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em 1864

www.dn.pt / Quinta-feira 9.11.2023 / Diário / Ano 159.º / N.º 56 450 / € 1,50 / Diretor interino Leonídio Paulo Ferreira / Subdiretor Bruno Contreiras Mateus

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CRISE GOVERNO NAS

MÃOS DE MARCELO
PS QUER INDICAR
NOVO PRIMEIRO-
-MINISTRO, MAS
ACEITA ELEIÇÕES
SE ORÇAMENTO
FOR APROVADO
PÁGS. 4-9
PATRICIA DE MELO MOREIRA / AFP

ESTUDO TRABALHO ALARGAMENTO

Real banho de bola na primeira Seis em cada dez Dispara desemprego Ucrânia e Moldávia
pessoas tem entre os jovens e 50% dão novo passo
parte deixa Benfica dificuldade em do emprego criado para a adesão à UE
fora da Champions PÁG. 24 pagar casa PÁG. 12 é precário PÁG. 16 PÁGS. 22-23

GUERRA AÇORES JORNADAS

ANDER GILLENEA / AFP

EUA querem Gaza Bolieiro não se demite Câmara de Lisboa

e Cisjordânia unidas, e acusa oposição gastou 19,9 milhões
mas rejeitam de ter “ciúme no Parque Tejo
cessar-fogo PÁGS. 20-21 do sucesso” PÁG. 10 PÁG. 18
2 EDITORIAL Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias

FOTO DE 1982
EDITORIAL
Bruno Contreiras
Mateus
Subdiretor do Diário de Notícias

Orçamento de unidade
em tempos de crise
S
ão virtudes do Orçamento do Estado para 2024 (OE2024) a previsão de
excedente de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) – depois do recorde
deste ano – e fixar a dívida pública abaixo dos 100%. Estas eram metas
ambiciosas de Fernando Medina num cenário de continuidade deste
Governo. Só que agora todo o orçamento está em suspenso à espera do Presiden-
te da República no pós-terramoto político que levou à demissão de António Cos- A foto, autoria de Rui Homem, mostra o início das filmagens da primeira telenovela
ta, alvo de um inquérito-crime e após inéditas buscas em S. Bento, que culmina- portuguesa, Vila Faia, objeto de notícia no DN, em janeiro de 1982, . No Martim Moniz, o ator
ram com a detenção, entre outros, do chefe de gabinete do primeiro-ministro, na Nicolau Breyner (à esquerda), que interpretava o papel de João Gudunha, filma uma das
sequência de investigações conduzidas pelo Departamento Central de Investiga- cenas, à saída de uma bijutaria onde a sua personagem entrara para comprar uns brincos.
ção e Ação Penal (DCIAP) aos negócios do lítio, do hidrogénio verde e de um data
center.
O fim da Era Costa pode travar o polémico aumento do Imposto de Circulação
Automóvel (IUC) para veículos anteriores a julho de 2007. Agradaria a muitos
portugueses, se assim acontecesse. Mas há medidas igualmente em risco, que já
criaram expectativas positivas nas famílias com o cinto demasiado apertado há
OPINIÃO HOJE
muito tempo: a redução do IRS, os aumentos dos salários da Função Pública e do
salário mínimo, por exemplo, que devolveriam algum poder de compra aos por- Pedro Marques
tugueses – apesar de que a subida dos impostos indiretos acabaria por tirar com António Costa
uma mão o que a outra daria, em parte; e os apoios sociais e apoios às rendas que PÁG. 11
não chegariam às famílias mais vulneráveis atirariam muitos para situações de
maior fragilidade social. Em tempo de crise governativa, podem-se questionar Ana Jacinto
medidas orçamentais em avulso, mas a ausência de apoio num momento difícil Competir, Suplantar, Responsabilizar
para quem não consegue pagar as contas todas no final do mês, poderia ter con- PÁG. 14
sequências arrasadoras.
Apesar de defender a necessidade de eleições legislativas, não é só o líder do
maior partido da oposição, o social-democrata Luís Montenegro, que resguarda Benoit Menardo
um orçamento do PS – que já foi aprovado na generalidade, mas falta ainda dis- Don’t chase, attract: O que importa é criar algo
cutir e aprovar no Parlamento na especialidade –, para entrar em vigor a 1 de ja- que as pessoas querem e precisam
PÁG. 17
neiro próximo. Se assim não acontecer, voltaremos ao regime de duodécimos vi-
vido em 2022, até julho. O Chega e o PS estão no mesmo diapasão, pelo menos,
em relação à aprovação do OE2024, antes de uma possível dissolução da Assem- João Almeida Moreira
bleia da República – embora no caso dos socialistas se defenda que a ida às urnas Pela boca morre o Lula?
não é a melhor solução, Carlos César diz que se houver eleições antecipadas “é PÁG. 23
muito importante ter um Orçamento aprovado” antes. Mas caberá ao Presidente
decidir hoje, depois de ouvir o Conselho de Estado.
De uma maneira ou de outra, iremos ainda assistir a um novo capítulo na dis-
cussão sobre o que fazer com os saldos positivos das contas públicas.

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9.11.2023
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378; Publicidade: 969 105 615. Estatuto editorial disponível em www.dn.pt. Tiragem média de Julho 2023: 6.432 exps.
NotíciasFlix

Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 3

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A política monetária e os desafios da inteligência
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11H15 | Coffee break

11H30 | Apresentação – Tendências Tech

HOJE
na Banca - Está a criar Inteligência Artificial
Humanizada ou Robótica?
Sérgio Ferreira Partner, EY Consulting - Business
Transformation

8H30 12H00 | DEBATE

ChatGpt, AI e ESG, o impacto no setor financeiro
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MONEY
CONFERENCE
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4 EM FOCO
CRISE POLÍTICA
PS quer formar novo
Governo, mas aceita
eleições se OE2024
for aprovado
PROPOSTA Os socialistas acham que a solução da crise política pode
não passar por eleições. O partido tem um “lote” de personalidades
disponível para substituir Costa e formar um novo Governo.
TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES
O
PS verbalizou ontem
publicamente que está
disponível para apre-
sentar ao Presidente da
República um novo nome para
formar Governo. O presidente do
partido, Carlos César, chefiou a de-
legação dos socialistas que ontem
encerrou a ronda de contactos de
Marcelo com os partidos parla-
mentares em Belém e, no final, ex-
plicou aos jornalistas por que é
que o PS insiste na ideia – contrá-
ria à da maioria dos partidos parla-
mentares – de que a melhor solu-
ção para a crise aberta pela demis-
CARLOS CÉSAR
Presidente da República
“O PS assegura a confiança
e o apoio necessário
e dispõe de uma maioria
de deputados,(...), e que essa
situação é a que melhor
salvaguarda a situação
com que nos
confrontamos.”
são do primeiro-ministro não tem
de passar por eleições antecipa-
das. Estas, disse, “não garantem es-
tabilidade” e, além do mais, o PS
dispõe não só de maioria no Parla-
mento como de um “lote” de pes-
soas – do qual se excluiu – “respei-
táveis”, “com experiência governa-
tiva” e “até internacional” capazes
de encabeçar um novo Governo
do partido.
Embora não tenha nomeado
ninguém, e assegurado também
que não apresentou nomes ao Pre-
sidente da República, o que disse
sobre as tais pessoas aponta para
LUÍS MONTENEGRO
Presidente do PSD
“É preciso cortar o mal
pela raiz, é preciso iniciar
um ciclo novo, é preciso
ouvir o povo português
e dar a um futuro Governo
a autoridade política,
que só
o voto é
capaz
de conferir.”
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
nomes como os de Augusto Santos um Governo com um novo pri-
Silva (a quem não falta experiência meiro-ministro.”
governativa), Mário Centeno (ex- Acrescentou, por outro lado, que
periência governativa e internacio- dentro do partido é fácil indicar
nal) e António Vitorino (também as um novo nome para substituir An-
duas). O Expresso noticiou ontem tónio Costa na chefia do Governo,
que Costa indicou estes três nomes bastando para isso uma delibera-
ao Presidente nos contactos que ção da Comissão Política Nacional
com ele teve na terça-feira, acres- do partido, a qual, “por acaso, mas
centando-lhes ainda, alegadamen- sem ser por acaso”, está convoca-
te, o do próprio Carlos César. da para reunir hoje à noite, depois
Este disse ontem que “é bom da reunião do Conselho de Estado
que não exista uma interrupção convocada pelo Presidente da Re-
governativa, uma suspensão”: “A pública.
nossa convicção é de que a situa- A seguir ao Conselho de Estado,
ção preferencial é a nomeação de Marcelo Rebelo de Sousa fará uma
ANDRÉ VENTURA
Presidente do Chega
“Penso que se começa
a formar um consenso,
mais ou menos alargado,
eventualmente à exceção
do PS, para a necessidade
de realização
de eleições
antecipadas.”
comunicação ao país, em que
anunciará a sua decisão sobre os
passos seguintes na crise política
desencadeada pela demissão do
primeiro-ministro, terça-feira.
Ontem o Presidente ouviu uma
a uma delegações dos oito parti-
dos parlamentares, do mais pe-
queno (o Livre) até ao maior (o PS).
Nalguns desses encontros, o Presi-
dente da República foi fazendo
sentir que a sua solução favorita
para uma saída da crise é a convo-
cação de eleições antecipadas – a
solução também abertamente de-
fendida pelo PSD, Chega, PCP, Blo-
RUI ROCHA
Presidente da Iniciativa Liberal
“A nossa perspetiva
é que era melhor
que este Orçamento
não entrasse em vigor,
mas não queremos
que isso seja o núcleo
da discussão
política.”
 Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 5

Marcelo e Costa co de Esquerda e Livre (o PAN pre-
têm visões feriu dizer que a prioridade das
diferentes para prioridades é, isso sim, a aprova-
a saída da crise. ção do Orçamento do Estado do
Conselho de próximo ano).
Estado reúne-se Recusando o cenário de novo
hoje a partir Governo alvitrado pelo PS, Marce-
das 15.00. lo parece inclinar-se decisivamen-
te para eleições antecipadas, mas
complementando-se este cenário
com um outro: protelar o decreto
de dissolução do Parlamento algu-
mas semanas, esperando que se
realize (no próximo dia 29) no Par-
lamento a votação final do Orça-
mento do Estado para o próximo
ano (OE2024), podendo depois
este entrar em vigor, a partir de 1
de janeiro. Ontem recebeu, nessa
decisão, o respaldo importante do
PSD e do Chega.
Costa não se demitiu no PS
Com o Orçamento em vigor evi-
tam-se bloqueios na aplicação dos
investimentos previstos no PRR, e
mação de um novo Governo com
um novo primeiro-ministro indi-
cado pelo partido. mas ficarão
“tranquilos” com o Presidente da
República se este, como tudo
aponta, se inclinar para a solução
de eleições antecipadas e se isto
acontecer depois da aprovação
“fundamental” do OE que está a ser
discutido no Parlamento.
César até disse que, na cronolo-
gia que o partido já fez, será possí-
vel realizar as novas eleições legis-
lativas em março do próximo ano.
E pelo meio, questionado pelos jor-
nalistas, assegurou que António
Costa não deixou a liderança do PS,
nem está previsto que o venha a fa-
zer no curto prazo – ou seja, não
está oficialmente aberta interna-
mente nenhuma corrida para a su-
cessão. O partido tem já (já tinha,
antes da crise) um Congresso Na-
cional marcado para março do ano
que vem, mas se o país se encami-
nhar para eleições antecipadas terá

GERARDO SANTOS / GLOBAL IMAGENS

se Marcelo partisse para uma dis-
solução imediata do Parlamento,
isso interromperia o processo le-
gislativo do OE2024, o que signifi-
caria que o próximo ano se inicia-
ria sem Orçamento do Estado em
vigor. O país seria então forçado a
viver em regime de duodécimos no
mínimo uns seis meses (até que,
como resultado das eleições, um
novo Governo entrasse em fun-
Quem apoia o quê ções, apresentando depois uma
proposta no Parlamento e seguin-
DISSOLUÇÃO ANTES DO OE APROVADO DISSOLUÇÃO DEPOIS DO OE APROVADO NIM NOVO GOVERNO E NOVO LÍDER do-se o processo normal de discus-
são – tudo com a morosidade que
LIVRE se conhece).
PAN Pelo lado do PS, segundo Carlos
César, também nada deve impedir
BE que o processo legislativo orça-
PCP mental prossiga, até à aprovação fi-
nal do OE2024. “É importante ter o
IL Orçamento do Estado aprovado”,
por considerar ser um “instrumen-
CHEGA to fundamental para os interesses
PSD do país”.
Na prática, os socialistas, segun-
PS do o seu presidente, preferem a for-
de antecipar essa reunião máxima
de forma a eleger um novo líder
que seja depois o candidato a pri-
meiro-ministro.
Ao longo do dia os partidos fo-
ram expressando que cenários pre-
ferem, tendo o PCP, o BE e o Livre
sido muito claros a afirmar que já
não há condições para se aprovar o
OE2024.
Depois destes, André Ventura, lí-
der do Chega, revelou que, ao con-
versar com o Presidente da Repú-
blica, este lhe pareceu mais inclina-
do para o cenário de convocação
de eleições antecipadas só depois
da aprovação final do Orçamento
do Estado.
Para sexta-feira, o presidente da
Assembleia da República convo-
cou uma Conferência de Líderes
para que se discutam as conse-
quências da crise política nos tra-
balhos parlamentares. Já se sabe
que a revisão constitucional em
curso ficará pelo caminho.
joao.p.henriques@dn.pt

PAULO RAIMUNDO MARIANA MORTÁGUA INÊS SOUSA REAL RUI TAVARES

Secretário-geral do PCP Coordenadora do Bloco de Esquerda Porta-voz do PAN Porta-voz do Livre

“No atual quadro político “O Bloco de Esquerda “Estaremos cá para “Estas eleições
e institucional, a única já anunciou o seu voto trabalhar em prol devem ser marcadas
solução que existe para contra o Orçamento, das causas que defendemos, o mais depressa possível,
dar resposta a esse porque não dá respostas”, mas em primeiro lugar não interessa
problema é a dissolução pelo que “qualquer que se salvaguarde que se prolongue
da Assembleia outra alternativa o Orçamento uma situação
da República [às eleições] do Estado.” de incerteza.”
e a convocação não vai
de eleições.” resolver”
a crise.
 6 EM FOCO Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias

Existe a possibilidade
de o país voltar a viver
em duodécimos durante
uma parte do próximo ano.
LEONARDO NEGRÃO / GLOBAL IMAGEN

Orçamento. D
epois do terramoto que mas da aplicação da fórmula de
esta terça-feira se abateu atualização prevista na lei. Os 2,7
no país político, há mui- milhões de pensionistas têm, as-
tas incertezas quanto à sim, assegurado um aumento
governação nas próximas sema- médio de 6,2%.

As propostas nas. Num cenário de dissolução da

Assembleia da República antes da
votação final do Orçamento do Es-
tado para 2024 (OE2024) – agenda-
Salário mínimo
Em princípio, o Salário Mínimo

perdidas se a
da para o próximo dia 29 de no-
vembro, e que, sem surpresa, a
maioria absoluta do Partido Socia-
lista deveria votar favoravelmente
–, muitas das expectativas dos por-
Nacional (SMN) aumenta para
820 euros no próximo ano. É uma
matéria que foi acordada em
Concertação Social e, por isso,
não deve haver entraves à sua en-

votação ficar tugueses ficarão goradas. É o caso

da atualização dos escalões de IRS
e da redução das taxas de retenção,
do aumento dos apoios sociais ou
trada em vigor a 1 de janeiro de
2024. Esta leitura tem por base o
que sucedeu em outubro de 2021,
quando o Orçamento do Estado

pelo caminho
do reforço das medidas para apoiar
as famílias a pagar as rendas de
casa. A confirmar-se este cenário, o
país teria de viver em duodécimos
até à constituição de um novo Go-
verno e à aprovação do respetivo
OE2024 O aumento das pensões no próximo ano está acautelado, orçamento. Hoje, o presidente da
mas o mesmo não se aplicará aos salários da Função Pública e até República deverá tomar uma de-
para 2022 foi chumbado. Esse
chumbo não impediu a subida do
SMN logo no início de 2022. Con-
tudo, o Governo tem ainda de
aprovar o decreto que estabelece
o aumento. Aqui reside a dúvida
da efetivação dessa subida.

