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Participantes: Glaucia Medeiros de Oliveira Souza

Mariana Martins Cassel


Robson Henrique da Silva

ENERGIAS RENOVÁVEIS ARGENTINA

Introdução:

A Argentina é o segundo maior país da América Latina em termos de


território, de forma que faz fronteira com: Bolívia, Paraguai, Chile, Brasil e Uruguai.
É o terceiro país da região em termos populacionais, sendo que 92% da população
vive em áreas urbanas. Além disso, é a segunda maior economia da América do
Sul, depois do Brasil, em termos de Produto Interno Bruto (PIB) e possui o terceiro
maior PIB per capita da região, atrás de Chile e Uruguai (IMF, 2019).Em relação ao
desenvolvimento socioeconômico, consolidou-se como um país exportador de
produtos de origem agropecuária, haja vista terras adequadas para a agricultura e
pastagens, e tem uma indústria desenvolvida a partir das políticas de substituição
de exportações desde o século XX. Paralelo a isso, o país possui importantes
reservas de petróleo e gás natural. O desenvolvimento recente de recursos não
convencionais de óleo e gás indica um potencial para atrair investimentos em
infraestrutura e novos mercados. Apesar de ter um Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) de 0,83, o qual é elevado em comparação com outros países
sul-americanos, a Argentina enfrenta desafios políticos e econômicos, incluindo
baixo crescimento e alta inflação nos últimos anos.

Perfil energético da Argentina no século XX:

Durante o século XX, a produção de energia na Argentina passou por várias


transformações. No início do século, a energia era predominantemente gerada a
partir de perfil energético da Argentina no século XX, aproveitando os recursos
hídricos do país. No entanto, ao longo do tempo, outras fontes de energia foram
sendo exploradas.Durante a década de 1930, a Argentina começou a explorar a
energia térmica, utilizando principalmente carvão mineral e óleo combustível para
gerar eletricidade. Essa mudança permitiu uma maior diversificação da matriz
energética do país. Na década de 1950, a Argentina começou a explorar o potencial
de seus recursos petrolíferos e gás natural, o que levou ao aumento da produção de
energia a partir dessas fontes. A descoberta de grandes reservas de gás natural na
província de Neuquén impulsionou ainda mais o setor energético argentino.Ao longo
do século XX, a Argentina também investiu na energia nuclear. A primeira usina
nuclear do país, a Atucha I, foi inaugurada em 1974, seguida pela construção de
outras usinas nucleares, como Embalse e Atucha II. A energia nuclear
desempenhou um papel significativo na geração de eletricidade e ajudou a
diversificar ainda mais a matriz energética argentina.Podemos perceber então que o
perfil energético da Argentina no século XX era caracterizado por uma forte
dependência de fontes de energia fósseis, como petróleo e gás natural.

Matriz energética atual:

A Argentina possui uma diversidade de recursos energéticos e uma indústria


de energia bem desenvolvida em várias etapas, incluindo extração, transformação,
transporte, distribuição e consumo. Em 2018, a oferta interna total de energia no
país foi de 82 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep), sendo 86%
dessa oferta provenientes de fontes como gás natural, petróleo e seus derivados. O
gás natural é o principal recurso energético disponível no país e desempenha papel
fundamental na matriz energética da Argentina, de forma que em 2018 representou
58% da oferta interna de energia.

A Argentina é abastecida com energia elétrica em todo o seu território, com


uma capacidade instalada de 36 GW, proveniente de várias fontes,a saber usinas
hidrelétricas, eólicas, solares, nucleares e termelétricas a ciclo combinado e
simples. O gás natural é o combustível mais utilizado na geração de eletricidade,
representando 67% do consumo de combustíveis nas centrais elétricas em 2018. As
centrais hidrelétricas e nucleares também desempenham um papel importante, com
14% e 7% de participação, respectivamente.

Em 2018, o consumo final de energia na Argentina foi de 56 Mtep, com 35%


desse consumo atribuído ao gás natural, 18% ao diesel e 11% à gasolina. Em
consonância a isso,o setor de transportes é o maior demandante de energia,
seguido pelos setores residencial e industrial, representando 31%, 25% e 23% do
consumo final, respectivamente.

Em comparação com o Brasil, a Argentina tem uma participação


relativamente baixa de fontes renováveis (10%) em sua matriz energética, enquanto
o Brasil possui uma parcela significativamente maior (45%). Em relação ao volume
de gás natural disponível, Argentina e Brasil têm ofertas internas de magnitude
semelhante, com 48 Mtep na Argentina e 36 Mtep no Brasil em 2018. Ainda que a
maior parte da matriz energética da Argentina seja proveniente de combustíveis
fósseis, o restante está distribuído principalmente em energia nuclear, hidrelétrica,
eólica, solar e de biomassa (biocombustíveis), como será aprofundado a seguir.

