Abrir portas onde se erguem muros Director: David Pontes Sábado, 28 de Outubro de 2023 • Ano XXXIV • n.º 12.

• n.º 12.233 • Diário • Ed. Porto • Assinaturas 808 200 095 • 2€

Viagens Hora muda amanhã

Islândia, o assombro “A nossa fisiologia
da natureza responde ao sol,
em estado puro não ao relógio de pulso”
Fugas Ciência, 38/39

Médicos
REUTERS

Médio Oriente
Israel intensifica
ataques por terra e ar aceitam
para abrir caminho
à invasão de Gaza que redução
Opinião de António
Barreto, Pacheco Pereira
de horário e
e Bárbara Reis subida salarial
sejam faseadas
Destaque, 4 a 6 e Espaço Público

Governo pediu mais um dia para “para já”. Nova reunião marcada para
apresentar contraproposta à posição amanhã poderá ser decisiva para des-
conjunta dos sindicatos, que admitem bloquear negociações que se arras-
aumentos salariais de apenas 10% tam há 18 meses Sociedade, 18

TAP reabre tensão

entre Belém e São Bento
Marcelo critica opacidade na privatização Política, 16

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Habitação
Inquilinos terão
de aceitar maior
aumento em 30
anos nas rendas AINDA ACHA QUE
NÃO HÁ DEPÓSITOS
Salvo algumas excepções, a aplica-
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2 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023

Página dois

SEMANA SIM INQUÉRITO PÚBLICO PROVA DOS FACTOS

DANIEL ROCHA
António Câmara de Lisboa
Guterres
Ouvindo toda a vai gastar menos com
intervenção do a Web Summit, “se
secretário-geral
da ONU dificilmente se poderá
houver menos gente”?
dizer que Guterres escolheu um
lado da guerra. As reacções que A frase
obteve mostram um mundo em “O dinheiro que não for gasto,
que só o extremo vinga. se houver menos gente, será
devolvido ou não será pago.”
Carlos Moedas, presidente da
Marcelo Rebelo Câmara Municipal de Lisboa
de Sousa
O Presidente
alertou para o
risco dos ciclos
governativos curtos e a fechar a
semana pediu ao Governo para
refazer o diploma da privatização Parcialmente verdadeiro
da TAP. E fê-lo de forma clara ao
divulgar a carta a António Costa. O contexto
A Câmara de Lisboa aprovou
quarta-feira um financiamento de
Christine sete milhões de euros à edição
Lagarde deste ano da Web Summit, com
E, finalmente, ao votos favoráveis da coligação
fim de 15 meses, liderada por Carlos Moedas
a presidente do (Novos Tempos) e do PS.
Banco Central Europeu anunciou Os factos
que a subida das taxas de juro Na sequência de um tweet (na
parou. Pelo menos por agora. rede agora chamada X) de Paddy
Fê-lo, quando já todos os analistas Cosgrave sobre o conflito entre
o previam. Israel e a Palestina, várias
empresas inscritas na cimeira
Há um escrutínio maior sobre terrorismo islâmico e atacou tecnológica cancelaram a
Fernando posições dos partidos de indiscriminadamente civis presença em Lisboa, entre elas a
Araújo esquerda em matéria de política israelitas. Isto coloca a esquerda Google, Amazon e Meta
Não é certo se externa comparativamente com radical, no geral anti-Israel, numa (Facebook, WhatsApp e
será bem as posições assumidas por situação delicada. A resposta de Instagram). Perante o risco de
sucedido, mas o
director executivo do SNS usou o A esquerda partidos de direita?
É natural que o PCP seja o
Israel ao Hamas tenderá a
colocar a direita radical,
esta edição da Web Summit ter
menos empresas convidadas e
capital de credibilidade para
tentar pressionar para um acordo
radical, no principal “alvo” [do escrutínio],
porque tem ligações antigas com
particularmente, numa situação
mais complexa. Tudo depende
menos público e, mesmo assim, a
Câmara de Lisboa querer dar um
na saúde que permita retomar a
normalidade nas urgências.
geral a comunidade palestiniana. O
PCP considera-se um partido
do evoluir dos acontecimentos.
Mas a condenação destes
aumento de apoio ao evento
(mais 700 mil euros do que no
anti-Israel, irmão da antiga OLP. Quanto ao
Bloco, a situação é mais
ataques tem muito pouca
repercussão na sociedade
ano passado), Moedas deu uma
garantia: “Há uma novidade neste
SEMANA NÃO ficou numa complexa. Também não tem
nada que ver com o terrorismo
portuguesa, que se mobiliza
pouco por acontecimentos
contrato e nesta assinatura. O
dinheiro que não for gasto, se

Fernando
situação islâmico, mas defende um Estado
palestiniano independente.
internacionais distantes. Por
exemplo, a condenação da
houver menos gente, será
devolvido ou não será pago.” A
Medina
O ministro que
delicada Existe, no geral, uma clivagem
direita/esquerda e é natural que a
guerra na Ucrânia pelo PCP teve
grande impacto, mas no mundo
proposta aprovada diz que a
Associação de Turismo de Lisboa
apresentou um António direita radical estigmatize a mais activo politicamente. “apenas procederá ao pagamento
orçamento com esquerda radical sobre este Desde o início da guerra na de quaisquer verbas, a que nos
o tão esperado alívio no IRS conti- Costa Pinto, conflito [Israel-Hamas]. Temos Ucrânia e as críticas à posição do termos do contrato haja lugar,
nua isolado na subida do IUC que depois PS e PSD com uma PCP, houve maior escrutínio aos após efectiva demonstração das
nem os ambientalistas convence. politólogo posição mais equilibrada, que partidos de esquerda? E estes despesas incorridas pela CIL —
E ainda viu o dossier TAP envolto coincide com a atitude da sentem mais necessidade de Connected Intelligence Limited”.
em dúvidas estruturais. política externa portuguesa: reagir? E estipula ainda que “as verbas
condenação do terrorismo e um Não. O PCP não precisa de se não executadas e transferidas
apelo à proporcionalidade na justificar. Todo o mundo sabe para a Associação de Turismo de
Luís resposta de Israel. que, neste caso, o PCP é aliado Lisboa sejam devolvidas ao
Montenegro Exige-se maior coerência com do Governo palestiniano. As município”. Mas a cláusula não faz
Fica difícil valores humanistas à esquerda? preocupações da opinião pública qualquer referência ao número de
perceber a Sim, mas é natural. Falamos da são outras. À medida que o pessoas que deverão estar no
mensagem do esquerda radical, Bloco e PCP, número de mortos aumentar, evento, nem relaciona esse factor
líder do PSD, quando num dia o que tem um projecto ideológico face à reacção israelita, terá um com a execução ou não de
partido deixa o acordo sobre o que passa, no caso deste impacto que tenderá a fazer com despesas.
novo aeroporto tremido e no conflito, pela defesa do Estado que o PCP não precise de se Em resumo
outro sugere um pacto na saúde. palestiniano contra ataques de justificar. Irá até eliminar a A afirmação de Carlos Moedas é,
Israel. O Hamas é uma força estigmatização da esquerda. portanto, parcialmente
Por Marta Moitinho Oliveira terrorista associada ao Mariana Marques Tiago verdadeira. Samuel Alemão
NotíciasFlix
No círculo do Inferno
O
secretário-geral das
Grande Nações Unidas,
angular António Guterres,
teve uma frase infeliz,
pouco cuidadosa,
susceptível de
interpretações contraditórias,
erradas ou equívocas. A não ser,
António Barreto
evidentemente, que ele quisesse
dizer exactamente o que disse. Se
for esta última hipótese, o assunto é
mais grave e o tema mais
importante do que um mero deslize
de linguagem. Com efeito, tal
quereria dizer que o Hamas tem
explicação e motivos para fazer o
que faz. Ora, quem tem explicação
e motivos tem, sempre ou
frequentemente, desculpa.
O massacre de 7 de Outubro teria
assim as suas raízes nas decisões
das Nações Unidas de 1947, na
opressão israelita, na desigualdade
social, nos colonatos e na pobreza
do povo palestiniano. O que quer
dizer que, além do Hamas, também
o Hezbollah, a Jihad, a Al-Qaeda, o
Irão e a Síria têm desculpa e
justiÆcação. O que signiÆca que
também a Alemanha nazi, os
Estados Unidos, Israel, a Rússia, o
Congo e o Ruanda têm explicação e
justiÆcação. O que se aplicaria
ainda a Hitler, Mengele, Eichmann,
Estaline, Mao Tsé Tung e Pol Pot. O
que nos ajuda a perceber as causas
do comportamento de Al Capone,
Pablo Escobar e Jack, o Estripador.
De acordo com o argumento
inicial, toda esta gente, todos estes
povos e os respectivos governos
foram sempre meros agentes
históricos, veículos sociais,
protagonistas involuntários, sem
O massacre de responsabilidades pessoais, sem
culpas de partido ou de grupo, sem
7 de Outubro não livre escolha dos seus actos. Todos
tem justiÄcação os comportamentos sociais e
políticos teriam assim justiÆcação.
nem desculpa. O que é diferente de explicação. O
É um acto de pura que diminui a culpa e a autoria. E
reduz as responsabilidades.
agressão e de Evidentemente, não deveria ser
mortandade. necessário dizê-lo, tudo tem as suas
origens e as suas causas. Como
Como tal tem tudo tem o seu contexto e a sua
de ser julgado circunstância. Cada momento da
história de um povo tem as suas
grandezas e as suas misérias. Mas
Globalmente, nada permite que as glórias e os
sofrimentos passados justiÆquem e
no universo desculpem os crimes de hoje, as
das rivalidades, agressões, os massacres e as
violações do direito internacional.
no panorama O massacre de 7 de Outubro não
das relações tem justiÆcação nem desculpa. É
internacionais,
um acto de pura agressão e de
mortandade. Como tal tem de ser
estou do lado julgado. A responsabilidade não é
de 100 anos de pobreza
de Israel palestiniana, nem de 50 de
colonatos. É, sim, das escolhas e
das decisões dos dirigentes do
Hamas e dos seus aliados.
Compreende-se a reacção de
Israel, que pretende justamente
liquidar um movimento político
que proclama a destruição de um
Estado e de um povo. Mas, pela
mesma ordem de ideias, não se
compreende que esse mesmo
Estado recorra a meios
condenados pelo direito
internacional, tal como o
bombardeamento sistemático de
populações. Não por causa do
passado, nem da história, nem do
contexto. Mas simplesmente por
causa da humanidade e da vida.
Nem um nem outro se justiÆcam. A
pobreza não desculpa o 7 de
Outubro. Como os pogroms não
G
perdoam o bombardeamento.
lobalmente, no
universo das
rivalidades, no
panorama das
relações
internacionais, estou
do lado de Israel. Não porque esteja
sempre de acordo com os seus
governos. Não porque aceite tudo
quanto fazem. Também não por
tudo o que são e defendem. Nem
por serem brancos. Nem ainda por
terem sido vítimas de perseguições,
de expulsões e de massacres. Mas
apenas e tão-só porque, tudo
somado, Israel está mais do lado da
liberdade e da democracia do que
os outros países seus rivais,
adversários e inimigos. Em caso de
divergência e luta, não é a cor da
pele, a religião, a tradição, a etnia e
a língua que me fazem tomar
partido ou simpatizar com uns, em
detrimento de outros. É o lado da
liberdade e da democracia. Em
caso de conÇito, nenhum critério,
pele, língua, etnia ou religião, me
faz tomar partido por um qualquer
país, em qualquer parte do mundo,
Rússia, China, América ou África.
Mas a democracia, sim.
Não tenho dúvidas: em última
instância, Israel fará sempre mais
pela democracia do que o Hamas, o
Hezbollah e os governos do Irão, da
Síria ou da Rússia. Como também
não tenho dúvidas em condenar a
política do governo de Israel e de
Netanyahu relativamente aos
colonatos, ao reconhecimento do
Estado da Palestina e ao embargo
contra Gaza. Mesmo assim, estas
políticas não são argumento
suÆciente para ter uma qualquer
simpatia por quem quer destruir o
Estado de Israel. E nem mesmo a
compaixão pela sorte do povo da
Palestina me faz acreditar no
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 3
IMPORTA-SE DE REPETIR?
A emoção começa
Hamas e desejar a extinção de a triunfar sobre
Israel. a razão
Mais do que uma moda, é um
Marcelo Rebelo de Sousa,
vício do pensamento. Tudo
Presidente da República,
justiÆcar pelo contexto, tudo
sobre a reconfiguração
explicar pelas origens e pelas
dos sistemas políticos
causas, tudo desculpar pelo
sofrimento de alguém. O assassino
é Ælho de alcoólico, os seus actos
necessitam ser compreendidos
pela condição paterna. O ladrão
cresceu na barraca, os seus gestos
compreendem-se pela origem
Os ataques
social. O desordeiro nasceu numa
colónia, a sua conduta tem essa
explicação. O traÆcante de droga é
Ælho de pais divorciados, a falta de do Hamas
amor explica as suas acções. O
violador é de uma família de não surgiram
capitalistas, os seus procedimentos
têm essa justiÆcação. O activista do nada
viveu sob domínio, pode cometer António
actos de terrorismo. Guterres
Vítimas da colonização, da Secretário-
prisão dos pais, da etnia de origem, -geral
da condição da família, dos bairros da ONU
de nascimento, da falta ou do
excesso de religião dos
progenitores, tudo é invocado para
explicar e justiÆcar. As escolhas de
cada um, indivíduo, grupo,
comunidade ou povo, têm sempre
explicação e justiÆcação. O crime é
Ælho da miséria, da pobreza e da
submissão. A violência é o
resultado directo da desigualdade.
Um povo historicamente A nossa economia
perseguido tem o direito de
perseguir outros. Uma comunidade
é um Fiat 500
submissa tem autoridade para Óscar Afonso,
destruir outras. Noutras palavras economista
ainda: as opções de cada um não
são as opções de cada um, são o
resultado das origens. Os gestos A primeira medida
dos indivíduos, das classes e dos que o BE devia
povos não são as suas decisões
livres, mas tão-só os resultados dos propor era a
processos históricos, das condições eliminação do
sociais e dos percursos de vida.
Este é o reino da indiferença, da imposto Mortágua
Luís Menezes Leitão,
ausência de lei, da incerteza da
responsabilidade e da presidente da Associação
marginalização dos indivíduos. Lisbonense de Proprietários
É também o reino da
neutralidade, doença da
humanidade, tal como diria Dante: Governo e
é o local mais quente do Inferno,
mais insuportável, reservado para
patronato não
os neutros, para os que escolheram podem ter
a neutralidade em tempos de crise
e de confronto. Reservado também
lágrimas de
para os obcecados com o crocodilo
compromisso. Não
necessariamente o equilíbrio
Isabel Camarinha,
secretária-geral da CGTP
razoável, mas o compromisso entre
tudo e todos. Ora, não há
equidistância entre paz e guerra. Tenho de me
Entre democracia e ditadura. Entre
liberdade e totalitarismo. portar bem
Américo Aguiar,
Sociólogo bispo de Setúbal
4 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Destaque Conflito no Médio Oriente
Israel intensifica
operações em
Gaza para abrir
caminho à invasão
Expansão das operações terrestres e aumento dos
bombardeamentos no enclave levam conÅito para outra fase.
Nações Unidas apelam, em resolução, a trégua humanitária,
com os votos contra de Israel e dos EUA
Maria João Guimarães
e Paulo Narigão Reis
C
om muitas dúvidas se estaria
já a acontecer a tão esperada
ofensiva terrestre em larga
escala, Israel expandiu
ontem as operações militares
na Faixa de Gaza, culminan-
do um dia em que se intensiÆcaram
os bombardeamentos sobre o enclave
e foram cortados os serviços de inter-
net e de comunicações móveis no
território.
“Nas últimas horas, intensiÆcámos
os ataques em Gaza”, disse o contra-
almirante Daniel Hagari numa confe-
rência de imprensa transmitida em
directo pela televisão. “Para além dos
ataques levados a cabo nos últimos
dias, as forças terrestres estão a
expandir as suas operações esta noi-
te”, anunciou Hagari, referindo que
a força aérea estava a levar a cabo
“ataques extensos” à rede de túneis
e outras infra-estruturas no interior
de Gaza. Mais tarde, o porta-voz das
Forças de Defesa de Israel (IDF), Peter
Lerner, aÆrmou que a operação se
destinava a “criar melhores condi-
ções” para as operações no terreno.
“Por isso, estamos à procura das
capacidades antitanque do inimigo,
estamos a destruir postos de obser-
vação e estamos a enfrentar os terro-
ristas onde os encontramos, seja nas
linhas da frente ou na periferia de
Gaza”, adiantou Lerner, escusando-se
a facultar pormenores devido a “preo-
cupações operacionais”.
Ao mesmo tempo que Israel inten-
siÆcava as suas acções militares, a
Assembleia Geral das Nações Unidas
apelava, por esmagadora maioria, a
uma trégua humanitária imediata em
Gaza. A resolução, que foi redigida
por Estados árabes, foi aprovada com
120 votos a favor (entre os quais o de
Portugal), 45 abstenções e 14 votos
contra, incluindo Israel e EUA.
Para não haver dúvidas das inten-
ções de Israel, Mark Regev, conselhei-
ro do primeiro-ministro israelita,
Benjamin Netanyahu, aÆrmou, numa
entrevista à cadeia CNBC, que Israel
“iniciou a sua vingança contra o
Hamas pelos seus crimes contra a
humanidade”. Pouco antes, o mesmo
Regev, em declarações à Fox News,
dissera que “quando isto acabar, Gaza
será muito diferente”.
A notícia da expansão da operação
militar foi recebida com cautela em
Washington e com indignação no
mundo árabe. O porta-voz do Conse-
lho de Segurança Nacional da Casa
Branca, John Kirby, não revelou se os
EUA foram informados previamente
por Israel, mas adiantou que foram
colocadas “questões difíceis” ao
governo de Benjamin Netanyahu.
“Quais são os objectivos? Qual é a
estratégia? Como e quando é que isto
vai acabar? Porque, mais uma vez,
aprendemos com a nossa própria
experiência que é preciso fazer essas
perguntas”, aÆrmou Kirby.
“Desde o início, mantivemos e con-
tinuaremos a manter conversações
com Israel sobre a forma como está a
fazer isto. E não temos sido tímidos
em expressar as nossas preocupações
relativamente às baixas civis, aos
danos colaterais e à abordagem que
possam escolher. É isso que os amigos
podem fazer, e nós somos amigos”,
acrescentou John Kirby, garantindo
que os EUA não traçaram quaisquer
“linhas vermelhas” para Israel.
O mesmo porta-voz disse, no entan-
to, que os EUA continuam a apoiar
uma pausa nas operações militares
israelitas em Gaza para que a ajuda
Tanques israelitas na
vizinhança da Faixa de Gaza,
à espera da operação
terrestre no enclave
humanitária, o combustível e a elec-
tricidade cheguem aos civis, ao mes-
mo tempo que prosseguem as nego-
ciações para a libertação dos mais de
200 reféns que o Hamas mantém no
enclave.
“Os EUA apoiam absolutamente
uma pausa localizada e temporária
nos combates se for isso que é neces-
sário para retirar os reféns”, adiantou
Kirby.
A Jordânia, país vizinho de Israel,
disse que a invasão terrestre de Gaza
seria uma “catástrofe humanitária de
proporções épicas”, escreveu o minis-
tro dos Negócios Estrangeiros, Ayman
Safadi, na plataforma X (o antigo
Twitter). A mesma palavra, catástro-
fe, foi usada pela Arábia Saudita.
Segundo o New York Times, responsá-
veis sauditas avisaram a Administra-
ção norte-americana disso mesmo.
“Um funcionário da Administração
Biden disse que era evidente que os
sauditas não queriam uma invasão
israelita de Gaza”, escreve o jornal
norte-americano.
Em Nova Iorque, com os receios
crescentes de que o conÇito possa
desencadear uma guerra mais vasta
no Médio Oriente, a Assembleia Geral
da ONU sublinhou a “importância de
evitar uma maior desestabilização e
uma escalada de violência na região”
e apelou a “todas as partes para que
exerçam a máxima contenção e a
todos os que têm inÇuência sobre elas
para que trabalhem para este objec-
tivo”. A Assembleia Geral apelou tam-
bém a Israel para que anulasse a
ordem dada aos civis de Gaza para se
deslocarem para o Sul do enclave,
rejeitando “Ærmemente quaisquer
tentativas de transferência forçada da
população civil palestiniana”.
Preparar a invasão
A entrada de carros de combate e tro-
pas israelitas na Faixa de Gaza para
uma incursão limitada foi vista por
alguns analistas como um teste, ou
como uma de várias operações que
poderão suceder-se antes da espera-
da grande incursão terrestre – uma
operação que o primeiro-ministro
israelita, Benjamin Netanyahu, tem

dito que vai avançar, só não dizendo
quando, e sobre a qual se avolumam
dúvidas. Este sábado passam três
semanas sobre o ataque do Hamas
contra o Estado hebraico.
“Esta não é uma guerra que tenha
sido escolhida, é uma guerra exis-
tencial para a nossa sobrevivência
nesta terra”, escreveu o jornalista do
diário Haaretz (liberal) Amos Harel,
falando sobre o que poderá seguir-se
no terreno.
O analista Thomas L. Friedman,
que já foi correspondente do New
York Times em Israel (e no Líbano),
sublinha que Israel tem de mostrar
aos seus adversários que mantém a
capacidade para responder em larga
escala a qualquer ataque. “Não nos
vão ultrapassar na loucura” é o mote
do Estado hebraico para os inimigos
regionais.
Esse mote foi demonstrado, por
exemplo, na guerra com o Líbano
em 2006, em que o rapto, pelo
movimento xiita libanês Hezbollah,
de dois soldados israelitas levou a
um ataque israelita sobre o Líbano
de tal dimensão que o xeque Hassan
Nasrallah disse que se imaginasse a
dimensão do ataque não teria orde-
nado a captura dos soldados.
Mas este restaurar da dissuasão
com a operação no Líbano acarretou
um grande custo para Israel, e a guer-
ra não teve a vitória que seria espera-
da. Houve demasiadas baixas israeli-
tas: 119 soldados entre 165 mortes em
Israel (no Líbano, morreram mais de
mil pessoas). Uma comissão de inqué-
rito ao que falhou do lado de Israel
apontou erros aos militares. Houve
quem argumentasse que isso aconte-
ceu porque seria impossível cumprir
a expectativa criada.
O que se pode repetir nesta guerra:
será que a expectativa criada, de “aca-
bar com o Hamas”, não é demasiado
elevada? Ou que, a ser conseguida,
não terá um enorme custo em vidas
de soldados israelitas? E há, além dis-
so, um custo em vidas de palestinia-
nos, com os civis na Faixa de Gaza a
viver uma situação de desespero
total, sem locais seguros onde se abri-
gar dos bombardeamentos e com a
vida ameaçada pela falta de electrici-
dade e combustível para ter geradores
a manter o funcionamento de hospi-
tais e estruturas essenciais como a
central de dessalinização para que
haja água potável. A cada dia de cerco
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 5
ATEF SAFADI/EPA
a Gaza, Israel poderá ver diminuir o
apoio a uma invasão.
Menor apoio
O adiar da operação tem, por outro
lado, a vantagem de deixar espaço
a negociações para libertação de
mais reféns (depois da libertação de
duas reféns com dupla nacionalida-
de, e depois de duas israelitas, cria-
ram-se expectativas de que pudesse
estar a ser negociada uma libertação
de um grupo maior de reféns, pelo
menos crianças, idosos e mulheres),
e permitir ainda aos Estados Unidos
deslocar mais meios para a região
para responder ao risco de escala-
da, caso o Hezbollah abra uma fren-
te a norte.
Mas tem uma grande desvantagem:
quanto tempo será possível ter solda-
dos e reservistas mobilizados no sul
em prontidão (estima-se que sejam
300 mil) à espera de entrar na Faixa
de Gaza, numa altura em que se apro-
funda uma crise de conÆança no
Governo (que não está a conseguir
responder a problemas básicos como
tratar dos deslocados das comunida-
des evacuadas quer do sul, perto da
Faixa de Gaza, quer do norte, perto
do Líbano)?
O diário Maariv publicou esta sex-
ta-feira uma sondagem em que 29%
dos inquiridos defendiam avançar já
com uma ofensiva terrestre de larga
escala, mas 49% defendiam que era
melhor esperar (22% estavam indeci-
sos). Na semana anterior, apontava o
jornal, 65% eram favoráveis a uma
ofensiva imediata.
No podcast Rational Security, do
site Lawfare, que tem o apoio da Broo-
kings, Alan Rozenshtein, especialista
em direito e em segurança nacional
dos EUA da Universidade do Mineso-
ta, aÆrmou que via mesmo a possibi-
lidade de se estar a fechar a janela
para uma grande incursão, e que
havia uma hipótese de “a invasão ser
muito diferente daquilo que foi pre-
visto” a 7 de Outubro.
Não se vencem O elemento surpresa
“A questão é como surpreender
contra-insurreições quando o elemento de surpresa já
num ano ou dois. não existe”, resumia o antigo jorna-
lista do Haaretz Yossi Melman, espe-
Leva habitualmente cialista em serviços secretos e de
informação, na rede social X. Para
uma década ou Melman, a incursão de quarta-feira
à noite foi um teste, reforçada pela
mais, como vimos no que se seguiu na noite seguinte, para
Iraque, como vimos a capacidade de uso de forças com-
binadas para atacar alvos do Hamas
no Afeganistão e testar a sua defesa.
As incursões mais limitadas que
David Petraeus precederam as desta semana tinham
General dos EUA tido o objectivo de recolher informa-
ção sobre alvos do Hamas e sobre os
mais de 200 reféns – que, no entanto,
ninguém espera que possam ser res-
gatados por operações de forças espe-
ciais. Os reféns acrescentam uma
camada de complexidade a um ata-
que a um inimigo que certamente se
preparou para a resposta israelita,
num terreno onde os carros de com-
bate podem ser alvo de explosivos
lançados por drones, e onde os solda-
dos terão de sair dos tanques para
combates casa a casa e ainda entrar
nos túneis subterrâneos do Hamas.
Uma refém libertada na segunda-
feira, a israelita Yocheved Lifshitz,
referiu-se aos túneis para onde foi
levada como uma “teia de aranha”.
“É uma cidade subterrânea de
túneis ao pé dos quais os túneis dos
‘vietcong’ eram uma brincadeira de
crianças”, disse uma fonte regional
à Reuters. “Não vão conseguir acabar
com o Hamas com carros de comba-
te e disparos.”
Durante anos, após a sua retirada
de Gaza em 2015, Israel levou a cabo
operações contra o Hamas, no que
chamava “cortar a relva”: atingir as
suas capacidades, diminuindo-as,
matando alguns comandantes, até
ao round seguinte. Nos conÇitos
anteriores com o Hamas – 2008/9,
2012, 2014 e 2021, com incursões no
território em dois deles – morreram
quase 4000 palestinianos e cerca de
100 israelitas (a maior parte, 67,
foram militares mortos na incursão
de 2014). Nenhuma destas operações
acabou com uma vitória decisiva.
“Todas as campanhas militares na
Cisjordânia, Faixa de Gaza e no Sul
do Líbano nas últimas décadas aca-
baram num ponto de estagnação”,
disse ainda Amos Harel.
“Não há opções boas”
E é por isso que vários especialistas
estão a avisar Israel de que arrisca
muito com uma incursão num terre-
no tão adverso. “Se eles [o Hamas]
forem tão criativos na defesa como
foram naquele ataque horrível, bár-
baro e indescritível, então vai haver
bombistas suicidas, explosivos
improvisados, emboscadas, armadi-
lhas, e o cenário urbano não podia
ser mais desaÆador”, disse ao Politi-
co o general David Petraeus, que
comandou forças americanas no
Afeganistão e Iraque.
“É difícil imaginar um cenário mais
difícil do que este, e eu já comandei
forças numa série de operações urba-
nas”, declarou Petraeus. Mais: “Não
se vencem contra-insurreições num
ano ou dois. Isso leva habitualmente
uma década ou mais, como vimos no
Iraque, como vimos no Afeganistão.”
Há ainda a questão de o Hamas não
ser apenas uma organização armada:
é um movimento nascido de acções
de apoio à população, com uma ala
armada e uma política, e implantação
na sociedade.
O que faria Israel depois de “acabar
com o Hamas”? “Não há plano para
o dia seguinte”, aÆrmou a analista
Janice Stein, da Monk School of Global
Aèairs and Public Policy da Universi-
dade de Toronto, à emissora canadia-
na CBC. “E sim, é o velho adágio, é tão
fácil entrar, especialmente quando se
tem um público tomado pela raiva,
mas é impossível sair. Por isso é que
digo que não há quaisquer opções
boas [para Israel].”
6 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Destaque Conflito no Médio Oriente
Diplomacia
União Europeia unida em Bruxelas
e dividida em Nova Iorque
Rita Siza, Bruxelas
A
unanimidade dos Estados-
membros e a posição
comum da União Europeia
sobre a a guerra entre Israel
e o Hamas, expressa há duas
semanas numa declaração
conjunta dos 27 chefes de Estado e
governo, e agora reforçada nas con-
clusões do Conselho Europeu sobre
a crise no Médio Oriente, parece ter
um prazo de validade e um alcance
limitado, que não se transfere para
outras organizações multilaterais.
Depois de terem conseguido defi-
nir um mínimo denominador comum
para demonstrar uma voz única de
“profunda preocupação com a dete-
rioração da situação humanitária em
Gaza”, e de apelo a que “o acesso e a
ajuda humanitária continuem a pro-
cessar-se de forma rápida, segura e
sem entraves, através de todas as
medidas necessárias, incluindo cor-
redores e pausas humanitárias”, os
Estados-membros preparavam-se
para quebrar a unidade e reassumir
as suas (divergentes) posições nacio-
nais na votação de um projecto de
resolução apresentado pela Jordânia
à assembleia geral das Nações Unidas,
com o apoio do Egipto, Omã e Emira-
dos Árabes Unidos.
O acordo fechado pelos 27, ao Æm
de mais de cinco horas de discussão
sobre as diferenças entre a expressão
“pausa humanitária” e “pausas para
Æns humanitários”, não só se esten-
deu à ONU, como não durou sequer
24 horas: no Ænal da reunião do Con-
selho Europeu, os líderes já voltavam
a falar em cessar-fogo, pausas e tré-
guas, conforme consideravam mais
adequado “Muito sinceramente, ten-
do em conta a situação [em Gaza], o
que é preciso é uma trégua humani-
tária”, defendeu o Presidente francês,
Emmanuel Macron.
Talvez o líder gaulês já estivesse a
pensar no resultado da votação do
projecto apresentado pela Jordânia,
que inclui um apelo a uma “trégua
humanitária imediata, duradoura e
sustentada”, e uma “exigência” de
que todas as partes envolvidas no
conÇito na Faixa de Gaza cumpram o
direito humanitário internacional, e
assegurem o abastecimento de “con-
tínuo, suÆciente e sem obstáculos” de
bens essenciais ao enclave palestinia-
no.
Uma formulação praticamente
idêntica à do texto que foi adoptado
pelos 27, não fosse a palavra que um
conjunto de países, com a Alemanha
à cabeça, se recusam a aceitar, com o
argumento de que apelar a uma tré-
gua — ou um cessar-fogo humanitário,
Ursula von der Leyen e Charles Michel após o Conselho Europeu
como pediu o secretário-geral da
ONU, António Guterres — correspon-
deria a interferir no direito de Israel
a defender-se da ameaça do Hamas.
No Æm do Conselho Europeu, o
primeiro-ministro, António Costa,
lembrou que os países da UE partem
de “experiências históricas bastante
distintas relativamente a Israel e ao
povo de Israel, que condicionam mui-
to a forma como se posicionam no
actual contexto” de crise. Alguns
“não só defendem o cessar-fogo,
como entendem mesmo aÆrmar que
o cerco [israelita à Faixa de Gaza],
com o corte da energia eléctrica e do
abastecimento de água, é uma viola-
ção do direito internacional”, enquan-
to outros insistem que “o direito de
defesa de Israel não deve ser condi-
cionado com nenhum mas” e que a
UE não tem nada que recordar ao
Estado judaico “quais são as suas
obrigações internacionais”.
O primeiro-ministro preferiu rele-
var “o esforço que todos os líderes
Æzeram, a partir de diferentes posi-
ções, para haver uma posição
comum” do Conselho Europeu — ain-
da que essa unidade se esfume na
votação da resolução da ONU. “Pro-
vavelmente os 27 Estados-membros
não votarão todos da mesma manei-
ra”, admitiu Costa, que considerou
A prioridade nesta
fase deve passar por
assegurar “uma
trégua humanitária”,
defendeu Emmanuel
Macron, Presidente
francês
JOHANNA GERON/REUTERS
“natural” que noutros fóruns “onde
cada um aÆrma por si próprio a sua
posição nacional, o faça de acordo
com as suas convicções e sem qual-
quer restrição”. Isso mesmo acabou
por se veriÆcar, sendo que dos 27 da
UE só sete votaram a favor da resolu-
ção, incluindo Portugal. Áustria,
Croácia e República Checa votaram
contra e os restantes abstiveram-se.
Costa até recordou que, tal como
em relação ao conÇito israelo-pales-
tiniano, também existem “diferentes
sensibilidades” entre os Estados-
membros sobre a guerra na Ucrânia,
mas isso não põe minimamente em
causa a unidade da UE e a sua deter-
minação em ajudar Kiev. “Trata-se de
um plano imperialista de Putin, que
não deve ser bem-sucedido. É por
isso que estamos Ærmemente ao lado
da Ucrânia e continuamos a apoiá-la
com ajuda humanitária, Ænanceira e
com o fornecimento de armas”, sub-
linhou o chanceler da Alemanha, Olaf
Scholz, acrescentando que a crise no
Médio Oriente não desviará as aten-
ções de Bruxelas.
Na habitual ligação com o Presiden-
te da Ucrânia, Volodymyr Zelensky,
os líderes garantiram não haver “fadi-
ga” da guerra, e pediram à Comissão
Europeia para acelerar os preparati-
vos do 12.º pacote de sanções, que
incluirá restrições adicionais às
exportações, nomeadamente de dia-
mantes com origem na Rússia.
Apesar das garantias de “apoio ina-
balável” por parte da UE, antevêem-
se diÆculdades nas negociações a 27
das propostas para reforçar as trans-
ferências Ænanceiras para Kiev. A
constituição de um novo mecanismo
de Ænanciamento no âmbito do orça-
mento comunitário, através de uma
reserva de 50 mil milhões de euros,
corre o risco de ser bloqueada pela
Hungria e a Eslováquia.
A reação desproporcional
de Israel contra Guterres
Opinião
Pedro Latoeiro
e Filipe Domingues
F
altavam poucas semanas para
Guterres iniciar funções
como secretário-geral da
ONU quando Ænalmente foi
recebido, em dezembro de
2016, por Barack Obama. Na
Casa Branca, o Presidente
deixou-lhe dois conselhos: investir
nas relações com o Congresso — e
não se meter com Israel.
Poucos dias mais tarde, contudo,
a mesma Administração americana
lançaria o caos na ONU, ao abster-se
numa resolução do Conselho de
Segurança que condenava Israel
por “flagrante violação do direito
internacional” nos “territórios
palestinianos ocupados”.
Também Guterres ficou debaixo
da mira, pois a mensagem que tinha
passado para o mundo era: Nações
Unidas criticam Israel. Conhecendo
o historial das polémicas com a
organização — Israel é o Estado com
maior número de condenações pelo
Conselho dos Direitos Humanos —,
Guterres teria de socorrer-se apenas
do seu próprio capital político.
Enquanto primeiro-ministro,
visitara a Sinagoga Portuguesa de
Amesterdão; o seu Governo
evocara, no Parlamento, os 500
anos do decreto de expulsão dos
judeus e mandara investigar as
suspeitas de que Portugal teria
importado ouro nazi.
Enquanto presidente da
Internacional Socialista, Guterres
liderara uma organização da qual
faziam parte o partido de Shimon
Peres e a Fatah, tendo chegado a
propor que a região desse um passo
no sentido da integração, seguindo
o modelo da Organização para a
Segurança e Cooperação na
Europa. Com efeito, a sua posição
sobre o conflito israelo-palestiniano
pouco ou nada mudou, desde os
tempos em que colava cartazes de
campanha de Mário Soares. Sempre
defendeu a solução dos dois
Estados. Sempre combateu o
antissemitismo. Sempre condenou
os colonatos israelitas.
Já como secretário-geral,
aproveitou o Dia Internacional de
Comemoração em Memória das
Vítimas do Holocausto para
reconhecer a origem judaica do
Monte do Templo em Jerusalém, o
que lhe valeu uma onda de críticas
do mundo árabe. Mais
recentemente, foi homenageado
pelo Congresso Mundial Judaico,
por ser “um amigo verdadeiro do
Estado de Israel”.
Estas credenciais ajudam a
enquadrar a desproporcionalidade
do pedido de demissão de Guterres,
uma demanda quase inédita nos 78
anos de história da ONU.
A desproporcionalidade Æcou
também patente no facto de
nenhum dos demais 192
Estados-membros ter respaldado a
leitura do embaixador de Israel. Por
mais que a escolha de palavras, no
atual contexto, tenha sido infeliz,
ninguém alinhou na tentativa de
entender a frase do secretário-geral
como desculpabilização do
terrorismo.
A interpretação que hoje parece
consensual é antes a seguinte:
tratou-se de um incidente
diplomático, sim, mas inÇamado
para consumo interno da sociedade
israelita, radicalizada pelo ataque
terrorista do Hamas. De facto, no
terreno, apesar de todas as
ameaças, nada parece ter mudado
entre ONU e autoridades israelitas.
No dia seguinte ao discurso de
Guterres, o seu porta-voz garantiu:
“[Em Jerusalém,] os meus colegas
continuam a manter contactos a
todos os níveis com as contrapartes
do Governo.”
De qualquer forma, o episódio
deixa marcas. Reduz a capacidade
de atuação do secretário-geral,
nomeadamente na denúncia das
violações do direito internacional
humanitário. Obrigará a um
acompanhamento mais
resguardado, a partir de Nova
Iorque, por parte do português, que
tão cedo não deverá voltar à região,
cedendo a palavra a Æguras como o
chefe para os Assuntos
Humanitários.
Pode, por outro lado, enfraquecer
iniciativas políticas de Guterres,
como a Nova Agenda para a Paz ou a
Cimeira do Futuro, assim como
acentuar a paralisia do Conselho de
Segurança e diminuir a atenção — e
os recursos — disponíveis para
outros conÇitos ativos no mundo.
Para já, seria do interesse de
todas as partes, mas sobretudo da
equipa de Guterres: trocar o
imediatismo dos microfones pela
discrição dos canais diplomáticos;
trabalhar com a Administração
Biden para baixar a temperatura; e
esperar que a pressão internacional,
nomeadamente da Assembleia
Geral da ONU, facilite a entrada
contínua de ajuda humanitária em
Gaza e a libertação de reféns.
Autores da biografia de Guterres
O Mundo Não Tem de Ser Assim
 Falemos de queijos a sério

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8 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023

Espaço público

Salvar o SNS em contra-relógio

P
ressionado pelo Presidente
Editorial da República, pressionado
pelo director executivo do
SNS, pressionado pelo
próprio PS, o Governo está
num autêntico contra-relógio a tentar
Ærmar um acordo com os sindicatos
Helena Pereira dos médicos antes que Novembro se
torne no maior pesadelo da saúde,
do ministro e de todos os utentes do
SNS.
No último minuto, o Ministério da
Saúde aceitou refazer a sua proposta
inicial para resolver a falta de
médicos nas urgências hospitalares e
deu um sinal de aproximação aos
sindicatos, ao comprometer-se a
enviar-lhes hoje uma contraproposta,
O sentido de urgência condição essencial para as duas
de uma solução para as partes voltarem a sentar-se amanhã à
horas extraordinárias mesa .
dos médicos parece Aquela que estava para ser a última
reunião negocial não terminou com a
encaminhar as duas corda partida. Aliás, Manuel Pizarro
partes para um acordo assumiu no final do encontro que “há
iminente vontade de chegar a acordo o mais
depressa possível”, o que é novo ao
Æm de 18 meses de impasse nas
negociações, mas não é alheio ao
facto de Fernando Araújo ter deixado
nesta segunda-feira um apelo
lancinante em entrevista ao
PÚBLICO: as urgências estão à beira
do precipício e Novembro pode vir a
ser “o pior mês de sempre” no SNS.
Já se percebeu que o Governo está
disposto a aceitar algumas propostas
dos sindicatos desde que haja uma
monitorização ou reavaliação do
impacto na produtividade em
contínuo — o tipo de solução que os
ministros das Finanças gostam para
evitar assumir compromissos ad
aeternum.
O Presidente da República, por seu
lado, continua a fazer pressão, umas
vezes mais publicamente, outras nos
bastidores. Promulgou esta semana
dois diplomas (dedicação plena e
generalização das unidades de saúde
familiar modelo B), embora com
várias “dúvidas e reticências”, só
para não atrasar mais o processo. E,
ao mesmo tempo, reuniu-se com o
líder do PSD, Luís Montenegro, que
defendeu em Belém um acordo
nacional para a saúde.
Se a abertura do Governo a
cedências parece evidente, o clima
dos últimos dias também mostra
como do lado dos sindicatos o
agudizar da tensão está a deixar
desconfortáveis muitos médicos e até
dirigentes sindicais, como foi o caso
da renúncia do sócio número 1 do
Sindicato dos Médicos do Norte, o
neurologista Rosalvo Almeida,
precisamente por sentir “vergonha”
de “sucessivas greves” levadas a cabo
“em desrespeito pelos doentes”.
O sentido de urgência de uma
solução para as horas extraordinárias
dos médicos parece encaminhar as
duas partes para um acordo
iminente. Restará, depois, ter a
certeza de que Æca assim resolvida a
emergência das urgências
hospitalares.