ao salário mínimo, caso a proposta do atual governo não entre em vigor

cisão após ouvir o Conselho de
Estado.
a 1 de janeiro. Poderá também ficar sem efeito a redução do IRS, os
benefícios para os jovens, a subida dos apoios sociais e o apoio às rendas. Pensões
Os aumentos das pensões previs-
tos para 2024 não sofrem altera-
TEXTO SÓNIA SANTOS PEREIRA ções. A subida não está depen-
dente do Orçamento do Estado,
Função Pública
Os aumentos salariais dos traba-
lhadores do Estado em 2024, entre
os 3 e os 6,8%, estão dependentes
da opção política que for tomada.
O diploma em que deveriam
constar essas atualizações ainda
não está concluído. Além das su-
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023
bidas nos salários, a
Função Pública estava
a contar com o incremento do
valor pago pelo trabalho suple-
mentar e pelo fim dos cortes nas
ajudas de custo e subsídios de
transporte. Sem a votação final do
OE2024 estas valorizações podem
estar em causa. Se o país ficar a vi-
ver temporariamente em regime
de duodécimos e existir margem
duodecimal, há a possibilidade de
se replicar a situação de 2022. Ou
seja, avançar com as medidas ne-
gociadas.
IRS
É uma das medidas propostas no
OE2024 que cai. O Governo tinha
decidido atualizar os escalões e
reduzir as taxas de retenção até ao
5.º escalão. A medida do Executi-
vo visava aliviar os agregados com
menos capacidade económica e
também a classe média. A redu-
ção chegava aos 3,5 pontos per-
centuais. O mesmo destino têm
as propostas anunciadas no IRS
Jovem. Recorde-se que estava
previsto que os jovens até aos 26
anos, desde que tivessem concluí-
do pelo menos o Ensino Secundá-
rio, ficariam isentos de IRS no pri-
meiro ano de trabalho. No caso do
Privatização
da TAP fica
em suspenso
Depois de um processo de
reestruturação, de uma
Comissão Parlamentar de
Inquérito e de um sem número
de polémicas, a TAP estava,
finalmente, a chegar a águas
tranquilas. Com paz social e
lucros históricos de 203,5
milhões de euros até
setembro, o Governo
preparava-se agora para abrir
o capital da companhia ao
mercado e arrancar com o
processo de privatização. O
pontapé de saída foi dado em
setembro, com a aprovação de
um decreto-lei que enquadra
as condições da venda da
companhia. O objetivo era ter
o dossiê fechado na primeira
metade de 2024. A demissão
de António Costa coloca agora
em causa a intenção do
Governo de alienar, pelo
menos, 51% da empresa
pública.
jovem ter grau de doutorado, a
idade subia para os 30 anos. O
desconto deveria progressiva-
mente baixar. No segundo ano de
trabalho, o desconto era de 75%,
no terceiro e no quarto ano de
50%, e no quinto (e último) ano de
25%.
Apoios Sociais
As famílias mais vulneráveis terão
também de aguardar por um
novo Orçamento do Estado. To-
dos os apoios previstos no docu-
mento do executivo de António
Costa – aumento do Abono de Fa-
mília, reforço do Complemento
Solidário para Idosos (CSI) e do
Rendimento Social de Inserção
(RSI) – carecem de nova valida-
ção. O Abono de Família deveria
aumentar 22 euros por mês, o CSI
teria um incremento de 62,45 eu-
ros e estava previsto um reforço
no RSI de 28 euros mensais. O
alargamento da rede de creches
gratuitas fica também dependen-
te do futuro rumo político do país.
IUC
O aumento do Imposto Único de
Circulação (IUC) para carros an-
teriores a 2007, que originou rui-
dosas manifestações no último
fim de semana, um pouco por
todo o país, e também para os res-
tantes automóveis, fica para já
congelado. O Governo tinha deci-
dido que um carro ou um motoci-
clo com matrícula anterior a 2007
iria pagar mais IUC, num limite
máximo de 25 euros. Este valor se-
ria aumentado progressivamente
até que a taxa representasse a to-
talidade da tributação relativa ao
CO2 emitido por esses veículos.
Nos restantes automóveis, o au-
mento previsto era de 2,9%. Sem
a aprovação do OE2024, estas me-
didas não podem entrar em vigor.
O mesmo se aplica aos aumentos
estabelecidos nos impostos sobre
o tabaco e álcool.
Rendas e portagens
O aumento das rendas em 2024,
assim como das portagens, não
está sujeito ao OE2024. As rendas
são atualizadas com base na infla-
ção dos últimos 12 meses (ex-
cluindo a habitação) terminados
em agosto, o que determinou um
incremento de 6,94% no próximo
ano. Já a subida do preço das por-
tagens aguarda ainda a divulga-
ção do valor da inflação homólo-
ga de outubro, sem habitação.
Apoio às rendas
O reforço do apoio extraordinário
às rendas é outra das medidas que
ficam comprometidas. Quando o
Governo decidiu não colocar um
travão ao aumento das rendas e
aplicar a fórmula prevista na lei,
que implica um aumento de
6,94%, reviu o apoio que já estava
em vigor desde maio deste ano.
Esse reforço, inscrito no OE2024,
previa que as famílias com uma
taxa de esforço superior a 35% e
cujos rendimentos não ultrapas-
sem o 6.º escalão de IRS (em 2024,
corresponderia a um rendimento
de 39 791 euros) vissem reforça-
dos os apoios no pagamento da
renda. O objetivo era que o au-
mento, na prática, fosse de 2%
para esses agregados.
PRR
Os investimentos no âmbito do
Plano de Recuperação e Resiliên-
cia (PRR) não serão afetados, se
não houver comparticipação do
Estado português nos projetos. A
aplicação das verbas não está de-
pendente do OE, dada a prove-
niência comunitária.
sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt
Do epicentro dos dados
ao epicentro
da demissão de Costa
SINES Concelho do Litoral Alentejano foi escolhido
para acolher centro de dados de 3,5 mil milhões e central
de hidrogénio, ambos na origem na demissão do PM.
O
mega data center de Si-
nes foi apresentado
pelo Governo, em 2021,
como “o maior investi-
mento estrangeiro captado pelo
país desde a Autoeuropa”, mas,
volvidos dois anos, a construção
do centro de dados na Zona Indus-
trial e Logística de Sines é um dos
focos da investigação do Departa-
mento Central de Investigação e
Ação Penal (DCIAP) do Ministério
Público (MP) que levou António
Costa a demitir-se das funções de
primeiro-ministro.
A investigação já levou à consti-
tuição de sete arguidos, sendo que
três estão diretamente vinculados
à Start Campus, empresa detida
pela norte-americana Davidson
Kempner Capital Management LP
e pela britânica Pioneer Point
Partners, que é responsável pelo
investimento do denominado
Hyperscale Data Centre.
Mas o que é o data center de Si-
nes? É um empreendimento com
estatuto Projeto de Interesse Na-
cional (PIN), apresentado em abril
de 2021. Para erguer este centro de
dados, a Start Campus compro-
meteu-se investir até 3500 milhões
de euros em Sines, prevendo a cria-
ção de 1200 empregos diretos alta-
mente qualificados e 8000 postos
de trabalho indiretos até 2025.
A própria empresa garantira que
iria instalar em Sines um dos maio-
res centros de dados da Europa,
“contribuindo [também] significa-
tivamente para a transição energé-
tica de Portugal”. Em dezembro de
Data center de Sines
surge com promessa
de ser tão relevante
como Autoeuropa,
mas ainda só há
um edifício a operar
parcialmente.
Autoeuropa
representa 1,5%
do PIB.
7
2022, Pedro Nuno Santos, ainda
ministro das Infraestruturas, disse
que Sines tinha“condições únicas”
para ser o“epicentro” da economia
de dados.
Data Center vs. Autoeuropa
O data center vale mais que a Au-
toeuropa? Até ver, o centro de da-
dos de Sines ainda não passa de
uma promessa – só em outubro,
passado o primeiro edifício (de um
total de cinco, contíguos à antiga
central a carvão de Sines) começou
a “operar parcialmente”. Já a Au-
toeuropa, instalada em Portugal
nos Anos 1990, produziu 231 mil
unidades e atingiu um volume de
vendas de 3,674 mil milhões de eu-
ros em 2022, sendo que 99% da
produção é para exportação. A Au-
toeuropa emprega hoje cerca de
5000 pessoas e vale 1,5% do Produ-
to Interno Bruto (PIB).
A par do Hyperscale Data Cen-
tre, Sines foi escolhida para rece-
ber uma central de produção de
energia a partir de hidrogénio.
Ambos constituem o Projeto Si-
nes 4.0. “E por que é que Sines
pode ser um campeão da produ-
ção de hidrogénio verde em toda
a Europa? Pela mesmíssima razão
que, em todos os sítios possíveis
para localizar este mega data cen-
ter, foi escolhido Sines: porque
aqui é possível ter um mega data
center energeticamente sustentá-
vel e, mais, com a energia renová-
vel mais barata que é possível en-
contrar”, disse António Costa na
apresentação do data center.
As autoridades suspeitam de
“factos suscetíveis de constituir cri-
mes de prevaricação, de corrupção
ativa e passiva de titular de cargo
político e de tráfico de influências”.
Ontem, o Público noticiava que o
MP suspeita que João Galamba,
enquanto secretário de Estado da
Energia ou enquanto ministro das
Infraestruturas, pode ter levado a
Conselho de Ministros diplomas
feitos por advogados pagos pela
Start Campus. Afonso Salema,
CEO da Start Campus, Rui Oliveira
Marques, administrador jurídico e
de Sustentabilidade da Start Cam-
pus, Diogo Lacerca Machado, pa-
drinho de casamento de Costa e
consultor da Start Campus, e Nu-
no Mascarenhas, presidente da
Câmara Municipal de Sines (PS),
também são arguidos no âmbito
desta investigação do MP. J.V.R.
8 EM FOCO
Três governantes
acusados, demitidos
e absolvidos
em tribunal
JUSTIÇA Eduardo Cabrita, Azeredo Lopes e Miguel Macedo foram
três ministros que se demitiram por terem sido visados
criminalmente e que depois foram absolvidos. O primeiro-ministro,
António Costa, demitiu-se depois de saber que estava a ser
investigado. Qual é a responsabilidade do Ministério Público?
Nenhuma, segundo o Sindicato dos Magistrados.
TEXTO VALENTINA MARCELINO
O
ex-ministro da Admi-
nistração Interna,
Eduardo Cabrita, inves-
tigado pelo Ministério
Público (MP) pelo crime de homi-
cídio negligente pelo atropela-
mento de Nuno Santos, funcioná-
rio de uma empresa que realizava
trabalhos de manutenção na A6,
foi esta semana despronunciado
(não vai a julgamento) pelo tribu-
nal. Cabrita tinha anunciado a sua
demissão, em dezembro de 2021,
depois de ser conhecida a acusa-
ção sobre o seu motorista. Não foi
o primeiro governante, ou titular
de cargo público a demitir-se, vo-
luntária ou por imposição, depois
de ter sido visado num processo
judicial e que, no final, acabou ili-
bado.
Sucedeu o mesmo com o tam-
bém ex-ministro da Administra-
ção Interna do Governo PSD, Mi-
guel Macedo, e, no mesmo proces-
so designado por Vistos Gold, com
o ex-diretor nacional do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF),
Manuel Jarmela Palos; com o ex-
-ministro da Defesa, Azeredo Lo-
pes, e há mais tempo, com o depu-
tado e porta-voz socialista Paulo
Pedroso.
Até onde vai a responsabilização
do Ministério Público (MP) quan-
do é anunciado ou noticiado, ofi-
cialmente, como no recente caso
do primeiro-ministro António
Costa, ou por violação do segredo
de justiça, como em inúmeros
processos conhecidos, que os po-
líticos estão envolvidos em inves-
tigações e isso leva a demissões e a
danos reputacionais quase sem-
pre irrecuperáveis, como se de
uma “pena perpétua” se tratasse?
“A demissão de titulares de car-
gos políticos ou governantes na
sequência do conhecimento de
inquéritos em que são visados ou
quando constituídos arguidos é
uma decisão de foro estritamente
político e nada tem a ver com o
MP. Trata-se de uma avaliação po-
lítica do próprio. Num Estado de
Direito, democrático, ninguém
está acima de ser visado no âmbi-
to de uma investigação criminal e
existindo notícia de um crime o
MP está obrigado a iniciar o in-
quéritos, sem qualquer juízo de
oportunidade”, afirma Adão Car-
valho, presidente do Sindicato dos
Magistrados do Ministério Públi-
co (SMMP). O representante sin-
Para o presidente
do Sindicato
que representa
os procuradores,
“num Estado de
Direito, democrático,
ninguém está acima
de ser visado
no âmbito de uma
investigação criminal”,
o que “não quer dizer
que a pessoa vai ser
acusada ou condenada”.
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
dical dos procuradores lembra
que “o início de um inquérito não
quer dizer que a pessoa visada vai
ser acusada ou condenada, visa
essencialmente determinar se
existiu ou não crime e se o visado
é responsável pelo mesmo. Por
isso, o MP não pode ser responsa-
bilizado caso a pessoa não venha
a ser condenada ou sequer acusa-
da. Não pode é deixar de investi-
gar e cumprir a sua função”.
Cabrita despronunciado
O desempenho de Eduardo Cabri-
ta no Ministério da Administração
Interna foi marcado por diversas
controvérsias, a mais grave das
quais a morte do cidadão ucrania-
no Ihor Homeniuk na sequência
de agressões de três inspetores do
SEF. Mas nem este, nem o caso das
golas inflamáveis, nem as polémi-
cas com o SIRESP o levaram à de-
missão. Apenas quando foi conhe-
cido o despacho de acusação, por
homicídio negligente, do seu mo-
torista pelo atropelamento fatal
na A6 de um funcionário de ma-
nutenção das autoestradas, Cabri-
ta apresentou a sua demissão ao
primeiro-ministro.
Viria depois também a ser in-
vestigado, igualmente pelo crime
de homicídio negligente, mas na
fase de instrução do processo,
acabaria despronunciado. Mas o
estrago estava feito e irrecuperá-
vel para o antigo braço-direito de
António Costa, arredado da vida
política e cujo chumbo da candi-
datura que fez a um alto cargo na
Agência de Fronteiras Europeias
(FRONTEX) não foi, certamente,
alheio a este percurso.
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023
Azeredo Lopes e Tancos
Acusado em setembro de 2019 por
quatro crimes – denegação de Jus-
tiça, prevaricação, abuso de poder
e favorecimento pessoal de fun-
cionário – no inquérito que inves-
tigou o furto de material militar no
paiol de Tancos a 28 de junho de
2017, Azeredo Lopes foi julgado e
absolvido em janeiro de 2022. Em
causa estava o seu papel na inves-
tigação paralela da Polícia Judiciá-
ria Militar (PJM) à que estava a ser
realizada pela Polícia Judiciária,
sob titularidade do MP.
Azeredo Lopes, que tinha pedi-
do a demissão em outubro de
MARIA JOÃO GALA / GLOBAL IMAGENS
2018 quando começaram a vir a
público suspeitas de que tinha
encoberto as ilegalidades da PJM,
classificaria a acusação de ser
“eminentemente política” e pediu
Os ex-ministros Eduardo a instrução do processo. “Entrei
Cabrita, Azeredo Lopes neste processo com a cabeça le-
e Miguel Macedo. vantada, passei por este processo
com a cabeça levantada e saio
deste processo de cabeça levanta-
da, isto, para mim, como devem
compreender era muito impor-
tante”, afirmou quando foi conhe-
cido o despacho de absolvição.
O seu advogado, Germano
Marques da Silva, foi mais longe e
afirmou que o processo era “uma
vergonha”, que só tinha sido pos-
sível por “incompetência de to-
dos os que intervieram no pro-
cesso até ao início do julgamento,
na fase de inquérito, PJ, Ministé-
rio Público, instrução”. O advoga-
do defendeu ser necessário exigir
que as pessoas sejam “competen-
tes e responsáveis pelas asneiras
que fazem”.
RICARDO RAMOS / GLOBAL IMAGENS
Miguel Macedo e Manuel Palos
O designado processo como dos
Vistos Gold, que investigou corrup-
ção e favorecimentos na atribui-
ção das autorizações de residência
para investimento, foi dos maiores
desaires para o MP e teve como
consequência o fim da carreira po-
lítica de um dirigente do PSD em
ascensão, Miguel Macedo, e um
anátema que ainda dura sobre o
ex-diretor do SEF, Manuel Palos.
Foram ambos integralmente ab-
solvidos dos crimes de que foram
acusados, mas os danos causados
são irrecuperáveis.
O ex-ministro da Administra-
ção Interna do Governo de coli-
gação de Pedro Passos Coelho e
Paulo Portas, demitiu-se em no-
vembro de 2014, no dia em que o
MP lhe imputou o alegado favo-
recimento de um grupo de pes-
soas que pretendia lucrar de for-
ma ilícita com a atribuição de vis-
tos gold, realizando negócios
MARIA JOÃO GALA / GLOBAL IMAGENS
imobiliários lucrativos com em-
presários chineses que preten-
diam obter estes vistos especiais.
“Apesar de não ter qualquer
responsabilidade pessoal, no pla-
no político as circunstâncias são
de natureza distinta”, afirmou na
altura. “O ministro da Adminis-
tração Interna tem de ter sempre
uma forte autoridade para o exer-
PGR não
esclarece
afastamento da
Polícia Judiciária
“É estranho a Polícia Judiciária
ficar fora destas
investigações. É a mais
apetrechada e mais
experiente. Tem um
departamento específico para
esta criminalidade económica
e financeira. A competência
legal é em primeira linha sua.
Estranho. A ideia que fica é
que o MP desconfia desta
polícia”, escreveu esta quarta-
-feira, no jornal Público, o
presidente da Associação
Sindical dos Juízes
Portugueses, Manuel Ramos
Soares, a propósito de as
buscas no âmbito do inquérito
do Departamento Central de
Investigação e Ação Penal,
sobre os negócios do lítio e do
do hidrogénio, terem contado
com o apoio da PSP e da
Autoridade Tributária.
Contactada pelo DN para
clarificar esta situação, a PGR
não quis responder. “De
momento, nada a acrescentar
à informação já prestada”,
declarou o porta-voz. Da parte
do Sindicato dos Magistrados
do Ministério Público, não há
nada de excecional. “O MP
tem competência
investigatória própria e,
portanto, pode conduzir
diretamente a investigação
socorrendo-se para
determinados atos, por falta
de meios próprios, de
qualquer órgão de polícia
criminal. Tal não representa
qualquer preterição da PJ”,
afirma o presidente Adão
Carvalho. “Só se a
investigação tivesse
começado por os factos terem
sido comunicados à PJ é que
era necessário decisão da PGR
a determinar que a
investigação fosse de outro
órgão de polícia criminal, tal
como resulta da lei de
organização da investigação
criminal. Tendo começado no
MP, não tem de delegar na PJ e
muitas investigações são
conduzidas diretamente pelo
MP”, acrescentou. A direção
nacional na PJ não quis
comentar.
cício pleno das suas responsabi-
lidades. Essa autoridade ficou di-
minuída”, acrescentou, justifi-
cando ainda a demissão “em de-
fesa do Governo e da autoridade
do Estado”.
Foi acusado de prevaricação de
titular de cargo político e tráfico
de influência. Ainda a quente, de-
pois de ouvir a sentença que o ab-
solveu, falou do fundo da alma:
“Foi a resposta às canalhices que
me fizeram nos últimos quatro
anos”, declarou. O seu advogado,
Castanheira Neves reagiu dizen-
do que “a montanha nem sequer
um rato conseguiu parir”.
Miguel Macedo nunca mais quis
voltar à política e é advogado na
sua terra natal, Braga.
No mesmo dia, outro homem,
alto-dirigente que foi o primeiro di-
retor nacional de uma Polícia a ser
detido, foi também absolvido de
todos os crimes de que tinha sido
acusado – um de corrupção passi-
va e dois de prevaricação. Sobre ele
o tribunal disse não ter “quaisquer
dúvidas” de que “tudo fez de acor-
do com os procedimentos do SEF”.
Detido, sob ordem do juiz de
instrução Carlos Alexandre, a 13
de novembro de 2014, esteve na
cadeia durante cinco dias e depois
cerca de quatro meses com pulsei-
ra eletrónica. Por ordem do mes-
mo magistrado viu os seus bens
apreendidos e durante cerca de
dois anos Manuel Palos, que esta-
va na Direção Nacional do SEF há
14 anos, não recebeu qualquer sa-
lário. “Foram quatro anos de pesa-
delo que ainda hoje não percebi
porque aconteceram. O próprio
tribunal reflete isso quando diz
que não tem quaisquer dúvidas de
que não cometi nenhum crime.
Passados estes anos, não sei por-
que fui detido, não sei o quê ou
quem esteve por trás”, disse, na
ocasião, em entrevista ao DN.
Não quis falar ao DN presente-
mente, por exercer funções pú-
blicas e não estar autorizado a
prestar declarações. É oficial de li-
gação para a imigração em Ma-
O ex-ministro Miguel
Macedo demitiu-se
por entender que a
sua autoridade ficara
“diminuída” depois de
terem vindo a público
notícias de que estava
sob suspeita. Foi
absolvido de todos os
crimes e reagiu assim:
“Foi a resposta às
canalhices que me
fizeram nos últimos
quatro anos.”
9
drid, na dependência da nova
Agência para a Integração, Migra-
ções e Asilo. Só em meados de
2021 foi ressarcido dos salários e
desistiu de um pedido de indem-
nização contra o Estado. “O mal
está feito, não há recuperação
possível, é um anátema que não
desaparece. Quando googla o seu
nome a primeira coisa que apare-
ce e este processo e a sua deten-
ção e não todos os anos de traba-
lho que dedicou ao SEF”, confi-
dencia uma fonte do ex-SEF que
lhe é próxima.
Paulo Pedroso indemnizado
Era deputado e porta-voz do Par-
tido Socialista (PS), em 2003,
quando foi detido do parlamen-
to, filmado por canais de televi-
são, sob suspeita da prática de re-
lações sexuais com rapazes da
Casa Pia, no âmbito do processo
que envolveu figuras públicas. Fi-
cou em prisão preventiva duran-
te sete meses.
Em maio de 2004, o Tribunal de
Instrução Criminal de Lisboa de-
cidiu não levar o dirigente socia-
lista a julgamento, por existirem
sérias dúvidas sobre a forma
como Paulo Pedroso foi identifi-
cado pelas alegadas vítimas de
abuso sexual, decisão que foi
confirmada em 2005 pelo Tribu-
nal da Relação.
Paulo Pedroso queixou-se en-
tão ao Tribunal Europeu dos Di-
reitos do Homem pela sua deten-
ção sem evidências relevantes da
prática dos crimes que lhe foram
imputados pelo Ministério Públi-
co. Quando foi libertado da pri-
são, dirigiu-se imediatamente
para a Assembleia da República,
tendo sido recebido em apoteose
pelos seus colegas de partido,
num gesto que, na altura, gerou
muita controvérsia.
Em junho de 2018, o TEDH
condenar o Estado a indemnizar
Pedroso em 68.555 euros, ainda
assim, abaixo dos 450 mil que pe-
dia. Segundo a decisão do tribu-
nal, no momento da detenção do
ex-ministro, que ficou em prisão
preventiva, “não havia suspeitas
plausíveis de abuso sexual por-
que não tinha sido identificado
pessoalmente” pelas vítimas. As
razões apresentadas para a sua
detenção “não eram relevantes
nem suficientes”, tal como já ti-
nha sido decidido pelo Tribunal
de Relação em 2003, acrescentou
o TEDH.
“Finalmente fica reconhecido
que, em Portugal, quem é preso
ilegalmente e sem fundamento
tem direito a ser indemnizado”,
disse o advogado Celso Cruzeiro.
Paulo Pedroso, por seu lado, de-
clarou ao DN: “Só hoje voltei ver-
dadeiramente a ser livre. Ponto fi-
nal, finalmente, no processo em
que fui envolvido erradamente e
tratado em certos momentos de
modo ilegal, injusto e atentatório
dos Direitos Humanos.”
valentina.marcelino@dn.pt

10 POLÍTICA
Bolieiro não se demite e acusa
oposição de ter “ciúme do sucesso”
AÇORES Aprovação das contas regionais parece cada vez mais longe. Saída em caso de chumbo
já foi afastada. Presidente do Governo dos Açores garante estar do lado da “responsabilidade”.
TEXTO RUI MIGUEL GODINHO
A
11 dias do debate (que
acontece dia 20), o Plano
e Orçamento dos Açores
para 2024 ainda não tem
aprovação garantida. E depois do
anúncio do voto contra de um de-
putado do Chega (eleito como in-
dependente), as perspetivas apon-
tam cada vez mais para um chum-
bo. Ou seja: o Governo Regional
liderado por José Manuel Bolieiro
pode estar em risco, caso não con-
siga ver o seu Orçamento viabiliza-
do.
Mas, garante um vogal da Co-
missão Política Regional do PSD,
caso o Executivo não tenha o Orça-
mento aprovado, a demissão nem
se coloca – e Bolieiro governará, as-
sim, em duodécimos. “Se aconte-
cer, a responsabilidade do chumbo
ficará com os partidos que chum-
barem o Orçamento e o Governo
prosseguirá as suas funções e as
suas tarefas”, assegurou Pedro Go-
mes há uma semana. Já na passada
terça-feira à noite, foi o próprio Jo-
sé Manuel Bolieiro a disparar críti-
cas à oposição, acusando-a de pro-
curar “a desestabilização” por ter
“ciúme do sucesso” do Governo
por si chefiado – o primeiro do PSD
nos Açores desde 1996, ano em que
a governação passou para o PS.
Em declarações numa iniciativa
dos trabalhadores sociais-demo-
cratas açorianos, em Ponta Delga-
da, José Manuel Bolieiro conside-
rou que se está a viver “um mo-
mento político decisivo na demo-
cracia autonómica dos Açores, no
último ano da legislatura deste Go-
verno [as eleições acontecem em
outubro do próximo ano]”.
Na opinião do governante, a
oposição não está focada “no julga-
mento da eficácia governativa, dos
resultados das políticas públicas,
mas sim no ato eleitoral, que pode
dar volume eleitoral e de represen-
tatividade à coligação que está no
Governo e, eventualmente, criar di-
ficuldades aos outros partidos”.
“Nós estaremos do lado da respon-
sabilidade da boa governação. Nós
estaremos do lado do referencial da
estabilidade. Nós estaremos no
lado da humildade de nos sujeitar-
mos ao julgamento do povo na
data certa das eleições. É assim que
a democracia madura funciona”,
asseverou José Manuel Bolieiro,
concluindo: “É para este exercício
que estou disponível, como cida-
José Manuel Bolieiro é presidente do Governo Regional desde 24 de novembro de 2020.
dão, a dar o meu contributo à polí-
tica autonómica e democrática na
governação dos Açores.”
O que conduziu
a este desfecho?
Desde 1996 que os Açores eram go-
vernados pelo PS. Primeiro por
Carlos César (atual presidente do
partido) e depois por Vasco Cordei-
ro. Mas a governação da região au-
tónoma ‘virou’ em 2020, nas últi-
mas Regionais – que os socialistas
até ganharam, mas não consegui-
ram formar Governo.
A direita (PSD+CDS+Chega+IL
+PPM) junta tinha mais deputados
e José Manuel Bolieiro envidou es-
forços e chegou a acordos para
conseguir governar. Acabava, ao
fim de duas décadas, o domínio so-
cialista na região. Mas a solução go-
vernativa não foi isenta de críticas,
sobretudo pela inclusão do Chega
no acordo. O próprio Marcelo Re-
belo de Sousa não ficou agradado.
Dizia, então, após uma reunião
com autarcas da zona centro:
“Nem o representante [da Repúbli-
ca] ou o Presidente tinham de gos-
tar ou desgostar. Agora, sabem a
minha posição, que é antiga, sobre
partidos antissistémicos.”
Não obstante, em entrevista ao
DN em julho do ano passado, José
Manuel Bolieiro defendia a solução
encontrada para a região. “Foi mui-
to cirúrgica”, porque incluía “Che-
ga e Iniciativa Liberal, sem, com
isso, abdicar das convicções, prin-
cípios e valores”.
No entanto – e esse é o motivo
desta incerteza –, os deputados da
Iniciativa Liberal e do Chega saí-
ram do acordo. Isto deixa PSD,
CDS e PPM com 26 deputados no
Parlamento regional, contra 31 da
oposição.
A situação encontra algum para-
lelo (ainda que com as devidas di-
No Governo Regional
desde 2020,
José Manuel Bolieiro
é o primeiro
presidente não-PS
à frente dos destinos
dos Açores
desde 1996.
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
CRONOLOGIA
OUTUBRO/NOVEMBRO
DE 2020
PS-Açores ganha as eleições.
Não há uma maioria de
esquerda que permita formar
Governo. PSD-Açores, CDS-
-Açores e PPM-Açores assinam
acordo governativo. A 6
de novembro, o Chega anuncia
ter chegado a acordo para
viabilizar, segue-se-lhe a IL.
No mesmo dia (7 de
novembro), Bolieiro é
indigitado para formar. O PSD
ratifica os acordos de
incidência parlamentar dias
depois.
MARÇO DE 2023
Após dois anos e meio de
Governo, a solução encontrada
por José Manuel Bolieiro sofre o
primeiro abalo: Nuno Barata, da
Iniciativa Liberal, anuncia a
saída do acordo. Segue-se
depois Carlos Furtado,
independente eleito pelo
Chega, que divulga o fim do
acordo de incidência
parlamentar. As forças que
MIGUEL MACHADO / GOVERNO DOS AÇORES
apoiam o Governo passam a
contar com 26 deputados,
contra 31 dos restantes
partidos. Aquando do fim do
acordo, Carlos Furtado
explicava, em comunicado,
que “a decisão estava tomada”
e que “a continuada aprovação
de iniciativas avulsas na
Assembleia Regional só para
satisfazer caprichos de
partidos que vendem caro a
sua incidência parlamentar,
é algo intolerável”. “Não
ferenças) a nível nacional, quando obstante ter-me desvinculado
Bloco de Esquerda e PCP não viabi- deste compromisso, que foi
lizaram o Orçamento do PS para sendo variadas vezes
2022, levando o Presidente da Re- incumprido pelos partidos que
pública a dissolver a Assembleia, compõem a coligação, vou
convocando eleições antecipadas. continuar a procurar ser o
deputado responsável que
Os cenários possíveis sempre procurei ser.
Tal como no Governo central, o fu- Os Açores merecem a nossa
turo é incerto. Olhando de imedia- melhor atenção e respeito”,
to, há dois cenários mais simples: o dizia então.
Plano e Orçamento é aprovado e
Bolieiro governa normalmente; ou OUTUBRO/NOVEMBRO
o Orçamento é chumbado e, efeti- DE 2023
vamente, o Governo recorre a duo- A incerteza continua e, não
décimos. Pode ainda apresentar tendo maioria, o PSD pode não
uma nova proposta, até 21 de feve- conseguir fazer aprovar o Plano
reiro. e Orçamento. Ainda assim, um
Se essa proposta for chumbada, dos vogais da Comissão
o representante da República ouve Política Regional do PSD-
os partidos, o Presidente (que tem -Açores atira responsabilidades
a última palavra sobre o assunto) para a oposição. “Se acontecer,
convoca o Conselho de Estado, dis- a responsabilidade do chumbo
solve a Assembleia Regional e mar- ficará com os partidos que
ca eleições no máximo em 55 dias. chumbarem o Orçamento e o
Ou seja: um processo em tudo Governo prosseguirá as suas
igual ao que decorre neste mo- funções e as suas tarefas”, diz
mento a nível nacional, após a de- Pedro Gomes. Dias depois,
missão de António Costa. Se hou-
ver eleições nos Açores, a tomada
José Manuel Bolieiro vai
na mesma direção e diz:
de posse acontecerá, previsivel- “Nós estaremos do lado da
mente, em agosto de 2024. Com responsabilidade da boa
isso, o Plano e Orçamento acabará governação. Nós estaremos
aprovado no início de 2025. do lado do referencial
rui.godinho@dn.pt da estabilidade.”
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 11

“O Grupo dos 80”

Opinião
homenageado em livro
Pedro Marques ARMADA A obra pretende retratar a resistência de um grupo
de oficiais da Marinha durante o Verão Quente de 1975.