Energias renováveis

Os biocombustíveis são produzidos a partir de materiais vegetais que não


sofreram processo de fossilização, dentre os principais exemplos estão o etanol e o
biodiesel. Na Argentina, em 2006, a Lei nº 26.093 foi promulgada para regulamentar
e promover a introdução de biocombustíveis na matriz energética do país, por meio
do estabelecimento de incentivos tributários para novas indústrias de
biocombustíveis. Em janeiro de 2008, a Lei nº 26.334 expandiu esses benefícios
para a produção de cana-de-açúcar e etanol. Desde 2006, houve um significativo
aumento de investimentos na construção de novas instalações de produção de
biocombustíveis na Argentina. A partir do segundo semestre de 2009, a produção
de biodiesel aumentou, de forma que os volumes de exportação superaram mais de
100 mil toneladas por mês. No entanto, em setembro de 2010, com a introdução do
B7 (7% de biodiesel no óleo diesel), houve uma redução na exportação. A produção
industrial de biodiesel na Argentina é considerada uma das mais modernas do
mundo, e a maioria das instalações está concentrada nas províncias de Santa Fé,
especialmente nas localidades de Puerto General San Martín, San Lorenzo e
Rosário. Essas áreas são estrategicamente localizadas para exportação através da
hidrovia Paraná-Uruguai e representam um importante centro global na indústria de
oleaginosas.

Paralelo ao desenvolvimento de biocombustíveis, na Argentina observa-se


uma significativa expansão da energia solar. O destaque nesse contexto é o parque
fotovoltaico de Cauchari, o maior da América Latina. Esse parque, situado em uma
das regiões com maior exposição solar no mundo, abrange uma área equivalente à
metade da cidade de Buenos Aires e tem uma capacidade de geração atual de 315
megawatts (315 MW), o que o torna suficiente para fornecer energia a
aproximadamente 160 mil residências. Há planos para que o parque alcance uma
produção de até 1,1 gigawatts (1,1 GW) quando estiver operando em plena
capacidade. Além de Cauchari, a Argentina está investindo em outros notáveis
parques solares, como o Parque Solar Pomán, na província de Catamarca, e o
Parque Solar El Litoral, na província de San Juan.

Além disso, no país, o potencial eólico apresenta-se como um depósito


inesgotável de energia limpa. Desde a década de 1990, as turbinas eólicas têm se
expandido em diferentes regiões, de forma a protagonizar a transição energética
para fontes renováveis. A primeira geração de parques eólicos se deu entre 1990 e
2010, em parques de média potência localizados principalmente no sul da
Argentina, nas províncias de Buenos Aires e Chubut. Esses projetos foram
impulsionados por cooperativas elétricas e financiados por uma combinação de
recursos estrangeiros e locais, entretanto, muitos deles se tornaram inativos devido
a problemas técnicos e econômicos. Já a segunda geração, de 2010 a 2018,
apresentou parques eólicos de alta potência, conectados à rede nacional de
transmissão e incentivados por políticas governamentais de promoção das energias
renováveis. Atualmente, a terceira geração, iniciada a partir de 2018, reflete um
renascimento da energia eólica na Argentina, haja vista os mais novos projetos
serem caracterizados por sua localização próxima a centros de consumo, contratos
entre partes privadas e conexão à rede de média tensão, o que é resultado de
políticas governamentais mais recentes e regulamentações que estimulam o
desenvolvimento de projetos eólicos.

Em relação às hidrelétricas, há o destaque para as usinas Yacyretá e Salto


Grande. A primeira está localizada no Rio Paraná, com uma capacidade instalada
de aproximadamente 3.100 megawatts (MW) e é compartilhada com o Paraguai. Já
a segunda, está situada no Rio Uruguai, com cerca de 1.890 MW de capacidade
instalada, e é compartilhada com o Uruguai. Além das usinas mencionadas, a
Argentina possui várias outras usinas hidrelétricas de menor porte, como as usinas
de Piedra del Águila, Los Reyunos, e Diamante.

Como antes comentado no perfil energético da Argentina no século XX, o


interesse pela produção de energia nuclear no país iniciou-se em 1964.Por
conseguinte,a primeira usina nuclear argentina, Atucha 1, entrou em operação em
1974, localizada em Zárate. Já em 1984, a principal usina nuclear do país, Embalse,
deu início às suas atividades, localizada na província de Córdoba.Posteriormente, a
usina nuclear de potência média Atucha II foi criada, situada também em Zárate.