CARTAS AO DIRECTOR
Diplomacia
vs. princípios
António Guterres tem sido criticado
por diferentes quadrantes quanto
ao seu discurso referente à guerra
Hamas-Israel. Antes de mais, é de
salientar que foi um dos mais
brilhantes alunos que passaram
pelo Instituto Superior Técnico, em
Lisboa, com classiÆcações de 19 e 20
a disciplinas como Matemática e
Física, o que demonstra a sua
excepcional inteligência, tendo
inclusive sido várias vezes
convidado para ser professor
daquela instituição. Foi nessa fase
da sua vida académica que, tendo
aderido ao Partido Socialista,
decidiu dedicar a sua vida à defesa
dos direitos humanos, mas também
sempre orientando as suas acções
pela doutrina social da Igreja
Católica. Depois de passar por um
período dedicado à política em
Portugal, pretendeu rumar para a
ONU crente de poder tornar, de
algum modo, o mundo mais
solidário e cumpridor dos direitos
humanos. E tem sido este o seu
caminho naquela organização nos
diversos lugares que tem ocupado,
nomeadamente como
secretário-geral. As suas fortes
convicções têm predominado sobre
o “politicamente correcto”, ou seja,
fez sempre prevalecer os princípios
à diplomacia. Foi o que aconteceu
no seu discurso sobre esta terrível
guerra entre Israel e o Hamas.
Acima de tudo, o que defende é o
total respeito pela vida humana e a
luta contra todo e qualquer
radicalismo que apenas consegue
gerar ódio e que nada mais provoca
do que mais guerra.
António Barbosa,
Porto
A guerra dos judeus
Aconselhava os senhores jornalistas
a lerem A Guerra dos Judeus, de
Flávio Josefo, escritor judeu que se
passou para os romanos no século I
da nossa era. (…) Já nessa altura, a
Galileia e a Judeia se revoltaram
contra os conquistadores romanos.
Tudo se passou com relativa
facilidade até os romanos chegarem
a Jerusalém, a cidade sacrossanta
dos judeus onde brilhava o
magníÆco Templo de Salomão. Aí, a
luta feroz com os romanos faz-me
lembrar o cerco a Gaza e os horrores
do Hamas no território israelita. Por
mais propostas de negociações que
os romanos quisessem estabelecer
com os judeus cercados, estes
mantiveram-se intransigentes. Tito,
Ælho do imperador romano
Vespasiano, tentou tudo para que os
judeus negociassem a rendição,
uma vez que a Galileia e a própria
Judeia já estavam nas mãos dos
romanos, que as tinham paciÆcado.
A luta entre romanos e judeus foi
longa e horrorosa, com
mortandades de todos os lados. E
assim começou a dispersão dos
judeus até à constituição do Estado
de Israel. Mas agora a luta é entre os
palestinianos e os israelitas, com os
horrores a que estamos a assistir em
directo. (…) Como dizia Salomão,
“nihil novi sub sole” — nada de novo
debaixo do sol. Passados 2000
anos, os horrores da guerra
repetem-se, com os homens a não
aprenderem nada com a História.
(…) Será possível a carniÆcina a que
assistimos, que me leva a repetir a
aÆrmação de um cronista nosso do
século XVI acerca das conquistas no
Oriente, em que ele dizia, diante das
mortandades a que assistia: “Que o
menor dos males seja a morte.”
Borges Simão,
Torres Novas
Educação e Saúde
(...) No nosso país, ultimamente, as
áreas da Educação e da Saúde
debatem-se com sérios problemas
que se têm agravado ano após ano e
que contribuem para o desencanto
e mal-estar de quem exerce a
proÆssão, neste caso os
professores(as) e os médicos (as).
Excesso de trabalho, excesso de
burocracia e falta de proÆssionais
nas respectivas áreas são as queixas
mais comuns, a que se junta, na
generalidade, os parcos
vencimentos que auferem. (…)
Tudo leva a crer que o Governo irá
ceder, em parte, às pretensões dos
médicos e perÆla-se no horizonte
um aumento considerável nos seus
vencimentos. O mesmo não se
passará, infelizmente, com o
vencimento dos professores, que
continua baixo, apesar das
promessas governamentais do seu
aumento e planeamento do
subsídio de deslocação e da
contribuição pecuniária para o
arrendamento de quartos e/ou
habitação. (…) Só resta aos
professores(as) continuarem a lutar
pela digniÆcação da classe.
António Cândido Miguéis,
Vila Real
Alcinas
Quantas Alcinas serão precisas mais
para que o Governo decrete o Æm
dos despejos sem justa causa? Uma
família de três, na qual um dos
elementos tem 89 anos e está numa
cadeira de rodas, outro é reformado
e tem uma doença oncológica. As
rendas em dia. O total mensal que
os três auferem ronda os 1200
euros. Chegaram a propor ao
senhorio 700 e a resposta que
obtiveram foi a polícia à porta às 7h,
no começo do Inverno. É isto um
Governo socialista a poucos meses
de comemorar(mos) 50 anos do 25
de Abril?
Domicília Costa,
Vila Nova de Gaia

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

ESCRITO NA PEDRA A Lua não engana ninguém
Se toda a gente
exigisse paz Ainda ontem
em vez de mais
uma televisão lá
em casa, então
existiria paz
N
Miguel Esteves Cardoso
John Lennon ão me diga que também é
(1940-1980), daqueles que sempre acharam
que a Lua é mais velha do que
músico para aí se diz.
O luar é deslumbrante, é
verdade, mas se porÆarmos e
olharmos de perto para aquela cara de Lua
cheia, tão bonita quando é vista ao longe,
descobrimos uma pele amarelada e cheia de
O NÚMERO crateras, à qual um truque genial de luzes
440
emprestou uma juventude inteiramente
ilusória.
A grande descoberta de César Ritz foi a
importância da iluminação nos hotéis e
restaurantes, para esconder os cansaços e as
imperfeições dos clientes.
A qualidade gastronómica era de
importância secundária: o conforto estético
era tudo. Foi com cores-de-rosa e cores de
mil é o número estimado de laranja que Ritz conquistou o mundo. Tinha
vítimas de pedofilia na Igreja nascido a idade das aparências.
espanhola, foi ontem anunciado Tendo Ænalmente arranjado maneira de
ZOOM BOMBAIM, ÍNDIA
Passageiros esperam pelo comboio local na estação de Borivali em Bombaim, Índia. Nos últimos dias, a Western Railways
cancelou mais de 2300 ligações suburbanas para concluir a construção de uma nova linha férrea na maior cidade indiana
analisar a poeira lunar, que os astronautas
de 1972 trouxeram para a terra, Jennika
Greer e Philipp Heck apuraram que a Lua
tem mais 40 milhões de anos do que se
pensava.
Considerando que um milhão de anos
cósmicos corresponde a um ano humano,
isto equivale a descobrir que aquele pêssego
de 27 anos, que lhe pisca o olho do palco do
Rivoli, já vai com 67 Primaveras no cartório.
Sabíamos que a Lua era mentirosa, mas
não a este ponto.
E não Æca por aqui o balde de água fria.
Todos sabemos que a Lua é um pedaço do
nosso planeta que se separou de nós quando
esbarrou connosco um pequeno planeta sem
a mínima ideia do que estava a fazer.
Ora, como os cristais da lua têm 4,46 mil
milhões de anos e o nosso planeta tem 4,6
mil milhões, isso signiÆca que a Lua fez parte
da Terra por mais 140 milhões de anos do
que nós pensávamos.
Ou seja: por muito que a Lua nos queira
convencer que o romance com a Terra era
um namoro passageiro, aquela ligação era
muito mais sólida do que se pensava.
Quando os namorados olham
aluadamente para a Lua — que doravante se
chamará a avozinha —, saberão que estão a
olhar para uma unha velha perdida no
espaço, cortada há muito, muito tempo?
É o cúmulo do narcisismo.
DIVYAKANT SOLANKI/EPA
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 9
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10 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Espaço público
O feminismo do Governo polaco
Escrever
Direito
T
Francisco Teixeira da Mota
emos vindo a assistir, em
diversos países com regimes
mais ou menos democráticos, a
uma evolução, por via eleitoral e
legislativa, num sentido
autoritário e de diminuição das
liberdades individuais.
As razões são, certamente, variadas e
resultarão, também, de circunstâncias
especíÆcas de cada país, mas, por vezes, são
nacionalismos mais ou menos exacerbados
que vão justiÆcando a adopção de políticas
de restrição das liberdades, nomeadamente
da liberdade de expressão e de imprensa,
pedra-de-toque dos sistemas democráticos.
Mas não só...
Se o controlo da informação que chega aos
cidadãos é essencial para qualquer projecto
autoritário, não menos importante é o
controlo do poder judicial, uma vez que aí,
muitas vezes, reside o último reduto
institucional da defesa das liberdades graças
ao espírito de independência dos juízes e à
sua defesa da democrática separação dos
clássicos três poderes — político, legislativo e
judicial. Em 2015, com a chegada ao poder
do partido populista Lei e Direito, na
O futuro constrói-se com o desejo
Q
Fronika de Wit e José Vítor Malheiros
uando falamos do futuro — não o
futuro imediato, mas o futuro a
longo prazo, o ano 2050, por
exemplo — é inevitável cair na
tentação da previsão. Quando
lançamos o tema num grupo de
amigos, há quem preveja um mundo
distópico de conÇitos e carência, quem
imagine um futuro de tecnologias que irão
salvar a civilização e quem pense até que a
humanidade não terá futuro, mas entramos
quase sempre no domínio da previsão, como
se o futuro estivesse já determinado nas
tendências de hoje e não tivéssemos margem
de manobra para o inÇuenciar.
No entanto, apesar da importância que
damos a todas essas previsões, sabemos que
não há especialistas no futuro. Ninguém
Polónia, sucederam-se inúmeras medidas
legislativas com o objectivo de controlar
partidária e governamentalmente os
tribunais, transformando, por exemplo, o
Tribunal Constitucional e o Conselho
Superior da Magistratura local em órgãos
afectos ao partido no poder.
Na passada terça-feira, o Tribunal Europeu
dos Direitos Humanos (TEDH)
pronunciou-se, exactamente, sobre uma
dessas medidas legislativas de controlo do
poder judicial no caso Pajak e outros contra a
Polónia. E fê-lo, de uma forma inequívoca,
ao considerar que a legislação da Polónia que
veio baixar a idade de reforma dos juízes e
estabelecer diferenças nesse limite de idade
entre juízes mulheres e homens violou a
Convenção Europeia dos Direitos Humanos
(CEDH), assim condenando a Polónia a
indemnizar os quatro juízes que se
queixaram ao TEDH.
A “explicação” avançada para a nova
legislação era a necessidade de afastar os
juízes mais velhos, por os mesmos ainda
serem resquícios do comunismo, mas, como
se tornou evidente, a intenção mais não era
do que eliminar a incómoda independência
do poder judicial.
As alterações legislativas em causa
reduziram a idade de reforma dos juízes de
67 para 60 anos, no caso das mulheres, e
para 65 anos, no caso dos homens, ao
mesmo tempo que faziam depender a
continuação das funções de um juiz, após ter
atingido a idade de reforma, da autorização
do ministro da Justiça e do Conselho
Nacional da Magistratura (CNM).
conhece o futuro, porque ele ainda não
aconteceu e sabemos que ele será moldado
pelos nossos gestos de hoje e de amanhã.
Quando se desenham políticas públicas, é
claro que se olha para o futuro, mas trata-se
sempre de um futuro a curto prazo,
determinado pela prospetiva tradicional, que
se limita ao leque dos futuros que considera
prováveis, plausíveis ou possíveis e se
mantém, por isso, ancorado no passado e nas
tendências do presente. Falamos mais do
futuro que seremos obrigados a suportar do
que do futuro que queremos construir. No
entanto, o que queremos é precisamente
construir o futuro que desejamos e não sofrer
aquele que o passado parece querer
impor-nos.
O que falta? Falta incluir, nos nossos planos
para o futuro, a dimensão do desejo e da
imaginação, perspetivas que têm estado
ausentes da política. “Quando falamos do
futuro, é mais importante ser imaginativo do
que acertar”, dizia o futurólogo Alvin Toëer.
A prospetiva estratégica para as políticas
públicas não pode prescindir da perspetiva
dos cidadãos, paralelamente à perspetiva dos
peritos que é utilizada na prospetiva
proÆssional.
Naturalmente, o ministro da Justiça, com o
CNM, não concedeu autorização aos juízes
em causa para continuarem a trabalhar e,
naturalmente também, a nova legislação não
prevê recurso para os tribunais de tal decisão
ministerial.
Queixaram-se, assim, quatro juízes da
violação dos seus direitos, seja a nível da sua
vida privada e familiar, abalada, inesperada e
injustiÆcadamente, com o Æm da sua vida
proÆssional, com expressão nos seus
rendimentos, seja ao nível da discriminação
de que as juízas eram vítimas, seja, ainda,
pela impossibilidade de recurso a um
tribunal para pôr em causa a decisão do
ministro da Justiça de não-autorização da
continuação do exercício de funções.
Em termos económicos,
a jurisprudência do
TEDH não será muito
“rentável”, mas,
em termos da defesa
e reaÄrmação dos
princípios do Estado de
direito democrático, é
de um valor inestimável
Não se pode fazer prospetiva para as
políticas públicas sem saber o que os cidadãos
sentem, o que pensam e o que querem para o
seu futuro. A escassa participação cívica que
lhes é pedida — ou permitida — por ocasião
das eleições não é suÆciente para a expressão
dos seus desejos. A política não inclui os
desejos dos cidadãos. Mesmo quando os
cidadãos são chamados a escolher,
pedem-lhes apenas que escolham de um
estreito leque de propostas pré-selecionadas.
Quando nos perguntaram que mundo
queremos para 2050? Quando discutimos o
mundo que queremos para 2050? Para
construir o futuro que queremos, precisamos
primeiro de o poder sonhar, de falar dele, de
nos apropriarmos coletivamente dele, sem
nos limitarmos ao leque dos futuros a que
parecemos condenados. Para sonhar o
futuro, precisamos de livre-arbítrio.
Precisamos de incluir todos os cidadãos, o
que signiÆca não apenas convidá-los a vir ter
connosco, mas ir ter com eles aos sítios onde
estão; não apenas consultá-los, mas estimular
a sua participação ativa; não apenas
perguntar-lhes o que pensam, mas apelar à sua
imaginação através de abordagens criativas.
A prospetiva estratégica olha para os futuros
A argumentação do Governo polaco é
muito instrutiva, nomeadamente no que
toca às medidas discriminatórias das
mulheres: no fundo, podiam ser
consideradas como “medidas de acção
positiva” destinadas a eliminar as
desigualdades, de facto, entre homens e
mulheres. Estas, devido ao seu papel social
especíÆco ligado à maternidade e à
educação dos Ælhos, teriam mais
diÆculdade em envolver-se continuamente
numa carreira proÆssional, o que fazia
com que tivessem menos probabilidades
do que os homens de beneÆciar de uma
promoção proÆssional e, como o Governo
não podia baixar os critérios para as
promoções, a agora criada possibilidade
de reforma antecipada constituiria uma
compensação indirecta pelos
inconvenientes geralmente sofridos pelas
mulheres. Comovente...
Mas o TEDH não foi na conversa
“feminista” do Governo polaco e considerou
que, de facto, este violara a CEDH, tanto na
obrigação de respeito da vida privada e
familiar como na obrigação de
não-discriminação, e condenou-o a
indemnizar cada um dos juízes aposentados
em verbas variando entre os €20.000 e os
€26.600. Em termos económicos, a
jurisprudência do TEDH não será muito
“rentável”, mas, em termos da defesa e
reaÆrmação dos princípios do Estado de
direito democrático, é de um valor
inestimável.
Advogado. Escreve ào sábado
possíveis, plausíveis e prováveis e aborda o
futuro de uma abordagem estritamente
racional, baseada em tendências, mas é
imprescindível juntar a essa abordagem a
dimensão volitiva, as nossas emoções e
desejos. Como é o mundo que queremos?
Como funciona? O que tem? Como queremos
que sejam as nossas cidades? O trabalho? As
escolas? Não como podem ser ou como parece
que vão ser, mas como queremos que sejam?
Precisamos de usar a inteligência e a
imaginação coletivas de todos os cidadãos
para criar mais ideias e mais possibilidades e
produzir a visão holística do mundo que
queremos.
Só uma prospetiva participada por todos os
cidadãos permite incluir essa dimensão do
desejo, que é, aÆnal, o mais forte dos motores
de mudança, a mais importante das
megatendências.
O futuro é plural. Temos inúmeras
possibilidades. Usemos esta oportunidade
para desenhar o futuro que queremos que se
torne realidade para nós e para os nossos
Ælhos.
Coordenadora e ex-coordenador
do Projecto Lab2050 do PlanAPP
 Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 11

O direito ao “mas, porém, todavia, contudo”

O ruído do mundo

DR
Um polvo
anticapitalista
numa gravura
José Pacheco Pereira
contra
a Standard Oil
Há hoje um ambiente
de radicalização que acha
que ou nos arregimentamos
calados, cegos e surdos
num lado ou pertencemos
ao Exército adversário

E
u não coloco nenhum “mas” no
massacre do Hamas, mas coloco
na resposta israelita, que é uma
coisa interligada, mas distinta.
Esta é, aliás, a posição que toda a
gente sensata e moderada tem
tomado, incluindo muitos israelitas que
conhecem o Governo Netanyahu melhor do
que nós e sabem muito bem o que eles são e
o que querem, os americanos e Biden. Uma
coisa é o plano moral da condenação do que
fez o Hamas, e isso é a preto e branco, só
que, se o Governo israelita cometer crimes
de guerra, o mesmo plano moral aplica-se,
sem um diminuir o outro.
Porém, há hoje um ambiente de
radicalização — de que falarei vezes sem
conta porque ele está por todo o lado nas
democracias, e é nas democracias que ele é
mais perigoso —, que acha que ou nos
arregimentamos calados, cegos e surdos
num lado ou pertencemos ao Exército
adversário. E daí nasce uma falência da
política, mas também da ética, quando não
se pode falar das fragilidades do lado que os colonos fazem contra os palestinianos alvos a população civil de Gaza para além do perigoso. Veja-se os gatos. Coloquem um
escolhemos como nosso, sem isso pôr em que têm a casa e a família nos terrenos de Hamas, é muito mais coerente com a política gatinho muito giro e fofo — nem acredito que
causa a condenação total e absoluta dos expansão dos colonatos. rácica, de expulsão dos palestinianos, de estou a usar estas palavras — e eu posso dizer
massacres do Hamas. É suposto ser assim Contudo, o que o Governo israelita quer é retirada de direitos à Autoridade Palestiniana que é um anarquista em acto ou em
quando se vive em democracia e se actua em que, a pretexto da condenação do Hamas, e aos palestinianos que são cidadãos potência, porque há-de haver momentos em
liberdade, ou isso já não conta nos dias de se dê uma caução à sua política de antes e de israelitas, e de total violação da integridade que esse gatinho embravece porque o
hoje? E o direito também só se aplica quando agora, que está presente na resposta ao daquilo que seria um Estado palestiniano, colocaram no TikTok sem respeito pelos seus
é útil? E os crimes são objectivos, ou são ou Hamas na faixa de Gaza, de violências sobre conforme todas as resoluções da ONU e os direitos de personalidade e passa ao “gato
não são conforme quem os pratica? os civis muito para além dos terríveis “danos acordos assinados por Israel, e isso vai muito vadio”, que os anarquistas gostam de usar no
Todavia, o que se está a passar é o colaterais” inevitáveis na resposta militar, e para além da justa resposta ao Hamas e de nome das livrarias, publicações ou panÇetos.
incremento da censura. Veja-se o caso da justiÆcados pela necessidade de punir o defesa de Israel. No entanto, como hoje quem vive do favor
declaração de Guterres. O problema com Hamas. É que o modo como está a ser feita a Porém, esta radicalização tem como efeito dos media, ou quem precisa dos seus
essa declaração é que colocou o “mas” no resposta, que tem claramente como um dos gerar um surto de polícias do pensamento e grandes empregos politicamente correctos,
sítio errado, mas, sejamos justos, o conjunto de denunciantes, e a bufaria está por todo o tem uma espinha dorsal dobrável, os
da declaração condena em termos claros o lado nas redes sociais. A mistura de pedidos de desculpa são muito piores do que
ataque do Hamas. Mas o que provocou a agressividade (na resposta a Guterres), de as ambiguidades, quando existem, nas
fúria dos israelitas “oÆciais” é o chamar a censura e cancelamento como aconteceu declarações iniciais. E lá se foi o polvinho de
atenção para a situação de ocupação da com Paddy Cosgrave, que se limitou a dizer o peluche, que podia ser anticapitalista,
Palestina nos termos das resoluções da ONU, óbvio, de que crimes de guerra são crimes de denunciar os tentáculos de um ditador, ou
e as violências cometidas na faixa de Gaza, Não contem comigo guerra seja quem for que os pratique, ou as prever os resultados dos jogos de futebol,
não a ambiguidade com o Hamas. O que está
a acontecer nos dias de hoje é que o Governo
para não usar campanhas de censura e imbecilidade na
cloaca das redes sociais, como a que fez
mas que, aos olhos dos censores, tinha de ser
anti-semita. Isto está bonito…
israelita — e é necessário fazer esta distinção, as adversativas, Greta Thunberg ter de tirar o polvo de Mesmo assim, contudo, no entanto,
entre Israel, os judeus, e o Governo de
Netanyahu — tem uma história negra de
que são, no plano peluche de cima do sofá, que não tinha
obviamente qualquer signiÆcado
apesar, não obstante, não contem comigo
para não usar as adversativas, que são, no
violação dos direitos reconhecidos da racionalidade anti-semita. Aliás, pôr animais nos vídeos ou plano da racionalidade e da análise, boas
internacionalmente aos palestinianos, em
particular da Cisjordânia, incentiva
e da análise, boas por perto é péssimo: polvos, ratos, macacos,
gatos, cães, peixes, pandas, caracóis,
palavras.

colonatos ilegais e cauciona os ataques que palavras gafanhotos, lesmas, por aí adiante, é Historiador. Escreve ao sábado
12 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Espaço público
Sobre a “democracia liberal” de Israel: dez exemplos
Coffee break
U
Bárbara Reis
m amigo sábio diz que a
vantagem de fazer títulos para
crónicas é que “basta dizer
‘sobre’”.
Hoje uso o truque. Todos os
dias alguém descreve Israel
como “a única democracia liberal” do Médio
Oriente e este texto é sobre isso. Escolho dez
exemplos.
Este Verão, no pico das 29 semanas
consecutivas de protestos contra a reforma
judicial do Governo de Benjamin Netanyahu,
li esta definição de Israel — um país de quatro
tribos: nacionalistas religiosos, judeus
ultra-ortodoxos, judeus seculares e árabes. A
síntese é de uma professora de Direito
israelita. Como os dois primeiros estão no
poder, os israelitas liberais e seculares
sentem-se ameaçados.
A reforma judicial é uma das ameaças. Os
manifestantes que encheram as ruas — às
dezenas de milhares e com uma raiva inédita
— temem que a vida pública passe a ser
controlada pela religião e que aquilo que há
anos é uma luta nos tribunais passe a regra.
Exemplos: que todas as lojas sejam forçadas a
fechar no sabat; que as mulheres sejam
obrigadas a sentar-se atrás nos transportes
públicos e que sejam obrigadas a mudar de
lugar num avião se um homem pedir.
Tal como “os ataques do Hamas não
surgiram do nada”, o medo dos israelitas
liberais de que a sua democracia passe à
categoria de “iliberal” não surge do nada.
1. Em Dezembro de 2022, dias antes de
formar governo, Netanyahu fez um acordo
com a aliança Judaísmo Unido da Tora, que
une partidos ultra-ortodoxos, e
comprometeu-se a alterar a lei de
não-discriminação.
A cláusula acordada prevê a possibilidade
de qualquer pessoa recusar vender um
produto ou prestar um serviço por “motivos
religiosos”, abrindo porta à discriminação
contra mulheres e homossexuais.
Feito o acordo, a aliança Judaísmo Unido da
Tora recebeu três pastas: Meir Porush é
ministro dos Assuntos de Jerusalém e da
Tradição Judaica e Yitzhak Goldknopf é
ministro da Habitação e Construção e
ministro da coordenação do Governo.
Foi Porush quem, há dois anos, se dirigiu à
deputada Idit Silman, líder de uma aliança de
partidos de direita e extrema-direita, por
“menininha” num debate no parlamento
(disse também que “dentro de uma década
não haverá presidentes de câmara seculares”
em Israel). No mesmo dia, estava Silman a
presidir a um comité quando Miki Zohar, do
Likud, chegou atrasado e exigiu ser
actualizado sobre o que tinha perdido. Silman
disse-lhe para perguntar aos colegas em vez
de interromper os trabalhos e Zohar, que
agora é ministro da Cultura, respondeu:
“Quem é que pensas que és? Responde lá
como uma menina bonita.”
Hoje os quatro sentam-se no conselho de
ministros — Silman é ministra do Ambiente.
Já agora, o actual Governo começou com
Aryeh Deri como vice-primeiro-ministro,
apesar de ter sido condenado por crimes
Æscais e por corrupção, e tendo a lei sido
mudada para que a nomeação fosse possível.
Deri é líder do partido ultra-ortodoxo Shas,
que tem seis ministros.
2. Em 2013, o Tribunal Distrital de
Jerusalém conÆrmou a decisão de que as
cinco mulheres que tinham sido detidas no
Muro das Lamentações por estarem a orar em
voz alta e com os xailes de oração
tradicionalmente usados por homens não
perturbaram a ordem pública. As Mulheres
do Muro (Women of the Wall, WOW na sigla
em inglês) “é um grupo de mulheres judias
que lutam pelo direito de usar xailes de
oração, orar e ler a Tora colectivamente e em
voz alta no Muro das Lamentações”, lê-se no
site.
“Porquê o Muro das Lamentações? É o
lugar onde os nossos antepassados foram em
Tal como “os ataques
do Hamas não surgiram
do nada”, o medo dos
israelitas liberais
de que a democracia
de Israel passe à
categoria de “iliberal”
não surge do nada
SHIR TOREM VIA REUTERS
busca de D-us. Aspiramos ao mesmo: com
oração, reverência e alegria. A liberdade de
culto no Muro das Lamentações é um dos
resultados mais importantes do regresso do
povo judeu a Jerusalém em 1967, mas esta
grande conquista está manchada pelo facto
de as mulheres estarem proibidas de rezar
livremente no local sagrado.”
Reparou no hífen em “D-us”? Não é gralha.
A WOW escreve “G-d”, omitindo o “o” de
“God” para não profanar a palavra. Isto são
mulheres que levam a religião a sério.
3. O Muro das Lamentações não vale como
argumento por ser um lugar tão especial? Em
Maio, o presidente da câmara de Elad, o
ultra-ortodoxo Israel Porush, recusou
sentar-se ao lado de uma mulher que ia
participar com ele num debate no Canal 13.
Disseram-lhe que se sentasse ao lado da
jornalista Noga Nir Neeman; Porush recusou;
a equipa da televisão pediu à jornalista para
mudar de lugar; ela recusou; pediram o
mesmo a outra mulher, uma política; ela
recusou; Porush participou no debate a partir
de um estúdio separado.
4. A cedência num debate num canal
privado de televisão não vale como
argumento por ser pontual e não uma lei? Mal
tomou posse, soube-se que o Governo queria
proibir as Mulheres do Muro de fazerem a sua
oração mensal no Muro das Lamentações,
como acontece há 30 anos.
Foi o Shas, partido do então ministro Deri,
que propôs um projecto de lei a proibir as
orações mistas no Muro das Lamentações,
criminalizar as orações das Mulheres do Muro
e proibir os visitantes de usarem “roupas
indecorosas”. Netanyahu recuou e disse que o
projecto não ia aÆnal ser apresentado já e
que, “se for, não incluirá as cláusulas que
criminalizam roupas ou instrumentos
musicais”.
5. As Mulheres do Muro não valem como
argumento porque são activistas? Em Israel, o
divórcio é permitido com uma condição: só se
o marido autorizar. Este Verão, Ilana
Blumberg, professora de Literatura Inglesa na
Universidade Bar-Ilan, em Telavive, contou no
Haaretz que, quando se casou, em 2002, em
Nova Iorque, o rabino pediu-lhes que
assinassem “um acordo pré-nupcial para
evitar que a mulher pudesse tornar-se uma
aguna, palavra hebraica para ‘mulher
acorrentada’ — a mulher a quem o marido
recusa dar o divórcio”. Blumberg descobriu
que, mesmo quando há acordo, o divórcio só
é legal quando um rabino aprova (para
religiosos e seculares) e que os rabinos fazem
tudo para impedir. No caso, o rabino até disse
ao marido: “Você sabe que pode recusar
dar-lhe o divórcio, não sabe?”
6. A lei arcaica do divórcio não vale como
argumento porque as tradições são difíceis de
mudar? O retrocesso em costumes adquiridos
está em marcha. Em 2016, no bairro
ultra-ortodoxo Mea Shearim, apareceram
cartazes a aconselhar as mulheres a usarem as
ruas laterais. Seis anos antes, o Supremo
Tribunal de Justiça proibira o uso de divisórias
nas vias públicas, mas os ultra-ortodoxos não
desistem de impor a separação na Festa dos
Tabernáculos.
O que diziam os cartazes?
— Um pedido especial às mulheres
residentes e às que estão de passagem:
minimizem ao máximo passar pela rua
principal nos horários nocturnos.
— Mulheres: passem só pelas ruas laterais e
minimizem as visitas ao bairro.
7. Isso não vale como argumento porque é
só nas festas religiosas? Em 2019, quando se
candidatou a “mayor” de Jerusalém, a
deputada Rachel Azaria — a “outra” mulher
que recusou mudar de lugar no Canal 13 — viu
os seus cartazes de campanha serem
sistematicamente rasgados por homens
ultra-ortodoxos em plena luz do dia.
8. Isso não vale como argumento porque
são só cartazes? Em 2017, a companhia aérea
israelita El Al foi proibida por um tribunal de
pedir a mulheres para mudarem de lugar. Isso
acontecia quando um homem ultra-ortodoxo
protestava ao ver que tinha ao lado uma
mulher — é como no caso do Canal 13, tem de
evitar a “negiah”, atracção extramarital. A
BBC contou que Renee Rabinowitz,
sobrevivente do Holocausto, processou a
companhia. Em 2020, outra passageira
processou a EasyJet pela mesma razão.
9. Isso não vale como argumento porque o
avião é um transporte raro? Em 2011, o
Supremo Tribunal de Justiça disse que a
segregação nos autocarros é ilegal, mas
permitiu que fosse praticada desde que os
passageiros concordem. Os casos nos
comboios repetem-se.
10. Isso não vale porque são aberrações
avulsas e os tribunais têm defendido a
democracia de Israel? É verdade. Até agora. O
novo ministro da Justiça, Yariv Levin, possível
sucessor de Netanyahu, é o autor da
controversa reforma judicial que levou
milhares de pessoas para a rua. O que quer a
reforma? Tirar poder aos tribunais.
Um retrato da democracia liberal de Israel
em dez miniaturas.
Jornalista. Escreve ao sábado

Como (re)conquistar a confiança dos leitores?
Coluna
do Provedor
José Alberto Lemos
Não há soluções milagrosas
ao dobrar da esquina, mas há
quem avance com sugestões
que podem inverter o
caminho de declínio actual
N
uma época em que o acesso a
falsidades travestidas de
notícias é mais fácil do que o
acesso a informação credível,
o declínio da imprensa era
inevitável. Com ele veio
também uma crise de credibilidade e de
quebra de conÆança dos leitores nos jornais,
que estão hoje numa encruzilhada à procura
de soluções para reconquistar essa
conÆança.
Não há soluções milagrosas ao dobrar da
esquina, mas há quem reflicta sobre o
problema e avance com algumas sugestões
que podem mitigar as dificuldades ou
mesmo inverter o caminho de declínio
actual.
Num congresso de provedores, realizado
recentemente em Londres, Margaret
Sullivan, que foi a primeira mulher a exercer
o cargo de provedora do New York Times,
entre 2012 e 2016, mostrou-se
particularmente preocupada com a perda de
conÆança dos leitores nos media tradicionais
(mainstream), ao revelar que nas sociedades
democráticas, nos anos 1970, cerca de 70%
das pessoas conÆavam neles, enquanto hoje
esse número desceu para 40%.
Um sinal das diÆculdades que enfrentam
os media na actualidade, mas também um
sintoma da crise das democracias, onde a
radicalização político-ideológica alimenta
um universo de fake news que mina o diálogo
democrático e o consenso em favor da
tribalização da sociedade e da relativização
da verdade.
“A democracia depende da verdade e a
verdade depende do bom jornalismo”, por
isso “o jornalismo de conÆança pode ajudar
a preservar a democracia”, disse Sullivan,
numa sessão do congresso na sede do
Guardian, em Londres, jornal de que é
colunista actualmente.
Consciente de que é cada vez mais difícil
distinguir entre jornalismo e falsidades, um
cenário que a inteligência artiÆcial só vem
agravar, esta veterana jornalista lança três
ideias que, em sua opinião, podem
contribuir para contrariar o rumo dos
últimos anos: uma transparência radical por
parte dos media; uma maior aposta no
noticiário local; um incentivo à literacia
mediática.
Aquilo a que chama “transparência
radical” pode deÆnir-se como uma maior
abertura aos leitores quanto aos métodos e
às fontes utilizados nas notícias. Os
jornalistas deviam explicar como chegam às
suas conclusões e falar das suas técnicas de
reportagem. Devia haver colunas regulares
nos jornais sobre a forma como se trabalha,
como se reporta, como se faz uma notícia,
como se contactam as fontes, como se
investiga, como se apresentam os dados —
em suma, os vários métodos usados para
obter informação e expô-la aos leitores.
“Numa época de fake news (falsidades),
clickbaites (iscos para contactos) e ‘factos
alternativos’, o jornalismo tem de ser um
activismo em prol da verdade”, o que
requer que ele próprio seja objecto de
responsabilização (accountability). “Essa é
uma obrigação moral”, defende Margaret
Sullivan, para quem isso só se consegue se o
exercício da proÆssão for devidamente
escrutinado pelos leitores.
Uma atitude que contribuirá certamente
para melhorar a literacia mediática e
aproximar o público dos seus media,
aumentando a compreensão e a
transparência comunicacional. E, ao
fazê-lo, melhorar a capacidade de
entendimento e absorção da informação
credível, distinguindo-a claramente das
falsidades avulsas.
Em Junho, quando se dirigiu ao
congresso, a ex-provedora não estava
optimista quanto ao futuro dos media, mas
tinha a convicção de que o noticiário local
possui, contudo, características que
favorecem uma relação mais estreita com o
seu público — goza de maior Æabilidade
porque é mais facilmente escrutinável, de
maior proximidade, e se cruza de forma
mais evidente com a vida dos cidadãos
comuns.
Um jornalismo que, geralmente, “não é
cínico”, que fala de coisas concretas cuja
veracidade os cidadãos podem testar no seu
dia-a-dia e que, por isso, está menos
exposto às fake news que invadem,
frequentemente, o noticiário nacional ou
internacional. O qual, pela distância em
relação aos acontecimentos, torna quase
impossível ao cidadão comum veriÆcar a
respectiva veracidade.
Estas características não evitaram que a
crise atingisse também os jornais locais,
naturalmente, e o pessimismo de Margaret
Sullivan estribava-se no fecho de dois
jornais por semana nos Estados Unidos
(EUA). Um fenómeno que derivou em boa
parte do facto de um mesmo grupo
empresarial (Gannett, hoje a maior cadeia
de jornais do país) ter comprado inúmeros
jornais locais e os ter tornado muito
parecidos com a produção de conteúdos
comuns para aproveitar sinergias
empresariais e ganhar (mais) dinheiro. Aqui
dei conta desse facto numa coluna de
Setembro.
Sucede que o descrédito trazido por este
declínio dos jornais locais parece estar a
Num estado com sete
milhões de habitantes
e talvez a maior
concentração de massa
cinzenta dos EUA,
literacia mediática é
algo que parece não
faltar em Massachusetts.
Bem como iniciativas
cívicas para lutar contra
o desaparecimento
de jornais locais
BRIAN SNYDER/REUTERS
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 13
gerar um movimento cívico de reacção
contrária, com muitas iniciativas de
angariação de fundos para lançar novos
jornais que preencham o vazio informativo
local. Pelo menos, em alguns estados
americanos, como Massachusetts, de que já
citei o caso do New Bedford Light na crónica
referida.
Numa cidade mais pequena do que New
Bedford, em Newton (88 mil habitantes),
está a despertar um outro jornal digital,
Newton Beacon, fruto de uma campanha de
angariação de fundos bem-sucedida que faz
dele mais um exemplo do jornalismo
não-lucrativo, independente de grupos
económicos, que vive apenas do contributo
dos seus mais de 400 patrocinadores e
doadores. O director elogia a ligação forte à
comunidade local que deriva da sua génese,
mas também porque o foco noticioso são os
assuntos que interagem com as pessoas
comuns, como os buracos na rua, as pistas
de bicicleta, o policiamento, as políticas de
habitação, etc.. E, referindo-se ao tempo em
que trabalhou em jornais “conotados com
grandes grupos de interesse e não com as
aspirações dos cidadãos”, nota a diferença:
“Em todos os empregos que tive, as pessoas
eram simpáticas comigo, mas diziam-me
quanto detestavam o meu jornal.”
Um caso idêntico é o do Plymouth
Independent, prestes a ver a luz do dia na
cidade de Plymouth, graças a uma
campanha de angariação de fundos local,
na linha do que vem acontecendo um pouco
por todo o Massachusetts.
Mas mesmo os jornais tradicionais
parecem apostados em reforçar o seu
noticiário local pelas razões que Margaret
Sullivan enunciou em Londres. O Boston
Globe, o grande jornal de Massachusetts e
um dos mais prestigiados dos EUA, que há
cerca de 20 anos fez a primeira grande
investigação e denúncia dos escândalos de
pedoÆlia na Igreja Católica, decidiu
expandir a sua cobertura de assuntos locais
e regionais no mês passado. Abriu
delegações em mais cidades do estado e
criou uma equipa de editores só para
coordenar o noticiário regional,
preparando-se para concorrer com os
novos jornais locais e suburbanos. Não é a
primeira vez, nem será seguramente a
última, que os protagonistas emergentes
obrigam os tradicionais a adaptar-se e a
mudar.
Num estado com cerca de sete milhões de
habitantes, algumas das melhores
universidades do mundo, e talvez a maior
concentração de massa cinzenta dos EUA,
literacia mediática é algo que parece não
faltar em Massachusetts. Bem como
iniciativas cívicas para lutar contra o
desaparecimento de jornais locais no
estado.
Resta saber se a fórmula sugerida por
Margaret Sullivan — aposta numa
transparência radical e em noticiário local —
serão as chaves para (re)conquistar a
conÆança dos leitores.
provedor@publico.pt
14 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Política Luís Paixão Martins lança livro Como Mentem as Sondagens
As sondagens “não
servem para prever
resultados eleitorais”
Luís Paixão Martins O consultor considera que os estudos de
opinião são fontes de informação complexas que permitem ler
tendências. Mas a sua interpretação não pode ser simpliÄcada
Entrevista
São José Almeida Texto
Nuno Ferreira Santos Fotografia
O consultor político e especialista
em comunicação Luís Paixão
Martins, que tem trabalhado com o
PS de António Costa,
nomeadamente nas últimas
legislativas, lança hoje mais um
livro. Depois de Como Perder Uma
Eleição, é a vez de Como Mentem as
Sondagens, em que o especialista
em comunicação política reÇecte
sobre os estudos de opinião. Com
uma abordagem analítica e com
reporte histórico, Luís Paixão
Martins explica as razões pelas
quais as sondagens erram tanto, ou
seja, por que muitas vezes não
acertam nos resultados eleitorais.
O livro é apresentado em Lisboa
por Mariana Vieira da Silva e José
Pacheco Pereira.
Diz, no seu livro, que “os estudos
de opinião servem para muita
coisa, mas não servem para
prever resultados de uma
eleição.” Portanto, a conclusão é
a de que não vale a pena fazer
sondagens eleitorais...
É a minha conclusão.
Aliás, as últimas legislativas,
autárquicas, regionais
demonstram isso...
A Argentina, a Madeira, as mais
recentes. As sondagens são muito
úteis para muitas coisas. Eu sou fã
de sondagens, de estudos de
opinião. Aquilo para que elas
realmente não servem é para prever
resultados eleitorais.
Mas porquê?
Há dois grandes problemas. Um é a
diminuição da Ædelização dos
eleitores aos partidos. Quer dizer
que é mais difícil prever, a uma
semana de antecedência, a um mês
de antecedência, como é que as
pessoas vão votar. Porque a
realidade é que grande parte dos
eleitores ainda não decidiram como
é que vão votar. Isso é um falhanço.
O outro grande erro é a maneira
como os media tratam as
sondagens. Mas o grande problema
da falta de Ædelização aos partidos
tende a acentuar-se.
A decisão é tomada em cima da
eleição?
É exactamente isso. Muitas pessoas
não votam por causa daquele
partido, votam por outras razões. É
aquilo a que se chama “eleitores de
oportunidade”. Por esta ou por
aquela razão, mais próximo das
eleições, decidem como votam. Há
um estudo, feito depois das últimas
legislativas, que conclui que entre
15% e 20% das pessoas decidiram
nos últimos dois ou três dias.
Portanto, como é que uma
sondagem a oito dias das eleições
pode prever o resultado?
Outra questão que levanta é o
problema do encadeado das
perguntas e de se misturar
sondagens quantitativas com
qualitativas. Ou seja, a forma
como as perguntas são feitas
induzem à resposta. Porque é
È mais difícil
prever, a uma
semana de
antecedência,
a um mês de
antecedência,
como é que as
pessoas vão votar.
Porque a realidade
é que grande parte
dos eleitores ainda
não decidiram
como é que
vão votar
que as empresas de sondagens
fazem isso?
Não é uma questão de manipulação.
Eu não queria que do meu livro, das
minhas reÇexões, resultasse o
menor apreço, do ponto de vista
ético, em relação às pessoas que
fazem sondagens. O problema é o
seguinte: quando se pergunta, se as
eleições fossem hoje, em que
partido é que a pessoa votava, na
prática, está-se a pedir uma
comparação, que a pessoa compare
uma lista de partidos. Ou seja, o
valor é um valor relativo. Quando se
pergunta qual é a avaliação que se
faz do Governo, está-se a pedir um
valor absoluto. Qual é a avaliação
que faz daquele Governo.
Se se perguntasse, por exemplo,
como é que avalia este Governo
comparativamente com o Governo
de Passos Coelho, isso já permitia
essa comparação. Portanto, o que é
que acontece? Na mesma
sondagem, temos umas perguntas
de valor absoluto e outras de valor há 30% a 40% das pessoas que não espécie de disputa, de
relativo. Qual é o resultado disso? vão votar. Portanto, isso também frente-a-frente entre os dois
Muitas vezes é perplexidade. ajuda a distorcer a expressão dos candidatos, porque isso simpliÆca a
Porquê? Como é que é possível que resultados. leitura, a relação do leitor com a
os portugueses dêem nota negativa Sobre interpretação a maior sondagem. Mas, muitas vezes,
ao Governo e, ao mesmo tempo, o parte das notícias sobre aquilo que se publica das sondagens
partido da oposição caia? Porque sondagens subestimam a não decorre delas.
em relação a uma pergunta foi feita importância da margem de Quem lê o seu livro Æca com a
uma comparação e em relação a erro... ideia de que essa simpliÆcação
outra é um valor absoluto. O que é que faz um jornalista? Um feita pelos jornalistas, nalguns
O facto de as sondagens não jornalista é uma pessoa que pensa casos, é mesmo uma
terem em conta a abstenção tem que percebe um problema extrapolação, em que eles
inÇuência? complexo e o transforma numa procuram inÇuenciar os
Sim. Depende da altura em que a coisa simples para que os leitores de eleitores...
sondagem é feita. Quando a um jornal, os espectadores da Já me disseram isso do livro, mas
sondagem é feita a dois anos das televisão, os ouvintes da rádio não é verdade. Não Æz com essa
eleições, como por exemplo compreendam. Ou seja, o que um intenção. O que quis dizer foi que
acontece agora, a taxa de resposta à jornalista faz é sintetizar, simpliÆcar as sondagens ajudam mais a
sondagem é muito baixa. Ou seja, a a vida. O que é que acontece com as inÇuenciar do que a conhecer –
empresa que faz a sondagem sondagens? As sondagens têm uma sempre foi assim, mas acentuou-se
procura falar com 2000 pessoas e, informação muito complexa, que nos últimos anos. Não estou a dizer
na prática, 600 respondem. não permite algumas formas de com isto que o objectivo é
Portanto, signiÆca que a taxa de simpliÆcação que são praticadas inÇuenciar. Estou a dizer é que, na
resposta à sondagem é muito baixa nos media. Por exemplo, as prática, objectivamente, o produto
e isso faz com que aquela amostra sondagens nunca dão resultados da difusão de uma sondagem
não seja muito representativa. Ærmes, dão sempre intervalos. deixou de ser um produto de
Mais próximo das eleições, os Com margem de erro... conhecimento e passou a ser um
inquiridos mentem, fogem à Sim. Portanto, o partido X tem entre conteúdo de inÇuência. Porque as
verdade. Dizem que vão votar. Nas 25 e 30, o título do jornal é: tem 27. máquinas das candidaturas pegam
sondagens, a oito dias das eleições, Fazem a média. Há um sentido naqueles dados e procuram
a abstenção anda entre 10% e 15%, jornalístico em transformar os trabalhá-los a seu favor. E os
quando, na realidade, sabemos que resultados das sondagens numa próprios eleitores adaptam as suas
 Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 15
decisões em função desses
resultados.
O caso, aliás, até tem uma certa
ironia, porque se nós publicarmos
hoje uma sondagem com os
resultados de ontem, isso inÇuencia
As sondagens têm de tal maneira os eleitores que eles
uma informação amanhã já não estão a pensar da
mesma maneira que pensaram
muito complexa, ontem.
que não permite A sondagem, só por si,
condiciona...
algumas formas de Sim, absolutamente. Não é só a
simpliÄcação que sondagem, os resultados eleitorais
condicionam. Se nós hoje formos
são praticadas nos olhar para uma sondagem que
media. Por compare com os resultados
eleitorais das últimas eleições, nós
exemplo, as podemos dizer que o PS caiu 20
sondagens nunca pontos. Mas se tivéssemos feito esta
sondagem no dia seguinte às
dão resultados eleições, provavelmente o PS já
Ärmes, dão sempre teria caído 20 pontos.
Porquê?
intervalos Porque o eleitorado é uma coisa que
existe um dia, que é no dia em que
vota. No dia seguinte, já não há
eleitores, há cidadãos. Uma coisa é,
à boca das urnas, perguntar em
quem votaram, isso as pessoas
tendem a responder com verdade.
Outra coisa é perguntar um dia ou
Já rar
liv
na ias
RQUIPÉLAG
s
A
O
dois ou três dias depois o que é que
pensam. Aí já se desfez o eleitorado.
E o que pensa dessa tendência
para comparar sondagens com
resultados eleitorais?
E se este for o mais forte romance português do
Acho abusivo. As sondagens século XXI?
funcionam como um barómetro,
com a sua metodologia, a sua Será um romance do 25 de Abril ou um romance
amostra, o seu tipo de inquérito e, do 25 de Novembro?
portanto, acho que as empresas
que fazem sondagens devem
comparar com as sondagens PAIXÃO
anteriores. Acho isso de imenso
valor, porque determina aquilo ELA É A MILITANTE COMUNISTA
que é mais importante numa ELE É O COMANDO “FACHISTA”
sondagem, que é a ideia de
ELA TEM UMA VOZ DE DERRETER
tendência. Ou seja, a sondagem
pode não estar certa. OSSOS A UM HOMEM
Nós podemos trabalhar com uma ELE TEM O MELHOR CHEIRO DO
sondagem em que sabemos que a
amostra não é boa. Se a amostra MUNDO
anterior também for igual, PAIXÃO
podemos corrigir a nossa
observação, com a correcção que
Æzemos na anterior. Ou seja, temos
uma sondagem que sabemos que
tem pessoas com mais de 65 anos a
menos do que devia ter em relação
à amostra, e nós, na nossa
observação, corrigimos isso. O que
conta é a tendência, a evolução que
essa amostra teve. A comparação
das sondagens umas com as outras
da mesma empresa, da mesma
equipa, com a mesma amostra, o
mesmo tipo de questionário, é
muito útil. Permite uma leitura de
tendência. Rui de Azevedo
O PS fez estudos de opinião antes
das últimas legislativas. Foi
Teixeira
porque perceberam que a
margem de erro abrangia a
possibilidade de o PS ter maioria «Os cam
caminhos
aminhos do Amor
m e da Paixão, com invulgar
absoluta, que António Costa Verdade. Notável, para ficar».
passou a pedir a maioria
absoluta? Eugénio Lisboa
Não, não. É posterior a sondagem
que antevê a possibilidade de uma
maioria absoluta na melhor
«Rara na nossa ficção, desenha-se uma
situação, ou seja, no intervalo do PS personagem notável [a comunista Ana] entre
na margem superior da margem de delírio e desespero».
erro. Ninguém pegou naquela
sondagem e viu ali a maioria
Ernesto Rodrigues
absoluta. Essa sondagem foi feita a
oito dias das eleições. E quando
António Costa falou na maioria «A história é forte e arrebatadora».
absoluta, foi ainda na Francisco Topa
pré-campanha.
No dia das eleições, às 19h00,
quando nos despedimos, a equipa
«Grande e entusiasmante saga... O Paulo de Trava
da campanha — porque eles foram
para o Altis e eu fui para casa —, e Lobo já faz parte do meu imaginário».
nos abraçámos, não havia nenhuma
ideia de que se ia ter maioria António Cândido-Franco
absoluta. Tinha-se a ideia de que
seria uma vitória robusta, muito
expressiva, mas não se sabia que ia «A mais pura literatura, tão dura quanto poética».
haver maioria absoluta. Porque a
maioria absoluta, depois, depende Manuel S. Fonseca
de um conjunto de pormenores,
quer do lado do PS, quer também
do lado do PSD, sobretudo. Em
Portugal não fazemos sondagens
por círculos eleitorais, só fazemos
globais, e basta um círculo eleitoral
para alterar o resultado. Não se
consegue apurar com esse www.ruideazevedoteixeira.com
pormenor.
16 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Política
Marcelo veta decreto que privatiza a TAP:
quer transparência e saber papel do Estado
Sofia Rodrigues
Presidente escreve carta ao
primeiro-ministro a pedir
esclarecimentos. Costa diz
que “preocupações” de
Marcelo serão “ponderadas”
O Presidente da República devolveu
ontem ao Governo o diploma de pri-
vatização da TAP, pedindo a clariÆca-
ção de três aspectos: “A capacidade
de acompanhamento e intervenção
do Estado numa empresa estratégica
como a TAP; a questão da alienação
ou aquisição de activos ainda antes
da privatização; a transparência de
toda a operação.” Uma hora depois
da decisão de Marcelo Rebelo de Sou-
sa, uma nota lacónica do gabinete de
António Costa refere apenas que o
primeiro-ministro “regista as preocu-
pações” do Presidente, “que serão
devidamente ponderadas”.
Na mensagem divulgada no site da
Presidência da República ontem à
tarde, cujo conteúdo foi remetido ao
primeiro-ministro, Marcelo refere
que o decreto que viabiliza a opera-
ção, aprovado em Conselho de Minis-
tros a 28 de Setembro, “suscitava
múltiplas dúvidas e reticências à luz
da desejada máxima transparência
do processo”, o que o levou a pedir
esclarecimentos. As respostas recebi-
das esta quinta-feira “não permitiram
clariÆcar na totalidade três aspectos”
que considera “essenciais”, e é nesse
sentido que o decreto é devolvido,
para que o Governo possa “reapre-
ciar” a matéria dentro do prazo pre-
visto para uma decisão Ænal.
O Presidente aponta dúvidas sobre
a “futura efectiva capacidade de
acompanhamento e intervenção do
Estado na TAP, já que, “admitindo-se
a venda de qualquer percentagem
acima de 51%, não se prevê ou permi-
te, expressamente, em decisões admi-
nistrativas posteriores, qualquer
papel para o Estado”.
Num segundo ponto, Marcelo ques-
tiona a possibilidade de a TAP vender
ou comprar activos antes de ser pri-
vatizada, para além da já prevista
integração da Portugália.
Por último, critica a falta de trans-
parência sobre as regras que presi-
dem à escolha do comprador ao con-
siderar que é preciso tornar “claro”
que “não serão negociações vincula-
tivas”. Por outro lado, Marcelo quer
assegurar-se de que “desses contactos
Æcará registo”, algo que considera
“fundamental para garantir a prova
da cabal isenção dos procedimentos”,
isto se depois forem levantadas dúvi-
das sobre a “transparência do proces-
O Presidente recorreu, segundo a Lusa, pela sexta vez a um veto político a legislação do Governo
so e da escolha do comprador”.
O Presidente tinha assumido não
ter objecções de princípio à privatiza-
ção total da TAP, depois de o primei-
ro-ministro admitir que essa poderia
ser uma opção, mas mostrou preocu-
pação em assegurar que o diploma
Oposição concorda com decisão de Belém
A
inda que por razões
diferentes, o veto do
Presidente da República ao
decreto da TAP satisfez os
partidos da oposição. O PSD
considera que a decisão de
Belém põe “em causa qualquer
tipo de alienação” da empresa. À
direita dos sociais-democratas,
IL e Chega pedem transparência,
e, à esquerda do PS, Bloco e PCP
garantem que a única solução
passa por recuar na intenção de
privatizar a companhia aérea.
O vice-presidente do PSD
Pinto Luz defende que o veto
deve, neste momento, pôr “em
causa qualquer tipo de
alienação”. Para Pinto Luz, este é
apenas mais um episódio numa
novela com “oito anos de
ziguezagues”. Pinto Luz destaca,
das dúvidas do Presidente, que
“não fica claro como é que o
Estado vai garantir o interesse
estratégico” da companhia,
defendendo ser preciso
assegurar um “mecanismo de
aprovado em Conselho de Ministros
garantiria a salvaguarda do “interesse
nacional” para que tal não Æcasse
remetido para o caderno de encargos,
que tem mero valor administrativo.
Três meses após o Æm da polémica
comissão parlamentar de inquérito
acompanhamento”.
Tanto o PCP como o Bloco,
que se opõem à saída da
empresa da esfera pública,
reagiram considerando que as
questões colocadas pelo
Presidente só podem ser
resolvidas recuando na decisão
de privatizar a companhia.
As preocupações enunciadas
pelo Presidente “só” podem ser
garantidas por “uma TAP
pública”, disse Vasco Cardoso,
do PCP, enquanto o bloquista
José Gusmão sustentou que
“têm uma solução e a solução é
não privatizar a TAP”.
Também para a IL, as dúvidas
apontadas pelo chefe de Estado
“fazem sentido”. O liberal
Bernardo Blanco, que defende a
privatização de 100% do capital,
pede é que o processo seja
“legal e transparente”. E André
Ventura, do Chega, exige
“transparência” e a garantia de
que os contribuintes não saem a
perder. D.S. e M.M.T.
NUNO FERREIRA SANTOS
(CPI) à gestão da TAP, que contribuiu
para a convocação de um Conselho
de Estado em Julho (só concluído em
Setembro), o Presidente deixa agora
uma nota sobre o processo. Lembra
não só o “avultado montante” que
“os contribuintes nacionais tiveram
de desembolsar para salvar a TAP”,
como a “intervenção da própria
Assembleia da República, através da
CPI”, para pedir “máxima transpa-
rência em todo o processo que leva-
rá a uma decisão de venda do con-
trolo da empresa”.
Marcelo faz questão de referir que
a decisão de devolver o diploma ao
Governo não põe em causa o calen-
dário da reprivatização da compa-
nhia. “Estas três questões especíÆcas,
mas cruciais, podem ser dilucidadas
sem demasiadas delongas, isto é, sem
Admitindo-se a
venda de qualquer
percentagem
acima de 51%,
não se prevê
ou permite (...)
qualquer papel
para o Estado
Marcelo Rebelo de Sousa
prejuízo para a urgência do processo.
Por isso, as suscito no dia imediato ao
dos esclarecimentos do Governo e
muito antes do termo do prazo cons-
titucional para a promulgação”, escre-
veu, sem revelar quantos dias faltam
para atingir o limite temporal para a
decisão Ænal, que é de 40 dias.
Faz ainda referência à “crescente
rentabilidade da TAP ao longo do pre-
sente ano”, numa alusão aos lucros
de 203,5 milhões de euros registados
nos primeiros nove meses do ano.
Em Julho, o ministro das Finanças
já dizia que “o processo de privatiza-
ção da TAP irá desenvolver-se ao lon-
go de vários meses”. “É um processo
que terá o seu início formal com a
aprovação pelo Conselho de Minis-
tros de um decreto-lei (…) que dará
corpo a uma visão de valorizar o futu-
ro estratégico da companhia”, aÆr-
mou então Fernando Medina.
E agora?
O Governo pode ultrapassar o veto se
alterar o texto no sentido em que foi
pedido, levando o Presidente da
República a promulgar o decreto,
como aconteceu no caso do diploma
sobre a progressão da carreira dos
professores. No Ænal de Julho, Marce-
lo devolveu a primeira versão do
decreto para que o executivo, na sua
reformulação, abrisse a porta a uma
solução sobre a recuperação do tem-
po de serviço dos docentes. A nova
redacção estabeleceu que essa solu-
ção pudesse ser adoptada “designa-
damente em próximas legislaturas”,
alteração suÆciente para o Presidente
promulgar.
Caso o chefe de Estado e o Governo
não se entendam sobre o teor do tex-
to, o executivo pode, em teoria, tentar
legislar através da Assembleia da
República (AR), onde dispõe de maio-
ria absoluta. Esse cenário conÆgura-
ria, porém, (mais) um choque frontal
entre Presidente e primeiro-ministro,
agora em torno de uma matéria cen-
tral como a TAP, que é tutelada pelos
ministros das Finanças, Fernando
Medina, e das Infra-Estruturas, João
Galamba. Foi precisamente a propó-
sito da recusa de Costa em demitir
Galamba que, em Maio, se abriu a
mais grave crise institucional entre o
primeiro-ministro e Marcelo.
Num processo legislativo através do
Parlamento, o Presidente pode vetar
um diploma (resultante de uma pro-
posta de lei do Governo) e devolvê-lo
à AR, mas se o decreto for conÆrmado
pela maioria dos deputados terá de o
promulgar no prazo de oito dias,
como aconteceu, em Maio, com a des-
penalização da morte medicamente
assistida. com David Santiago