António Costa

E
sta semana, sem saber ain- que, mesmo assim, bateu todos os
da o que dirá o Presidente recordes de investimento externo.

da República sobre esta
crise política que se abriu,
cabe elogiar o homem que nos
conduziu pelas tormentas dos últi-
mos oito anos.
António Costa, que no início co-
meçou a governar por entre des-
confianças dos portugueses e dos
europeus, construiu muito rapida-
mente a herança pela qual ficará
para a História: afinal havia uma al-
O primeiro-ministro que acabou
(em definitivo, espera-se) com a
ideia do Portugal poucochinho e
pobrezinho.
António Costa cai às mãos de
uma decisão do sistema de justiça
cuja independência decidiu prote-
ger sempre. Uma obsessão que
mantém mesmo quando é esta que
o leva a deixar o lugar em que pres-
tou o serviço maior a Portugal. Pro-
A
ideia é “mostrar os
bastidores que leva-
ram ao 25 de Novem-
bro”. As palavras são de
José Ribeiro e Castro, presidente
da Sociedade Histórica da Inde-
pendência de Portugal (SHIP). A
instituição acolhe hoje, a partir
das 18.00 horas, a apresentação
do livro “O Grupo dos 80. A resis-
tência na Armada ao desvio tota-

RITA CHANTRE / GLOBAL IMAGENS

ternativa! Uma alternativa à políti-
ca de austeridade da direita euro-
peia e da troika.
A Europa viu, primeiro descon-
fiada e depois espantada, que tal
resultava. E, assim, depois se cons-
truiu uma resposta à crise covid
com muito menos sofrimento na
sociedade. O que teria sido desta
Europa se à pandemia se tivesse
respondido com a mesma receita
da crise financeira, com o cada um
por si?
Este é, para mim, o legado maior
de António Costa.
Mas será lembrado como pri-
meiro-ministro por muito mais.
Pela gestão da crise sanitária em
Portugal, protegendo os portugue-
ses o máximo possível da devasta-
ção do vírus.
Pelo recuperar da convergência
económica e social de Portugal
com a Europa. A década de conver-
gência com que sonhou só foi in-
terrompida por esta crise política,
mas há-de cumprir-se já na sua au-
sência.
Há-de ser lembrado como o pri-
meiro-ministro que escolheu como
primeira reforma estrutural a redu-
ção das desigualdades sociais, e
tege a democracia, escolhe o cami-
nho da dignidade.
Portugal perde. Perde um pri-
meiro-ministro corajoso, um timo-
neiro nas borrascas mais duras,
uma governação que oferecia vá-
rios anos de estabilidade para en-
frentar esta crise de custo de vida
que faz sofrer os portugueses.
Esta não é uma situação sem ris-
cos. As instituições democráticas
têm de retirar ilações desta situa-
ção, pois ela terá sérias consequên-
cias para o funcionamento da de-
mocracia.
Para que a nossa Democracia se
mantenha minimamente saudá-
vel, é essencial que este processo-
-crime a um primeiro-ministro não
tenha sido iniciado apenas com
base, por exemplo, numa qualquer
escuta em que o seu nome foi refe-
rido por terceiros. A Justiça goza
corretamente de total independên-
cia, essa é uma regra básica do Esta-
do de Direito, mas deve ser possível
escrutinar as suas decisões. Todas
as instituições democráticas de-
vem zelar pelo bom funcionamen-
to de todos os pilares do regime, a
começar por elas próprias.
Eu, por mim, estarei na linha da
litário pós 25 de Abril”. “Sabe-
mos como funcionou o Proces-
so Revolucionário em Curso
(PREC) e, antes o 25 de Abril, sa-
bemos também que havia movi-
mentações desde março [de
1975], sobretudo dentro das uni-
dades militares e que acabaram
por culminar no 25 de Novem-
bro. Por isso, os eventos aqui re-
latados são factos que acabaram
por proporcionar isso”, explica
ao DN o presidente da SHIP.
Ribeiro e Castro refere tam-
bém que a sociedade “acolheu
com bom grado” a iniciativa.
Em comunicado, a SHIP e um
dos autores da obra referem que
é intenção retratar o ambiente
que se vivia na Armada durante
o chamado Verão Quente, em
1975. “Um grupo de oficiais, afir-
mando-se pela palavra e com
claras intervenções nas mais di-
versas iniciativas no âmbito da
Marinha, sempre que a oportu-
nidade o permitia, fez frente a
esse desvio totalitário pós 25 de
Abril”, dizem na nota.
“A bem da memória histórica”,
Ribeiro e Castro, líder da SHIP, presidirá à apresentação do livro.
O Grupo dos 80.
A resistência na Armada
ao desvio totalitário
pós 25 de Abril.
foi então assumida a missão de
recordar esse movimento de re-
sistência. Foi, acima de tudo, di-
zem os autores, “uma missão as-
sumida como uma obrigação cí-
vica e moral”: a de “não permitir
que ficasse ignorada e caísse no
esquecimento a ação desse pu-
nhado de oficiais.”
A apresentação – que aconte-
ce no Salão Nobre da SHIP – fica-
rá a cabo do sociólogo António
Barreto. Os almirantes Balcão
Reis e Alexandre da Fonseca
“evocarão a história do grupo” e
“referirão a momentos marcan-
tes ou pitorescos do conturbado
período” antes do 25 de Novem-
bro. R.M.G.

17
frente dos que jamais deixarão de PUB

lutar para que Portugal tenha uma

VALORES
Primeiros socorros
na Escola
De acordo com a Estratégia
Nacional de Proteção Civil
Preventiva, todos os jovens no
10.º ano de escolaridade vão ser
instruídos para suporte básico de
vida. O Município de Mangualde
será o primeiro a avançar com
esta iniciativa, que mais tarde se
deverá estender a todo o país.
democracia sólida, europeia e plu-
ral.
Gostaria de dizer que tenho a
convicção de que este processo
será esclarecido rapidamente. Não
consigo.
Mas posso garantir que António
Costa tem futuro. Deixa um legado
demasiado importante para que
não o aproveitemos.
E o PS tem futuro. O legado des-
tes oito anos perdurará na memó-
ria dos portugueses, será recordado
cada vez mais, à medida que este
processo for sendo esclarecido.
A seguir ao tempo, tempo virá.
Eurodeputado

12 SOCIEDADE
Grande parte da população portuguesa vive em casa própria.
Seis em cada dez pessoas
tem dificuldade em pagar casa
ESTUDO Primeiro barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos sobre a crise na
habitação revela que em média os agregados pagam 573€ mensais fixos com o empréstimo ou a
renda. Os arrendatários do setor privado são aqueles com custos mais elevados (679 euros/mês).
TEXTO PAULA SOFIA LUZ
U
ma em cada quatro pes-
soas inquiridas pela Fun-
dação Francisco Manuel
dos Santos (FFMS) já viu
importantes decisões de vida condi-
cionadas por causa das dificuldades
no acesso à habitação.
Esta é uma das principais conclu-
sões do barómetro da Fundação
que traça um retrato daquele que é,
neste momento, um dos maiores
dramas da sociedade portuguesa: a
crise na habitação.
Depois de, em julho deste ano, ter
divulgado o policy paper “A crise da
habitação nas grandes cidades” e, em
2022, o estudo“O Mercado Imobiliá-
rio em Portugal”, a FFMS aumenta
agora o volume de dados disponíveis
sobre este setor, através do baróme-
tro “que permitirá ter mais e melho-
res dados sobre as condições em que
as famílias vivem, as necessidades e
dificuldades que enfrentam, e as suas
perceções e convicções sobre este
tema”, disse ao DN fonte daquela ins-
tituição. Para tal, foram ouvidas“mais
de 1000 pessoas, num inquérito exe-
cutado pela DOMP, S.A., que resultou
num relatório da autoria de Alda Aze-
vedo (ICS-ULisboa) e João Pereira
dos Santos (ISEG)”.
As conclusões sublinham que a
população inquirida reside, em mé-
dia, há 20 anos na casa em que vive
atualmente. A maioria vive em casa
própria (66%), sendo que destes,
31% ainda estão a pagar emprésti-
mo. De entre os arrendatários
(17,2%), um em cada seis não tem
contrato escrito.
O universo deste estudo é com-
posto por 1086 residentes em Portu-
gal Continental, dos quais 52% são
homens e 48% mulheres, com uma
idade média que ultrapassa os 51
anos. Do total, 22% dos inquiridos
tem entre 18 e 34 anos, 33% entre 35
e 54 anos, e 45% tem 55 ou mais
anos. O trabalho de campo decorreu
entre meados de agosto e 17 de se-
tembro.
As decisões de vida
que [os inquiridos]
afirmam terem sido
mais condicionadas
são mudar
de localidade
de residência (35%),
sair de casa dos pais (32%),
ir viver sozinho/a
(28%) ou casar/ir viver
com outras pessoas.
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
É certo que a maioria dos inquiri-
dos (81%) diz-se satisfeita com a casa
em que reside, mas dois terços iden-
tificam reparações ou melhorias ur-
gentes a fazer na sua habitação. À ca-
beça, estão a necessidade de isola-
mento das janelas e/ou das portas
(15,1%), a reparação de infiltrações
ou situações de humidade no teto e
nas paredes (10,7%), e a pintura de
paredes (9,9%).
O risco de perder a casa
Um em cada nove inquiridos (12%)
pensa estar em risco de perder a sua
casa nos próximos cinco anos, pelo
aumento da renda ou da prestação
do crédito à habitação (50%) ou por
iniciativa do senhorio (28%). Se ti-
vessem de sair da casa onde vivem,
34% dos inquiridos referem que não
teriam para onde ir, ou seja, necessi-
tariam de alguma forma de apoio
social.
Ana Santos, professora do Ensino
Básico e residente num bairro habi-
PEDRO CORREIA / GLOBAL IMAGENS
tacional de Coimbra, configura um
desses casos, tal como admitiu ao
DN. Há oito anos que mora com os
dois filhos menores num T2 arrenda-
do, para onde se mudou depois do
divórcio. “Já renovei o contrato, mas
vivo na angústia de o senhorio querer
arrendar a casa em quartos a estu-
dantes, como está a acontecer em vá-
rios locais da cidade”, relata. E por isso
nada neste barómetro a surpreende:
“Parece-me que a maioria dos portu-
gueses não tem noção do que é viver
com esta incerteza, que ainda por
cima afeta mais as mulheres, sozi-
nhas e com filhos”, acrescenta.
No universo dos inquiridos pelo
menos um em cada quatro (27%) re-
fere que o acesso à habitação já con-
dicionou decisões diversas de vida,
desde 2015. A percentagem é maior
entre os arrendatários e os mais jo-
vens (36% para a faixa etária 18-34
anos, e 33% para a faixa 35-54 anos).
As decisões de vida que afirmam te-
rem sido mais condicionadas são
mudar de localidade de residência
(35%), sair de casa dos pais (32%), ir
viver sozinho/a (28%) ou casar/ir vi-
“Não obstante fortes diferenças ver com outras pessoas.
regionais, os agregados que têm Numa escala de 1 (mais importan-
custos com a casa (51%) despen- te) a 6 (menos importante), o fator
dem, em média, 573 mensais fixos que mais inquiridos consideram que
com o empréstimo ou a renda, e os explica a atual situação do mercado
arrendatários do setor privado são imobiliário é o baixo investimento
aqueles com custos mais elevados público em habitação (22,4%). A fal-
(679 euros/mês). 62% destes agre- ta de casas disponíveis surge de se-
gados, isto é, 6 em cada 10 pessoas, guida (22,3%), mas este é também o
sentem algum grau de dificuldade fator considerado como o menos im-
em fazer face aos custos mensais portante por mais inquiridos (24,7%).
com a habitação, e 13%, ou seja, 1 O terceiro fator apontado como
em cada 8, sentem mesmo grande mais importante diz respeito às de-
dificuldade em pagar as despesas”, ficiências na regulação do mercado
sublinham os autores do estudo que da habitação (20,1%). “Estes fatores,
permitiu este barómetro. relacionados com a oferta, prevale-
Mais de metade dos inquiridos cem na perceção dos inquiridos, em
apontam como fator essencial na detrimento de outros que se relacio-
escolha da habitação tratar-se de nam com a procura. Não obstante,
uma casa que consigam pagar. Re- verifica-se uma grande dispersão
ferem em segundo lugar a (boa) nas respostas dos inquiridos, de-
acessibilidade e transportes e, logo monstrando a falta de consenso so-
depois, a proximidade ao local de
estudo ou trabalho. A qualidade da
bre o diagnóstico das causas da cri-
se na habitação”, sustentam os auto-
habitação surge apenas em quarto res do estudo.
lugar. paula.sofia.luz@ext.dn.pt
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023
Sindicatos dos médicos só retiram
protestos após decisão de Marcelo
NEGOCIAÇÃO Ao fim de 18 meses, as reuniões s entre tutela e médicos estão suspensas.
A demissão do primeiro-ministro levou a isso. Todos aguardam a decisão do Presidente da
República, mas o que já foi negociado até aqui pode ir por água abaixo.
TEXTO ANA MAFALDA INÁCIO
A
s últimas reuniões dos
sindicatos dos médicos
com o Ministério da Saú-
de foram sempre consi-
deradas como “a derradeira”, mas
destas não saiu fumo branco e o
mesmo se antevia para o encontro
de ontem – este acabou por ser can-
celado ao início da noite de terça-fei-
ra, já depois de ter sido confirmado
à tarde pela tutela e quando já era co-
nhecida a demissão de António Cos-
ta. A questão que se coloca agora é o
que irá acontecer ao que foi negocia-
do com a tutela nos últimos 18 me-
ses, sobretudo nas últimas reuniões
em que houve avanços relativamen-
te a duas reivindicações dos médi-
cos: o horário semanal de 35 horas
para os médicos que quiserem e a re-
posição das 12 horas de urgência, de
forma faseada, em vez das 18 a que
estavam agora obrigados. Em cima
da mesa, estava ainda um dos pon-
tos mais quentes desta negociação:
a revalorização salarial dos médicos.
Neste momento, as negociações
estão suspensas, mas do lado da tu-
tela a agenda do ministro e dos se-
cretários de Estado, no que se refe-
re a eventos, vão ser mantidas, con-
firmaram ao DN. Os sindicatos
médicos aguardam a decisão do
Presidente da República sobre a so-
lução para o país. A presidente da
Federação Nacional dos Médicos
Dezoito meses de negociação com os médicos podem ir por água abaixo.
(Fnam), Joana Bordalo e Sá, disse ao
DN que, para já, “mantemos a nos-
sa agenda que integra dois dias de
greve nacional na próxima semana,
14 e 15”, uma manifestação à porta
do Ministério da Saúde, bem como
a ida a Bruxelas para um encontro
com a Comissária para a área da
Saúde, Stella Kyriakides, dia 17, pe-
las 11.00 horas.
A dirigente sublinhou ainda que
uma coisa é certa para a Fnam, ape-
sar da demissão do primeiro-minis-
tro e da queda do Governo: “Conti-
nuaremos a defender o Serviço Na-
cional de Saúde (SNS) e os direitos
dos médicos”. Por isso mesmo, e no
caso de a estrutura suspender os
protestos agendados, Joana Borda-
lo e Sá afirma que a federação “con-
tinuará a dar apoio a todos os médi-
cos que queiram manter declara-
ções de escusa para não fazerem
mais horas extras do que as legais”.
“Estes colegas estarão sempre sal-
vaguardados, é uma decisão pes-
soal e dentro da lei”, frisa a presiden-
te da Fnam, acrescentando: “A nos-
sa estrutura não emite opiniões
políticas sobre a situação, mas la-
mentamos, porque do ponto de vis-
ta do SNS, isto vem piorar e muito o
seu funcionamento e pode levar a
mais saídas de médicos.”
O secretário-geral do Sindicato
Independente dos Médicos (SIM)
disse também ao DN que vai lítica e o balanço que o SIM faz é que
“aguardar a decisão do Presidente “ao fim de oito anos de governação
da República”, adiantando, no en- do PS e de 18 meses de negociação
tanto, o que irá fazer se o país for com este ministério, não se ter che-
“para um cenário de eleições ante- gado a um acordo não abona nada
cipadas”: “Suspenderemos os pro- a favor deste ministro”.
testos, nomeadamente a greve às Recorde-se que, em relação à va-
horas extras nos cuidados primá- lorização salarial, os sindicatos rei-
rios, e faremos um apelo aos médi- vindicam aumentos de 30% para to-
cos para que, sendo uma decisão in- dos os médicos e não só para os que
dividual, aceitem seguir esta orien- aceitem o regime de dedicação ple-
tação”. Jorge Roque da Cunha na ou que trabalhem em Unidades
explicou que, “num ambiente de de Saúde Familiar, como defende a
crise política e com um Governo de tutela na proposta apresentada às
gestão, que pouco ou nada pode de- duas estruturas. Até porque, a maio-
cidir, não faz sentido manter estes ria dos médicos trabalha em regime
protestos. Teremos de aguardar”. de 40 e de 42 horas e não seria atin-
No entanto, e em relação aos dois gida por qualquer aumento signifi-
decretos sobre o funcionamento cativo.
das Unidades de Saúde Familiar A presidente da FNAM explicava
(USF) e regime de dedicação exclu- ao DN, na segunda-feira, que face
siva, que foram publicados nesta ao “aumento proposto pela tutela
terça-feira, no próprio dia em que o de 8,5% – 5,5% e mais 3% do au-
primeiro-ministro pediu a demis- mento para toda a Função Pública –
são, tanto a Fnam como o SIM já haveria médicos que teriam um au-
reafirmaram que vão manter a luta mento líquido de 75 cêntimos e isto
contra estes, pois consideram que, é inaceitável”. O ex-bastonário Mi-
além de não integrarem qualquer guel Guimarães recordou na mes-
proposta dos sindicatos, possuem ma altura que “há um dado inegável
artigos que “violam direitos consti- que é o de os médicos portugueses
tucionais”. O dirigente do SIM con- serem dos mais mal pagos da UE e
firmou que o secretariado nacional de haver duas classes profissionais
vai reunir para analisar os decretos que nos últimos dez anos perderam
e começar a trabalhar no que consi- poder de compra: os médicos e os
deram que precisa de ser alterado. investigadores”.
O país mergulhou numa crise po- Nos últimos tempos, os apelos
para que tutela e médicos chegas-
sem a um acordo chegaram de to-
dos os lados. Desde o próprio dire-
tor-executivo do SNS, Fernando
Araújo, a ex-secretários de Estado:
Lacerda Sales, segunda-feira, na Re-
nascença, defendeu também que o
ministro da Saúde não podia estar
sozinho nesta negociação, devendo
ter o apoio dos ministros das Finan-
ças e da Administração Pública. O
novo bispo de Setúbal fez o mesmo,
pedindo a médicos e tutela que se
entendessem.
Na segunda-feira, os dirigentes
das duas estruturas diziam ao DN
que os médicos estavam a ficar can-
sados de uma negociação tão longa
PEDRO CORREIA / GLOBAL IMAGENS
e o risco que se corria era o de haver
ainda mais saídas do Serviço Nacio-
nal de Saúde. Por agora, há cerca de
40 unidades de norte a sul do país
com constrangimentos nos Servi-
ços de Urgência, devido aos pedidos
de escusa de profissionais para não
realizarem mais do que as 150 horas
extras previstas na legislação.
anamafaldainacio@dn.pt
13
BREVES
Vítimas de Abuso
querem “pedido
de perdão”
A Associação de Vítimas de
Abuso na Igreja em Portugal
manifestou, em carta aberta
aos bispos católicos
portugueses, “tristeza,
desagrado e indignação”
pela forma como têm “lidado
com o tema dos abusos sexuais
na Igreja que conduzem”. Na
carta, datada de 2 de
novembro, mas conhecida
ontem, a associação Coração
Silenciado considera que,
“nove meses depois da
apresentação do relatório da
comissão criada (...) para o
estudo deste tema, (...) muito
poucas foram as ações
desenvolvidas e as atitudes
concretas levadas a cabo”.
Recorrendo a um texto da
Pontifícia Comissão de
Proteção de Menores que
expressa “profunda tristeza e
inabalável solidariedade, em
primeiro lugar, às vítimas e
aos sobreviventes de tantos
crimes desprezíveis
cometidos na Igreja”, a
Coração Silenciado diz
esperar dos bispos “um
pedido de perdão humilde e
sincero”.
PSP controla
260 mil pessoas
nos aeroportos
Mais de 260 000
passageiros foram
controlados pela PSP no
aeroporto de Lisboa na
primeira semana em que
assumiu as competências
do SEF no controlo de
fronteiras aéreas. Num
comunicado de balanço da
primeira semana em que a
Polícia de Segurança
Pública passou a ter a
responsabilidade do
controlo das fronteiras
aéreas, após a extinção do
Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras, o Comando
Metropolitano de Lisboa da
PSP indica que, entre 29 de
outubro e 5 de novembro,
foram controlados mais de
260 000 passageiros nas
fronteiras, 120 000 dos
quais nas partidas e
140 000 nas chegadas.
Durante o mesmo
período, a PSP recusou
entrada em Portugal a 29
cidadãos estrangeiros,
recebeu 18 pedidos de
asilo e deteve um
passageiro por uso de
documento alheio.
14 SOCIEDADE
Competir, Suplantar,
Responsabilizar
H
á dias, quando consulta-
va no dicionário o signi-
ficado de uma determi-
nada palavra, deparei-
-me com a definição, enquanto
verbo transitivo, de “competir”, o
que me fez pensar. Dizia então esse
dicionário, que competir é “preten-
der suplantar em valor ou qualida-
de”. E veio-me à cabeça que isso é
um dos principais objetivos das
nossas empresas, que estoicamen-
te têm conseguido superar, dia
após dia, as agruras das sucessivas
crises que, teimosamente, se lhes
atravessam no caminho.
E, ao contrário do que seria dese-
jável, a Proposta de Lei do Orça-
mento do Estado para 2024 (OE),
ainda em discussão na Assembleia
da República, é muito tímida no alí-
vio dessas agruras, é muito tímida
no incentivo ao crescimento e mui-
to tímida no que diz respeito ao
progresso das empresas, e, por ar-
rasto, da nossa economia.
Entretanto, eis que somos con-
frontados com a demissão do pri-
meiro-ministro e, com ela, uma
possível caducidade da Proposta
de Lei do Orçamento do Estado. Se
por um lado me preocupa muito o
facto de entrarmos numa crise po-
lítica, por outro, poderíamos ter
uma oportunidade. A oportunida-
de de termos uma nova proposta,
desta vez, mais condizente com as
necessidades das nossas empresas
e dos nossos negócios. Porém, de
acordo com notícias de última hora
o Presidente da República admite
adiar a publicação dos decretos de
demissão de Governo e de dissolu-
ção da Assembleia da República
para depois de 29 de novembro,
formalismo que permitirá salvar o
Orçamento do Estado para 2024.
Teremos de aguardar.
Mas uma coisa é certa, seria fun-
damental que a Proposta de Lei do
OE desse cabal resposta às carên-
cias sentidas por quem mais con-
tribui para o tal valor de que falava o
dicionário, não podendo ir em con-
traciclo com o mérito que ainda no
passado dia 31 de outubro, foi reco-
nhecido pelo IAPMEI – Agência
para a Competitividade e Inovação
e o Turismo de Portugal, que atri-
buiu os prémios PME Excelência
2022 a perto de 4000 empresas na-
Opinião
Ana Jacinto
cionais do turismo, da indústria e
do comércio e serviços.
A cerimónia, que se realizou em
Santa Maria da Feira foi o reflexo
não das medidas que deviam exis-
tir e ajudar as empresas a ser mais
competitivas, mas antes do empe-
nho e resiliência dos nossos empre-
sários. E esse tão precioso impulso
não se vislumbra na Proposta de
Lei do OE 2024.
Questiono como será possível
melhorar o rendimento das famí-
lias se a carga fiscal no nosso país
sobre os rendimentos do trabalho,
que é a maior, e única, forma de
rendimento da esmagadora maio-
ria dos nossos trabalhadores, se
mantém entre as mais elevadas da
OCDE?
Para inverter este cenário é ne-
cessária uma redução da Taxa So-
cial Única (TSU) paga por quem,
todos os meses, tem de garantir os
salários aos seus trabalhadores. E
aqui está uma equação simples de
resolver: reduzam-se os encargos
fiscais e as empresas terão, com
essa medida, maior capacidade
para continuarem o esforço de me-
lhoraria das condições salariais.
Com esta carga fiscal sobre o tra-
O verbo transitivo
“competir” também
quer dizer “ser
da responsabilidade
de ou da
competência de”. E
é bom que o OE que
vier a ser aprovado,
seja ele qual for,
possa fazer jus aos
dois significados
do dicionário.”
balho, parece-me óbvio que se
compromete também qualquer
tipo de iniciativa privada, seja na-
cional ou estrangeira, que busca
para os seus investimentos as me-
lhores condições, e Portugal não
está, neste particular, na linha da
frente, quer da atratividade, quer
da competitividade.
Aqui chegados, como é então
possível dizer-se que a Proposta de
Lei apresentada protege o futuro
quando, diariamente, “fogem” de
Portugal os nossos talentos, preci-
samente devido à falta de competi-
tividade, leia-se, melhores condi-
ções de trabalho, nomeadamente
salariais?
Haja coragem para resolver mais
esta equação, por exemplo, com
uma isenção temporária de em-
presas e trabalhadores da cobrança
de IRS e TSU para novos contratos
de trabalho sem termo, para jovens
à procura do primeiro emprego, e
durante os primeiros cinco anos de
vigência desses contratos.
Se a Proposta de Lei do OE2024
previu uma desaceleração da eco-
nomia portuguesa em 2024, com o
Produto Interno Bruto a crescer
apenas 1,5%, não se tornará ainda
mais urgente uma aposta em me-
didas que permitam maior criação
de riqueza às empresas e às famí-
lias em prol do futuro? Julgo que é
isto que “compete” ao Estado, aos
governos e a quem pensa nas pro-
postas que vai apresentar ao país
num Orçamento do Estado.
O verbo transitivo “competir”
também quer dizer “ser da respon-
sabilidade de ou da competência
de”. E é bom que o OE que vier a ser
aprovado, seja ele qual for, possa fa-
zer jus aos dois significados do di-
cionário. Que possa “apagar” este
sentimento de que há muita coisa
que não está bem no nosso país, e
que pudesse ser o reflexo da com-
petência do legislador e de quem
discute as leis e que essas leis per-
mitam a quem cria riqueza aumen-
tar a sua competitividade e contri-
buir para o progresso da economia
e do país. É pedir muito?
Secretária-geral da AHRESP – Associação
da Hotelaria, Restauração e Similares
de Portugal
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
Reformas. 3521 professores
e educadores deixaram
as escolas este ano
EDUCAÇÃO Saídas superaram quase em 50% as
aposentações no ano passado. Foram 262 educadores
e 3259 professores do Ensino Básico e Secundário.
E
ste ano reformaram-se
3521 professores, um
aumento de quase 50%
em relação ao ano pas-
sado, segundo um levantamen-
to feito com base na Lista de
Aposentados e Reformados pela
Caixa Geral de Aposentações.
A Lista de Aposentados e Re-
formados relativa ao mês de de-
zembro, publicada ontem em
Diário da República, permite fe-
char o número de professores e
educadores de infância que se
reformaram este ano: no total,
são 262 educadores de infância
e 3259 professores do Ensino
Básico e Secundário.
As contas foram feitas por Ar-
lindo Ferreira, diretor do Agru-
pamento de Escolas Cego do
Maio e especialista em Estatís-
ticas de Educação, que revela
que só em dezembro vão refor-
mar-se 371 educadores de in-
fância e professores.
Desde setembro, quando co-
meçou o ano letivo, aposenta-
ram-se 1415 docentes, muitos
dos quais com turmas atribuí-
das e que agora deixam os alu-
nos sem aulas, tal como vinha
alertando a Federação Nacional
de Professores (Fenprof).
Comparando com o ano an-
terior, verifica-se um aumento
de 46,6%, já que em 2022 refor-
maram-se 2401 docentes da
rede pública do Ministério da
Educação.
Na última década, aposenta-
ram-se 16 485 educadores e
professores ligados ao Ministé-
rio da Educação, tendo vincula-
do nesse mesmo período 25 522
docentes, segundo um levanta-
No próximo mês vão reformar-se 371 educadores e professores.
mento feito por Arlindo Ferrei-
ra.
A Direção-Geral de Estatísti-
cas da Educação e Ciência
(DGEEC) e uma equipa da Nova
School of Business & Econo-
mics realizaram um estudo em
2021 sobre as necessidades de
recrutamento das escolas, con-
cluindo que se nada fosse feito,
em 2030 iriam faltar 34 500 pro-
fessores.
Dos 120 369 docentes que es-
tavam a trabalhar em 2018,
“apenas 73 401 ainda não se te-
rão reformado no ano letivo
2030/31, o que corresponde a
uma redução de 39%”, lê-se no
estudo.
Os investigadores alertaram
para os efeitos de uma classe
envelhecida – a maior parte dos
professores tinha mais de 50
anos – e para a necessidade ur-
gente de contratar mais profis-
sionais.
As projeções apontavam para
a necessidade de contratar, en-
tre 2021/22 a 2030/31, uma mé-
dia de 3450 novos docentes por
ano, um valor abaixo das saídas
mas que tinha em conta tam-
bém a contínua diminuição de
alunos nas escolas.
Perante este estudo, o minis-
tério da Educação tem levado a
cabo um conjunto de medidas
para incentivar o regresso de
professores às escolas mas tam-
bém para atrair os mais jovens
para a profissão. No entanto, os
sindicatos têm defendido que
as medidas são insuficientes
para tornar a profissão atraen-
te.
DN/LUSA
JOSÉ CARMO / GLOBAL IMAGENS
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 15

