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Elogios para Love and Other Disasters:

'Kelly vai abrir seu apetite desde a primeira pá gina, encerrando o
maravilhoso banquete com o mais doce dos felizes para sempre. Um
romance queer delicioso' Kirkus.
'O doce romance de estreia de Kelly aumenta o calor. . . os
personagens brilham com quı́mica. O resultado emocionante deixará os
leitores ansiosos por mais de Kelly'
Semana do Editor.
'Anita Kelly tem a receita perfeita para o romance' Ruby Barrett.
'Doce e sexy e totalmente delicioso. Estou louca por esses dois
desastres deliciosos' Rachel Lynn Solomon.
“Esta histó ria é fantasticamente divertida e abre seu coraçã o
vulnerá vel. Mal posso esperar para comprá -lo para todos que já
conheci' Rosie Danan.
'Com apenas um livro, Anita Kelly desembarcou entre meus autores
favoritos de todos os tempos'
Meryl Wilsner.
Sobre o livro

Recentemente divorciada, Dahlia Woodson está pronta para se


reinventar e encontrou a oportunidade perfeita: o show de competiçã o
de culiná ria de sucesso Chef's Special. Cair de cara no primeiro dia nã o
é o melhor começo, mas Dahlia nã o vai deixar isso atrapalhar seu foco.
London Parker també m está lá para vencer. Como ê primeire
concorrente nã o biná rie no Chef's Special, elu tê m muito a provar, e elu
tê m o su iciente em sua mente sem ser distraı́de pela bela concorrente
que colidiu com elu no primeiro dia e nã o parou de falar desde entã o.
Depois de ilmar alguns episó dios, Dahlia e London se aproximam e
as coisas icam um pouco quentes à medida que passam mais tempo
juntos fora do show.
De repente, vencer nã o é tã o importante quanto elus pensavam, mas
quando seu relacionamento começa a sentir o calor dentro e fora da
cozinha, Dahlia e London percebem que o amor nem sempre segue uma
receita.
Possíveis Gatilhos

Transfobia
Erro de pronomes proposital
Divó rcio

Representações

Personagem principal nã o-biná rio e panssexual


Personagens secundá rio trans
Personagens queer
Para Meryl e Rosie
CAPÍTULO UM

Dahlia Woodson pode ter sido uma merda no casamento, mas ela
poderia cortar uma cebola como uma maldita pro issional.
As primeiras fatias iguais, a hachura cruzada. O conforto em quã o
ló gico e perfeito era. Dahlia tinha trabalhado, cebola apó s cebola, até
que ela pudesse criar cortes consistentes de faca todas as vezes. Até que
ela con iou em sua mã o, sua faca, sem ter que pensar nisso: rá pido e
e iciente e certo.
Quando Dahlia pisou no set de Chef's Special em Burbank, Califó rnia,
em uma manhã de terça-feira no inal de julho, ela pensou em cebolas.
Ela certamente nã o conseguia se concentrar no piso de mogno sob
seus pé s, como ele brilhava positivamente. Ou quã o altos eram os tetos,
muito mais altos do que ela imaginara, do que parecia necessá rio. Como
uma espé cie de está dio esportivo. Para nerds de comida.
E as luzes — doce e santo Moisé s.
Era como entrar no terminal de um aeroporto depois de um longo
voo pelo paı́s: tudo muito rá pido, muito alto, muito cheio de novo.
Exceto que o conjunto do Chef's Special nã o era novo, nã o
exatamente. Dahlia tinha visto isso antes, em casa em seu aparelho de
TV. Mas pessoalmente era diferente. Mais avassalador, mais surreal.
Ela se aproximou do alto arco de madeira que marcava a
extremidade traseira do cená rio. Era majestoso e inconfundı́vel, como a
porta de uma catedral, se uma cozinha pudesse ser uma igreja.
Ela se arrastou, olhando com admiraçã o, deslumbrada pelas luzes
brilhantes acima. E um segundo depois, se chocou contra uma parede
só lida de pessoas.
Uma pessoa que soltou um grunhido de desagrado com o rosto de
Dahlia implantado em seu peito.
Dahlia deu um passo para trá s, uma bola de borracha de vergonha, a
lı́ngua grudada no cé u da boca. Piscando, ela viu ê outre competidore
passar a mã o sardenta em seus cabelos avermelhados. Era um corte
curto nas laterais, mais comprido no topo, e quando a mã o dele soltou,
um lop caiu sobre a sobrancelha direita.
Dahlia recuou um metro e meio, mas insu iciente. E essa pessoa era
alta. Essa sobrancelha pairava o que parecia ser um andar inteiro acima
dela.
Mas era fofo, o cabelo avermelhado. Isso fez Dahlia pensar em folhas
mudando de cor no outono, e Anne de Green Gables, e o pô r do sol
re letido na á gua parada. Elu nã o se moveu desde que o rosto dela
encontrou o peito delu, e a proximidade de outro corpo parecia aterrar
de alguma forma, como quando seus olhos se ixam em algué m nas
Chegadas que você reconhece, a cacofonia do aeroporto inalmente se
instalando ao seu redor.
E talvez fosse o cabelo do pô r-do-sol ou a simples proximidade de
outro ser humano senciente, mas Dahlia abriu a boca e…
— Oh Deus. Acabei de dar de cara com você . Eu sinto muito, muito.
Estou tã o nervosa. Tipo, acho que a ú ltima vez que fiquei nervosa era o
meu concurso de ortogra ia da quarta sé rie, quando esqueci como
soletrar assobio e todos riram de mim e talvez eu iz xixi na minha
meia-calça, só um pouco. Deus, usar meia-calça é o pior.
Dahlia respirou fundo. Ela podia ver, pelo canto do olho, os outros
onze competidores circulando, esperando para serem conduzidos para
suas estaçõ es de cozinha designadas por uma produtora chamada
Janet. E Cabelo Loiro Avermelhado continuou parade ali, olhando para
ela com um olhar vazio no rosto. Dahlia se sentiu constrangida ao
terminar a conversa aqui, mas ela nã o sabia como fazer uma transiçã o
suave da micçã o da quarta sé rie – embora, para constar, ela tenha
mantido sua avaliaçã o das meias – entã o ela simplesmente continuou,
seu cé rebro lutando para encontrar uma maneira mais relevante de
terminar este minuto horrı́vel de sua vida.
— De qualquer forma, isso é estranho, certo? Que vamos estar na TV.
Que isso é real. Só consigo pensar em cebolas, o que é tã o idiota porque
todo mundo provavelmente está pensando em, você sabe, vitela e foie
gras ou qualquer outra coisa. Embora eu també m esteja pensando em
como provavelmente vou tropeçar sobre os pé s de algué m na primeira
vez que todos corrermos para a despensa. E como eu provavelmente
vou esquecer como cozinhar assim que o cronô metro começar. — Ela
fez uma pausa para rir um pouco de si mesma. — Um verdadeiro des ile
de pensamento positivo, bem aqui.
Dahlia apontou para sua cabeça. Tentou um sorriso encantador.
E Cabelo Loiro Avermelhado piscou.
— Legal, ok, entã o, ó timo. Boa conversa. Tchau.
Dahlia virou-se para girar em torno de sua ombro direito quando
uma mã o pá lida pousou em seu braço.
— Por aqui, querida.
Agradeça à s deusas acima. A produtora Janet estava salvando Dahlia
de si mesma. Se tal coisa ainda era possı́vel.
Engolindo em seco, Dahlia tentou absorver tudo enquanto Janet a
conduzia atravé s do labirinto curvo de estaçõ es de cozinha que
ocupavam a maior parte do espaço no cená rio cavernoso. Mas
principalmente, tudo o que ela conseguia focar era o quanto ela gostava
das armaçõ es vermelhas brilhantes dos ó culos de Janet, e o pequeno
pulso de calor que tinha empurrado em seu coraçã o quando Janet a
chamou de querida.
Pararam bem na frente do semicı́rculo de estaçõ es, bem à direita.
— Aqui está , Srta. Woodson. Este é o seu.
E com um sorriso reconfortante, Janet virou-se para dirigir o
pró ximo competidor.
Aqui estavam todos os detalhes que Dahlia tinha visto na TV durante
as ú ltimas sete temporadas do Chef's Special: os verdes profundos e
dourados e turquesa cintilante espalhados por todo o set em pops de
vidro colorido. Como a madeira escura das paredes e do piso
contrastava com esses tons mais claros.
Ela sempre achou que o cená rio se assemelhava a um antigo castelo
escocê s nas charnecas, recentemente visitado por Queer Eye.
Aconchegante e forte tudo de uma vez, suas fundaçõ es invocando um
senso de tempo e honra – e aqui e ali, alguns respingos brilhantes de
alegria.
Dahlia olhou para a bancada de aço inoxidá vel brilhante da estaçã o. A
estaçã o dela. Ela se lembrou do olhar vazio no rosto do cara de Cabelo
Loiro Avermelhado alguns minutos atrá s, quando ela se fez de boba
minutos depois de entrar no set, e resistiu à vontade de se inclinar e
bater sua testa contra aquele aço inoxidá vel algumas vezes.
Em vez disso, ela fechou os olhos e respirou pelo nariz, como aquela
aula de ioga que ela foi uma vez um ano atrá s lhe ensinou.
Cebolas. Os pedaços marrons desgrenhados na parte superior e
inferior. O branco puro do interior, irme mas lexı́vel. A estrutura
con iá vel de camadas. Tantas receitas começaram com o bloco de
construçã o bá sico de uma cebola inamente picada.
Dahlia estava aprendendo, em sua nova vida, a dar um passo de cada
vez. Se ela começasse com blocos de construçã o bá sicos, focados em
cada pequeno passo, ela poderia realizar coisas.
Os olhos de Dahlia se abriram quando um homem alto e branco com
cabelo escuro caminhou até o espaço de trabalho pró ximo ao dela. Ele
estava olhando para baixo, rabiscando furiosamente em um pequeno
bloco de notas. Oh Deus. As pessoas estavam tomando notas, e Dahlia
percebeu que ela mal tinha ouvido metade das palavras saindo da boca
de Janet esta manhã . E Janet era barulhenta.
— Ei — o cara alto disse, inalmente olhando para cima. Ele en iou o
lá pis atrá s da orelha, todo legal, e estendeu a mã o. — Jacob. Parece que
somos companheiros de mesa.
Dahlia apertou sua mã o. Ela pensou que talvez dissesse seu nome.
Ela icou impressionada com o quã o con iante ele parecia, quando tudo
o que ela conseguia pensar, alé m de cebolas e aquela cena embaraçosa
sob o arco, era como ela estava com gases de repente. Seu estô mago
estava fazendo sons gorgolejantes e alarmantes. Ela olhou ao redor da
sala. Todos os outros competidores estavam fazendo conversa iada,
sorrindo um para o outro. Eles variavam de arrogantes e atraentes,
como Jacob, a uma mulher baixa e mais velha no canto oposto, seu
cabelo grisalho balançando enquanto ela acenava vigorosamente para a
mulher negra ao lado dela.
Espera. Dahlia reconheceu aquele bob. Ela conheceu aquele bob no
transporte do aeroporto para o hotel há dois dias. Uma avó de Iowa,
Dahlia se lembrava agora. Ela era exatamente o que você esperaria de
uma avó do meio-oeste: gentil, mas a iada. Como você sabia que ela fez
uma torta de maçã malvada, mas també m nã o deixou você se safar com
nenhuma de suas merdas. Dahlia a amou imediatamente. Bá rbara! Esse
era o nome dela.
Uma pequena faı́sca ganhou vida nas veias de Dahlia.
Se Barbara podia fazer isso, ela també m podia.
Mas quando os olhos de Dahlia se desviaram de Barbara, os rostos de
todos os outros icaram borrados nas bordas.
Ela respirou fundo outra vez. Pimentas. Ela gostava de picar
pimentas també m. Nã o tã o satisfató rio quanto uma cebola, mas
esteticamente agradá vel. Cores requintadas, vibrantes, cores que eram
quase difı́cil imaginar emergindo de nada alé m de sementes, sol,
sujeira.
Tudo que você precisava eram blocos de construçã o.
— Olá , competidores da oitava temporada!
Dahlia girou de volta.
Sagrados lagartos saltitantes.
Sai Patel. Sai Patel estava na frente dela. Ficando no meio do Cı́rculo
Dourado, onde os competidores seriam chamados no inal de cada
Desa io de Eliminaçã o para saudar sua gló ria ou seu destino. Dahlia
icou subitamente desconcertada por sua cozinha estar tã o perto desse
cı́rculo, esse espaço que aumentaria sua ansiedade e determinaria seu
futuro. Na verdade, nunca escaparia de sua visã o.
Tudo estava bem.
— Eu sei o quã o nervosos você s estã o agora. — Abençoado seja Sai
Patel, e seu cabelo escuro despenteado, e sua camisa com o botã o de
cima desabotoado, por dizer isso em voz alta. — Mas lembrem-se, nó s
escolhemos você s, entre milhares de possı́veis concorrentes, por uma
razã o. Você s já passaram pela parte mais difı́cil. Você s estã o aqui! E
agora? E aı́ que a diversã o começa.
Enquanto Sai Patel sorria para os treze competidores da oitava
temporada, Dahlia podia ver com seus pró prios olhos aquele canino
ligeiramente torto que ela havia observado tantas vezes do conforto de
seu sofá em Maryland. Era mesmo mais perfeito pessoalmente, o
sorriso de Sai Patel, e o fato de que um dos chefs mais famosos do
mundo estava na frente dela, parecendo genuı́no e encorajador e
totalmente investido na coisa toda, começaram a acalmar os nervos de
Dahlia.
Ele estava certo, a inal. Ela conseguiu passar pelas audiçõ es na
Filadé l ia por um motivo. Chef's Special era para chefs amadores;
milhares de pessoas experimentaram cada ano. Signi icava algo que ela
tinha sido uma das treze de todos aqueles milhares que chegaram aqui.
Ela tinha trabalhado duro. Seu novo companheiro de mesa Jacob e seu
lá pis idiota atrá s da orelha nã o eram melhores do que ela. Ela poderia
fazer isso.
Ela poderia ganhar $100.000.
Janet entrou assim que Sai partiu, sua voz de alguma forma doce e
dominante ao mesmo tempo.
— Aqui vamos nó s, pessoal! Temos um longo dia à nossa frente.
Dahlia endureceu sua espinha, forçou sua cabeça a clarear. Ela
entendeu que tinha que ouvir Janet agora. Sobre como eles iam deixar o
set e voltar a andar, de verdade dessa vez, com as câ meras rodando.
Eles deveriam manter a cabeça erguida, sorrir brilhantemente, mostrar
que estavam prontos para começar esse negó cio.
E Dahlia nã o ia vomitar. Ou liberar gases. Ela ia pensar em cebolas e
pimentõ es, ou talvez no movimento calmante e repetitivo de cortar
pepinos, abobrinhas, cenouras. Fatia, fatia, boom. Con iando no ritmo
de seus pulsos.
O que ela acabou imaginando, poré m, quando ela saiu no set
novamente, era no alho, esmagando-os de suas cascas de papel com a
lâ mina plana de uma faca. Ela sentiu em suas palmas, o estalo
competente de sua faca, o poder disso. Um bloco de construçã o
essencial e perfumado esmagado sob seus dedos.
Sua mente focada, sua visã o de tú nel desaparecendo. Sai estava na
frente dela novamente, agora acompanhado pelos outros juı́zes, Tanner
Tavish e Audra Carnegie. A mesa atrá s deles era alta e imponente, a
parede atrá s dela feita de nogueira polida com um enorme cı́rculo
dourado no meio, um re lexo pró ximo do que estava no chã o. O Chef's
Special estava espalhado pelo cı́rculo em um â ngulo em letras verde-
loresta, fora do centro, uma caligra ia rá pida e cuidadosamente
preguiçosa.
Dahlia sentiu as câ meras a observando, e havia algumas coisas que
ela sabia.
Ela sabia que tinha sido uma coisa tola e precipitada largar o
emprego por causa disso.
Ela sabia que poderia falhar espetacularmente. Cair de cara no chã o.
Mas havia outras coisas també m. Coisas que ela esperava ser
verdadeiras.
Como se ela tivesse sido feita para criar coisas deliciosas e
magnı́ icas.
Como talvez esta fosse sua chance de provar isso. Que ela poderia ser
boa em alguma coisa. Realmente, realmente boa em alguma coisa, algo
que ela escolheu, algo que era para ela e mais ningué m.
A voz de Sai Patel ressoou mais uma vez de dentro do Cı́rculo
Dourado, sua voz sem esforço em sua projeçã o magistral, suas covinhas
e cintilantes olhos irradiando carisma, a nuca de seu cabelo facial um
nı́vel de sensualidade que beirava a grosseria. Dahlia teve que fazer um
esforço consciente para nã o olhar para seus antebraços, aqueles
mú sculos experientes que espreitavam de suas mangas arregaçadas.
E entã o as câ meras pararam, porque aparentemente a saia de Audra
Carnegie nã o estava exatamente certa, e alguns dos competidores nã o
estavam sorrindo o su iciente. Dahlia respirou e olhou ao redor
novamente, absorvendo mais do cená rio – as esculturas abstratas de
vidro de Chihuly, todas perfeitamente iluminadas em tons de verde e
azul, que pontilhavam a parede transparente entre as estaçõ es de
cozinha e a despensa. Ela podia apenas vislumbrar a despensa atravé s
deles, e seu pulso acelerou com todos os produtos frescos em exibiçã o,
o canto apenas visı́vel do catá logo de cartõ es da biblioteca reformado
que ela conhecia continha todos os temperos que ela poderia imaginar.
Dahlia mal podia esperar para entrar naquela despensa.
Foi quando ela virou a cabeça para ver o que estava do outro lado do
aparelho que seus olhos pousaram naquele cabelo loiro avermelhado
novamente. E um rosto, ela viu mais claramente agora com o aumento
do suprimento de oxigê nio para seu cé rebro, que estava generosamente
pontilhado de sardas. Seus olhos castanhos estavam olhando
diretamente para ela. Pelo menos, Dahlia pensou que avelã era a
palavra certa: um cinza-esverdeado atraente, com manchas de ouro e
lashes de escuridã o misturados. O tom de seus cabelos parecia ainda
mais brilhante aqui, sob os efeitos completos das luzes do palco, como
se fossem lançados em um brilho celestial.
Se brilhos celestiais també m incluı́ssem carrancas mal-humoradas.
Embora legal, o magro Jacob ao lado dela era um jaguar, Cabelo Loiro
Avermelhado era um leã o.
Elu estava na estaçã o logo atrá s dela. O rosto de Dahlia se aqueceu
novamente com a lembrança de sua interaçã o anterior, mas raios
rastejantes de con iança estavam penetrando nela agora. Ela poderia
fazer isso melhor, també m.
Ela esboçou um sorriso amigá vel. — Boa sorte — ela sussurrou. O
que era uma coisa muito mais normal de se dizer a um concorrente
especial do Chef do que, você sabe, falar do concurso de soletrar da
quarta sé rie.
Elu olhou para ela, imó vel, por mais um segundo. Ela pensou, talvez,
ela viu sua mandı́bula apertada. E entã o elu grunhiu.
Novamente.
Exceto que este foi um grunhido proposital. Elu pensou sobre este.
Elu grunhiu para ela, e entã o desviou os olhos.
Assim. Isso seria um não para saber se elu achou encantador o surto
de Dahlia.
Dahlia voltou para seu posto. Ela olhou para Jacob, que estava
olhando para frente, os braços cruzados no peito, em uma pose de
grande poder.
Certo. Você nã o poderia ganhar todo mundo. Ela ainda tinha a
perspectiva de amizade com Barbara de Iowa, pelo menos. Foda-se
essas pessoas; vovó s eram incrı́veis.
Demorou muito mais do que Dahlia havia previsto, mas inalmente,
inalmente, mais de uma hora e muitas instruçõ es surpreendentemente
especı́ icas depois, chegou a hora de cozinhar.
O primeiro desa io sempre foi simples, aberto. Cada concorrente
cozinhava o que queria para mostrar seus estilos pessoais, suas
habilidades de assinatura. Todo mundo sabia disso, tinham tempo para
planejar por semanas.
Na verdade, ela nã o tropeçou na corrida louca para a despensa.
Assim que Dahlia colocou as mã os em alguns limõ es, ela se sentiu
calma. De volta à sua estaçã o, ela varreu o cabelo escuro no topo da sua
cabeça quando o reló gio vermelho embutido na mesa dos juı́zes
estalou, e ela fez um plano de jogo. Ela estava vagamente ciente de que
Jacob estava fazendo ilé mignon, que ê Cabelo Loiro Avermelhado de
Rosto Grunhido atrá s dela estava fazendo cordeiro. Ela sabia que seria
assim.
Em todos os programas de culiná ria que ela já assistiu, todo mundo
sempre se masturbava com proteı́nas com as quais ela quase nunca
cozinhava. Todas essas coisas custam dinheiro. Dinheiro que uma
editora de texto recé m-divorciada nã o tinha.
Honestamente, a ú nica proteı́na que Dahlia realmente poderia pagar,
se ela cumprisse seu orçamento, era atum enlatado. Mas ela preferia
pratos vegetarianos de qualquer maneira. Pode-se fazer coisas incrı́veis
com produtos frescos, farinha, grã os, ovos e uma tonelada de
especiarias. Aperfeiçoar a massa caseira foi o primeiro verdadeiro
bá lsamo para sua alma no ano passado, depois que ela se mudou para
fora da casa que ela dividia com David, para icar realmente sozinha
pela primeira vez em sua vida.
Pratos vegetarianos nã o ganhavam o Chef’s Special.
Porém. Dahlia crescera nas costas rochosas da Nova Inglaterra. Ela
atualmente vivia nas á guas salobras da Baı́a de Chesapeake. Ela
també m conhecia frutos do mar.
Nã o que os tacos de peixe fossem realmente uma assinatura da Nova
Inglaterra ou de Chesapeake. Mas seja o que for, quem queria mexer
com caranguejos e lagostas, que sempre lhe pareceram mais trabalho
do que valiam? Ela poderia comer um pedaço de bacalhau e ainda se
divertir com todas as outras coisas. Marinada para misturar, tortilhas
frescas para grelhar, repolho para picar, jalapeñ os para picar. Cores,
sabores, sucos. Quanto mais brilhante e picante a comida, mais alegria
Dahlia tirava dela.
Ela nã o tinha ideia se os tacos de peixe seriam muito bá sicos para os
juı́zes ou nã o, mas ela sabia que eles teriam um gosto bom e icariam
bonitos, e esses eram os ú nicos blocos de construçã o com os quais
Dahlia tinha que trabalhar.
Entã o ela espremia, misturava, grelhava, cortava, cozinhava. Ela fez
um plano e o seguiu. Ela sorriu para os juı́zes e respondeu à s suas
brincadeiras amá veis quando eles pararam em sua estaçã o. Ela tentou
nã o pensar nas câ meras, tentou nã o olhar para os rostos dos juı́zes
enquanto provavam sua comida. Tentou nã o pensar em cordeiro ou
bife.
E mesmo que este primeiro dia de ilmagem já tivesse levado um
milhã o de horas, os sessenta minutos que eles tinham para cozinhar
realmente passaram voando. De alguma forma, faltavam apenas cinco
minutos, e Dahlia se sentiu tensa, mas bem, essa onda de adrenalina
varreu todos os outros pensamentos de sua mente. Suas mã os estavam
irmes enquanto ela banhava. Ela ainda teve um minuto extra para
arrumar sua estaçã o.
Quando Tanner Tavish gritou: — Acabou o tempo! — seus braços
caı́ram para os lados. Seus pé s deram um passo para trá s.
E foi quando Dahlia começou a tremer.
O que ela esperava que nã o fosse perceptı́vel em todas essas câ meras
de alta de iniçã o, ou para os juı́zes na frente dela, que estiveram ao
redor do mundo e cozinharam em restaurantes com estrelas Michelin.
Que andavam pelo set como se fossem dono do cená rio. Porque eles
eram. Na pior das hipó teses, ela esperava que seus tremores fossem
notados apenas pelo Estranho Rabugento atrá s dela, cuja opiniã o sobre
ela provavelmente nã o poderia diminuir neste momento de qualquer
maneira.
Houve uma breve pausa, enquanto Janet, os assistentes de produçã o
e os juı́zes se amontoavam, apontavam e discutiam quem sabe o quê . As
placas dos concorrentes foram ajustadas ligeiramente, aperfeiçoadas
para as câ meras. Os competidores correram para o banheiro, riram
nervosamente uns com os outros. Dahlia permaneceu no lugar,
mordendo o lá bio.
E entã o eles estavam de volta.
E Audra Carnegie disse o nome dela.
Sério?
Ela seria a primeira a ter sua comida julgada?
Dahlia nã o tinha ideia se isso era uma bê nçã o ou uma maldiçã o. Mas
ela sabia que seus nervos ainda estavam se recuperando de sessenta
minutos de hiperfoco.
Fechando os olhos por apenas um segundo, ela tomou outra
respiraçã o de ioga. Ela colocou as mã os debaixo do prato. Ela se afastou
de sua estaçã o. Ela contornou a mesa.
E ela tropeçou.
O mundo girou em câ mera lenta, um torturante ilme de terror. Do
lado de fora de seu corpo, Dahlia viu Sai Patel correr para frente, mã os
estendidas, olhos castanhos arregalados. Ela pensou ter ouvido algué m
xingar. Havia algo em seu caminho? Um pedaço virado de ita isolante?
Ou ela, Dahlia Woodson, pelo amor de tudo que era sagrado, realmente
tropeçou em seus pró prios pé s depois de ter feito sua primeira refeiçã o
na TV nacional?
Oh caro senhor. Ela ia literalmente cair de cara no chã o.
Em algum lugar, nos recessos de seu cé rebro, ela pensou, bem,
naturalmente, antes que sua mente icasse entorpecida. As luzes do
estú dio foram ofuscadas quando rajadas de arroz, tiras de repolho roxo
e uma pitada divertida de creme de limã o voaram momentos antes de
seu corpo bater no chã o.
CAPÍTULO DOIS