A dramatização da crise do SNS
e direitos dos médicos
A semana
política
São José Almeida
A dramatização política em torno
da situação do Serviço Nacional de
Saúde (SNS) atingiu patamares
inéditos esta semana. Primeiro, na
terça-feira, o director executivo do
SNS, Fernando Araújo, deu uma
entrevista ao PÚBLICO; depois, na
quarta-feira, o ministro da Saúde,
Manuel Pizarro, foi entrevistado
pelo PÚBLICO e pela Rádio
Renascença.
Não sei se ambos coordenaram
entre si a decisão de darem as
entrevistas, admito que sim, mas o
que é relevante é que os dois
principais responsáveis directos
pelo SNS surgiram, perante o país,
a dramatizar o momento que se
vive nas negociações com os
sindicatos que representam os
médicos, isto numa semana em
que, na sexta-feira, se realizou mais
uma reunião de negociação entre o
ministro da Saúde e os dirigentes
sindicais dos médicos.
Manuel Pizarro tratou de fazer
pressão sobre os sindicatos, ao
aÆrmar: “Temos de fazer um
esforço para chegar a um acordo,
mas esse esforço tem de assentar no
princípio de melhorarmos o acesso
aos cuidados de saúde, criarmos
condições para reorganizar o SNS e,
no mesmo processo, valorizar os
proÆssionais, nomeadamente os
médicos.” Para, de seguida, frisar
que o Governo já cedeu nas
negociações, deixando implícito
que agora é a vez dos sindicatos
médicos cederem: “Ao longo destes
meses de negociações, o ministério
tem feito uma evolução muito
signiÆcativa das suas propostas,
procurando perceber as
preocupações que os sindicatos
exprimem. Agora, repito, não
podemos caminhar para uma
solução que conduza a maiores
diÆculdades no SNS.”
Isto depois de, na véspera,
Fernando Araújo ter assumido, até
num tom alarmista, que
“Novembro vai ser extremamente
complexo, vai ser o pior mês,
eventualmente, nestes 44 anos do
SNS, na resposta de urgência, se
nada se alterar.” Para, de seguida,
ser ele a pressionar os médicos:
“Mas eu tenho a expectativa de
que ambas as partes cheguem a
acordo, ou pelo menos a um
pré-acordo, na próxima reunião,
que reduza esta pressão.”
E num inédito momento de
pressão, avançou por uma
apreciação de carácter sobre os
seus colegas médicos. “Estamos a
lidar com a vida e a morte. Nós não
podemos ter o mesmo tipo de
actuação que têm os diferentes
proÆssionais na sociedade. Nós
somos diferentes e temos que
mostrar que somos diferentes”,
aÆrmou, para acrescentar: “Temos
de ter uma forma de estar na vida
diferente, se queremos que a
sociedade nos veja de forma
diferente. Temos de reclamar
direitos, mas de uma forma que
seja eticamente irrepreensível.”
É certo que o papel dos médicos
na sociedade de hoje em dia é
central. Pode mesmo considerar-se
que, no mundo actual, o papel
social dos médicos substituiu, para
a maioria das pessoas, o papel que
os padres representavam enquanto
referência de segurança e conforto,
enquanto agente social que detém
poder sobre a vida e a morte. Mas
isso não signiÆca que os médicos
não tenham direitos cívicos, entre
eles o direito de lutar sindicalmente
para terem melhores condições
laborais e salariais. Assim como não
é admissível que os dois principais
responsáveis pelo SNS venham, em
duas entrevistas seguidas, procurar
condicionar o direito dos médicos a
lutar pelos seus direitos, em cima
de uma reunião entre ministro e
dirigentes sindicais.
Fernando Araújo tem razão ao
dizer que “as pessoas já
perceberam que não é possível
manter o SNS como era há vários
anos”, até porque “o mundo
mudou”. De facto, o aumento da
média de vida, graças precisamente
à evolução da medicina, é uma
realidade. Mas essa conquista
civilizacional não é um fenómeno
que não fosse já conhecido, pelo
que a necessidade de reforma do
SNS, em Portugal, estava em cima
da mesa, mesmo antes da
pandemia de covid-19. Aliás, é
importante frisar que os dois
primeiros governos de António
Costa, com o Ministério da Saúde
liderado por Marta Temido,
iniciaram a reforma do SNS, com a
aprovação da Lei de Bases da
Saúde. E que, já com o actual
Governo, foi Marta Temido quem
preparou o diploma que cria a
Direcção Executiva do SNS.
É verdade que pelo meio houve
uma pandemia de covid-19 e é
também correcto ter em conta que
uma reforma do SNS, com a
dimensão que adquire a que está
em curso, não se faz num dia, nem
num mês, nem provavelmente num
ano. O próprio ministro da Saúde,
na entrevista ao PÚBLICO e à Rádio
Renascença, aÆrma: “A
modiÆcação que estamos a fazer no
SNS é a maior desde que foi
criado.” As mudanças no modelo
de organização do SNS são, de
facto, estruturais e profundas, com
o objectivo de valorizar o papel dos
cuidados primários de saúde e,
assim, combater a cultura
dominante em Portugal de recurso
abusivo às urgências hospitalares.
Sob a liderança da Direcção
Executiva, o SNS será reorganizado
em três eixos. Um deles assenta em
“39 unidades locais de saúde, três
institutos portugueses de oncologia
e um hospital gerido em parceria
público-privada”, nas palavras de
Manuel Pizarro. O segundo passa
pela generalização a todo o país das
unidades de saúde familiar modelo
B. E o terceiro é a “reorganização
do serviço de urgência”, com
“equipas dedicadas ao serviço de
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 17
urgência, pelo menos nas urgências
de maior volume”, ainda segundo o
ministro da Saúde na mesma
entrevista.
Agora há uma realidade que
nenhum discurso político
demagógico nem nenhuma pressão
política de dramatização anulam:
não há SNS sem médicos. As
reivindicações sindicais dos
médicos em relação às suas
carreiras e à sua remuneração são
absolutamente legítimas. Já basta —
Esperemos que o
ministro Manuel
Pizarro não
continue a brincar
com o fogo e que
haja, de facto,
acordo
MATILDE FIESCHI
Política
porque está provado que não é
solução, antes contribuiu para a
crise no SNS — continuar a apostar
na contratação de médicos
tarefeiros a empresas privadas de
serviços médicos, proÆssionais
esses que saem do SNS porque são
mais bem remunerados por estas
empresas privadas. Esta solução de
outsourcing de mão-de-obra
diminui a despesa permanente nos
orçamentos do Estado com salários
de médicos do quadro dos serviços
públicos, mas acaba por custar
muito mais caro ao Ministério da
Saúde, criando uma erosão nos
serviços médicos estatais que leva à
sua paralisia e que é uma das
origens da actual situação de crise.
O Sindicato Independente dos
Médicos e a Federação Nacional
dos Médicos colocaram três
condições para negociação na
reunião de sexta-feira: a “reposição
do horário semanal de 35 horas
para os médicos que assim o
desejem”, a “reposição do poder de
compra perdido na última década
com um aumento transversal de
30% para todos os médicos” e a
“reposição das 12 horas semanais
de trabalho no Serviço de
Urgência” (actualmente, são 18
horas).
Nessa reunião, o ministro
mostrou abertura para analisar a
proposta dos sindicatos e Æcou
marcada nova reunião para
domingo. Esperemos que o
ministro Manuel Pizarro não
continue a brincar com o fogo e que
haja, de facto, aproximação e
acordo. A democracia pressupõe a
negociação séria com sindicatos,
que são as organizações
democráticas de representação dos
trabalhadores. Fazer pressão
emocional e demagógica sobre os
sindicatos dos médicos em
vésperas de uma reunião decisiva
apenas contribui para diminuir o
papel de representação cívica e
democrática dos sindicatos. E
contribui para o crescimento de
movimentos inorgânicos de
contestação no sector da Saúde, de
que é exemplo o facto de inúmeros
médicos estarem a enviar cartas ao
ministro da Saúde anunciado que
não farão mais do que as 150 horas
extraordinárias por ano, a que a lei
os obriga.
É importante que Manuel Pizarro
não deixe que se passe com o sector
público de Saúde o que se passou
na Educação, com o aparecimento
do Stop.
Jornalista. Escreve ao sábado
18 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Sociedade Negociações na saúde arrastam-se há 18 meses
Sindicatos médicos aceitam redução
de horário e aumento salarial faseados
Governo pediu mais um dia para apresentar uma contra-proposta à posição conjunta dos dois sindicatos
que admitem aumentos de salariais de apenas 10%, “para já”. Há uma nova reunião amanhã
Alexandra Campos
Ficou adiada para uma nova reunião
amanhã a hipótese de os dois sindica-
tos que representam os médicos che-
garem Ænalmente a um acordo com
o Governo nas complexas negocia-
ções que se arrastam há 18 meses. O
encontro de ontem, que era para ser
o último, terminou mais uma vez sem
acordo, ainda que com sinais de aber-
tura da parte do Ministério da Saúde,
que se mostrou disponível para ana-
lisar as três condições mínimas de
que os sindicatos não abdicam.
A Federação Nacional dos Médicos
(Fnam) e o Sindicato Independente
dos Médicos (SIM) não desistem de
exigir um aumento transversal de
30% para todos os clínicos, além da
redução das 40 para 35 horas por
semana e da passagem das actuais 18
horas semanais de trabalho nos ser-
viços de urgência para apenas 12,
repondo as condições que existiam
antes da troika. Mas também Æzeram
uma cedência: aceitam que a concre-
tização do aumento salarial e da redu-
ção de horário seja faseada.
Com Novembro à porta e a pers-
pectiva de muitas das minutas de
recusa a mais horas extraordinárias
para além das 150 horas anuais obri-
gatórias entrarem em vigor, o que vai
agravar a diÆculdade de completar
escalas das urgências de vários hos-
pitais, o Governo tem cada vez menos
margem de manobra e pode tornar-se
real o cenário “dramático” antevisto
pelo director executivo do Serviço
Nacional de Saúde, Fernando Araújo,
que admitiu que o próximo mês pode-
rá ser o pior dos 44 anos do SNS.
À saída da reunião de duas horas
de ontem, os dirigentes da Fnam e
do SIM destacaram a disponibilida-
de manifestada pelo ministro da
Saúde para olhar para a sua propos-
ta conjunta, mas sublinharam que
precisam de ver essa abertura for-
malizada. “Houve palavras de aber-
tura, mas foram só palavras. É pre-
ciso que o Governo mostre por
escrito que quer chegar a acordo. A
Fnam estará na reunião de domin-
go, se receber uma contraproposta
formal do Ministério da Saúde
durante o dia de amanhã [hoje]”,
sublinhou a presidente da federa-
ção, Joana Bordalo e Sá, lembrando
que esta foi já “a trigésima reunião”
desde que as negociações arranca-
ram há um ano e meio.
“Primeiro, o Governo tem aceitar,
Sem acordo, o caos ameaça por escrito, o princípio das nossas
instalar-se. São já mais de dois propostas e, depois disso, podemos
mil os médicos que recusam ir negociar a sua concretização e fasea-
além das 150 horas extras mento”, precisou. Na prática, os sin-
dicatos estão dispostos a aceitar que,
das actuais 40 horas por semana, “se
passe durante um tempo para 38
horas” e só mais tarde para as 35, ou,
Sindicatos no serviço de urgência, se reduza pro-
dispostos a aceitar gressivamente o trabalho semanal das
actuais 18 horas “para 16, depois, 14,
que das actuais e mais tarde, 12”, exempliÆca.
40 horas por De igual forma, o aumento sala-
rial também poderá ser “calendari-
semana se passe zado” — poderá começar agora “por
para 38 horas 10%”, admite Joana Bordalo e Sá,
FOTOS: MARIA JOÃO GALA
sublinhando, porém, que “tem de
Æcar deÆnido um limite temporal”
para se chegar aos 30%.
“O Governo Æcou de apresentar
uma contraproposta e os sindicatos
aceitaram o princípio da calendariza-
ção [das medidas], dada a gravidade
da situação”, corrobora o secretário-
geral do SIM, Jorge Roque da Cunha.
“Estamos a fazer todo o esforço pos-
sível para chegar a um acordo e será
estranho que o Governo perca esta
oportunidade de dar um sinal de
esperança e tranquilidade ao sector”,
enfatizou. Recorda que os médicos
apenas reclamam “a reposição das
condições que tinham antes da
troika”, quando aceitaram um alar-
gamento do horário semanal para 40
horas como contrapartida para um
aumento salarial, em 2012.
Enfermeiros em greve
À saída da reunião, o ministro da
Saúde, Manuel Pizarro, também
reaÆrmou a disponibilidade do
Governo para chegar a um entendi-
mento, mas quis deixar claro que o
acordo não pode pôr em causa a
sustentabilidade do SNS. “A existir,
e estamos muito empenhados em
que exista, tem de ser um acordo
equilibrado, bom para os portugue-
ses, para que vejam aumentado o
seu acesso à saúde, bom para o SNS,
permitindo reorganizar o seu fun-
cionamento, e que compense os
proÆssionais”, sintetizou. Repetiu
que é preciso que haja “um compro-
misso de partilha do esforço entre
o Governo e os médicos”.
E se não houver acordo amanhã?
“A luta vai continuar”, garante Borda-
lo e Sá, lembrando que a greve de 14
e 15 de Novembro se manterá e que
“a tragédia está aí à porta”.
São já mais de dois mil os médicos
que se recusam a trabalhar para além
das 150 horas anuais a que estão obri-
gados por lei e o problema é que mui-
tas destas escusas começam a ter
efeito a partir de Novembro, agravan-
do a diÆculdade de completar as esca-
las nos serviços de urgência, alguns
dos quais estão já a funcionar com
grandes constrangimentos e obriga-
dos a encerramentos temporários.
As negociações entre o Ministério
da Saúde e os sindicatos médicos ter-
minaram em Setembro com o Gover-
no a aprovar unilateralmente o con-
testado diploma da dedicação plena,
agravando o ambiente de tensão, e
foram reabertas há duas semanas.
Na reunião da semana passada, o
Governo propôs um suplemento de
500 euros mensais para os médicos
que fazem urgência e a possibilidade
de optarem pelas 35 horas semanais,
mas os sindicatos continuam a não
aceitar uma proposta que implique
aumentos diferenciados e o aumento
do limite das horas extraordinárias
das actuais 150 para 250 anuais.
Apesar disso, e mesmo manifestan-
do “inúmeras dúvidas e reticências”,
o Presidente da República promulgou
terça-feira o diploma que institui a
dedicação plena no SNS e o que regu-
la a organização das unidades de saú-
de familiar. A Fnam diz-se à espera de
ver a versão Ænal do decreto-lei da
dedicação plena para solicitar a Mar-
celo, à Procuradoria-Geral da Repú-
blica ou à Provedoria de Justiça, que
peçam a Æscalização da constitucio-
nalidade do diploma.
Mesmo que o Governo chegue
Ænalmente a acordo com os sindica-
tos médicos amanhã, Novembro vai
ser um mês complicado, uma vez que
o protesto já está a contagiar outros
proÆssionais do Serviço Nacional de
Saúde — e são mais de 150 mil, no
total. Há uma greve geral de enfermei-
ros marcada para 10 de Novembro e
dois sindicatos apelaram também já
à recusa à realização de horas extraor-
dinárias a partir do próximo mês.

Tânia esperou dois dias para parir a Ɗlha morta.
Instituições pedem protocolo especíƊco
Marta Leite Ferreira
Esperar em casa pelo parto
após a perda gestacional
é comum. Petição pede
internamento em alas
separadas
No dia em que Tânia Dias deu à luz,
sabia que não ouviria um bebé cho-
rar. Dois dias antes do parto, numa
consulta no Hospital Beatriz Ângelo,
soube que o coração da sua Ælha
tinha deixado de bater — Eva mor-
reu aos oito meses de uma gestação
aparentemente saudável, por moti-
vos que só uma autópsia poderá
apurar.
Durante esses dois dias, de terça
até quinta-feira, Tânia teve de con-
servar a filha já morta no útero,
enquanto aguardava que a medica-
ção para a indução do parto produ-
zisse efeito. Foram dois dias passa-
dos em casa, sem ajuda psicológica,
à espera de um parto que resultaria
num colo vazio.
O facto de Tânia ter Æcado em
casa enquanto aguardava pela
entrada no trabalho de parto não
conÆgura negligência médica e é o
procedimento habitual em casos
como este, disse ao PÚBLICO o obs-
tetra Nuno Clode, presidente da
Sociedade Portuguesa de Obstetrí-
cia e Medicina Materno-Fetal.
“Negligência seria, por exemplo, se
a vida do bebé estivesse em risco,
mas o parto não tivesse sido feito a
tempo e isso tivesse resultado na
morte.” Num caso como este, “a
mulher quer terminar aquela situa-
Desconto automático nos medicamentos chegou a 85 mil
beneficiários do Complemento Solidário para Idosos
Raquel Martins
O desconto automático de 50% na
compra de medicamentos beneÆ#
ciou, no primeiro mês, 85 mil pensio-
nistas que estão a receber o Comple-
mento Solidário para Idosos (CSI).
Durante uma audição parlamentar,
ontem, Ana Mendes Godinho, minis-
tra do Trabalho e da Segurança Social,
destacou o impacto que a medida
teve na vida destas pessoas, classiÆ#
cando-a como “impressionante”.
Em vigor desde 25 de Setembro, no
âmbito do programa Simplex, a medi-
da prevê que os beneÆciários do CSI
ção imediatamente porque é um
pesadelo”, mas, “do ponto de vista
biológico, não é uma situação emer-
gente” — e, por isso mesmo, a cesa-
riana não é a primeira opção.
No melhor dos cenários, se um
hospital tiver recursos totalmente
operacionais e em perfeito funcio-
namento, a mulher seria internada
numa sala onde não teria contacto
com outras mulheres (grávidas ou
com os seus recém-nascidos) e lhe
seria prestado apoio psicológico
imediato, enquanto aguardava pela
entrada no trabalho de parto.
Não se devem fazer induções fora
de ambiente hospital porque os fár-
macos que se utilizam para desen-
cadear o parto provocam contrac-
ções, que são um factor de agressão
para o feto. Mas em situações de
morte fetal, isso não se coloca nem
há essa obrigatoriedade”, acrescen-
ta Nuno Clode.
O problema, aponta a psicóloga
Sandra Cunha, presidente da Asso-
ciação Projecto Artémis, é que a
actuação em situações como a da
Tânia não está prevista em nenhum
protocolo aplicado de forma homo-
génea em todo o Serviço Nacional
de Saúde (SNS). O procedimento
com que o caso é gerido — desde o
acompanhamento clínico ao longo
do processo da perda gestacional
até ao apoio psicológico prestado
— “depende dos hospitais e da sen-
sibilidade das equipas dos proÆssio-
nais de saúde”, declarou.
Essa é, de resto, uma das três
principais reivindicações colocadas
pela associação numa petição lan-
çada no ano passado: a criação de
Æquem automaticamente dispensa-
dos do pagamento de 50% da parcela
não-comparticipada no preço dos
medicamentos, quando compram os
remédios na farmácia.
Até então, os beneÆciários de CSI
já tinham direito a este apoio, mas
não era automático e tinham de fazer
um pedido de reembolso, o que pode-
ria demorar até seis meses.
Ana Mendes Godinho apresentou
estes números durante a audição a
propósito do Orçamento do Estado
para 2024, onde também anunciou
que até ao Ænal de 2023 serão intro-
duzidas novas medidas de simpliÆ#
uma equipa multidisciplinar, inse-
rida tanto no Ministério da Saúde
como no Ministério do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social,
para desenvolver um documento
orientador de boas práticas no aten-
dimento a casais em situação de
perda gestacional. Entre essas boas
práticas deve estar “a existência de
alas separadas para internamento
de parturientes em situação de par-
to normal e mulheres que sofreram
perda gestacional e morte neona-
tal”, diz a petição: “Este contacto
com mulheres grávidas e bebés
recém-nascidos é de uma violência
psicoemocional imensa com seque-
las psicológicas a longo prazo para
a mulher.”
A segunda proposta é tornar obri-
gatório para todos os hospitais o
envio dos números de perda gesta-
Hospitais devem ser obrigados a enviar números de perda gestacional
cação. Uma delas é o registo dos
trabalhadores de serviço doméstico
online; a possibilidade de os traba-
lhadores de baixa anteciparem o
regresso ao emprego sem terem de
se deslocar presencialmente aos
serviços da Segurança Social e a
criação de um balcão único de con-
Quando
compram os
medicamentos
na farmácia,
idosos têm
desconto
de 50%
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 19
cional — que não é forçoso até às 24
semanas de gestação.
A terceira reivindicação da orga-
nização é a criação do Dia Nacional
para a Sensibilização da Perda Ges-
tacional e Morte Neonatal.
Consulta de seguimento
Em comunicado, o Hospital Beatriz
Ângelo, em Loures, conÆrmou que
“a utente em causa foi avaliada em
consulta electiva de obstetrícia” na
terça-feira e que “efectuou terapêuti-
ca farmacológica, que deve ser com-
plementada com intervenção nas 48
horas seguintes”. Foi o que aconte-
ceu. Tânia ainda se deslocou ao hos-
pital na quarta-feira, mas voltou para
casa: ainda não estava em trabalho
de parto e mantinha-se a situação que
lhe havia sido apresentada no dia
anterior: se fosse internada, “poderia
MIGUEL MANSO
tacto com os serviços através do site
da Segurança Social.
A equipa do Governo foi questiona-
da sobre a Prestação Social para a
Inclusão, com o PSD a considerar que
há diÆculdades no acesso a este apoio.
Na resposta, a secretária de Estado
para a Inclusão, Ana SoÆa Antunes,
tentou demonstrar que não é assim,
adiantando que este apoio está a ser
pago a 145 mil pessoas, mais 16 mil do
que as 129 mil abrangidas em 2022.
De acordo com a secretária de Esta-
do, entre o total de beneÆciários há
32.700 que têm direito ao comple-
mento pago em casos de pobreza,
Sociedade
Æcar com outra mulher grávida ou
recém-nascidos no mesmo quarto”,
descreveu Luís Dias, o marido, ao
Jornal de Notícias. Deveria voltar no
dia seguinte, a não ser que tivesse
dores ou febre; ou caso entrasse,
entretanto, em trabalho de parto.
Segundo as explicações do hospi-
tal, a ajuda psicológica não foi ime-
diatamente prestada aos pais por-
que ela só é facultada “caso essa
necessidade seja identiÆcada pelo
médico assistente”. Mas foi acciona-
da esta quinta-feira, quando a equi-
pa médica perguntou a Tânia se
pretendia receber esse apoio.
Sandra Cunha conÆrma que este
é o procedimento habitual — conse-
quência do número reduzido de
psicólogos em funções em contexto
hospitalar —, mas defende que “não
se pode permitir que não se criem
infra-estruturas e se mude a lei”
para resolver essa diÆculdade: “Mui-
tas vezes não existe apoio psicoló-
gico. Quando existe, pode demorar
meses. Mas deve haver possibilida-
de de acompanhamento no imedia-
to e uma consulta de seguimento,
no máximo, duas semanas mais tar-
de”, para Sandra Cunha.
De acordo com a Organização
Mundial de Saúde (OMS), registam-
se 2,6 milhões de perdas gestacio-
nais após as 22 semanas de gestação
todos os anos. De acordo com as
estatísticas da autoridade de saúde,
17% a 22% das gravidezes resultam
em aborto espontâneo. Em Portu-
gal, segundo o Instituto Nacional de
Estatística,, registou-se um total de
286 nados-mortos — perdas gesta-
cionais a partir das 28 semanas.
que, em média, “ascende 572 euros”.
Na acumulação da base e do comple-
mento, o valor máximo pago em 2023
ronda os 786 euros, montante que
chega a mais de 8300 pessoas.
Ana SoÆa Antunes salientou que,
caso venham a ser aprovados os
valores que constam na proposta de
OE para 2024, “não apenas a com-
ponente base passará dos actuais
298 euros para 316 euros, como o
valor do complemento acompanha-
rá o processo que está proposto
para o Complemento Solidário para
Idosos”, o que signiÆca que passará
para 550 euros.
20 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Sociedade
Van Dunem quer quotas para minorias
em faculdades, polícias e função pública
Ana Henriques
“Existem hoje bolsas
de grande revolta” entre
as minorias racializadas,
observa ex-ministra
da Justiça
A ex-ministra da Justiça Francisca van
Dunem admite que nem sempre pen-
sou desta forma, mas neste momento
não vê outra saída: é preciso criar
quotas para as minorias racializadas
não só no ensino superior como tam-
bém nas forças de segurança e na
função pública.
A ideia é ultrapassar desigualdades
de acesso ao ensino e ao emprego,
mas também criar algum apazigua-
mento social. “Existem hoje bolsas de
grande revolta” entre estas minorias,
observa a magistrada. Apesar de ter
chegado a ser debatida, a discrimina-
ção positiva étnico-racial no acesso
ao ensino superior acabou por nunca
ir por diante, tendo sido substituída
por quotas para os alunos mais
pobres.
Francisca van Dunem foi a primei-
ra convidada das Conversas sobre
Racismo e Xenofobia que vão decorrer
todas as quintas-feiras na Faculdade
de Direito da Universidade Nova, em
Lisboa, por iniciativa do observatório
dedicado ao fenómeno que foi criado
este ano no seio da instituição de
ensino superior. Coordenado pela
docente Teresa Pizarro Beleza, o
observatório tem parcerias com
outras universidades e politécnicos,
estando sob a alçada da ministra
Adjunta e dos Assuntos Parlamenta-
res, Ana Catarina Mendes.
Uma porta, não um favor
O PÚBLICO ouviu alguns especialis-
tas sobre a ideia da antiga governan-
te. “Faz sentido”, diz Maria José
Casa-Nova, professora da Universi-
dade do Minho e antiga coordena-
dora do Observatório das Comuni-
dades Ciganas. A investigadora
entende, no entanto, que estas
devem ser medidas temporárias,
por forma a “naturalizar a presença
destas pessoas” nas instituições em
causa. “Não é para sempre. Mas
duvido que possam durar menos de
uma década.” Será um primeiro pas-
so para a desconstrução dos estereó-
tipos discriminatórios, para mudar
mentalidades.
À semelhança de Francisca van
Dunem, também Maria José Casa-No-
va nem sempre foi adepta das quotas,
nomeadamente quando a presença
de mais mulheres foi imposta no Par-
lamento, por achar que se estava a
Francisca van Dunem foi ministra da Justiça entre 2015 e 2022
menorizar o género feminino. Hoje
acha ingénua essa forma de ver a
questão.
Neste caso, “há posições de desi-
gualdade social que resultam de uma
pertença étnico-racial” que urge
equilibrar. “As quotas não são um
favor. São a abertura de uma porta”,
insiste. Sentido faria também, aven-
É impossível
garantir se
determinado
candidato
pertence à etnia A,
B ou C
Alexandre Homem Cristo
Politólogo
NUNO FERREIRA SANTOS
ta, o Estado dar incentivos Æscais às
empresas privadas que procedam à
contratação destas pessoas, como de
resto já faz com os portadores de
deÆciência.
Já o sociólogo Rui Pena Pires vê
com bons olhos a discriminação posi-
tiva no acesso às polícias, “onde é
muito fácil a emergência de compor-
tamentos racistas”, mas torce o nariz
à aplicação destas medidas no ensino
superior, por causa da “valorização
excessiva dos critérios de mérito que
aqui se faz sentir”.
Quotas territoriais?
A imposição de quotas para estas
minorias podia ter efeitos contrapro-
ducentes, avisa. Coisa diferente, e
que defende há muito, seria criar
vagas especiais nas universidades e
politécnicos para quem mora nos
chamados bairros problemáticos — e
não simplesmente para os alunos
mais pobres. O sociólogo explica a
razão pela qual defende que a discri-
minação positiva se baseie numa
base territorial, e não económica:
“Não é só por serem mais pobres que
as pessoas têm diÆculdade em estu-
dar. Não é o mesmo ser pobre numa
cave em Alvalade ou num bairro
social, onde as escolas mais próximas
são frequentadas por alunos na sua
maioria carenciados.”
Dito isto, prossegue o mesmo espe-
cialista, “é da mais elementar justiça”
a criação de vagas especiais nestes
termos, que, no seu entender, terão
sempre mais aceitação do que as que
se basearem em critérios étnicos.
E qual a exequibilidade deste tipo
de medidas? Pouca ou nenhuma,
garante o politólogo e antigo membro
do Conselho Nacional de Educação
Alexandre Homem Cristo, para quem
é impossível garantir se determinado
candidato a um lugar pertence efec-
tivamente à etnia A, B ou C. “A etnia
não está registada documentalmen-
te, tendo-se desistido da ideia de
começar a fazer essa pergunta nos
Censos”, recorda. Assim sendo, qual-
quer discriminação positiva “assen-
taria em critérios subjectivos, o que
a torna problemática”.
Também com muita reÇexão pro-
duzida sobre as questões étnicas e as
migrações, o historiador e ex-depu-
tado comunista Manuel Loè não crê
que as quotas sejam, de forma algu-
ma, a melhor solução.
Contudo, ressalva, o cenário que
se observa na sociedade portuguesa,
onde praticamente não existem
afrodescendentes no Parlamento ou
nos cursos de Medicina, por exem-
plo, ajudam a perceber que a meri-
tocracia e a mobilidade social propi-
ciada pela frequência escolar não
chegam para fomentar a igualdade.
E que é de facto necessário recorrer
à discriminação positiva, por muito
que as quotas sejam controversas.
Manuel Loè deixa um conselho:
estude-se primeiro o que já foi feito
a esse nível nos EUA e no Brasil,
antes de se avançar.
Na Faculdade de Direito da Univer-
sidade Nova, Francisca van Dunem
disse também ser fundamental criar
um programa que permita conscien-
cializar os Ælhos de pais estrangeiros
que nunca se naturalizaram, apesar
de morarem em Portugal há muitos
anos, do seu direito à nacionalidade
portuguesa desde que tenham nasci-
do em solo português.
Apesar de terem esse direito desde
2020, data de uma alteração legisla-
tiva nesse sentido, por desconheci-
mento muitos nunca o exerceram. “É
preciso criar uma espécie de Simplex
para assegurar que essas pessoas têm
a nacionalidade do país que as viu
nascer”, defendeu a magistrada.
Insultos racistas:
é preciso formar
magistrados
I
nterpelada por uma activista
que se encontrava na
assistência, Francisca van
Dunem mostrou-se avessa à
introdução de alterações no
Código Penal destinadas a
permitir punir quem profira
insultos racistas fora do espaço
público. A lei diz que se sujeita
até cinco anos de cadeia quem
“publicamente, por qualquer
meio destinado a divulgação”,
provocar violência, injuriar ou
ameaçar outrem “por causa da
sua raça, cor, origem étnica ou
nacional, ascendência, religião,
sexo, orientação sexual,
identidade de género ou
deficiência”.
Mas a ex-governante está
convencida de que as actuais
disposições do Código Penal
são suficientes para punir a
discriminação, caso “houvesse
vontade de o ler
adequadamente” por parte dos
magistrados que o aplicam.
“O que existe é um problema
de interpretação e aplicação
da lei”, disse, recordando que a
criminalização de mais
condutas deste tipo esbarrou,
quando foi discutida no
Parlamento, com a questão da
liberdade de expressão. “O
grande drama é a falta de
efectividade das punições”, e
não o facto de as injúrias
racistas proferidas em privado
poderem não ser crime,
reforçou. Assim fossem
aplicadas pela justiça
contra-ordenações pesadas
nestas situações. Além disso,
“a formação dos magistrados é
fundamental”. Francisca van
Dunem elogiou a atenção que
a Procuradoria-Geral da
República deu a este
fenómeno nos anos 80 e 90,
no tempo de Cunha Rodrigues,
apesar de se deparar com
situações nem sempre fáceis. E
recordou o caso de um rapaz
negro que, depois de agredido
à bastonada no Porto, foi
deixado às portas da morte na
linha férrea: “O Ministério
Público arquivou o processo
alegando que no dia seguinte
havia greve dos comboios.”
 Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 21

Sociedade

Pandemia esgotou os polícias: burnout

e ideação suicida preocupam especialistas
Patrícia Carvalho
Enquanto os médicos eram
aplaudidos na pandemia,
os agentes da polícia eram
insultados, porque faziam o
trabalho do “mau da fita”
À primeira vista, os resultados até
parecem animadores: de 2021 para
2023, os níveis de stress e de burnout
(esgotamento proÆssional) baixaram
entre os polícias portugueses. Só que
nem Rute Pereira nem Cristina Quei-
rós, investigadoras da Faculdade de
Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade do Porto, acreditam
nestes dados. Porquê? “Estamos
perante o mito do trabalhador saudá-
vel”, aÆrma Rute Pereira.
Cristina Queirós especiÆca: “A respos-
ta a estes questionários é autorizada
pela hierarquia e é um acto voluntá-
rio. Até aqui, tínhamos a ideia de que
as resposta traduziam um pouco o
que estava no terreno, mas a nossa
surpresa agora é que vamos ao terre-
no e temos cada vez mais queixas de
pessoas a dizer que já não têm forças
para preencher sequer o questioná-
rio, que estão exaustas. Os que preen-
chem são os que não estão doentes,
o que faz parecer que o burnout dimi-
nuiu, mas o que recolhemos dos
dados qualitativos é que na pós-pan-
demia as pessoas estão mais doentes
e tão doentes que nem colaboram nos
estudos”, sustenta.
Este é um dos aspectos que ressal-
tam das comunicações que as duas
investigadoras apresentaram, ontem,
na conferência A saúde mental nas
força de segurança: stress, burnout e
suicídio, organizada pela Inspecção-
Geral da Administração Interna. Cris-
tina Queirós analisou a evolução do
burnout em polícias, a partir de dados
recolhidos nos últimos 20 anos. E
estes parecem apontar para que fac-
A exaustão e o
desinvestimento
no trabalho
aumentaram
entre os agentes
policiais nos
últimos 20 anos
tores como a exaustão e o desinvesti-
mento no trabalho aumentaram
(dimensões inerentes ao burnout),
sobretudo entre 2017 e 2020. Entre
2021 e 2022, aparentemente diminuí-
ram. Mas investigadora não acredita
que assim seja. “Os dados estão bru-
talmente enviesados, porque cada
vez temos menor adesão aos questio-
nários e recolhemos dados dos que
estão saudáveis.”
Rute Pereira concorda. No trabalho
que desenvolveu, a partir de um ques-
tionário anónimo feito em 2021 a 1802
polícias (da PSP, GNR e Polícia Muni-
cipal), as respostas até parecem ani-
madoras: apontam para níveis mode-
rados de stress operacional (relacio-
nado com a realização da actividade)
e organizacional (ligado à organiza-
ção da instituição), muito baixos de
ideação suicida e valores um pouco
mais preocupantes de burnout. Con-
tudo, quando se olha para os resulta-
dos através de uma malha mais Æna,
surgem as preocupações. Das respos-
tas obtidas, 1295 apontavam para um
stress operacional elevado, 1110 para
o mesmo nível de stress organizacio-
nal e 1016 para pessoas em burnout.
Na ideação suicida, 50 polícias admi-
tiram ter tido pensamentos sobre
acabar com a própria vida no último
mês, e seis quase todos os dias.
No entender de Rute Pereira, que
é também agente da Polícia Munici-
pal, a explicação está directamente
relacionada com a pandemia. “Foi
exigido aos polícias um esforço extra
e quase sobre-humano perante um
inimigo desconhecido. Eles estiveram
na linha da frente, com níveis de adre-
nalina muito elevados, mas também
receio. Tinham de controlar os cercos
sanitários e ao mesmo tempo tinham
o mesmo medo que os outros de con-
tagiar a família. Os médicos e enfer-
meiros também passaram por isto,
mas enquanto eram aplaudidos, os
polícias eram insultados, porque
faziam o trabalho do ‘mau da Æta’,
que não permitia a circulação, a pas-
sagem para outro concelho”, recorda
Rute Pereira. E junta a esta análise o
que diz ser “a questão muito cultu-
ral”, que continua a associar a proÆs-
são de polícia à de alguém muito
forte, que não chora, e o fácil acesso
a armas de fogo. Tudo somado, as
hierarquias têm de facultar ajuda ime-
diata quando é pedida e sem a colo-
cação de etiquetas como ‘vais ao
psicólogo porque és maluco ou és
fraco’”, avisa Rute Pereira. Este ano,
segundo os dados da investigadora,
entre Janeiro e Abril, suicidaram-se
cinco polícias em Portugal.

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22 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Local Parque eólico em Sines obriga ao corte de 1821 sobreiros
Abate de sobreiros
Especial
Teresa Serafim Texto
Rui Gaudêncio Fotografia
Saímos de Sines e, nem chegou
é um “sacrifício” bem a 20 minutos, de carro, e
chegámos à barragem de Morgavel.
Pouca gente se viu pelo caminho e
a calma sente-se no local. A chuva
vai caindo, sem grande sobressalto,
e, num montinho ao longe, vê-se o
pela transição
ninho da ameaçada
águia-pesqueira. Mas a acalmia na
barragem não faz antever a
“ventania” em torno do planeado
abate de sobreiros para a
instalação de um parque eólico ali
energética
nas proximidades.
Dentro do carro, esperamos para
que nos mostrem os sobreiros que
serão abatidos. Os caminhos
anunciam-se sinuosos e teremos de
fazer a visita guiada ao local numa
carrinha todo-o-terreno — aliás, em
duas carrinhas. Afinal, uma das
visitas será feita com a EDP, que vai
instalar o parque; a outra far-se-á
com ambientalistas, que têm vindo
a contestar o abate das árvores.
O guião é o mesmo em ambas: a
Corte de sobreiros para instalação de parque eólico em Sines polémica estalou no Verão. A 1 de
é polémico. Visitámos o local com partes distintas: a EDP, que Agosto, é publicado em Diário da
República um despacho do ministro
instalará o parque; e ambientalistas, que contestam o processo do Ambiente e da Acção Climática,
Duarte Cordeiro, que declara a
“imprescindível utilidade pública”
do futuro Parque Eólico de
Morgavel. Com essa declaração é
assim autorizado o abate de 1821
sobreiros numa área de 32,22
hectares, nos concelhos de Sines e
Santiago do Cacém, onde Æcará o
parque.
Como o sobreiro é uma árvore
protegida por lei em Portugal, o seu
abate apenas pode realizar-se
através desta declaração de
“imprescindível utilidade pública”.
Contudo, esta deve apenas existir
quando não há outra alternativa.
Para que o corte de sobreiros
avance, terão de ser plantadas,
como compensação, mais árvores
num outro local.
A partir daqui, desenrola-se uma
contestação em torno do abate dos
sobreiros em Sines. Cidadãos,
empresários, cientistas e
organizações ambientalistas
criticam o processo. O Bloco de
Esquerda questiona o Governo. E é
organizada uma manifestação
contra o corte das árvores. No
PÚBLICO, dá-se início a um debate
de opiniões sobre o processo e
começa a questionar-se se é assim
tão chocante cortar os sobreiros,
sendo muitos deles jovens e uma
grande parte estando numa
condição débil.