Panorama do cenário energético de 2020:

Em 2020, disputas entre a Rússia e a Arábia Saudita e a pandemia de


Covid-19 foram responsáveis pela volatilidade nos preços do petróleo e do gás
natural. Nesse sentido, as medidas de isolamento social reduziram o consumo
industrial de gás e o mercado de GNL (Gás Natural Liquefeito), o que resultou em
adiamentos e cancelamentos de cargas e projetos de liquefação na Argentina.
Paralelo a isso, a demanda global por petróleo caiu significativamente, de forma que
no país, o preço do petróleo criollo leve (Medanito) se tornou preocupante, pois sua
rentabilidade é dependente de um preço mínimo de US$ 45 por barril. Por
conseguinte, houve a suspensão de atividades em reservatórios não convencionais
em Vaca Muerta devido à queda dos preços internacionais.
Nesse viés, o crescimento de economias emergentes e a alta dependência
de combustíveis não renováveis incentivaram discussões sobre mudanças nas
matrizes energéticas mundiais. A partir disso, a Argentina se encontra em um
momento de planejamento entre o governo, o setor privado e a sociedade civil, haja
vista a dependência do gás natural em sua matriz energética. O governo planeja
aumentar a produção e a exportação de gás produzido na Bacia Neuquin, promover
a integração com o Brasil, por meio da exportação dos volumes excedentes de gás
natural, e diversificar a matriz energética por meio de energias renováveis.

Planos da Argentina para o setor energético:

Esse é um cenário que a Argentina pretende


mudar. Ela tem buscado desenvolver e
promover a energia sustentável em seu
território. O país possui grande potencial para
o uso de energia renovável, especialmente a
energia eólica e solar, devido às suas vastas
áreas abertas e excelente incidência de ventos
e luz solar. A Argentina planeja gerar 57% de
sua energia a partir de fontes renováveis até o
final da década (2030), de acordo com o novo
plano de transição energética, lançado no fim
de junho de 2023, onde se respalda no artigo
41 da CONSTITUIÇÃO NACIONAL que
estabelece:
“...Todos os habitantes têm direito a um meio
ambiente saudável, equilibrado, adequado ao
desenvolvimento humano e às atividades produtivas que satisfaçam as
necessidades presentes sem comprometer as das gerações futuras; e eles têm o
dever de preservá-lo..."
Este plano de transição energética para 2030 contém a visão, os objetivos e
as metas que marcam o caminho e a direção, bem como os desafios e barreiras a
superar e o cenário de transição energética projetado para o final da década. Neste
contexto, são definidas as orientações estratégicas, as áreas de ação e as medidas
de política energética já em vigor para a transição energética. Além disso, são
propostas medidas de política energética adicionais e complementares às já em
vigor, e para a sua eventual adoção.
Este documento apresenta uma proposta inicial que, com base num
cronograma de trabalho e discussão com os setores público e privado, deve ser
atualizada à medida que mudam as circunstâncias nacionais e globais, bem como a
evolução tecnológica, antecipando o desenvolvimento dinâmico e contínuo do setor
energético.
O país terá como meta construir cinco mil quilômetros de linhas de
transmissão, reduzir a demanda energética em 8% e atingir um gigawatt (GW) de
geração distribuída (fontes individuais ou de pequena escala). No total, o governo
estima que o plano custe US$ 86,6 bilhões em investimentos. Atingir essas metas
representaria uma mudança significativa na matriz energética da Argentina.
Atualmente, os combustíveis fósseis são responsáveis por cerca de 60% da
geração de eletricidade no país, fatia que seria reduzida a 35% até 2030 por meio
da expansão das energias renováveis, incluindo a hidrelétrica e, sobretudo, a eólica
e a solar. Dos 14 GW adicionais previstos no plano, quase 10 GW seriam de fontes
limpas. Já o restante seria composto por gás natural, energia nuclear e hidrogênio.

A gestão do setor de energia representa um desafio significativo para atingir


as metas de emissões de gases de efeito estufa estabelecidas no Acordo de Paris,
visto que 53% das emissões do país provêm desse setor. Apesar dos desafios, o
plano visa transformar o setor energético de forma realista, considerando as
dificuldades socioeconômicas do país. O papel do financiamento, infraestrutura e
geração distribuída são aspectos cruciais do plano, que também promove a
transição para veículos elétricos e destaca a importância de uma "transição justa". O
governo também delineou projeções até 2050, visando uma matriz energética ainda
mais verde e uma maior adoção de veículos elétricos, com investimentos
substanciais.
Bibliografia

● EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA (EPE). A Indústria de Gás Natural na Argentina:


Panorama, perspectivas e oportunidades para o Brasil. Nota Técnica
EPE/DPG/SPG/04/2020. Disponível em:
https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/
publicacao-492/Nota%20Tecnica%20A%20Industria%20Gas%20Natural%20na%20Argentina
_Panorama%20perspectivas%20e%20oportunidades%20para%20o%20Brasil_DPG_SPG.pd
f. Acesso em 25 set. 2023.
● HERMETO, R.; DOLABELLA, C. BIOCOMBUSTÍVEIS NA ARGENTINA: POLÍTICAS
PÚBLICAS E EVOLUÇÃO RECENTE. [s.l: s.n.]. Acesso em: 27 set. 2023.
● BOLETÍN OFICIAL DE LA REPÚBLICA ARGENTINA. MINISTERIO DE ECONOMÍA
SECRETARÍA DE ENERGÍA, Resolución 517/2023.
Disponível em:
https://www.boletinoficial.gob.ar/detalleAviso/primera/289826/20230707

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