London só precisava de um momento para si mesme.


Elu entrou neste bar de hotel escuro para encontrá -lo, escapando
para esta mesa suja no canto, migalhas e ané is de bebida espalhados
por sua superfı́cie. Apenas um momento para elu mesme. Elu poderia
ter continuado até seu quarto de hotel para descomprimir depois desse
longo primeiro dia de ilmagem. Mas o quarto de hotel delu nã o tinha
bourbon.
O primeiro gosto foi tã o bom, queimando o fundo da garganta
exatamente do jeito que elu desejava. Frio, forte, um chute de casa.
Clareou a mente delu, apenas um toque. Outro copo, e elu pode limpar
completamente todo esse espaço de cabeça. Elu tive um bom
desempenho hoje, mas isso foi provavelmente apenas porque elu
praticou fazer aquele cordeiro aproximadamente noventa e oito vezes.
Amanhã , começa o verdadeiro Chef's Special. Confrontos. Inovaçõ es
de Ingredientes. Desa ios de Eliminaçã o onde elu nã o teve semanas
para se preparar. Desa ios do mundo real. Elu tinha que colocar sua
mente em ordem, o mais rá pido humanamente possı́vel, se elu quisesse
ter sucesso.
E talvez elu só estivesse aqui porque icou muito bê bade com Julie no
ú ltimo Natal, quando viram o anú ncio sobre as audiçõ es do Chef's
Special chegando a Nashville. Julie ê desa iou a experimentar, e elu
nunca, uma vez na vida, disse nã o a um desa io de sua irmã gê mea. Mas
agora que elu estava aqui, era real. E quanto mais London pensava no
que faria com o dinheiro do prê mio, melhor se sentia.
London queria ter sucesso nisso mais do que qualquer coisa.
Entã o elu passou os pró ximos dois goles de bourbon limpando a
cabeça e se preparando para amanhã , para o dia seguinte, para cada
desa io que estava por vir.
E entã o uma bolsa bateu na cadeira vazia em frente a elu.
A bolsa surpreendente foi seguida por uma mulher igualmente
surpreendente, cujos cabelos escuros desgrenhados emolduravam um
rosto que declarava que ela já estava farta do dia, muito obrigada. Ela
colocou as mã os nos quadris, visivelmente bufando, e olhou para elu.
— Dahlia. — London estremeceu, lembrando de seu tropeçã o
espetacular no set, que havia ocorrido horas antes neste momento, mas
ainda estava impressa em sua mente. Porque como não poderia estar.
Tinha sido… é pico. — Eu sinto mu-
— Ah, cale a boca. — Ela acenou com a mã o. — Todo mundo sente
muito por mim. Eu sei. Acredite em mim, sinto muito por mim també m.
Nã o quero falar sobre isso.
London agarrou seu licor, sem saber o que no mundo elu e Dahlia
Woodson tinham para falar, se elu nã o podia falar sobre isso.
Mas Dahlia aparentemente sabia.
— Por que você nã o disse boa sorte de volta?
London piscou.
— Ou mesmo um sorriso! — Ela continuou, explodindo de raiva
quando London nã o respondeu. — Você nã o precisava dizer nada, mas
poderia pelo menos ter sorrido de volta. Ou dizer literalmente qualquer
coisa para mim, depois que eu me envergonhei no inı́cio do dia. Tudo o
que eu estava tentando fazer era ser amigá vel. Procurando um pouco de
segurança antes que a coisa mais aterrorizante da minha vida
começasse. Por que ser tã o idiota?
London també m estava atordoade para responder. Ou até mesmo
tomar outro gole de bourbon. O que elu precisava muito.
Dahlia cruzou os braços sobre o peito.
— Eu iz alguma coisa com você ?
London podia sentir isso agora, ver em seus olhos enquanto Dahlia
tentava falar, como o calor estava saindo dela. Sua raiva estava
rapidamente dando lugar à tristeza, ou fadiga, ou qualquer outra coisa.
E enquanto a raiva tinha sido surpreendente, nenhuma parte de
London tinha espaço para a tristeza dessa estranha. Quando ela fez sua
ú ltima pergunta, ela só parecia cansada.
— Ou você é apenas uma daquelas pessoas que odeia todo mundo
indiscriminadamente?
London franziu a testa com essa caracterizaçã o, mesmo que tenha
sido fracamente lançada.
— Eu nã o odeio você . Isso nã o é ... nã o. — Elu tomou fô lego. Otimo.
Elu colocaria um im a essa coisa. — Me desculpe, eu nã o disse boa
sorte de volta.
A verdade era que London se lembrava de Dahlia lhes dizendo boa
sorte. Elu se lembrara de seu cé rebro registrando que elu deveria
responder, e o comando nã o chegou à sua boca. Elu se lembrara de
praticamente tudo sobre Dahlia Woodson a partir de hoje, desde o
momento em que entrou no set e viu aquele cabelo pela primeira vez.
Foi fascinante. Grosso, quase preto, despenteado. Mas a ú nica coisa
que deixou London um pouco chocade foi simplesmente o quanto havia.
Cascatava em ondas até a cintura. Era caricato, era o que era.
O elenco da oitava temporada se reuniu ontem à noite para um
coquetel e jantar em algum restaurante chique em Burbank. Havia tanta
coisa acontecendo, tantas mã os para apertar e nomes para lembrar e
sorrisos falsos para dar, que London nã o tinha acompanhado os outros
competidores tã o de perto quanto elu sabia que os outros estavam,
examinando uns aos outros, procurando sinais de fraqueza. Mas
quando London viu aquele cabelo hoje, elu sabia que teria se lembrado.
Aquele cabelo nã o estava no Encontro e Cumprimento. E agora parecia
que estaria em sua linha direta de visã o durante toda a ilmagem. Ou,
pelo menos, até que ume delus seja eliminade da competiçã o.
— Ei — London perguntou a Ahmed, seu colega de mesa, quando
eles se amontoaram atrá s do arco, esperando o sinal verde para entrar
o icialmente no set esta manhã , logo depois que ela bateu o rosto em
seu peito. — Você sabe quem é aquela mulher, na nossa frente? Ao lado
de Jacob?
— Com o cabelã o? O nome é Dahlia Woodson. Eu acho.
— Ela nã o estava por perto ontem à noite, certo?
— Nã o. Só acho que esse é o nome dela porque ouvi Janet dizer:
'Onde diabos está Dahlia Woodson?' em algum ponto.
— Huh.
London simplesmente nã o gostava de ser deixade de lado, era a
coisa. Estava tudo bem, é claro, que Dahlia aparentemente tivesse
dispensado o Encontro e Cumprimento, que ela estivesse posicionada
na frente delu. Mas foi desnecessariamente perturbador, realmente, que
todo aquele cabelo estava solto, completamente indomá vel e incontido.
Como ela estava realmente planejando cozinhar assim? Porque para
começar, era completamente insalubre. Nunca entraria em uma cozinha
pro issional.
Mas redes de cabelo nã o eram sexy na tela. Talvez os produtores
tivessem pedido a ela para baixar o volume? Mas nã o, uma rá pida
olhada ao redor do set revelou vá rias outras pessoas com seus cabelos
presos. Quanto mais London olhava para ele, mais irritante se tornava.
London estava tã o distraı́de com isso quando o viu pela primeira vez
que elu simplesmente icou ali, como ume idiota, enquanto Dahlia
girava até elu sob o arco, um pequeno furacã o de energia, e se chocava
contra elu. E passou a ser... adorá vel.
Seu cabelo estava para cima agora, preso em um coque enorme e
inclinado em cima de sua cabeça, cuja mecâ nica, honestamente, London
nã o conseguia calcular.
Quando ela desmoronou no banco em frente a elu, sem a menor
cerimô nia empurrando sua bolsa para o chã o, mais alguns ios
escaparam, lutuando em torno de seu rosto, sua pele bronzeada. Ela
parecia exausta, mas de alguma forma aquela pele ainda parecia brilhar
de qualquer maneira, mesmo com a iluminaçã o fraca do bar. O que era,
pensou London, coçando a nuca, arranhando sua pró pria pele
fantasmagó rica, extremamente injusto.
— Posso pegar algo para você ? — Uma garçonete pequena, as raı́zes
de uma tintura desbotada clara em seu coque loiro desleixado, parou
perto da mesa. Havia uma mancha laranja em seu ombro esquerdo. Ela
també m parecia exausta.
Foi uma verdadeira festa neste bar do hotel esta noite.
Dahlia apontou o queixo para a garrafa de London.
— O que é isso?
— Bourbon. — London ainda se sentia com a lı́ngua presa, tentando
processar toda essa interaçã o, mas o cé rebro delu se lembrou disso.
— Sim, isso. Isso parece bom.
A garçonete assentiu e foi embora.
Dahlia suspirou, esfregando uma mã o sobre seu rosto. Ela estava
usando um vestido roxo de tricô solto sobre leggings, e quando ela se
sentou, o decote do dito vestido escorregou sobre um de seus ombros,
revelando uma alça de sutiã preto e um delicado trecho de clavı́cula.
London mal havia falado com essa mulher, e elu já sentia que sabia
muito sobre ela. Que ela fez xixi nas calças - mas só um pouco - na
quarta sé rie. Como seu rosto icou vulnerá vel depois de cair em plena
TV nacional, um pouco de creme na bochecha. Que ela estava usando
um sutiã preto. Que ela estava nervosa hoje.
London nã o tinha se sentido tã o nervose, de alguma forma. Apenas
geralmente descontente.
A garçonete voltou, deslizando o copo nas mã os de Dahlia antes de
desaparecer. Dahlia tomou um bom gole e London pigarreou. Elu nã o
sabia muito bem por que Dahlia ainda estava aqui, por que ela decidiu
se sentar, mas se London amenizasse isso talvez ela fosse embora mais
rá pido.
— Eu nã o queria ser rude com você hoje, se eu fui. Eu, uh, tive alguns
dias difı́ceis.
Dahlia olhou para elu sobre a borda de seu copo, congelando por
apenas um momento.
E entã o ela bateu o copo na mesa e começou a rir.
A cada segundo que passava, ela ria mais forte.
London nã o podia fazer nada alé m de olhar.
— Você — ela disse inalmente, enxugando os olhos. — Você fez um
cordeiro tã o magni icamente cozido que parecia que Audra Carnegie
queria te beijar, e você conseguiu nã o derramar seu prato inteiro
enquanto caia de bunda na televisã o nacional, mas com certeza, você
está tendo um dia ruim. Tudo bem. — Dahlia revirou os olhos,
recuperando o fô lego depois de seu ataque de riso. Ela tomou outro
grande gole de bourbon.
London sentiu suas bochechas queimarem, ainda mais do que o
normal.
— Audra Carnegie nã o queria me beijar — elu disse. — E eles
gostaram dos seus tacos de peixe també m. Depois que eles deixaram
você refazê -lo — elu acrescentou, mais levemente, coçando a nuca
novamente em uma tentativa de dissipar seu constrangimento de
segunda mã o.
— Sim, bem. — Dahlia terminou seu bourbon com outro revirar de
olhos.
Ela nã o deveria estar tã o irritada, realmente. Os juı́zes já haviam
provado seus tacos antes que ela izesse sua dramá tica queda no palco.
Filmar a parte de julgamento do programa levou tanto tempo que a
comida normalmente esfria. Assim, a maioria das avaliaçõ es dos juı́zes
veio de testes de sabor que eles izeram ao longo do processo de
cozimento real. Essa fora uma das primeiras coisas que Janet lhe
dissera. O feito aerodinâ mico de Dahlia foi impressionante, mas na
verdade nã o ameaçou seu lugar no programa. London a tinha visto
fazer aqueles tacos. Elu podia dizer que eram bons.
— Ei, posso pegar outro destes? — Dahlia chamou a garçonete
quando ela estava prestes a se dirigir pelas mesas novamente,
apontando para seu copo vazio. A garçonete ergueu uma sobrancelha,
provavelmente com a rapidez com que o copo havia sido esvaziado, mas
estava claro que Dahlia nã o se importava muito. Ela analisou um
cardá pio gorduroso que estava na ponta da mesa. E… algumas batatas
fritas e guacamole! Sim, incrı́vel. Isso seria incrı́vel.
— Impressionante — a garçonete repetiu, inexpressiva, antes de se
dirigir para longe.
London sentiu o mesmo.
— Só para esclarecer — dissera elu, inclinando-se ligeiramente para
a frente. — Você está com raiva de mim?
London entendeu que o Chef's Special era uma competiçã o. Que elu
nã o deveria se importar com o que Dahlia Woodson pensava delu. Elu
passou os ú ltimos anos de sua vida trabalhando duro para nã o se
importar com o que as pessoas pensavam delu.
Mas parecia errado de qualquer maneira, que elu pudesse deixar
uma estranha com raiva tã o rapidamente, por razõ es que elu ainda nã o
entendia cem por cento. Por alguma razã o, elu nã o queria que Dahlia
icasse brava com elu, por mais estranha que ela pudesse ser.
— Nã o. — Dahlia encolheu os ombros. — Honestamente, eu nã o sou
tã o boa em icar com raiva, em geral. Sempre que estou com raiva de
alguma coisa, sempre acabo icando triste no inal, entã o eu tento evitar.
E... era muita informaçã o. Caramba, eu preciso de comida no meu
sistema. — Ela fez uma pausa. — Foi um esforço valente, no entanto?
Ficar irritada?
— Você me chamou de idiota — London a irmou.
Dahlia sorriu.
— Percebe? Isso parecia estranho saindo da minha boca, mas eu
disse mesmo assim! Olhe para mim. — Ela estendeu a mã o e agarrou o
copo de London. — Por que você nã o está bebendo isso? — Ela deu um
gole demorado e estremeceu, como se tivesse atingido sua garganta
muito rá pido, antes de empurrar o copo de volta sobre a mesa. — De
qualquer forma, eu terminei. Agora me conte sobre seu dia horrı́vel.
Ela realmente só ... fez isso. Ela bebeu o bourbon de London.