Os ambientalistas Domingos
Patacho e Paulo Pimenta de
Castro dizem que se deveria ter
procurado outras alternativas
para a instalação do parque
A polémica vai crescendo e as
questões também. AÆnal, que
sobreiros são estes? Em que áreas
serão cortados? Que impacto terá
no local o seu abate? E não havia
outra alternativa para a instalação
do parque eólico?
A visita com a EDP...
É com essas questões que damos iní-
cio à primeira visita guiada ao local,
com responsáveis da EDP. Nos bancos
da frente, na carrinha, guiam-nos
Timóteo Monteiro (responsável
ambiental da EDP Renováveis) e Hugo
Costa (responsável da EDP Renová-
veis em Portugal). “Vamos mostrar-
vos o trajecto do projecto”, anun-
ciam. Ou parte dele.
Poucos minutos após o arranque,
ainda numa estrada de alcatrão, a
carrinha pára. “O transporte das
turbinas é feito nesta direcção”,
indica Timóteo Monteiro, a apontar
para um caminho de terra ladeado
de árvores. Aqui, já estão alguns dos
sobreiros que serão abatidos. Neste
caso, esse corte será feito para
alargar acessos e se conseguir
Parque Eólico de Morgavel
Mapa mostra a área onde ficará o
Parque Eólico de Morgavel da EDP.
Numa fase anterior, seriam
abatidos mais de 1800 sobreiros
Sines
para a sua instalação. Ajustes ao
projecto reduziram o número de
árvores a cortar.
Por agora, serão 1517
Sobreiros que serão abatidos
Sobreiros que deixarão
de ser abatidos após ajustes
ao projecto Sines
800m
Fonte: EDP
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 23
chegar com as turbinas ao sítio.
“Muitos dos sobreiros identiÆcados
para abate Æcam junto às estradas”,
descreve Hugo Costa.
O responsável da EDP Renováveis
em Portugal explica que o Parque
Eólico de Morgavel terá 12 turbinas,
que Æcarão separadas por cerca de
500 metros. “Aqui será um dos
acessos de turbinas que Æcarão até
no meio de um eucaliptal”, aponta.
O processo de atribuição do
projecto recua a 2008 e transitou de
Torre de Moncorvo para Sines. No
fundo, considerou-se que a área
tem capacidade para ter um parque
eólico e uma linha eléctrica a 400kV
de interligação à subestação de
Sines — uma instalação eléctrica que
existe no concelho.
OÆcialmente, a EDP ainda não é a
“dona” do projecto, que pertence
ao grupo Island Renewables e ao
CJR. Em Fevereiro, a Autoridade da
Concorrência autorizou a EDP
Renováveis a comprar o projecto.
Avançamos. Num outro caminho,
já de terra batida, há sobreiros de
um lado e do outro, separados por
uma estrada recta. Não são
sobreiros imponentes, mas
parecem estar em bom estado: são
adultos e ainda dão cortiça. Muitos
dos que estão junto às vedações, de
um lado e do outro, têm uma marca
branca à volta — é o sinal de que
serão abatidos.
Mas nem todos. “Vamos
conseguir deixar de abater muitos
deles”, assinala Hugo Costa, a
apontar para alguns sobreiros mais
afastados da vedação. Num tablet,
os responsáveis da EDP
mostram-nos um mapa do terreno
com pintas vermelhas — com os
sobreiros a cortar — e com pintas
verdes — com as árvores que seriam
abatidas e são poupadas.
Através de ajustes ao projecto, a
EDP refere que serão abatidos
menos sobreiros do que aqueles
que estavam previstos. Por agora,
serão 1517 as árvores a ser cortadas.
De acordo com a empresa, 96 são
adultas e saudáveis; 245 são adultas
e doentes; e 29 são adultas e já estão
mortas. Mas a maioria é jovem — o
que quer dizer que essas árvores
ainda não estão totalmente
desenvolvidas: 576 são sobreiros
jovens saudáveis; 514 são jovens e
doentes; e 57 são jovens, mas já
estão mortos.
Saímos da estrada recta e
seguimos por caminhos cada vez
mais sinuosos. À medida que
avançamos, vão-se observando
sobreiros num estado mais débil.
Alguns já não têm copa. Outros
estão caídos no chão. “Quanto mais
subimos, pior é o panorama. Esta
zona está com muitos problemas”,
avisa Timóteo Monteiro. Ao seu
lado, Hugo Costa evidencia: “Aquele
ali está morto e conta como
sobreiro para abate.”
Para compensar o abate, a EDP
PÚBLICO vai plantar árvores num outro local.
Esta é uma medida deÆnida por lei,
que impõe que se compense a área
em que as árvores são abatidas
multiplicando, no mínimo, por 1,25.
No caso do Parque Eólico de
Morgavel, o valor foi de 1,5 a
multiplicar pela área do corte (os
tais 32,22 hectares), o que resulta
numa plantação em 50,07 hectares.
Nessa área, a empresa plantará
42.000 árvores: 30.000 sobreiros e
12.000 medronheiros.
A área da plantação foi deÆnida
pelo Instituto da Conservação da
Natureza e das Florestas (ICNF) e
Æca no Perímetro Florestal da
Conceição da Tavira. Ao PÚBLICO,
o ICNF referiu que o projecto de
compensação deverá “iniciar-se no
próximo ano” e que Æca numa área
afectada pelo incêndio rural que
ocorreu em Agosto de 2021.
Hugo Costa considera que existe
até “uma desproporção” entre o
número de sobreiros abatidos e os
que serão plantados. O responsável
da EDP Renováveis refere-o porque
o abate de sobreiros em Sines será,
sobretudo, ao longo de acessos ou
no local onde Æcarão plataformas —
e não em povoamentos de sobreiros
densos.
Para mostrar como o parque
eólico compensará, Hugo Costa
menciona valores da captura de
CO2. “Assumindo que os 1800
sobreiros fossem adultos e
saudáveis, seriam [capturadas] 42
toneladas de CO2 [por ano]”,
estima. Estas contas são feitas com
base em dados da Agência Europeia
do Ambiente, que refere que uma
árvore captura, em média, 22 quilos
de CO2 por ano — o que resulta nas
tais 42 toneladas.
Para contrapor estes valores,
Hugo Costa compara-os com as
emissões de CO2 que o parque
eólico pode evitar. “Vai permitir
poupar em termos de combustíveis
fósseis cerca de 42.000 toneladas
de CO2 por ano”, diz o responsável
da EDP. Estas emissões evitadas
calculam-se tendo em conta a
produção do parque eólico durante
o seu tempo de vida útil e a
substituição que está a ser feita no
que se refere a combustíveis fósseis.
Os valores usados são baseados nas
estimativas de produção anual do
Parque Eólico de Morgavel e nos da
Direcção-Geral de Energia e
Geologia, que indica que cada
gigawatt-hora (GWh) produzido
poderá evitar cerca de 250
toneladas de CO2.
Cuidado a comparar
Mas será válido comparar o CO2
capturado por sobreiros e o
evitado por um parque eólico? A
cientista Júlia Seixas considera que
o argumento de que novos parques
podem compensar a destruição da
captura dos sobreiros “não é sério
nem correcto”. A professora da
Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade 
24 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023

Local Parque eólico em Sines obriga ao corte de 1821 sobreiros

Nova explica que não está só em

causa a captura de CO2 das
árvores. Quando são retiradas,
destrói-se ecossistema, que tem
um ciclo de matéria orgânica
incorporada no solo e captura CO2.
Além disso, a cientista corrige um
valor: quando o Parque Eólico de
Morgavel começar a funcionar, já
não vai evitar 42.000 toneladas de
CO2 por ano — serão menos. Ora, os
cálculos que levaram às 42.000
toneladas foram feitos com base em
valores de 2021, e ainda estava em
funcionamento a central a carvão
do Pego. “Quanto mais se avança no
tempo, mais renováveis produzem
electricidade, e o factor da emissão
é mais baixo”, esclarece. “Abater
ecossistemas não deve ser opção
para instalação de projectos de
produção de electricidade
renovável”, defende.
Mesmo assim, já no final da visita
com a EDP, Timóteo Monteiro
realça que, durante a construção do
parque eólico, a terra vegetal será
recuperada e voltará a ter as suas
características originais. “A
recuperação do estrato herbáceo
acontece de um ano para o outro”,
diz, referindo que se readquire a
capacidade de captura de CO2.
Em resposta às críticas ao
projecto, Hugo Costa frisa que a
EDP “percebe a preocupação com o lineares e paramos no mais linear: a Timóteo Monteiro e Hugo Costa, Ambos consideram que se deveria caminhos ou por onde passará a
abate de árvores, em particular dos estrada recta que já tínhamos da EDP, referem que “vamos ter procurado outras alternativas. linha eléctrica, numa área dispersa.
sobreiros, que são árvores visitado com a EDP. De um lado e do conseguir deixar de abater Domingos Patacho ressalva que o “Nesta situação justiÆca-se ter uma
protegidas”. Contudo, além do lado outro, perto da vedação, muitos deles”. Por agora, serão tal “sacrifício” em nome da autorização de utilidade pública
ambiental, salienta que o projecto encontramos sobreiros adultos 1517 as árvores a serem transição energética pode ser para permitir o corte de sobreiros?
“tem de ser minimamente marcados para abate. “Vê?! Estes cortadas. De acordo com a evitado ou minimizado com melhor Se não encontrei alternativa, se
produtivo” e tem de ser assegurada são produtivos”, aponta Paulo empresa, 96 são adultas e planeamento do território. “Na estou a precisar de fontes de energia
a sua viabilidade. “É um projecto, Pimenta de Castro. saudáveis; 245 são adultas e prática, somos contra o projecto renovável e os cortes forem
entre vários, que se pretende Para o engenheiro silvicultor, há doentes; e 29 são adultas e já como está a ser desenhado”, nota. limitados o mais possível, diria que
instalar no país em que se aspectos que não foram estão mortas sim”, reÇecte.
promoverá a substituição dos devidamente avaliados no projecto Não havia alternativas? Mas a discussão não é assim tão
combustíveis fósseis por energias — um deles é a biodiversidade. A questão das alternativas continua a linear. A investigadora Teresa Pinto
limpas. Este trajecto faz-se, Andamos pela estrada e vamos montado por ter uma grande ser alvo de discussão. Francisco Fer- Correia continua a perguntar: “Por-
naturalmente, com algum ouvindo aves a cantar. “Estão aqui densidade de arvoredo e não ter reira, presidente da associação que é que se tem de instalar aquela
sacrifício”, nota. “O que temos de porque é aqui que está o seu uma componente agrícola. Numa ambientalista Zero, considera que, unidade de produção ali e não pode
assegurar é que a dimensão do habitat, o montado”, nota encosta, vêem-se sobreiros e aparentemente, não houve alternati- ser instalada num sítio sem árvores?”
sacrifício justifica a transição.” Domingos Patacho. Além da medronheiros. E, de repente, há um va. “Não digo que não pudesse ser Para a cientista, teria de ser feito um
Quanto aos próximos passos, espe- questão do habitat, Paulo Pimenta alerta lançado por Domingos feito ainda mais trabalho para se estudo ainda mais rigoroso.
ram-se os desenvolvimentos da pro- de Castro acrescenta que há a Patacho: “Olhem, está ali uma reduzir o corte de sobreiros, mas Os argumentos que têm sido dados
vidência cautelar que o Grupo de questão das pás das turbinas, em águia-de-bonelli.” Depressa vai achamos que foi feito um esforço sobre os sobreiros jovens e débeis não
Acção e Intervenção Ambiental entre- que as aves poderão colidir. buscar a máquina fotográÆca para a intenso para se reduzir o número de a convencem. “As árvores jovens são
gou no Tribunal Administrativo e Continuamos a caminhar e registar. “Está a passar onde vão pôr sobreiros a serem cortados”, diz o a promessa do montado”, argumenta
Fiscal de Beja para anular o despacho saímos da estrada recta. Chegamos linhas eléctricas”, ressalva. também professor na Faculdade de a investigadora do MED – Instituto
do ministro do Ambiente. “É preciso a uma área com menos densidade A EDP diz que existe só um Ciência e Tecnologia da Universidade Mediterrâneo para Agricultura,
perceber o caminho que será seguido de árvores e onde estão os tais pequeno troço de acesso no Nova de Lisboa. Ambiente e Desenvolvimento da Uni-
e os impactos que a providência terá”, sobreiros jovens. Há alguns que projecto em que a área poderá ser Há um princípio que Francisco versidade de Évora. Quanto aos
indica Hugo Costa. chegam à cintura, outros Æcam-se considerada Çoresta de sobreiro, Ferreira realça que deve ser sobreiros doentes e já mortos, diz: “Se
Nós também seguimos caminho. pela zona dos joelhos. Muitos não mas que espera fazer reajustes considerado em primeiro lugar: tem só se abaterem árvores doentes, é
chegam a um metro. nessa parte do projecto. de se evitar o abate de espécies menos grave do que se forem árvores
...e visita com ambientalistas “Estes são os tais que falam que Tanto Domingos Patacho como como os sobreiros. “Só devo cortar grandes muito saudáveis, mas mesmo
Há ainda outra visita a fazer: percor- são realmente pequenos”, realça Paulo Pimenta de Castro fazem povoamentos de espécies as árvores doentes podem ter um
rer os trilhos dos sobreiros com Domingos Patacho, com um deles questão de dizer que não são contra autóctones se não tiver alternativa papel a ajudar as jovens a crescer.”
ambientalistas. Na carrinha está pela cintura. Ao seu lado, Paulo o parque eólico em si. “A ideia que melhor”, considera. Foi o que acha Outra das suas preocupações é o
Domingos Patacho (do grupo das Ço- Pimenta de Castro complementa: se dá é que quer a pressão do solar que aconteceu neste caso. declínio do montado no país.
restas da Quercus) e Paulo Pimenta “Os argumentos de que são árvores quer a pressão do eólico estão, Primeiro, o local onde será Estima-se que nos anos 1980
de Castro (engenheiro silvicultor e jovens e são desprezíveis não faz neste momento, a ser feitas à custa instalado o parque reúne existissem 1.200.000 hectares de
presidente da direcção nacional da sentido. Nem que estejam mortos!” de território”, alerta Paulo Pimenta condições: tem uma subestação montado em Portugal. Desde 1990,
associação ambiental Iris). “O terreno Seguimos por outros caminhos, de Castro. Aquilo que dizem ser, de próxima, para se ligar o parque, e tem-se vindo a perder 5000
é uma coisa gigantesca, tem dezenas cada vez mais tortuosos e difíceis de facto, contra é quanto “à aparente há vento. Depois, tem de se hectares por ano devido a doenças
de quilómetros. É uma área linear”, atravessar, para chegar a um lugar ausência de critérios por parte do perceber se será, de facto, afectado ou à degradação do solo. Já os
anunciam. Passamos apenas por uma que os ambientalistas descrevem Governo e das entidades um povoamento de sobreiros. E, sobreiros que têm sido plantados
pequena parte. como “uma relíquia”. É um administrativas sobre a forma como neste caso, a maioria das árvores pouco vingam. “Mesmo que não
Vamos por esses caminhos sobreiral — que se diferencia do estes projectos se podem instalar”. que serão cortadas está junto a morram, crescem pouco”, diz a

cientista. A taxa de sucesso de novas
plantações é de 10% ou menos.
As alterações climáticas já se
sentem e são cada vez mais duras:
chove menos e as temperaturas
estão mais elevadas. “Actualmente,
plantar novas árvores não é a
mesma coisa do que plantar novas
árvores há 20 anos”, assinala. “Se
ainda vamos cortar as que existem,
vamos aumentar esse declínio.”
Compensação insuÄciente
Por tudo isto, Francisco Ferreira refe-
re que a plantação de 30.000 sobrei-
ros como compensação é “pouco
exigente”. “A legislação é pobre do
ponto de vista da compensação”,
aponta. Mais: não garante que o ter-
reno ainda esteja a ser ocupado por
sobreiros daqui a mais de 20 anos.
“Se cortar um sobreiro adulto, só vou
voltar a ter essa árvore daqui a muitas
dezenas de anos.”
Para avaliar estas medidas de
compensação, o Ministério do
Ambiente criou um grupo de
trabalho. Nesse grupo, além da Zero
e do MED, está o ICNF, União da
Floresta Mediterrânica — UNAC, a
Associação Portuguesa de Cortiça e
um representante do Gabinete do
Secretário de Estado da
Conservação da Natureza e
Florestas. Espera-se que até
Dezembro o grupo faça uma
declaração sobre essas medidas.
Teresa Pinto Correia, que faz
parte do grupo, assinala que plantar
novas árvores não substitui um
ecossistema. Um conjunto de
árvores pode ser importante num
determinado local para a
nidiÆcação das aves ou para a
prevenção da erosão, e noutro local
já não ter o mesmo impacto. Por
tudo isto, considera que as medidas
de compensação deveriam ser
pensadas de uma forma muito mais
completa, desde a localização, o
seguimento da replantação e a
constituição de todo o ecossistema.
O caso deste polémico abate de
árvores em Sines não se restringe
apenas a este território e às medidas
de compensação. Este é um
exemplo entre os muitos que
surgirão – e outros que já
aconteceram – de um conÇito entre
a transição energética que está a
ocorrer e a Çoresta que tem de se
preservar. “Vamos ter muitos
conÇitos... É o caso de Morgavel,
mas ainda temos muita potência
eléctrica para instalar de renováveis
e muitos destes conÇitos vão
surgir”, antevê Francisco Ferreira.
“Morgavel é algo pequeno em
comparação com os gigawatts que
“O objectivo da
transição climática
é muito necessário,
mas a preservação
dos ecossistemas
também é — os dois
deveriam andar
lado a lado”, diz
Teresa Pinto
Correia
temos de implementar.” Para nos
prepararmos, o presidente da Zero
diz que precisamos de encontrar
melhores áreas para essa instalação
e ter a certeza de que estamos a
reduzir ao máximo os danos que
vão sendo criados.
Também Teresa Pinto Correia
prevê que mais conÇitos venham a
acontecer, até porque os governos,
incluindo o português, têm metas a
nível da redução das emissões dos
gases com efeito de estufa e das
energias renováveis – em Espanha
ou Itália tem havido disputas do
mesmo género. Mas não concorda
que os conÇitos sejam inevitáveis.
“O objectivo da transição climática é
muito necessário, mas a
preservação destes ecossistemas
também é – os dois deveriam andar
lado a lado”, defende.
A investigadora argumenta que
estes conÇitos se apaziguariam com
um adequado planeamento do
território. Para si, deveria ser feito
um estudo mais aprofundado sobre
as áreas em que podem ser
instalados projectos de renováveis e
aquelas em que se deve proteger os
ecossistemas.
Alguns passos têm sido dados
nesse sentido. Este ano, uma
investigação desenvolvida pelo
Laboratório Nacional de Energia e
Geologia mapeou 12% da área de
Portugal continental como
potencialmente apta para instalar
projectos de electricidade
renovável, podendo salvaguardar-se
o ambiente. Para não ter se voltar a
perguntar: a transição energética
tem mesmo de ser um “sacrifício”?
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 25
Montado em Portugal
Foram autorizados
para abate 13.449
sobreiros desde 2017
Teresa Serafim compensação. A lei indica que terá
de ser plantada uma área mínima
Em Portugal, foram autorizadas de compensação de 1,25 a
para abate 85.882 árvores entre multiplicar pelo número de
2017 e Agosto de 2023, de acordo hectares onde as árvores foram
com dados do Instituto da cortadas. De 2017 a Agosto de 2023,
Conservação da Natureza e das a área de corte foi compensada com
Florestas (ICNF). Dentro desse projectos numa área de 705,87
valor, 13.449 são sobreiros — uma hectares, o que corresponde a
árvore protegida por lei. 351.316 árvores – das quais 171.221
Ao todo, a floresta representa sobreiros e 180.095 azinheiras.
mais de 3,2 milhões de hectares do Um exemplo de uma declaração
território português. Cerca de um de “imprescindível utilidade
terço dessa floresta é ocupado por pública” é a que foi dada para o
sobreiros e azinheiras. futuro Parque Eólico de Morgavel.
Para se ter uma ideia da Para tal, foi autorizado o corte de
disposição dos sobreiros no terreno, cerca de 1800 sobreiros (que já são à
o ICNF indica que os povoamentos volta de 1500, após ajustes no
puros de sobreiros têm uma projecto). Este abate terá de ser
densidade média de 78 árvores por compensado pela plantação de
hectare e os povoamentos onde o 42.000 árvores, sendo a maioria
sobreiro é dominante têm apenas sobreiros. “Desta medida
65 árvores por hectare, segundo o compensatória irá resultar a
6.º Inventário Florestal Nacional. plantação de 30 mil sobreiros, o que
Mais: se se aplicar um rácio de 50 corresponde a cerca de 16,5 vezes as
árvores por hectare, Portugal terá árvores afectadas”, realça o ICNF.
uma povoação de cerca de 36 Parte dessa compensação será
milhões de sobreiros. “Nos plantada na área do Parque Natural
próximos anos, está prevista a do Sudoeste Alentejano e Costa
plantação de cerca de 15 milhões”, Vicentina.
prevê o instituto.
Em Portugal, não são permitidas
conversões nos povoamentos de
sobreiros. Para o seu abate, uma das
excepções é a declaração de
“imprescindível utilidade pública”.
Neste caso, há um determinado
projecto na área onde estão os
sobreiros e menciona-se a
necessidade do seu corte para que o
empreendimento avance.
Antes de ser feita essa declaração
— que pode ser assinada, por
exemplo, pelo ministério do
Ambiente —, tem de se passar por
todo um processo que inclui um
estudo de impacte ambiental ou um
plano de acompanhamento
ambiental da obra. No fundo, a
“imprescindível utilidade pública”
só deve avançar se não existir, de Portugal terá
facto, alternativa ao abate dessas
árvores protegidas.
uma povoação
Entre 2017 e Agosto de 2023, de cerca de
foram feitas 44 declarações de
“imprescindível utilidade pública”,
36 milhões
o que pressupõe um número igual de sobreiros.
de autorizações de corte de árvores.
Estas declarações correspondem a
“Nos próximos
uma área estimada de corte de anos, está prevista
366,76 hectares, de acordo com o
ICNF. Dentro dessas declarações,
a plantação
foram autorizadas para abate 85.882 de cerca de
árvores, incluindo 13.449 sobreiros.
Essas autorizações e abates são
15 milhões”,
seguidos de medidas de aponta o ICNF
26 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023

Local

Loja escondeu
pintura de Abel
Salazar e há
quem a queira
salvar
Mural pintado no antigo Café Rialto, no
Porto, está tapado há dois anos. Cidadão
sugere soluções. Câmara apoia a intenção,
mas salienta que o espaço está arrendado
André Borges Vieira
Em frente a um mural pintado por
Abel Salazar (1889-1946) agora há
uma parede falsa com prateleiras a
tapá-lo. A pintura de dimensões gene-
rosas — cinco metros de largura por
três metros de altura —, à qual o médi-
co, professor, investigador e também
pintor lhe chamou Síntese da História,
está escondida há algum tempo por
trás de uma estrutura onde está
exposta uma variada gama de artigos
que estão à venda na loja franchising
que há dois anos se instalou no antigo
Café Rialto, onde, até ao início da
década de 1970, algumas elites do
Porto se encontravam para longas
tertúlias.
O espaço comercial localizado no
edifício da Praça D. João I, que deu
nome ao café que ali funcionou entre
1944 e 1972, também conhecido como
o primeiro arranha-céus do Porto, já
uma solução: aquela fracção do edi-
fício deveria ser comprada para ali se
criar um pólo da Casa-Museu Abel
Salazar. O objectivo era que a socie-
dade civil se unisse em torno desse
objectivo. Rui Moreira e a Universida-
de do Porto (UP), que tutela a casa-
museu, vêem esta proposta com bons
olhos. O proprietário do prédio subli-
nha que a loja está arrendada para
comércio.
Contactado pelo PÚBLICO, Renato
Soeiro diz agora que a essa solução se
pode juntar outra. O importante, aÆr-
ma, é que o mural de Abel Salazar
volte a estar à vista no enquadramen-
to ideal para ser admirado por quem
se desloque ao local. Renato Soeiro
conseguiu identiÆcar o actual pro-
prietário do edifício onde está a loja
que esconde a pintura – em 2020, a
Primeiro “arranha-céus” do Porto (também) vai ser hotel de apartamentos
Ageas vendeu o prédio à Endutex,
grupo empresarial do sector têxtil Prédio tem novo proprietário que está agora no negócio da hotelaria
que de há uns anos para cá alargou o

teve outros usos — já foi uma depen-
dência bancária —, mas o mural foi
sobrevivendo ao tempo e à vista de
todos. Só que, desde 2021, o novo
inquilino entendeu que à sua loja
(Miniso) fazia mais falta uma parede
com prateleiras para expor artigos do
que uma obra de arte à vista de todos.
E decidiu escondê-la. Porém, nem
toda a gente gostou, e há quem pro-
ponha um novo uso para o espaço
para que a pintura recupere o lugar
de destaque que ocupava.
“É um dos mais graves atentados
contra o património no Norte do
país.” É assim que Renato Soeiro clas-
siÆca a opção de se ter tapado a pin-
tura. O engenheiro civil, que em 2021
foi candidato à presidência da Câma-
ra de Gaia pelo Bloco de Esquerda, já
tinha expressado a sua posição face
a esta circunstância num artigo de
opinião publicado em Agosto no
PÚBLICO — fê-lo enquanto cidadão.
E, na mesma altura, também sugeriu
raio de acção ao sector da hotelaria.
Reabertura do Café Rialto
Já conseguiu entrar em contacto com
os responsáveis pela empresa e mar-
car uma reunião. “Depois de saber
qual era a empresa, acho que têm
solidez Ænanceira para se lançarem
na aventura de reabrirem o Café Rial-
to”, aÆrma, sublinhando o sucesso
actual de outros cafés históricos da
cidade, como o Majestic ou o Gua-
rany. “Acho que esta empresa pode
perfeitamente beneÆciar imenso com
isso e valorizar aquele património”,
acredita.
Ao engenheiro civil, agrada-lhe que
os proprietários sejam “uma empre-
sa portuguesa” e não “um fundo
estrangeiro” com sede em parte
incerta. Através do diálogo, está espe-
rançoso de que se chegue a uma solu-
ção.
Em Agosto, no seu artigo de opi-
nião, propôs que se lançasse uma
O
edifício Rialto foi
inaugurado em 1944,
assinado por Artur
Andrade — o mesmo
arquitecto que desenhou o
Cinema Batalha. Hoje pode
parecer estranho, mas, na
altura, por causa dos seus
nove andares,
chamavam-lhe, de forma
informal, o “arranha-céus”.
Inicialmente, tinha
habitação, escritórios e, no
piso térreo, o Café Rialto,
que fechou em 1972. Agora,
o prédio da Praça D. João I,
mesmo ao lado do Rivoli,
também vai ser um hotel de
apartamentos.
A informação é adiantada
por André Ferreira,
administrador do grupo
Endutex, cuja fundação
surge associada ao sector
têxtil, de há uns anos para cá
alargou-se ao sector da
hotelaria. Até 2020, o edifício
era propriedade do grupo
Ageas Portugal. Mas, nesse
ano, foi comprado pela
Endutex, dona dos hotéis
Moov. No centro do Porto já
havia uma unidade desta
marca no antigo e centenário
Cinema Águia d’Ouro,
inaugurado em 1899, onde já
existia o café com o mesmo
nome desde 1839.
Segundo o responsável pela
empresa, o edifício Rialto, na
sua origem, tinha três
utilizações: “Comércio na
cave, rés-do-chão e mezanino
(situação que se manteve até
hoje); escritórios dos pisos 1
ao piso 3 (zona com
pés-direitos mais altos e com
mais área por piso), que
também mantivemos com os
mesmos inquilinos; e
habitação nos pisos
seguintes.”
André Ferreira adianta que,
quando o edifício foi
adquirido, nesses pisos de
habitação “existia alguma
utilização de escritórios, mas
sem as condições adequadas
e desejáveis”. “O nosso
projecto passa por instalar
nesses pisos o nosso novo
conceito de hotel de
apartamentos”, avança. Esse
empreendimento surgirá
associado aos hotéis Moov.
A mesma fonte adianta
ainda que, “como uso
adicional”,
a cobertura do edifício,
para que se aproveitem as
vistas da cidade, será usada
como “zona de lazer”.

petição para que mais gente se jun-
tasse à causa. Nesta fase, e depois de
algum feedback positivo, aguarda por
algum avanço no sentido de algum
desfecho que considere a possibilida-
de de se voltar a destapar a pintura.
“Muitos mostraram-se receptivos à
proposta”, assegura.
Só que a fracção onde está o mural
da autoria de Abel Salazar está arren-
dado a uma loja Miniso. Por isso, seria
necessário encontrar uma solução
que não prejudicasse o actual inqui-
lino. Renato Soeiro sugere que o
negócio passe para outra loja vazia do
mesmo edifício.
O engenheiro civil salienta a impor-
tância desta pintura e a relevância do
seu autor, e relembra como bom
exemplo o que foi feito com a recupe-
ração do mural de Júlio Pomar, que a
ditadura escondeu debaixo de várias
camadas de tinta, no Cinema Batalha,
desenhado pelo mesmo arquitecto
do edifício Rialto — Artur Andrade.
Câmara e UP interessadas
Contactado pelo PÚBLICO, Rui Morei-
ra defende que a obra de Abel Salazar
deve estar à vista. O presidente da
Câmara do Porto diz ter conhecimen-
MANUEL ROBERTO
Há quem proponha que se
compre a fracção para ali se
criar um pólo da Casa-Museu
Abel Salazar
to da situação e adianta já ter sido
abordado por Renato Soeiro numa
conversa informal, nos jardins do
Palácio de Cristal, durante a homena-
gem feita a Manuel António Pina
(1943-2012), na edição deste ano da
Feira do Livro.
“Interessa-me muito [a proposta da
criação de um pólo da Casa-Museu
Abel Salazar], no mesmo princípio
que recuperámos o mural de Júlio
Pomar, no Batalha”, aÆrma o autarca.
Contudo, salienta, ainda não conse-
guiu chegar à fala com a Endutex,
proprietária do edifício.
A autarquia, avança, estaria dispo-
nível para dar início a um processo
de classiÆcação da pintura, mas “de
uma forma amena”. Moreira sublinha
que o espaço é privado e está arren-
dado a um inquilino que tem um
negócio a funcionar: “Não há condi-
ções para expropriarmos por causa
da pintura.”
“Estamos interessados é que, de
facto, haja, por um lado, a preserva-
ção e a fruição daquele mural do Abel
Salazar, que é uma Ægura importan-
tíssima da sociedade do Porto. E não
é apenas pela pintura, é pela inter-
venção cívica que teve”, diz. Nesta
fase, apesar do interesse, ainda não
há forma de se saber o que vai acon-
tecer. “Temos andado a ver como é
que lá chegámos.”
A Universidade do Porto, que tute-
la a Casa-Museu Abel Salazar, conÆr-
ma através do seu gabinete de comu-
nicação ter sido contactada por Rena-
to Soeiro sobre o assunto em causa e
adianta ter manifestado a disponibi-
lidade de apoiar a sua iniciativa “em
prol da preservação e exposição
pública” do mural.
“Sendo esta uma questão obvia-
mente complexa e que necessitará
obrigatoriamente da intervenção e
do apoio de outras entidades que
actuam na área do urbanismo e do
património, a Universidade do Porto
(UP) mostrou-se disponível para
explorar uma possível solução de
conversão daquele local num espaço
de divulgação cultural da obra de
Abel Salazar à guarda da universida-
de”, lê-se em resposta enviada por
email.
Ainda assim, a UP salienta ainda
não haver “condições de momento
para assumir qualquer tipo de com-
promisso quanto à solução a encon-
trar”, por estarem “numa fase inicial
do processo de análise”.
O PÚBLICO tentou saber por email
qual é a posição da loja Miniso sobre
o assunto, mas não obteve resposta.
Já o actual proprietário do edifício
respondeu, revelando que o processo
pode não ser simples.
Dono não se intromete
“Existe um contrato de arrendamen-
to e do lado do senhorio há muito
poucas situações em que os contratos
possam ser terminados. Estamos,
além disso, satisfeitos com o inquili-
no, que tem cumprido escrupulosa-
mente as suas obrigações”, aÆrma
André Ferreira, administrador do
grupo Endutex.
Sobre a hipótese de o negócio ins-
talado no antigo Café Rialto poder
passar para outra fracção, adianta
que, “mesmo que existisse essa von-
tade”, não haveria alternativa no edi-
fício, “que está integralmente ocupa-
do na sua zona comercial”.
André Ferreira diz já ter sido con-
tactado por Renato Soeiro. Uma con-
versa entre os dois Æcou marcada
para “data a combinar”.
Sobre a obra, assegura estar em
bom estado de conservação – “a pare-
de que foi construída respeitou o
devido afastamento e não teve con-
tacto com a mesma”. Porém, entende
que a sua empresa não deve “opinar
sobre as opções comerciais” do arren-
datário. Por isso, não houve qualquer
conversa com a Miniso sobre o assun-
to. “Há uma obrigação de preservar/
não daniÆcar, mas não de manter em
exposição”, garante. Sobre a opção
de se ter tapado a obra com uma
parede, aÆrma: “É uma opção mera-
mente comercial do utilizador. Acre-
dito que para outro uso [destapá-la]
pudesse fazer sentido, mas neste caso
não faz.”
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 27
Do “Seu a Seu Dono”
Opinião
Mário Cláudio
O pedido de subscrição que nos
chega, e que talvez surpreenda
alguns, transcende em muito o
próprio conteúdo [N.E.: propõe a
compra da loja existente no espaço
do antigo Café Rialto na Baixa do
Porto, para salvaguardar o mural
Síntese da História e ali criar um
núcleo da Casa-Museu Abel
Salazar]. Oferece-nos um
vislumbre suplementar, e nada
despiciendo, da dialéctica
desenvolvida entre os conceitos de
arte privada e arte pública. Mas
mesmo sem explorarmos tal pista,
e concentrando-nos apenas num
objecto, o painel Síntese da
História, que se pretende devolver
à fruição alargada, novo espanto
nos assalta. Que tenha uma obra
assim escapado à censura e purga
de um regime político
hipervigilante, ainda que pelos
vistos tão perverso como bronco,
eis o que nos deixa agora
boquiabertos.
A curta distância das nossas
residências, um café portuense,
hoje demolido, albergou o presente
trabalho, assinado por Abel
Salazar, que conÆgura porventura a
mais conseguida ilustração
plástica, existente em Portugal, das
bases da doutrina marxista. Daí
transitaria ele, prodigiosa e
ironicamente, a um
estabelecimento bancário, e deste
a uma loja de venda de artigos
utilitários, das cruzetas às pantufas,
e das peúgas às malinhas de mão.
Numa corajosa alegoria
comparecem no quadro os
representantes do proletariado
urbano, e do campesinato do
interior, impondo-se a quem deles
parece não se dar conta, um
grupelho minoritário de burgueses
Local
capitalistas, simbolizado por seus
atrevidos decoletés, e por suas
emplumadas capelines. E só um
artista sábio de corpos e almas,
percebemos então, alcançaria
propor à reÇexão colectiva um tema
de tal natureza, provocatório e
palpitante. Em idêntica onda, e
usando de sensibilidade
equiparável, o autor da peça
consolaria quem, médico ou
enfermeiro, ou sobretudo paciente,
ingressasse no bloco operatório de
uma certa clínica, a Casa de Saúde
da Boavista. Aí os acolheria Abel
Salazar com uma admirável
paisagem alpina, solidarizando-se
com eles no percurso da angústia,
ou da dor, e no limiar da esperança
renascida.
DiÆcilmente encontraremos
melhor oportunidade, regressando
à Síntese da História, para inculcar a
noção da importância de um
património que, queira-se ou não,
cabe por direito natural a uma
cidade, e ao respectivo país.
Semelhante momento da faina de
um grande criativo, saído do
engenho praticado entre o ofício do
pintor e a labuta do cientista,
testemunhará exemplarmente a
permanência do ideal humanístico
que a Renascença afeiçoou.
Diziam-no capaz de rumar a
Madrid, a Æm de discernir as
inúmeras gradações do verde de
Velásquez, ou a Paris, no intuito de
destrinçar as múltiplas declinações
do azul de Monet. E à sua volta não
faltaria entretanto, constava
também, quem coligisse os croquis
que ele espalhava no tampo da
mesa de jantar, reconhecendo-lhe a
genialidade de um excepcional no
meio de nós.
Contestará alguém portanto que
paguemos a Abel Salazar o tributo
devido, trazendo-o à partilha da
comum cidadania, tão completo
quanto possível, e tão do inteiro
mundo como sempre se desejou?
Escritor
PAULO RICCA / PUBLICO
 panorama europeu. Com efeito, segun-

Infertilidade:
do dados do Atlas Europeu de Políticas
de Tratamentos em Fertilidade, que Cuidar desde o início:
avaliou 43 países no que diz respeito à
legislação e à comparticipação de tra- preservação da
tamentos, Portugal ocupa o quinto lu-
fertilidade
quando um apoio gar, à frente de países como Finlândia,
Noruega, Reino Unido, Dinamarca ou
Espanha. Segundo a Federação das So-
ciedades Portuguesas de Obstetrícia e A preservação da fertilida-

especializado faz Ginecologia, são realizados, anualmen-

te, cerca de 9.800 tratamentos por ano
em Portugal, o que reforça a convicção
de que o sector da procriação medica-
de da mulher é também
possível nesta unidade de
Coimbra, que se traduz na

toda a diferença mente assistida (PMA) e fertilidade se

encontra em fase de crescimento.
Tratamentos de última
ˇ˘˥˨ˠЃ˟˛ˢ̻˨ˠ˦ˢˡ˛ˢ˖ˢˠ˨ˠʟˠ˔˦˔ geração
˜ˠˣˢ˦˦˜˕˜˟˜˗˔˗˘˗˘ˢ˖ˢˡ˖˥˘˧˜˭˔˥˧˔ˠ˕̻ˠ̻˥˘˔˟ʡ Além do sector público, são várias as
instituições onde estes tratamentos
ʹ˘˟˜˭ˠ˘ˡ˧˘ʟ˧˥˔˧˔˥˔˜ˡ˙˘˥˧˜˟˜˗˔˗˘˖ˢˠ˦˨˖˘˦˦ˢ˘ estão disponíveis em Portugal, como
ˣ˥˜˩˔˖˜˗˔˗˘̻ˣˢ˦˦̿˩˘˟˘˔ʸ˨˚˜ˡ̻ˣ˥ˢ˩˔˗˜˦˦ˢʡ é o caso da recentemente inaugurada
clínica Eugin, localizada em Coimbra,
com capacidade para proporcionar
˖ˢˡ˚˘˟˔̵̹ˢ ˢ˨ ˩˜˧˥˜Ѓ˖˔-
ção de ovócitos para pos-
terior utilização. Trata-se
uma técnica muito utiliza-
da para a preservação da
fertilidade da mulher, so-
bretudo numa altura em
que a maternidade tende
a ser um projecto adiado,
por múltiplas razões e con-