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CIMEIRA CASCAIS
RUMO A UM MUNDO NET ZERO
Uma oportunidade em construção
Dois dias para discutir o futuro da mobilidade num mundo em mudança.
Num ano em que foram batidos sucessivos recordes de temperatura,
é cada vez mais evidente a urgência na ação climática. Rumo a um mundo
Net Zero, debatemos soluções inovadoras e identificamos oportunidades.
2023
Dezenas de oradores de referência discutem a evolução do transporte público,
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até um futuro mais conectado, mais autónomo e onde a Inteligência Artificial
terá um papel decisivo.

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16 DINHEIRO
Há agora 80,6 mil jovens com menos de 25 anos sem trabalho, mais 20% do que há um ano.
Desemprego dispara entre os jovens
e 50% do emprego criado é precário
TRABALHO A taxa de desemprego dos muito jovens (menos de 25 anos) voltou novamente a
furar a fasquia dos 20%. É quase quatro vezes mais do que a média nacional. Dados do INE.
TEXTO LUÍS REIS RIBEIRO
A
taxa de desemprego por-
tuguesa terá terminado o
seu ciclo descendente,
que durou até ao segun-
do trimestre do ano passado, quan-
do atingiu um dos valores mais bai-
xos da História recente (5,9% da
população ativa), mantendo-se
atualmente acima dos 6% outra vez
no terceiro trimestre (igual ao valor
registado no trimestre anterior).
Mas está a ser claramente puxada
por um avanço muito significativo
da incidência do desemprego en-
tre as pessoas mais jovens (com
menos de 25 anos), mostra o novo
inquérito trimestral ao emprego do
Instituto Nacional de Estatística
(INE), ontem revelado.
A taxa de desemprego entre os
muito jovens voltou novamente a
furar a fasquia dos 20%.
Segundo o INE, o número de
desempregados nesta faixa etária
aumentou mais de 20% no terceiro
trimestre face a igual período de
2022, para um total agora de 80,6
mil jovens sem trabalho, mas que
estavam disponíveis e procuraram
ativamente um emprego.
Este agravamento entre os mais
jovens compara com o avanço de
4,4% no contingente total de des-
empregados que, em todo o caso,
está a subir há quatro trimestres
consecutivos e faz com que mais
de 326 mil pessoas estejam agora
sem trabalho em Portugal.
Metade do emprego criado é
precário
Olhando o emprego, os dados ofi-
ciais do INE confirmam que outro
fenómeno mais negativo, a preca-
riedade, está a crescer, estando
também esta intimamente relacio-
nada com os mais jovens.
Os dados do terceiro trimestre
vêm reforçar a ideia de que, sendo
verdade que a economia portugue-
sa continua a criar emprego e este
a atingir sucessivos máximos histó-
ricos, a proporção de vínculos pre-
cários no emprego por conta de
outrem (contratos a prazo, falsos
recibos verdes) continua a subir de
forma imparável.
O emprego total por conta de ou-
trem bateu um novo máximo das
séries do INE, estando agora em
quase 4,3 milhões de trabalhadores
no terceiro trimestre (uma subida
de 2,9% em termos homólogos),
mas esta subida esconde várias
realidades.
É certo que os contratos sem ter-
mo aumentaram 1,7% neste perío-
do em análise, mas o número de
pessoas contratadas a prazo avan-
çou uns expressivos 8,1% e o grupo
dos “outros contratos” (onde estão
os mais precários de todos) dispa-
rou 12%.
Com isto, significa que a econo-
mia portuguesa conseguiu criar,
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
Ponto de inflexão
Como referido, a taxa de desem-
prego ficou na mesma entre o se-
gundo e o terceiro trimestre, nos
6,1% da população ativa, mas, em
termos homólogos, o indicador
subiu 0,1 pontos percentuais (p.p.)
(face ao 3.º trimestre de 2022).
Ainda segundo o instituto, “no
3.º trimestre de 2023, a taxa de de-
semprego foi superior à média na-
cional (6,1%) em duas regiões
NUTS II do país (Norte: 6,7%; Área
Metropolitana de Lisboa: 6,6%)”.
E ficou abaixo da média “nas
restantes cinco regiões (Região
Autónoma dos Açores: 6%; Alente-
jo: 5,9%; Centro: 5%; Algarve:
4,8%; R. A. da Madeira: 4,8%)”.
Em termos homólogos, o peso
do desemprego está a piorar de
forma notória no Alentejo e no
Norte.
“Observaram-se acréscimos
deste indicador em quatro re-
RODRIGO CABRITA/GLOBAL IMAGENS
giões, o maior dos quais no Alen-
tejo (1,5 p.p.)”, a que se pode jun-
tar a subida de 0,8 décimas no
Norte.
Em sentido contrário, regista-
ram-se “decréscimos na Área Me-
tropolitana de Lisboa (1,2 p.p.) e
na Região Autónoma da Madeira
(1,4 p.p.), não se tendo observado
alterações homólogas na taxa de
desemprego da Região Autónoma
dos Açores”, segundo o inquérito.
Ainda segundo o INE, a popula-
ção desempregada rondará agora
(período de julho a setembro)
326,1 mil pessoas, ou seja, “au-
mentou 0,5% (1,4 mil casos) em
relação ao trimestre anterior e
4,4% (13,7 mil) relativamente ao
homólogo”.
Menos escolarizados
No emprego, os indicadores conti-
nuam a ser positivos, mas também
aqui já há sinais de menor dina-
mismo, pois a economia portu-
guesa surpreendeu vários analis-
tas, com uma quebra real do Pro-
duto Interno Bruto (PIB) de 0,2%
entre o segundo e o terceiro tri-
mestre, a primeira contração que
em termos líquidos, 119,5 mil em- acontece desde o início de 2021.
pregos num ano (terminado no O grosso da população empre-
terceiro trimestre deste ano), mas gada é composto pelos menos
mais de metade deste emprego qualificados (cerca de um terço
criado (cerca de 60,4 mil casos) são tem a escolaridade mais baixa, o
trabalhos precários ou muito pre- novo ano ou menos, quase 1,8 mi-
cários. lhões de pessoas), a economia já
A contratação a termo, que en- se encontra a destruir emprego e
globa vínculos como os contratos a muito, tendo o respetivo indica-
prazo, os de trabalho sazonal e tra- dor caído quase 2% em termos ho-
balhos pontuais ou ocasionais, mólogos entre os menos escolari-
abrange agora 626 mil trabalhado- zados. Estamos a falar de menos
res (que resulta da tal subida ho- 34,1 empregos em apenas um ano.
móloga de 8,1%). Em todo o caso, compensou a
Na categoria “outro tipo de con- subida no emprego das pessoas
trato”, os mais precários dos precá- com o secundário completo (mais
rios , onde constam, por exemplo, 6,4%) e com o ensino superior
os “falsos recibos verdes”, o aumen- (2,9%), o que confirma a ideia tan-
to de 12% engrossa este contingen- tas vezes propagada pelo governo
te até aos 126 mil casos. No total, e os economistas de que ter mais
pode dizer-se que, em Portugal, há qualificações compensa em ter-
atualmente mais de 752 mil traba- mos de emprego e protege as pes-
lhadores precários, pelo menos. soas contra eventuais situações de
Este universo aumentou 9%, segun- desemprego.
do cálculos do DN/Dinheiro Vivo. luis.ribeiro@dinheirovivo.pt
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023
BENOIT MENARDO
COFUNDADOR DA PAYFLOW
Don’t chase, attract: O que importa é criar algo
que as pessoas querem e precisam
H
oje, a chave do suces-
so é bem mais do que
criar um negócio lu-
crativo com foco na
criação de um bem ou serviço.
Com o advento da inovação e do
diálogo social media live, o su-
cesso está carregado de novos
vetores e interligações que po-
dem robustecer ou enfraquecer
uma solução pioneira, ou seja, já
não é só uma boa ideia que vin-
ga: a forma como esta ideia se
envolve na sociedade e setor
onde atua, a “cultura de casa”, a
sua comunicação e a sua capaci-
dade de gerar estima, são decisi-
vas nesta nova Era.
Para quem está a começar
agora a sua startup, pode pensar
que estas são palavras muito bo-
nitas mas, se questionar como é
que a sua solução pode distin-
guir-se num ecossistema (por
vezes) saturado, como o das star-
tups, rapidamente chegará à
conclusão de que não pode ser
só uma boa ideia: tem de fazer
parte da vida das pessoas e res-
ponder ao que querem e preci-
sam, com um messaging apura-
do, quase como se estivessem a
ter um diálogo a dois.
Outro ponto que importa é
olhar para a concorrência, não
como um inimigo, mas de forma
pedagógica, atenta e até de ins-
piração, procurando conquistar
territórios em que ela ainda não
está e, em conjunto, criar uma
força e um setor coeso. É que se
caímos no erro de criar exata-
mente o mesmo serviço, com a
mesma narrativa, o resultado vai
ser só um: vocês serão uma
commodity e o preço vai ser a
única coisa que vos distingue. E
esmaga.
No caso da solução da Payflow,
pode parecer algo relativamente
recente, mas o serviço de salário
on-demand foi inventado há
muitos anos. Nos EUA, por
exemplo, cerca de 20 a 30% das
pessoas são remuneradas atra-
vés deste método. O mercado
está muito aberto a este tipo de
remuneração não só na América
do Norte, como no resto do mun-
do. Na Europa, nota-se a força
que esta forma de receber o salá-
rio está a ganhar e já são alguns
concorrentes com quem dispu-
2023
QUANDO SE FUNDA UMA
STARTUP, É PRECISO
ANALISAR
PROFUNDAMENTE
A CONCORRÊNCIA, PARA
DESCOBRIR QUAIS AS SUAS
LACUNAS E FALHAS E
ENCONTRAR A SOLUÇÃO
QUE NOS TORNARIA
DIFERENTES E MELHORES.
tamos o setor em Espanha, na
América Latina e em Portugal.
Portanto, competição é algo que
não nos falta… felizmente!
Quando se funda uma startup,
é preciso analisar profundamen-
te a concorrência, para descobrir
quais as suas lacunas e falhas e
encontrar a solução que nos tor-
naria diferentes e melhores.
Lançámos a Payflow durante a
pandemia, pelo que não tivemos,
inicialmente, uma oportunidade
como aWeb Summit para trocar
ideias e aumentar a rede de con-
tactos. Assim, no primeiro ano, foi
feito um grande trabalho junto
dos nossos engenheiros e apostá-
mos tudo no desenvolvimento do
melhor produto possível e, após
quatro anos, continuamos a fazê-
-lo, adicionando várias novas fun-
cionalidades à nossa plataforma
de bem-estar financeiro.
Um dos princípios para o su-
cesso de uma startup que nos
ensinaram no programa da ace-
leradora Y Combinator, de Sili-
con Valley, foi este: “Façam algo
que as pessoas queiram.” Este é
um lema que acompanha todo o
nosso trabalho e que nos levou a
desenvolver um produto que as
pessoas, de facto, querem e ne-
cessitam, com o bónus de que
conseguimos evitar grandes pro-
blemas de endividamento de
trabalhadores espalhados pelo
mundo inteiro. Portanto, é im-
prescindível encontrar as neces-
sidades do mercado de atuação e
colmatá-las da forma mais bené-
fica para o consumidor possível,
adaptando o know-how e as me-
lhores práticas utilizadas previa-
mente ao contexto económico e
social dessa região em questão.
Metodologia de negócio e pe-
netração de mercados à parte,
saliento, por fim, a importância
da coesão da cultura da equipa
de uma empresa, pois ela será
catalisadora também do que fa-
zemos e como fazemos para os
nossos consumidores – um fator
decisivo na escolha.
Independentemente do mer-
cado de atuação, defendemos os
mesmos valores, trabalhamos
todos com a mesma missão.
Uma dica que sempre dou a no-
vos empreendedores é a de se
certificar de que as suas primei-
ras contratações são pessoas que
têm duas qualidades: são as me-
lhores no que fazem e que a sua
cultura, os seus valores e a sua
mentalidade sejam muito seme-
lhantes aos seus. Quando esta-
mos a começar uma startup,
normalmente não temos muito
financiamento, temos imenso
trabalho para fazer e esse traba-
lho é muito pesado. Por essa ra-
zão, precisamos de pessoas que
também acreditem no nosso so-
nho e que o tornem seu.
Creio que a Web Summit é um
dos melhores lugares para en-
contrar pessoas semelhantes a
nós, com os mesmos objetivos e
ideais, onde podem surgir novos
parceiros, colaboradores e ami-
gos que nos apoiem na jornada
de levar a nossa startup ao suces-
so, com uma abordagem funda-
mental: Don’t chase, attract.
17
PUB
Extrato Notarial de escritura de Justificação
Certifico que, por escritura de Justificação, outorgada no dia 02-11-2023, neste
Cartório Notarial da Trofa, “Tomás Machado Lima de Sousa Rio, Notário Sp, Uni-
pessoal Lda.”, sito na Rua D. Pedro V, 527, freguesia de Bougado (São Martinho e
Santiago), concelho da Trofa, exarada no Livro de Escrituras N.o 71-E a folhas 90
e seguinte, perante mim respetivo Notário, Tomás Machado Lima de Sousa Rio,
compareceram como Outorgantes:
Vasco Pereira Torres (Número fiscal 147663849) e Maria Bertília da Rocha Vilaça
(Número fiscal 158076583), casados entre si sob o regime da comunhão de
adquiridos, ele natural da freguesia de Massarelos, concelho do Porto, e ela
da freguesia de Arnoso (Santa Maria), concelho de Vila Nova de Famalicão,
residentes na Rua da Espingardeira, 261, Bougado (São Martinho e Santiago),
Trofa.
E declararam: Que são donos e legítimos possuidores, com exclusão de outrem,
do seguinte prédio, omisso na Conservatória do Registo Predial da Trofa: Prédio
Urbano, composto por casa de habitação com rés do chão e primeiro andar,
e quintal com garagem, com a área coberta de 110 m2 e área descoberta de
470 m2; sito em Rua da Espingardeira, 261, freguesia de Santiago do Bougado,
concelho da Trofa; e inscrito na matriz sob o Artigo 9126 da União das Freguesias
de Bougado (São Martinho e Santiago).
Que pela presente escritura justificam a aquisição do imóvel atrás identificado,
que não está registado a seu favor; sendo que não são detentores de qualquer
título formal que legitime o invocado domínio, e que veio à sua posse no estado
de casados, por venda meramente verbal feita por Joaquim de Almeida no
estado de casado sob o regime da separação de bens com Isabel Ramos da
Silva, no ano de 1993, em dia do mês de abril, que já não consegue precisar,
nunca tendo formalizado o respetivo contrato por escritura; sendo que desde
esse ano, ou seja, há mais de vinte anos, entraram na posse do imóvel, e de
imediato o ocuparam e passaram a usufruí-lo, ligando-o às redes públicas de
energia, água e saneamento, reabilitando, fazendo amplas obras de reparação
e restauro, equipando-o com móveis, eletrodomésticos e decorações, isto é,
gozando de todas as utilidades e benefícios por ele proporcionadas; sempre
administraram o imóvel com o conhecimento de toda a gente, sem qualquer
interrupção, sem oposição de quem quer que seja, e com o ânimo de quem
exerce direito próprio, ou seja, exercendo essa mesma posse de forma pública,
contínua, pacífica e de boa-fé.
Que dadas as características de tal posse, invocam a aquisição do imóvel por
usucapião, justificando o seu direito de propriedade, para efeitos de primeira
inscrição na Conservatória do Registo Predial da Trofa, dado que esta forma
de aquisição não pode ser comprovada por qualquer outro título formal
extrajudicial.
Está conforme.
Cartório Notarial da Trofa, 3 de novembro de 2023
O Notário
Tomás Machado Lima de Sousa Rio
MUNICÍPIO DE SANTIAGO DO CACÉM
CÂMARA MUNICIPAL
AVISO
N.o de Registo 34392 Data 11/10/2023 Processo 16/2023/8
MÓNICA FIALHO PIRES DE AGUIAR, VEREADORA DA GESTÃO URBANÍSTICA DA CÂMARA MUNICIPAL DE
SANTIAGO DO CACÉM, NO USO DE COMPETÊNCIAS DELEGADAS E SUBDELEGADAS POR DESPACHO EXARADO
NO DOCUMENTO INTERNO COM O REGISTO N.o 27521, DE 21 DE OUTUBRO DE 2021.
FAZ PÚBLICO, por despacho da Senhora Vereadora Sónia Gonçalves, de 18/08/2023 e nos termos
do n.o 5 do artigo 7.o do Decreto-Lei n.o 555/99, de 16 de dezembro, na sua atual redação e do artigo
89.o do Decreto-Lei n.o 80/2015, de 14 de maio, submete-se a discussão pública, por um período
de oito dias para anúncio e quinze dias para discussão pública, para que os interessados possam
pronunciar-se sobre o assunto, apresentando observações, reclamações ou sugestões, por escrito.
A alteração ao Loteamento Municipal ZIL Expansão III – Vila Nova de Santo André, freguesia de Santo André,
processo 16/2023/8 em nome do Município de Santiago do Cacém, encontra-se disponível para consulta na
página eletrónica do Município https://www.cm santiagocacem.pt/ e na Junta de Freguesia de Santo André.
A alteração consiste na reposição da compatibilidade entre as áreas apresentadas nas peças do
loteamento e as áreas que se encontram registadas. Esta alteração incide somente sobre a parte
escrita das peças e quadro urbanimétrico, não existindo alteração de polígonos nas peças desenhadas.
O loteamento incide sobre o prédio descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n.o
3055/19961021, da freguesia de Santo André.
Para os devidos efeitos se publica este aviso no Diário da República.
Outros de igual teor vão ser afixados nos locais de estilo.
A Vereadora da Gestão Urbanística
(no uso de competências delegadas e subdelegadas por despacho exarado no documento interno
com o registo n.o 27521, de 21 de outubro de 2021)
Mónica Pires de Aguiar