Dahlia Woodson era uma verdadeira peça.
As batatas fritas e o guacamole chegaram antes que London pudesse
pensar no que dizer, junto com o segundo bourbon de Dahlia com gelo.
Ela mastigou um chip no momento em que a garçonete os colocou na
mesa, e seus olhos se arregalaram.
— Oh cara. Uau. Eles nã o tê m chips como esses na Costa Leste. Você
deveria comer um pouco.
London nã o pegou um chip, mas elu inalmente tomou um gole de
seu pró prio bourbon novamente. Elu se sentiu atormentade, como se
estivesse constantemente um passo atrá s nessa conversa, como se
nunca soubesse o que Dahlia ia dizer ou fazer em seguida, e elu nã o
tinha ideia de como se livrar desse bar triste e mal iluminado.
— Entã o, seu dia ruim. Sou toda ouvidos. — Dahlia instigou
novamente enquanto comia o guacamole, mastigando outro chip,
sorrindo agora, como se de repente estivesse tendo o melhor momento
de sua vida.
— Por que você nã o estava no Encontro e Cumprimento? — London
perguntou em vez disso.
Seu sorriso se desfez, e ela parecia um pouco envergonhada.
— Ah. Toda a ideia disso me deu uma ansiedade social suprema. Eu
disse a um produtor que estava tendo có licas fortes.
— Você está falando sé rio? — London explodiu, incré dule, sua boca
de repente trabalhando novamente. — Isso deu a todes nó s ansiedade
social! Todo esse programa é como um exercı́cio de sobrevivê ncia à
ansiedade social! E você usou cólicas como desculpa?
— Ei! — Dahlia franziu o cenho. — Minhas có licas menstruais sã o
muito ruins, ok! Quando eu tenho! Nã o me julgue.
Mas London a estava julgando. Na verdade, elu estava muito zangade
com ela agora, irracionalmente ou nã o. Porque elu teria que falar com
ela agora, para acabar com isso, e se ela tivesse aparecido para o
encontro idiota, elu nã o precisaria fazer isso de novo. Se ela tivesse
algum controle sobre a porra do cabelo, London teria dito boa sorte
horas antes, ou reagido de qualquer maneira que Dahlia achasse
aceitá vel, e ela nã o estaria aqui, agora, arruinando o momento de paz
de London.
Elu tomou fô lego.
— Ontem à noite, no jantar, eu me assumi para todes como nã o-
biná rie, para que todos conhecessem meus pronomes, que sã o
elu/delu. Achei que seria bom que todes soubessem imediatamente,
para que nã o houvesse erros de gê nero estranhos, e eu poderia ser
apenas eu nesta competiçã o. Mas algumas pessoas nã o aceitaram muito
bem, o que eu deveria ter esperado, mas ainda me desencorajou um
pouco, porque eu estava muito otimista, entã o eu estava um pouco fora
do ar hoje. Pronto. Ok? Você está satisfeita?
London fez sinal para a garçonete trazer outra bebida. Dahlia estava
quieta agora, o que fez London se sentir presunçose, mas presunçose de
uma forma que nã o era nada boa.
— Quem nã o aceitou bem?
London olhou para ela. Seu rosto parecia diferente, mas elu nã o
conseguia lê -lo.
— Nã o importa.
— Nã o, isso realmente importa. Eu quero ter certeza de nã o fazer
amizade acidentalmente com algué m que é realmente um idiota.
London suspirou. Estava tã o cansade que nã o contemplaria
verdadeiramente a reaçã o de Dahlia até mais tarde, como sua voz se
tornara dura.
— Foi principalmente Lizzie.
— A propó sito, quem é Lizzie?
— Cabelo loiro com frizz. Mulher branca, cinquenta e poucos anos,
acho.
A testa de Dahlia franziu em concentraçã o. Ela parecia tã o séria de
repente.
— Oculos?
— Sim.
Ela assentiu.
— O que ela fez?
— Ah você sabe… — London acenou com a mã o, nã o querendo
repetir aquilo. Se assumir para tantos estranhos assim, de uma só vez -
foi aterrorizante, mas elu achou que era o caminho mais e iciente. Tinha
sido um dos momentos mais tensos de toda a vida de London, tentando
anunciar-se à mesa rá pida e casualmente.
Mas elu achava que tinham escapado. Uma mulher branca com
cabelo escuro escondido debaixo de um boné de beisebol para trá s
chamada Cath se inclinou para frente, sua voz profunda e reconfortante
quando ela disse: — Isso é legal para mim. Obrigada por nos contar,
London. — E entã o ela deu este pequeno aceno de cabeça, que London
imediatamente aceitou como um aceno de uma companheira Queer de
aprovaçã o, e elu soltou um pouco da respiraçã o que estava reprimida
em seus pulmõ es. Outros na mesa assentiram també m, sorriram para
elu.
Até que Lizzie limpou a garganta, enxugou o canto da boca com um
guardanapo e disse:
— Desculpe, mas o que você quer dizer?
E o estô mago de London se apertou novamente. Era exaustivo, em
um dia comum, ter que explicar e defender constantemente sua
existê ncia. E tinha sido uma longa viagem de aviã o até aqui de
Nashville, seus nervos já desgastados por embarcar nesta estranha
jornada.
Elu decidiu ser direte, bá sique, repetindo mais devagar o que já tinha
dito. Nã o biná rio. Pronomes Elu/delu. Pronto.
Lizzie apertou os olhos para elu, como se elu estivesse falando em
Klingon.
— Mas isso nã o faz o menor sentido.
A cadeira de Janet arranhou ruidosamente o chã o.
— Você realmente quer que nos re iramos a você , uma pessoa
singular, usando eles1?
— Sim. — London en iou os punhos nos bolsos, rangeu a ú nica sı́laba
entre os dentes cerrados. O resto da mesa parecia congelado, olhando
com determinaçã o para seus pratos, seus copos de á gua suados.
Janet colocou a mã o no ombro de Lizzie. Lizzie olhou ao redor da
mesa.
— Ah, vamos lá — ela disse, sua voz se tornando irô nica —, eu nã o
posso ser a ú nica que pensa que isso é uma grande idiotice. Nã o existe
isso…
— Lizzie. — A voz de Janet era irme. Nem mesmo Lizzie poderia
lutar contra aquela voz.
Janet a levou rapidamente para longe da mesa, Lizzie resmungando
baixinho, e entã o elas estavam fora da sala, e a mesa caiu em um
silê ncio dolorosamente constrangedor. Provavelmente foram apenas
alguns segundos até que Cath dissesse algo que quebrasse a tensã o,
mas London nã o conseguia ouvir o que era pelo zumbido em seus
ouvidos. Elu deu duas mordidas em sua comida e partiu logo depois.
Deixar os outros desconfortá veis sendo honeste sobre sua identidade
era uma habilidade com a qual London já tinha familiaridade. Elu
simplesmente nã o tinha experimentado isso em uma escala tã o grande
antes.
— Sim — Dahlia disse agora, suavemente, e a mente de London
voltou para este bar escuro do hotel. — Eu sei.
Mesmo que London nã o tivesse descrito nenhum dos eventos da
noite anterior em voz alta.
— Deixe-me saber se houver algo que eu possa fazer — Dahlia
adicionou. — Se Lizzie estiver sendo uma vadia com você , ou qualquer
outra pessoa.
London franziu a testa.
— Está bem. Eu só precisava de um dia para processar isto. Eu nã o
preciso ser… — Elu acenou com a mã o novamente. — Seu caso de
caridade queer.
— Nã o, eu nã o… — A boca de Dahlia abriu e fechou, a cor atingindo
suas bochechas. Ela se recostou na cadeira. — Meu irmã o mais velho
Hank é trans. Ele começou a fazer a transiçã o há alguns anos. Entã o eu
sei as coisas que as pessoas podem dizer. Isso é tudo.
Ela tomou um gole de bourbon.
London nã o esperava isso. Elu nã o sabia como responder.
— Lamento nã o estar lá — Dahlia disse depois de um momento, no
mesmo tom calmo que ela usou antes. E entã o ela en iou duas batatas
fritas na boca. Mas London podia dizer que ela nã o estava gostando
delas.
London lamentou ela nã o estar lá també m. Um pouco chateade com
isso, na verdade.
Nã o porque elu achava que Dahlia automaticamente ê entendia
agora, ou que ela poderia ter magicamente salvado a situaçã o de
alguma forma. Havia um milhã o de maneiras de ser trans, e só porque
ela amava seu irmã o nã o signi icava que ela conhecia London.
Mas agora elu sabia que ela era pelo menos uma aliada. E quando
London deixou de lado até mesmo um pingo de irritaçã o, elu pode
imaginar, de repente, sabendo o quã o estranhamente honesta Dahlia
Woodson era. Ela provavelmente teria cortado Lizzie antes mesmo de
Janet. Ela teria dito algo estranho e engraçado e teria tornado as coisas
um pouco melhores.
Pode ser.
Mas ela estava se escondendo em seu quarto ingindo ter có licas,
entã o.
— Você está planejando se assumir no programa també m? Para os
espectadores?
— Sim. — London limpou a garganta. — Eu ia compartilhar meus
pronomes na minha primeira entrevista individual, mas entã o icamos
sem tempo hoje para ilmar, entã o eu nem consegui fazer isso direito.
Elu pegou um chip. E é claro que Dahlia estava certa. Eles eram
fantá sticos.
— Isso é ... isso é grande. Hank vai icar tã o animado. Ele vai chorar,
provavelmente, quando assistir. Mas aquele perdedor chora por tudo.
— Dahlia sorriu, mas era menor do que antes, quando ela estava rindo
delu, quando ela provou sua primeira tortilha da Costa Oeste. Era um
sorriso sem dentes agora.
Algo queimou no peito de London quando ela disse isso sobre Hank,
no entanto. Elu sabia que nã o deveria importar, que elu deveria estar
fazendo isso apenas por elu mesme, mas... era reconfortante. Essa
con irmaçã o de que elu estar nessa coisa pode signi icar alguma coisa.
Elu sentiu que deveria dizer algo, dar algo em troca desse pequeno
presente.
— As batatas fritas sã o muito boas.
Embora elu nã o pudesse se conter de acrescentar:
— O guacamole está bom, no entanto. Eu poderia melhorar.
O sorriso de Dahlia cresceu, só uma fraçã o.
— Eu aposto que você poderia.
London olhou para ela, sem saber se ela estava tirando sarro delu ou
dando-lhe um elogio. Seus olhos pareciam genuı́nos. Eles eram de um
tom de marrom que estava bem entre a escuridã o de seu cabelo e o
bronzeado de sua pele, tornando seu rosto, em geral, uma paleta
perfeita.
Apenas uma coincidê ncia com o bourbon puro.
— Posso perguntar o que você faria? — Dahlia perguntou, olhando
para elu. — Se você ganhasse?
Finalmente, uma pergunta fá cil.
— Eu usaria o dinheiro para começar uma organizaçã o sem ins
lucrativos. Para crianças LGBTQ, voltar para Tennessee.
— Você é do Tennessee?
London assentiu.
— Nashville.
Dahlia sorriu novamente, mas olhou para a mesa enquanto o fazia.
Ela reajustou o vestido, arrastou o material roxo de volta por cima do
ombro. London ignorou a pequena faı́sca de perda que se arrastou sob
sua pele.
— Hank sempre quis ir para Nashville. Ele adora mú sica sertaneja.
Nomeou-se em homenagem a Hank Williams.
London a observou pegar um chip e colocá -lo na ponta da mesa. Ela o
segurou com a ponta dos dedos, sem fazer nenhum movimento para
levá -lo à boca.
— Isso é muito nobre — disse ela. — A coisa de organizaçã o sem ins
lucrativos.
— Quero dizer, eu nã o tenho ideia de como realmente começar uma
organizaçã o sem ins lucrativos. — disse London automaticamente,
envergonhade. Porque Jesus, elu nã o queria ser viste como nobre. Isso
parecia nojento. — Mas... sim, eu gostaria de tentar.
— Isso é ó timo.
London nunca tinha visto um quadro vivo mais triste do que Dahlia
Woodson olhando para aquele chip, imó vel.
— Hank deve ir — dissera elu, decidindo de repente fazer um esforço
real. No nã o sendo ume idiota. Ao tirar Dahlia de onde ela tinha
desaparecido nos ú ltimos cinco minutos. — Para Nashville. E um ó timo
lugar.
— Sim — disse ela, sem entusiasmo.
— O que você faria com o dinheiro se ganhasse? — London
perguntou.
Como se fosse possı́vel, Dahlia icou ainda mais quieta.
— Eu tenho muitas dı́vidas — ela disse inalmente, dando de ombros.
— Acontece que o divó rcio é caro. E eu tenho empré stimos estudantis,
e… — Ela parou. — Eu nã o sei. Algum dinheiro seria bom.
Espera. Esta mulher era divorciada? Ela nã o podia ser muito mais
velha do que London, e elu tinha apenas vinte e seis anos.
Talvez London, de fato, soubesse muito pouco sobre Dahlia Woodson.
— De qualquer forma, eu provavelmente deveria ir. Desculpe por
interromper você .
Dahlia se levantou abruptamente, drenando o resto de seu bourbon
enquanto ia, inclinando-se para pegar sua bolsa. Ela deixou cair
algumas notas na mesa e entã o parou, mexendo na alça da bolsa.
— Entã o, isso é embaraçoso — disse ela, nã o encontrando seus
olhos. — Mas nã o tenho cem por cento de certeza. E London, certo?
Havia tantas pessoas novas para conhecer hoje, e eu estava nervosa e...
— Sim. E London. — E entã o elu acrescentou, estupidamente, como
se estivesse respondendo a chamada na escola: — London Parker.
Ela sorriu, só um pouco.
— Eu sou Dahlia.
— Sim. Eu sei.
— Ah. Certo. Ok. Desculpe de novo. Até amanhã , London Parker.
London se sentiu estranhe depois que ela partiu, um pouco solitá rie,
talvez, embora elu tivesse vindo aqui para icar sozinhe. Elu bebeu o
resto de seu bourbon antes de pagar a conta, nã o se importando em
icar mais neste bar, muito perto do conhecimento de quanto elu
gostava do som da voz de Dahlia dizendo seu nome.
CAPÍTULO TRÊS