N
ão há dúvida que ser mãe ou
pai é um dos sonhos da vida
de muitas pessoas. E é exacta-
mente por esse motivo que a frustração
pode ser tão grande quando a sua con-
cretização não é possível. Tal acontece,
por exemplo, quando há problemas de
fertilidade que acabam por inviabilizar
EʝŧE ťEť ť>
A Organização Mundial da Saúde esti-
ma que, no mundo, uma em cada seis
pessoas em idade reprodutiva sofra de
infertilidade ao longo da vida. As cau-
sas são múltiplas, podendo ter origem
na mulher, no homem, ou em ambos, e
há também questões relacionadas com
ť  ť ŧ ʝ Eť‡ĭ ť ť ť
exigir resposta.
A boa notícia é que há cada vez mais
tratamentos disponíveis, capazes de
ajudar a tornar o sonho realidade e
Portugal destaca-se pela positiva no
tratamentos de última geração e solu-
ções personalizadas. Esta é a primeira
unidade em Portugal do Grupo Eugin,
referência internacional em técnicas
de PMA e tratamentos de fertilidade, já
presente em mais de 69 centros, espa-
lhados por 11 países, e com 25 anos de
experiência.
Segundo Eduardo González, CEO do
Grupo Eugin, esta unidade está “equi-
pada com a mais recente tecnologia e
textos. Assim, através desta
técnica de congelação ul-
tra-rápida, as hipóteses de
gravidez que a mulher tem
na idade em que opta por
preservar a fertilidade, po-
derão manter-se no futuro,
em caso de necessidade.
onde se vão aplicar inovadoras práticas
ťŧťv?ť M EŦʝŧťť
colaboração de Teresa Almeida Santos,
médica ginecologista e sub-especialis-
ta em Medicina da Reprodução, con-
siderada pelo responsável como “uma
referência internacional nesta área da
Medicina” e “garantia de sucesso” do
primeiro centro inaugurado pelo grupo
em Portugal.
O centro agora
instalado em Coimbra
vem reforçar o intuito
de o Grupo Eugin se
apresentar como líder
mundial nesta área,
havendo a intenção de
continuar a expandir-se
em território nacional.
Com um investimento superior a 1,5
milhões de euros, as novas instalações
integram diversas salas de consulta e
bloco operatório, mas também labora-
tórios próprios, o que corrobora a “for-
ť ťť ť‡Ĥ ŧĩʝŧťť
Eugin”, destaca Eduardo González.
Soluções para todos os
sonhos
Uma vez que podem ser várias as ques-
tões a carecer de resposta para que
uma gravidez aconteça e o sonho se
concretize, na clínica Eugin são dis-
ponibilizadas inúmeras técnicas de
reprodução assistida, com a possibili-
dade de recurso a dadores terceiros e
diagnóstico genético pré-implantação,
sempre que necessário. Tudo com o ob-
jectivo de ir ao encontro das necessida-
des de cada um.
Entre as técnicas de procriação me-
dicamente assistida disponibilizadas
destaca-se a fertilização in vitro (FIV),
uma técnica laboratorial que permi-
te fecundar os ovócitos com os esper-
matozóides fora do útero, formando
embriões que serão posteriormente se-
leccionados e transferidos para o úte-
ro. Outra técnica muito comum e com
uma taxa de sucesso elevada nas si-
tuações para as quais existe uma indi-
ŧť‡Ĥ ŧ ťťMťť‡Ĥ ťʝŧť ?
que consiste na colocação dos esper-
matozóides (seleccionados a partir de
uma amostra) no útero, havendo uma
estimulação hormonal prévia dos ová-
rios, com controlo da ovulação, para
aumentar a probabilidade de gravidez.
Privacidade e conforto
Diferenciador na Eugin é também o
facto de a clínica disponibilizar aquilo
a que chama ninhos, ou seja, espaços
onde cada paciente é verdadeiramente
colocado no centro de um novo mode-
lo de atendimento. Em causa está um
conceito inovador, que já funciona nas
clínicas de Barcelona e Madrid (Espa-
nha), e consiste na disponibilização de
espaços únicos e distintivos, acolhedo-
res e confortáveis, com ligação às salas
de exames.
A criação destas divisões permite que
os pacientes permaneçam num espaço
único durante as intervenções, caben-
 ť  ŧť ť E   ʝ -
nais de saúde a deslocação, com maior
ť   ʝŧŷŧť?  E M Eť ťy
-valia especialmente em tratamentos
que requerem procedimentos especia-
lizados. Semelhantes a suítes de hotel,
estes espaços oferecem grande priva-
cidade e conforto aos utentes, que dei-
xam assim de precisar de aguardar em
salas de espera ou de efectuar desloca-
ções na clínica para a realização das
consultas médicas e de enfermagem,
entre outros procedimentos.
Os ninhos possibilitam ainda que os
pacientes acompanhem as várias eta-
pas do tratamento e do desenvolvimen-
to dos embriões num ecrã dedicado,
havendo ainda um espaço reservado à
observação clínica, quando a avaliação
ŧ ŷʝŧť EMŧťMŧŷť>
a expandir-se em território nacional. do Congresso EBART (Evidence Based As-
De facto, Eduardo González conside- sisted Reproductive Technologies).
Diferenciador na Eugin ra mesmo que “Portugal é um enclave Além disso, no capítulo da formação,
é também o facto de estratégico” para a expansão do Grupo, dá o seu contributo através da Cátedra
admitindo aumentar a presença no Universitat Pompeu Fabra, além de que
a clínica disponibilizar
país. Recorde-se que, neste momento, o co-dirige o Mestrado Internacional em
aquilo a que chama Grupo Eugin tem já unidades em Espa- Técnicas de Reprodução Humana As-
ninhos, ou seja, espaços nha, Itália, Dinamarca, Suécia, Letónia, sistida, na Pompeu Fabra University –
onde cada paciente Argentina, Colômbia, Brasil, Estados Barcelona School of Management.
é verdadeiramente Unidos da América e Canadá. De igual forma, o Grupo Eugin, que faz
parte do grupo alemão Fresenius He-
colocado no centro de lios, promove e estimula a investigação
um novo modelo de Activos na investigação e disseminação do conhecimento cien-
atendimento. $ )/ĤƤ ĩʝŧ  ť ŷť ť   E‡Ĥ  Eťť
assistida, tendo já publicado mais de
O Grupo Eugin é ainda interveniente ac- 70 estudos neste âmbito. Esta será uma
   ť  ŧť ŧĩʝŧť vertente fortemente apoiada em Por-
Equipa altamente de fertilidade nacionais e internacio- tugal, desde logo devido ao facto de a
ť? ťŧ ťŧ   ŧĩʝŧ  ŧ ť ť ŧĩʝŧť   ŧ  
,0'$Ƥ relevantes para a área e realiza um im- também professora na Faculdade de
Disponível para acolher quem se dirige portante trabalho de divulgação através Medicina da Universidade de Coimbra.
à clínica Eugin de Coimbra está uma
 E ť    ť ť Eť ʝŧťť?
com formação e experiência na área.
Com efeito, além da coordenação cien- O Grupo Eugin em números
ĩʝŧťťŧť ť( ť.ť ?
que exerce actualmente o cargo de se-
cretária da Federação das Sociedades
ϧ ʥʨ˔ˡˢ˦ de experiência
Portuguesas de Obstetrícia e Ginecolo-
gia e é directora do Serviço de Gineco- ϧ Cerca de ʥʩʨˠ˜˟˕˘˕̻˦ em
logia, Obstetrícia, Neonatologia e Medi- 25 anos
cina Reprodutiva do Centro Hospitalar
e Universitário de Coimbra, a equipa ϧ Mais de ʧʨˠ˜˟˧˥˔˧˔ˠ˘ˡ˧ˢ˦
inclui ginecologistas, enfermeiras e por ano
gestoras de pacientes, bem como duas
embriologistas seniores, uma psicóloga ϧ ʩʬ˖˘ˡ˧˥ˢ˦ em 11 países
e uma geneticista. ϧ Cerca de ʤʪʣʣ˘˦ˣ˘˖˜˔˟˜˦˧˔˦
O centro agora instalado em Coimbra
vem reforçar o intuito de o Grupo Eugin ϧ Mais de ʪʣ˘˦˧˨˗ˢ˦˖˜˘ˡ˧̿Ѓ˖ˢ˦
se apresentar como líder mundial nesta publicados
área, havendo a intenção de continuar
30 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Mundo Igreja Católica
Relatório oƊcial estima em 440 mil
as vítimas de pedoƊlia em Espanha
Investigação realizada ao longo de ano e meio denuncia “negação ou minimização do problema”
por parte da Igreja espanhola e defende que esta ponha dinheiro num fundo estatal de apoio às vítimas
Sofia Lorena
O reconhecimento oÆcial de casos
de pedoÆlia na Igreja Católica espa-
nhola chegou Ænalmente: 18 meses
depois de ter iniciado uma investiga-
ção, o Defensor do Povo (provedor
dos cidadãos nomeado pelo Parla-
mento), Ángel Gabilondo, apresen-
tou ontem um relatório onde se esti-
ma que 1,13% da população adulta
actual em Espanha sofreu abusos
num contexto religioso. O jornal El
País fez as contas e diz que são 440
mil pessoas (num total de 38,9
milhões de adultos), fazendo de
Espanha “o país que mais vítimas
estima ter no mundo”.
“Os testemunhos recolhidos reve-
lam o impacto devastador que os
abusos sexuais tiveram na vida de
pessoas concretas”, em especial “por
parte da Igreja Católica, da qual se
espera um comportamento exem-
plar”, aÆrmou Gabilondo, académi-
co e ex-ministro da Educação, na
apresentação do documento, no
Congresso. “Demorámos a fazer este
relatório em Espanha. Já estava feito
em todos os países ao nosso redor”,
disse na conferência de imprensa.
“Por isso, não podíamos adiar mui-
to.” Em Portugal, o relatório da
Comissão Independente para o Estu-
do dos Abusos Sexuais a Crianças na
Igreja Católica foi apresentado em
Fevereiro.
Propondo a criação de um “orga-
nismo que determine administrati-
vamente os que podem ser conside-
rados vítimas de abusos e que direi-
tos têm, a que reparações têm direito
e que tipo de ajudas devem receber”,
Gabilondo aÆrmou que “há pessoas
que estão em tratamento, pessoas
que se suicidaram por causa disto,
pessoas que nunca se recompuse-
ram”.
O relatório entregue agora ao Con-
gresso apoia-se em grande parte nos
testemunhos de 487 vítimas entre-
vistadas no último ano e meio, mas
também na sondagem realizada pela
empresa GAD3 para o Defensor do
Povo a partir de uma amostra de
8013 pessoas. Dos 1,13% de pessoas
que assumem ter sofrido abusos na
Igreja Católica — 53,8% são homens
—, 0,6% contam que foram vítimas
de padres ou de religiosos (neste
caso, 66,6% são homens), os restan-
tes foram abusados por laicos que
trabalhavam nas instituições religio-
sas.
O relatório entregue agora
ao Congresso apoia-se em
grande parte nos testemunhos
de 487 vítimas entrevistadas
no último ano e meio
Demorámos a
fazer este relatório
em Espanha.
Já estava feito
em todos os países
ao nosso redor
Ángel Gabilondo
Defensor do Povo
Mas há um dado ainda mais avas-
salador neste estudo da GAD3: 11,7%
dos inquiridos foram vítimas de abu-
so sexual na infância ou na adoles-
cência, a maioria mulheres, e com
grande parte dos abusos a ocorrer
no contexto familiar.
Depressão, ideação suicida
Já em relação às 487 pessoas acom-
panhadas pela Unidade de Atenção
às Vítimas, criada por Gabilondo,
84% são homens. “Um terço destas
pessoas assinalou ter tido sintomas
de stress pós-traumático e, algumas
delas, experimentaram sintomas
depressivos, sentimentos de vergo-
nha e ideação suicida”, aponta o
Defensor do Povo no comunicado
que acompanha o documento de 779
páginas intitulado Relatório sobre os
abusos sexuais no âmbito da Igreja
Católica e o papel dos poderes públi-
cos. Uma resposta necessária.
Aqui se lê que “a resposta da Igre-
ja Católica, pelo menos a nível oÆcial,
SUSANA VERA/REUTERS
se caracterizou durante muito tempo
pela negação ou minimização do
problema”. “O argumento defensivo
de que a investigação deveria alar-
gar-se a todos os abusos sexuais nou-
tros âmbitos esquece ou minimiza a
relevância social da Igreja e o seu
poder em Espanha, durante grande
parte do século XX”, nota-se no rela-
tório. “Além disso, não transmite a
impressão de que a Igreja esteja
especialmente interessada no conhe-
cimento dos delitos.”
Em resposta a perguntas dos jor-
nalistas, Gabilondo disse que os res-
ponsáveis pela investigação escreve-
ram a todos os bispos — “Responde-
ram-nos, alguns abriram algum
arquivo… Nem todos, uns repreen-
deram-nos, um não só não nos res-
pondeu como nos disse, ‘o que é que
vocês estão a fazer a envolver-se nis-
to?’. Outros Æzeram bem, o que mos-
tra que isto pode ser bem feito”,
descreveu. “Estaria a mentir se dis-
sesse que ninguém colaborou ou se
dissesse que houve uma colaboração
extraordinária.”
O relatório aponta ainda o dedo às
instituições do Estado que “durante
muito tempo permaneceram inacti-
vas face à realidade dos abusos
sexuais e não realizaram os esforços
necessários para proteger os meno-
res” nos centros educativos da Igreja.
E é por isso mesmo que propõe “a
criação de um órgão especial de
carácter temporário que tenha como
objectivo a reparação às vítimas […]
nos casos em que, pela prescrição do
delito ou por outros motivos, não se
tenha podido avançar com um pro-
cesso penal”. Ao mesmo tempo,
recomenda “a criação de um fundo
estatal para o pagamento das com-
pensações” em colaboração com a
Igreja.
Solidão na denúncia
Questionado sobre se deveria apro-
var-se uma lei para obrigar a Igreja a
colaborar, Gabilondo defendeu que
“a melhor maneira de incentivar,
para não dizer forçar, a Igreja a cola-
borar, é a consciência social e públi-
ca aÆrmada em todos os âmbitos de
que é imprescindível que continue
este trabalho, que abra os arquivos,
que mostre com claridade aquilo que
conhece”. Ainda assim, aÆrmou,
“podem fazer-se reformas para que
colabore explicitamente, por exem-
plo, pondo dinheiro no fundo esta-
tal, ou disponibilizando os arquivos,
ou modiÆcando o direito canónico
para que as vítimas tenham um papel
preponderante no direito canónico
penal”.
A Comissão Assessora, constituída
por 17 peritos, e que dividiu o traba-
lho com a Unidade de Apoio às Víti-
mas, “conheceu o sentimento de
solidão experimentado por muitas
vítimas quando deram o passo de
denunciar”, sublinhou Gabilondo.
“A ponto de sofrerem um novo dano,
a vitimização causada pela resposta
da Igreja, da sociedade e da Justiça”,
explicou.
A Conferência Episcopal Espanho-
la fez saber que vai celebrar no dia
30 uma Assembleia Plenária Extraor-
dinária para avaliar o relatório.
“Hoje, o nosso país é um pouco
melhor”, aÆrmou o presidente do
Governo em funções, Pedro Sán-
chez, considerando que o trabalho
do Defensor do Povo esclarece “uma
realidade que toda a gente sabia, mas
da qual ninguém falava”.
 Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 31

Guerra na Ucrânia

Zelensky diz que Rússia perdeu uma brigada

inteira na batalha de Avdiivka
Presidente ucraniano
reclama “perdas dolorosas”
para as forças russas
no cerco à cidade situada
na região de Donetsk
O Presidente da Ucrânia, Volodymyr
Zelensky, aÆrmou ontem que as for-
ças russas perderam pelo menos uma
brigada do seu Exército que tentava
avançar sobre a cidade de Avdiivka,
no Leste do país. A cidade está sob
fogo intenso por parte da Rússia, que
não tem poupado meios para tomar
a localidade situada na região de
Donetsk: para além de ataques de
infantaria, Moscovo tem tentado des-
truir as posições ucranianas com
constantes barragens de artilharia.
“Os invasores Æzeram várias tenta-
tivas para cercar Avdiivka, mas, de
cada vez os nossos soldados impedi-
ram-nos e Æzeram-nos recuar, cau-
sando perdas dolorosas. Nestes casos,
o inimigo perdeu pelo menos uma
brigada”, disse Zelensky ao primeiro-
ministro britânico, Rishi Sunak, num
telefonema, segundo informou a pre-
sidência ucraniana através de um
comunicado.
As brigadas variam em tamanho e
podem ter entre 1500 e 8000 solda-
dos. As perdas no campo de batalha
são um segredo de Estado na Rússia
e na Ucrânia, embora se acredite que
ascendam a muitas dezenas de milha-
res em ambos os lados desde que a
Rússia lançou a invasão da Ucrânia
em grande escala em Fevereiro de
2022.
Avdiivka tornou-se no principal
palco de batalha na linha da frente no
Leste da Ucrânia quase cinco meses
depois de Kiev ter lançado uma con-
tra-ofensiva nas regiões ocupadas. O
think-tank norte-americano Instituto
para o Estudo da Guerra escreveu na
quinta-feira, na sua análise diária ao
A cidade de Avdiivka tem estado sob fogo intenso das forças russas
conÇito, que a Rússia tinha sofrido
pesadas perdas em equipamento per-
to de Avdiivka, o que “provavelmente
prejudicará as capacidades ofensivas
russas a longo prazo”.
YEVHEN TITOV/REUTERS
A cidade, que alberga uma impor-
tante fábrica de coque, combustível
feito a partir do carvão, tem estado
sob ataque desde 2014, quando eclo-
diu no Donbass o conÇito entre a
Ucrânia e as forças apoiadas pela Rús-
sia. Vitaliy Barabash, chefe da admi-
nistração militar de Avdiivka, disse
que estes novos ataques para captu-
rar a cidade foram os maiores desde
2014.
Noutro sinal que pode ser visto
como desespero de Moscovo pela
falta de avanços no terreno, os EUA
aÆrmaram na quinta-feira à noite que
as forças russas estão a “executar sol-
dados” que tentam recuar no campo
de batalha.
“Temos informações de que os
militares russos estão a executar sol-
dados que se recusam a obedecer a
ordens”, disse o porta-voz do Conse-
lho de Segurança Nacional da Casa
Branca, John Kirby. O responsável
norte-americano indicou que os EUA
estão também em posse de informa-
ções de que “os comandantes russos
estão a ameaçar executar unidades
inteiras se estas tentarem escapar ao
fogo da artilharia ucraniana”.

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32 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Economia Sem travão, rendas vão ter maior aumento em 30 anos
Inquilinos são
“obrigados a aceitar”
actualização de renda
Salvo algumas excepções, onde se incluem os contratos antigos
ou casos em que o senhorio não cumpra requisitos legais
prévios, a actualização da renda em 6,94% não é negociável
Rafaela Burd Relvas
O Governo decidiu não impor um
travão à actualização das rendas em
2024, optando por atribuir um apoio
a uma parte dos inquilinos afectados
por estes aumentos. Assim, no próxi-
mo ano, tendo em conta os valores da
inÇação apurados este ano, as rendas
poderão ser actualizadas em 6,94%
se os senhorios assim o decidirem. Há
alguns casos em que o aumento pode
ser travado ou atrasado, mas, em últi-
ma instância, se todos os requisitos
legais forem cumpridos pelo senho-
rio, os inquilinos serão obrigados a
aceitar a nova renda, uma vez que a
lei não prevê qualquer forma de nego-
ciação quanto à aplicação dos coeÆ#
cientes de actualização.
A solução encontrada pelo Governo
para mitigar o impacto da actualiza-
ção das rendas vai abranger apenas
uma parte dos inquilinos: aqueles que
têm contratos de arrendamento cele-
brados até 15 de Março de 2023, ren-
dimentos até ao sexto escalão de IRS
e uma taxa de esforço igual ou supe-
rior a 35% com o pagamento da renda.
Actualmente, mais de 185 mil agrega-
dos familiares estão contabilizados
como estando nesta situação, um
número que deverá aumentar em
breve, ainda que não haja uma esti-
mativa de qual será o novo universo.
Estes são os agregados que, já hoje,
recebem o apoio extraordinário à
renda, um subsídio no valor máximo
de 200 euros por mês, atribuído por
um período até cinco anos. No próxi-
mo ano, todas as famílias que rece-
bem este apoio terão direito a um
reforço do subsídio, que será calcula-
do em função do aumento das ren-
das. Já as famílias que não recebem
actualmente o apoio extraordinário
à renda, mas que, por via da actuali-
zação das rendas, passem a ter uma
taxa de esforço superior a 35%, tam-
bém irão passar a receber este apoio
(desde que tenham rendimentos até
ao sexto escalão de IRS e um contrato
de arrendamento assinado até 15 de
Março de 2023).
Assim, para estas, uma parte da
actualização das rendas no próximo
ano será suportada com a ajuda do
Estado. Para as outras – as famílias
que não cumprem todos os critérios
de elegibilidade e que, por isso, não
são abrangidas pelo apoio extraordi-
nário à renda –, não haverá qualquer
apoio para mitigar o impacto desta
actualização. Mas há alguns passos
que têm de ser cumpridos antes de
uma renda poder ser actualizada e os
inquilinos têm ao seu dispor mecanis-
mos de protecção.
Actualização tem excepções
Desde logo, é preciso ter em conta
que a actualização das rendas não
abrange todos os tipos de contratos
de arrendamento. O coeÆciente de
actualização das rendas, publicado
anualmente em portaria do Governo
e determinado com base na variação
média dos últimos 12 meses da inÇa-
ção registada em Agosto do ano ante-
rior a que respeita a actualização,
aplica-se aos contratos habitacionais
e não habitacionais que não conte-
nham qualquer cláusula expressa
quanto à forma de actualização da
renda, ou àqueles em que tenha sido
acordado que a actualização da renda
é feita mediante a aplicação dos coe-
Æcientes publicados em portaria.
Há, como explica Regina Santos
Pereira, sócia da SRS Legal, dois
casos em que o coeÆciente de actua-
lização das rendas não se aplica: os
contratos de arrendamento habita-
cionais e não habitacionais que con-
tenham uma cláusula expressa quan-
to à forma de actualização da renda
(por exemplo, uma percentagem
Æxa); e as chamadas rendas antigas,
ou, mais concretamente, os contra-
tos habitacionais celebrados antes de
1990 que tenham sofrido uma actua-
lização da renda já no contexto do
Novo Regime do Arrendamento
Urbano (NRAU), que tenha originado
Inquilinos podem
apresentar, como
contraproposta
a um aumento
da renda,
a realização de
obras a seu cargo
um aumento de renda em função do
rendimento anual corrigido compro-
vado pelo inquilino.
Nos casos em que o coeÆciente de
actualização se aplica, os senhorios
que pretendam actualizar a renda
têm de comunicar essa intenção atra-
vés do envio de uma carta registada
com aviso de recepção ao inquilino,
ou de um escrito entregue em mão e
assinado por senhorio e inquilino.
Nesta comunicação, deve constar
qual o coeÆciente aplicável, a respec-
tiva base legal, o valor da nova renda
e o mês a partir do qual esta é devida.
A carta tem de ser enviada com 30
dias de antecedência em relação ao
mês a partir do qual a nova renda é
devida. E a actualização da renda só
poderá ser exigida um ano após o iní-
cio do contrato ou um ano depois da
última actualização da renda, excep-
to se o contrato tiver uma cláusula
que determine o contrário.
Importa, ainda, ter em conta que,
se o senhorio optar por não aplicar o
coeÆciente de actualização, não
poderá recuperar os aumentos que
não foram feitos. Mas pode, por outro
lado, aplicar os coeÆcientes dos últi-
mos três anos, se não o tiver feito
durante os três anos anteriores.
Oposição é limitada
Só nos casos em que os requisitos
descritos anteriormente não tenham
sido cumpridos pelo senhorio é que
o inquilino pode opor-se à aplicação
do coeÆciente de actualização da ren-
da. “Se, após a oposição do inquilino,
permanecer o conÇito, poderá justi-
Æcar-se a consignação em depósito da
renda pelo inquilino, para sua defe-
sa”, ressalva Regina Santos Pereira.
SigniÆca isto, na prática, que, se o
senhorio quiser aplicar o coeÆciente
de actualização da renda, não há for- Número de inquilinos abrangidos pelo apoio do Estado pode crescer com o
ma de o evitar. “A lei não prevê nenhu-
ma forma de negociação entre senho- ciar), que pode passar pela apresen- car para tentar baixar a renda.
rio e inquilino quanto à aplicação dos tação de contrapropostas, como a Em concreto, há o Programa de
coeÆcientes, logo, se o senhorio res- realização de obras a cargo do inqui- Apoio ao Arrendamento, que dá aos
peitar todos os requisitos legais, o lino, em troca de uma não actualiza- proprietários que pratiquem rendas
inquilino será obrigado a aceitar a ção da renda. Há, ainda, algumas 20% abaixo dos preços de mercado
nova renda”, resume a especialista ferramentas já em vigor, nomeada- uma isenção de IRS sobre os rendi-
em direito civil processual. mente as que aliviam a carga Æscal mentos prediais, de IMI, de IMT e de
Resta, assim, a tentativa de nego- dos proprietários que pratiquem imposto do selo.
ciação com os senhorios (ainda que, valores de renda considerados aces- A negociação de um prazo mais
por lei, não sejam obrigados a nego- síveis, que os inquilinos podem invo- longo do contrato de arrendamento

MIGUEL MANSO
o aumento das rendas em 2024
é outra opção, já que os contratos de
longa duração têm direito a reduções
na taxa de tributação sobre os rendi-
mentos prediais. E, desde que o paco-
te Mais Habitação entrou em vigor, os
senhorios que baixem as rendas em
pelo menos 5% em relação aos con-
tratos anteriores também têm direito
a uma redução de cinco pontos per-
centuais na taxa de tributação.
Rendas: como funciona o apoio para atenuar o aumento de 6,9% em 2024?
O
Governo decidiu não
impor qualquer travão à
actualização das rendas
em 2024. Em vez disso, vai
atribuir um apoio directamente
aos inquilinos que sejam
afectados por estes aumentos,
através de um reforço.
O que vai acontecer às
rendas em 2024?
O Novo Regime do
Arrendamento Urbano (NRAU),
legislação que regula o
mercado de arrendamento em
Portugal, determina que as
rendas em vigor podem ser
sujeitas a um coeficiente de
actualização anual. Este
coeficiente resulta da variação
média dos últimos 12 meses do
índice de preços no
consumidor, sem a
componente de habitação,
registada em Agosto do ano
anterior a que respeita a
actualização.
De acordo com os dados
apurados pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE)
relativos a Agosto deste ano,
esse indicador foi de 6,94%.
Assim, o coeficiente de
actualização de rendas em
2024 é de 1,0694 (o que, na
prática, corresponde a uma
actualização de 6,94%), o valor
mais elevado dos últimos 30
anos. Este coeficiente funciona
como um tecto e não é
obrigatoriamente aplicado.
O que pediam inquilinos e
proprietários?
Os dois lados da discussão
pediram actuações opostas: os
inquilinos apelaram a um
travão que determinasse uma
actualização “zero” das rendas
em 2024, enquanto os
proprietários exigiram a
aplicação da lei tal como ela
está redigida, ou seja, que não
houvesse qualquer travão à
actualização de rendas, ao
mesmo tempo que
propuseram a atribuição de
“subsídios aos inquilinos que
precisem”.
E o que fez o Governo?
O Governo foi ao encontro das
reivindicações dos
proprietários: decidiu não
impor qualquer travão ao
coeficiente de actualização
das rendas e optou por apoiar
directamente os inquilinos,
mas não todos, apenas aqueles
que têm “mais dificuldade” em
pagar a renda. Em concreto, a
compensação pelo aumento
das rendas no próximo ano
será dada através do reforço
do apoio extraordinário à
renda.
O que é o apoio extraordinário à
renda?
O apoio extraordinário à renda é
uma medida já em vigor desde
Maio deste ano que consiste num
subsídio no valor máximo de 200
euros por mês, atribuído aos
agregados familiares com taxas
de esforço superiores a 35% com
o pagamento da renda e com
rendimentos até ao sexto escalão
de IRS.
Este apoio é atribuído às
famílias durante um período
máximo de cinco anos (ou seja,
até 2028), desde que os critérios
de elegibilidade (a taxa de esforço
e o nível de rendimentos) se
mantenham.
Como é calculada a taxa de
esforço?
Para serem abrangidas por este
apoio, os encargos anuais com o
pagamento das rendas têm de
representar uma percentagem
igual ou superior a 35% dos
rendimentos das famílias. Essa
taxa de esforço é calculada em
função do rendimento colectável
das famílias, e não do seu
rendimento líquido, uma
definição que limita o universo
que pode aceder ao apoio.
E como é determinado o
rendimento?
Para poderem receber o apoio, as
famílias têm, ainda, de auferir um
rendimento anual igual ou inferior
ao limite máximo do sexto
escalão do IRS em vigor à data da
atribuição do apoio (em 2023,
esse escalão abrange os
rendimentos até 38.632 euros por
ano; em 2024, esse limite sobe
para 39.791 euros por ano).
Para efeitos de elegibilidade
das famílias que poderão receber
este apoio, devem ser
considerados todos os
rendimentos, incluindo
prestações sujeitas a taxas
reduzidas, como pensões de
alimentos.
Como é definido o valor do
apoio?
O subsídio corresponde à
diferença entre a renda
efectivamente paga por uma
família e aquela que teria de ser
paga para que a taxa de esforço
baixasse para 35%, existindo um
limite máximo de 200 euros por
mês.
Por exemplo: uma família com
um rendimento 2000 euros paga
uma renda de 900 euros,
montante que corresponde a uma
taxa de esforço de 45%. Para que
a taxa de esforço baixasse para
35%, esta família só poderia
suportar uma renda de 700 euros.
Assim, o apoio será de 200 euros
por mês.
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 33
Em quanto é que o apoio
extraordinário à renda vai
aumentar?
O apoio extraordinário à renda
será actualizado de forma
automática a partir do próximo
ano, sendo aumentado em
função do aumento da renda. Na
prática, as rendas são
actualizadas em 6,94%, mas
4,94% serão comparticipados
pelo Estado, pelo que as famílias
que recebem este apoio passam
a suportar um aumento mais
baixo da renda, de 2%. Dito de
outra forma, o Estado paga
cerca de 71% do valor do
aumento da renda. O Ministério
da Habitação deu o seguinte
exemplo: actualmente, um
agregado familiar com um
rendimento de 1600 euros por
mês e uma renda de 800 euros
tem direito ao valor máximo do
apoio, ou seja, 200 euros por
mês. Se o senhorio aplicar o
coeficiente de actualização, a
renda será actualizada em 6,94%
(ou seja, há um acréscimo de
55,52 euros por mês) e passará a
ser de 855,52 euros por mês.
Neste caso, o apoio
extraordinário à renda é
aumentado em 39,5 euros por
mês e passa a ser de 239,5 euros
por mês. Assim, esta família
suporta um aumento de renda
mais baixo, no valor de 16,02
euros por mês.
É preciso pedir o novo apoio?
As famílias que já estejam a
receber o apoio extraordinário à
renda não terão de pedir o seu
reforço, já que ele será
concedido de forma automática
a partir do próximo ano.
Já no caso das famílias que,
actualmente, não recebem o
apoio extraordinário à renda, se
a sua taxa de esforço passar a
ultrapassar os 35% em
consequência da actualização
de rendas em 2024, passarão a
ser abrangidas por este apoio,
mas terão de fazer um
requerimento para o receber.
O apoio é reforçado mesmo
que a renda não seja
aumentada?
Todas as famílias que já recebem
o apoio extraordinário à renda
terão direito ao seu reforço,
mesmo que o senhorio opte por
não actualizar a renda no
próximo ano. Ao PÚBLICO, o
Ministério da Habitação garante
que, nestes casos, não serão
feitos acertos mais tarde, isto é,
estas famílias não terão de
devolver o dinheiro recebido.
E se, com o reforço, o apoio
ultrapassar o limite mensal
definido?
O reforço do apoio vai abranger
todas as famílias que já o
recebem, mesmo nos casos em
que já está a ser atribuído o valor
mensal máximo que está
previsto na lei, de 200 euros. Isto
significa que esse limite será
ultrapassado em alguns casos.
O reforço mantém-se até ao fim
do apoio?
O reforço do apoio
extraordinário à renda visa
mitigar o efeito da actualização
de rendas em 2024, mas irá
manter-se durante toda a
vigência do apoio, ou seja,
poderá ser concedido até 2028.
Quem será abrangido pelo
reforço do apoio?
Todas as famílias que já recebem
o apoio extraordinário à renda
serão abrangidas pelo reforço
deste apoio. Actualmente, mais
de 185 mil famílias estão a
beneficiar desta medida.
Há um outro grupo de
pessoas, ainda não
contabilizado na totalidade, que
consideram cumprir os critérios
de elegibilidade mas que não
receberam o apoio este ano,
estando esses casos a ser
analisados (são os casos, por
exemplo, dos agregados
familiares com taxas de esforço
superiores a 100%). A ministra
da Habitação, Marina Gonçalves,
afirmou que estes casos deverão
ser resolvidos ao longo das
“próximas semanas” e que,
quando se concluir que são
cumpridos os critérios de
elegibilidade, os apoios serão
pagos com retroactivos a Janeiro
deste ano. Há, também, um novo
grupo de famílias que,
potencialmente, poderão vir a
beneficiar deste apoio, se a
actualização de renda a que
forem sujeitas no próximo ano
levar a que a sua taxa de esforço
passe a superar os 35% (e
tiverem rendimentos até ao
limite). Rafaela Burd Relvas
34 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Economia
Taxas Euribor
recuam
ligeiramente
depois do BCE
Rosa Soares
Descida mais expressiva
na Euribor a 12 meses
e recuos muito reduzidos
a seis e a três meses
As taxas Euribor registaram descidas
ligeiras, nas últimas sessões, um com-
portamento que se repetiu ontem. Na
base destas quedas estava a expecta-
tiva de que o Banco Central Europeu
(BCE) suspenderia a subida das suas
taxas directoras, depois de dez subi-
das em 15 meses, o que veio a conÆr-
mar-se esta quinta-feira.
Mas as quedas são ligeiras, porque
a mensagem do BCE não dá margem
para muito mais, nomeadamente
quando avisa que manter agora as
taxas “não signiÆca que não voltem a
subir” e ao considerar “prematura”
uma hipótese de descida.
Num contexto de maior incerteza,
nomeadamente por causa da situação
que se vive no Médio Oriente, as taxas
utilizadas na maioria dos créditos à
habitação desceram de forma mais
expressiva a 12 meses, ao recuar 0,024
pontos percentuais, para 4,104%,
contra o máximo desde Novembro de
2008 de 4,228% veriÆcado a 29 de
Setembro.
Este prazo está presente, segundo
dados do Banco de Portugal referen-
tes a Agosto de 2023, em 38,7% do
stock de empréstimos para habita-
ção própria permanente com taxa
variável.
Na Euribor a seis meses, a queda
foi de apenas 0,003 pontos, para
4,102%, e contra o máximo desde
Novembro de 2008, de 4,143%,
registado em 18 de Outubro. Este
prazo está presente em 35,4% dos
empréstimos.
Na Euribor a três meses, presente
em 23,2% dos contratos, a variação
também foi de apenas 0,004 pon-
tos, para 3,948%, abaixo do máximo
de 4,002%, registado em 19 de Outu-
bro.
A subida das taxas Euribor, iniciada
em 2022, tem agravado signiÆcativa-
mente os créditos à habitação e às
empresas. Depois de atingir valores
negativos, onde permaneceram
durante quase sete anos, os aumentos
são explicados pelo aumento da inÇa-
ção e pelas decisões de política mone-
tária do BCE para a baixar.
As Euribor são Æxadas no mercado
monetário, a partir da média das
taxas às quais um conjunto de 19 ban-
cos da zona euro está disposto a
emprestar dinheiro entre si no mer-
cado interbancário.
Mais de cinco milhões
de trabalhadores descontam
para a Segurança Social
Raquel Martins
Número recorde foi
atingido até Agosto. Mais de
14% destes trabalhadores
são estrangeiros, adiantou
a ministra do Trabalho
Nos primeiros oito meses do ano,
mais de cinco milhões de trabalha-
dores estavam a descontar para a
Segurança Social, dos quais 14,4%
são estrangeiros. Os números foram
divulgados pela ministra do Trabalho
e da Segurança Social, Ana Mendes
Godinho, durante uma audição
ontem no Parlamento.
“De Janeiro a Agosto ultrapassámos
pela primeira vez os cinco milhões
de trabalhadores a descontarem
para o sistema de Segurança Social”,
aÆrmou a ministra no início da audi-
ção no quadro do processo de dis-
cussão e aprovação do Orçamento
do Estado (OE) para 2024.
Neste total estão incluídos os tra-
balhadores do sector privado e os
trabalhadores da administração
pública admitidos de 1 de Janeiro de
2006 em diante.
Ana Mendes Godinho adiantou
ainda que o número de trabalhado-
res estrangeiros a descontar também
atingiu um número recorde, totali-
zando 720 mil pessoas com a sua
situação activa até ao Ænal de Agosto,
o que representa 14,4% do total.
Esta evolução, destacou, deve-se
ao “dinamismo” do mercado de tra-
Lucros do Santander crescem 61,5%
com impacto da subida das taxas de juro
Rosa Soares
O Banco Santander Totta SGPS obte-
ve lucros de 621,7 milhões de euros
até Setembro, um crescimento de
61,5% face aos 385,1 milhões regista-
dos no mesmo período de 2022. A
impulsionar os resultados anuncia-
dos ontem pela instituição está a
subida das taxas Euribor.
O impacto da subida das taxas de
juro é visível na margem financeira,
a diferença entre os juros cobrados
no crédito e aqueles pagos nos depó-
sitos, que superou os mil milhões de
euros nos primeiros nove meses do
ano, um aumento de 88,5% em ter-
mos homólogos, que compensou a
Ana Mendes Godinho esteve ontem no Parlamento
balho português, o que também terá
reÇexos na evolução das contribui-
ções. De acordo com o OE, o Gover-
no espera chegar ao Ænal do ano
com uma receita de 24,9 milhões de
euros de contribuições, o que repre-
senta um aumento de 13% face a
2022.
Mendes Godinho deu ainda conta
da evolução de 8% dos salários
médios em 2023 e da subida do salá-
rio mínimo nacional, sublinhado que
o peso dos trabalhadores a receber a
remuneração mínima (760 euros este
ano) baixou de 24,3% para 20,8%
redução, em 3,6%, das comissões
líquidas, para 345,7 milhões de
euros.
O produto bancário da instituição
liderada por Pedro Castro e Almeida
ascendeu a 1407,6 milhões de euros,
mais 50,8% face a igual período do
ano passado.
Os custos operacionais subiram
6,3%, para 387,4 milhões de euros,
em boa parte “reÇectindo o contexto
de inÇação elevada”, e o rácio de
eÆciência reduziu-se para 27,5%,
uma diminuição de 11,5 pontos per-
centuais em termos homólogos.
Uma redução veriÆcou-se tam-
bém, em 7,5%, nos recursos de clien-
tes, que ascenderam a 43,2 mil
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
entre 2022 e 2023, atingindo a per-
centagem mais baixa desde 2016.
A ministra voltou a destacar os
aumentos das pensões previstos para
2024, que vão abranger 2,7 milhões
de pensionistas, com um impacto
orçamental de cerca de 2200 milhões
de euros.
O Governo prevê uma actualiza-
ção de 6,2% das pensões mais baixas,
de 5,8% das pensões entre 1020,44 e
3061,32 euros mensais e de 5,2% das
reformas até aos 6122,64 euros men-
sais. Acima deste montante, as refor-
mas continuarão congeladas.
O Banco
Santander
lucrou 621,7
milhões de euros
em Portugal nos
primeiros nove
meses deste ano
milhões de euros, “largamente expli-
cada pela evolução dos depósitos,
que se reduziram em 9,7%, numa
dinâmica associada à mencionada
amortização antecipada de créditos,
assim como pela aplicação em recur-
sos fora de balanço, que cresceram
4,2% face a Setembro de 2022”, avan-
ça o banco.
“Ao nível dos particulares, o con-
Avaliação
das casas nos
novos créditos
atinge máximo
Rosa Soares
O valor mediano de avaliação bancá-
ria na habitação Æxou-se em 1541
euros por metro quadrado em Setem-
bro, um aumento ligeiro de 0,2%
(mais três euros) face a Agosto, mas
correspondeu a um crescimento de
7,8% em termos homólogos. O valor
atingido representa mais um máximo
da série, iniciada pelo Instituto Nacio-
nal de Estatística (INE) em 2011.
Contudo, os dados revelados
ontem mostram um abrandamento
em termos homólogos, face à varia-
ção de 8,8% veriÆcada em Agosto,
tendo sido também o menor cresci-
mento em cadeia desde Fevereiro do
corrente ano.
Já o número de avaliações bancá-
rias para o apuramento do valor
mediano no mês em análise ascen-
deu a 24.929 (16.178 apartamentos e
8751 moradias), mais 1,3%, ou 324
avaliações, do que em Agosto, mas
menos 3,5% que no mesmo período
de 2022. A subida das taxas Euribor,
o elevado preço das casas e a subida
da inÇação são razões que explicam
a redução de pedidos de novos cré-
ditos no último ano.
Por segmentos, o valor mediano
das avaliações de apartamentos foi de
1708 euros por metro quadrado, mais
7,4% face a Setembro de 2022, com os
valores mais altos a serem registados
no Algarve (2148 euros) e na Área
Metropolitana de Lisboa (2047 euros).
O mais baixo (1135 euros) veriÆcou-se
no Alentejo.
texto de taxas de juro mais elevadas
está a contribuir para uma desala-
vancagem do balanço, com a amor-
tização antecipada de créditos, em
especial à habitação. A carteira de
crédito hipotecário registou uma
redução homóloga de 4,0%”, refere
o banco em comunicado.
Já o crédito a clientes manteve a
trajectória ascendente, para 44,9 mil
milhões de euros, mais 3,4% face ao
mesmo período de 2022. Acrescenta
ainda que “a transformação comer-
cial e digital que o banco tem vindo
a executar permitiu manter o cresci-
mento da base de clientes do banco
principal em mais 61 mil, e de clien-
tes digitais em mais 84 mil”.
 Público ClassiÄcados • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 35

Leilões Eletrónicos
ĞŶĂǀĞŶƚĞ WĞŶĂĮĞů ZŝŽĚĞDŽƵƌŽ Loures

/ŵſǀĞůŝƐĞŶƚŽĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘

Termina a 06 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ Termina a 07 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ Termina a 07 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϱ
ZƷƐƟĐŽ DŽƌĂĚŝĂdϯнZƷƐƟĐŽƐ ϵdžWĂƌƋƵĞĂŵĞŶƚŽƐ
“Herdade do Almada e Toiças” c/ logradouro Rua General Humberto Delgado, Prior Velho Termina a 09 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ

45.000,00m² 324m² 10.650m² 3 2 1 127,23m² 1 1

ZƷƐƟĐŽ YƵŝŶƚĂĚŽWƌŝŽƌsĞůŚŽ
(Inserido no PDM do Prior Velho c/ plano de execução)
Herdade do Almada e Toiças, Benavente Rua da Serrinha nº 228, Lugar do Souto, S.Mamede Estrada Marquês de Pombal 43, Rio de Mouro
14.280,00m² 5min A1, A12 e A36 (Ponte Vasco da Gama) Proximidade a bens e serviços
10min A10 e A13 3min A11 5min IC19 e A16
10min Centro de Benavente ϭϮŵŝŶĚŽĐĞŶƚƌŽĚĞWĞŶĂĮĞů Centro de Rinchoa 10min Centro de Lisboa 2h30min Centro do Porto 2h de Espanha
Valor mínimo de venda: 180.000,00€ Valor de venda: ^ƵũĞŝƚŽĂƉƌŽǀĂĕĆŽ Valor de venda: ^ƵũĞŝƚŽĂƉƌŽǀĂĕĆŽ Valor de venda: ϰ͘ϯϵϲ͘ϲϴϳ͕ϬϱΦ
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞƋƵĂĐĂŵƉƵƐ͕>ĚĂ͘ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞWĂƵůŽ'ŽŵĞƐĞD͘&ĄƟŵĂdĞŝdžĞŝƌĂ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞĂƌƵů͕^͘͘ >ŝƋƵŝĚĂĕĆŽŶŽąŵďŝƚŽĚĂ/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞŽŽƌĚĞŶĂĕĆŽ^ŽĐŝĞƚĄƌŝĂ^'W^^͘͘
Processo nº 1455/23.0T8STR Processo nº 1228/22.8T8AMT Processo nº 17377/22.0T8SNT Valor de abertura: 410.00,00€ Processo nº 19373/16.7T8LSB

Barreiro KůŝǀĞŝƌĂĚŽĂŝƌƌŽ &ĞůŐƵĞŝƌĂƐ 1ª Fase

(Globalidade)

/ŵſǀĞůŝƐĞŶƚŽĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘

Termina a 08 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ

>ŽƚĞĚĞƚĞƌƌĞŶŽ Rua do Camarnal, Vila Verde Termina a 10 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ Avenida de Felgueiras 5464, Regilde Termina a 16 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ

221,00m²
ƌŵĂnjĠŵ/ŶĚƵƐƚƌŝĂů /ŵſǀĞůŝƐĞŶƚŽĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘ hŶŝĚĂĚĞ&ĂďƌŝůнZĞĐŚĞŝŽ /ŵſǀĞůŝƐĞŶƚŽĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘

Qtª da Telha, Terra dos Sete Portais, Lt25, Stº André 13.480,00m² 15min A1 Loteamento industrial 3.433,00m² 6min A11 ŶƟŐĂĨĄďƌŝĐĂĚĞĐĂůĕĂĚŽ
3min A39 4.660,00m² 4min do Centro de Oliveira do Bairro Proximidade a bens e serviços 1.539,00m² 15min do centro de Felgueiras Proximidade a bens e serviços
4min do centro do Barreiro
50.000,00€ 501.967,00€ 806.509,10€
Valor de venda:
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞ'ƵĂĮů͕>ĚĂ͘
Processo nº 663/14.0T8LRA
KƉŽƌƚƵŶŝĚĂĚĞĚĞEĞŐſĐŝŽ Valor de venda:
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞ^ĂůƐŝĐŚĂƌŝĂ/ĚĞĂůKůŝǀĞŝƌĞŶƐĞ͕>ĚĂ͘
Processo nº 1574/16.0T8AVR
ŶƟŐĂĨĄďƌŝĐĂĚĞĐĂůĕĂĚŽ Valor de venda:
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞDĂŶƵĞů>ŽƉĞƐΘ>ŽƉĞƐ͕^͘͘
Processo nº 1015/23.6T8AMT

ŶĂĚŝĂ sŝůĂ&ƌĂŶĐĂĚĞyŝƌĂ ^ƚǐDĂƌŝĂĚĂ&ĞŝƌĂ ǀŽƌĂ MďŝĚŽƐ

>dϮϱ

>dϮϲ >dϮϳ

/ŵſǀĞŝƐŝƐĞŶƚŽƐĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘

Termina a 16 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϱ Termina a 16 de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϭϱ Termina a ϮϬ de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ Termina a ϮϬ de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϱ Termina a Ϯϯ de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ

Loja ƐĐƌŝƚſƌŝŽ DŽƌĂĚŝĂdϮ 5x DŽƌĂĚŝĂƐ 3x >ŽƚĞƐĚĞƚĞƌƌĞŶŽ

c/ 5 lugares de estacionamento e arrecadação c/ logradouro c/ logradouro

182,00m² 2 306,50m² 1 1 110,00m² 335,20m² 3 2 1 218,75m² c/395,10m² a c/496,00m²

Largo Dr. Costa Almeida, Fase A ZƵĂĚĞ^ĂŶƚĂDĂƌŝĂ͕ŶǑϰ͕ĚŝİĐŝŽWƌĂƚĂŐŝ Travessa Bairro do Sol, nº15, Pigeiros WĄƟŽDŝŐƵĞů^ŽnjŝŶŚŽ͕ǀŽƌĂ Quinta de são José e Quinta D. Maria, S. Pedro
4min N1 3min A1 4min A32 2min N114 5min A8
Centro Anadia Centro de Alverca 10min Centro de Sta. Maria da Feira 1min do Centro de Évora 10min do Castelo de Óbidos
Valor de venda: ^ƵũĞŝƚŽĂƉƌŽǀĂĕĆŽ Valor de venda: ϭϮϬ͘ϬϬϬ͕ϬϬΦ Valor de venda: 190.000,00€ Valor de venda: 187.000,00€ sĂůŽƌĞƐĚĞǀĞŶĚĂĂƉĂƌƟƌĚĞ͗ϰϭ͘ϰϮϵ͕ϬϬΦ
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂ͗DĂƌŝĂůǀŝŵĞdžĞĐƵĕĆŽ͗ŶƚſŶŝŽůǀŝŵ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞ͕>ĚĂ͘ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞDĂŶƵĞů^ĂŶƚŽƐĞƵƌĠůŝĂWĂŝǀĂ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞ:ŽĂƋƵŝŵĂďĂŶĂƐĞĞůĞƐƟŶĂĂďĂŶĂƐ /ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞŽŶƐƚƌƵĕƁĞƐ͘&͕͘>ĚĂ͘
Processos nº 496/19.7T8MDL e 1/15.4T8AGD Processo nº 2740/19.1T8VFX Processo nº 489/22.7T8OAZ Processo nº 291/17.8T8STR Processo nº 907/23.7T8LSB

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/ŵſǀĞůŝƐĞŶƚŽĚĞ/DdĞ/ŵƉŽƐƚŽĚĞ^ĞůŽ͘ Leilões Imóveis
Termina a Ϯϯ de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϭϬ Termina a Ϯϵ de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϬ
Direitos
Máquinas
>ŽƚĞĚĞƚĞƌƌĞŶŽ ƌŵĂnjĠŵнZĞĐŚĞŝŽ Benavente Termina a Ϯϵ de ŶŽǀ͘ de ϮϬϮϯ,a partir das ϭϱŚϬϱ Visitas
Virtuais Veículos
c/6.761,00m² 352,00m² 1.400,00m² 1
ƋƵŝƉĂŵĞŶƚŽƐƉĂƌĂƉƌŽĚƵĕĆŽĚĞĐĂŶĄďŝƐ
Rua de Santo António, São Gregório Rua Cal 1, Covelas
ƐƚƵĨĂƐͮdƌĂƚŽƌͮŝƐƚĞƌŶĂͮĞƉſƐŝƚŽƐ
10min A15 13min A3
Zona Rural 20min Centro de Porto
ƋƵŝƉĂŵĞŶƚŽƐͮƌŵĂnjĠŵͮĂƐĂƐWƌĠͲĨĂďƌŝĐĂĚĂƐ
Valor de venda: ϲϮ͘ϵϰϮ͕ϱϬΦ Valor de venda: ϭϬϭ͘ϱϯϬ͕ϬϬΦ
KƉŽƌƚƵŶŝĚĂĚĞĚĞEĞŐſĐŝŽ Valor de venda: ϭϬϮ͘ϬϱϬ͕ϬϬΦ KE^E'M/K^
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞŽŶƐƚƌƵĕƁĞƐ͘&͕͘>ĚĂ͘
Processo nº 907/23.7T8LSB
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞ>ƵşƐƐĐĞŶƐĆŽĞDĂƌŝĂƐĐĞŶƐĆŽ
Processo nº 3780/18.3T8STS
/ŶƐŽůǀġŶĐŝĂĚĞs&ϭϴϴϯWŚĂƌŵĂĐĞƵƟĐĂůƐ͕>ĚĂ͘
Processo nº 1706/22.9T8STR
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ZƵĂĚĂZĞƉƷďůŝĐĂ͕ŶǑϯϭ͕ϮϲϳϬͲϰϳϯ>ŽƵƌĞƐ Av. de Portugal 4, Armazém nº4,
dĞůĞĨŽŶĞ͗ϮϭϵϴϮϯϭϲϯ 2665-357 Póvoa da Galega ĐŽŵĞƌĐŝĂůΛŽŶĞĮdžͲůĞŝůŽĞŝƌŽƐ͘Ɖƚ
;ŚĂŵĂĚĂƉĂƌĂĂƌĞĚĞĮdžĂŶĂĐŝŽŶĂůͿ
36 • Público ClassiÄcados • Sábado, 28 de Outubro de 2023

FIM DO LEILÃO: 27 NOVEMBRO, 2ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 21 NOVEMBRO, 3ª FEIRA ÀS 11H00
Insolvência de Rodrigues & Filipe S.A. Insolvência de João Miguel Silva Martins
Trib. Jud. da Comarca de Lisboa - Juízo de Comercio do Barreiro - Juiz 4 - Proc. nº 851/17.7T8BRR Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa - Norte - Juízo de Comércio de Vila Franca de Xira – Juiz 2
Processo nº 1651/21.5T8VFX
LOTE DE TERRENO (264,5m)
P/ CONSTRUÇÃO • 55.000€ METADE INDIVISA
T2 (79,72m) • 44.611,57€
C/ 2 ARRECADAÇÕES

Comércio e Serviços • Santo António da Charneca

Urb. Quinta do Zé da Rita Lote 67
BARREIRO Rua da Areeira nº 1, 1º Dto
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Avenida Alexandre Herculano 45 • PINHAL NOVO CAMARATE • LOURES
CA TÁ L O G O O N L IN E C AT ÁLO GO O NL I NE
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Leiloeira Paraíso • Rua Andrade 2 R/C, DTO. • 1170-015 LISBOA Leiloeira Paraíso • Rua Andrade 2 R/C, DTO. • 1170-015 LISBOA
Tel. 218 122 384 • Tlm. 916 855 363 • www.cparaiso.pt • inf@cparaiso.pt Tel. 218 122 384 • Tlm. 916 855 363 • www.cparaiso.pt • inf@cparaiso.pt

LEILÃO ELETRÓNICO
Falência de Queimado & Pampolim, Lda.
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa
Juízo de Comércio de Lisboa – Juiz 5
Processo de Insolvência n.º 5039/09.8TVLSB Admite para integrar a equipa de projeto:
INÍCIO 30/10/2023, ÀS 11H00 FIM 20/11/2023, ÀS 16H00 • Eng.º Civil Sénior Estruturas
• Eng.º Civil Júnior Construções
• Eng.º Civil Estagiário
Resposta para geral@seg.pt

Dá-se conhecimento público de que se encontram

abertos processos de recrutamento para um/a
VALOR MÍNIMO DE VENDA € 770.483,81 Técnico/a Superior e um/a Assistente Técnico/a
em regime de contrato de trabalho por tempo
ANTIGA FÁBRICA DE DESCASQUE DE ARROZ
Prédio urbano situado em Ponte do Reguengo, Pontével, composto
indeterminado ao abrigo do Código do Trabalho
de um bloco de edifícios de r/c e 1.º andar, destinado a fábrica de para a Faculdade de Direito da Universidade Nova
descasque de arroz e moagem de farinhas, com a área total de 3318 M2, de Lisboa - NOVA School of Law:
descrito na Conservatória do Registo Predial do Cartaxo sob o n.º 703 da
freguesia de Pontével, inscrito na matriz sob o artigo, 1858. • 1 vaga Técnico Superior (m/f) para o Serviço
N.B Aceitamos ofertas abaixo do valor mínimo de venda as quais de Gestão Financeira e Contratação Pública;
serão analisadas pelo Administrador da Falência.
• 1 vaga Assistente Técnico (m/f), para o
CONDIÇÕES DE VENDA: Serviço de Gestão Financeira e Contratação
1. O registo é obrigatório no nosso site www.aleiloeiraforense.pt Pública.
2. Ao valor de arrematação são acrescidos, a comissão de 5% para a
agência e, sobre esta, 23% de I.V.A.
aos quais se podem candidatar os indivíduos que
3. Com a arrematação será notificado o arrematante para proceder ao reúnam as condições fixadas nos avisos disponíveis
pagamento de 20% do preço e a comissão, no prazo de 05 dias. no endereço:
4. O remanescente do preço será pago na data da escritura, a qual terá https://novalaw.unl.pt/legislacao-e-documentos-
lugar no prazo máximo de 60 dias.
de-gestao/recursos-humanos/nao-docentes/
Nota: Extrato das condições de venda, não dispensa a consulta das
restantes condições no nosso site. O processo de recrutamento e seleção encontra-se
A LEILOEIRA FORENSE, LDA. | Rua Carlos Reis, n.º 20 – A 1600-033 Lisboa
aberto, para efeitos de entrega de candidaturas, até
Tel. 213477953 -T.M. 969097121 | www.aleiloeiraforense.pt ao dia 07/11/2023.
 Público ClassiÄcados • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 37

Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, E.P.E. Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, E.P.E.
Farmacêutico Assessor Pessoal Médico
CONHEÇA
AS NOSSAS Para conhecimento dos interessados, faz-se público que, Para conhecimento dos interessados, faz-se público que,
através do Aviso (extrato) n.º 20596/2023, publicado no através do Aviso (extrato) n.º 20595/2023, publicado no
COLECÇÕES Diário da República, 2.ª Série, n.º 208, de 26 de outubro
DE Diário da República, 2.ª Série, n.º 208, de 26 de outubro
de 2023, se encontra aberto, pelo prazo de 15 dias úteis,
LITERATURA

de 2023, se encontra aberto, pelo prazo de 15 dias úteis,

a contar da data da referida publicação, procedimento
concursal comum para preenchimento de seis postos
de trabalho na categoria de farmacêutico assessor das
carreiras farmacêutica e especial farmacêutica — Área
de exercício profissional de farmácia hospitalar, do mapa
de pessoal do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa
Norte, E.P.E. (CHULN).
Para formalização das respetivas candidaturas deverão os
interessados consultar o aviso de abertura do procedimento
concursal.
Os requisitos e condições aplicáveis podem ser
consultados também no sítio da internet do CHULN, em
www.chln.pt/candidaturas.
a contar da data da referida publicação, procedimento
concursal comum para preenchimento de um posto de
trabalho na categoria de assistente graduado sénior
de Patologia Clínica, do mapa de pessoal do Centro
Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, E.P.E. (CHULN).
Para formalização das respetivas candidaturas deverão os
interessados consultar o aviso de abertura do procedimento
concursal.
Os requisitos e condições aplicáveis podem ser
consultados também no sítio da internet do CHULN, em
www.chln.pt/candidaturas.