18 LOCAL
JMJ. Câmara de Lisboa gastou
19,9 milhões no Parque Tejo
CONTAS Relatório final da autarquia sobre a Jornada Mundial da Juventude mostra que o valor
total gasto foi de 34 milhões de euros, um milhão abaixo do previsto inicialmente. Poupança
que a Câmara de Lisboa atribui, em grande parte, à diminuição dos custos do altar-palco.
TEXTO ANA MEIRELES
O Parque Tejo e o seu altar-palco foram cenário dos momentos mais altos da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa.
A
Câmara de Lisboa gas-
tou 19,9 milhões de eu-
ros no Parque Tejo Tran-
cão no âmbito da reali-
zação da Jornada Mundial da
Juventude, de acordo com o relató-
rio final da autarquia sobre este
evento, a que o DN teve acesso. No
total, o valor gasto foi de 34 mi-
lhões de euros, um milhão abaixo
do previsto inicialmente, uma
poupança devida, em grande par-
te, à diminuição do altar-palco.
O orçamento inicial da Câmara
de Lisboa para a Jornada Mundial
da Juventude foi de 35 milhões de
euros, com uma previsão de 25 mi-
lhões para investimento e 10 mi-
lhões para gastos. Contas feitas, a
despesa realizada acabou por ficar
abaixo do orçamento em cerca de
um milhão de euros, cifrando-se
em 34 milhões de euros, divididos
em 23,9 milhões de investimento e
10,1 milhões em gastos.
“O investimento ficou 4,4% abai-
xo da estimativa, correspondente a
1,1 milhões de euros de redução,
fruto da diminuição do valor do al-
tar-palco e de uma gestão rigorosa
dos contratos e das respetivas revi-
sões de preços”, pode ler-se no do-
cumento, que o vice-presidente da
autarquia e responsável pela coor-
denação na CML da JMJ, Filipe
Anacoreta Correia, entregou já este
mês à Assembleia Municipal de
Lisboa. “Recorde-se que o orça-
mento inicial previa para gastos o
montante de 10 milhões de euros.
No entanto, a CML assumiu 1,3 mi-
lhões de euros que não estavam
inicialmente previstos e cuja ne-
cessidade foi comunicada à CML
posteriormente no processo”,
acrescenta o mesmo documento.
Entre estes gastos inesperados
está a locação de ecrã, luz e som
para o palco do Parque Tejo Tran-
cão (370 mil euros), locação de RX,
pórticos e detetores de metais para
os grandes eventos (200 mil), loca-
ção de tendas e cadeiras para o
Parque Tejo-Trancão (170 mil), re-
quisitos adicionais para as estrutu-
ras de cadeias de TV e sala de im-
prensa no Parque Tejo e no Parque
Eduardo VII (600 mil).
A grande fatia do orçamento to-
tal da autarquia foi dedicada ao
Parque Tejo-Trancão, local onde se
realizaram as principais cerimó-
nias da Jornada Mundial da Juven-
tude, tanto em termos de investi-
mento (16 353 208 euros), como de
gastos (3 615 509€), num total de
19 968 717 euros. “As despesas
mais relevantes do investimento
no Parque Tejo foram a reabilita-
34
Orçamento A despesa
da Câmara de Lisboa com
a Jornada Mundial
da Juventude cifrou-se
em 34 milhões de euros,
divididos em 23,9 milhões
de investimento e
10,1 milhões em gastos.
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
gorosa dos contratos, nota ainda
que a Mota-Engil, empresa res-
ponsável pela construção da in-
fraestrutura, “aceitou prescindir da
indemnização a que teria direito,
de acordo com o CCP [Código dos
Contratos Públicos], pela redução
superior a 20% do valor total do
contrato”.
236 contratos públicos
celebrados
Voltando aos 34 milhões de euros,
a Câmara de Lisboa lembra que
“cerca de 23,6 milhões são investi-
mento que fica para o futuro da ci-
dade”, nomeadamente o Parque
Tejo-Trancão e a sua ponte ciclo-
pedonal, equipamentos do Regi-
mento Sapadores Bombeiros, Po-
lícia Municipal e Proteção Civil
(5,89 milhões) e obras no espaço
público, como a reparação de ins-
talações sanitárias (970 mil euros).
Apenas 10,4 milhões são custos
que se esgotaram com a realização
da Jornada Mundial da Juventude.
Em termos de contratos públi-
cos, dos quais a autarquia refere
que fez uma gestão rigorosa, foram
realizados pela CML e empresas
municipais EGEAC, EMEL e Socie-
dade de Reabilitação Urbana
(SRU), 236 procedimentos de con-
tratação pública, dos quais 15,3
milhões através de concursos pú-
blicos, 14,4 milhões através do re-
gime de exceção consagrado nas
leis do Orçamento do Estado apro-
CARLOS PIMENTEL / GLOBAL IMAGENS
vada pela Assembleia da Repúbli-
ca para a JMJ, e 2,2 milhões através
de outros tipos de procedimentos
do regime geral de contratação pú-
blica.
“Nos processos de ajuste direto,
a CML promoveu consultas preli-
minares para identificar fornece-
dores e aferir valores de mercado.
De igual forma, a dispensa de fis-
calização prévia do Tribunal de
Contas não significou ausência de
ção do aterro sanitário de Beirolas fiscalização por parte do Tribunal
(cerca de 8 milhões de euros), a de Contas. A informação relativa a
ponte ciclopedonal (cerca de 4 mi- todos os procedimentos da JMJ foi
lhões), a conceção e construção da enviada para o Tribunal de Contas
cobertura do palco (cerca de 1,28 no decorrer do processo, para efei-
milhões), as infraestruturas do tos de fiscalização concomitante e
Parque Tejo-Trancão (cerca de 1,27 foi entregue à Assembleia Munici-
milhões) e as fundações do palco pal juntamente com relatório so-
(cerca de 1,2 milhões)”, refere o re- bre a operação JMJ em Lisboa da
latório da Câmara de Lisboa. CML”, esclarece a autarquia.
Já em termos daquilo que a au- Entre os contratos que a Câma-
tarquia indica como gastos, os 3,6 ra de Lisboa celebrou por ajuste di-
milhões despendidos no Parque reto, nomeadamente através do
Tejo dizem respeito à plataforma regime de exceção, estão a cons-
provisória do palco (1,7 milhões), trução do altar-palco ou a aquisi-
tendas, sinalética, segurança, mo- ção de veículos e motociclos para
biliário e serviços diversos (950 mil o Regimentos Sapadores Bombei-
euros), stands de televisão (600 ros. De referir que, em relação aos
mil), ecrã, luz e som do palco (370 contratos relacionados com a
mil euros). construção do altar-palco, o Tribu-
Quanto ao altar-palco do Parque nal de Contas informou a SRU que
Tejo em concreto, este tinha ini- pretendia auditar os mesmos, ten-
cialmente um preço base de con- do feito uma visita ao local a 14 de
tratação de 4,24 milhões de euros, julho e feito novos pedidos de es-
valor que desceu para 2,98 milhões clarecimentos e documentação
após a alteração do projeto para re- também a 14 de julho e 15 de se-
duzir custos. tembro. Pedidos que, segundo o
A autarquia, que atribui as suas relatório da câmara, foram atendi-
contas finais da JMJ positivas a este dos.
corte de custos e a uma gestão ri- ana.meireles@dn.pt
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 19

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ENTREVISTAS
O Global Media Group e a EDP, em parceria com o Grupo Brisa, a Fidelidade,
a Câmara Municipal de Cascais e a Câmara Municipal de Lisboa, apresentam
o Portugal Mobi Summit, um projeto de referência no debate dos temas de
mobilidade sustentável.

No caminho para a Grande Cimeira, em outubro, damos voz a Bernardo Pereira,

especialista em mobilidade na Lisboa e-Nova, que nos explicará como a bicicleta pode
ajudar a desenhar cidades mais sustentáveis. Sem emissões, sem atrasos no trânsito
2023 e contribuindo para a saúde e forma física de quem a utiliza diariamente, a bicicleta é
decisiva na definição de espaços públicos mais inclusivos e com prioridade às pessoas.

E em novembro, falamos com Marjolein e Sylvia Boers, uma dupla que nasceu “dentro”
do negócio do transporte marítimo, que pensa fora da caixa e que tem na inovação
o seu principal combustível, conectando, inspirando e promovendo a mudança positiva
rumo a um futuro mais sustentável, apostando na transição para uma economia
mais circular.

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20 INTERNACIONAL
EUA querem
Gaza e
Cisjordânia
unidas,
mas rejeitam
cessar-fogo
GUERRA Secretário de Estado
norte-americano voltou a sugerir que Gaza
fique nas mãos da Autoridade Palestiniana
no final do conflito, mas Washington
permanece contrário a uma trégua.
TEXTO CÉSAR AVÓ
A
s Forças de Defesa de Is-
rael dizem ter destruído
130 túneis desde o início
da operação terrestre e
que o Hamas já perdeu o controlo
do norte de Gaza depois da fuga de
cerca de 50 mil pessoas nas últimas
horas. Enquanto o Exército Israelita
prossegue as operações, os Estados
Unidos foram mais claros sobre o
que pensam sobre o futuro do terri-
tório.
Em Tóquio para participar num
encontro de chefes da diplomacia
do G7, Antony Blinken voltou a re-
jeitar a perspetiva de que Israel per-
maneça em Gaza após a operação
militar “por um período indefinido”,
como propôs o líder israelita Benja-
min Netanyahu. O secretário de Es-
tado foi cristalino ao rejeitar a deslo-
cação forçada das populações para
fora de Gaza, bem como a redução
do território do enclave ou o seu
bloqueio. “Temos também de tra-
balhar nos elementos afirmativos
para chegar a uma paz duradoura”,
afirmou depois. “Estes elementos
devem incluir as vozes e as aspira-
ções do povo palestiniano no centro
da governação pós-crise em Gaza.
Deve incluir uma governação lide-
rada pelos palestinianos e a unifica-
ção de Gaza com a Cisjordânia sob
a Autoridade Palestiniana”, defen-
deu.
Ao New York Times, um dirigente
da Autoridade Palestiniana mos-
trou-se pouco entusiasmado com
as palavras de Blinken, tendo dito
que essa discussão não faz sentido
antes de uma trégua e de um pro-
cesso político que leve à indepen-
dência da Palestina. “Precisamos de
uma solução política, de garantias
internacionais. Não vamos repetir a
mesma história”, disse Ahmed
Majdalani.
ParaWashington, porém, as aspi-
rações dos palestinianos não se
conjugam para já com uma trégua.
“Normalmente, quando se chega a
um cessar-fogo, é quando se pensa
que se chegou ao fim e que é altura
de negociar”, disse o porta-voz do
conselho de segurança nacional,
John Kirby. “Neste momento, um
cessar-fogo beneficia o Hamas. Cer-
tamente também legitima o que o
Hamas começou em 7 de outubro”,
considerou.
O grupo dos países mais ricos pe-
diu no Japão pausas humanitárias”
para permitir a assistência humani-
Antony Blinken volta
a distanciar-se de
Netanyahu ao propor
a unificação de Gaza
com a Cisjordânia
sob a Autoridade
Palestiniana.
Soldado israelita em
operação no norte de
Gaza, área que o Hamas
já não controlará,
segundo Telavive.
tária ao enclave e a libertação dos re-
féns. Segundo o Qatar, o Hamas es-
tará disposto a libertar uma dúzia de
reféns em troca de uma trégua de
três dias – uma ideia que já fora re-
jeitada por Telavive, que exige a li-
bertação de todos os cativos como
ponto prévio para uma pausa nas
operações militares.
Michel quer cozinhar a paz
A trégua parece longínqua, muito
mais a paz. Mas voltou a fazer parte
do discurso de um líder. Desta feita
foi Charles Michel, o presidente do
Conselho Europeu, a anunciar a
realização de uma conferência para
pôr fim ao conflito. “Em conjunto
com outros parceiros, lideraremos
a organização, o mais rapidamente
possível, de uma conferência de paz
e de estabilidade inspirada em ini-
ciativas anteriores e nos Acordos de
Abraão”, disse o dirigente belga ao
discursar no Parlamento Europeu.
A iniciativa foi proposta pelo líder
espanhol, Pedro Sánchez, durante
o último Conselho Europeu.
Michel defendeu que apoiar um
Estado palestiniano credível é um
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
Célula terrorista
presa no Brasil
A Polícia Federal brasileira prendeu
dois suspeitos de planearem
atentados terroristas contra alvos
judaicos. Da operação Trapiche,
realizada em articulação com a
agência de espionagem israelita
Mossad, resultaram 11 mandados
de busca nos estados de São
Paulo, Minas Gerais e Distrito
Federal e a prisão de dois cidadãos
brasileiros, um dos quais à
chegada do Líbano, no Aeroporto
de Guarulhos, e o outro
igualmente em São Paulo. Há
ainda dois suspeitos no Líbano.
Segundo a informação avançada
por O Globo os detidos foram
financiados pelo Hezbollah e
tinham como objetivo atingirem
sinagogas e outros alvos da
comunidade judaica no Brasil. Em
comunicado, a Mossad elogiou o
trabalho das forças de segurança
brasileiras.
“investimento na paz e na seguran-
ça na região”, e ao mesmo tempo
destacou o papel da União Europeia
“como ator global” através da diplo-
macia e da política externa.
Dissensões à esquerda
Em Inglaterra e nos Estados Unidos,
as posições das lideranças dos tra-
balhistas e dos democratas sobre a
guerra estão longe de serem con-
sensuais. Na quarta-feira, um mi-
nistro-sombra demitiu-se, agravan-
do as tensões no partido liderado
por Keir Starmer.
Numa carta dirigida a Starmer, o
deputado Imran Hussain afirmou
que queria ser um forte defensor de
um cessar-fogo humanitário. Star-
mer, que lidera as sondagens, recu-
sou-se a apelar para um cessar-fogo
permanente, mas a uma pausa hu-
manitária nos bombardeamentos.
Uma posição em choque com ou-
tros 16 membros do governo-som-
bra. Um porta-voz do Partido Traba-
lhista afirmou que um cessar-fogo
congelaria o conflito e “deixaria os
reféns em Gaza e o Hamas com as
infraestruturas e a capacidade de le-
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 21

Feijóo culpa Sánchez

pela violência da
extrema-direita
ESPANHA Manifestações contra a amnistia junto à sede do PSOE
acabam com feridos e detidos. Líder do PP mantém pressão nas ruas.

M
ilhares de manifes-
tantes da extrema-
-direita reuniram-se
na terça-feira em
frente à sede do Partido Socialis-
ta Operário Espanhol (PSOE), em
Madrid, como na véspera, mas
desta vez dirigiram-se para o
Congresso, e no regresso à rua
Ferraz envolveram-se em desa-
catos com a polícia. Alberto
Núñez Feijóo, líder do Partido
Popular (PP), que tem cavalgado
a onda do descontentamento re-
lativo à amnistia dos dirigentes
catalães secessionistas, só con-
denou a violência quando outras
figuras do seu partido já o ha-
viam feito, mas ainda assim res-
ponsabilizou Pedro Sánchez, lí-
der do PSOE e pretendente a
novo mandato como primeiro-
-ministro, pelo que se passou na
capital espanhola.
Uma bandeira espanhola com
a frase “A Constituição destrói a
DAPHNÉ LEMELIN / AFP
dos, 29 dos quais das forças da or-
dem. Na manifestação convoca-
da por grupos de extrema-direita
esteve presente a porta-voz do
Vox no Parlamento, Pepa Millán.
A violência de terça-feira à noi-
te foi o culminar de várias mani-
festações da extrema-direita, que
passaram de pacíficas a violentas
na segunda-feira, quando três
pessoas foram detidas em Ma-
drid numa manifestação que
contou com o líder do Vox, San-
tiago Abascal. Em paralelo, as se-
des do PSOE têm sido alvo de
vandalismo, o que levou Sánchez
a classificar tais atos de “ataques
à democracia e a todos os que
nela acreditam”.
Perante o sucedido, o PP de-
morou horas a reagir. Na terça-
-feira, em comunicado, criticou
a carga policial em resposta à
“Quem promove
tentativa de alguns manifestan-
tes de invadirem a sede do PSOE.
“Quem promove a amnistia
queixa-se amargamente e de
maneira desproporcionada de
uns cidadãos espanhóis que se
manifestam em frente às suas se-
des”, comentava o porta-voz do
PP, Borja Sémper. Dado o agrava-
mento da violência, foi a secretá-
ria-geral do partido, Cuca Ga-
marra, quem condenou os atos
dos manifestantes, seguida da
presidente da região de Madrid,
Isabel Díaz Ayuso, que condenou
“os ultras” – e ao mesmo tempo
saudou os restantes participan-
tes. Feijóo acabou por também
condenar a violência, mas só ho-
ras depois de dizer que “o mal-es-
tar social é responsabilidade de
Pedro Sánchez”. O líder do PP,
que marcou um protesto nacio-
nal para as 12 horas de dia 12,
mantém a tática de aplicar pres-
são nas ruas. “Ninguém nos vai

nação”, saudações e símbolos fas- silenciar, ninguém nos vai parar.

var a cabo o tipo de ataque a que se
assistiu em 7 de outubro”.
Também o primeiro-ministro
Rishi Sunak se envolveu numa con-
trovérsia, mas de outra natureza, e
com o chefe da Polícia Metropolita-
na. O conservador queria adiar a
manifestação pró-Palestina que
tem decorrido todos os sábados
porque coincide com o dia em que
se comemora o armistício da I Guer-
ra Mundial. No entanto, apesar de
considerar que o protesto é “desres-
peitoso” e que põe os monumento
da guerra em perigo de profanação
, acatou a decisão de Mark Rowley, o
chefe da polícia, segundo o qual
“não há um poder absoluto para
proibir a manifestação”.
Nos Estados Unidos, o maior alia-
do de Israel, a única representante
cistas, vivas a Franco, e palavras
de ordem racistas e xenófobas
a amnistia queixa-se Continuaremos a erguer a nossa
voz”, afirmou.
acompanharam outras contra o amargamente A ministra da Economia Nadia
secretário-geral do PSOE antes da e de forma Calviño lamentou que Feijóo te-
violência que se seguiu, com o nha chegado “tarde e mal” e ins-
lançamento de garrafas, caixotes desproporcionada”, tou a todos os que “alimentam o
e contentores do lixo de um lado começou ódio e o conflito entre espanhóis
narrativas sobre o ataque do Hamas e gás lacrimogéneo e balas de e territórios que mudem de atitu-
a Israel a 7 de outubro de 2023 e a borracha do outro. Foram detidas por reagir o PP. de” para se alcançar a paz nas
apelar para a destruição do Estado seis pessoas e contam-se 39 feri- ruas. C.A.
de Israel”.
A censura identificou uma série
de declarações feitas por Tlaib, in-
cluindo um vídeo postado nas redes
sociais em que ela acusa o presiden-
te Joe Biden de apoiar o que ela des-
creveu como o “genocídio” dos pa-
lestinianos e o exorta a apoiar um
cessar-fogo, de acordo com o texto
da moção. O vídeo também mostra
uma multidão a entoar “Do rio ao
mar, a Palestina será livre”, o que, se-
gundo a moção, “é amplamente re-
conhecido como um apelo genoci-
da à violência para destruir o Estado
de Israel”. A representante do Michi-
gan fez a sua defesa de forma apai-
xonada. “É importante separar pes-
PIERRE-PHILIPPE MARCOU / AFP

com ascendência na Palestina rece- soas e governos. Nenhum Governo

beu um voto de censura por parte
da Câmara devido aos seus comen-
tários. A democrata Rashida Tlaib
foi censurada pelos republicanos e
por alguns membros do seu próprio
partido numa resolução – com 234
votos a favor e 188 contra – segundo
a qual estaria “a promover falsas
está acima de qualquer crítica. A
ideia de que criticar o governo de Is-
rael é antissemita abre um prece-
dente muito perigoso, e tem sido
usada para silenciar diversas vozes
que defendem os direitos humanos
em toda a nossa nação”, advertiu.
cesar.avo@dn.pt Dezenas de polícias e de manifestantes ficaram feridos em Madrid.