A mã o de Janet pousou no ombro de Dahlia na manhã seguinte, cinco


minutos depois que as câ meras foram desligadas para uma pausa.
— Dahlia, querida — ela disse. — Hora da sua primeira entrevista.
As armaçõ es dos ó culos de Janet eram roxas hoje. Ela sorriu
tranquilizadoramente.
Dahlia respirou fundo. Ela tinha acabado de passar por seu primeiro
desa io Frente-a-frente, onde cada competidor se enfrentava para
completar uma tarefa culiná ria bá sica. Os vencedores de cada Frente-a-
frente ganharam vantagens para desa ios posteriores.
Dahlia tinha perdido seu Frente-a-frente. Para Lizzie, de todas as
pessoas. O que foi uma droga. Uma grande droga.
E ela teve uma leve dor de cabeça de bourbon.
Ainda assim, ela nã o tinha caı́do no chã o até agora.
E ela nã o tinha feito mais papel de boba na frente de London Parker.
Dahlia estava determinada a parecer menos idiota na frente delu a
partir deste momento.
Ela estava tentando, em outras palavras, ter uma perspectiva
positiva.
Mas como Dahlia seguiu Janet em direçã o ao canto de trá s do set, o
cabelo encaracolado de Janet balançando em um nó solto enquanto ela
andava, Dahlia enrolou os dedos na bainha de sua regata. As
humilhaçõ es das ú ltimas vinte e quatro horas, incluindo os pã ezinhos
californianos que Lizzie acabara de fazer mais rá pido e artisticamente
do que Dahlia, desapareceram quando uma ansiedade diferente se
instalou em suas entranhas.
Dahlia estava pensando sobre este momento desde que ela soube
que entrou para o programa um mê s atrá s.
Quando os competidores se apresentaram em sua primeira
entrevista individual, eles só precisaram declarar alguns fatos bá sicos
sobre si mesmos. De onde eles eram, seus empregos em casa, o que eles
esperavam tirar do programa.
Mas mesmo tentar pensar em respostas para essas perguntas mais
simples fez Dahlia se sentir inadequada e confusa por dias.
Ela era de New Bedford, uma antiga cidade baleeira no sul de
Massachusetts, vizinha de Rhode Island. Foi a Nova Inglaterra que a
criou.
Mas ela morava em Maryland agora. Seu ex-marido David viajava
para DC e ela viajava para Baltimore; eles viveram entre ambas cidades
no subú rbio durante os seis anos de seu casamento. Ela havia pensado
em se mudar para Baltimore quando se mudou pela ú ltima vez no ano
passado, mas acabou se apegando ao que conhecia. Porque tudo, desde
levantar de manhã até se alimentar, parecia difı́cil, e manter o que ela
conhecia parecia ser a ú nica opçã o. Ela encontrou um pequeno
apartamento na mesma cidade monó tona, embora nã o sentisse mais
nenhuma lealdade real a ela, à sua sé rie de mini-shoppings e redes de
restaurantes. Ela se perguntava, à s vezes, se ela já teve.
David havia se mudado para Arlington.
Entã o pelo menos ela nã o precisava se preocupar em encontrá -lo no
Food Lion.
O pequeno set onde os concorrentes do Chef's Special ilmariam suas
entrevistas individuais icava em um canto dos fundos do estú dio de
som, alé m do arco de madeira, ao lado dos serviços de artesanato. Uma
janela grossa de má rmore iluminada por trá s e feita de vidro turquesa
deslumbrante ocupava toda a parede dos fundos. Era lindo, e acalmou
Dahlia imediatamente quando ela entrou na sala, mesmo que nã o lhe
desse nenhuma ideia melhor do que dizer.
Ela se sentou em um banquinho. Ela piscou enquanto a câ mera
focava nela, enquanto os staffs ajustavam as luzes. A jovem atrá s da
câ mera com cabelos curtos e bem encaracolados olhou para ela e
sorriu, cheia de vibraçõ es amigá veis.
— Ei, Dahlia. Eu sou Maritza. Lembre, só precisamos do bá sico aqui.
Comece com seu nome, idade, localizaçã o. Pronta para começar?
Dahlia assentiu entorpecida. Sem dizer nada, Maritza contou com os
dedos e deu o sinal.
— Meu nome é Dahlia. Tenho vinte e oito anos e sou natural de
Massachusetts.
Sua mente icou em branco.
Maritza saiu de trá s da câ mera novamente.
— Ok. Algo sobre sua carreira e por que você está aqui?
Certo. Certo.
Exceto que Dahlia nã o tinha uma carreira.
Ela havia trabalhado como editora de texto em um pequeno jornal de
Baltimore nos ú ltimos quatro anos e gostava disso na maior parte do
tempo. Ela sempre gostou de escrever e editar, e o trabalho à s vezes era
interessante. Cada vez mais o jornal era simplesmente enlatado de
agê ncias de notı́cias maiores, mas os assuntos locais que seus
repó rteres ainda conseguiam cobrir pareciam importantes. Ela gostava
de seus colegas de trabalho, especialmente Josh, que cobriu seu
marketing online e redes sociais, que a fazia rir e sempre a tratou com
respeito.
Mas ela icou inquieta nos ú ltimos dois anos depois de tantos dias no
mesmo cubı́culo, nunca passando para algo maior, melhor, mais
desa iador.
Dahlia tinha sonhos, mas vagos, embaçados, sonhos que nã o tinham
valor concreto. Ver o mundo. Fazer algo que ela estava apaixonada, algo
signi icativo. Ela simplesmente nã o tinha ideia do que era esse algo. Ela
temia que, se izesse de cozinhar seu sonho de carreira, perderia a
alegria nisso. E à s vezes, neste ú ltimo ano, parecia que aquela alegria
era tudo o que ela tinha.
Dahlia nã o queria ter um restaurante, nem mesmo trabalhar em um,
mas cozinhar signi icava algo para ela agora, algo primordial e
importante. Quando sua saú de mental e seu casamento começaram a
desmoronar há dois anos, muito antes de ela entender completamente
que qualquer uma dessas coisas estava acontecendo, foi cozinhar que a
acalmou. Fazia com que ela se sentisse produtiva e ú til.
Cozinhar fez com que sua mente se concentrasse em outra coisa alé m
de si mesma.
E entã o, como ela começou a icar melhor nisso, como ela começou a
cozinhar mais nã o porque ela tinha que fazer, mas porque ela queria,
ela começou a afastar-se de receitas estritas para con iar apenas no
instinto e no conhecimento. E isso? Isso a fez se sentir criativa e
poderosa — dois adjetivos que ela havia esquecido de associar a si
mesma. E entã o nã o era apenas uma distraçã o. Cozinhar trazia a
possibilidade de ajudar Dahlia Woodson a se reencontrar.
Ela ainda estava trabalhando nessa parte. Encontrar-se novamente.
Porque alé m de ser muito boa em cortar legumes e fazer massa
caseira, alé m de saber que queria dar o fora dos subú rbios de Maryland,
Dahlia entendia quem ela era cada vez menos a cada ano que passava.
Como se ela estivesse crescendo errado.
Mas ela nã o podia dizer nada disso para a câ mera. Ela nã o podia falar
sobre seus empré stimos estudantis.
Entã o Dahlia engoliu, tentou sorrir e disse a coisa mais gené rica que
ela poderia pensar.
— Comecei a cozinhar sé rio há alguns anos, entã o estou muito
empolgada com tudo o que posso aprender aqui.
Maritza assentiu.
— Bom. — Sua cabeça girou para outro staff enquanto veri icava as
anotaçõ es em seu telefone. — AJ, você pode ir buscar Khari em seguida?
Dahlia saiu da sala, preocupada, com uma morti icante onda de
vergonha, que pudesse chorar.
Ela nunca quis ser uma pessoa gené rica.
Ela caminhou para serviços de artesanato e pá derrubou dez uvas
sem provar nenhuma.
Dahlia estava agindo diferente hoje, e London nã o gostou.
Talvez elu nã o tivesse o direito de julgar como Dahlia Woodson agia
ou nã o, considerando que mal a conheceu há vinte e quatro horas. Mas
elu passou pelo menos oito daquelas horas ontem olhando para os
ombros dela, o â ngulo de seu pescoço enquanto ela se inclinava para a
frente, concentrada em seu posto, a maneira como ela
inconscientemente arrastava seu peso de um pé para o outro quando
estava ansiosa. A forma como suas bochechas inchavam quando ela
sorria.
Elu sabia como seu rosto icava quando ela ria, como seus olhos
irradiavam alegria quando ela provava algo que ela amava.
Ela estava vestindo uma regata amarela alegremente brilhante hoje.
Mas a Dahlia Woodson no set agora parecia diminuı́da. Quieta.
Muito provavelmente, nã o tinha nada a ver com London, ou a
conversa delus na noite passada. Mesmo que London tivesse passado
mais minutos do que elu gostaria de admitir contemplando se elu
realmente tinha sido ume idiota ontem. Ou pensando no olhar em seu
rosto quando ela falava sobre dinheiro, sua dı́vida, como elu desejava,
de alguma forma, poder apagar a tristeza.
Nã o que, novamente, fosse da conta delu.
Dahlia provavelmente estava mais quieta hoje porque seus nervos
estavam se acalmando, porque ela estava se concentrando. Como
London deveria estar fazendo.
Elu estava vagando pela despensa, esperando que a Inovaçã o de
Ingredientes inalmente começasse, enquanto Janet puxava os
competidores de lado para entrevistas individuais e os juı́zes ilmavam
um rolo B brega para os patrocinadores corporativos do programa. A
Inovaçã o de Ingredientes era o segmento mais criativo e segmento
exigente do programa, e London estava impaciente com isso. Os juı́zes
apresentavam um ingrediente excê ntrico ou menos usado, e os
competidores teriam que produzir um pequeno prato – geralmente um
acompanhamento ou uma sobremesa simples – que continha o
ingrediente e nã o tivesse gosto de lixo. London sempre foi boe em
seguir receitas com precisã o, em improvisar com ingredientes que
conhecia, mas o elemento surpresa ê estressava. Elu sabia que nos
Desa ios de Eliminaçã o eram os grandes cozinheiros que realmente
contavam, mas os juı́zes levavam em conta a habilidade e criatividade
mostrada durante as Inovaçõ es de Ingredientes, també m, antes de
tomarem sua decisã o inal no inal de cada episó dio. London tinha que
colocar a cabeça no jogo, se quisesse continuar chegando no lado certo
daquelas decisõ es inais.
E, no entanto, como se o universo estivesse determinado a colocar
Dahlia Woodson no caminho do foco de London, lá estava ela, parada
em frente ao catá logo de especiarias na despensa, segurando um
pequeno caderno contra o peito. London a observou por um momento,
inspecionando atentamente o catá logo de cartõ es, que havia sido
pintado de verde-escuro antes de ser reaproveitado para
armazenamento de especiarias. Era muito legal. Mas havia muita coisa
legal nesse set.
Dahlia icou paralisada.
E por alguma razã o, em vez de virar e andar para o outro lado,
London se aproximou.
— Ei — elu disse. — Você está bem?
Os olhos de Dahlia nã o se desviaram do catá logo de cartõ es, mas ela
assentiu.
— Eu só — ela sussurrou —, eu amo tanto isso.
Algo sobre o jeito que ela sussurrou isso era tã o fofo que London
sabia, com uma pontada de impotê ncia, que elu nã o estava mais bravo
com ela, realmente, por ingir có licas.
— Sim — elu concordou. — Eu també m.
Elus olharam juntes para o catá logo de cartõ es em silê ncio por mais
um minuto.
— Eu realmente queria vencê -la — Dahlia disse de repente.
— Lizzie? — London se sentiu mal quando viu que Dahlia nã o tinha
vencido seu Frente-a-frente esta manhã . Mas os Frente-a-frente nã o
eram tã o grandes assim. As vezes as vantagens eram bastante ú teis,
especialmente mais tarde na competiçã o, mas eram principalmente
apenas dramá ticas.
Embora estivesse contente, se estivesse sendo honeste, que fosse
Dahlia quem tivesse que enfrentar Lizzie hoje, e nã o elu. Que elu tivera
a sorte de fazer dupla com Cath. Que chutou a bunda delu no Frente-a-
frente, montando seus rolos da Califó rnia muito mais rá pido - London
estava muito preocupade em ser limpe com eles - e deu um soco no
braço delu em vitó ria quando o cronô metro tocou. O braço delu ainda
estava um pouco dolorido, na verdade, mas ê fez rir.
Era verdade, poré m, o que tinham contado a Dahlia na noite anterior
sobre Lizzie. Elu só precisava de algum espaço para superar o jantar de
boas-vindas. Nã o podia deixar transfó bicos colocarem para baixo para
sempre.
— Sim. — Dahlia assentiu, sua testa franzida. — Ela foi tã o legal
comigo. — Ela ainda estava abraçando o caderno contra o peito. — Foi
irritante.
Um pequeno sorriso surgiu no rosto de London.
— Eu sei qual é o primeiro ingrediente secreto, para o desa io da
inovaçã o — disse Dahlia alguns segundos depois, mudando de assunto
abruptamente. London estava quase se acostumando com isso agora,
nunca sabendo o que Dahlia iria dizer em seguida. — Eu vi um membro
da equipe movendo algumas coisas ao redor.
— Mesmo? — London virou-se para ela. — O que é ?
Se Dahlia fosse uma competidora inteligente, ela nem estaria dizendo
isso a elu. Mas ela abriu a boca sem hesitar.
— Presunto.
— Huh. — London voltou para o armá rio de especiarias, sua mente já
zumbindo. — Isso parece um pouco de softball. Presunto é fá cil.
— Sim, eu sei.
Elu icou por mais alguns momentos em silê ncio, até London
começou a icar estranhe.
— Tudo bem, eu vou voltar para lá . — Elu acenou para trá s do ombro
com o polegar. — Você só vai icar aqui olhando para essa coisa até que
eles nos chamem de volta?
Dahlia assentiu.
— Sim.
London en iou as mã os nos bolsos e tentou esconder outro sorriso.
Por um capricho, elu se voltou para ela assim que chegou à porta da
despensa.
— Ei, Dahlia?
— Sim? — Ela inalmente arrancou os olhos do catá logo de cartõ es
para olhar para elu.
— Boa sorte.
Elu só se permitiu um breve olhar para o sorriso dela antes de se
virar e caminhar de volta para sua estaçã o.
Onde elu teve a infelicidade de ouvir uma conversa entre Jacob e
Jeffrey, que estavam na estaçã o de Dahlia na frente delu.
— E isso que estou dizendo. — Jeffrey, um homem branco calvo do
Texas, estava gesticulando enfaticamente. — A Amé rica precisa se
atualizar no cená rio dos insetos. Somos muito arrogantes com nossas
proteı́nas aqui.
— Exatamente — disse Jacob. — Quando estive no Brasil no ano
passado, tinham esses besouros...
London olhou para a despensa, perguntando-se se deveria voltar e
re letir sobre o armá rio de especiarias com Dahlia um minuto mais.
London concordou, honestamente, sobre a coisa dos insetos. Mas era
a maneira como essas pessoas falavam. Ao redor delu, durante toda a
manhã , London tinha ouvido outros competidores se gabando sobre
conquistas culiná rias que eles já tinham conseguido, os pratos mais
exó ticos que já prepararam, os lugares ao redor do mundo em que
jantaram. London cresceu em torno de pessoas assim, pessoas que
supervalorizavam sua pró pria importâ ncia. Tinha se cansado deles, há
muito tempo.
Uma parte delu sonhou em arrastar Dahlia para o lado do set.
Reclamar sobre todos os outros na sala juntes. Ela també m odiava
Jacob? Porque o cara parecia um verdadeiro chato. London teve sorte,
elu pensou, com Ahmed como companheiro de mesa.
O set parecia surpreendentemente como o ensino mé dio, toda essa
postura em torno de desconhecidos. Ahmed e Cath foram as ú nicas
pessoas com quem London se sentia confortá vel até agora, as ú nicas
pessoas com quem elu gostaria de sentar no refeitó rio.
Junto com, elu admitiu para si mesme, a mulher com o cabelo
irritante que ê declarou ume idiota.
Elu nã o conseguia explicar exatamente. Mas parecia, por um
momento na noite passada, e por um minuto agora na despensa, como
se elus estivessem do mesmo lado. Feites para a mesma mesa de
almoço.
E London desejou, de repente, ver Dahlia revirar os olhos para
algué m que nã o fosse elu.
Elu balançou a cabeça, bloqueando mentalmente as vozes de Jacob e
Jeffrey.
Isso nã o era o ensino mé dio. Era uma competiçã o. Uma que era
televisionada, e London tinha que começar a prestar atençã o agora.
Dahlia era uma concorrente, nã o uma parceira de projetos cientı́ icos.
Ela poderia icar na despensa. London manteria seus resmungos para si
mesme.
Elu tirou o caderno do bolso de trá s.
E começou a fazer alguns planos sé rios para o Presunto.
CAPÍTULO QUATRO