O Diretor do Serviço de Recursos Humanos O Diretor do Serviço de Recursos Humanos

loja.publico.pt Rogério Fernandes Costa Rogério Fernandes Costa
INFO: 210 111 010
A FAMÍLIA DE

LUÍSA TENREIRO ATAÍDE DA COSTA GOMES

Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares
e Amigos de Doentes de Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de
Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional, constituída há
mais de 30 anos especificamente para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e
dos seus familiares e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio
domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
15-10-1970 27-10-2009
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento
SAUDADE MAIOR mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais
recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas,
efeitos, profilaxia e tratamentos.
OFEREÇA Contactos
HISTÓRIA Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 - Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril
Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra
Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Tel. 236 219 469
- E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim - Tel. 24 300 00 87
- E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3, Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemó-
vel: 965 276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org
MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010
38 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Ciência e Ambiente Conversa com cientista da área do sono e ritmos biológicos
“A nossa Ɗsiologia
responde ao sol, não
ao relógio de pulso”
Cátia Reis Cientistas defendem que a hora de Inverno se deveria
manter o ano inteiro. “Aquilo que é desejável é que estejamos
perfeitamente alinhados com a hora solar”, aÄrma especialista
Entrevista
Claudia Carvalho Silva
A hora muda neste Æm-de-semana,
mas a comunidade cientíÆca há
muito tem defendido que a
permanência na hora de Inverno
seria o ideal e o mais saudável —
ainda que a percepção do público
pareça ser outra. A especialista na
área do sono e ritmos biológicos
Cátia Reis reconhece que a
mudança da hora é um tema
sensível, mas defende que
permanecer sempre na hora de
Verão teria impactos negativos,
sobretudo pela ausência de luz pela
manhã.
“Temos de pensar acima de tudo
naquilo que é melhor para a nossa
Æsiologia. Vários estudos já
demonstraram evidências nos
problemas que advêm do facto de
nós retirarmos a luz de manhã”,
refere a investigadora do Instituto
de Medicina Molecular João Lobo
Antunes da Universidade de Lisboa
e professora auxiliar na
Universidade Católica Portuguesa.
Em entrevista com o PÚBLICO por
videochamada a partir do Rio de
Janeiro, onde se encontrava para
participar no Congresso Mundial
do Sono, garante: “Temos níveis de
privação de sono muito superiores
a outros países e se mantivermos a
nossa hora de Verão ainda vamos
piorar a situação.”
Considera que existe uma
diferença entre a preferência
dos cidadãos e aquilo que
defendem os cientistas no que
toca à mudança da hora?
Eu penso que existe uma
percepção errada. A pessoa tem
uma tendência para, naturalmente,
gostar mais da hora de Verão do
que da hora de Inverno. Mas isto
tem que ver com a sazonalidade
que temos: o nosso fotoperíodo
[tempo de luz solar] naturalmente
é maior durante o Verão e é menos
durante o Inverno. Ponto.
Independentemente de haver
mudança da hora ou não.
As pessoas gostam de ter luz e de
ter luz ao Æm do dia, mas o
problema é que a questão de
termos a luz ao Ænal do dia em
termos Æsiológicos não é muito
desejável. Basicamente, temos o
nosso período endógeno, a nossa
ritmicidade endógena, a nossa
Æsiologia é de cerca de 24 horas.
Em média, é superior às 24h e nós
precisamos da luz no período da
manhã para conseguir
sincronizá-la.
No Inverno, como temos menos
horas de luz, convém que
consigamos ter algumas horas de
luz no período da manhã para
despertarmos. Aquilo de que nós
necessitamos e que é
completamente desejável é que
nós estejamos perfeitamente
alinhados com a hora solar. Porque
a nossa Æsiologia responde ao sol,
não responde ao relógio de pulso.
O relógio de pulso ajuda a saber
quando temos de ir trabalhar, mas
Æsiologicamente o nosso
organismo responde ao sinal
luminoso, à sua presença ou à sua
ausência.
E quais são os malefícios de não
ter essa luz pela manhã?
São precisamente esses: não tendo
essa luz de manhã para sincronizar,
faz com que sejamos mais tardios.
Levantamo-nos de manhã ainda de
noite e Æcamos dentro de edifícios
em que a iluminação não é a
mesma que a luz exterior, é mais
reduzida. Acabamos por nunca ter
a luz no período do dia que nos
permite Æcar mais matutinos.
Nós, portugueses, já temos essa
tendência para ser mais tardios. Se
ainda formos colocar mais horas de
luz no Ænal do dia, vai fazer com
que Æquemos mais tardios — mas a
hora de relógio é a mesma, não
muda. O que muda é a hora na qual
nos estamos a expor à luz. Por isso
é que, no Verão, dormimos menos,
por norma. E as pessoas que são
mais noctívagas ainda dormem
menos. Há um arrastamento da
hora de adormecer, mas depois de
manhã acordam para ir trabalhar.
No Inverno, tendencialmente
dormimos mais.
Então qual é a solução
preferível em termos de ciência
do sono e saúde?
A melhor solução e aquela que nos
permite ter o horário social mais
próximo da hora solar (que é
aquela que nos sincroniza) é
precisamente Æcar
permanentemente na hora dita de
Inverno.
Claro que quando se pergunta às
pessoas respondem normalmente
que preferem a hora de Verão
porque associam ao Verão.
Associam a um fotoperíodo maior.
Se Æcarmos com a hora de Inverno,
chega ao Verão e não temos luz até
às 22h da noite, mas também não
precisamos de ter. Porque faz com
que vamos dormir ainda mais
tarde. Se tivermos luz até às 21h da
noite, é perfeitamente aceitável.
Mas, se Æcássemos com a hora de
Verão no Inverno, às 9h e tal da
manhã ainda seria de noite. E isso
sim, é altamente prejudicial. Nós
precisamos mesmo é de ter aquela
luz.
Ser de noite até tão tarde de
manhã poderia ser mais Há pessoas que argumentam que
prejudicial para algum grupo, é bom ao Ænal do dia, no Verão,
como as crianças? sair. Mas temos de pensar acima de
Sim, as crianças são tudo naquilo que é melhor para a
particularmente sensíveis. nossa Æsiologia. Vários estudos já
Publiquei um artigo com pessoas demonstraram evidências nos
que têm uma patologia do sono problemas que advêm do facto de
que é atraso de fase de sono, que nós retirarmos a luz de manhã,
são pessoas que se deitam muito, nomeadamente.
muito tarde e que se levantam Na pandemia, todos Æcámos
também muito, muito tarde, de mais tardios porque não tínhamos
forma sistemática, e para essas tanto contacto com a luz lá fora,
pessoas é ainda pior. Ainda corta tínhamos uma menor
mais o sono delas. luminosidade exterior. É por isso
As pessoas que estão em maior que isto em termos de opinião
risco são precisamente aquelas que pública muitas vezes é discordante
são mais tardias. Quais? Os nossos e levanta várias questões, porque
adolescentes, que ainda por cima muitas pessoas dizem que só ao
têm de ir para a escola às 8h da Ænal do dia é que podem
manhã. Nada podia estar mais efectivamente apanhar luz. Mas
errado. também nos cabe a nós tentar
Se nos mantivéssemos sempre mudar gradualmente alguns destes
nesta dita hora de Inverno exposição luminosa e a esta hábitos. Nem sempre é fácil.
haveria algum impacto no sazonalidade. Na Primavera os dias Esta passagem que vamos ter
Verão? começam a Æcar maiores e no agora é benéÆca, ganha-se uma
Não. Outono começam a Æcar mais hora de sono. Em Março é que é
Seria só uma questão de hábito? curtos, e o nosso organismo altamente prejudicial porque
Iria ser completamente uma responde naturalmente. O que estamos a tirar uma hora, a
questão de hábito. O nosso acontece é que, artiÆcialmente, fazer-nos acordar uma hora mais
organismo vai adaptando-se à fazemos mudar uma hora. cedo do que aquilo a que o nosso

organismo estava a responder.
Quem acha que deveria ter a
última palavra sobre a mudança
da hora? Deve ser o Governo
apoiado por cientistas ou devem
ser as pessoas?
Se Äcássemos com Deve ser o Governo apoiado por
a hora de Verão no cientistas, e depois tem de haver
educação. O problema que temos
Inverno, às 9h e tal muitas vezes é as pessoas não
da manhã ainda saberem em termos Æsiológicos e
em termos práticos quais é que são
seria de noite. E, as consequências e tomam
isso sim, é decisões desinformadas. O
exemplo do tabaco é um exemplo
altamente bom.
prejudicial. Nós Na questão do sono, os impactos
são desvalorizados?
precisamos Sim. Há pessoas que ainda acham
mesmo é de ter que dormir é uma perda de tempo.
A questão é que não é. Toda a nossa
aquela luz Æsiologia e toda a nossa
performance cognitiva em geral são
completamente impactadas pelo
déÆce de sono. A relação
emocional é completamente
impactada pela privação de sono.
E a longo prazo também…
Sim. Aliás: os efeitos mais
facilmente percepcionáveis e que
CHRISTOPHER NEUNDORF/EPA
todos conseguimos ver são
alerações cardiometabólicas, são
aquelas que acabam, por norma,
por vir sempre ao de cima.
E depois também temos as
perturbações de humor. Na nossa
sociedade portuguesa temos taxas
elevadíssimas de depressão. Como
é que é possível? Quando estamos
a competir com países da Europa
do Norte, que não têm tanta luz...
Há coisas que não estão a
funcionar bem e acho que uma
dessas coisas deve ser a privação
do sono. Temos níveis de privação
de sono muito superiores a outros
países. E se mantivermos a nossa
hora de Verão ainda vamos piorar
a situação.
Portanto, na sua visão, não faz
sentido mudar a hora duas
vezes por ano?
Não. O ideal seria termos sempre
uma hora mantida o ano inteiro, o
ideal é a hora standard, de
Inverno. Na impossibilidade de
isto acontecer, se realmente não
der, então manter a alternância. É
preferível do que Æcar na hora de
Verão.
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 39
Horário de Inverno
A hora muda
na madrugada deste
sábado para domingo
Claudia Carvalho Silva
Não se esqueça de acertar os relógios
na madrugada deste sábado para
domingo: a hora muda de dia 28 para
dia 29 de Outubro, “ganhando-se”
uma hora. Às 2h da manhã, os pon-
teiros do relógio recuam 60 minutos
e passam a marcar 1h em Portugal
continental e na Madeira. Nos Aço-
res, a mudança é feita à 1h, passando
os relógios a marcar 00h. Esta
mudança devolve-nos ao horário de
Inverno (UTC), o que só mudará a 31
de Março de 2024.
Em 2018, houve uma tentativa de
abolir a mudança horária: a propos-
ta foi feita pela Comissão Europeia
com o intuito de abolir a mudança
horária nos países da União Europeia
e acabou por ter a concordância do
Parlamento Europeu em 2019. Mas,
para entrar em vigor, faltaria a posi-
ção favorável do Conselho da União
Europeia — que nunca chegou a
acontecer. Contactado pelo PÚBLI-
CO, o Conselho da União Europeia
conÆrmou que não houve novos des-
envolvimentos sobre este tema des-
de então.
A decisão fora tomada depois de
um inquérito online em que respon-
deram cerca de 1% dos cidadãos da
União Europeia. Nesse inquérito, só
0,33% dos portugueses votaram e a
grande maioria (79%) disse estar a
favor de manter o horário de Verão
para sempre. Ainda assim, o Gover-
no português anunciou na altura que
pretendia manter a mudança horária
duas vezes por ano. A decisão tam-
bém não bate certo com a posição
defendida por muitos proÆssionais
de saúde e especialistas do sono, que
pedem que se Æque sempre na hora
de Inverno por ser a mais próxima
da hora solar e, logo, originar menos
complicações de saúde.
“Os argumentos cronobiológicos
para abolir a mudança horária e para
adoptar permanentemente a hora
padrão [hora de Inverno]” já está
bem documentada, lê-se num estudo
publicado em 2022 na revista Journal
of Biological Rhythms, sobre a percep-
ção pública relativa à mudança da
hora. O mesmo defende a especialis-
ta na área do sono e em ritmos bioló-
gicos Cátia Reis, em entrevista ao
PÚBLICO: “Temos de pensar acima
de tudo naquilo que é melhor para a
nossa Æsiologia. Vários estudos já
demonstraram evidências nos pro-
blemas que advêm do facto de reti-
rarmos a luz de manhã.”
Há mais de um século
A mudança da hora duas vezes por
ano faz-se há mais de 100 anos em
Portugal e em vários países do mun-
do, havendo também discussões para
abolir este sistema nos Estados Uni-
dos e no Canadá. Pelo meio há até
alguns casos mais caricatos, como o
do Líbano, que acordou em Março
com dois fusos horários por causa de
uma disputa entre as autoridades
políticas e religiosas.
Na Noruega, por exemplo, um gru-
po de investigadores tentou aprofun-
dar qual a opinião pública sobre a
mudança da hora e o impacto do cro-
nótipo (a preferência natural de dor-
mir e de acordar de uma pessoa,
inÇuenciada pela genética) e da loca-
lização geográÆca nesta percepção.
Receberam respostas de mais de 47
mil noruegueses: destes, 78,2% pre-
feriam acabar com a mudança da
hora, havendo 61,5% dos inquiridos
a preferirem manter sempre a hora
de Inverno e 29,1% a preferirem Æcar
na hora de Verão.
Qual seria a solução preferida do
ponto de vista da ciência? “Deixar de
mudar, sem dúvida. A mudança pro-
voca perturbações circadianas”,
responde o investigador e principal
autor do estudo publicado em 2021
com os resultados do inquérito,
Bjorn Bjovatn, em respostas envia-
das por email ao PÚBLICO. Certo é
que “tanto os cientistas como o públi-
co devem ser ouvidos”, defende, não
desvalorizando o bem-estar e as
oportunidades de lazer da popula-
ção. Ainda assim, o especialista na
área do sono e professor na Uni-
versidade de Bergen acredita que
mudar a hora duas vezes por ano
já não faz sentido e que os impactos
na saúde devem ter um peso pri-
mordial na decisão de abolir ou não
a mudança da hora.
novembro
12 domingo 18:00 sala suggia ciclo piano € 22
À Volta do Barroco ALEXANDER MALOFEEV
01-11 novembro
obras de JOHANN SEBASTIAN BACH-SAMUIL FEINBERG, ALEXANDER
SCRIABIN, RICHARD WAGNER-FRANZ LISZT, MIECZYSLAW WEINBERG
01 quarta 18:00 sala suggia coro € 12 07 terça 19:30 sala suggia remix barroca € 18 e SERGUEI RACHMANINOFF

NO DIA DOS MORTOS GRANDES CONCERTOS VIRTUOSOS VI

CORO CASA DA MÚSICA ORQUESTRA BARROCA CASA DA MÚSICA
NACHO RODRÍGUEZ direção musical FABIO BIONDI violino e direção musical
ROMI SOARES atriz REMIX ENSEMBLE CASA DA MÚSICA
obras de HEINRICH SCHÜTZ e HUGO DISTLER TITO CECCHERINI direção musical
ILYA GRINGOLTS violino

05 domingo 18:00 sala suggia remix barroca € 18 Um concerto duplo que percorre música de três séculos, pela mão de
mestres do violino dos nossos dias, Fabio Biondi e Ilya Gringolts.
GRANDES CONCERTOS VIRTUOSOS V
REMIX ENSEMBLE CASA DA MÚSICA
TITO CECCHERINI direção musical
MIQUEL BERNAT marimba
ORQUESTRA BARROCA CASA DA MÚSICA
FABIO BIONDI violino e direção musical “Uma revolução mundial do piano.” (Der Standard)

O virtuosismo dá o mote a um concerto duplo que cruza a música de Mozart

e Sammartini com composições do século XXI. 14 terça 19:30 sala 2 € 10

KLAVIS DUO
VICTOR PEREIRA clarinete
VÍTOR PINHO piano
obras de CARLOS AZEVEDO, JÖRG WIDMANN, LUÍS TINOCO e
JOHANNES BRAHMS

15 quarta 21:30 sala suggia € 20 € 30

SALVADOR SOBRAL: TIMBRE

promotor: Somos Força de Produção
“Dificilmente se pode tocar violino de forma mais expressiva.”
(Süddeutsche Zeitung)
16 quinta 21:00 sala suggia € 14

11 sábado 18:00 sala suggia sinfónica coro esgotado € 30 SINFONIETTA CRACOVIA

OS CARMINA BURANA KATARZYNA TOMALA-JEDYNAK direção musical

ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA

CORO CASA DA MÚSICA 16 quinta 21:30 sala 2 € 15
“Um virtuoso transcendente do nosso tempo.” (Bachtrack) ENSEMBLE VOCAL PRO MUSICA
CORO INFANTIL CASA DA MÚSICA FADO IMPERFEITO: UMA VIAGEM DO
STEFAN BLUNIER direção musical
ALINA WUNDERLIN soprano FADO PELO MUNDO
PAUL SCHWEINESTER tenor promotor: Trovas Soltas
JOACHIM GOLTZ barítono
02 quinta 21:30 sala 2 € 20 obras de RICHARD WAGNER, HARRISON BIRTWISTLE e CARL ORFF
16 quinta 21:30 café ENTRADA LIVRE
KAVITA SHAH: CAPE VERDEAN BLUES
promotor: Incubadora d’Artes PETER STORM & THE BLUES SOCIETY
02 quinta 21:30 café ENTRADA LIVRE 09 quinta 22:30 café ENTRADA LIVRE 18 sábado 18:00 sala suggia sinfónica € 14

YOSUNE THE QUANTIC TONES GÉNIOS HÚNGAROS

ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA
03 sexta 21:30 sala suggia sinfónica € 22 10 sexta 22:30 sala 2 € 25 TITO CECCHERINI direção musical
obras de GYÖRGY KURTÁG e BÉLA BARTÓK
SINFONIA “TITÔ KAKI KING
promotor: Pinuts
ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA 19 domingo 21:30 sala suggia € 20
STEFAN BLUNIER direção musical
GUSTAV MAHLER Sinfonia n.º 1 MAKAYA MCCRAVEN

APOIO INSTITUCIONAL APOIO INSTITUCIONAL ANO ALEMANHA

mais informação sobre a programação M/6

VISITAS GUIADAS DESCONTOS GERAIS HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO
call center +351 220 120 220
todos os dias não cumulativos, aplicados a preços > = € 10 25% Cartão Amigo diariamente 09:30–18:00
Português / Inglês · 11:00 e 16:00 sinfónica, remix, barroca, coro e ciclo piano: 20% Cartão BPI dias de espectáculo: bilheteira aberta info@casadamusica.com
€ 12 POR PESSOA 50% Jovem < = 30 Anos 15% Sénior > = 65 anos até meia hora após o seu início www.casadamusica.com
50% Estudante universitário ** Cartão Continente: na compra de A programação e os preços aqui apresentados
50% Professores e estudantes de música um bilhete para adulto, oferta de duas – válidos salvo erro tipográfico – poderão estar
entradas para menores de 18 anos sujeitos a alterações. M/6 2023

23 quinta 21:30 café 29 quarta 21:30 sala 2

SERVIÇO
ENTRADA LIVRE € 15

AMARELA MONTE BRANCO: CURA

promotor: O Malhão

EDUCATIVO
24 sexta 21:00 sala suggia sinfónica € 22
30 quinta 21:30 sala suggia € 15 € 25
GRANDES CONCERTOS VIRTUOSOS VII
CRISTINA BRANCO: MÃE

2023/24
ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA promotor: Locomotiva Azul
MICHAEL SANDERLING direção musical
ALENA BAEVA violino
obras de LUDWIG VAN BEETHOVEN e WITOLD LUTOSŁAWSKI 30 quinta 21:30 café ENTRADA LIVRE

FRED MARTINS + CARLOS CESAR

CONCERTOS
MOTTA
19 domingo 10:00, 11:30 e 16:00 sala 2 € 12,5

TANGERINA
PRIMEIROS CONCERTOS (3 meses-6 anos)

Misty Fest 25 sábado 16:00 sala 2 € 8

04-22 novembro
O BARBEIRO DE EINSTEIN (UMA
promotor: Uguru ÓPERA RELATIVAMENTE FÍSICA)
OS NOSSOS CONCERTOS (> 6 anos)

04 sábado 21:00 sala 2 € 25

OFICINAS
RODRIGO CUEVAS + BANDUA
05+12+26 domingo 10:00 e 11:30 sala de ensaio 2 € 12*
05 domingo 21:00 sala 2 € 35
BEBÉ FIT
“nas mãos de uma artista como Baeva, aparentemente tudo soa CORINNE BAILEY RAE: BLACK PRIMEIRAS OFICINAS (3 meses-6 anos)
interessante. A sua interpretação é hipnotizante… ”
RAINBOWS
* criança+adulto
(Aamulehti Kulttuuri)

11 sábado 10:30 ou 14:30 sala de ensaio 2 € 6

25 sábado 22:00 sala suggia € 14 08 quarta 21:00 sala suggia € 30
CANTO EM CASA
SUBURBANO: ORQUESTRA JAZZ DE RODRIGO LEÃO + TÓ TRIPS OFICINAS DO DIA (> 6 anos)

MATOSINHOS & GUINGA

09 quinta 21:00 sala 2 € 20 FORMAÇÃO
ORQUESTRA JAZZ DE MATOSINHOS
PEDRO GUEDES direção musical SALOMÃO SOARES + ANNA SETTON
GUINGA voz, guitarra e composição 06+13+20 segunda 17:30 sala 2

13 segunda 21:00 sala suggia € 30 ALTE MUSIK, MÚSICA ANTIGA NA

26 domingo 12:00 sala suggia concerto comentado € 12
WIM MERTENS + FRANCISCO ALEMANHA
O QUE É UM CONCERTO PARA 14.º CURSO LIVRE DE HISTÓRIA DA MÚSICA
SASSETTI
ORQUESTRA?
18 sábado 14:30 sala de ensaio 2 € 18
ORQUESTRA SINFÓNICA DO PORTO CASA DA MÚSICA 21 terça 21:00 sala suggia € 30
MICHAEL SANDERLING direção musical UMA AULA, UMA IDEIA, UMA
Concerto comentado por DANIEL MOREIRA LAMBCHOP + ALAN SPARHAWK
WITOLD LUTOSŁAWSKI Concerto para orquestra CANÇÃO
FORMAR NA CASA (professores de música de todos os níveis de
21 terça 21:30 sala 2 € 25 ensino, músicos e formadores)
26 domingo 21:00 sala suggia € 33 € 35
MATTHEW HALSALL
ARA MALIKIAN WORLD TOUR 25 sábado 14:30 sala de ensaio 2 € 18
promotor: Lemon Ibéria
22 quarta 21:00 sala suggia € 30 À DESCOBERTA DA VOZ
FORMAR NA CASA (professores de todas as áreas e níveis de
28 terça 19:30 sala 2 prémio novos talentos Ageas € 10 JOHN GRANT + NADINE KHOURI ensino, educadores, profissionais da voz, músicos e formadores)

MAFALDA LEMOS

MECENAS CASA DA MÚSICA

PATROCINADOR
42 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Cultura Museu alemão alberga tesouros da Turquia e do Egipto
Mesmo fechado,
o Pergamon não escapa
ao debate da restituição
Obras duram há dez anos e obrigam agora a encerramento
total por mais 14. Desejado pela Turquia, o altar de Pérgamo
reacendeu em Berlim a difícil discussão sobre devoluções
Joana Amaral Cardoso
Esta não é a simples notícia do encer-
ramento temporário de um museu
para obras. Desde logo pelo museu
em causa e pelo período estimado de
fecho — trata-se do Museu Pergamon,
um dos mais importantes e visitados
da Alemanha, e fechou ao público na
segunda-feira, prevendo-se que assim
se mantenha durante os próximos 14
anos. Mas também porque a institui-
ção erigida em torno do impressio-
nante altar de Pérgamo pode ser vista
como um dos centros nevrálgicos da
discussão sobre a descolonização dos
museus, tendo a restituição do emble-
mático altar sido pedida, e liminar-
mente negada.
O Museu Pergamon é peça central
da chamada Ilha dos Museus de Ber-
lim, conjunto que é Património Mun-
dial da UNESCO. A primeira pedra do
edifício foi lançada em 1910 e o museu
seria inaugurado 20 anos depois, ten-
do como acervo o altar da antiga cida-
de grega de Pérgamo (na actual Tur-
quia) e outras valiosas peças do puzzle
da História da humanidade.
Datado do período entre 180 e 160
anos antes de Cristo, o altar ostenta
um friso em relevo que é “uma obra-
prima da arte helénica”, segundo o
próprio museu. Embora esteja longe
dos olhares do público há cerca de
uma década, porque já decorrem
obras de requaliÆcação no Pergamon
desde 2013 (e precisamente na ala
Norte, onde está instalado o altar), a
sua imagem permanece vívida: nele
os deuses do Olimpo lutam com os
gigantes, Ælhos de Gaia, e conta-se a
história de Télefo, fundador de Pér-
gamo, dos dois lados de uma escada-
ria monumental.
Além do altar de Pérgamo, parte da
residência real da cidade criada à ima-
gem de Atenas, constam ainda da
colecção de Antiguidades Clássicas da
instituição o Portão do Mercado da
antiga cidade greco-romana de Mile-
to. Entre os artefactos da antiga Meso-
potâmia, da Síria e da Anatólia estão
o espectacular Portão de Ishtar, o
oitavo da antiga Babilónia (actual Ira-
que), ou a chamada Via Processional
desta mesma cidade monumental nas
margens do Eufrates, ambos manda-
dos construir no reinado de Nabuco-
donosor II.
Estima-se que a ala Norte possa
reabrir em 2027. Há problemas nos
alicerces de cimento, porque assen-
tam num solo arenoso junto ao rio
Spree e se sustentam em pilares de
carvalho, e, segundo descreve a
revista The Economist, “os tectos pin-
gam” e há redes para proteger quem
passa da alvenaria que se esboroa. A
ideia inicial era que os trabalhos
decorressem por fases, mantendo
sempre partes do museu aberto, mas,
de acordo com a agência de notícias
alemã DPA, “em Março, a Fundação
do Património Cultural da Prússia
(FPCP) e o Departamento Federal de
Construção e Planeamento Regional
abandonaram surpreendentemente
estes planos”.
As obras custarão cerca de 1,5 mil
milhões de euros: os críticos chamam-
-lhe um “túmulo de mil milhões de
dólares”, como se lê no Die Welt. “A
renovação do Museu Pergamon, em
Berlim, vai ser muito mais cara e
demorar muito mais tempo do que o
planeado. Como é que se chegou a
este ponto?”, pergunta o jornal.
O director adjunto da secção de
reportagens do jornal Frankfurter
Allgemeine, Peter Korte, usava em
Abril alguma ironia para dizer que
“não foi surpreendente, mas escan-
daloso”, o anúncio do fecho total do
museu, e destacava outro debate,
relacionado com o plano de reabilita-
ção, datado de 1999, que não contem-
pla preocupações ambientais. Isto
como quem preparava o leitor para o
que considera ser a discussão menos
audível em torno do caso. “Devolver
o Altar de Pérgamo!”, intimava.
“Nefertiti não é a única que quer vol-
tar para casa: o longo encerramento
do Museu Pergamon é uma oportu-
nidade histórica para avançar na res-
tituição de objectos.”
“Moralmente impuro”
Em pleno debate sobre a descoloni-
zação dos museus e a restituição de
artefactos retirados dos seus países
de origem, e depois de a Alemanha
se ter disposto a devolver os “bron-
zes do Benim” à Nigéria, as obras no
Museu Pergamon ressuscitam ques-
tões sensíveis. Sobretudo depois de
o busto de Nefertiti ter entrado na
conversa. Adquirido pelo Neues
Museum nos anos 1920, com autori-
zação das autoridades egípcias, a sua
presença em solo alemão é questio-
nada por activistas que entrevêem
no negócio o poder das potências
coloniais europeias da época: a Fran-
ça controlava então o departamento
de antiguidades egípcio, como assi-
nala o diário norte-americano The
New York Times.
No Ænal do ano passado, a secretá-
ria de Estado para a Diversidade e
Antidiscriminação de Berlim, Saraya
Gomis, apelou precisamente à devo-
lução do busto de Nefertiti e do Altar
de Pérgamo em declarações ao jornal
Tagesspiegel. “Mas cabe a outros deci- MAJA HITIJ/GETTY IMAGES
dir sobre isso”, admitia, argumentan-
do, porém, que “todos os bens cultu-
rais de outras regiões do mundo estão
[na Alemanha] ilegalmente” e “não
pertencem” de facto ao país.
Tanto o Neues como o Pergamon
estão sob a alçada da FPCP, institui-
ção que insiste que o busto saiu legal-
mente do Egipto. Na semana passada,
o presidente da fundação, Hermann
Parzinger, foi de novo Ærme sobre o
Altar de Pérgamo e o busto da rainha
egípcia. Ambos, disse ao New York
Times, são “casos claros” de aquisi-
ções legais. “Não haverá restituição”
nem do busto nem do altar, frisou.
O altar foi descoberto e escavado
pelo engenheiro alemão Carl Humann
na década de 1870 e a sua viagem até
Berlim fez-se após vários acordos O Altar de Pérgamo é a peça que a escavação decorreu numa altu-
entre administradores do então Impé- central do museu que abriu em ra em que os impérios europeus se
rio Otomano e as autoridades germâ- 1930 e que também detém o tinham lançado numa corrida às anti-
nicas. Era apenas uma parte das vas- Portão do Mercado de Mileto guidades, para rechearem de símbo-
tas descobertas da equipa, que traba- los os seus museus, e que a inÇuência
lhou no local (actualmente a cidade da Alemanha sobre os sultões que
turca de Bergama) entre 1878 e 1886. negociaram a venda era desmesura-
O New York Times cita o livro The Kai- da. Naquelas regiões empobrecidas,
ser’s Treasure Hunter (2021), de Jürgen o poder do dinheiro terá levado a
Gottschlich e Dilek Zapticioglu- “Legalmente, não uma distribuição de direitos pouco
-Gottschlich, em que as condições do
acordo de transferência de proprie-
há esperança na proporcional à relevância dos artefac-
tos para os países de cujo solo foram
dade da imponente construção são restituição”, diz retirados. Hoje, Tunç Soyer, o presi-
esmiuçadas. “Legalmente, não há
esperança num processo de restitui-
um perito alemão, dente da Câmara de Esmirna, capital
da província a que pertence a cidade
ção”, disse Jürgen Gottschlich ao jor- “mas a história é de Bergama, pede a devolução do
nal americano.
“Mas a história é moralmente
moralmente altar, garante o New York Times.
O Ministério dos Negócios Estran-
impura”, admite o perito, explicando impura” geiros alemão garantiu, porém, ao