22 INTERNACIONAL
JOHN THYS / AFP
Von der Leyen lembrou que apesar das dificuldades e da “tragédia da guerra”, Kiev deve prosseguir reformas.
“Hoje é um dia histórico”.
Ucrânia e Moldávia dão novo
passo para a adesão à UE
EUROPA Relatório de avaliação aos países candidatos ao alargamento foi apresentado
em Bruxelas pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Recomendações
têm de ser aprovadas pelos 27 Estados-membros no Conselho Europeu de dezembro.
TEXTO HELENA TECEDEIRO
U
ma Ucrânia em guerra
com Moscovo e uma
Moldávia que tem repe-
tidamente denunciado
ser alvo de tentativas de desestabi-
lização russas receberam ontem
autorização da Comissão Europeia
para iniciarem negociações para a
adesão à União Europeia. “Hoje é
um dia histórico”, afirmou a presi-
dente da Comissão, Ursula von der
Leyen, na apresentação em Bruxe-
las do relatório de avaliação aos
países candidatos ao alargamento.
Este garante também à Geórgia o
estatuto de candidato.
Um novo passo em direção a
uma UE alargada que tanto Kiev
como Chisinau, além de muitos
Estados-membros, veem como es-
senciais para travar as ambições de
Moscovo. E que tem ainda de pas-
sar pela aprovação dos 27 no Con-
selho Europeu de dezembro.
Mas não se pense que uma UE a
29 (ou 30) está para breve. Esta re-
comendação positiva é apenas o
início de um longo caminho tanto
para a Ucrânia e Moldávia, como
para a Geórgia e os restantes sete
países em avaliação neste relatório
(ver caixa ao lado).
Nada que tenha impedido o pre-
sidente ucraniano, Volodymyr Ze-
lensky, de se apressar a saudar a
“boa decisão” de Bruxelas. “O nos-
so Estado deve existir dentro da
UE. Os ucranianos merecem”, sub-
linhou, citado pela AFP. Em junho
de 2022 Bruxelas dera à Ucrânia o
estatuto de candidato, num gesto
altamente simbólico alguns meses
apenas após a invasão russa. Uma
decisão que abrangeu também a
Moldávia.
Na altura, a Comissão definiu
sete critérios de referência que Kiev
tinha de cumprir para passar à eta-
pa seguinte, com destaque para o
reforço da luta contra a corrupção
e o acelerar das reformas judiciais.
Agora von der Leyen destacou que
“a Ucrânia continua a enfrentar
enormes dificuldades e a confron-
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
tar-se com a tragédia provocada
pela guerra de agressão da Rússia”,
mas acrescentou que, apesar des-
tas dificuldades, o país tem prosse-
guido reformas “profundas” com
vista à adesão à UE.
Com a sua contraofensiva a não
avançar ao ritmo que desejaria – o
presidente Zelensky veio mesmo
desmentir as palavras de um seu
general segundo o qual o conflito
estaria num “impasse” – e com a
guerra entre o Hamas e Israel a des-
viar as atenções mediáticas da
Ucrânia, Kiev precisava destas boas
notícias vindas de Bruxelas.
Se em meados de dezembro, no
Conselho Europeu, os 27 confir-
Putin pede mais
cooperação militar
entre Rússia e China
Vladimir Putin defendeu ontem que
Moscovo e Pequim devem expandir
a sua cooperação em satélites
militares e outras tecnologias de
defesa, durante um encontro com
um alto funcionário militar chinês.
Numa declaração televisiva, no
início da sua reunião com o general
Zhang Youxia – que é o segundo
oficial na hierarquia militar da China
e vice-presidente da Comissão
Militar Central – o presidente russo
sublinhou a importância de
desenvolver laços militares mais
estreitos entre os dois países,
argumentando que a cooperação
nas esferas de alta tecnologia está
no topo das prioridades. “Refiro-me
ao espaço, incluindo ativos de alta
órbita, e a novos tipos de armas que
garantam a segurança estratégica
tanto da Rússia como da República
Popular da China”, defendeu Putin,
explicando que “a Rússia e a China
não estão a construir nenhuma
aliança militar baseada nos padrões
da Guerra Fria”, mas antes a
procurar “estabilizar a situação
internacional”. No ano passado, o
presidente chinês, Xi Jinping,
assumiu amizade “sem limites” com
a Rússia e, nos últimos meses,
Pequim criticou as sanções
ocidentais contra Moscovo e
acusou a NATO e os EUA de
provocarem a ação militar da Rússia
na Ucrânia. A Rússia, por sua vez,
tem manifestado continuamente
apoio a Pequim em questões
relacionadas com o conflito sobre
Taiwan.
marem as conclusões da Comis-
são, a Ucrânia (e a Moldávia) irão
juntar-se a uma lista de países eu-
ropeus que já encetaram negocia-
ções com a UE para a adesão. Mes-
mo se alguns, como a Turquia, es-
peram há longos anos pela entrada
no bloco europeu. Candidata des-
de 1999, a Turquia viu as negocia-
ções começarem em 2005, estando
congeladas desde 2018.
Alargar para travar apetite
expansionista russo
“Uma União Europeia mais forte,
maior e mais unida é a resposta
geopolítica à guerra de agressão da
Rússia” na Ucrânia, afirmava on-
tem a ministra dos Negócios Es-
trangeiros alemã, Annalena Baer-
bock. A chefe da diplomacia de
Berlim colocava em palavras uma
ideia defendida por vários Estados-
-membros que veem no cresci-
mento da família europeia para
Leste uma forma de controlar o
apetite expansionista russo.
Uma preocupação que também
terá contribuído para o parecer fa-
vorável dado à Moldávia, país de
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023
língua romena entre os mais po-
bres da Europa cujas autoridades
têm denunciado com regularidade
as tentativas de desestabilização da
Rússia. Para von der Leyen, a Mol-
dávia “realizou reformas significa-
tivas apesar dos esforços constan-
tes” de ingerência estrangeira.
Já a Geórgia, cujos territórios da
Abcásia e Ossétia do Sul estão ocu-
pados pela Rússia desde a guerra
de 2008, recebeu o estatuto de can-
didato que lhe fora negado no ano
passado. “Alegro-me com o povo
georgiano e saúdo a recomenda-
ção positiva da Comissão Euro-
peia”, reagiu a presidente georgia-
na, a pró-ocidental Salomé Zoura-
bichvili.
Tiblíssi foi, no entanto, avisada
que terá de fazer reformas profun-
das para corresponder às “aspira-
ções da esmagadora maioria dos
seus cidadãos de aderir à UE”, aler-
tou Von der Leyen.
A Comissão Europeia recomen-
dou ainda a abertura de negocia-
ções de adesão com a Bósnia-Her-
zegovina condicionando-a, no en-
tanto, ao cumprimento de todos os
critérios por parte deste país dos
Balcãs Ocidentais. “Escancarámos
a porta”, explicou Von der Leyen,
mas Bruxelas espera progressos si-
gnificativos. “São necessários mais
esforços, que passam pela adoção
de importantes reformas do Esta-
do de Direito e do sistema judicial
e pela concretização de reformas
constitucionais e eleitorais, as
quais são absolutamente prioritá-
rias para garantir a igualdade de di-
reitos de todos os cidadãos. É igual-
mente importante salvaguardar a
ordem constitucional do país. As
medidas secessionistas e autoritá-
rias introduzidas na entidade da
República Sérvia não estão em
consonância com a via da adesão à
UE”, lê-se no relatório.
A Albânia, Montenegro e Mace-
dónia do Norte permanecem com
o estatuto de países candidatos,
com perspetiva de abertura de ne-
gociações de adesão, enquanto a
Sérvia, já candidata, e Kosovo ain-
da não iniciaram a aplicação das
suas respetivas obrigações vincu-
lativas.
A Turquia é que não vê qualquer
alteração ao seu estatuto, com o re-
latório a destacar que “continua a
ser um parceiro fundamental para
a União Europeia e um país candi-
dato, mas as negociações de ade-
são permanecem num impasse
desde 2018, em conformidade com
a decisão do Conselho Europeu.” A
Comissão recomenda ainda que
Ancara “deve tomar medidas deci-
sivas para melhorar significativa-
mente o alinhamento pela política
externa e de segurança da UE e in-
tensificar a cooperação em maté-
ria de prevenção e deteção da eva-
são a medidas restritivas”.
Um eventual alargamento deve-
rá também implicar reformas na
própria UE, de forma a poder fun-
cionar com um número maior de
países. Com AFP
Candidatos a várias velocidades
UCRÂNIA
Apesar da invasão russa em feve-
reiro de 2022 e depois de em ju-
nho lhe ter sido dado estatuto de
candidato à adesão, Kiev rece-
beu luz verde da Comissão para
passar à fase das negociações
para a entrada na UE. O relatório
sublinha que a Ucrânia acelerou
reformas nos últimos cinco me-
ses. Dos sete passos para a aber-
tura das negociações, Kiev com-
pletou quatro. Mas a UE alerta
que tem de melhorar em várias
áreas: luta contra a corrupção;
implementar uma lei para limitar
o poder dos oligarcas e garantir o
reconhecimento dos direitos das
minorias, sobretudo da língua.
MOLDÁVIA
Depois de receber o estatuto de
candidato em junho, a Moldávia
também recebe luz verde para
passar à fase de negociações,
com base nos progressos feitos.
A Comissão destaca o reforço da
democracia e Estado de Direito, o
maior envolvimento da sociedade
civil e a reforma da Administração
Pública, da Justiça, além da luta
contra o crime organizado e a
corrupção. Apesar de esta ainda
precisar de melhorias, tal como a
desoligarquização do país.
GEÓRGIA
Apesar da recusa em aplicar san-
ções à Rússia e de receios em re-
lação a um recuo da democracia,
a UE atribui à Geórgia o estatuto
de candidato à adesão que lhe
foi negado em junho. A Comis-
são destaca progressos nas 12
áreas chave que definira para o
goveno georgiano melhorar –
sobretudo igualdade de género e
no combate à violência contra as
mulheres. Mas alerta que ainda
precisa de trabalhar na luta con-
tra a desinformação e a interfe-
rência estrangeira (leia-se russa),
além de ter de garantir eleições
livres e justas no próximo ano.
ALBÂNIA
Com estatuto de candidato des-
de 2014, Tirana iniciou as nego-
ciações para a adesão em 2022,
mas o relatório conclui que tem
de acelerar as reformas para o
processo avançar. Elogiada por
manter o alinhamento com a UE
em termos de política externa e
de defesa, Tirana tem de fazer
melhorar a luta contra a corru-
pção e fazer reformas na liberda-
de de expressão, direitos das mi-
norias e Estado de Direito.
BÓSNIA-HERZEGOVINA
Candidata à adesão, a Bósnia tem
luz verde para encetar negociações
desde que cumpra 14 critérios. O
relatório destaca progressos no ali-
nhamento com a UE, apesar de não
ter imposto sanções à Rússia, mas
aponta melhorias necessárias. A co-
meçar pelo desenvolvimento da
República Srpska (República Sér-
via), uma das duas unidades admi-
nistrativas do país. O relatório critica
a falta de reformas do sistema ju-
dicial e restrições na liberdade de
expressão e dos media.
KOSOVO
Pediu a adesão em dezembro de
2022, mas o relatório sublinha
que tem de normalizar as rela-
ções com a Sérvia para tal. Des-
taca progressos na reforma elei-
toral, Direitos Humanos e econo-
mia de mercado. Mas tem de me-
lhorar a luta contra a corrupção e
o sistema judicial.
MONTENEGRO
A UE abriu negociações para a
adesão em 2012, mas o progres-
so depende do respeito pelo Es-
tado de Direito. O relatório desta-
ca as boas relações com os vizi-
nhos, alinhamento com a UE e
avanços na liberdade de expres-
são. O maior desafio é a reforma
da Justiça, além da luta contra a
corrupção e crime organizado.
MACEDÓNIA DO NORTE
Com a candidatura em processo
de avaliação, Skopje recebeu
aplausos da UE. Relatório desta-
ca progressos na Justiça, liberda-
de e segurança. Precisa de me-
lhorar a luta contra a corrupção,
o crime organizado e a reforma
da Administração Pública.
SÉRVIA
Negociações para adesão come-
çaram em 2014, mas recusa em
impor sanções à Rússia e tensões
com o Kosovo travaram o proces-
so. Belgrado já fechou dois capí-
tulos de adesão e o relatório re-
comendou a abertura do tercei-
ro. Mas França, Itália e Alemanha
pressionam para melhorar rela-
ções com Pristina. Recebeu elo-
gios pela reforma judicial, mas
críticas pela falta de alinhamento
com a UE na política externa,
com destaque para a proximida-
de à Rússia e China.
TURQUIA
Candidata à adesão desde 1999,
tem processo congelado desde
2018. Relatório destaca coopera-
ção com Ancara em áreas como
energia, migrações, contraterro-
rismo e comércio. Mas diz que
Turquia se continua a afastar da
UE, criticando o recuo no Estado
de Direito e independência da
Justiça. Tensões com Grécia e
impasse em Chipre são desafios.
Opinião
João Almeida
Moreira
Pela boca morre o Lula?
“
E
u não quero fazer
corte de investimen-
tos em obras, se o
Brasil tiver um défice
de 0,25% ou de 0,5%. Isso é
absolutamente nada, dificil-
mente, portanto, o Governo
vai conseguir alcançar a meta
de zero no défice orçamental
em 2024”, disse Lula da Silva,
presidente do Brasil, ao res-
ponder à última das pergun-
tas dos jornalistas num seleto
pequeno-almoço no Palácio
do Planalto, por estes dias.
No nano centésimo se-
guinte, o hipersensível mer-
cado fez a bolsa cair e o dólar
subir. Horas depois, os holo-
fotes das televisões encan-
dearam Fernando Haddad, o
ministro das Finanças que
havia prometido o tal zero e
que, com a declaração do
chefe, passou por desautori-
zado e ultrapassado. A oposi-
ção foi para as redes sociais
amplificar a crise. Os políti-
cos do Centrão, a entidade
que mantém os governos,
uns depois dos outros, reféns
do seu apetite e suga tudo o
que pode dos cofres do Esta-
do, esfregaram as mãos, cer-
tos de que ninguém se benefi-
ciará mais do que eles da im-
plosão da tal meta. Os
editoriais dos jornais denun-
ciaram a “típica gastança do
Partido dos Trabalhadores”. E
o próprio PT, numa saia justa,
disse que sim, que não, que
talvez.
O problema está, sem dúvi-
da, no emissor.
Lula cometeu a enésima
gafe desde que se tornou
presidente da República.
Enésima não, a quadragési-
ma, segundo contabilidade
do site Poder360. Outros veí-
culos de comunicação social
falam num número de lap-
sos mais alto ou mais baixo,
consoante o critério contabi-
lístico. Há quem divida os
deslizes por categoria – ofen-
sas a minorias, disparates di-
plomáticos, trapalhadas eco-
nómicas, imprecisões históri-
cas, faltas jurídicas. Os mais
exatos optam por cálculos do
tipo 1,2 gafes semanais, cinco
23
mensais, 0,03 por minuto ou
coisa que o valha.
Lula iniciou a carreira políti-
ca a falar de megafone em
cima do capô de carros esta-
cionados em parques de esta-
cionamento ao lado das fábri-
cas metalúrgicas de São Ber-
nardo do Campo. E, hoje,
ainda é nos discursos roucos
de improviso, aqueles que co-
meçam com “companheiros e
companheiras”, que obtém os
melhores resultados. Aliás, a
maioria das gafes listadas na
comunicação social ocorreu
quando ele estava, contra a
sua natureza, de fato, gravata,
óculos sobre o nariz e meia
dúzia de papéis escritos por
outrem à frente.
Mas o problema está tam-
bém no recetor.
Se o presidente fala em gas-
tos, o mercado eriça o pelo
como um gato molhado, se
fala em cortes, os sindicatos
agitam bandeiras vermelhas,
se toca na palavra “aborto”, os
evangélicos benzem-se logo,
se se esquece de dizer “com-
panheiras e companheiros”,
por esta ordem, as progres-
sistas, a começar pela primei-
ra-dama Janja da Silva, pu-
xam-lhe a orelha imediata-
mente, se pede paz, o
Zelensky ofende-se, se fala
em negociações, o Netanya-
hu repudia. E se fica calado é
sinal de que não tem o que
dizer, que ficou sem palavras,
que está velho, que deve estar
doente.
Entretanto, desde a decla-
ração sobre o défice, Lula já
foi visto abraçado, com a mão
colocada no coração do del-
fim Haddad, a fazer graças
para a imprensa, em alegre
reunião com o Centrão, muito
longe de parecer preocupado
com os lapsos. E os dirigentes
do PT, ouvidos nos jornais,
também os relativizam.
Afinal, se gafes fizessem
perder eleições, o antecessor
de Lula nem para vereador do
Rio de Janeiro teria sido eleito.
Jornalista, correspondente
em São Paulo
 Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
24 DESPORTO

ESTÁDIO REALE ARENA

ÁRBITRO ANTHONY TAYLOR (INGLATERRA)

REAL SOCIEDAD BENFICA

3 1
ALEJANDRO REMIRO TRUBIN
ELUSTONDO (86’) ANTÓNIO SILVA
ZUBELDIA OTAMENDI
LE NORMAND MORATO
AIHEN MUÑOZ JOÃO NEVES
ZUBIMENDI FLORENTINO LUÍS (31’)
BRAIS MÉNDEZ (70’) JOÃO MÁRIO (86’)
MIKEL MERINO AURSNES
TAKE KUBO (70’) DI MARÍA (86’)
OYARZABAL ARTHUR CABRAL (64’)
BARRENETXEA (78’) RAFA SILVA (86’)
TREINADOR TREINADOR
IMANOL ALGUACIL ROGER SCHMIDT
SUBSTITUIÇÕES SUBSTITUIÇÕES
CARLOS FERNÁNDEZ (70’) JURÁSEK (31’)
TURRIENTES (70’) PETAR MUSA (64’)
ZAKHARYAN (78’) CHIQUINHO (86’)
ODRIOZOLA (86’) GONÇALO GUEDES (86’)

EPA / JUAN HERRERO

TENGSTEDT (86’)
GOLOS: MIKEL MERINO (6’), OYARZABAL (11’),
BARRENETXEA (21’), RAFA SILVA (49’).
CARTÕES AMARELOS: FLORENTINO LUÍS (20’),
BARRENETXEA (63’), CARLOS FERNÁNDEZ (86’).
O argentino Di María é a imagem do desespero dos jogadores do Benfica em San Sebastián.