Dahlia se sentiu um pouco culpada pela excitaçã o que derramou em


suas veias quando ela entrou no set na manhã seguinte e viu os
coitados: suas bocas escancaradas e sem ar, seus olhos esbugalhados,
rostos congelados.
Jacob engasgou ao lado dela enquanto eles se aproximavam do
banquete de peixe colocado em uma mesa no meio do Cı́rculo Dourado.
Tinha um cheiro horrı́vel.
També m tinha um cheiro familiar.
Hoje foi o primeiro dia do Desa io de Eliminaçã o e, inalmente,
parecia que seria um dia certo desde o inı́cio.
O engraçado foi que Dahlia nem era super fã de peixe, nã o mesmo.
Mas ela tinha ido a uma aula ministrada por alguns peixeiros em
Baltimore no ano passado, bem no Inner Harbor, que aprofundou seu
conhecimento sobre as criaturas escorregadias. Dahlia tinha aprendido
a maior parte de suas habilidades culiná rias no YouTube ou em blogs
ou, ocasionalmente, se estivesse se sentindo chique, em verdadeiros
livros de receitas. Mas quando ela encontrava aulas ou seminá rios que
nã o eram muito caros, como nas peixarias, ela ia, esses sempre foram
seus favoritos. Era diferente ver as coisas com as mã os, poder fazer
perguntas. Isso era o que ela estava esperando no Chef's Special, a
capacidade de obter conselhos prá ticos dos melhores dos melhores. O
nivelamento inal.
Ela estava com o caderno pronto quando Audra Carnegie foi até uma
mesa menor colocada ao lado da pilha de peixe para uma
demonstraçã o.
Os competidores se acotovelaram para ter uma boa visã o de Audra e
sua faca de ilé , uma grande e brilhante truta arco-ı́ris colocada na
frente dela.
Dahlia, é claro, se acotovelou em um ombro vestindo uma camiseta
verde-exé rcito, uma que revelava antebraços sardentos polvilhados
com cabelo loiro avermelhado.
Dahlia se endireitou, enraizando os pé s no chã o, e clicou abrindo a
caneta dela. Ela olhou determinada por cima do ombro de Barbara para
a truta, como uma chef pro issional prestes a fazer algumas anotaçõ es
pro issionais.
Ela se sentia um pouco melhor sobre seu relacionamento com
London agora, depois de sua breve interaçã o na despensa ontem. Ela
ainda nã o ê chamaria de amigue, mas parecia que elus tinham superado
qualquer estranheza que ela havia criado no bar do hotel. O que foi uma
vantagem.
Outra vantagem: Audra Carnegie parecia gostosa como o inferno,
eviscerando e cortando esse peixe na frente deles como uma chefe. Sua
pele escura brilhava sob as luzes do estú dio, suas tranças giravam em
um intrincado nó no topo de sua cabeça. Ela foi devagar e falou com
calma, mas nunca hesitou com sua faca, com suas mã os há beis.
— Depois de fazer sua incisã o atrá s da placa braquial, vamos
procurar a coluna. Lembrem-se novamente, sempre, sempre mantenha
a mã o atrás da faca de iletagem.
Dahlia icou encantada por Audra estar fazendo esta demonstraçã o
em vez de Sai ou Tanner. Ela sempre sentiu que Audra tinha o eixo neste
programa, apenas jogado por seu toque feminino, seus conselhos sobre
pratos, saladas, assados.
Mas as meninas podem quebrar um peixe. Elas poderiam escavar as
entranhas com suas mã os nuas. No momento em que Audra tinha dois
ilé s de truta perfeitos na frente dela, Dahlia estava pronta para lhe dar
um retumbante toca aqui e começar a esmagar o patriarcado do mundo
da comida.
Mas antes que Dahlia pudesse chegar ao esmagamento do
patriarcado, os treze participantes da oitava temporada foram enviados
de volta à s suas estaçõ es.
— Agora que todos nos sentimos con iantes em partir uma truta —
Sai Patel disse com um sorriso —, há uma pequena reviravolta.
Vencedores do Frente-a-frente de ontem, por favor, venham para o
Cı́rculo Dourado.
Lizzie, Cath e os outros vencedores do Frente-a-frente izeram o que
foi pedido.
— Agora, cada competidor receberá um peixe diferente hoje. — Sai
gesticulou com um braço para a cornucó pia de peixes na mesa. — E sua
vantagem, vencedores do Frente-a-frente? Você pode escolher qual
competidor recebe qual peixe.
Seguiu-se um murmú rio intrigado, e entã o Lizzie e companhia foram
soltas para decidir o destino dos perdedores. Eles caminharam ao redor
da mesa, sussurrando um para o outro e fazendo anotaçõ es, até
entregar uma lista inal para Sai.
Dahlia acabou com o peixe-espada, que era signi icativamente maior
e, portanto, mais difı́cil do que a truta arco-ı́ris. Ela estava feliz com isso,
no entanto. Uma criatura tã o engraçada e fodona, o peixe-espada.
Dahlia se inclinou e bateu em seu intimidante bico.
— Desculpe, vou cortar seu â nus e rasgar suas entranhas pela
garganta — ela sussurrou. Ela poderia praticamente sentir os olhos de
Jacob rolarem ao lado dela, e ela nã o se importou. Ela se sentiu bem
hoje. — Eu gosto de você . Obrigada por seu sustento — ela concluiu,
com mais um toque amoroso, antes de se endireitar. Jacob estava
olhando para ela.
Oh! Ela poderia usar alguns daqueles grã os de pimenta que ela viu
ontem na despensa. Eles eram tã o bonitos, uma mistura deslumbrante
de preto, cinza, vinho e verde caçador. Dahlia já podia ouvi-los
estourando em sua panela, o chiar do peixe-espada na manteiga. Casca
de limã o, salsa, alho. Algo simples para um lado. Ela começou a
empilhar os blocos de construçã o em sua cabeça, e a expectativa
zumbiu nos dedos dos pé s.
— Senhoras e senhores!— Tanner Tavish ergueu os braços
dramaticamente do meio do Cı́rculo Dourado. — Preparem-se para o
seu primeiro Desa io de Eliminaçã o. Sua hora de iletagem e cozimento
de peixe está prestes a começar.
London gemeu, tanto para os peixes mortos deitados em uma grossa
esteira preta em sua estaçã o, quanto para o senhoras e senhores de
Tanner. Ambos, no momento, pareciam igualmente irritantes.
London nunca havia eviscerado um peixe antes, o que, em
retrospectiva, parecia uma habilidade embaraçosa de se perder. Sua
atribuiçã o de alabote era um peixe branco relativamente comum, cuja
carne London havia cozinhado antes. Mas elu aparentemente nunca
tinha… visto um alabote. Nã o parecia nada com uma truta arco-ı́ris,
London sabia agora.
— Cuidado com este — o membro da equipe que o jogou no chã o A,
estaçã o de London, havia dito. — Suas escamas sã o minú sculas e
escondidas na pele. — E entã o ele sorriu e lutuou para longe.
Fantá stico.
També m era bastante... simples. E tinha coisas estranhas na parte
superior e inferior. Eles eram chamados de barbatanas?
London deveria ter tentado mais com seus rolos da Califó rnia.
— E seu tempo começa… — Tanner se inclinou para frente,
prolongando a pausa. — Agora!
Os nú meros vermelhos na mesa dos juı́zes mudou de 60 para 59.
London pegou uma faca.
As coisas correram bem por um tempo, ou tã o suavemente quanto
um pedaço de proteı́na escorregadio e pesado poderia ir. Escamas eram
de fato desgraçadas, mas uma vez que London cortou seu primeiro ilé
da espinha, elu começou a respirar mais facilmente.
E entã o elu cometeu o erro de olhar para cima.
O peixe-espada de Dahlia já estava pronto, de alguma forma, e seus
ilé s pareciam impecá veis. Ela estava atualmente ajudando Jacob, com
Tanner Tavish observando, provavelmente para assegurar que Dahlia
nã o ajudasse muito. Ela estava gesticulando com uma mã o, segurando a
faca de Jacob ao longo de seu bagre com a outra. Seu corpo parecia
totalmente relaxado, tã o diferente de como ela estava ontem e no dia
anterior. London poderia dizer pela forma como seus ombros nã o
estavam mais amontoados, pelo sorriso em seu rosto, e pela forma
como ela encostou o quadril casualmente contra a estaçã o.
— Sim — Tavish estava dizendo. — Exatamente. Excelente té cnica,
Dahlia.
Antes de Dahlia retornar ao seu peixe-espada, ela apontou para a
cabeça agora semi-destruı́da do bagre na estaçã o de Jacob. Ela apontou
para o pró prio queixo, certamente dizendo algo sobre os bigodes
horrı́veis e viscosos do peixe, embora London nã o pudesse ouvir
exatamente o que ela estava dizendo sobre os xingamentos frustrados
de Ahmed ao lado deles.
London virou o primeiro ilé — ligeiramente cortado, mas intacto,
nada mal para a primeira tentativa, elu pensou — e começou do outro
lado do alabote.
Do canto do olho, elu viu Dahlia segurar o bagre de Jacob no rosto,
arregalar os olhos e fazer um som alto com o efeito de “Bleeuuurrrrgh”.
London começou a rir.
A mã o delu escorregou. E entã o tudo aconteceu muito rá pido.
De alguma forma, Dahlia estava lá em um piscar de olhos,
estendendo a mã o para agarrar a mã o de London, juntando uma ponta
de seu avental e envolvendo-a em seu polegar. Ela estava aplicando
pressã o no ferimento antes mesmo de Ahmed olhar ou Tanner Tavish
ter tempo de se apressar até o posto delu.
— Mé dico! — ela gritou, olhos focados como lasers no polegar de
London, que estava sangrando no momento atravé s de seu avental
amarelo.
— Senhorita Woodson, o que você está fazendo? — Tavish sibilou,
colocando a mã o em seu ombro. — Volte para sua estaçã o. Sé rio, você
está arruinando seu avental.
— Ah, que seja, vai sair com um pouco de peró xido de hidrogê nio.
Que tenho certeza que os mé dicos tê m. Ei pessoal. — Dahlia sorriu para
os dois paramé dicos que se apressaram, apenas saindo quando eles
assumiram.
London sentiu agudamente, no momento em que seus dedos
deixaram os delu.
Dez minutos depois, London cortou um limã o. Elu nã o tinha ideia se
este era o pró ximo passo ló gico em seu plano cuidadosamente
formulado, mas o limã o estava lá , entã o elu o cortou.
O polegar delu doı́a, pulsando atrá s da gaze grumosa que os mé dicos
haviam aplicado. Bom Deus, London nã o podia acreditar que elu tinha
feito isso. Depois que Audra havia advertido os competidores pelo
menos dez vezes para manter as mã os atrás das facas de iletagem.
London merecia ser eliminade por isso, provavelmente. Na primeira
semana. Morti icante.
Era por isso que London estava chateade. Porque elu era uma pessoa
competitiva que queria ganhar essa coisa, e elu cometeu um erro
realmente estú pido. Porque cozinhar com um enorme chumaço de gaze
na mã o foi uma verdadeira dor na bunda.
Nã o tinha nada a ver com os dedos de Dahlia Woodson apertando os
delu. Ou o jeito que ela disse oh, tanto faz para Tanner Tavish, que era,
por todas as contas, a pessoa mais assustadora no set.
London pegou outro limã o.
Combinava perfeitamente com a cor do top que Dahlia tinha usado
ontem.
Ela estava vestindo um moletom cor de framboesa e shorts com
estampa loral hoje. As mangas de seu moletom foram empurradas para
cima de seus antebraços quando ela estendeu a mã o para trá s para
pegar a mã o de London, mas o tecido ainda roçou seu braço por um
segundo, macio e reconfortante. Seu cabelo estava preso naquele coque
ridı́culo. Ela o colocou logo antes de começar a tomar notas durante a
demonstraçã o de Audra. Uma ita escapou dele e caiu sobre seus olhos
quando ela se inclinou para examinar o polegar. London queria
estender a mã o e colocá -lo atrá s da orelha.
Oh Deus.
London queria Dahlia Woodson.
Elu cortou um terceiro limã o, sem nenhuma boa razã o.
Elu a queria, provavelmente, desde o momento em que a viu pela
primeira vez, mas os ú ltimos vinte minutos tinham realmente batido na
cara delu com isso, e isso era estú pido. London nã o conseguia se
lembrar da ú ltima vez que elu quis algué m real, algué m alé m das
armadilhas da sede na internet, e agora elu estava na luxú ria com essa
mulher que estava a menos de trê s metros de distâ ncia delu, que elu
poderia nunca mais ver se fosse expulse hoje de qualquer maneira, que
se divorciou recentemente, de um cara provavelmente, que era uma
distraçã o que elu nã o precisavam.
Idiota, idiota, idiota.
London nã o tinha namorado desde que elu se assumiu como nã o-
biná rie, trê s anos atrá s. Namorar enquanto nã o-biná rie parecia confuso
e intimidador, mesmo sabendo que tinha que haver alguns aplicativos
de namoro por aı́ com opçõ es trans-amigá veis disponı́veis. Certo? Certo.
Mas elu ainda se sentia tã o confuse por dentro, na maioria das vezes, e
em uma nota relacionada, London odiava alabote.
Elu cozinhou de qualquer maneira. De má vontade.
Uma vez que a hora acabou, as câ meras se desligaram para um breve
intervalo, e Dahlia se virou.
— Você está bem? — ela perguntou.
London sentiu uma vontade surpreendente de grunhir para ela
novamente. Deus, elu era ume idiota.
— Claro — elu disse.
Ela deu um passo em direçã o a elu.
— Foi a caixa torá cica, certo?
Elu assentiu, sentindo suas bochechas corarem.
Dahlia estendeu a palma da mã o, traçou uma linha branca que corria
bem perto de seu polegar esquerdo.
— A primeira vez que tentei estripar um peixe. — Ela sorriu. —
Bastardos complicados.
London queria levantar essa mã o e passar a lı́ngua ao longo dessa
cicatriz. E entã o ir para aquela boca, sorridente e vermelha e cheia, os
lá bios da mesma cor do moletom, os dentes atrá s deles ofuscantes.
Elu engoliu.
— Sim. Foi um grande erro, no entanto.
— Qualquer que seja. Nã o importa se sua comida ainda está boa. E
parece ó tima.
Ela acenou para o prato de London. Ela estava mentindo. Nã o parecia
ó tima. Seu rosto estava ó timo.
— Obrigade. Por, você sabe… — London ergueu a mã o enfaixada.
Embora elu nã o soubesse por que ainda estava falando. Elu desejava
que essa conversa terminasse, desesperadamente, para que pudesse
voltar a se preocupar com os outros competidores e nã o falar com
ningué m, exceto talvez Cath e Ahmed e de initivamente só pensar em
comida e apenas comida.
— Ah, claro. — Dahlia sorriu novamente. E entã o a velha, Barbara,
estava ao seu lado, tagarelando em seu ouvido, e Dahlia se virou, e
London soltou um suspiro.
O Julgamento começou logo depois, e Deus, julgar era chato. London
admirou a capacidade dos jurados de comer continuamente comida
fria, mas seus pé s começaram a icar dormentes depois de tanto
esperar. A ú nica vantagem foi ver o prato de Dahlia ser julgado, quã o
brilhantes os comentá rios estavam. E mesmo que London nã o pudesse
ver seu rosto quando Sai e Audra e até mesmo Tanner a elogiaram, elu
observou suas mã os atrá s das costas, apertando uma à outra até
icarem brancas.
E elu podia ver, també m, enquanto ela se afastava do Cı́rculo
Dourado, como ela estava tentando controlar suas feiçõ es e agir com
calma, mas o canto de sua boca cor de framboesa continuava se
contorcendo, seus olhos brilhando.
Ela pegou seus olhos quando ela virou a esquina para sua estaçã o.
London deveria ter grunhido para ela novamente, provavelmente - elu
entendeu isso imediatamente um segundo depois - mas elu era ume
idiota. Elu sorriu para ela.
E seu rosto explodiu. Como quando ela provou as tortilhas pela
primeira vez no bar, mas melhor. Jesus, aqueles dentes.
E entã o ela olhou para frente novamente, e London engarrafou
dentro delu, aquele sorriso.
As avaliaçõ es dos jurados sobre o prato de London nã o foram tã o
estelares, mas, para sua surpresa, també m nã o foram horrı́veis. Quando
chegou a hora de vencedores e perdedores, London estava solidamente
no meio do pelotã o. Elu nunca se sentiu mais grate por ser medı́ocre.
Os juı́zes sempre chamavam os trê s primeiros competidores para o
Cı́rculo Dourado primeiro, antes de escolher os trê s ú ltimos. Dahlia,
Khari e Ayesha foram os trê s primeiros hoje, mas nã o era realmente
uma pergunta. Dahlia ganhou.
Ela era a felicidade em pessoa, e London mal conseguia olhar para
ela. Depois que um coitado chamado Mason foi o primeiro competidor
eliminado, depois que as câ meras desligaram, depois que con irmaram
com Janet que nã o era mais necessá rie para mais entrevistas solo,
London sumiu no ar enfumaçado de pleno verã o de Los Angeles. Estava
quieto, surpreendentemente quente, mesmo quando o sol se esvaiu no
horizonte. Elu tirou o telefone do bolso.
Por que diabos você não me fez aprender a estripar um peixe? elu
mandou uma mensagem para Julie enquanto caminhava de volta para
seu quarto de hotel, um espaço que era frio, sem alma e seguro,
completamente desprovido de qualquer charme.
CAPÍTULO CINCO