jornal nova-iorquino que não recebeu
qualquer “pedido de restituição” de
objectos vindo da Turquia ou do Egip-
to. Mas as notícias sobre a vontade de
o Governo turco reaver o altar remon-
tam já a 1990, como reportavam, na
altura, a agência de notícias norte--
americana Associated Press e o jornal
alemão Die Tage.
Em 2012, o executivo de Recep
Tayyip Erdogan dava seguimento ao
seu programa de pedidos de devolu-
ção de antiguidades solicitando a
várias instituições mundo fora uma
análise às origens do património que
albergam, tendo visitado não só o
Museu Pergamon mas também o
Louvre, em França, e ainda o Museu
Calouste Gulbenkian, em Lisboa,
onde dois representantes consulta-
ram a documentação de algumas
peças — na altura, não foi feito qual-
quer pedido de devolução e a Embai-
xada da Turquia garantiu que a vinda
a Portugal não estava relacionada
com a campanha de restituições.
Nessas décadas, o tom da discussão
era outro. “Os turcos deviam ser mais
cautelosos nas suas exigências morais
quando os seus museus estão cheios
de peças roubadas”, atirava Hermann
Parzinger no New York Times. Agora,
ao mesmo diário, descreve que “há
uma consciência diferente entre os
visitantes” quanto à origem das obras
que contemplam e que os “museus
têm de lhe dar resposta”. Nos últimos
anos, a FPCP recebeu “cinco a sete”
RON WATTS/GETTY IMAGES
pedidos de restituição de peças dos
museus que tutela. “O futuro não
pode ser que os museus alemães só
mostrem arte alemã”, ressalva,
porém.
O Altar de Pérgamo, apesar da sua
monumentalidade, não é a única obra
sobre a qual incidem dúvidas sobre o
que é legítimo e justo num contexto
pós-colonial. Mas é aquela que dá
nome ao museu e que lá levava mais
de um milhão de visitantes por ano
antes das obras e da pandemia.
A monumental obra já sobreviveu
cerca de um século desde que saiu
do subsolo. Resistiu ao transporte
até Berlim e aos bombardeamentos
da Segunda Guerra Mundial, tendo
sido novamente desmontada e guar-
dada num abrigo antiaéreo. Chegou
a ser conÆscada pelas tropas sovié-
ticas e levada até Leninegrado
(actual São Petersburgo), tendo mes-
mo sido exposta no Museu Hermita-
ge. Voltou ao Pergamon em 1958
porque o museu Æcava na antiga
República Democrática Alemã, ou
seja, dentro do bloco de Leste ali-
nhado com a União Soviética duran-
te a Guerra Fria. A agência France-
Presse sublinha que dezenas de
outras peças nunca foram devolvi-
das pelos russos.
O altar com mais de 2000 anos está
agora coberto de plásticos numa ala
fechada. Passará os próximos quatro
longe das multidões que no último
século lhe Æzeram companhia.
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 43
Cultura
O Louvre comprou
pela primeira vez uma pintura
da Renascença portuguesa
cimento e o Maneirismo – História da
Sérgio C. Andrade
Arte em Portugal (Presença, 2002). O
Museu francês atribui historiador de arte nota que, mais do
que a autoria, o que é relevante, para
quadro ao atelier real de além da sua qualidade intrínseca, é
Lisboa, que o galerista ela “revelar bem a técnica e o modo
Philippe Mendes, que o de trabalhar da época joanina”.
vendeu, confirma Mendes, que adquiriu esta Ressur-
reição de Cristo por 100 mil euros —
O Museu do Louvre anunciou no iní- mas disse não estar autorizado a
cio desta semana, através de uma divulgar o valor da venda ao Louvre
publicação na rede social X (antiga —, insiste na atribuição da sua autoria
Twitter), a aquisição de uma pintura a Garcia Fernandes e Cristóvão de
dos primitivos portugueses: “Uma Figueiredo, com base no posterior
Ressurreição de Cristo executada por trabalho de investigação realizado
volta de 1540 no atelier real de Lis- nos melhores ateliers de restauro de
boa”, que “constitui um testemunho Paris, com as técnicas mais soÆstica-
de primeira grandeza da arte da das de reÇectograÆa, que permitiram,
Renascença portuguesa”. por exemplo, “observar as hesitações
A compra foi feita ao galerista luso- do desenho de base, nervoso e dra-
francês Philippe Mendes — que a tinha mático, pela mão de Cristóvão de
adquirido num leilão em Lisboa, no Figueiredo, um artista-chave nos pri-
ano passado —, que atribui a obra aos mitivos portugueses”. Foi sobre este
mestres portugueses Garcia Fernan- Ressurreição de Cristo (c.1540) desenho que “Garcia Fernandes pin-
des (c. 1514-c. 1565) e Cristóvão de tou este Cristo com cores luminosas,
Figueiredo (falecido c. 1543). como era moda na época de D. João de uma grande doçura, que dão uma
Philippe Mendes avançou ao III (1502-1557), em que intervieram monumentalidade à composição”,
PÚBLICO que o quadro irá ser expos- também os já citados Garcia Fernan- acrescenta o galerista e historiador de
to no Louvre já nas próximas sema- des e Cristóvão de Figueiredo. arte, que levou esta Ressurreição de
nas, certamente junto a duas outras “Depois da investigação feita atra- Cristo à feira de Arte de Maastricht,
obras relevantes da história da pintu- vés das radiograÆas e reÇectograÆas nos Países Baixos, no passado mês de
ra portuguesa: Natureza-morta com realizadas para o leilão de Lisboa, Março, onde chamou a atenção e o
Peixe (1645), de Baltazar Gomes defendo que Contreiras colaborou na interesse do Museu do Louvre.
Figueira; e Maria Madalena Conforta- execução da parte inferior do qua- A decisão parece manifestar o inte-
da Pelos Anjos (1679), da Ælha deste dro”, diz Vítor Serrão ao PÚBLICO, resse crescente do museu por esta
pintor, Josefa d’Óbidos, que o próprio acrescentando que conhecia esta época e pela história da arte portu-
galerista tinha doado ao museu pari- obra desde há duas décadas, a consi- guesa, depois da exposição A Idade
siense em 2016. dera “uma pintura óptima” e se lhe de Ouro da Renascença Portuguesa,
O galerista acredita que a presente referiu, de resto, no seu livro O Renas- apresentada no Verão de 2022.
aquisição desta Ressurreição de Cristo
pelo Louvre — e noticiada pelo jornal
Expresso — possa indicar a intenção
de Ænalmente se avançar para a já
tantas vezes falada criação de uma
sala destinada à pintura portuguesa.
Ao PÚBLICO, o director do Museu
Nacional de Arte Antiga (MNAA), Joa-
quim Caetano, disse ter tido conheci-
mento da decisão do Louvre de
adquirir a obra, e mostra alguma
expectativa sobre “a forma como o
museu a vai agora apresentar e iden-
tiÆcar”. “O facto de a arte portuguesa
estar representada nos grandes
museus mundiais é bom para Portu-
gal, para o conhecimento da nossa
cultura”, acrescenta o responsável do
MNAA, que não quis, no entanto,
fazer mais comentários sobre a com-
pra, nem pronunciar-se sobre a auto-
ria desta Ressurreição de Cristo.
Na realidade, este painel a óleo foi
posto em leilão, em 2022, em Lisboa,
pela casa Veritas, acompanhada por
uma nota do historiador de arte Vítor
Serrão, que defendia a autoria de Dio-
go de Contreiras (1500-1570), mesmo
tratando-se de um trabalho colectivo,
44 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Cultura
O documentário na encruzilhada
segundo o Doclisboa 2023
Jorge Mourinha
O festival encerra amanhã
com Baan, de Leonor Teles,
mas anuncia hoje os filmes
vencedores de secções
competitivas
Danielle Arbid e Paula Gaitán, cineas-
tas; Patrícia Saramago, montadora;
Ikbal Zalila, programador; João Fia-
deiro, coreógrafo. São os jurados da
Competição Internacional 2023 do
Doclisboa; a Competição Portuguesa
será julgada pelos programadores
Aida Tavares e Gareth Evans e pelo
cineasta Ignacio Agüero. Caber-lhes-
-á decidir quais os Ælmes que sairão
hoje vencedores na 21.ª edição do
festival. Uma edição onde as selec-
ções competitivas reÇectiram sobre
a validade e a relevância da forma
documentário num mundo a abarro-
tar de imagens como o nosso.
A Competição Internacional retomou
um dos Æos condutores da edição
2022 — a arte como maneira de trans-
Ægurar e compreender o mundo — e
continuou a apostar na libertação
formal das barreiras entre Æcção e
documentário. Sobretudo, procurou
reÇectir no que signiÆca ter um olhar
individual sobre o que nos rodeia —
Chutzpah, Qualcosa sul Pudore, da
italiana Monica Stambrini, poderia
ser uma possível deÆnição dessa reÇe-
xão sobre o pudor e a exposição.
Só que, ironicamente, as melhores
das nove longas-metragens escaladas
estavam mais próximas de formas
clássicas: o Ælme-ensaio em Nouveau
Monde!, de Élisabeth Perceval e Nico-
las Klotz; o documentário pessoal,
diarístico, em La Tierra los Altares, de
Sofía Peypoch; o registo activista
social de Hormigas Perplejas, de Mer-
cedes Moncada Rodríguez. A este
juntamos a melhor das quatro curtas
no concurso, Terril, do belga Jorn
A criatividade de Kiluanji Kia Henda filmada por Fernanda Polacow
Plucieniczak — talvez o que melhor
negociou as armadilhas do território
entre a Æcção e o documentário.
Se é louvável a aposta de longa data
do Doc na abolição de categorias
DR
separadas para curtas e longas, este
ano só Terril justiÆcou essa equivalên-
cia — e isto inclui uma Competição
Portuguesa que prestou atenção a
questões da agenda social do momen-
to, mas da qual apenas retivemos um
Ælme inteiramente conseguido, As
Melusinas à Margem do Rio, de Méla-
nie Pereira, e algumas propostas váli-
das mas aquém do potencial (Clan-
destina, de Maria Mire sobre as
memórias da clandestinidade de Mar-
garida Tengarrinha, que morreu
anteontem, ou Fogo no Lodo, de Cata-
rina Laranjeiro e Daniel Barroca).
O “anacronismo” deliberado de
Clandestina ressoou com a descons-
trução lúdica do Ælme de época (e
comentário sobre o tratamento dado
aos indígenas mapuches) Notas sobre
Una Película, de Ignacio Agüero. E o
olhar sobre o compositor romeno
Iancu Dumitrescu de MagniÆcent
Sky, de Alexandru Badea, espelhou
o retrato de Luís Miguel Cintra em
Verdade ou Consequência?, de SoÆa
Marques, ou a exploração da fervi-
lhante criatividade de Kiluanji Kia
Henda por Fernanda Polacow na
enérgica curta Big Bang Henda.
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Três, dois, um… aí vem O Meu Primeiro FITEI
A quarta edição do evento traz seis espectáculos, repartidos
por três salas: o Coliseu Porto Ageas, a Malavoadora e o
Teatro Municipal de Matosinhos. No cartaz está uma Praça de
Inverno e criações de Cátia Pinheiro e José Nunes, Leirena
Teatro e Juan Ayala e Miguel Oyarzun, entre outros. De 31 de
Outubro a 4 de Novembro, com bilhetes de 3,50€ a 7,50€.
O receio do primeiro dia de escola
Luísa Ducla Soares recordou a sua entrada na escola para criar
uma história sobre
obre esse momento
momento decisivo na vida das famílias
Rita Pimenta
“O João pôs-se a pensar: as aulas vão
começar, mas será que vou gostar?”
Esta é uma preocupação de muitas
crianças quando se aproxima xima o
meira
dia de ir à escola pela primeira
vez. Luísa Ducla Soares ajuda juda
com este livro a combater essa
ansiedade.
“A entrada na escola tem uma
importância decisiva na vidaa das
crianças. Um livro que abra a por-
tas a uma entrada bem-sucedida edida
vai ao encontro não só da proble-
mática das crianças, mas dos os pais e
dos professores, com quem m procurei
trocar muitas experiências”, ”, conta ao
PÚBLICO, via email, uma das as autoras
portuguesas mais consagradas gradas da
literatura para a infância.
Para criar esta história, recorreu às
suas próprias memórias: “Instintiva-
mente, recordei o meu primeiro dia
de aulas num colégio inglês, língua
que desconhecia, num edifício que
nunca vira, de roldão com muitos
miúdos desconhecidos, que só
tinham de comum comigo o unifor-
me. Escapando a uma professora
disciplinadamente rígida, escondi-me
no vestiário, a chorar, por trás dos
casacos.” Não foi um início feliz…
“É fundamental a preparação para
esta data marcante, que começa com
a família, por vezes, ansiosa em rela-
ção à nova etapa. Os professores
empenhados têm bem consciência do
papel que eles próprios desempe-
nham.” Cada vez têm mais noção “da
importância da empatia, da intimida-
de afectuosa com o meio escolar para
que o ingresso constitua o primeiro
de muitos dias felizes e com sucesso
pedagógico”, acredita Ducla Soares.
O protagonista debate-se com a
dúvida sob
sobre se irá apreciar esta fase
da sua vida
vida, mas a pouco e pouco vai
evoluindo, até exclamar, lá mais para
o fim: “Da escola estou a gostar/ e
q
amanhã quero voltar.”
A autora,
auto que assina títulos muito
reeditados como Tudo ao Contrá-
reedita
rio ou Abecedário Maluco, descre-
ve: “A meia dúzia de livros que
publiq
publiquei nesta colecção é toda
v
em verso, que me parece uma
d s melhores
da
das m formas de comu-
n
ni c a com leitores que não
nicar
sabem ler e fixam, vivem a sono-
sabe
ridade, o ritmo das palavras.”
ridade
Todos têm ilustração de Sandra
Serra, que nos faz saber: “O primeiro
contacto q que tive de uma editora, em
2005, foi para
p ilustrar um texto da
Luísa Ducl
Ducla Soares. A Carochinha e o
João Ratão,
Ratão Editora Civilização. Uma
prenda, um privilégio e um grande
incentivo para a minha carreira.”
Com a escritora, encontra pontos
comuns: “Escreve como eu procuro
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 45
crianças
O Meu Primeiro Dia de Escola
Texto: Luísa Ducla Soares
Ilustração, paginação e design:
Sara Serra
Edição: Texto Editores
48 págs., 11,50€ (online 9,20€)
ilustrar. Com humor, leveza, ritmo,
movimento, verdade e ao mesmo
tempo com muita ilusão.” Sobre o
processo de trabalho, revela: “É mui-
to intuitivo. A minha forma de ilustrar
resulta de tudo o que fui consumindo
e vivendo ao longo do meu percurso
de trabalho e de vida. Nasci em África
e cresci no Brasil, o que me trouxe as
cores garridas e misturadas sem qual-
quer organização.” Gosta de pintar
com ferramentas digitais. “É mais
limpo, mais rápido e dá-me mais
liberdade. É o caso deste livro.”
Esperamos que quem se estreou
neste ano lectivo tenha tido uma
experiência mais feliz do que a da
escritora. No entanto, para ela, só
correu mal no início. Ainda hoje gos-
ta de ir à escola, onde continua a par-
tilhar as suas histórias com os mais
novos. Mesmo quando tem de ser
“apenas” por videoconferência.
Guia
blogues.publico.pt/letrapequena/
blo
FIM-DE-SEMANA
EM FAMÍLIA
MÚSICA
Les Feuilles Mortes
PORTO Casa da Música
Hoje, às 16h. M/6. 8€
Sob o signo do jazz, um concerto
para a infância que põe a tónica na
“constante mutação que, nas mãos
dos seus intérpretes, a música popu-
lar foi sofrendo”, explica a sinopse.
Em palco estão Filipe Monteiro, João
Costa, João Paulo Rosado, Paulo
Gomes e Rui Teixeira.
Pinóquio: Uma Aventura
Musical
ESTORIL Auditório do Casino
Sábado, domingo e feriados, às
15h30. M/6. 12,50€
Um musical criado pela Artfeist a
partir do clássico de Carlo Collodi.
No centro da narrativa está Pinóquio,
o boneco de madeira esculpido por
Gepeto que ganhou vida e a quem o
nariz cresce sempre que mente.
O Mundo Mágico de Jack
LISBOA Teatro Armando Cortez
Sábado e domingo, às 15h. M/3.
12€ a 15€
O conto João e o Pé de Feijão serve de
pano de fundo à peça do TIL — Teatro
Infantil de Lisboa, sobre “a importân-
cia da coragem e da determinação
diante dos desafios na passagem da
infância para a maturidade”, revela-
se na divulgação. A aventura começa
quando o jovem Jack troca a sua vaca
leiteira por feijões mágicos…
TEATRO
Uma Ideia de Justiça
GUIMARÃES Centro
Internacional das Artes José
de Guimarães. Hoje, às 16h.
M/6. 2€
Liberdade, equidade, inclusão e
diversidade são noções que habitam
a narrativa da peça, escrita por Isabel
Minhós Martins, dirigida por Joana
Providência e apresentada como
“uma ferramenta de construção da
noção de justiça”.
LEITURAS
Outubro é Mês de Semear
LISBOA Lu.Ca — Teatro Luís de
Camões. Hoje e amanhã,
às 11h30. M/3. 1€
Com o livro Guarda Como Um Segre-
do debaixo do braço, Bru Junça pro-
põe uma sessão de contos sobre o
semear, o esperar pelo que ainda não
nasceu e o colher dos frutos do “que
ousamos plantar”.
46 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Guia
Cinema
Porto
Cinema Trindade
R. Dr. Ricardo Jorge. T. 223162425
O Sol do Futuro M12. 14h15, 19h; Golpe de
Sorte M12. 14h20, 17h15; Estranha Forma
de Vida M14. 16h, 18h15, 20h30; Não Sou
Nada M14. 16h15, 19h30; O Assassino M12.
21h45; SOS - Salvem a Escola 21h30
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot
R. dos Campeões Europeus 28 198. T. 16996
Menteur - Mentiroso Compulsivo M12.
21h50; Mistério Em Veneza M12. 21h40;
Patrulha Pata: Super Filme M3. 10h50,
14h40, 17h30 (VP); Golpe de Sorte M12. 20h;
Assassinos da Lua das Flores M14. 15h10,
20h40; Trolls 3 - Todos Juntos! M6. Sala
Atmos - 10h40, 13h30, 16h10, 18h50 (VP/2D),
14h10, 16h50, 19h30 (VP/3D); Uma Profissão
Séria M12. 13h50, 16h30; Saw X M18. 13h10,
16h, 19h15, 21h10; O Assassino M12. 14h,
17h10, 21h; Taylor Swift: The Eras Tour 19h
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre
R. das Estrelas. T. 226063000
O Assassino M12. 15h30, 18h30, 21h30
Aveiro
Cinemas Nos Glicínias
C.C. Glicinias, Lj 50. T. 16996
The Hunger Games: Em Chamas M12.
18h50; O Criador M12. 21h30, 00h25;
Patrulha Pata M3. 10h40, 13h25, 16h05 (VP);
O Exorcista: Crente M16. 12h55, 15h30, 22h;
Assassinos da Lua das Flores M14. 13h10,
17h30, 21h50; Trolls 3 - Todos Juntos! M6.
10h50, 13h45, 16h15, 19h (VP/2D); Saw
X M18. 13h, 15h45, 18h45, 21h40, 00h30;
Zona(s) de Turbulência M14. 23h30; O
Assassino M12. 13h15, 15h55, 18h40, 21h20,
24h; Taylor Swift: The Eras Tour 19h15
Braga
Cinemas Nos Braga Parque
Quinta dos Congregados. T. 16996
The Hunger Games: Em Chamas M12. 18h,
21h10; The Nun II: A Freira Maldita M16.
21h50, 00h30; Os Mercen4rios M14. 13h40,
16h20, 00h15; O Criador M12. 20h10;
Patrulha Pata: Super Filme M3. 10h50, 14h,
16h30, 18h50 (VP); O Exorcista: Crente M16.
21h20, 00h10; Os Três Mosqueteiros:
D’Artagnan M12. 20h50, 23h50; Assassinos
da Lua das Flores M14. 15h, 20h30, 23h10;
Aventura Espacial M6. 11h10, 14h30, 16h50
(VP); Não Sou Nada M14. 14h10, 16h40,
19h10; Trolls 3 - Todos Juntos! M6. 11h,
13h30, 16h (VP/2D), 18h30 (VP/3D); Saw
X M18. 13h10, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20;
57 Segundos M14. 13h05, 15h30, 00h25; O
Assassino M12. 13h, 15h40, 18h20, 21h, 24h;
Taylor Swift: The Eras Tour 19h
Cineplace Nova Arcada - Braga
Av. De Lamas. T. 253112913
The Hunger Games: Em Chamas M12.
21h10; Mentiroso Compulsivo M12. 15h;
Marcha Sobre Roma M12. 16h50; Os Super
Fixes! M6. 14h30 (VP); Os Super-Heróis da
Selva 2 16h20 (VP); Os Mercen4rios M14.
21h30; Patrulha Pata 13h30, 15h30, 17h30,
19h30 (VP); O Exorcista: Crente M16. Sala
Xplace Atmos - 21h10; Assassinos da Lua
das Flores M14. 17h30, 20h30, 21h30;
Borboletas - Uma Aventura Com Pinta M6.
14h30 (VP); Kompromat - O Dossier
Russo 14h10, 21h40; Trolls 3 11h05, 13h,
14h30, 15h, 16h30, 17h, 18h30, 19h (VP);
Trolls 3 - Todos Juntos! M6. Sala Xplace
Atmos - 11h30, 13h03, 15h30, 17h30, 19h30
(VP); Uma Profissão Séria M12. 19h10; Saw
X M18. 16h30, 19h, 21h, 21h30; Saw X M18.
Sala Xplace Atmos - 13h30, 16h, 18h50,
21h20; Zona(s) de Turbulência M14. 19h; Os
Aventureiros - A Origem M6. 13h, 17h (VP);
O Assassino M12. 18h10, 21h20; Patrulha
Pata: Super Filme M3. Sala Xplace Atmos -
13h, 15h (VP); Assassinos da Lua das
Flores M14. Sala Xplace Atmos - 17h, 21h
Estreias
Marcha Sobre Roma
De Mark Cousins. ITA. 2022.
98m. Documentário. M12.
Realizado pelo crítico e historiador
de cinema Mark Cousins, um
documentário sobre a ascensão do
fascismo em Itália e as suas
consequências na Europa dos anos
1930.
Não Sou Nada
De Edgar Pêra. Com Miguel
Borges, Victoria Guerra, Albano
Jerónimo, Vítor Correia, Marina
Albuquerque. POR. 2023. 92m.
Drama. M14.
Projecto de longa gestação, este
“néon-noir” literário foi escrito
com Luísa Costa Gomes e
ancora-se na ideia dos
heterónimos de Fernando Pessoa
para brincar com os códigos do
cinema de género e da série B.
O Assassino
De David Fincher. Com Michael
Fassbender, Tilda Swinton,
Charles Parnell, Arliss Howard.
EUA. 2023. 118m.
O método deste assassino é
simples: nunca improvisa, não
conÆa em ninguém, evita a
empatia e compromete-se apenas
com as missões para as quais foi
pago. Enquanto cumpre estas
regras à risca, tudo lhe corre de
feição. Até ao dia em que comete
um erro.
Saw X
De Kevin Greutert. Com Tobin
Bell, Shawnee Smith, Synnøve
As estrelas
A Bela América
O Assassino
Assassinos da Lua das Flores
Estranha Forma de Vida
Golpe de Sorte
Kompromat — O Dossier Russo
Marcha Sobre Roma
Não sou Nada
Nyad
Orlando, a Minha Biografia Política
A Sibila
O Sol do Futuro
Os Três Mosqueteiros: D’Artagnan
No Verão Passado
a Mau mnnnn Medíocre mmnnn Razoável mmmnn Bom mmmmn Muito Bom mmmmm Excelente
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
por elementos do FSB (Serviço
Federal de Segurança) daquele
país e levado sob acusação de
divulgar documentos de pedoÆlia
na internet. Apesar de insistir na
sua inocência, é preso sem
explicações ou provas.
Trolls 3 - Todos Juntos!
De Walt Dohrn, Tim Heitz. Com
Daveed Diggs (Voz), Anna
Kendrick (Voz), Zooey Deschanel
(Voz), Justin Timberlake (Voz).
EUA. 2023. 92m. Animação,
Comédia. M6.
Nesta terceira aventura dos
“trolls”, a optimista Poppy
O Assassino descobre que Branch foi, durante
a infância, membro de uma
Macody Lund, Steven Brand. famosa “boyband” de quem ela é
EUA/MEX/CAN. 2023. 118m.
fã desde que se lembra. Mas
Terror. M18. Branch tem os seus motivos para
John Kramer é diagnosticado com ter guardado esse segredo durante
um tumor no cérebro. Sem tantos anos.
esperanças de recuperação, aceita
submeter-se a um tratamento Uma Profissão Séria
inovador. Mas quando descobre De Thomas Lilti. Com Vincent
que foi vítima de um esquema, Lacoste, François Cluzet, Louise
decide vingar-se da equipa de Bourgoin, Adèle Exarchopoulos.
médicos através de um macabro
FRA. 2023. 101m. Comédia
jogo de sobrevivência. Dramática. M12.
As aulas recomeçaram e Pierre,
Kompromat - O Dossier Russo Meriem, Fouad, Sophie, Sandrine,
De Jérôme Salle. Com Gilles
Alix e SoÆane, um grupo de
Lellouche, Joanna Kulig, professores muito dedicado, estão
Louis-Do de Lencquesaing, prontos para enfrentar o ano
Michael Gor. FRA. 2022. 132m. lectivo. Mas, desta vez, vão ter
Drama, Thriller.
como colega Benjamin, contratado
Em 2017, Mathieu Roussel, um como professor substituto de
cidadão francês, é responsável matemática que, apesar de um
pela Alliance Française na Sibéria currículo imaculado, não tem
(Rússia). Certa noite, é abordado
qualquer experiência na área.
Coimbra
Jorge Luís M. Vasco Casa do Cinema de Coimbra
Mourinha Oliveira Câmara Av. Sá da Bandeira 33. T. 239851070
Respirar (Debaixo d’Água) +
Entretanto M16. 16h20; Marcha Sobre
Roma M12. 17h45; O Sol do Futuro M12.
19h40; Não Sou Nada M14. 14h30;
O Assassino M12. 21h30
— — mnnnn Cinemas Nos Alma Shopping
R. Gen. Humberto Delgado. T. 16996
mmmnn mmmnn mnnnn The Hunger Games: Em Chamas M12.
mmmmn mnnnn mmnnn 18h20, 21h40; Mentiroso Compulsivo
M12. 13h20, 16h; Oppenheimer M14. 21h;
mmmnn mmnnn mmnnn Mistério Em Veneza M12. 14h30, 17h50,
mmmnn mmmnn mmmnn 21h30; Patrulha Pata 11h10, 14h10, 16h40
(VP); Golpe de Sorte M12. 14h20, 16h50,
— mnnnn — 19h30, 21h50; Os Três Mosqueteiros M12.
mmmmn mmmnn mmmnn 15h, 22h; Aventura Espacial M6. 11h40,
14h40 (VP); Estranha Forma de Vida M14.
mmmnn — — 19h10; Kompromat - O Dossier Russo 14h,
mmnnn — — 17h10, 20h50; Não Sou Nada M14. 19h50,
22h30; Trolls 3 - Todos Juntos! M6. 11h10,
mmmmn mmnnn mmmnn 13h50, 16h10, 18h30 (VP/2D), 11h30, 14h50,
— mmnnn mmnnn 17h20 (VP/3D); Uma Profissão Séria M12.
17h, 19h40, 22h20; Nyad M12. 21h10;
mmmnn mmmmn mmmnn O Assassino M12. 13h30, 16h30, 19h20,
mmnnn — mmnnn 22h10; Taylor Swift: The Eras Tour 18h10
Cinemas Nos Fórum Coimbra
mmnnn mmmnn mmnnn Fórum Coimbra. T. 16996
Os Mercen4rios M14. 13h30, 16h20;
O Criador M12. 14h20, 18h, 21h40;
O Exorcista: Crente M16. 14h, 16h50, 19h30,
22h10; Assassinos da Lua das Flores M14.
14h50, 20h40; Borboletas M6. 14h10, 16h40
(VP); Saw X M18. 13h40, 16h30, 19h15, 22h;
57 Segundos M14. 19h, 21h30; Taylor Swift:
The Eras Tour 19h10
Maia
Castello Lopes - Mira Maia Shopping
Lugar das Guardeiras. T. 229419241
Marcha Sobre Roma M12. 13h10; Os
Mercen4rios M14. 21h30; Patrulha Pata:
Super Filme M3. 11h, 15h15, 17h15 (VP);
Golpe de Sorte M12. 19h30; Assassinos da
Lua das Flores M14. 13h15, 17h10, 21h05;
Borboletas - Uma Aventura Com Pinta M6.
11h05 (VP); Trolls 3 ! M6. 11h10, 13h45,
15h40, 17h35 (VP); Saw X M18. 19h10, 21h35
Cinemas Nos MaiaShopping
C.C. Maiashoping, Lj 2.43. T. 16996
Mistério Em Veneza M12. 13h20, 16h10,
18h40, 21h20; Os Mercen4rios M14. 13h50,
16h30, 19h, 21h40; Patrulha Pata: Super
Filme M3. 11h, 13h30, 16h, 18h30 (VP); No
Rasto do Assassino M16. 21h; Borboletas -
Uma Aventura Com Pinta M6. 10h50, 13h40
(VP); Uma Profissão Séria M12. 13h40,
16h20, 18h50, 21h30; Zona(s) de
Turbulência M14. 15h50, 18h20, 21h10;
Taylor Swift: The Eras Tour 19h20
Ovar
Castello Lopes - Vida Ovar
C.C. Dolce Vita. T. 960254838
Golpe de Sorte M12. 12h45, 16h40;
Assassinos da Lua das Flores 21h05; Trolls
3! M6. 11h, 14h45 (VP); Saw X M18. 18h40
Vila Nova de Gaia
Cinemas Nos GaiaShopping
C.C. Gaiashoping, Lj 2.25. T. 16996
The Hunger Games: Em Chamas M12.
18h30, 21h50; Mistério Em Veneza M12.
22h; Os Mercen4rios M14. 20h30, 23h;
Patrulha Pata 11h, 13h30, 16h, 18h50 (VP);
Os Três Mosqueteiros M12. 12h50, 15h40;
Assassinos da Lua das Flores M14. 14h50,
20h50; Borboletas M6. 11h10, 14h, 16h30
(VP); Trolls 3! M6. 10h50, 12h45, 15h10,
17h35 (VP/2D), 20h (VP/3D); Saw X M18. Sala
4DX - 12h40, 15h20, 18h10, 21h, 23h50; 57
Segundos M14. 22h35; O Assassino M12.
12h55, 15h30, 18h20, 21h20, 00h10; Saw
X M18. 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20;
Taylor Swift: The Eras Tour 18h
UCI Arrábida 20
Arrábida Shopping. T. 223778800
The Hunger Games: Em Chamas M12.
21h45; A Sibila M12. 19h30; Mentiroso
Compulsivo M12. 13h50, 16h25, 18h50,
21h10; Marcha Sobre Roma M12. 17h, 21h40;
Elemental M6. 10h40, 13h50, 16h55 (VP);
Oppenheimer M14. 21h45; The Equalizer 3:
Capítulo Final M16. 14h20, 16h55, 19h20,
21h55; Mistério Em Veneza M12. 13h45,
16h25, 18h50, 21h25; Os Mercen4rios M14.
13h35, 16h05, 18h55, 21h50; O Criador M12.
16h30, 22h; Patrulha Pata 10h50, 14h20,
16h40 (VP); Golda M12. 14h30, 16h50, 19h,
21h35; Golpe de Sorte M12. 13h55, 16h35,
19h10, 21h30; O Exorcista: Crente M16.
14h05, 16h50, 19h25, 22h; Os Três
Mosqueteiros M12. 18h55; Assassinos
da Lua das Flores M14. 13h25, 17h30,
21h20, 21h40; Pátria M14. 14h25, 19h35;
Kompromat - O Dossier Russo 13h20,
16h15, 19h10, 21h55; Não Sou Nada M14.
14h35, 16h40, 19h05; Trolls 3 - Todos
Juntos! M6. 11h, 14h, 16h30, 19h (VP/2D),
19h20 (VP/3D); Uma Profissão Séria M12.
14h10, 16h35, 21h30; Saw X M18. 13h35,
16h20, 19h05, 21h50; Visões M14. 18h45;
Zona(s) de Turbulência M14. 14h, 19h25;
57 Segundos M14. 21h35; Os Aventureiros
M6. 11h10, 13h40, 16h; Maujaan Hi
Maujaan 21h15; Taylor Swift 16h15

Lazer
MÚSICA
Porto Drum Show
PORTO Centro de Congressos
da Alfândega do Porto. Dias
28/10 e 29/10, a partir das 10h.
M/3. 25€ (dia), 45€ (passe)
Dois dias para dar a conhecer o
instrumento de percussão nos
mais variados contextos musicais.
A par da presença de alguns dos
“mais reputados e respeitados
bateristas da actualidade
internacional” (como Vicky
Marques, António Sanchez, Eric
Moore, Jost Nickel ou Virgil
Donati), o certame conta com a
participação de marcas e
expositores da especialidade.
The Cinematic Orchestra
GUIMARÃES Centro Cultural
Vila Flor. Dia 28/10, às 21h30.
M/6. 32€
Criada em 1999 por Jason
Swinscoe, a banda britânica tem
um nome que não engana. Eles
gostam de criar bandas sonoras
para Ælmes imaginários (ou reais).
Portugal, que guarda boas
memórias das suas actuações,
volta a receber o colectivo que
desde Motion, o disco de estreia,
anda a fazer aclamados
improvisos jazzísticos sobre
electrónica. Desta vez, a festa
faz-se ao ritmo das comemorações
dos 20 anos de Man With a Movie
Camera (2003), álbum que
resultou de uma encomenda da
Porto 2001 – Capital Europeia da
Cultura e do desaÆo de criar a
paisagem sonora para o Ælme
mudo homónimo, realizado por
Dziga Vertov e estreado em 1929.
Com a moldura visual de Ben
Olsen, este é o primeiro de três
concertos em solo nacional.
Seguem-se a Casa da Música do
Porto (amanhã) e a Aula Magna de
Lisboa (segunda).
TEATRO
A Peça para Dois Actores
ÁGUEDA Centro de Artes.
Dia 28/10, às 21h30.
M/12. 8€ a 10€
Uma peça-dentro-da-peça que
Tennessee Williams estreou em
1967. Chega às tábuas na versão
encenada por Diogo Infante, com
Luísa Cruz e Miguel Guilherme a
fazerem as vezes dos irmãos
actores que, tomados por loucos,
são deixados para trás pela sua
companhia, num teatro decrépito
onde se sentem impelidos a dar
um espectáculo que se confunde
com fantasmas bem reais.
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 47
Guia
Jogos Jogue também online.
Palavras-cruzadas, Euromilhões 29 33 35 48 49 3 8
bridge e sudoku em
1.º Prémio 17.000.000€ M1lhão PJD 33252
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios
Cruzadas 12.233 Paulo Freixinho
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1 - Terá 2200 vagas para formar médicos especialistas. Vórtice. 2 - Leitor.
Trabalho original. 3 - (...) da Costa Cabral, presidente do Conselho das Finanças Públicas.
Compact Disc. 4 - Vereador. Sexta nota musical. Benéfica. 5 - Administrar diligentemente.
Leal. 6 - Autor (fig.). Estilo musical. 7 - Começou a planear o futuro a 12 anos e quer a ajuda
de todos os que lá moram. Organismo que planeia e orienta as pesquisas aeronáuticas e
espaciais nos EUA. 8 - Fricção. Cidade. 9 - As de Outubro levaram estufas, mas não
deixaram muita água. 10 - País do Médio Oriente. Chama em auxílio. 11 - Sem brilho. Elas.
VERTICAIS: 1 - Turno. Local para abrigar gatos. 2 - Países Baixos (Internet). Discutir.
3 - Decrépito. “(...) maior, pai menor”. 4 - Espécie de calha que dá vazão à água e a outros
despejos do navio. Legume recomendado em dietas. 5 - Era Uma (...), associação cultural
em Casa Branca (Sousel). Relações Públicas. A ti. 6 - Verbal. Ausência de doença.
7 - Género de palmeiras da África e da América que fornecem boa fibra. Trinitrotolueno
(abrev.). 8 - Preposição que designa limite. Ameno. 9 - Germânio (s. q.). Usou associação
para comprar 214 obras adquiridas a meias com o Estado. 10 - “O Primeiro Dia de (...)”,
livro com texto de Luísa Ducla Soares e ilustração de Sandra Serra (ver Guia crianças
– Letra pequena). Vestuário talar de magistrado. 11 - Amontoado cónico
de feixes de trigo, palha, caruma, etc. Garras de ave de rapina.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1 - Humanidade. 2 - Alas. Dengue. 3 - Rural. Nd. AD. 4 - Aro. Vital. 5 - Ruma. De. Oil.
6 - Artistas. 7 - CEO. Cg. 8 - Mata. Multar. 9 - Ameixa. Ou. 10 - Nasce. FMI. 11 - Áleo. Escoar.
VERTICAIS: 1 - Harare. Maná. 2 - Uluru. Ramal. 3 - Maroma. Tese. 4 - Asa. Arcaico. 5 - LV. Te. Xe.
6 - ID. Idioma. 7 - Dentes. És. 8 - Anda. Tolo. 9 - Dg. Loa. Tufo. 10 - EUA. Isca. Ma. 11 - Edil. Gruir.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Norte auxiliar da mão, pode muitas vezes Problema 12.236 (Fácil)
Vul: NS assumir o papel de mão principal a
afirmar. Uma análise correcta revela
NORTE que a mão a comandar este contrato
Ƅ AKJ832 deve ser a do morto. O plano de jogo
Ɔ K973 passa por se assumir uma
Ƈ 63
distribuição 3-2 dos trunfos e as
ƅ3
espadas divididas não pior do que
OESTE ESTE 4-2. Depois de ganhar a vaza inicial
Ƅ 65 Ƅ Q1097 com o Ás de paus, Sul deve adiantar o
Ɔ J2 Ɔ Q85 Ás de copas, entrar no morto no Ás Solução 12.234
Ƈ AQ104 Ƈ 92
ƅ KQ1085 ƅ J962 de espadas e sair do morto com uma
pequena espada que corta na mão.
SUL
Ƅ4 Entra novamente no morto graças ao
Ɔ A1064 Rei de trunfo e joga outra espada que
Ƈ KJ875 corta com o último trunfo da mão. Se
ƅ A74 a defesa não recortar esta vaza, Sul
pode voltar ao morto cortando um
Oeste Norte Este Sul pau e apresenta as suas espadas
1Ƅ passo 2Ƈ apuradas até que a defesa decida
passo 2Ƅ1 passo 3Ɔ cortar. Se a defesa recortar esta vaza,
passo 4Ɔ Todos passam o jogo fica ainda mais simples, as
espadas do morto estão firmes e
Leilão: Qualquer forma de bridge. 1 - ainda se encontram lá dois trunfos,
Problema 12.237 (Difícil)
A marcação mais correcta teria sido haverá tempo ainda para tentar a
duas copas e não duas espadas, pelo sorte a ouros, para a vaza a mais.
princípio de economia de leilão Tudo o que o carteador poderá
perder são duas vazas a ouros e uma
Carteio: Saída: Kƅ. Qual a melhor vaza a trunfo. Contrato cumprido.
linha de jogo?
Considere o seguinte leilão:
Solução: Antes de começar a jogar a Oeste Norte Este Sul
mão, os jogadores deveriam 1Ƈ 4Ɔ ?
Solução 12.235
questionar-se sobre as seguintes
perguntas: Qual deverá ser a mão- O que marca com a seguinte mão?
-base, a minha ou a do morto? Devo ƄKQJ109 Ɔ2 ƇK32 ƅQ876
cortar perdentes na minha mão e
usar os trunfos do morto para Resposta: O naipe de espadas é bom
destrunfar, ou o contrário? A o suficiente para se poder considerar
constante aplicação destas questões, um contrato com apenas sete em
sobretudo face a contratos em que linha. Em vez de dobre, a melhor
os trunfos estão 4-4, pode ajudar a aposta deverá ser marcar quatro
definir que o morto não é apenas um espadas. A boa voz: quatro espadas.
48 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023

Guia

CINEMA
nascido em Três Corações, Minas

Televisão Os mais vistos da TV

Quinta-feira, 26
RTP1 11,3%
% Gerais, no interior do Brasil, se
transformou no colosso Pelé, um
Nem Tudo É Verdade
Rakow X Sporting
% Aud. Share
SIC 10,2 26,0
RTP2 1,0 dos mais célebres jogadores de
TVCine Edition, 22h
Em 1942, Orson Welles rumou ao
Jornal da Noite SIC 9,4 18,8 SIC 16,4
futebol de todos os tempos,
quebrando barreiras de classe e
TVI
O Preço Certo RTP1 8,7 18,6
Brasil para rodar o seu terceiro Festa é Festa VIII TVI 8,5 17,9 14,4 preconceito racial.
Ælme, It’s All True. Nunca chegou a
Cabo
Telejornal RTP1 7,9 15,8
41,4
DANÇA
ser terminado — e, nos anos 1960 e FONTE: CAEM

1970, uma boa parte dele foi

despejado no oceano PacíÆco —
curiosamente, foi também ao
Brasil que enviaram o mítico corte
preliminar, também desaparecido,
de O Quarto Mandamento, cuja
versão Ænal foi trucidada pelo
estúdio, a RKO. Em 1986, Rogério
Sganzerla, a quem o TVCine
Edition dedica os sábados até dia
4 de Novembro, assinou este Ælme
que Æcciona essa passagem do
lendário realizador e actor pelo
RTP1
6.00 Espaço Zig Zag 8.00 Bom Dia
Portugal Fim de Semana 9.57
Metamorfoses - O Regresso da
Natureza 10.56 Hora dos Portugueses
11.45 Aqui Portugal - Os Melhores
Momentos 12.59 Jornal da Tarde 14.15
Voz do Cidadão 14.40 Estrelas ao
Sábado 19.06 O Preço Certo 19.59
Telejornal
RTP2
6.00 A Fé dos Homens 6.32 Repórter
África 7.00 Folha de Sala 7.04 Mare TV
7.50 Espaço Zig Zag 14.54
Basquetebol: CD Póvoa x Sporting
(Campeonato Nacional) 17.39 Mistérios
da Magia 18.04 Mães: Amor e Vida 19.18
Faça Chuva Faça Sol 19.52 Espaços
Incríveis de George Clarke 20.41 A Volta
ao Mundo em 80 Dias 21.30 Jornal 2
TVCINE TOP
18.40 Crespúsculo 20.01 Caça ao
Homem 21.30 Apex - A Presa 23.01
Golias 1.00 Deadlock: Sem Saída 1.35
Última Noite
FOX MOVIES
17.00 Indiana Jones e a Grande Cruzada
19.10 Indiana Jones e o Reino da Caveira
de Cristal 21.17 Rampage - Fora de
Controlo 23.06 Atomic Blonde - Agente
Hervé Koubi: Odyssey
RTP2, 22h
Estreia. De forma livre, mantendo
o mar e usando a mulher como
Ægura de proa, Hervé Koubi (n.
1975), o bailarino e coreógrafo
francês de origem argelina adapta,
neste bailado de 2020, A Odisseia
de Homero. A música é da cantora
árabe Natacha Atlas e Samy Bishaï.

seu país. Debruça-se sobre a
forma como se distraiu com a
beleza local. Arrigo Barnabé faz de
Welles, à frente de um elenco que
inclui Grande Otelo e Helena
Ignez.
Technoboss
RTP2, 23h10
Luís Rovisco (Miguel Lobo
Antunes) é director comercial de
uma empresa de equipamentos de
segurança. Divorciado há vários
anos e prestes a entrar na tão
ansiada reforma, reencontra
casualmente Lucinda, uma antiga
paixão que ele tentará recuperar a
todo o custo. Esse encontro dá-lhe
uma nova esperança no futuro e
uma vontade enorme de ser feliz.
Estreado mundialmente na secção
competitiva do Festival de Cinema
de Locarno (Suíça), esta é a
terceira longa de Æcção com
assinatura do português João
Nicolau, depois de A Espada e a
Rosa (2010) e John From (2015).
Papillon (1973)
Nos Studios, 0h50
Nos anos 1930, Henri Charrière
foi condenado por homicídio,
tendo passado tempo numa
prisão na Guiana Francesa. Em
1969, escreveu um livro de
memórias sobre esses tempos e a
forma como escapou da prisão —
a veracidade é questionada:
pesquisadores dizem que ele se
aproveitou de histórias de outros
presidiários. A história foi
adaptada por Franklin J.
Schaèner para este Ælme de 1973,
com Steve McQueen no papel de
21.09 Programa Cautelar
22.02 Taskmaster - Aurea
23.59Concerto de Homenagem a
Hermínia Silva -Santa Casa Alfama
1.17 Geração Esquecida
cida
(hora de inverno)
1.52 Maribáñez - A Pior Equipa
do Mundo
SIC
6.10 Camilo, o Presidente 6.30 Etnias
7.10 Médico da Casa 7.45 Caixa
Mágica 10.0 Alô Marco Paulo 12.05 O
Nosso Mundo 13.00 Primeiro Jornal
14.30 Alta Definição 15.10 E-Especial
15.45 Olhà SIC com Quim Barreiros
19.05 A Casa da Aurora
Especial 1.08 O Especialista
22.03 Hervé Koubi: Odyssey
HOLLYWOOD
16h10 Velocidade Furiosa: Hobbs &
23.04 Folha de Sala 23.12 Technoboss Shaw 18.30 O Príncipe 20.05 A Agente
1.03 Janela Global 1.34 Folha de Sala Vermelha 22.25 Máquina Zero: Lei do
1.39 Cacau 2.01 Joga Quem Quizzer Retorno 0.10 A Outra Face 1.30
2.23 Folha de Sala 2.28 Bana - Uma Annabelle 3: O Regresso a Casa
Vida a Cantar
AXN
2.31 No Ar - Golden Slumbers 17.05 A Máscara de Zorro 19.36 A Lenda
(hora de de Zorro 21.55 Rei Artur 0.10 Rei Artur: A
inverno)
o) Lenda da Espada 1.17 Kingsman:
Serviços Secretos
FOX
16.31 Shazam! 19.09 Projecto Gemini
5.31 Mare TV 21.20 Die Hard: Nunca É Bom Dia para
Morrer 23.13 Transporter: Potência
Máxima 1.02 Nuvem
TVI
6.08 Diário da Manhã 7.09 Detective DISNEY CHANNEL
Maravilhas 17.20 Anfibilândia 18.05 A Maldição de
Molly McGee 18.50 Miraculous - As
Aventuras de Ladybug 19.35 Os Green
7.53 Inspector Max 9.10 Querido, na Cidade Grande 20.50 Hamster &
Mudei a Casa! 10.12 Dois às 10 12.52 Gretel
ICNF - Portugal Natural 12.58 TVI
Jornal 14.45 Conta-me: Rebeca 15.45
Em Família DISCOVERY
16.09 A Febre do Ouro: Águas Bravas
18.07 Mistérios no Museu 20.03
19.05 Vai ou Racha O Segredo das Coisas 21.00 Pesca
Radical 22.54 A Minha Família Vive no
Alasca 1.00 Pesca Radical
19.57 Jornal Nacional
HISTÓRIA
21.55 Festa É Festa 16.36 Alienígenas 20.49 A Comida Que
Mudou o Mundo 23.47 Alienígenas 1.34
INFANTIL
Hotel Transilvânia
AXN Movies, 9h30
No Dia Internacional da
Animação, o AXN Movies passa os
primeiros três Hotel Transilvânia,
realizados por Genndy
Tartakovsky, o criador de Dexter’s
Laboratory. Durante séculos, os
monstros viveram nas sombras,
alimentando o medo nos corações
humanos. Hoje existe apenas um
lugar onde podem Ænalmente
descansar e viver paciÆcamente: o
Hotel Transylvania, criado por
Drácula. Lá, tudo é tranquilo e
adequado às suas necessidades.
Até ao dia em que Jonathan, um
jovem humano de 21 anos,
aparece no hotel. E Mavis, a sua
adorada Ælha de 118 anos, parece
ter um fraquinho pelo
recém-chegado.
Shrek (v.p.)
Panda Kids, 13h30
Em 2001, estreava-se o primeiro
Shrek, uma reinvenção do conto
de fadas que tem tanto de
maravilhoso como de perverso.
Realizado por Andrew Adamson e
Vicky Jenson, foi apresentado na
selecção oÆcial de Festival de
Cannes. Conta a história de um
ogre feio, verde e com um péssimo
hálito chamado Shrek, que faz um
acordo com o malvado lorde
Farquaad e compromete-se a
salvar a princesa Fiona das garras
de um dragão feroz. Acaba então
por se apaixonar por ela.