LIGA DOS CAMPEÕES

Real banho de bola na primeira parte 4.ª JORNADA

deixa Benfica fora da Champions GRUPO A

Bayern Munique-Galatasaray, 2-1
FC Copenhaga-Man. United, 4-3
GRUPO B
DESILUSÃO Quando aos 30 minutos a Real Sociedad vencia por 3-0, muitos ter-se-ão lembrado PSV Eindhoven-Lens, 1-0
Arsenal-Sevilha, 2-0
do pesadelo de Vigo. Rafa acabou por amenizar a derrota para 1-3. Agora, aos encarnados resta GRUPO C
Nápoles–Union Berlim, 1-1
lutar pela Liga Europa e por evitar a pior época de sempre na fase de grupos. Real Madrid–SP. BRAGA, 3-0

PTS J G
1. Real Madrid 12 4 9-3
TEXTO CARLOS NOGUEIRA 2. Nápoles 7 4 6-5
3. SP. BRAGA 3 4 5-9

O
Benfica viveu ontem 45
minutos de pesadelo em
San Sebastián, período
durante o qual foi vulgari-
zado pela Real Sociedad, que à meia-
-hora vencia por por 3-0, tinha visto
dois golos anulados e ainda falhou
um penálti. Um autêntico banho de
bola da equipa espanhola, que aca-
bou por ser amenizada após um in-
tervalo com um golo de Rafa que di-
tou o 3-1 final, mas que não evitou a
eliminação dos encarnados da Liga
dos Campeões. Agora, resta fazer
pontos nos dois jogos que faltam – In-
ter em casa e em Salzburgo – para po-
der passar para a Liga Europa.
Roger Schmidt apostou no 3x4x3
que adotou nos últimos jogos na es-
perança de ter mais posse de bola e,
dessa forma, travar o tiki-taka da
Real Sociedad, que tinha dominado
por completo o jogo na Luz. Só que
aquilo que o alemão pensava ser
uma boa ideia transformou-se num
pesadelo, com os jogadores do Ben-
fica a chegarem sempre atrasados
aos lances e a verem o adversário a
trocar a bola de forma rápida e a en-
contrar facilmente espaços por onde
entrar na área e visar a baliza de Tru-
bin.
Mikel Merino abriu o marcador
logo aos seis minutos, no primeiro
remate à baliza, e abriu uma autên-
tica caixa de Pandora, de onde foram
saindo erros sucessivos da defesa
benfiquista, com João Neves a mos-
trar que não pode jogar na direita,
como se provou no terceiro golo
quando Barrenetxea passou pelo jo-
vem e rematou sem hipóteses para
Trubin. Antes, já Oyarzabal tinha
aproveitado um erro de principian-
te dos encarnados, quando o passe
atrasado de Florentino não foi cap-
tado por Otamendi, tendo o avança-
do espanhol ficado isolado.
Em 30 minutos a Real Sociedad
marcou três golos, viu dois serem
anulados e ainda falhou um penálti
cometido por Otamendi sobre Oyar-
zabal: Merino rematou ao poste.
À meia-hora, Schmidt tirou Flo-
rentino e lançou Jurásek, passando
João Neves para o meio-campo,
Aursnes para a direita, com o lateral
checo a ocupar a esquerda. A partir
desse momento, o Benfica conse-
guiu estancar um pouco a avalan-
cha ofensiva dos bascos e ainda
conseguiu aproximar-se da baliza
de Remiro por duas vezes , mas sem
perigo.
O apito do árbitro para o interva-
lo terá sido uma espécie de alívio
para os adeptos benfiquistas que,
por certo, terão recordado, com na-
tural temor, o pesadelo de Vigo no
dia 25 de novembro de 2019, quan-
do o Celta goleou por 7-0.
Era complicada a missão do Ben-
fica na segunda parte, afinal dar a
volta ao resultado era uma missão
impossível, pelo que restava entrar
em campo e lutar pelo prestígio e
pela dignidade de uma equipa que
nas duas últimas épocas chegou aos
quartos-de-final da Liga dos Cam-
peões.
E bem se pode dizer que esse ob-
4. Union Berlim 1 4 3-6
jetivo foi alcançado. Não que a equi-
pa de Schmidt tenha deslumbrado, GRUPO D
mas pelo menos equilibrou a parti- RB Salzburgo-Inter Milão, 0-1
da e não voltou a ser amassada pela Real Sociedad-BENFICA, 3-1
Real Sociedad, que deixou de con- PTS J G
seguir fazer o seu tiki-taka de forma 1. Real Sociedad 10 4 7-2
tão fluida e avassaladora. Isto por- 2. Inter Milão 10 4 5-2
que as águias passaram a ser mais 3. RB Salzburgo 3 4 3-5
ativos na recuperação da bola e con- 4. BENFICA 0 4 1-7
seguiram jogar mais no meio-cam-
po adversário. GRUPO E
O golo de Rafa Silva logo aos 49 Lazio-Feyenoord, 1-0
minutos, após assistência de Ota- Atlético de Madrid-Celtic, 6-0
mendi, acabou por servir para sere- GRUPO F
nar um pouco os jogadores. Nesse Borussia Dortmund-Newcastle, 2-0
AC Milan-PSG, 2-1
momento, o Benfica marcava o pri-
meiro golo nesta edição da Cham- GRUPO G
Estrela Vermelha-RB Leipzig, 1-2
pions, ao fim de 319 minutos de fu- Manchester City-Young Boys, 3-0
tebol, o que ilustra bem a péssima GRUPO H
época internacional da equipa de Shakhtar Donetsk-Barcelona, 1-0
Roger Schmidt. O alemão tem ago- FC PORTO-Antuérpia, 2-0
ra o desafio de evitar igualar o pior PTS J G
registo do clube nesta prova, quan- 1. FC PORTO 9 4 9-3
do em 2017/18, com Rui Vitória no 2. Barcelona 9 4 8-2
comando, terminou a fase de gru- 3. Shakhtar Donetsk 6 4 6-7
pos com zero pontos. 4. Antuérpia 0 4 3-12
carlos.nogueira@dn.pt
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 25

Faltou ouvir as sábias palavras do

ESTÁDIO SANTIAGO BERNABÉU (MADRID)
ÁRBITRO IVANA MARTINCIC (CROÁCIA)

Sr. Champions para evitar perder REAL MADRID SP. BRAGA

3 0
DERROTA Ancelotti tinha avisado que na Liga dos Campeões não basta jogar bem para ganhar LUNIN MATHEUS
e Braga teve ontem essa lição, acumulando erros. Djaló falhou penálti para os minhotos. LUCAS VÁSQUEZ (73’) VICTOR GÓMEZ (63’)
RUDIGER JOSÉ FONTE
NACHO NIAKATÉ
MENDY (84’) BORJA
TEXTO ISAURA ALMEIDA CAMAVINGA JOÃO MOUTINHO
KROOS VÍTOR CARVALHO (63’)

U
VALVERDE (77’) ZALAZAR
m Sp. Braga demasiado
BRAHIM DIAZ (74’) RICARDO HORTA (62’)
macio a defender (aca-
bou o jogo sem qualquer RODRYGO (77’) BRUMA (77’)
cartão amarelo) e des- VINÍCIUS JÚNIOR ÁLVARO DJALÓ (77’)
crente ofensivamente (desperdiçou TREINADOR TREINADOR
um penálti aos 5 minutos) só podia CARLO ANCELOTTI ARTUR JORGE
sair do Santiago Bernabéu com SUBSTITUIÇÕES SUBSTITUIÇÕES
uma pesada derrota diante do Real DANI CARVAJAL (73’) ABEL RUIZ (62’)
Madrid (3-0). Os merengues garan- LUKA MODRIC (74’) AL MUSRATI (63’)
tiram a passagem aos oitavos de fi- JOSELU (77’) JOE MENDES (63’)
nal da Liga dos Campeões. Algo que NICO PAZ (77’) SIMON BANZA (77’)
os minhotos ainda podem aspirar FRAN GARCÍA (84’) ANDRÉ HORTA (77’)
depois do empate do Nápoles com
o Union Berlin (1-1), embora a tare- GOLOS: BRAHIM DÍAZ (27’’), VINÍCIUS JR. (58’), RODRYGO
(61’),
fa não seja fácil: precisam vencer os
dois jogos que lhe faltam, precisa- CARTÕES AMARELOS: LUCAS VÁZQUEZ (5’)
PIERRE-PHILIPPE MARCOU / AFP

mente frente a esses dois adversá-

rios, e esperar que os italianos per- português recebeu a bola, driblou
cam frente ao Real Madrid. Rudiger e caiu na área, ficando a pe-
O sábio Carlo Ancelotti disse na dir novo penálti sem sucesso.
antevisão do jogo com o Sp. Braga Vinícius Jr. e Rodrygo tentaram
que para vencer na Champions era ampliar o marcador – depois de
preciso algo mais do que jogar bem, uma perdida incrível Djaló – algo
critério que reconhecia à equipa de que só conseguiram no segundo
Artur Jorge, que por sua vez concor- O momento em que Lunin evita o golo do Sp. Braga em pleno Santiago Bernabéu. tempo. No regresso do balneário,
dou com o técnico italiano do Real, Artur Jorge pediu aos jogadores para
que já levantou cinco troféus. Para Djaló podia ter colocado os guerrei- Logo depois um erro de Niakaté locidade por Rodrygo e esquece- rematarem à baliza, mas acabou o
vencer na prova milionária é preci- ros a vencer o Real Madrid aos cin- resultou num golo de Brahim Díaz, ram-se de seguir as movimentações segundo tempo com apenas três re-
so aproveitar as oportunidades e co minutos de jogo, mas faltou efi- mas o lance foi anulado por falta de do prodígio espanhol. E assim, de mates (contra 11 do Real Madrid),
não cometer erros como os que os cácia. O lance ficará de certo na me- Vinícius Jr. Foi mais um sinal do po- erro em erro, o Sp. Braga foi penali- um dele a fechar o jogo por Abel
minhotos protagonizaram ontem. mória do jovem Andriy Lunin, que derio ofensivo dos merengues, que zado, mas nunca deixou de mostrar Ruiz, que segundos antes do apito
A grande penalidade ganha por foi chamado à titularidade na se- chegariam à vantagem no marcador que podia discutir o jogo e o resulta- final viu Lunin evitar o golo de hon-
Borja (agarrado por Lucas Vásquez quência da lesão de Kepa no aque- por Brahim Díaz . Ficaram todos a do. Bruma era o nome do perigo mi- ra dos minhotos.
na área) e desperdiçada por Álvaro cimento. olhar para a bola conduzida em ve- nhoto. Aos 20 minutos, o extremo isaura.almeida@dn.pt

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Raków “é mais crucial” para Sporting que o dérbi EDITAL

LIGA EUROPA Rúben Amorim não conta com Gyökeres, Geny e Morita para a receção aos N.o 2 / 2023
polacos. Treinador avisou que Gonçalo Inácio não sai sem ser pela cláusula: 60 milhões.
Imóvel sito no
Largo da Misericórdia,

S
em Gyökeres (castigo), o de domingo, o foco é vencer o não é por isso que terá folga. O em Évora de Alcobaça
Geny Catamo e Morita Raków”, frisa o treinador do Sporting. avançado irá treinar, segundo
(ambos por lesão), mas Gyökeres foi expulso na Polónia Amorim, tendo em conta que no Constatou-se que o imóvel sito no Largo de Misericórdia, em Évora de Alcobaça, se encontra
(1-1) antes dos dez minutos de jogo devoluto e em avançado estado de degradação, nomeadamente fissuras e elementos da
com o capitão Coates apto domingo há jogo com o Benfica e
fachada em risco de queda para a via pública, com vegetação e resíduos no seu interior,
“física e mentalmente” e Adán de e por isso é baixa para hoje. Mas ele precisa estar descansado, mas representando tal situação um foco de insalubridade e insegurança no local.
volta à baliza, o Sporting recebe em forma. Nos últimos 11 jogos, os Assim, convoca-se, nos termos da alínea d) do n.o 1, do artigo 112.o do Código do Procedimento

LIGA EUROPA
hoje o Raków (20.00, SIC). Para Rú- dois tropeções aconteceram na Administrativo, os proprietários ou presumíveis herdeiros (cuja identidade e paradeiro se
ben Amorim, este jogo “é mais cru- Liga Europa. Voltar aos triunfos nas desconhece) do imóvel sito no Largo da Misericórdia, em Évora de Alcobaça, para, no prazo
cial” para as ambições leoninas na HOJE provas europeias é o objetivo... até máximo de sessenta dias, procederem à demolição do referido imóvel, bem como proceder ao
corte da vegetação e limpeza dos resíduos que se encontram no interior do imóvel.
Liga Europa do que o Benfica (do- Grupo D pela aproximação do dérbi. Findo o prazo concedido, e caso não se verifique o cumprimento do determinado, a Junta de
mingo) pode ser para as contas do Atalanta-Sturm Graz (20.00) Sobre a cobiça do Real Madrid e Freguesia de Évora de Alcobaça irá proceder à execução dos trabalhos.
campeonato. Sporting-Raków (20.00, SIC) do Manchester United a Gonçalo Para constar, e para os devidos efeitos, se publica o presente edital no edifício da Junta de
Chegar ao Estádio da Luz com a P J G Inácio a resposta é simples: “Se pa- Freguesia, no referido imóvel e num jornal de circulação nacional.
moral em alta é por isso secundário: 1.º Atalanta 7 3 6-3 garem a cláusula de rescisão não há Évora de Alcobaça, 8 de novembro de 2023
“Em termos de contas este é mais 2.º SPORTING 4 3 4-4 nada a fazer, sem pagarem a cláu- O Presidente da Junta
crucial, embora o objetivo principal 3.º Sturm Graz 4 3 4-4 sula não sai ninguém.” A do defesa Fernando Manuel Martins Azeitona
seja o campeonato. Entre este jogo e 3.º Raków 1 3 1-4 central é de 60 milhões de euros.
 Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
26 ESPECIAL

peito. Contudo, em Hangzhou, a

prática difere: se o chá for ofereci-
do pela terceira vez é sinal de que
está na hora da despedida do con-
vidado.”
O chá, com seu aroma refrescan-
te e um leve toque de amargo ads-
tringente, promove a tranquilida-
de interior, que se alinha harmo-
niosamente com “a introspeção e
o cultivo do caráter moral”, um
princípio defendido pelo confu-
cionismo, budismo e taoismo. Por
isso, foi acolhido tanto pelos eru-
ditos e funcionários administrati-
vos da Antiguidade como pelas
pessoas comuns. Ao longo de mi-
lhares de anos de evolução e trans-
missão cultural, o chá tem feito
parte integral da vida quotidiana
chinesa, expressando a etiqueta, o
respeito mútuo e a essência da cul-
Agricultores colhem folhas de chá na Província de Hunan, na China. tural chinesa, que são a modéstia,
a harmonia, a cortesia e o respeito.
terrestre, a elocução assemelha- Por exemplo, ao oferecer chá ao

Milénios de sabor do chá: -se a “cha”, como em línguas ára-

be, turca, persa, hindi e russa, cuja
origem que pode ser rastreada até
convidado, a chávena de chá deve
ser colocada numa bandeja e
apresentada com ambas as mãos;

das folhas à cultura

aos dialetos do norte da China e o convidado, por sua vez, deve
da região de Guangdong.
Por outro lado, o chá que che-
gou à Europa através das rotas
A origem do consumo de chá na China remonta à Dinastia Qin marítimas apresenta uma pro-
(221-207 a.C.). No princípio, o chá era utilizado exclusivamente para núncia semelhante ao “teh”, do
dialeto do sul de Fujian, na China.
fins terapêuticos. Entretanto, à medida que as técnicas do seu cultivo Isto pode ser observado em lín-
guas como o holandês thee, o fran-
e a preparação tinham sido evoluídas, o chá passou a ser uma bebida cês thé, o alemão tee e o inglês tea,
popular para os chineses. Ao longo de milhares de anos de evolução e supostamente porque, ao longo
da história, a maioria das embar-
transmissão cultural, o chá tem feito parte integral da vida quotidiana cações europeias, incluindo as ho-
chinesa, expressando a etiqueta, o respeito mútuo e a essência cultural landesas, adquiriram o chá em
Fujian. Contudo, o “chá” em por-
chinesa, que são a modéstia, a harmonia, a cortesia e o respeito. tuguês é uma exceção. Isto deve-
-se ao longo envolvimento de Por-
tugal no comércio marítimo de
chá em Macau, onde se fala o can-
tonês, o principal dialeto da região
de Guangdong, sul da China.
Gaspar da Cruz, um missionário
português, foi um dos primeiros Para além do chá, Yum Cha
estrangeiros a observar e registar o é servido com uma variedade
costume chinês de beber chá. O de Dim Sum requintados.
missionário navegou para a China
no século XVI e viveu em aceitá-la com ambas as mãos e
Guangzhou por algum tempo. acenar com a cabeça para agrade-
Numa das suas obras, “Tratado das cer. Ao beber, é habitual saborear
Coisas da China”, sublinha-se uma a bebida em pequenos goles.
tradição: “Quando se recebe um Por outro lado, o consumo de
convidado, é comum uma casa chá também desempenha um pa-
chinesa oferecer uma chávena de pel fundamental na interação so-
chá quente. Esta bebida, servida cial na China. A tradição do Yum
numa chávena de porcelana sobre Cha nas regiões de Guangdong,
O chá verde Longjing, do Lago do Oeste. Na etiqueta tradicional chinesa, o chá deve ser uma bandeja delicada, apresenta Hong Kong e Macau é um bom
servido aos convidados com ambas as mãos uma tonalidade avermelhada e um exemplo. Yum Cha, significa lite-
como sinal de respeito. sabor medicinal marcante, é uma ralmente beber chá, mas de facto
infusão feita de erva que tenha um não apenas beber chá, mas tam-

A
origem do consumo de
chá na China remonta à
Dinastia Qin (221-207
a.C.). Existe uma lenda
chinesa acerca da descoberta do
chá. Shennong, uma figura mito-
lógica, dedicou-se à tarefa de ex-
perimentar plantas herbáceas
para determinar os seus valores
medicinais. Numa dessas oca-
siões, deparou-se com a árvore do
chá e decidiu provar a infusão das
suas folhas.
No princípio, o chá era utilizado
exclusivamente para fins terapêu-
ticos. Entretanto, à medida que as
técnicas do seu cultivo e a prepa-
ração foram evoluindo, o chá pas-
sou a ser uma bebida popular para
os chineses. Reconhecida pela sua
extensa variedade, o chá é catego-
rizado conforme a cor e o método
de processamento em seis princi-
pais tipos: chá preto, chá verde,
chá oolong, chá amarelo, chá es-
curo e chá branco.
De entre os mais conhecidos,
destacam-se o Longjing, do Lago
do Oeste, em Hangzhou, Zhejiang;
o Bi Luo Chun, em Suzhou,
Jiangsu; o Tieguanyin, em Anxi,
Quanzhou, Fujian; o Huangshan
Maofeng, em Anhui; e o Xinyang
Maojian, em Henan.
Com o florescimento do comér-
cio ultramarino, o chá chinês, jun-
tamente com a sua pronúncia, fo-
ram disseminados desde cedo
por todo o mundo. A palavra
“chá” apresenta principalmente
duas variações de pronúncia. Nas
regiões ao longo da Rota da Seda
leve gosto amargo, e os chineses bém comer Dim Sum, petiscos
consomem-no com frequência.” cantoneses. No momento do Yum
Outro missionário, Álvaro Se- Cha, os amigos e familiares reú-
medo, também descreveu a eti- nem-se nos restaurantes canto-
queta envolvida no culto do chá. neses, bebendo chá, comendo
Segundo ele, “o anfitrião dispõe Dim Sum e conversando, numa
de um lugar adequado para o atmosfera agradável.
convidado segundo o seu estatu-
to; logo que o convidado se aco-
mode, ser-lhe-á servido uma chá-
vena de chá com ordem sequen-
cial.” Acrescentou ainda que,
“nalgumas províncias, oferecer
chá várias vezes é um sinal de res- INICIATIVA DO MACAO DAILY NEWS
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023
Durante 30 minutos, os visitantes podem ver várias obras projetadas no reservatório.
Da pintura à Inteligência Artificial. A
viagem pelo mundo cibernético de Dalí
ARTE A exposição imersiva abre hoje no Reservatório da Mãe D’Água das Amoreiras
em Lisboa com as obras mais conhecidas do pintor espanhol Salvador Dalí.
TEXTO MARIANA DE MELO GONÇALVES
N
um sofá em forma de lá-
bio pode viajar-se pelas
obras cibernéticas do
pintor Salvador Dalí em
Lisboa. A exposição Dalí Cyberne-
tics do Ateliê Ocubo abre hoje no
Museu da Água – Reservatório da
Mãe D’Água das Amoreiras, onde
ficará durante seis meses.
O Ateliê Ocubo tem vindo a des-
envolver várias mostras interativas
de grandes artistas como Monet,
Klimt, Frida Kahlo e Michelangelo
em Lisboa e no Porto. Agora, os
seus responsáveis decidiram dar
vida aos relógios, olhos e insetos do
artista espanhol Dalí. “Acreditamos
que, no dia de hoje, existe uma re-
flexão sobre como a tecnologia e a
Inteligência Artificial estão a entrar
nas nossas vidas. Acho que não ti-
nha momento melhor para fazer
uma exposição do Salvador Dalí.
Uma exposição que tem um forte
conceito. Dalí foi o primeiro a dizer
que a tecnologia ia entrar no nosso
mundo”, explicou ao DN Edoardo
Canessa, produtor executivo do
Ocubo.
A ideia para uma exposição
imersiva é aproximar o público do
mundo das artes. “Acreditamos
que, através do digital, das tecnolo-
gias, da interatividade consegui-
mos aproximar muito mais pes-
soas que se sentiam longe da artes”,
acrescenta Edoardo Canessa.
Ao entrar na exposição, o públi-
co é recebido por um corredor de
borboletas, um dos símbolos dos
sonhos do artista. Numa das pri-
meiras salas é projetado um pe-
queno vídeo a preto e branco de
uma entrevista – que serviu de
mote para a exposição – de Salva-
dor Dalí em 1965, onde lhe pergun-
tam qual é o futuro do arte ao que
responde: “A arte já não é interes-
sante, porque apenas está interes-
sado na cibernética, a física quân-
tica e a biologia.”
“Um génio muito avançado”
“Dalí é um génio muito avançado
para o seu tempo. Um génio que fa-
lava nos Anos 50 e 60 de Inteligên-
cia Artificial, de imagens geradas
pelo computador, de coisas que
hoje podemos fazer no século XXI,
mas que na sua época só se podia
Na exposição há uma imitação da obra Cyber Princess.
sonhar”, sublinha Jordi Sellas i Fer-
rés, diretor criativo da Layers of
Reality.
Numa sala encontra-se uma re-
produção de uma escultura do Mu-
seu Dalí de Figueras, a Cyber Prin-
cess, que é feita com computador
dos Anos 70. Em frente da escultu-
CULTURA 27
pelas paisagens surrealistas de Da-
lí, incluindo o seu famoso quadro a
Persistência da Memória. “A criação
desta parte foi um desafio porque
as pinturas são em duas dimensões
e tivemos de as transformar em três
dimensões”, explica o diretor cria-
tivo da Layers of Reality.
Num dos corredores que ligam
as salas, encontram-se poltronas
com mesas de cabeceiras ao lado,
uma chave e um prato. Este corre-
dor representa o sonho, algo pre-
cioso para Dalí.
Sono criativo
O artista costumava sentar-se à
noite numa poltrona com uma
chave na mão. Ao adormecer, dei-
FOTOS ÁLVARO ISIDORO / GLOBAL IMAGENS
xava cair a chave no prato, acor-
dando-o. Era neste primeiro sono
onde Salvador Dalí ia buscar inspi-
ração.
Antes de entrar no Reservatório
da Mãe D’Água, há uma réplica do
sofá em forma de lábio, do retrato
da Mae West. Este é o lugar perfeito
para fotografias para as redes so-
ciais.
“Nós, como artistas catalães,
consideramos o Salvador Dalí uma
influência. Por isso, recriar as suas
obras foi algo importante e muito
apaixonante. Foram dois anos e
meio de trabalho em arquivos”, ex-
plica o diretor criativo, acrescen-
tando que a pesquisa para a expo-
sição foi feita na Fundação Gala
Salvador Dalí. “Eram infinitos os ar-
quivos que lá se encontravam so-
bre todas as obras, sobre os seus
textos, vídeos e documentos”, su-
blinha.
É no Reservatório da Mãe
D’Água que o público é transporta-
do para dentro das obras do pintor
num espetáculo de luz e imagem.
São 2500 m2 de projeção de qua-
dros que se refletem na água du-
rante cerca de 30 minutos. As pro-
jeções estão divididas em temáti-
cas e interesses do pintor, por
exemplo a Física Quântica. A parte
dedicada à Inteligência Artificial
dura cerca de dois minutos e incluí
a projeção de milhares de obras em
simultâneo. Esta sequência foi cria-
da por inteligência artificial.
Ao longo da visita, é possível co-
nhecer as 150 obras mais famosas
do pintor. “Foi difícil convencer a
Fundação Dalí a deixar trabalhar
digitalmente com 150 das melho-
res obras de Dalí . Os museus têm
muito cuidado com as obras, devi-
do aos direitos de autor. E tocar
numa obra original é algo muito di-
fícil de conseguir”, refere Jordi
Sellas i Ferrés.
De momento, o Ateliê Ocubo
está com duas galerias – Dalí
Cybernetics, em Lisboa, e Living
Van Gogh, no Porto. Segundo o
ra, estão colocados vários ecrãs, produtor executivo do Ocubo, a
onde o público pode pintar dife- meio do próximo ano as duas ex-
rentes símbolos e projetá-los na es- posições serão invertidas, passan-
cultura. do a de Van Gogh para Lisboa e a de
Há ainda um espaço de realida- Salvador Dalí para o Porto.
de virtual, onde os visitantes são Os preços dos bilhetes variam
convidados a colocar os óculos e entre os 8 e 15 euros.
viajar num sofá em forma de lábio mariana.goncalves@dn.pt
28 CULTURA
O Rapaz e a Garça:
todo o Miyazaki está aqui
ANIMAÇÃO Apelidado de derradeiro filme de Hayao Miyazaki, à semelhança do anterior,
O Rapaz e a Garça chega às salas envolto numa renovada aura de canto do cisne. E o mínimo
que se pode dizer é que se trata do concentrado de uma obra, em encanto e imaginação aguçada.
TEXTO INÊS N. LOURENÇO
O
que é isto do “filme mais
pessoal de Miyazaki”?
Desde que foi lançado
no Japão, sem qualquer
campanha prévia, tornando-se um
imediato sucesso de bilheteira, O
Rapaz e a Garça regenerou o dis-
curso sobre os filmes pessoais do
grande mestre da animação japo-
nesa. E é fácil perceber o que moti-
va essa consciência: o rapaz do tí-
tulo parece claramente inspirado
num jovem Hayao Miyazaki, que
perdeu a mãe ainda em criança, e a
Segunda Guerra Mundial em pano
de fundo traz a marca de um tem-
po que nunca abandonou a me-
mória do realizador. Sendo que,
antes deste novo filme, já O Meu Vi-
zinho Totoro (1988), Porco Rosso – O
Porquinho Voador (1992) e, espe-
cialmente, As Asas do Vento (2013)
tinham inscrito na sua obra ambos
os vestígios biográficos, desde as
personagens femininas com tuber-
culose (a doença com que a mãe
morreu) ao tema dos aviões de
guerra (o pai trabalhava numa em-
presa de fabrico desses aviões).
Esclarecida a dimensão íntima,
O Rapaz e a Garça não é necessa-
riamente uma experiência intimis-
ta. Surge, sim, como o filme mais
dilatado da obra de Miyazaki, no
sentido em que não deixa escapar
nada de um imaginário construído
ao longo de décadas, onde a mais
serena imagem convive com a
mais exuberante linguagem fan-
tástica. Não há outro criador de
animação que o faça desta manei-
ra, conservando a agudeza emo-
cional, neste caso, do seu protago-
nista (costumam ser raparigas) en-
quanto desafia as leis terrenas, para
acrescentar mundos ao mundo.
É ao som das sirenes que entra-
mos no filme. Um incêndio num
hospital de Tóquio põe o “rapaz”,
Mahito, a correr desesperado na
sua direção – a mãe encontra-se no
hospital e acabará por ser consumi-
da pelas chamas. Ou melhor, tor-
nar-se-á ela própria uma chama
(que outro cineasta se lembra-
ria...?). Parecendo que não, impor-
ta revelar este momento, porque
toda a estrutura sentimental da his-
tória tem aqui a sua génese. Mais do
que uma vez, o pesadelo dessa noi-
te trágica em plena Segunda Guer-
ra vem à mente de Mahito. E o que
se segue não pode ser dissociado do
trauma da morte da mãe: é uma
resposta magistral à dor.
Voltamos então a encontrar o jo-
vem numa mudança de casa, para
ir viver com o pai – o tal trabalha-
dor da fábrica de aviões – e a nova
figura materna, Natsuko. Um lugar
por si só recheado de seres orgâni-
cos do universo de Miyazaki, como
seja um adorável bando de velhas
governantas, com narizes incha-
dos e rugas típicas. Neste cenário
aparece a personagem enigmática
de uma garça, ave que conduz Ma-
hito a uma torre abandonada, ini-
ciando-o numa aventura que o
transfere para outro reino, onde
deverá resgatar a sua mãe e tam-
bém Natsuko, entretanto desapa-
recida.
Transportados para esse outro
mundo, somos os convidados de
honra dentro de uma fantasia tão
familiar quanto inaudita. Neste
Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
Pura magia artesanal.
largo capítulo sobrenatural de O
Rapaz e a Garça, Miyazaki dá lar-
gas ao espírito criativo, conceben-
do situações atrás de situações, e
personagens atrás de persona-
gens, que confirmam um desejo
de síntese artística absoluta. Nes-
se reino há criaturinhas brancas
aos molhos (chamam-se “wara-
waras”), pelicanos e periquitos gi-
O mapa
das estrelas
O RAPAZ E A GARÇA
SLY
ABBÉ PIERRE – UMA VIDA DE CAUSAS
SOBRE L’ADAMANT
JEANNE DU BARRY – A FAVORITA DO REI
A FILHA DO REI DO PÂNTANO
QUERIDA LÉA
VICIADOS EM AMOR
REINO ANIMAL
O ASSASSINO
Mau Medíocre Com interesse
gantes, que veem em Mahito uma
boa refeição, e uma paisagem má-
gica com toque de assombro que
nos recorda muitas outras paisa-
gens concebidas pelo mesmo au-
tor. A certa altura, não será estra-
nho sentir uma influência de Os
Pássaros (1963) de Hitchcock, ou
ainda da pintura de De Chirico e
Dalí, mas essas são apenas sensa-
ções visuais num todo vertiginoso
em busca da nota perfeita para en-
cerrar uma obra.
Dito isto, o octogenário Hayao
Miyazaki pode muito bem conti-
nuar a surpreender com “derradei-
ros filmes” – afinal, O Rapaz e a Gar-
ça estreia-se uma década depois de
As Asas doVento, igualmente anun-
ciado como um adeus ao ofício. E se
esse outro filme é passível de ser vis-
to como o mais maduro da filmo-
grafia do cineasta, pela ausência de
criaturas fantásticas, a verdade é
que o novo título tem qualquer coi-
sa de recuperação de um imaginá-
rio de marca. Como se Miyazaki
quisesse avolumar ao máximo o
domínio espiritual, artesanal e es-
tético do seu universo, dar acesso
ao movimento do seu processo in-
ventivo... por uma última vez.
Altos voos
De todas as obsessões temáticas
do realizador, talvez o ato do voo, e
o elemento do vento a ele associa-
do, sejam os mais belos símbolos
do seu cinema, desde a primeirís-
sima longa-metragem, Nausicaä
do Vale do Vento (1984), até ao ba-
ter de asas dos pássaros de O Ra-
paz e Garça.
Daí que se identifique sempre
no desenho pictórico das suas nu-
vens algo do fascínio literário de
Saint-Exupéry: “Bruscamente, este
mundo tão calmo, tão unido, tão
simples, que descobrimos ao
emergir das nuvens, tinha para
mim um valor desconhecido. Era
uma tranquilidade traiçoeira. (…)
Este isco branco tornava-se para
mim a fronteira entre o real e o ir-
real, entre o conhecido e o desco-
nhecido” (Terra dos Homens).
Uma descrição precisa das ani-
mações de Miyazaki. Territórios
cuja morfologia se altera conforme
a transposição da fronteira que se-
para o real e o irreal. Mundos manu-
seados pela imaginação suprema.
JOÃO RUI PEDRO INÊS N.
LOPES TENDINHA LOURENÇO
Bom Muito bom Excecional
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 29

