
regular da informação.

A selecção das variáveis objecto de análise (água, saneamento e higiene), devem permitir

2 chegar a indicadores de monitorização das políticas educacionais; a título de exemplo, no âmbito


da reforma educativa, é importante identificar o tipo de variáveis alvo de investigação para
monitorização do seu grau de implementação.

Sugerimos ainda que o SIGE seja descentralizado até ao nível municipal, sendo os gestores das

3
escolas, os responsáveis pela entrega regular da informação referente ao seu estabelecimento.
Aos delegados municipais caberá a função de verificação e consolidação dos dados, no sentido
de se garantir a qualidade desejada. Assim poder-se-ia ter um sistema simples e rápido de
gestão da informação, tornando-a acessível e fonte secundária segura para casos de estudos
ao nível nacional.

Diagnósticos desta natureza devem ocorrer no final de cada ano lectivo, pois que é uma
oportunidade para: (1º) fazer uso ao pessoal docente para obtenção de informação real para

4
planeamento de água e saneamento (2º) recolher dados importantíssimos para complementar
a informação sobre o sector educacional, tais como: o aproveitamento escolar, o abandono
escolar e a taxa de conclusão de um determinado nível/classe, uma vez que a escolarização não
é apenas o acto de matricula; (3º) Olhar aos aspectos relevantes a vida escolar que necessitam
atenção e melhoramento.

5
Acima de tudo deve haver um debate multissectorial sobre água, saneamento e higiene nas
escolas instigado pelo Ministério da Educação e em particular a Direcção Nacional do Ensino
Geral.

6
O Ministério da Educação deve elaborar um plano nacional em parceria com entidades interessadas
para elaboração de um inquérito nacional sobre água, higiene e saneamento nas escolas e seus
impactos na vida escolar e das crianças.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |41
© UNICEF/NYHQ2010-1994/Asselin
REFERÊNCIAS

Bowen et al 2007. A cluster-randomized controlled trial evaluating the effect of a hand washing-promotion
program in Chinese primary schools. am. j. trop. med. hyg.

Instituto Nacional de Estatística (IBEP 2009). Inquérito do Bem-estar da População.

IRC (International Water and Sanitation Centre) (2007). Towards Effective Programming for WASH in
Schools: A manual on scaling up programmes for water, sanitation and hygiene in schools. Delft, Holanda.

Joint Call to Action (2010). Raising Clean Hands – Advancing learning, health and participation through
WASH in Schools.

Ministério da Educação (2008) Evaluation of the Education and Teaching in Angola 2002-2008.

Ministerio da Educação (2010) Escola Amiga das Crianças Pesquisa Completa.

Ministerio da Educação (2014) Avaliação global da Reforma Educativa.

Ministério da Educação e UNICEF (2005) Diagnostico Rápido as Escolas Publicas do Ensino Geral.

Ministério de Energia e Águas e UNICEF - Estudo CAP (COSEP 2007). Relatório do Estudo da Linha de
Base e Pesquisa Formativa sobre Água, Saneamento e Higiene em Angola.

Ministry of Health, Cholera Task Force 2006-2012. Bulletin of Cholera.

UNICEF & Emory University (2012) - WASH in Schools Distance learning Course, Learning from the field.

UNICEF (2011) WASH in Schools Monitoring Package, Unite the Nations Children`s Fund. (Module 2).

UNICEF (2012) Rapid Monitoring of WASh in Schools Bottlenecks. Assessing Progress in Improving
Management and hygiene Practices, Unite the Nations Children`s Fund.

WHO (World Health Organization) (2009) Water, Sanitation and Hygiene Standards for Schools in Low
cost Settings. Publicado por John Adams, Jaimie Bartram, Yves Chartier, Jackie Sims.

Diagnóstico das Condições de Água e Saneamento em 600 Escolas de 6 Províncias de Angola |43
UNICEF Angola
P.O Box 2707
Luanda | Angola
Tel: +244 222 331 181
Email: luanda@unicef.org
facebook.com/UnicefAngola | www.unicef.org

Você também pode gostar