London nã o tirou Jacob do caminho, exatamente. Aconteceu que


Jacob era lento e preguiçoso e London estava impaciente para entrar no
ô nibus. Aconteceu que passar por Jacob garantiu que a bunda de
London acabasse no assento vazio ao lado de Dahlia Woodson.
Coincidê ncia completa.
— Ah, oi. — Ela sorriu para elu, e London se amaldiçoou. Elu passou
a noite inteira enviando mensagens de texto para todos que conheciam
em Nashville, seguidos de leitura do Twitter por horas, para se distrair
de qualquer pensamento de sorrisos ofuscantes ou ombros expostos
por tops amarelos ou dedos enrolados no polegar. Elu nem tinha saı́do
do quarto, por medo de encontrá -la. Elu descobriu duas noites atrá s,
quando ambos estavam voltando de um lanche tarde da noite, que o
quarto dela icava a apenas algumas portas do delu.
E agora, uma olhada naquele cabelo esta manhã , e elu já estava de
volta à s suas besteiras.
— Ei. Parabé ns pela vitó ria ontem.
Dahlia corou.
— Obrigada. Como está seu polegar?
— Está bom. Já está curando.
Enquanto London balançava o polegar para ela, elu estava ciente do
quã o ridı́culo isso era, seu desejo de estar ao lado dessa mulher, de vê -
la sorrir. Mesmo alé m de Dahlia estar fora de seu alcance, elu a ouviu
dizer a Barbara que ela morava em Maryland. Que era, da ú ltima vez
que London veri icou, muito longe de Nashville. Qualquer ume delus
podem ser expulses a qualquer momento. E London ainda nã o sabia
quase nada sobre ela.
— Para onde você acha que vamos?
— Espero que seja em algum lugar emocionante. — Dahlia olhou
pela janela, mas London pô de ver o sorriso em seu rosto.
London icou surprese que o Chef's Special estava lançando um
Desa io do Mundo Real para elus tã o cedo. Esses desa ios fora do set
eram normalmente interessantes, mesmo que quase sempre fossem
desa ios de grupo, e os desa ios de grupo fossem os piores. Qualquer
grupo que perdesse hoje retornaria ao set na segunda-feira para outro
Desa io de Eliminaçã o, enquanto o time vencedor ganhava imunidade e
um dia de folga. Você realmente queria estar em um time vencedor para
um Desa io do Mundo Real.
— Ei. — Dahlia se voltou para elu. — Você chegou a gravar sua
primeira entrevista individual? Apresentou seus pronomes?
London assentiu. Tinha sido surpreendentemente fá cil falar com uma
câ mera em vez de uma mesa cheia de estranhos. Elu estava escolhendo,
conscientemente, nã o pensar no fato de que aquela câ mera estaria
transmitindo suas palavras para milhõ es de pessoas. Porque isso ainda
parecia surreal.
— Você pô de fazer a sua?
Dahlia deu de ombros.
— Sim. Foi chato. — O calor em seus olhos diminuiu. O ô nibus saiu
subitamente do estacionamento do estú dio. E como o silê ncio entre
elus se estendeu, apenas como no bar do hotel, London sentiu
novamente aquela vontade de trazê -la de volta.
— Entã o eu estive pensando — elu começou, coçando o pescoço. —
Assobio. E uma palavra muito difı́cil de soletrar.
Ela piscou para elu.
— Eu ico pensando nisso, e é como quando você olha para uma
palavra por muito tempo e ela começa parecer estranha, sabe? Comecei
a questionar se sei como soletrar agora, quanto mais na quarta sé rie.
Dahlia riu, largo e brilhante, e o corpo de London começou a relaxar.
— Eu sei! Mas — ela mordeu o lá bio —, eu era uma criança TED. Eu
deveria saber como soletrar.
— TED?
— Talentosa e dotada. — Ela revirou os olhos. — E eu sabia como
soletrar. Eu sabia! — Ela deu um tapa no braço de London, como se elu
tivesse insinuado que ela nã o sabia, e isso ê chocou com uma risada. As
mulheres continuavam batendo nelu em Los Angeles, e elu se sentia
estranhamente bem com isso.
— A-S-S-O-B-I-O — Dahlia soletrou agora.
— Bom trabalho — London disse, sorrindo.
— Cala a boca — disse ela imediatamente. E entã o, soando sé ria: —
Minha mã e icou tã o decepcionada.
— Sobre um concurso de soletrar da quarta sé rie?
Ela olhou pela janela novamente.
— Sim.
E antes que London pudesse dizer mais alguma coisa, o ô nibus
parou.
— Tudo bem, crianças, hora de sair! — Janet gritou da frente do
ô nibus.
— Espere — Dahlia disse. — O quê ? Ficamos no ô nibus por tipo, dois
minutos.
— Sim. — London se inclinou um pouco sobre ela para espiar pela
janela, sem perceber que ela cheirava a hortelã -pimenta. — Já estamos
seriamente aqui? Oh. Oh Deus.
Do lado de fora da janela, o sons de pré -adolescentes gritando
icavam mais altos a cada segundo que passava. Eles pularam para cima
e para baixo, acenando. London nã o... estava pronte para isso.
Mas quando elu olhou, é claro, Dahlia estava sorrindo.
— Doce — ela sussurrou. Ela acenou de volta, fazendo com que as
crianças mais pró ximas da janela gritassem ainda mais alto.
London recostou-se em seu assento e exalou.
Elu havia chegado ao seu primeiro Desa io do Mundo Real.
Era um bar mitzvah. O lado positivo, Adam Abramovitz
de initivamente seria o garoto mais legal do ensino mé dio por pelo
menos uma semana.
O lado negativo, Jeffrey era o lı́der do grupo de Dahlia.
Para ser justa, ela nã o conhecia Jeffrey tã o bem. Ela ainda nã o
conhecia ningué m tã o bem.
Mas à s vezes você tinha sentimentos instintivos sobre as pessoas. E
Dahlia teve um pressentimento de que Jeffrey era um idiota gigante.
— Dahlia. — Ele apontou para ela uma vez que os doze competidores
restantes foram divididos em duas equipes de seis e seis. — Você ica
com a pasta de grã o de bico.
— Eu ico com... pasta de grã o de bico — ela repetiu, sua caneta
parou sobre seu caderno. Ela nã o precisava fazer anotaçõ es sobre como
en iar grã o de bico em um processador de alimentos.
— E quaisquer outros aperitivos que você queira fazer. Você é a mesa
do lanche. Faça bonito. Tudo bem, agora, Ahmed...
— Espere — London, ao lado dela, interrompeu. — Você viu Dahlia
vencer o desa io ontem, certo? O desa io dos peixes?
O prato principal atribuı́do ao grupo deles hoje foi salmã o. O que
quase fez Dahlia rir, quando viu os ingredientes dispostos no cená rio
temporá rio que a equipe havia construı́do atrá s deste salã o de
bombeiros. Era como se ela estivesse vivendo em um inferno de
pescetariano.
— Sim, e felizmente ela nã o caiu de cara ontem. Eu nã o vou ter nosso
prato principal espalhado por todo o chã o. — Jeffrey ergueu uma
sobrancelha condescendente. — Isso nã o é apenas para os juı́zes; este é
um evento real.
— O que… — Dahlia deu uma cotovelada leve nas costelas de London
para deter elu. Ela estava feliz por London estar em sua equipe, e
apreciava que elu a defendesse, mas agora Jeffrey realmente a
envergonhou, e ela só queria que todos seguissem em frente.
— De qualquer forma, acredito que sou o lı́der da equipe aqui. —
Jeffrey olhou na direçã o de London, e pelo canto do olho, Dahlia viu a
mandı́bula delu apertar. — Dahlia está com aperitivos. London, você
está com sobremesas. Agora, Ahmed e Beth…
Qualquer que seja. Ela poderia fazer uma pasta de grã o de bico foda.
Ela adorava aperitivos.
— Lembre-se de levar isso a sé rio — London murmurou para ela,
rabiscando em seu pró prio bloco de notas. — Isto é um verdadeiro
evento. Para crianças de treze anos.
Dahlia reprimiu seu bufo.
Depois que Jeffrey terminou seus pedidos, London e Dahlia correram
para a mesa na parte de trá s do cená rio temporá rio, como se
estivessem correndo para pegar o banco de trá s em um ô nibus escolar,
reivindicando-o antes de ir buscar seus ingredientes.
A realidade de um desa io como esse se instalou rapidamente, uma
vez que os juı́zes deram seus discursos e a cozinha realmente começou.
A comida nã o precisava necessariamente ser de qualidade com estrela
Michelin; você simplesmente precisava fazer uma tonelada dela em um
curto perı́odo de tempo. Dahlia era a favor disso. Apenas blocos de
construçã o, de novo e de novo. Consistê ncia era sua força.
Alé m disso, ela sentiu uma pequena emoçã o com a ideia de fazer
comida que seria consumida por pessoas reais, nã o apenas provadas
por trê s juı́zes antes de ser jogada fora. Nã o importando se essas
pessoas reais tinham treze anos ou nã o.
E, ela descobriu, havia algo calmante em trabalhar perto de London.
Elu era ume trabalhadore só lide, frie e e iciente. Quanto mais elus
trabalhavam juntes, mais ela sentia que tinham conseguido o melhor
negó cio. Aperitivos e sobremesas? Essa foi a coisa boa.
Elus passaram os primeiros vinte minutos em confortá vel silê ncio
produtivo.
A boa vibraçã o de Dahlia começou a diminuir, no entanto, pela
terceira vez Jeffrey se aproximou para criticá -la.
— Vamos, Dahlia! — ele gritou da primeira vez, seguido por: — Você
ainda nem começou a pasta de grã o de bico?
Ela nã o tinha. Porque Dahlia estava fervendo o grã o de bico em
bicarbonato de só dio e á gua primeiro, para ajudar a remover as cascas.
Isso faria uma pasta de grã o de bico mais suave. Ela estava trabalhando
na massa para pita fresca e pimentos vermelhos assados enquanto o
grã o de bico fervia. Seus blocos de construçã o estavam se empilhando
perfeitamente. Ela sabia o que ela estava fazendo.
Ainda assim, Jeffrey voltou dez minutos depois com um — Acelere,
Woodson! — e uma palmada agressiva em seu rosto, por nenhuma
razã o aparente. Foi um pouco exagerado, honestamente. Talvez Jeffrey
estivesse procurando alguns shows de atuaçã o no Chef's Special.
Mas mesmo que Dahlia soubesse que ele estava sendo ridı́culo, nã o
se sentia bem, sendo humilhada em rede nacional. Ela pensou que já
tinha acabado com isso, durante sua queda de taco de peixe. Era assim
que ela estava sendo rotulada? A desajeitada e incompetente?
— Ei — London disse, sacudindo Dahlia de seu devaneio.
Elu estava segurando o rolo que estava usando em sua massa de
rugelach.
— Deve haver alguma maneira de acidentalmente bater na cabeça de
Jeffrey com isso, certo? — Elu o inclinaram em suas mã os. — Podemos
fazer com que pareça suave de alguma forma. Provavelmente resultaria
apenas em uma pequena concussã o.
Dahlia assentiu, tentando conter seu sorriso.
— Seria uma boa TV — ela concordou.
— Estarı́amos apenas fazendo nossa parte pelas classi icaçõ es.
— Ou talvez... — Dahlia olhou ao redor do balcã o e pegou um
crostino. — Começamos com alguma tortura leve, trabalhamos até
concussõ es? Basta esmagar um monte deles e en iá -los em suas meias,
fazê -lo andar por aı́. Como Legos.
London inclinou a cabeça, considerando.
— Eu gosto de onde você está indo com isso, Woodson.
— Ou... — Os olhos de Dahlia se ixaram na tigela em que ela tinha
acabado de colocar seu molho muhammara. — Você poderia segurá -lo,
e eu poderia esfregar algumas pimentas em seus globos oculares?
London se inclinou um pouco para frente, sufocando uma meia tosse,
meio riso em seus punhos.
— Isso é ... sim. Claro — disseram.
— Fazer ele engolir canela? — ela ponderou, pensando no rugelach.
Ela balançou a cabeça. — Nã o, muito clichê .
Dahlia tamborilou os dedos na mesa, totalmente investida neste jogo
agora.
— Oh! — Ela agarrou a tigela de nozes mais distante da mesa,
esperando para ser esmagado e envolvido na massa de rugelach. — Eu
entendi. — Ela se virou para London, segurando a tigela até o queixo. —
Esmagando nozes esmagadas em suas nozes.
Exceto no momento exato em que essa ideia triunfante saiu de sua
boca, todo o canto do set pareceu se estabelecer em um silê ncio má gico,
fazendo suas palavras soarem altas e desconfortá veis. Como aquela vez
de volta em casa em seu escritó rio quando todos de alguma forma
decidiram calar a boca segundos antes de ela ter decidido soltar um
peido disfarçado.
Ahmed e Beth, na mesa na frente deles, junto com Dahlia nã o pô de
deixar de notar, a câ mera mais pró xima, todos se viraram lentamente
para olhar para ela.
— Nó s poderı́amos apenas colocá -los em sua cueca... — murmurou
Dahlia, por algum motivo, como se fosse importante terminar de
explicar o plano para London. Ela limpou a garganta enquanto seus
colegas continuavam a olhar. E uma pequena parte de seu cé rebro
sussurrou foda-se.
— Só , você sabe — ela disse, a voz um pouco mais alta —,
discutindo... torçõ es gastronô micas.
London caiu na gargalhada. Era a primeira vez que Dahlia realmente
ouvia London rir, de verdade. Era alto e chiado. Ela adorou.
Dahlia tentou ignorar os olhares, despejando as nozes na mesa e
pegando uma faca.
Ela chutou o pé de London por baixo da mesa.
— Você começou isso.
Entã o talvez o Chef 's Special fosse um pouco como o ensino mé dio.
Ahmed e Beth inalmente se viraram, e London olhou para suas
mã os, balançando a cabeça. Elu tentou acalmar o rosto, reorientar suas
tarefas.
— Facas — elu disse baixinho, depois de um momento.
— Huh? — Dahlia olhou para elu, sobrancelhas levantadas.
— Para nossa tortura. Provavelmente poderı́amos fazer muito com
facas.
— London. — Dahlia piscou. — Droga. Você está icando sombrie com
isso.
— Olha, eu estou fazendo o que posso para tirar meu cé rebro das
torções gastronômicas.
— Tudo bem. Estraga-prazeres. — Dahlia fez uma pausa em seu
esmagamento de nozes para reavaliar a mesa mais uma vez. Seus olhos
se arregalaram. — Mas escute, se Jeffrey estiver metido em coisas
estranhas de comida, imagine quantas coisas aqui ele poderia…
— Senhorita Woodson.
London saltou quando Tanner Tavish apareceu na frente delu,
quebrando a antecipaçã o meio horrorizada, meio excitada de London
do que quer que Dahlia estivesse prestes a dizer em seguida.
Tavish plantou as mã os na mesa, inclinou-se perturbadoramente
perto de Dahlia. Ela se endireitou, sé ria. London cerrou os punhos.
— Estou curioso por ver que esta competiçã o é tã o divertida para
você . — London notou um cinegra ista se aproximando atrá s do ombro
de Tavish. — Mas o tempo está passando e o trabalho que você faz hoje
afeta seus companheiros de equipe també m. Eu també m posso lembrar
a você s — seus olhos piscaram na direçã o de London antes de refocar
em Dahlia —, que você s sã o microfonados enquanto estã o no set. Se
você s nã o podem levar esta competiçã o a sé rio, ou se comportar com
pro issionalismo, garanto que existem inú meros outros chefs amadores
em toda a Amé rica que icariam felizes em tomar seus lugares.
Com isso, ele girou nos calcanhares e marchou para longe.
Dahlia olhou para baixo, o rosto vermelho como uma beterraba. Ela
limpou alguns pedaços da mesa na palma da mã o, jogando-os no lixo.
Pegando um trapo, ela se ocupou em limpar o balcã o já limpo.
London fez uma careta, suas unhas curtas cravadas nas palmas das
mã os. Se elus estavam fazendo o trabalho, o que importava se elus
estavam se divertindo?
Porque London estava, elu percebeu. Se divertindo.
— Sinto muito — elu disse baixinho. Dahlia olhou para elu, reunindo
um sorriso antes que um lampejo de incerteza cintilou em seus olhos.
— Eles nã o podem me expulsar do programa por isso, podem?
London balançou a cabeça.
— Eu nã o penso assim. Se eles puderem, eu vou sair primeiro. Você
tem razã o. Eu comecei.
— Nã o — ela disse. — Todas aquelas crianças nã o-biná rias no
Tennessee precisam de você .
London estava quiete. Elu nã o sabia o que dizer sobre isso.
— Mas sé rio — sussurrou Dahlia. — Você nã o acha que eles vã o
transmitir nada dessa conversa, certo?
— Se eu acho que eles vã o nos exibir falando sobre torturar um
colega concorrente? Nã o, Dahlia, eu nã o acho. — London fez uma pausa.
— Seria engraçado, no entanto, se o izessem.
— Eles provavelmente vã o transmitir minha queda no primeiro
episó dio, no entanto.
London fez uma careta.
— Sim. Eles provavelmente vã o ao ar com isso.
Dahlia icou quieta por um momento. Entã o ela riu um pouco.
— Uau. Eu sou muito ruim nisso.
— Nã o, você nã o é . Achei que já tı́nhamos estabelecido isso. Seu
peixe-espada ontem...
— Nã o, nã o. — Dahlia acenou para elu novamente. — Nã o cozinhar.
Estar na TV. Eu sou ruim em ser uma adulta humana na TV.
— Oh. — London considerou isso. A queda espetacular e Tanner
Tavish se levantando na cara de Dahlia daria uma boa TV, com certeza.
Mas London pensou principalmente em como sua pele brilharia na
câ mera, como seu sorriso seria radiante.
— Talvez — elu disse.
Elu começou a cortar hortelã e endro para o tzatziki de Dahlia. Elus
de alguma forma começaram trabalhando juntes nos pratos ume de
outre, sem falar sobre isso.
— Eles vã o me ver quase cortando meu dedo també m — disse
London depois de um minuto. — Entã o, até você derramar um pouco de
sangue, você pode realmente se superar, Woodson.
Dahlia passou azeite sobre as fatias de pita. Ela sorriu, pequena e
quieta. Ela jogou sal marinho e pimenta sobre a pita antes de colocá -las
no forno.
— Como você sabia? — London perguntou. — Que eu me machuquei
ontem? Acho que nem iz barulho.
— Ah, sim, você fez. — O rosto de Dahlia se animou. — Você
assobiou. Tipo, aaaaaaarrrrrrrrrrgggggg. — Ela esticou a boca, seu
pescoço se contorcendo de uma maneira surpreendentemente pouco
atraente.
— Eu nã o.
— Acredite em mim, você fez. Hank era um desajeitado absoluto
crescendo, sempre se machucando. Eu reconheceria aquele silvo de dor
em qualquer lugar.
— Acho que teria me lembrado de assobiar.
— Claro que você nã o faria. Você estava em choque. Está te
incomodando, cozinhar hoje?
Ela estendeu a mã o e tocou o polegar de London.
Era apenas um arranhã o, exatamente onde o curativo terminava.
Mas a lı́ngua de London parecia estranhamente pesada em sua boca
de qualquer maneira.
— Está tudo bem — elu conseguiu dizer. Dahlia assentiu. Ela moveu
a mã o, colocou uma fatia de pepino na boca.
London e Dahlia voltaram ao trabalho. Elus eram bons em trabalhar
juntes, movendo-se ume ao redor de outre, pegando ferramentas
emprestadas, entregando ingredientes ume ao outre com facilidade.
London tentou nã o se debruçar sobre os dedos de Dahlia em sua mã o,
sobre os sons que ela fazia quando provava algo que agradava
particularmente ao seu paladar.
Elu pensou: Este é um bom dia.
Em outros lugares, no entanto, nem tudo estava bem na Equipe
Jeffrey.
Ahmed e Beth estavam tendo sé rios problemas com o salmã o.
Exatamente o que, London nã o sabia dizer, mas havia muita tensã o a
um metro e meio de distâ ncia. Jeffrey caminhou em direçã o a elas, seu
rosto no modo de supervilã o-que-acabou-de-perceber-que-vai-perder,
com Sai Patel nã o muito atrá s.
— Caramba — London murmurou.
— Devemos ajudar? — Dahlia mordeu o lá bio inferior.
— O que diabos há de errado com você s? — Jeffrey gritou.
— Foda-se — respondeu Beth.
— Parece que eles tê m tudo sob controle — disse London.
— Ah, com certeza. — Dahlia assentiu rapidamente.
London mergulhou uma fatia de pimentã o laranja na pasta de grã o
de bico de Dahlia.
— Isso é uma pasta de grã o de bico muito bom.
Dahlia sorriu.
— Obrigada, amigue.
— Por quanto tempo você cozinhou isso? — Sai Patel gaguejou.
— Tentei dizer a Jeffrey que essas panelas...
— Seu rugelach, no entanto. Verdadeiramente espetacular. — Dahlia
pegou um pedaço recé m-saı́do do forno. London tentou nã o olhar para
como ela lambeu os dedos depois, e falhou completamente.
— Obrigade, amiga — London repetiu.
Como se constatou, o salmã o estava cozido demais e emborrachado.
— Nó s provavelmente deverı́amos ter ajudado — Dahlia sussurrou
uma hora depois, enquanto elus trabalhavam em limpar suas estaçõ es.
Os juı́zes pareciam genuinamente chateados.
— Ops — disse London.
A equipe deles perdeu.
Quando os competidores inalmente desmaiaram no ô nibus para a
viagem de volta ao hotel, a luz do dia estava se esvaindo do cé u, uma
faixa de pú rpura enevoada pairando no horizonte. London virou-se
para Dahlia depois que elus se sentaram nos mesmos assentos que
haviam ocupado antes. Ela inclinou a cabeça para trá s contra o encosto
de cabeça, segurando os cotovelos sobre o estô mago, os olhos fechados.
A boca de London estava aberta, pronte para dizer algo tolo, mas a
visã o era tã o surpreendentemente ı́ntima que elu parou.
Dahlia deve ter sentido seu olhar de qualquer maneira.
— O quê ? — Ela abriu um olho, ergueu uma sobrancelha.
— Eu me diverti. Cozinhando com você hoje.
London sentiu seu pescoço icar rosa.
Dahlia sorriu.
— Eu també m. E sabe de uma coisa? — ela acrescentou depois de um
minuto. — Você nã o grunhiu para mim em dois dias inteiros. E como se
eu nem soubesse mais quem você é , London Parker.
CAPÍTULO SEIS