Cinema para fazer render prémios de

maquilhagem... Por incrível que
pareça, esteve na seleção oficial de
Cannes 2023, fora-de-competição.

Stallone: há
mais vidas para
lá de Rocky...

Empolar O resgate
a caridade de Rocky Balboa
BIOGRAFIA Foi o filme que fechou a Festa do Cinema PERFIL Num documentário lançado pela Netflix, Sly,
Francês em Lisboa. Abbé Pierre – Uma Vida de Causas, revisitamos a carreira de Sylvester Stallone, desde
sobre o padre que fundou o Emaús. Frédéric Tellier cai os tempos do anonimato até ao sucesso planetário
na esparrela do filme de indústria domado, não obstante ter de Rocky (1976): uma memória que tem a sedução
sempre um ator à altura: o precioso Benjamin Lavernhe. e os limites de um discurso “terapêutico”.

TEXTO RUI PEDRO TENDINHA TEXTO JOÃO LOPES

O O
padre que criou o o movimento
Emaús, em 1949, estando atual-
mente presente em 41 países, in-
clusive Portugal, é a Madre Teresa
dos franceses. Abbé Pierre, oriundo de boas
famílias, tornou-se num santo em França,
combatendo com o seu mediatismo situa-
ções de pobreza em todo o país. Agora teve di-
reito a dispendioso biopic que aborda o tema
da caridade como chantagem emocional ao
espectador. Truque baixo de um filme ataca-
do – bem atacado em França – por um cinis-
mo que já não se usa. Caso para dizer: de boas
intenções não se faz um filme.
Visto como um farol de esperança para os
menos afortunados, Abbé Pierre é transpos-
to aqui como um workaholic, muito mais do
que um homem de fé. Um ativista que é des-
crito por ter um compromisso inabalável com
a justiça social. O argumento vai atrás do seu
trabalho incansável para garantir que nin-
guém seja deixado para trás. Um trabalho que
denunciou ainda as políticas que criaram
sem-abrigos e desigualdades sociais.
Como este é um biopic que aceita todas as
regras mais “previsíveis” do género, a ação co-
meça quando desempenhou um papel fun-
damental na Resistência Francesa durante a
Segunda Guerra Mundial. Este filme trans-
porta-nos para esses tempos tumultuosos,
mostrando os atos corajosos que o tornaram
uma figura de destaque na luta contra a ocu-
pação nazi, ele que chegou a pegar em armas.
Frédéric Tellier, que tinha vindo do bem de-
cente Golias, aceita o jogo do seu próprio
guião em forma de tributo e parece estar
sempre a fazer um check nas variadas con-
quistas do padre herói, seja quando mostra o
seu fracasso quando tentou ser monge fran-
ciscano ou o seu mérito quando, depois de
tentar os pecados da carne, voltou ao celiba-
to. E, como a sua vida foi longa, o filme atra-
vessa muitos tempos e vai até à Paris dos nos-
sos dias, quando já o vemos bem velhinho,
mas sempre a apelar à caridade cristã peran-
te os pobres.
Uma coisa é certa, infelizmente não há um
único pedaço que consiga chegar à alma do
homem, apenas aos atos e feitos, como uma
lista de méritos de Wikipédia. Aliás, é nessa
obsessão pela publicidade dos méritos desta
figura que Abbé Pierre – Une Vie de Combats
cai naquela sempre perigosa armadilha das
tais nobres intenções.
Depois, sobra à vista uma recriação dos di-
versos períodos com uma estética publicitá-
ria tremendamente demodé. Uma escala gi-
gante que é de uma mobilização estilizada
feia e mecanizada, sempre com uma fotogra-
fia a querer ser moderna, sempre com deta-
lhes de look que impedem qualquer sinal de
reconhecimento pela História. De certa ma-
neira, essa insistência de colocar o estilo à
frente de tudo dá a este objeto ares aburgue-
sados que impedem alguma adesão emocio-
nal. E Abbé Pierre era do lado da luta, tudo me-
nos burguês... Pedia uma abordagem e esco-
po bem mais ligado a um peso dramático do
real, algo que nos desse chão para acreditar-
mos nessa incessante luta de esquerda radi-
cal deste padre. E com a inundação de músi-
ca sentimental dessa partitura, somos sem-
pre avisados que só nos resta ser manipulados
por esta bondade pontuada.
adjetivo inglês sly designa uma
pessoa astuta, porventura mali-
ciosa, mas também alguém que
só o é através de um desafio aos
seus próprios limites profissionais e emocio-
nais. No cinema de Hollywood, Sly tornou-
-se o cognome de Sylvester Stallone e, agora,
é o título de um documentário disponível na
Netflix sobre as convulsões de uma carreira
realmente alheia às regras tradicionais do
star system.
Entre as entidades produtoras está a em-
presa que o próprio Stallone fundou em
2018, Balboa Productions, começando a sua
atividade com Rambo – A Última Batalha
(2019), de Adrian Grunberg; na sua carteira
de títulos encontramos, por exemplo, Sama-
ritan (2022), filme também por ele protago-
nizado, sob a direção de Julius Avery, apos-
tando na possibilidade de lançar um novo re-
gisto no território ficcional dos super-heróis.
Não há nisso nada de invulgar, muito menos
suspeito, mas ajudará a compreender um
pouco melhor o facto de Sly ser, no essencial,
um discurso na primeira pessoa, dir-se-ia
“auto-terapêutico”: revisitamos as atribula-
ções de alguém que, graças ao filme Rocky
(1976), por ele escrito e interpretado, ascen-
deu da condição de ator à deriva, sempre
com imensas dificuldades para encontrar
trabalho, ao estatuto de estrela planetária.
Realizado por Thom Zimny, colaborador
regular de Bruce Springsteen (foi ele que di-
rigiu Springsteen on Broadway, também dis-
ponível na Netflix), Sly cedo define o seu pro-
grama narrativo e, nessa medida, os limites
da sua “introspeção” algo repetitiva. Tudo
acontece a partir de duas premissas explici-
tadas logo nas primeiras cenas: primeiro,
uma juventude vivida no interior de uma fa-
mília desconjuntada e, em particular, mar-
cada pela violência repressiva do pai; depois,
o inesperado impacto de Rocky (três Óscares,
incluindo o de melhor filme de 1976) e os
prós e contras de uma carreira marcada pelo
dilema de renovar a imagem desse filme ou
arriscar em projetos claramente diferentes.
Dir-se-ia que estamos perante um proces-
so de resgate da personagem do pugilista
Rocky Balboa, devolvendo-o a um contexto
em que podemos perceber melhor o efeito
singular (simbólico & comercial) da sua con-
dição de herói solitário marcado por feridas
emocionais em tudo e por tudo idênticas à
do seu criador. O filme de 1976 é tratado com
a merecida atenção que não é dada às suas
sequelas (francamente menores), o mesmo
acontecendo, aliás, com a série de aventuras
de Rambo, em que todo o destaque vai para
o primeiro título, First Blood/A Fúria do He-
rói (1982), de Ted Kotcheff (muito mais inte-
ressante do que tudo o que se seguiu).
O outro franchise a que está ligado o nome
de Stallone, The Expendables/Os Mercená-
rios, surge prudentemente (e justificada-
mente) reduzido a uma nota de rodapé. No
setor dos depoimentos encontramos, entre
outros, o irmão Frank Stallone, Talia Shire
(intérprete da mulher de Rocky) e Quentin
Tarantino. Graças a Tarantino, é também
evocado aquele que é, por certo, o melhor fil-
me em que Stallone já participou apenas
como ator: Copland – Zona Exclusiva (1997),
de James Mangold.
 Quinta-feira 9/11/2023 Diário de Notícias
30 ACONTECEU EM

O DN
DE HÁ CEM
ANOS

AS NOTÍCIAS
DE 9 DE NOVEMBRO

DE 1923
PARA LER HOJE
ARQUIVO DN CRISTINA CAVACO, LUÍS MATIAS E SARA GUERRA
EDIÇÃO DE IMAGEM RAFAEL COSTA
Diário de Notícias Quinta-feira 9/11/2023 31

PUB
 SORTEIO: 089/2023

ÚLTIMA CHAVE: 18 32 33 43 45 + 1
NÃO DISPENSA A CONSULTA DOS RESULTADOS OFICIAIS

Imigrantes: maior parte BREVES

MP abre processo a ex-CEO

das renovações de títulos de da TAP e Manuel Beja
O Ministério Público junto do Tribunal de

residência não fica com o IRN

Contas abriu um processo para apurar a
responsabilidade financeira de Christine
Ourmières-Widener e Manuel Beja no
pagamento da indemnização a Alexandra Reis,
ALTERAÇÕES Apenas documentos sem dados biométricos e residências após a análise do relatório da Inspeção-Geral
de Finanças.
de investimento são de responsabilidade do Instituto dos Registos Fonte oficial do Tribunal de Contas (TdC)
e Notariado. Demais ainda estão no portal do antigo SEF. confirmou à Lusa que, do processo de
acompanhamento do relatório elaborada pela
Inspeção-Geral de Finanças (IGF), “derivou
AMANDA LIMA requerimento do Ministério Público que deu
origem a processo de apuramento de
responsabilidade financeira”.

O
Governo de Portugal infor- Em causa está a indemnização de 500 mil
mou erroneamente que a euros paga à ex-administradora da TAP
renovação dos títulos de re- Alexandra Reis, alvo de um relatório da IGF e
sidências de imigrantes fica- que deu origem à Comissão Parlamentar de
ria a cargo do Instituto dos Registos e Inquérito à companhia e levou à demissão da
Notariado (IRN). Mesmo com as mu- presidente executiva e do presidente do
danças, a maior parte das renovações, Conselho de Administração.
neste momento, mantém-se online A auditoria da IGF já previa o envio do relatório

REINALDO RODRIGUES / GLOBAL IMAGENS

através do extinto Serviço de Estrangei-
ros e Fronteiras (SEF), o portal SAPA,
que ainda está dentro do site do SEF.
É o caso das residências de estudan-
tes, trabalhadores e de reagrupamen-
to familiar, que abrigam a maior parte
dos documentos em Portugal. Está
disponível no portal SAPA a renovação
automática dos documentos que ven-
cem até 31 de dezembro deste ano. O
sistema existe desde 2020 e evita a des-
locação presencial, sendo 100% digi-
tal.
Estão com o IRN, no balcão, apenas
os vistos de atividade de investimento,
conforme explicou ao DN o Ministério
da Justiça. Os títulos são uma minoria
entre os mais de 781 mil residentes es-
trangeiros em Portugal, além das que
não tiveram dados biométricos reco-
lhidos há mais de cinco anos.
Desde o início das conversações so-
bre o fim do SEF, há mais de dois anos,
diversos membros do Governo têm re-
petido que o IRN seria o responsável
pelo serviço. A alegação era de que os
estrangeiros iriam tratar da documen-
tação no mesmo local que os cidadãos
portugueses.
A medida fica semefeito, já que a par-
te dos títulos são aptos para renovação
apenas na AIMA. Para efeitos de com-
paração, foram emitidos 42 409 autori-
zações para migrantes trabalhadores
em 2022. Já o número de pareceres fa-
voráveis para atividades de investi-
mento foi de 1281. O Ministério infor-
mou ao DN que estão programados
7000 atendimentos até final de 2023 e
que os primeiros serão realizados ain-
da nesta semana.
Estão programados 7000 atendimentos até final de 2023.
Corrida e venda de vagas
Com o início oficial da Agência para a
Integração, Migrações e Asilo (AIMA)
na semana passada, o IRN disponibili-
zou vagas através do portal SIGA. Mi-
lhares de migrantes efetuaram a mar-
cação, baseadas na informação de que
o órgão seria o responsável, como avi-
sado pelo Governo.
A situação gerou uma “corrida” ao
portal SIGA, inclusive com pessoas que
realizaram vários agendamentos para
depois vender. Em grupos no Facebook
diversos são os relatos de venda de
marcações por 35 euros.
Ao DN, o Ministério da Justiça afir-
mou que foram registados casos de
marcações repetidas em nome de um
mesmo cidadão e de pedidos “que são
competência da AIMA”. Também foram
detetadas situações em que o docu-
mento expira em mais de seis meses,
sendo que, legalmente, o pedido de re-
novação só pode ser efetuado quando
faltar menos de seis meses para caducar.
Ainda de acordo com o ministério, o
IRN “está a preparar, em concertação
com a AIMA, a adoção das medidas que
ao presidente do Tribunal de Contas “para
conhecimento da matéria de facto e de direito”
em “virtude de poderem ser integradoras de
infrações financeiras”.
Centro hospitalar faz
auditoria a caso de gémeas
O Centro Hospitalar Universitário de Lisboa
Norte anunciou ontem que decidiu avançar
se mostrarem adequadas a libertar os com uma auditoria interna ao caso das gémeas
agendamentos que não carecem ou não luso-brasileiras tratadas em 2020 para a Atrofia
podem ser assegurados por este institu- Medular Espinhal no Hospital de Santa Maria,
to”. As pessoas que efetuaram múltiplos em Lisboa. “O Centro Hospitalar Universitário
agendamentos serão notificadas por e- de Lisboa Norte decidiu dar início a uma
-mail e canceladas as marcações a mais. auditoria Interna para aferir sobre os
procedimentos que foram realizados antes e
Canais digitais durante o tratamento para a Atrofia Medular
O DN apurou que as guias de paga- Espinhal administrado a duas gémeas em 2020
mento estão a ser emitidas com o logo e que foi alvo de reportagem na Comunicação
da nova agência, apesar de ainda serem Social. Simultaneamente, está a decorrer uma
realizadas no portal do SEF. O valor é de ação da Inspeção Geral das Atividades em
54,58 euros. O presidente da AIMA, Saúde (IGAS) sobre o mesmo caso”, indica.
Luís Goes Pinheiro, declarou no dia 30 Segunda uma reportagem da TVI, transmitida
de outubro que a prioridade “funda- na passada sexta-feira, duas gémeas luso-
mental” era investir na transformação -brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber
digital dos serviços. o Zolgensma – um dos fármacos mais caros do
Inclusive, o Governo pretende dar mundo – num tratamento que totalizou no
desconto de 25% para os serviços que conjunto quatro milhões de euros. Segundo a
sejam realizados online. No entanto, a reportagem, há suspeitas de que isso tenha
diminuição do valor ainda não está em acontecido por influência do Presidente da
vigor. Por enquanto, o site da AIMA se- República, Marcelo Rebelo de Sousa, que já
gue sem informações atualizadas sobre negou qualquer interferência no caso.
os procedimentos a serem seguidos Esta situação levou a Inspeção-Geral das
pelos migrantes e apenas com os dados Atividades em Saúde (IGAS) a abrir um
básicos da agência e dois contactos te- processo de inspeção para verificar “se foram
lefónicos. cumpridas todas as normas aplicáveis a este
amanda.lima@globalmediagroup.pt, caso concreto”.

Conselho de Administração Marco Belo Galinha (Presidente), José Paulo Fernandes Fafe, Paulo Lima de Carvalho, Filipe Nascimento, Diogo Agostinho, António
Mendes Ferreira, Victor Menezes e Kevin King Lun Ho Secretário-geral Afonso Camões Diretor interino Leonídio Paulo Ferreira Subdiretor Bruno Contreiras Mateus
Data Protection Officer António Santos Propriedade Global Notícias Media Group, SA; Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Almada.
Capital social: 9 309 016,95 euros. NIPC: 502535369. Proprietário e editor: Rua Gonçalo Cristóvão,195-219 – 4049-011 Porto. Tel.: 222 096 100. Fax: 222 096 200 Redação:
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Fernandes Detentores de 5% ou mais do capital da empresa: Páginas Civilizadas, Lda. – 41,51%, KNJ Global Holdings Limited – 29,35%, José Pedro Carvalho Reis
Soeiro – 20,40%, Grandes Notícias, Lda. – 8,74% Impressão Gráfica Funchalense (Rua da Capela da Nossa Senhora da Conceição, 50, Morelena – 2715-029 Pero
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