DESPORTO
Charrière, a contracenar com 19.57 Jornal da Noite Datas Que Fizeram História
Dustin Hoèman. 22.55 Queridos Papás

DOCUMENTÁRIO
Pelé, a Origem
RTP3, 1h
Em 2017, Luís Felipe Moura
assinou esta média-metragem, um
documentário sobre a forma como
Edson Arantes do Nascimento,
ODISSEIA
22.10 Terra Nossa
0.00 Big Brother 1.42 Doida por Ti 16.40 A Batalha dos Alfas 17.32 O Zoo de
3.24 Mistura Fina Sydney: Animais Protegidos 18.16 Cães
0.05 Casados no Paraíso Muito Mal-Educados 19.00 Loucos
Pelos Cães de Raça Pug 19.45 Treino de
Cães 20.34 Escola de Cachorros 22.31
2.55 Levanta-te e Ri Cães Muito Mal-Educados 23.18 Clima
Extremo Viral 0.48 Legacy
Basquetebol: CD Póvoa x
Sporting
RTP2, 14.54
No Campeonato Nacional de
Basquetebol Liga Betclic 2023, o
Clube Desportivo da Póvoa, da
Póvoa de Varzim, treinado por
José Ricardo, recebe o Sporting,
treinado por Luís Magalhães.
 Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 49

Guia

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS PORTO
Gosta de
prémios
Viana do Castelo Domingo, 29 Segunda-feira, 30 Terça-feira, 31
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Braga 10º
17 º

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15º

Viseu
Guarda
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15 º 11º Partes por milhão

Nós também.
Porto Coimbra
(ppm) na atmosfera
Coimbra Valores por semana Lisboa Évora
19º
14º Semana de 15 Out. 419,46
Castelo Branco Faro
Há um ano 415,82
Leiria 18 º Há dez anos 393,98
13º Semana de 8 Out. 418,53 Excelente Razoável
16º
21º Conheça connosco os autores, os livros
Nível de segurança 350 Mau Não é saudável
e saiba tudo sobre literatura no site
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Santarém do Leituras, em publico.pt/leituras.
Portalegre
16º
21 º
17º Se é assinante, conheça a Estante P
13º SOL LUA deste mês, com as melhores entrevistas,
Lisboa 28 Out. 21h24 incluindo uma conversa com o
21 º 5 Nov. 09h37 Nobel da Literatura 2023, Jon Fosse.
17º Évora
Setúbal 20º 13 Nov. 10h27
21º 14º Nascente Poente Nascente Poente
17º 20 Nov. 11h50
07h59 18h42 18h29 07h38
de amanhã

Sines Beja EUROPA

22º 21º Estocolmo
Helsínquia
18º 14 º Oslo
19º Talín

3,2m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 22º
17º Bruxelas
22º Faro Praga
19º Paris
Viena Budapeste
21º Genebra
1,2m
Açores Milão

Corvo Roma
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 21º
19º Atenas
15º 3,2m
São Jorge 19º
21º 14º
2,8m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
20º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
20º 15º Amesterdão 10 14 Roma 13 23
CRÉDITO: ENRIC VIVES-RUBIO

2,2m Atenas 18 26 Viena 4 16

Ponta Delgada
Berlim 9 13 Bissau 25 33
Sta Maria Bruxelas 11 15 Buenos Aires 19 25
Madeira Bucareste 9 26 Cairo 19 33
Porto Santo Budapeste 8 17 Caracas 20 28
Copenhaga 6 7 Cid. do Cabo 11 18
Madeira
24º 22º 23º 24º Dublin 8 14 Cid. do México 11 26
17º 20º
1,0m 2,5m Estocolmo -2 3 Díli 22 33
Frankfurt 9 13 Hong Kong 23 28
Funchal Genebra 7 16 Jerusalém 19 30
Istambul 18 27 Los Angeles 13 23
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 7 13 Luanda 24 29
Londres 11 16 Nova Deli 19 32
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 11 16 Nova Iorque 13 27
09h04 0,4 08h37 0,6 08h34 0,4 Milão 12 19 Pequim 9 23
15h18 3,7 14h52 3,7 14h59 3,6 Moscovo 0 2 Praia 24 31 Assine a newsletter com todas as novidades e recomendações
Oslo -4 3 Rio de Janeiro 25 32 de leitura. Conheça e fale directamente com autores nos
21h27 0,3 21h01 0,5 20h58 0,4 Paris 12 15 Riga -1 3 Encontros de Leituras e oiça o podcast, disponível em todas
02h39* 3,6 02h13* 3,6 02h20* 3,5 Praga 8 13 Singapura 25 31
as plataformas de áudio e na aplicação do PÚBLICO.
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; NOAA-ESRL
50 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Público
Iniciativas
Agenda
Quarta-feira, 1
Colecção As Mulheres
do Meu País
Fascículo 6
A obra emblemática de Maria
Lamas sobre as mulheres
portuguesas. Um retrato
extraordinário e revolucionário do
nosso país, feito por uma mulher
empenhada nos movimentos de
defesa dos direitos das mulheres,
reeditado, como há 75 anos, em
15 fascículos mensais, com capa
dura, os ferros de estampagem
originais e o restauro integral das
imagens. Na primeira quarta de
cada mês com o seu PÚBLICO.
Quinta-feira, 2
Colecção Novela Gráfica,
série VII
Volume 10 – O Regresso
do Capitão Nemo
O PÚBLICO e a Levoir juntaram-se
uma vez mais para lhe trazer um
conjunto de dez obras
excepcionais, editadas em capa
dura e de ampla variedade
temática: adaptações literárias,
biografias, temas históricos e
contemporâneos com interesse
actual, de autores de várias
nacionalidades, consagrados e
inéditos em Portugal. Uma
colecção escrita, ilustrada e
pronta a ser coleccionada por si
desde 31 de Agosto.
Sexta-feira, 3
Colecção Siza: 90 Anos
Caderno 10, por Kenneth
Frampton
Um por um, dez dos amigos mais
próximos de Álvaro Siza vão
contar as histórias que marcaram
a sua vida. Esta é a celebração
dos 90 anos do mais importante e
mais premiado arquitecto
português numa colecção do
PÚBLICO em parceria com a 100
Folhas, coordenada por António
Choupina. Sente-se a ler esta obra
e descubra Álvaro Siza sob todas
as perspectivas.
FotograÄa combate
Maria Lamas continua o seu percurso, desta feita na região das Beiras.
Os seus relatos, mas também as suas fotos e respectivas legendas, deixam
bem clara a sua posição sobre o lugar da mulher no mundo
Feminismo
Col. As Mulheres do Meu País,
de Maria Lamas
6.º Fascículo
Quarta-feira, 1 de Novembro
Por + 12,90€
O sexto capítulo de As Mulheres do Meu
País retoma a viagem de Maria Lamas
pelas Beiras num capítulo que é
amplamente ilustrado com fotos da
autora. Se os seus testemunhos e des-
crições são surpreendentes e podero-
sos, as numerosas fotograÆas — muitas
recolhidas pela autora, outras de dife-
rentes fotógrafos e proveniências —
não são menos impactantes. “A obra
teve nos últimos anos uma redesco-
berta da sua singularidade fotográÆca
e sociológica, sendo interpretada por
muitos autores como uma obra de
“contrapoder”, face aos modelos ico-
nográÆcos produzidos pelo regime do
Estado Novo. Para além dessa inter-
Frampton no último caderno de Siza
Arquitectura
Col. Siza: 90 Anos
10.º caderno, por Kenneth
Frampton
Sexta-feira, 3 de Novembro
Por + 12,90 €
Siza Vieira dispensa apresentações.
Com 90 anos, é um dos mais concei-
tuados e premiados arquitectos con-
temporâneos portugueses. Foi o pri-
meiro português a ser distinguido
com o Prémio Pritzker, em 1992,
seguindo-se o Prémio Wolf de Artes
(2001) e a Medalha de Ouro do RIBA
(2009). A sua obra é fortemente mar-
cada pelos arquitectos Adolf Loos,
Frank Lloyd Wright e Alvar Aalto, dos
quais Siza bebeu as inÇuências
modernistas, aliando-as à tradição
construtiva portuguesa.
É autor de numerosos projectos
quer a nível nacional, quer a nível
internacional, entre os quais se
incluem a Faculdade de Arquitectura
da Universidade do Porto, a Biblioteca
pretação, o livro é também um projec-
to sobre o trabalho e a condição femi-
nina, o que desde logo o posiciona
num âmbito singular, sobretudo quan-
do a política de propaganda do Estado
Novo promovia a tipiÆcação estético-
cultural da população portuguesa”,
refere Emília Tavares, curadora de
fotograÆa e novos media do Museu
Nacional de Arte Contemporânea, no
texto que assinou na parte introdutó-
ria da obra. “A edição do livro não
obedece a uma relação tradicional
entre texto explicativo e imagem ilus-
trativa, muito embora pareça ser essa
a sua estrutura matricial. Cada ima-
gem, ainda que inserida no texto geral,
apresenta comentários longos, micro-
narrativas cujo objectivo é a com-
preensão da vida real destas mulheres.
A autora interpela constantemente o
signiÆcado das imagens, as suas e as
de outros autores, revelando com as
suas legendas longas a identidade sin-
gular e colectiva deste vasto retrato
feminino. (...) Em As Mulheres do Meu
da Universidade de Aveiro,
o Museu de Arte Contempo-
rânea de Serralves e a
emblemática Igreja do Mar-
co de Canaveses. Dirigiu
projectos na Holanda e deli-
neou projectos em Espanha.
Recebeu inúmeros prémios:
em 1987, o Prémio de Arqui-
tectura da Associação de
Arquitectos Portugueses; em 1982, a
Secção Portuguesa da Associação
Internacional de Críticos de Arte atri-
buiu-lhe o Prémio de Arquitectura do
Ano. Em 1988 recebeu a Medalha de
Ouro de Arquitectura do Colégio de
Arquitectos de Madrid, a Medalha da
Fundação Alvar Aalto, o Prémio Prin-
ce of Wales da Harvard University e o
Prémio Europeu de Arquitectura da
Comissão das Comunidades Euro-
peias/Fundação Mies van der Rohe.
Em 1992 foi-lhe atribuído o já referido
Prémio Pritzer pelo conjunto da sua
obra. Em 1993, recebeu o Prémio
Nacional de Arquitectura e, em 1996 e
2000, o Prémio Secil de Arquitectura.
Conseguiu contar? Os prémios conti-
País, a fotograÆa é utilizada como ‘um
método de combate’”, conclui.
“Uma rua de Monsanto, no distrito
de Castelo Branco. É o ambiente dos
velhos burgos, silencioso e tristinho,
onde evoca tudo um passado remoto.
O interior das casas condiz com o exte-
rior: é primitivo e absolutamente des-
provido de conforto. Nalguns costu-
mes do povo perpassam ainda, vaga-
mente, reÇexos de tradições que o
tempo foi delindo”, começa por des-
crever numa legenda Maria Lamas. “A
vida da camponesa é aqui, como nas
outras aldeias da Beira, trabalhosa e
sacriÆcada. Esta avó, que remenda
roupa, ao sol, num dia de Inverno, e
tem junto de si um neto, ainda peque-
no, é a continuadora das antigas gera-
ções de aldeãs, que as suas Ælhas con-
tinuam ainda, alheias a todo o pro-
gresso, no limite estreitíssimo da sua
ignorância, das suas breves alegrias,
das suas superstições, das suas cansei-
ras e do seu destino de procriar”,
comenta, deixando bem clara a sua
n
nuam e os doutoramen-
t honoris causa multi-
tos
plicam-se por universida-
p
des de todo o mundo.
d
Passaram-se assim 90
a
ano que, ao longo das
ú
últimas semanas, o
P
PÚBLICO tentou home-
n
nagear numa colecção
m
muito especial. Um por
um, dez
d dosd amigos mais próximos de
Siza Vieira contaram-nos as peripécias
que marcaram a sua vida, numa cele-
bração que abarcou o homem e o
artista. Uma edição bilíngue, coorde-
nada por António Choupina, e que se
iniciou com palavras de Carlos Cam-
pos Morais. Chegámos Ænalmente ao
décimo e último caderno da colecção,
desta vez com a voz de Kenneth
Frampton. Tal vez o mais respeitado
crítico ao nível mundial, o professor
britânico catapultou a visibilidade de
Siza com o livro História Crítica da
Arquitetura Moderna. Juntos, têm
construído, em continuidade, identi-
dades culturais novas: regionalista, na
casa de Fernando Távora; europeísta,
posição sobre a vida da mulher beirã,
cujas características são tão comuns
às restantes mulheres camponesas. “A
sua mensagem e a história do seu con-
teúdo são ainda hoje pertinentes nes-
sa tarefa, ainda urgente, de alfabetizar
a mulher sobre a consciência de si
mesma e do poder do seu lugar no
mundo”, reforça Emília Tavares.
“Esta mulher que tão decididamen-
te trabalha ao lado dos homens, car-
regando palha, pertence ao número
daquelas que tanto mondam ou cei-
fam arroz como carregam mato, sal
ou moliço. Pode aÆrmar-se que as
mulheres do campo, da região de
Aveiro, suplantam os homens no
vigor e desembaraço”, relata Maria
Lamas numa das legendas. “Isso
dá-lhes uma grande conÆança nas
suas forças, relativamente à luta pela
vida, e dá-lhes uma certa noção de
independência, que não correspon-
dem, porém, à consciência de si pró-
prias nem à conquista de uma exis-
tência feliz”.
Kenneth Frampton
K
enneth Frampton é um
arquitecto, crítico,
historiador e professor de
Arquitectura na Graduate
School of Architecture and
Planning da Universidade de
Colúmbia, em Nova Iorque,
tendo também passado por
Princeton. Estudou Arquitectura
na Escola de Arte de Guildford e
na Architectural Association
School of Architecture, em
Londres, sendo autor de
diversos livros e textos da
especialidade.
no primeiro Prémio Mies van der
Rohe; universalista, no primeiro Pré-
mio das Américas. Uma aventura para
descobrir esta semana.
A nossa viagem semanal termina
aqui, mas ainda estará disponível na
sua loja online.

O fabuloso destino do Capitão Nemo
Banda desenhada
Col. Novela Gráfica, série VII
Volume 10: O Regresso
do Capitão Nemo
Argumento: Benoît Peeters
e François Schuiten
Desenhos: François Schuiten
Quinta-feira, 2 de Novembro
Por + 13,90 €
Depois de A Febre de Urbicanda na
série de 2019, e de Rever Paris na de
2020, Schuiten e Peeters fecham esta
sétima série da colecção Novela Grá-
Æca, com a sua última colaboração,
que chega aos quiosques de todo o
país na próxima quinta-feira, ao mes-
mo tempo que sai em França e na
Bélgica, num inesperado regresso ao
universo das Cidades Obs-
curas, quando se assina-
lam precisamente 40
anos sobre o início da
série que os tornou
nomes incontornáveis da
BD mundial.
Nascida em 1983, nas
páginas da revista A Sui-
vre, com Les Murailles de
Samaris, o que era para
ser uma história indepen-
dente, de homenagem à Arte Nova e
à arquitectura em trompe l’oeil, aca-
bou por dar origem às Cidades Obs-
curas, uma série de histórias autóno-
mas, passadas num universo que os
próprios autores deÆnem como sen-
do um reÇexo deslocado da Terra.
Um universo constituído por uma
série de cidades fantásticas, como
Urbicanda, Samaris, Brusel, Xystos
ou Phary, verdadeiros protagonistas
de histórias fascinantes, que têm
como pano de fundo as relações
entre a arquitectura e o poder.
Público • Sábado,
Uma das principais características
do universo das Cidades Obscuras é a
sua porosidade e força de atracção,
que acaba por permitir incorporar
nesse universo uma série de projectos
paralelos dos seus autores, que não
foram inicialmente pensados para o
universo da série. Projectos que, ao
prolongarem o universo das Cidades
Obscuras nas mais variadas direcções,
lhe dão outra consistência e solidez.
É o caso deste O Regresso do Capitão
Nemo, como já tinha sido o caso de O
Arquivista, ou de L’Echo des Cités, em
que cada imagem isolada é retraba-
lhada para se integrar no continuum
da série. E é precisamente em L’Echo
Des Cités que temos a primeira incur-
são da obra de Júlio Verne no universo
das Cidades Obscuras, com uma ima-
gem espectacular que, ao assinalar o
“misterioso regresso do
Capitão Nemo” à cidade de
C te as grandes ilustrações de François
Samarobrive, o nome “obs-
S Benoît, comecei por deÆnir uma
ccuro” de Amiens, antecipa
este livro.
e ta, enquanto ele desenhava mais uma
Se o próprio Júlio Verne
ganha outro protagonis-
g ção feita de amizade e prazer. Não
m
mo no livro A Menina
IInclinada, este regresso
d
do escritor e da sua mais
ccarismática personagem
ssurge, como é habitual
nas Cidades Obscuras, de um estímu-
lo exterior. Neste caso, de um convi-
te da cidade de Amiens a François
Schuiten para um projecto de ceno-
graÆa que dinamizasse a Praça da
Estação e que incluía uma escultura
realizada por Pierre Matter a partir
de desenhos de Schuiten. Uma escul-
tura em que o submarino Nautilus e
o polvo gigante que o ataca, numa
das cenas mais marcantes do livro,
se fundem num só, dando origem a
uma criatura híbrida. Como refere
o desenhador: “Trabalhámos a ima-
S 28 de Outubro de 2023 • 51
gem do polvo e do Nautilus e acabá-
mos por chegar a esta imagem híbri-
da, uma mistura de ciência e natu-
reza, um objecto que dialoga com
o mundo contemporâneo, mas que
evoca o território de Amiens e a
obra de Júlio Verne, o que tenho a
certeza que lhe agradaria. Sempre
achei que esta escultura merecia
uma história. Comecei a desenhar
o Nautipolvo por puro prazer, mas
em conversa com o Benoît percebe-
mos que havia aqui um livro em
potência. Um livro que a enquadras-
se, um livro ligado a um local, a um
objecto, a um pedaço da realidade.
Percebemos que tínhamos todos os
ingredientes. O livro impôs-se como
uma evidência, tornou-se incontor-
nável. Este Nautipolvo pertencia às
Cidades Obscuras!”
Acrescenta Benoît Peeters: “Peran-
ordem e a apontar as imagens em fal-
série de imagens. Foi uma colabora-
houve a tradicional divisão argumen-
tista/desenhador. A história foi feita a
dois, com total liberdade, sob a som-
bra encorajadora do fantasma de Júlio
Verne, que olhava por nós...”
O caracter híbrido do Nautipolvo,
ou da ligação entre Verne e Nemo,
estende-se também ao próprio livro,
a meio caminho entre o livro ilustra-
do — na melhor tradição da colecção
Voyages Extraordinaires, das edições
Hetzel — e a banda desenhada, cuja
linguagem está presente nas sequên-
cias narrativas, mesmo que não exis-
tam balões de fala. O resultado é um
livro belíssimo, cheio de imagens
fabulosas, que fecha com chave de
ouro esta colecção Novela GráÆca.
João Miguel Lameiras
52 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023

Desporto Número de atletas federados muito próximo dos 22.000

Crescimento do atletismo é ponta

de icebergue à espera de desafios
Registo de Äliados duplicou em três décadas, mas o presidente da federação acredita que a base de
atletas pode quintuplicar esta marca histórica. A faixa etária dos sub-20 representa metade do universo
KAI PFAFFENBACH/REUTERS

Augusto Bernardino
A Federação Portuguesa de Atletis-
mo (FPA) divulgou, esta semana,
dados relevantes referentes ao cres-
cimento da modalidade, aferido à
luz do número recorde de atletas
filiados registado no último ano. Um
marco histórico traduzido pelos
21.875 registos de 2022-23, ano em
que também o número de clubes
filiados aumentou para 670.
Apesar de estes dados mostrarem
a duplicação dos números em três
décadas, fasquia atingida pela pri-
meira vez em 2022 — com mais de 20
mil registos (20.403) —, o presidente
da FPA, Jorge Vieira, prefere centrar-
-se no potencial de crescimento da
modalidade, que estima poder vir a
atingir outras proporções. A subida
de 7,21% em relação ao último ano
pode, muito bem, ser apenas a pon-
ta de um icebergue que Jorge Vieira
acredita “não revelar a verdadeira
massa de praticantes”, formada por
todos os cidadãos que treinam e par-
ticipam regularmente nas diversas
provas e disciplinas de atletismo.
E é aqui que entra o pormenor da
filiação, já que existem milhares de
praticantes que não se enquadram
na concepção técnica de atleta filia-
do. Algo, porém, que poderá mudar
muito rapidamente, elevando os
números para a ordem dos 100 mil.
Para que esta visão se torne realida-
de, está em curso a criação de uma Pablo Pichardo é um dos atletas bol, de um deles. Afinal, se nenhum sendo, parece que estão lançadas as julgo ser o caso do beisebol em Por-
plataforma electrónica capaz de sim- que representa Portugal que era filiado, não eram atletas... A bases para um futuro que enfrenta tugal, se não tiver impacto social,
plificar o processo de filiação, cujas mais destaque tem segunda história, contada pela espo- novos desafios, já que a quantidade não é expectável que venha a surgir
vantagens em termos de seguros internacionalmente sa de Jorge Vieira, diz respeito a um pode não se traduzir em qualidade. um qualquer Ronaldo nessa modali-
podem ser equivalentes às dos atle- amigo e comandante da Marinha que dade. Primeiro, é preciso um estímu-
tas de alto rendimento. só exigia três coisas aos filhos: notas Reconhecer o talento lo, que pode ser a gratiÆcação Ænan-
“Normalmente, os seguros des- positivas a Português e Matemática “O mundo está em constante muta- ceira, uma expectativa, uma referên-
portivos são válidos para cada prova. e o cartão de filiado de atleta. ção e é preciso mais do que uma cia, uma recompensa, um modelo a
O que se pretende é estender o bene- Em resumo: o próximo passo para ampla base de recrutamento para seguir”, sublinha.
fício aos 365 dias do ano”, advoga o quem já enfrenta as estradas e tem a que surjam atletas de elite, como A verdade é que Portugal e a Euro-
dirigente da FPA, organismo para coragem de ir regularmente a com- uma Rosa Mota ou uma Fernanda pa podem estar a ser afectados pelo
que foi eleito pela primeira vez em petições por conta e risco próprios Ribeiro: campeãs da Europa, do domínio dos atletas africanos, como
2012. Para pôr a questão em perspec- é assumir a filiação. Então, sim, nes- Mundo e olímpicas.” Uma trilogia sugere Jorge Vieira depois de um

tiva, Jorge Vieira conta duas histó-
rias. A primeira refere uma espécie
de competição extracurricular entre
um grupo restrito de banqueiros,
que, à margem dos negócios, se dedi-
cava a participar em algumas mara-
tonas internacionais numa disputa
levada extremamente a sério. Mas a
verdadeira questão acabaria por ser
levantada pelo filho, atleta de ande-
49,4
Percentagem de atletas
inscritos na federação na faixa
etária abaixo dos 20 anos
se cenário os gráficos disparariam.
E, como sublinha Jorge Vieira, não
estamos a falar exclusivamente de
veteranos, algo que ainda gera dis-
cussões e confusões evitáveis.
“Quase metade dos registos
[49,44%] diz respeito a atletas sub-
20.” Dos 20 aos 35 anos corresponde
a uma fatia de 14,44%, pelo que os
veteranos perfazem 36,12%. Assim
que Jorge Vieira compara à conquis-
ta das big five para os alpinistas.
“O atletismo surgiu como algo
natural: caminhar, marchar, lançar,
saltar... Depois há o talento, como
manifestação biológica, mas, cada
vez mais, pela dimensão social. Daí
o sucesso em certas modalidades
entre nós, como no futebol. Se o
talento não for reconhecido, como
levantamento sobre os vencedores
e pódios dos últimos anos nas prin-
cipais provas de atletismo de meio-
fundo e fundo.
“É esmagador e, nesse sentido,
pode desmobilizar muitos jovens
que tenderão a tentar outras vias,
abrindo espaço a atletas de outras
paragens, tendência que se acentua
em todo o mundo.”
 Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 53

Desporto

Na Áustria, Portugal I Liga

Jornada 9

desperdiçou primeiro Arouca-Moreirense

Portimonense-Estoril
Benfica-Casa Pia
Vitória SC-Desp. Chaves
0-1
15h30, SPTV
18h, BTV
18h, SPTV

e quebrou depois Gil Vicente -Sp. Braga

Rio Ave-Farense
E. Amadora-Famalicão
Vizela-FC Porto
Boavista-Sporting
20h30, SPTV
dom, 15h30, SPTV
dom, 18h, SPTV
dom, 20h30, SPTV
seg, 20h15, SPTV
Quando tudo fica mais complexo,
o PÚBLICO é a sua cábula
para entender o mundo.
J V E D M-S P
feriram mais autoridade às anÆtriãs 1. Sporting 8 7 1 0 17-7 22
Nuno Sousa
(em 16.º do ranking da FIFA), patente

Perceber
2. Benfica 8 7 0 1 18-7 21
Selecção feminina sofreu na forma como passaram a condicio- 3. FC Porto 8 6 1 1 11-6 19
nar a saída de bola portuguesa. 4. Sp. Braga 8 5 1 2 20-14 16
derrota comprometedora Foram 25 minutos que deitaram 5. Vitória SC 8 5 1 2 12-10 16
na Liga das Nações, graças a tudo a perder. Aos 57’, Feiersinger 6. Boavista 8 4 3 1 18-13 15

o mundo
um autogolo caricato e a um esteve pertíssimo de marcar, aos 60’, 7. Moreirense 9 4 2 3 12-10 14
festival de golos falhados Dunst tentou um chapéu a que Patrí- 8. Famalicão 8 3 3 2 8-8 12
cia Morais respondeu com classe e, 9. Gil Vicente 8 3 0 5 18-15 9
A selecção feminina de futebol deu aos 62’, a bola entrou mesmo, num 10. Casa Pia 8 2 3 3 7-7 9
ontem um passo atrás na luta pelo lance quase anedótico. Morais ainda

para lá da
11. Est. Amadora 8 2 2 4 8-12 8
acesso às meias-Ænais da Liga das defendeu um cabeceamento a curta 12. Portimonense 8 2 2 4 9-18 8
Nações, ao perder em Altach, com a distância, mas Ana Seiça atrapalhou- 13. Farense 8 2 1 5 11-11 7
Áustria, por 2-1 na 3.ª jornada do Gru- se na tentativa de aliviar a bola, acer- 14. Desp. Chaves 8 2 1 5 12-21 7
po 2. Foi a segunda derrota nesta tou nas costas de Catarina Amado e 15. Vizela 8 1 3 4 10-14 6

tempestade
caminhada e um resultado difícil de provocou um autogolo. 16. Arouca 9 1 3 5 9-12 6
digerir, tendo em conta a primeira No banco, Francisco Neto apres- 17. Rio Ave 8 1 2 5 6-14 5
parte de gala de Portugal. sou-se a mexer, lançando Andreia 18. Estoril 8 1 1 6 14-19 4
Dizer que a equipa nacional bana- Norton e Joana Marchão, mas basta-
Próxima jornada FC Porto-Estoril, Desp.
lizou a Áustria nos 45 minutos iniciais ram sete minutos para a Áustria voltar Chaves-Benfica, Famalicão-Gil Vicente,
é utilizar um eufemismo. Em 4x4x2, a castigar Portugal, desta feita com Sp. Braga-Portimonense, Casa Pia-Vizela,
com um meio-campo em losango e grande remate de Dunst, média do Moreirense-Vitória SC, Rio Ave-Boavista,
Em podcast:
uma intensidade muito alta (especial- Eintracht Frankfurt, de fora da área. Sporting-E. Amadora, Farense-Arouca Diplomatas, Fogo e Fúria e Na Terra dos Cacos.
mente sem bola), Portugal subjugou Novo golo, mais um par de altera- Em newsletters:
o adversário e construiu uma mão-
cheia de ocasiões que deveriam ter
ções na selecção portuguesa. Dolores
Silva e Ana Capeta entraram para con-
II Liga O Mundo de Hoje e O Estado das Coisas.
sido suÆcientes para se colocar em ferir nova dinâmica ao ataque e Por- Jornada 8 Na edição impressa, online e aplicação
vantagem. tugal passou a ser mais incisivo com Penafiel-Mafra 1-0
Torreense-P. Ferreira 11h, SPTV
com cronistas, análises e contexto.
Jéssica Silva (fortíssima no um con- bola. Aos 80’, Capeta esteve perto de
Leixões-Belenenses 14h, SPTV
tra um) surgiu isolada logo no primei- um golo monumental, mas viu o Marítimo-Tondela 15h30, SPTV
ro minuto; Kika Nazareth (fundamen- remate que desferiu de longe esbarrar Ac. Viseu-Nacional dom, 11h, SPTV
tal em zona de criação) falhou por na trave, e aos 82’ Tatiana Pinto falhou Feirense-AVS dom, 14h, SPTV Temos memória, temos História.
duas vezes consecutivas o que parecia na área um golo cantado, com um Santa Clara-Benfica B dom, 14h30, SPTV
um golo acessível; Tatiana e Andreia remate enrolado.
Oliveirense-U. Leiria dom, 18h, SPTV Cobertura ao minuto.
Länk-FC Porto B seg, 18h, SPTV
Jacinto também se juntaram à lista de A árbitra deu cinco minutos de Acompanhe toda a actualidade
J V E D M-S P
perdulárias e, sem que a Áustria tives- compensação e foi já no último fôlego internacional no PÚBLICO
1. AVS 7 6 1 0 9-2 19
se incomodado a guarda-redes, o que Tatiana, de cabeça e a cruzamen-
intervalo chegou com 0-0. to de Ana Borges, lá conseguiu encon-
2. Nacional 7 5 0 2 16-8 15 e em publico.pt.
3. Santa Clara 7 4 3 0 9-1 15
Um alívio para as austríacas, deso- trar a baliza austríaca. Já era tarde
4. Marítimo 7 5 0 2 10-5 15
rientadas pela enérgica reacção à para ir atrás de algo mais. Fica para
5. Mafra 8 4 1 3 13-10 13
perda das portuguesas, que nunca terça-feira, quando, na Póvoa de Var-
6. Torreense 7 3 3 1 12-7 12
tiveram receio de subir linhas e zim, as duas equipas se reencontra-
7. Oliveirense 7 3 2 2 12-14 11
empurrar as rivais para trás. Mas as rem, com Portugal já atrás da Áustria
8. FC Porto B 7 2 3 2 10-10 9
correcções feitas nos balneários con- e ainda mais longe da França.
9. Tondela 7 2 3 2 12-14 9
FOTÓGRAFO 10. Feirense 7 3 0 4 7-10 9
11. U. Leiria 7 2 2 3 12-10 8
12. Penafiel 8 2 2 4 6-10 8
13. Paços Ferreira 7 2 1 4 9-8 7
14. Ac. Viseu 7 1 4 2 8-9 7
15. Benfica B 7 2 1 4 11-13 7
16. Belenenses 7 1 3 3 6-12 6
17. Leixões 7 1 2 4 7-15 5
18. Länk 7 0 1 6 4-15 1
Próxima jornada Mafra-Leixões,
Belenenses-Länk, FC Porto B-Feirense,
Benfica B-Penafiel, Nacional-Santa Clara,
AVS-Oliveirense, U. Leiria-Marítimo,
Tondela-Torreense, P. Ferreira-Ac. Viseu

MELHORES MARCADORES
I Liga
7 golos Héctor Hernández (Desp. Chaves)
6 golos Simon Banza (Sp. Braga)
e Viktor Gyökeres (Sporting)

II Liga
5 golos Bruno Almeida (Santa Clara),
Welthon (Torreense), Witi Quembo (Nacional)
Ana Capeta entrou na recta final e ainda enviou uma bola à trave e Lucas Silva (Marítimo)
54 • Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023
Desporto
Planisférico
A Zemanlândia tenta renascer na Série C
Marco Vaza
Aos 76 anos e de volta ao
Pescara, o técnico continua
a defender o mesmo:
o espectáculo é mais
importante que as vitórias
Não são as vitórias que motivam Zde-
nek Zeman. Nem os títulos. Em tem-
pos, o treinador checo disse isto
numa entrevista. “Quero que a minha
equipa divirta os adeptos e lhes pro-
voque uma resposta emocional.” Aos
76 anos, Zeman continua a viver pelos
mesmos ideais do futebol-espectácu-
lo e a sua Zemanlândia, nome pela
qual Æcou conhecida uma das suas
maiores criações, um grande Foggia
do início dos anos 1990, renasceu na
Série C do futebol italiano. É com ele
que o Pescara tenta fazer o seu cami-
nho de volta ao convívio dos grandes
do “calcio”, a dar espectáculo e entre-
ter o público todas as semanas. Não
lhe peçam para estacionar o autocar-
ro em frente à baliza na hora de defen-
der uma vantagem mínima.
Zeman já leva mais de 40 anos no
futebol italiano e a sua longevidade
num país que deu ao mundo o “cate-
naccio” parece uma contradição. Mas
o “Boémio” nunca foi um resultadis-
ta no sentido em que nunca olhou
para a derrota como uma tragédia.
“Um 0-0 é aborrecido. É melhor per-
der 5-4”, disse numa entrevista ao
Corriere dello Sport em 2015.
Treinou equipas grandes do futebol
italiano (Roma, Lazio, Nápoles), este-
ve 13 temporadas na Série A e nunca
ganhou o “scudetto”, mas Zeman ali-
menta-se de outras coisas: as suas
equipas Æcaram no top 3 das equipas
com mais golos marcados em oito
temporadas.
Em 2023/24, Zeman está a cumprir
a sua terceira passagem pelo Pescara,
onde já tinha estado em 2011/12
(ganhou a Série B, saindo depois para
a Roma) e entre 2017 e 2018 (apanhou
o Ænal de uma campanha de despro-
moção à Série B e grande parte da
temporada seguinte). No Ænal da épo-
ca passada, conseguiu levar a equipa
à segunda ronda (de três) do play-off
de promoção, o suÆciente para lhe
darem mais uma temporada no ban-
co. E o início, não sendo espectacular,
está a ser promissor e respeitador dos
princípios do “Boémio”: à 9.ª jorna-
da, terceiro lugar do grupo B da Série
C, com 19 golos marcados (segundo
melhor ataque) e 12 sofridos (sétima
pior defesa em 20 equipas).
Zeman é um daqueles treinadores
que nunca terão muitos títulos no
currículo, mas será sempre relembra-
do por ser diferente e Æel a si próprio
e venerado por muitos dos seus pares,
um pouco como Marcelo Bielsa, tam-
bém ele um treinador idiossincrático
que fez escola. Por exemplo, Ralf
Rangnick, o técnico alemão que é tido
como o inspirador de Jurgen Klopp,
Thomas Tuchel ou Roger Schmidt,
condicionava diariamente as suas
férias só para ir ver treinos dados pelo
checo — em 1991, estava de férias no
Tirol do Sul e todos os dias fazia uma
viagem de hora e meia para ir assistir
aos treinos do Foggia, a “equipa-mi-
lagre” do futebol italiano, que “fazia
uma pressão agressiva e marcação à
zona no campo todo”.
Nunca foi jogador
Foi esse Foggia milagroso que colocou
Zeman no mapa (já lá iremos), mas
não foi onde Zeman começou. Nasceu
em Praga, capital da então Checoslo-
váquia, pouco depois do Ænal da II
Guerra Mundial, Ælho de um médico
e de uma dona de casa. Na infância e
na adolescência, não lhe deu para o
futebol, mas para o hóquei no gelo,
andebol e voleibol. Só quando foi visi-
Zdenek Zeman tem 76 anos e voltou agora ao banco de suplentes para treinar o Pescara
tar o tio à Sicília no Verão de 1968 é
que o futebol entrou na sua vida.
Cestmir Vycpalek, ex-jogador da
Juventus, do Palermo e do Parma,
recebeu o sobrinho em Palermo e
este já não voltou ao seu país, entre-
tanto invadido pelas forças do Pacto
de Varsóvia lideradas pela União
Soviética.
Sem nunca ter jogado futebol,
Zeman começou por treinar equipas
amadoras, ao mesmo tempo que
investia na formação académica (foi
colega de curso de Arrigo Sacchi na
Universidade de Palermo), e teve a
primeira grande oportunidade, gra-
ças ao tio (que, entretanto, foi treinar,
com grande sucesso, a Juventus), a
trabalhar nas camadas jovens do
Palermo. Já com cidadania italiana,
foi treinar uma equipa da quarta divi-
são na Sicília, o Licata, e foi logo cam-
peão do escalão, com o melhor ata-
que. “Chamavam-nos a selecção da
Sicília por causa do nosso estilo. A
maior parte dos nossos rivais tinha
um jogo estereotipado”, contou numa
entrevista à Panenka.
Logo na sua primeira equipa,
Zeman implementou algumas das
coisas que ainda o acompanham: o
seu inegociável 4x3x3 ofensivo, a
pressão alta, preparação física inten-
sa e uma base de juventude no plan-
tel. Seriam muitos os jovens futuros
craques do futebol italiano, o primei-
ro de todos Salvatore “Toto” Schilla-
chi, que passou pelas suas mãos no
Messina antes de se transferir para a
Juventus e se tornar o melhor mar-
cador do Mundial de 1990. Depois
de “Toto”, muitos outros jovens
devem a sua explosão ao “Boémio”,
como Francesco Totti, Giuseppe
Signori, Pierluigi Casiraghi, Alessan-
dro Nesta, Simone Romagnoli, Ciro
Immobile, Lorenzo Insigne ou Marco
Verratti.
Avancemos até 1989. O Unione
Sportiva Foggia, equipa do Sul de Itá-
lia, já tinha tido um gosto de Série A
nos anos 1960 (três épocas consecu-
tivas), amargava na terceira divisão e
resolveu dar uma segunda oportuni-
dade a Zeman, depois de uma época
incompleta em 1987/88. Era o início
da Zemanlândia, do Foggia “dei Mira-
coli” (dos milagres), duas promoções
consecutivas até chegar à Série A em
1991, alimentadas pelas tácticas de
“Um 0-0 é aborrecido.
É melhor perder 5-4”,
disse numa entrevista
ao Corriere dello Sport
em 2015
DR
Planisférico é uma rubrica
quinzenal sobre histórias e
campeonatos de futebol
periférico. Ver mais em
publico.pt/planisferico
Zeman e pela juventude inquieta de
futuros internacionais pela “squadra
azzurra” como Signori, Baiano, Mani-
cone ou Rambaudi.
Na primeira época de regresso à
Série A, o Foggia foi Zeman “vintage”.
Oitavo lugar, com o segundo melhor
ataque (58 golos marcados, apenas
atrás dos 74 do campeão AC Milan) e
a segunda pior defesa (58 sofridos),
sendo o jogo Ænal da época uma cáp-
sula do que era a Zemanlândia — per-
deu 8-2 com o AC Milan, depois de
estar a ganhar 2-1 ao intervalo.
Foram mais duas épocas assim,
antes de a Zemanlândia se mudar
para a capital e para a Lazio, onde
conseguiu ser segundo e terceiro.
Da Lazio passou para a Roma,
onde ajudou a moldar Francesco
Totti — não foi ele que o lançou, mas
foi com ele que Totti se aÆrmou
como um craque inquestionável e o
melhor jogador da história do clube.
Zeman lançou as bases e, depois,
vieram Fabio Capello e Batistuta
para darem o título aos romanos em
2000. As aventuras do “Boémio” em
Itália prosseguiram por mais uma
dezena de clubes e três experiências
pouco felizes fora da “bota” (Fener-
bahçe, Estrela Vermelha e Lugano),
mais uns regressos (ainda voltou à
Roma e ao Foggia), conquistando
mais uma Série B em 2012 com o
Pescara, na sua primeira passagem
pelo clube.
Zeman sempre foi um homem de
poucas palavras e muitos cigarros
(chegou a fumar três maços por dia,
agora diz que fuma seis ou sete cigar-
ros), e estava sem emprego desde
Maio de 2022 até o Pescara o ir resga-
tar em Fevereiro deste ano, para tes-
tar a intemporalidade das suas ideias.
O futebol atacante, a pressão intensa
e constante — princípios que diz ter
ido buscar ao “futebol total” holandês
— e uma condição física para suportar
este estilo.
Se o Pescara não subir de divisão,
isso signiÆcará que não ganhou jogos
suÆcientes, mas Zeman não se irá
preocupar muito com a sua estabili-
dade laboral, como dizia numa con-
versa com a revista Blizzard em 2012.
“Em Itália, os treinadores têm medo
de perder o emprego se perderem um
jogo. É por isso que a maioria das
equipas têm tendência de não deixa-
rem os outros jogar, em vez de tenta-
rem elas próprias jogar. Ou seja,
fazem tudo para… não perder. Isso
está bem longe do que eu penso.”

Inglaterra fica com o bronze no Mundial
David Andrade
Num jogo com pouca
qualidade, os ingleses
venceram a Argentina e
terminaram o Campeonato
do Mundo no terceiro posto
Houve emoção até ao último minuto,
mas, como se previa, o penúltimo
jogo do Campeonato do Mundo de
râguebi de 2023 não deixará sauda-
des. Inglaterra e Argentina defronta-
ram-se ontem no Stade de France, na
partida de atribuição do terceiro e
quarto lugar da competição e, com
um triunfo por apenas três pontos
(26-23), foram os europeus que asse-
Uma final entre tricampeões
Opinião
João Paulo Bessa
O quadragésimo oitavo jogo do
Campeonato do Mundo de râguebi
2023 constitui a Ænal entre
tricampeões mundiais, a África do
Sul (1995, 2007 e 2019) e a Nova
Zelândia (1987, 2011 e 2015). E é, de
acordo com as diversas estimativas,
um jogo de tripla.
Independentemente da
perspectiva do resultado, será um
encontro entre dois modelos: do
lado sul-africano, o râguebi de
colisão que faz da capacidade de
avançar em força no terreno a sua
maior arma; do lado neozelandês,
o râguebi de movimento que faz da
iniciativa, da Çexibilidade e da
mobilidade, coordenados e focados
pela mesma leitura da situação que
enfrentam, a sua eÆcácia numa
articulação de pequenas unidades
que, para além de surpreenderem
e desequilibrarem a defesa,
constituem, pelo apoio organizado
que criam próximo do portador
da bola, um fortíssimo
instrumento de ataque.
Por outro lado, os sul-africanos,
embora sem a Çuidez neozelandesa,
colocam a pressão das suas
poderosas colisões como a principal
arma de desequilíbrio das defesas
adversárias. E será curioso ver como
estas equipas, muito próximas no
valor das placagens bem-sucedidas,
mas muito diferentes nas formas
guraram o último lugar do pódio.
Quarenta e oito dias depois de se
terem defrontado no primeiro jogo
que realizaram no Mundial 2023 — a
Inglaterra venceu por 27-10 —, ingle-
ses e argentinos não fugiram ao (mau)
guião esperado, com o resultado de
sempre: no quinto frente-a-frente
entre os dois países em Campeonatos
do Mundo, os britânicos somaram a
quinta vitória.
O jogo mostrou o que já se conhecia
das duas equipas. Se de um lado os
ingleses não abdicavam um milímetro
de explorar ao limite o seu grande
trunfo (jogo ao pé), do outro os argen-
tinos continuaram a ser um “XV” sem
a entrega que tradicionalmente carac-
teriza os “pumas”.
defensivas e atacantes, vão garantir
a defesa das suas áreas de ensaio.
Com ligeira vantagem, a conquista
é favorável aos neozelandeses,
mesmo se os sul-africanos
demonstraram a sua capacidade nas
formações-ordenadas contra
Inglaterra ao provocarem três
penalidades, que acabaram por lhes
dar a vitória.
Nos alinhamentos os
neozelandeses voltam, com 97%
contra 88%, a mostrar
superioridade, a que acrescentam
um bom uso de combinações que
permitem transformar esta fase
estática numa sua excelente base
de ataque. E como sabem muito
bem lançar os ataques centrais
com a organização dos seus
pequenos grupos, conseguem
encurtar a linha defensiva
adversária, abrindo assim
corredores laterais por onde, com
a facilidade de passes tensos de dez
a 15 metros, lançam o seu temível
trio de trás.
Mas o trio de trás dos sul-africanos
não lhes Æca atrás em perigosidade.
E vai ser interessante ver como, na
sua habitual estratégia de não correr
riscos no seu meio-campo, os
sul-africanos utilizarão os seus
habituais pontapés-na-caixa, para
colocar um dos seus excelentes
pontas em vantagem — que aliás
muito pouco tocaram na bola (não
Æzeram nenhum passe!), contra a
Inglaterra… Mas, desta vez, serão
mais cuidadosos do que o normal,
porque os neozelandeses são a
equipa que mais gosta — numa
enorme demonstração de conÆança
A Inglaterra impôs-se à Argentina e ficou no último lugar do pódio
— de lançar ataques desde a sua área
de 22. E se conseguem ultrapassar a
primeira-linha defensiva
transformam o movimento num
prazer para os espectadores.
O resultado Ænal pode estar
dependente do desempenho do
banco de suplentes de cada uma
das equipas. Com o seu arriscado
banco de 7-1 — a “bombsquad” — os
sul-africanos, jogando sem
formação suplente, mostram ao
que vêem: tirar toda a vantagem
do seu bloco de avançados,
forçando penalidades — neste
Mundial foram a equipa que mais
penalidades provocou (16) nas
formações- -ordenadas. E entram
de imediato com o pontapeador de
excelência Handré Pollard e com
Faf de Klerk, procurando que o
marcador lhes seja favorável desde
cedo. Mas os suplentes
neozelandeses — a “easy
company”, como são designados
pelo seu terceira-linha Papali’i —
conseguindo na última jogada do
jogo contra a Irlanda defender 37
fases, mostraram que também
sabem estar à altura. Nos “all
blacks” não haverá surpresas:
jogam os habituais e a conÆança
das ilhas dos antípodas é absoluta.
No Ænal do próximo sábado, com
o 10.º título de Campeão do Mundo
2023 entregue, conheceremos
também a equipa que obterá o seu
quarto título, mantendo-se a
vantagem do Hemisfério Sul que,
nos nove Mundiais disputados,
conquistou oito.
Arquitecto
Público • Sábado, 28 de Outubro de 2023 • 55
Desporto
BENOIT TESSIER/REUTERS
Assim, o jogo esteve muito longe de
ser entusiasmante. Mais tranquila, a
Inglaterra soube ir somando pontos
à medida que criava oportunidades
e, aos 13’, vencia por 13-0, com pena-
lidades de Farrell e um ensaio de Ben
Earl. Os sul-americanos tiveram de
arriscar e, aos 36’, chegaram ao
ensaio, por Cubelli.
A segunda parte começou com
erros de parte a parte que resultaram
em ensaios para os dois lados e seis
pontos de diferença no marcador (26-
20 para a Inglaterra), mas, mesmo
tendo tido oportunidades para che-
gar ao triunfo, a Argentina apenas
voltou a pontuar através de uma
penalidade, não evitando a derrota
por 23-26.
PUBLICIDADE
Circulação Condicionada | A4, VRI e A41
Na A4, VRI e A41, de 31 de outubro a 4 de novembro, das 21h às 07h,
realizaremos trabalhos de beneficiação do pavimento, que implicarão alguns
desvios e condicionamentos de tráfego nas seguintes vias de acesso:
Nó Vias afetadas
A41 Aeroporto Entrada na A41, sentido Santa Cruz do Bispo/Maia
Entrada na A4, sentido Custóias/Matosinhos
A4 Custóias
Entrada na VRI e A4, sentido Custóias/Aeroporto e
Vila Real
Os condicionamentos e desvios estarão devidamente
sinalizados nos locais.
Para mais informações consulte regularmente o site
Ascendi utilizando o código QR ao lado, aceda a
www.ascendi.pt ou ligue 229 767 767 (24H).
Ascendi Grande Porto, Auto-Estradas do Grande Porto, S.A.
Região do Sul
CONVOCATÓRIA
Nos termos do artigo 33.º do Estatuto, convoco a Assembleia
Regional do Sul da Ordem dos Médicos, para o dia 13 de
novembro (segunda-feira) pelas 19 horas, nas instalações da
Ordem dos Médicos, sitas em Lisboa – Av. Almirante Gago
Coutinho, nº 151, com a seguinte Ordem dos Trabalhos:
1. Informações.
2. Aprovação do Plano de Atividades para o ano de 2024.
3. Aprovação do Orçamento para o ano de 2024.
4. Outros assuntos.
Lisboa, 27 de outubro de 2023
O Presidente da Assembleia Regional do Sul
Dr. António José Gonçalves Martins Baptista
Sábado, 28 de Outubro de 2023
BARTOON LUÍS AFONSO
Joana Marques devia ser condecorada no 10 de Junho
O respeitinho
não é bonito
T
João Miguel Tavares
odas as religiões são
obcecadas com o tema
dos falsos ídolos. Na
tradição judaico-cristã
chamam-lhe o “bezerro
de ouro”. O alerta é
sempre o mesmo: devemos dirigir
a nossa atenção para o que é
verdadeiro e signiÆcativo (ainda
que por vezes custe), e resistir à
tentação de adorar o que é falso e
fútil (ainda que possa ser mais
cómodo).
Os ingleses têm uma expressão
óptima para deÆnir essa postura
espiritual, que estou sempre a
repetir aos meus Ælhos — delayed
gratification, que podemos
traduzir como recompensa adiada,
e que é a base de toda a boa
educação: nós somos treinados a
fazer sacrifícios tendo em vista um
bem superior por vezes difuso, e
em nome de um futuro que não
sabemos sequer se se concretizará.
Um bom emprego — mas é preciso
estudar muito. Um bom casamento
PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Todos os conteúdos do jornal estão protegidos por Direitos de Autor ao abrigo da
legislação portuguesa, da União Europeia e dos Tratados Internacionais, não podendo ser utilizados fora das condições de
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CONTACTE-NOS: assinaturas.online@publico.pt • 808 200 095 (dias úteis das 9h às 18h)
— mas é preciso abdicar de muito.
Uma boa família — mas é preciso
aturar muito.
Esta postura é simultaneamente
muito humana e
desagradavelmente contranatura.
É o avesso do popular provérbio
“mais vale um pássaro na mão do
que dois a voar”. É dizer aos
miúdos (e aos graúdos): mais vale
correr atrás dos dois pássaros que
voam, porque são muito mais
gordos e saborosos do que esse
pássaro raquítico que está ao
alcance da tua mão. Para gente
preguiçosa e esfomeada, está longe
de ser uma escolha óbvia.
GUILLERMO VIDAL
E é aqui que entra Joana Marques
e o seu Extremamente
Desagradável, o programa mais
conservador do país, no melhor
sentido da palavra: conserva a
convicção ancestral de que todo o
narcisismo é ridículo; todo o
autocentramento é patético; e
atira-se de unhas e dentes ao maior
bezerro de ouro da actualidade — a
elevação do “eu” aos altares das
redes sociais; a sacralização dos
sentimentos sobre si próprio; e a
consequente pandemia de egos
descontrolados.
Eis outro conselho que dou aos
meus Ælhos: fujam das contas de
Instagram onde as pessoas estejam
constantemente a fotografar-se em
frente ao espelho. Joana Marques
faz o mesmo, através da exposição
ao ridículo dos narcisistas
incontinentes. Tal como Vítor
Paneira fazia sempre a mesma
Ænta, ela faz sempre a mesma
Joana Marques faz habilidade: goza com pessoas que
têm uma ideia desmedida de si
catequese da boa. próprias. Que o seu programa seja
Espatifa falsos um tremendo fenómeno de
popularidade oferece alguma
ídolos e derruba esperança à espécie humana — mas
tudo o que é que ela tenha matéria para o
produzir diariamente é bem
bezerro de ouro. elucidativo da egomania que
Achas que és domina as redes sociais.
A velha cultura judaico-cristã
o maior? Pimba ensina-nos duas coisas essenciais.
1 MÊS
GRÁTIS
APP DISPONÍVEL NAS LOJAS
1) Tu és sagrado aos olhos de Deus.
2) Tu não és Deus. O ensinamento 1
é a base de todo o humanismo. O
ensinamento 2 protege-nos contra
as tentações do solipsismo. Se
houver vida eterna, o convite para
amar o próximo talvez venha a dar
jeito. Mas mesmo que não haja vida
eterna, continua a ser um
utilíssimo convite para quebrar o
espelho narcísico — nunca te deixes
aprisionar na perigosa órbita do
teu umbigo.
Joana Marques faz catequese da
boa. Espatifa falsos ídolos e
derruba tudo o que é bezerro de
ouro. Achas que és o maior? Pimba.
Julgas-te a última Coca-Cola no
deserto? Pumba. O seu sucesso
advém daí: o público intui que ela
está a fazer um trabalho essencial.
E está. É um riso aditivado, que
lava a vaidade, e nesse sentido
cumpre a função mais nobre do
humor: escarnecer dos que se
acham demasiado especiais. Todo
aquele que tem uma imagem
grandiosa de si próprio é
profundamente ridículo, e o radar
de Joana Marques não perdoa:
qualquer vestígio de ego
descontrolado vai abaixo, e com
estrondo. Bendita pontaria.
Colunista
jmtavares@outlook.com