Uma semana depois, os competidores da oitava temporada se


amontoaram em outro ô nibus ao raiar do dia. Quando Dahlia sentiu
algué m cair no assento ao lado dela, ela se virou, um sorriso já
crescendo em seu rosto. Ela teve uma noite horrı́vel, e ela precisava de
brincadeiras sem objetivo com London Parker mais do que nunca.
Mas o cabelo de morango familiar nã o a recebeu hoje.
Lizzie tocou a ponta dos ó culos nervosamente.
— Olá , Dahlia.
Dahlia gemeu internamente, voltando-se para a janela escura,
trabalhando para manter seu suspiro exausto e irritado contido.
— Lizzie — ela reconheceu.
Dahlia, de alguma forma, tinha aprendido mais do que ela precisava
saber sobre esta mulher durante a ú ltima semana e meia desde seu
Frente-a-frente. Ela soube que o nome do marido de Lizzie era Chance,
que ele era um caminhoneiro de longa distâ ncia. Que Lizzie era uma
higienista dental que nutria há anos o sonho de abrir sua pró pria
padaria. Que eles moravam em San Diego. Que os nomes de seus dois
ilhos eram Billy e Lucas. Que Billy estava na Marinha. Que Lucas estava
se formando no ensino mé dio este ano e planejando frequentar uma
faculdade comunitá ria local e morar em casa no pró ximo ano para
economizar dinheiro.
Dahlia nã o pediu nenhuma dessas informaçõ es sobre Lizzie e sua
famı́lia aparentemente decente, trabalhadora e de classe mé dia, mas
Lizzie simplesmente a derramou sempre que Dahlia estava por perto.
Ela era inabalavelmente gentil com Dahlia, mesmo quando Dahlia
tentava ao má ximo ignorá -la, e Dahlia se sentia cada vez pior a cada
interaçã o. Ela nã o queria gentilezas que só eram concedidas porque ela
parecia se encaixar nas caixas consideradas aceitá veis pela sociedade.
Com um estremecimento, o ô nibus se afastou do estacionamento.
Lizzie icou abençoadamente silenciosa por dez minutos pacı́ icos.
E entã o ela limpou sua garganta.
— Entã o, Dahlia — ela começou, sua voz baixa, con idencial. — Eu
notei que você se tornou amiga de London.
Oh, caro senhor. Dahlia fechou os olhos, desejando forças de
quaisquer divindades que estivessem lá em cima.
Pelo que Dahlia podia dizer, Lizzie e London evitavam ume ao outre
como uma praga no set. London nã o mencionou mais nada sobre ela
desde aquela primeira noite no bar. Dahlia estava esperançosa de que
isso signi icasse que Lizzie nã o estava incomodando muito London, e
que London nã o tinha desperdiçado muito espaço de seu cé rebro com
ela.
— E eu só me preocupo — Lizzie continuou agora —, que eles
possam ter lhe dito algumas coisas incorretas sobre mim.
Exceto que Lizzie nã o disse elu.
Os olhos de Dahlia se abriram.
— Eu sei que nã o começamos da melhor maneira, mas
honestamente, Dahlia, eu só estou tentando olhar para…
— Lizzie — Dahlia interrompeu, trabalhando duro para manter sua
voz igualmente baixa. Quã o difı́cil era, realmente, usar a palavra certa?
Dahlia queria jogar as ú ltimas doze horas de sua vida em uma lixeira e
incendiá -la. — Vou parar você aı́ mesmo, porque é muito cedo, e estou
cansada, e honestamente, se você quer ser amigá vel comigo, ou seja lá o
que for que está acontecendo aqui, você pode começar por nã o errar o
gê nero de minhe amigue na minha frente. Ou em qualquer lugar, na
verdade, nunca.
Mesmo na luz baixa do ô nibus, Dahlia podia ver o rosto pá lido de
Lizzie, sua boca se contorcendo em um franzido feio no meio de seu
rosto magro e enrugado. Ela lembrou Dahlia de sua enfermeira da
escola primá ria, a Sra. Tucker, que nunca acreditou em Dahlia quando
seu estô mago doı́a.
— Errar o gê nero — Lizzie repetiu de volta, a voz azeda.
— Sim — Dahlia respondeu irmemente. — Coloque no Google.
— Que bom! — Lizzie deu uma risadinha, sua voz subindo agora.
Dahlia olhou ao redor do ô nibus meio adormecido, o pâ nico começando
a borbulhar em suas veias. Lá . London estava a quatro ileiras à frente
delas. Se Lizzie transformasse isso em uma cena com London a quatro
ileiras de distâ ncia, entã o Dahlia teria... teria... Dahlia teria que fazer
algo desagradá vel. — Certo — Lizzie bufou novamente. — Aqui estava
eu, apenas tentando conversar. Eles nos chamam de intolerantes. Juro.
Lizzie balançou a cabeça, resmungando, e en iou a mã o embaixo da
cadeira. Barulhentamente, ela pegou sua bolsa e icou de pé .
— Obrigada pela conversa, Dahlia — ela disse irritada, antes de subir
o corredor e encontrar um novo assento ao lado de Khari.
London nã o foi ê ú nique que girou o olhar para Dahlia.
ECA.
Ela se afundou profundamente em seu assento, os joelhos apoiados
na frente dela.
Ela poderia ter lidado melhor com isso. Hank nã o teria gostado. Ele
era todo sobre abrir coraçõ es e mentes, o grande e macio idiota, e
Dahlia tinha acabado de assegurar que o coraçã o e a mente de Lizzie
estivessem fechados para ela agora.
Ela enxugou as palmas das mã os no jeans e respirou fundo. Ela
estava privada de sono e desorientada, e sentindo-se um pouco cansada
de pessoas.
Pessoas como Lizzie, sendo decepcionantemente uma merda.
Pessoas como David, enviando e-mails desconcertantemente
agradá veis.
Ela o encarou por muito tempo quando chegou em sua caixa de
entrada na noite passada. Já tinha praticamente memorizado.
Dahls,
Oi.
Este é provavelmente o e-mail mais estranho que já enviei, mas... Eu
queria que você soubesse. Comecei a ver Megan McCombs. Ela estava
há um ano à nossa frente na escola. Nã o tenho certeza se você se
lembra dela. Eu só queria te dizer antes que você ouvisse de outra
pessoa, ou visse no Facebook, ou algo horrı́vel assim. Eu nã o sei por que
eu senti que deveria te contar, mas... de qualquer forma. Aı́ está .
Claro que Dahlia se lembrava de Megan McCombs. Megan tinha feito
parte do governo estudantil no ensino mé dio, ajudando a liderar
comı́cios de animaçã o e comı́cios de Dia dos Veteranos. Ela era uma
estrela do vô lei. Ela també m sempre foi genuinamente legal. Uma
pessoa naturalmente simpá tica.
Dahlia queria que tudo icasse bem. David merecia algué m como
Megan. De qualquer forma, surpreendeu Dahlia que ele tivesse
demorado tanto para voltar lá novamente.
Dahlia, por sua vez, só se permitiu considerar namorar novamente
em suas noites mais sombrias e solitá rias. Quando ela sentia falta de ter
algué m para conversar, quando ela desejava ser tocada. Sua mente
vagou, especialmente, sobre as opçõ es que estavam abertas para ela
agora. Dahlia sabia desde a faculdade que era queer. Mas desde que ela
só esteve com David, ela nunca foi realmente capaz de explorar essa
parte dela, pelo menos nã o da maneira que ela à s vezes fantasiava.
Dahlia considerou, naquelas noites solitá rias, vestir algo furtivo e
dirigir para DC ou Baltimore. Encontrar um bar queer. Beijar quem
quer que ela achasse atraente contra as paredes sujas do banheiro. Ter
icadas de uma noite.
Ou, até mesmo, se inscrever nos aplicativos de namoro que todos no
mundo, exceto ela, sabiam usar.
E entã o ela acordava na manhã seguinte e se lembrava de que ainda
se sentia culpada e triste demais para fazer isso. Que ela queria
remontar ela mesma primeiro, sozinha, antes de trazer outra pessoa
para a mistura de seu coraçã o confuso.
E entã o ela assistia a outro tutorial de culiná ria no YouTube e
praticava seus cortes de faca.
Fazia sentido, poré m, que nã o só David estivesse namorando
novamente agora, mas que ele teria esperado até encontrar algué m
só lido. Que ele icaria com algué m que eles conheciam no ensino mé dio.
Algué m que era sensata e bem sucedida. Dahlia nã o tinha ideia do que
Megan McCombs estava fazendo nos dias de hoje, mas ela assumiu que
ela era bem sucedida.
Acima de tudo, Dahlia sabia em seu ı́ntimo que ela faria bebê s muito
bonitos. Que Megan McCombs seria uma ó tima mã e.
Espero que você esteja indo bem no Chef's Special. Ainda nã o
consigo acreditar que isso está acontecendo, mas estou feliz por você .
Ainda nã o decidi se vou assistir. Eu nã o sei se seria bom para mim. Mas
estou orgulhoso de você .
Eu realmente espero que você esteja bem, Dahlia.
OK. Isso é tudo. Nã o sinta que você tem que responder a isso.
David
Dahlia fechou os olhos e encostou a tê mpora no vidro frio da janela.
As rodas do ô nibus rolando sobre o asfalto rachado vibraram atravé s de
sua pele, sacudindo seu cé rebro dentro de seu crâ nio.
O que David queria que Dahlia sentisse quando ele enviou aquele e-
mail?
A con irmaçã o de que ele era absolutamente decente?
Dahlia observou a paisagem de LA desaparecer fora da janela,
estendendo-se em colinas poeirentas, a luz da manhã emergente
lançando uma luz dourada ina sobre a paisagem. E ela pensou: Como
isso deve ser bom, seguir em frente. Não sentir mais raiva de mim.
— Ei. — London raspou a ponta de seu tê nis contra o cascalho do
estacionamento muito enquanto se aproximava do lado de Dahlia. Ela
icou com os braços cruzados, olhando ixamente para os campos da
Fazenda da Famı́lia Graham. — Você está bem?
Dahlia olhou para elu, e seus olhos se suavizaram. Ela deixou cair os
braços.
— Sim.
London en iou as mã os nos bolsos traseiros. Uma parte delu estava
morrendo de vontade de saber o que havia acontecido entre ela e Lizzie
no ô nibus, mas a maior parte delu tinha exatamente zero vontade de
perguntar.
Este era o quinto dia consecutivo de ilmagens esta semana, e
London estava sentindo isso hoje, a exaustã o pesada em seus membros.
Mas sua mente se sentia bem. Flexı́vel. Elu estava pronte para este
segundo Desa io no Mundo Real hoje. Elu se saiu bem esta semana,
incluindo uma vitó ria durante o Desa io de Eliminaçã o de ontem. Falar
com Dahlia no set icou fá cil, depois do bar mitzvah de Adam
Abramovitz, mesmo com sua atraçã o contı́nua por ela, que elu estava
trabalhando para reprimir. London estava precariamente perto de se
divertir surpreendentemente com toda essa coisa do Chef's Special.
— Esta vista nã o é ruim — arriscou depois de alguns momentos de
silê ncio. Os outros oito concorrentes restantes estavam atrá s delus,
esperando que os produtores e a equipe inalizassem a logı́stica. — As
fazendas de Tennessee sã o melhores — acrescentou. — Mas esta está
bem.
— Você passou muito tempo em fazendas? — Dahlia perguntou, seus
ombros relaxando. — Eu pensei que você fosse de Nashville.
— Meu colega de quarto Eddy está no conselho de uma cooperativa
local e me envolveu nisso. Tentei trabalhar na loja algumas vezes, mas
nã o era ê melhor em... Relaçã o com cliente.
Dahlia sorriu.
— Ah.
London disparou-lhe um olhar defensivo.
— Eu posso ser bastante amigá vel, você sabe. Esses clientes
cooperativos sã o apenas... especiais. Entã o agora eu ajudo com corridas
para fazendas locais algumas vezes por mê s, transportando coisas de
um lado para o outro. A maioria das fazendas faz suas pró prias
entregas, mas se tivermos um pedido especial, ou demanda repentina...
— London deu de ombros. — Alguns dos fazendeiros sã o velhos e mal-
humorados, mas muitos deles sã o jovens, na verdade, fazendo coisas
muito legais. Embora eu goste dos velhos e mal-humorados també m.
Uma pontada de saudade atingiu o estô mago de London.
— Eu gosto deles. Os fazendeiros. Entã o, à s vezes, se estou entediade,
ou qualquer outra coisa, vou a algumas das fazendas para ajudar. Eles
sempre precisam de ajuda.
Elu parou, ciente de que estava divagando. Mesmo assim, elu se
sentiu compelide a acrescentar um minuto depois:
— E bom. Ver de onde vem sua comida. — E entã o elu corou, com o
quã o sé rio isso saiu, e elu inalmente calou a boca.
Ajudar a cooperativa, trabalhar nas fazendas signi icava muito para
elu. Nos ú ltimos anos, London havia feito um esforço consciente para
retribuir, para ser uma pessoa mais ú til. Foi por isso que elu se sentiu
tã o investide nessa ideia LGBTQ sem ins lucrativos, se ganhasse o
Chef's Special.
A famı́lia delu sempre foi bem de vida. Os pais de London
trabalhavam na indú stria farmacê utica, cada um em funçõ es diferentes:
a mã e na á rea de ciê ncias, o pai na á rea de negó cios. Elu cresceu em
uma casa grande nos arredores de Nashville, com uma babá e
professores particulares, governantas e paisagistas. A casa era cercada
por um quintal espaçoso e luxuosamente verde com colinas ondulantes
alé m, que London podia contemplar da pequena sacada fora de seu
quarto. Os Parkers mantinham um barco no Lago Percy Priest e tirava
fé rias todo verã o, para locais pró ximos e distantes.
London tinha amado quase tudo sobre as partes externas de sua
infâ ncia. E elu percebeu agora como tinha sido sortude e privilegiade.
As partes internas de sua infâ ncia, é claro, tinham sido mais
complicadas. Julie sempre foi a melhor amiga delu, e elu tinha outros
amigos també m, alguns relacionamentos no ensino mé dio. Mas London
sempre sentiu... desligade. Dolorosamente estranhe. Nunca se
encaixando, pelo menos nã o exatamente, nã o do jeito que elu queria.
Elu achava que todos os adolescentes se sentiam um pouco estranhos
em sua pele. Foi só na faculdade que London percebeu que nem todos
os adolescentes se sentiam como elu.
— Huh. — Dahlia estava sorrindo agora. — Interessante. Entã o por
que as fazendas do Tennessee sã o melhores do que esta?
London olhou para as colinas suaves no horizonte. Eles pareciam
saltar da terra plana do nada, de tirar o fô lego à sua maneira. Eles
també m eram totalmente desprovidos de á rvores e
surpreendentemente, inegavelmente, marrons.
— Nã o é ó bvio? — London levantou o braço para a paisagem. — O
Tennessee é verde.
Dahlia re letiu sobre isso.
— Certo. Isso també m é bonito, embora, certo? Em uma... maneira
menos verde.
— Nã o é . Isto é . Eu simplesmente nunca poderia viver aqui o ano
todo.
— Mesmo?
— Você poderia? — London ergueu uma sobrancelha. — Quero dizer,
você é da Costa Leste, certo? Já imaginou morar em um lugar que nã o
tivesse estaçõ es de verdade? Onde as folhas nã o mudaram de cor no
outono?
— Eu gosto das estaçõ es. Mas... —London esperou, observando
Dahlia com a cara pensativa. A que ela fazia quando estava planejando
uma receita, os olhos levemente estreitados, a boca apertada de um
lado. — A Califó rnia tem palmeiras. E você tem que admitir, as
palmeiras sã o espetaculares.
— Eu nã o tenho que admitir nada. Elas me assustam um pouco, para
ser honeste.
Dahlia ofegou.
— Você está falando sé rio? Oh meu Deus, eu as amo.
— Elas parecem uma espé cie alienı́gena. — London balançou a
cabeça. — Tipo... nã o fazem sentido.
Dahlia sacudiu a cabeça para elu.
— Você está errade. Elas sã o fantá sticas.
Elus icaram em um silê ncio amigá vel por alguns minutos. A manhã
ainda estava fresca, e London gostava da brisa, do aroma levemente
doce das lores silvestres que se alinhavam no estacionamento.
— Você realmente gosta do Tennessee, hein — disse Dahlia
eventualmente, uma meia pergunta engraçada, meia a irmaçã o, mas
London respondeu de qualquer forma.
— Eu gosto. Nashville, em particular. Nã o é muito grande, nem muito
pequeno, mesmo que esteja se gentri icando rapidamente. Você
realmente deveria visitar, com Hank. E famosa pela boa comida e boa
mú sica. E há estaçõ es. O que mais você poderia querer?
— Você acha que vai morar lá para sempre? — Dahlia perguntou.
— Provavelmente. Sim. — London deu de ombros.
— E é onde você sempre morou.
London deu a Dahlia um curioso olhar. Ela ainda estava olhando para
o horizonte, mas estava fazendo essas perguntas estranhamente,
lentamente, como se London desfrutando de onde vinha fosse uma
receita que ela nã o entendia.
— Sim.
— Huh — ela disse novamente.
— Ok, você s parecem vivos! — Janet bateu palmas e chamou-lhes a
atençã o antes que London pudesse descobrir mais o que estava
realmente acontecendo por trá s da Cara Pensativa de Dahlia. Janet
estava em um tronco do outro lado do estacionamento, o sol da manhã
brilhando atravé s de seus cachos bronzeados. — Você s receberam
todas as instruçõ es para hoje dos juı́zes enquanto ilmamos, entã o
iquem atentos. Nó s nunca trabalhamos com esta fazenda, entã o — ela
disparou olhos de laser para todos eles —, nã o nos envergonhe na
frente dessas pessoas. E certi iquem-se de parecer empolgados com
toda essa merda da natureza. OK! Olhos em Audra.
Um assistente pessoal fez a contagem regressiva e as câ meras
estavam ligadas.
— Estou extremamente satisfeita — começou Audra — por levá -los a
seus adorá veis companheiros para o episó dio cinco da oitava
temporada.
E ela parecia satisfeita. Ela estava vestindo uma lanela verde-clara e
azul sobre jeans escuros. London nunca, nem uma vez, tinha visto a
ultrafeminina Audra Carnegie se vestir como uma lé sbica antes, e elu
icou agradavelmente surprese com isso.
Ela girou sobre seu calcanhar e caminhou em direçã o a um celeiro
rú stico na extremidade do primeiro campo. Os competidores seguiram,
poeira levantando sob seus sapatos.
Assim que chegaram, Audra empurrou a porta do celeiro com um
loreio dramá tico.
— Oh nã o — London murmurou, seu bom humor caindo para as
solas de seus pé s.
— Oh meu Deus — Dahlia sussurrou, sorrindo de orelha a orelha.
Como que para contrabalançar o mal-estar de London, qualquer humor
que ela estava quando eles saı́ram do ô nibus tinha desaparecido
o icialmente. — Sim.
E entã o ela realmente agarrou o braço de London. O que teria sido
um momento muito mais emocionante para London se elu nã o
estivesse cercade pelo aroma pungente e nefasto dos bovinos.
— Elas sã o tão fofas.
Dahlia pareceu perceber o que estava fazendo um segundo depois, e
rapidamente soltou a mã o do braço de London, suas bochechas corando
levemente. London a encarou.
— Vacas nã o sã o fofas. Elas sã o perigosas.
Lentamente, propositalmente, Dahlia virou seu corpo para encarar
London completamente.
— Perigosas — ela repetiu.
— Sim — London bufou, cruzando os braços, tentando ignorar como
elu ainda podia sentir o ponto em seu bı́ceps onde Dahlia ê tocou,
prestes a explicar que as vacas eram naturalmente perigosas, quando
Sai Patel ê interrompeu.
— A Fazenda da Famı́lia Graham produz alimentos para a á rea da
grande Los Angeles há mais de trê s geraçõ es, fornecendo produtos e
laticı́nios para restaurantes, lojas e bancos de alimentos locais. A
primeira coisa que você precisa saber é que nã o faremos nenhum
desa io de culiná ria aqui. Hoje é sobre educaçã o e valorizaçã o dos
sistemas que nos sustentam.
— Estaremos, no entanto, reunindo alguns dos ingredientes que
você s usarã o para seu pró ximo desa io no estú dio. També m
observaremos de perto o quã o sé rio você s levam o dia de hoje e quã o
bem você s completam as tarefas que pedimos a você s, e nossas
observaçõ es irã o in luenciar nossa decisã o durante o pró ximo Desa io
de Eliminaçã o.
— Sua primeira tarefa hoje é aquela que a famı́lia Graham e seus
funcioná rios precisam concluir duas vezes por dia, todos os dias, aqui
na fazenda: ordenhar uma vaca.
Barbara soltou um muxoxo para si mesma do outro lado de Dahlia
enquanto as câ meras paravam e os juı́zes conferiam com um homem de
ombros largos no canto.
— Ordenhar uma vaca era uma habilidade bá sica onde eu cresci.
Molezinha.
London discordou, apenas um pouco.
— Eu nã o posso acreditar que eles estã o nos fazendo fazer isso — elu
sussurrou para Dahlia. — E se algué m se machucar?
— Hum — Dahlia disse, e London sabia que ela estava rindo delu, e
elu nã o se importava. — Tenho certeza de que elas estarã o nessas
barracas, e nó s estaremos fora, entã o acho que vamos icar bem.
— Currais — Barbara forneceu.
— Certo! — Os olhos de Dahlia se iluminaram. — Elas estarã o em
currais. Vai icar tudo bem, amiguinhe. — Ela deu um tapinha
condescendente no ombro de London, seu sorriso se estendendo
praticamente até seus ouvidos.
— Elas se movem de repente à s vezes — a irmou London. Dahlia era
tã o pequena. — Elas podem esmagá -la.
— Entã o você está dizendo que, em todo o seu tempo de
voluntariado nas fazendas do Tennessee, você nunca ordenhou uma
vaca.
— Claro que nã o — London zombou. — Sé rio, existem má quinas
para isso. — Um segundo depois: — Espere, você já ordenhou uma vaca
antes? — Elu acompanharia a mestre em iletagem de peixe Dahlia se
també m tivesse domı́nio de grandes animais de fazenda. London
aprendeu que você nunca sabe o que esperar com Dahlia Woodson.
— Nã o. — Ela balançou a cabeça. — Mas estou animada para isso.
— Bom Deus, por quê?
— London — Dahlia disse seriamente. — Eu nã o perguntei muito de
você , em nossa amizade de menos de duas semanas, mas devo insistir
que você me diga, agora, exatamente o que aconteceu em seu passado
entre você e as vacas.
— Nã o. — London tremeu a cabeça delu. — Nunca. — E isso era uma
promessa.
Você fuma maconha com seu primo Oliver na escola uma vez...
As câ meras estavam rodando novamente.
— Se você já usou um pouco de manteiga em uma de suas receitas —
Sai Patel estava dizendo —, você apreciará mais a existê ncia dessa
manteiga depois de hoje. Reú nam-se, por favor, e prestem muita
atençã o enquanto Randy demonstra a té cnica adequada...
A contragosto, London tomou notas meticulosas sobre como lavar,
despir, segurar e espremer tetas. Jacob, ao lado delu, soltava um
sorrisinho toda vez que Randy dizia tetas, e realmente, tudo isso era um
pouco demais. Para qualquer um, pensou London, exceto,
aparentemente, Dahlia Woodson.
Ela levantou a mã o quando Randy fez perguntas.
— Suas vacas tê m nomes?
Randy deu a ela um olhar longo e sé rio de fazendeiro.
— Nã o — ele inalmente disse.
— Bem, isso é claramente uma mentira — Dahlia murmurou,
rabiscando furiosamente em seu bloco de notas.
— O que você está escrevendo?— London nã o pô de deixar de
perguntar. Mesmo que elu soubesse.
— Possı́veis nomes de vacas. Obviamente.
London espiou por cima do ombro dela. Sua caligra ia era grande e
cheia de curvas, bagunçada. Se encaixava perfeitamente nela.
— Margaret? — elu perguntou com ceticismo.
— Quero dizer, olhe para ela. — Dahlia gesticulou para a vaca recé m-
ordenhada atrá s de Randy. — Ela é claramente uma Margaret.
— Você sabe, eu concordo, amor — Barbara saltou.
Dahlia sorriu para London.
— Viu?
Perturbou London, quã o perto o puro deleite de Dahlia neste
momento ê empurrou para se sentir quase feliz por estar neste celeiro.
O que, para constar, elu ainda nã o estava.
O que foi con irmado quando seu nome foi chamado na primeira
formaçã o do ordenhadores. Enquanto a Fazenda da Famı́lia Graham
tinha vacas mais do que su icientes para cada concorrente, o Chef's
Special nã o tinha equipe su iciente no local para ilmá -las todas de uma
vez. O que signi icava que quando London se aproximou da besta preta
e branca designada a elu, Dahlia estava logo atrá s, observando,
esperando sua pró pria vez.
Fantá stico.
— Dahlia, você terá que recuar um pouco para sair da cena. —
Maritza acenou por trá s de sua câ mera.
London sentou-se no banco do lado de fora do curral. Elu colocou
luvas. Estava frio no celeiro, e moscas zumbiam em volta de sua cabeça.
Elu tentou ingir que isso nã o estava acontecendo.
E elu foi muito bem sucedide nisso, para o primeiro minuto de
ilmagem. Elu lavou essas tetas como ume vencedore. Dispô s o polegar
e o indicador ao redor da base de uma, como Randy havia mostrado,
pronte para apertar.
E entã o a maldita vaca se moveu.
Quando as mã os de London foram empurradas, o pâ nico ê fez
apertar descontroladamente, e a fera emitiu um mugido alto e irritado.
— Oh meu Deus — Dahlia respirou.
London sentiu antes de ver. O surpreendente golpe de calor. O cheiro
de terra de suco sujo de vaca.
Com medo, elu olhou para baixo.
Onde elu tinha acabado de esguichar leite. Em toda a sua virilha.
Por um momento, elu icou sem palavras.
E entã o elu disse:
— Eu odeio vacas.
Dahlia explodiu em gargalhadas.
— London, tente nã o xingar na tela — disse Maritza, e elu podia
ouvir em sua voz també m, o quanto ela estava tentando segurar sua
pró pria risada.
— Huh — Randy disse, porque é claro que Randy estava lá , e é claro
que ele nã o estava rindo. — Interessante, aı́. Lembre-se, você nã o está
realmente puxando a tetina. Aquilo é um equı́voco. Você está apenas
juntando o leite e depois espremendo. Para baixo. Longe de você . No
balde.
— Eu… eu nã o estava puxando… E só … — Mas Randy já estava indo
embora.
— Oh meu Deus, London, se você machucar Maisie, eu nunca vou
falar com você novamente.
London voltou-se para Dahlia.
— Maisie.
— Como isso aconteceu… — Dahlia cobriu a boca, agitando a outra
mã o, com lá grimas nos olhos.
Maisie sacudiu o rabo.
Ela balançou e acertou London bem na cabeça.
— Porra…
Dahlia e Maritza nã o conseguiam emitir sons coerentes agora, ambas
estavam rindo tanto.
London esfregou sua orelha.
— Eu suponho que você nã o se importe que isso realmente
machuque, — elu murmurou para si mesme.
— Ok, London. — A voz de Maritza estava estridente de chiado
quando ela se levantou. — Você realmente tem que terminar a ordenha
agora.
Claro que sim. London respirou fundo e voltou a se concentrar, o que
era difı́cil de fazer, com um clima ú mido e estranhamente quente na
virilha. Talvez elu pudesse subornar Maritza de alguma forma, para
garantir que Sai Patel nunca visse essa ilmagem. Por alguma pequena
bê nçã o, os trê s juı́zes estavam todos ocupados cuidando de outros
competidores.
— Espere — Dahlia disse de repente. — Meu Deus. Ai meu Deus.
— O quê? — London gritou, exasperade, virando-se para olhá -la
quando ouviram um plop suave. Desta vez, elu sentiu o cheiro antes de
vê -lo.
— London — Dahlia respirou. — Maisie acabou de fazer uma cagada
gigantesca.
London fechou os olhos e contou até dez.
— Eu posso ver isso, Dahlia.
Elu ouviu farfalhar do outro lado. Abrindo os olhos, elu viu Maritza se
agachar, a mã o na boca, o rosto vermelho.
Até Tanner Tavish aparecer do nada e perguntar:
— Como estã o as coisas por aqui?
Maritza se endireitou. Dahlia engasgou com uma bufada.
— Bem. As coisas estã o indo muito bem — disse London entre os
dentes cerrados. En iou as mã os nas tetas de Maisie, espremendo seu
maldito leite no maldito balde.
CAPÍTULO SETE

Levou vinte e quatro horas e dois banhos para tirar o cheiro de vaca
da pele de London.
E durante esses banhos, elu se encontrou cantarolando a cançã o sem
sentido que Dahlia tinha inventado enquanto ordenhava sua pró pria
vaca, com a qual, claro, ela tinha lidado perfeitamente.
Isso deveria ter sido irritante, a cançã o de vaca de Dahlia icando
presa em sua cabeça. Mas, em vez disso, durante todo aquele
abençoado sá bado de folga, London continuou sorrindo.
Enquanto se atualizava nas mı́dias sociais, quando sua risada
explodiu aleatoriamente em seu lobo frontal, como ela nã o conseguia
parar de rir durante toda a viagem de ô nibus para casa.
Depois que decidiu dar um mergulho na piscina do hotel, deitade em
uma chaise sob o sol forte para se secar, quando fechou os olhos e tudo
o que pode ver foi o rosto de Dahlia, brilhante e aberto, quando ela
encontrou a alcachofra perfeita nos campos da Fazenda da Famı́lia
Graham.
Tudo isso tornou as coisas especialmente confusas horas depois,
quando London se deparou com Dahlia no saguã o do hotel e seu rosto
estava contraı́do e fechado, seus olhos vermelhos e embaçados, como se
ela tivesse chorado. London teve di iculdade em se lembrar da cançã o
da vaca na hora.
Elu estava assistindo a um ilme em seu quarto, tinha descido para
comprar comidas gordurosas no posto de gasolina do outro lado da rua.
— Corrida à loja de conveniê ncias… — disse London, depois que elus
pararam na frente ume de outre e um segundo de silê ncio
constrangedor passado. Elu inclinou a cabeça em direçã o à porta. —
Quer vir?
Dahlia pareceu pensar nisso. London en iou as mã os nos bolsos para
impedir-se de tocá -la. Eventualmente, ela assentiu.
London optou pelo silê ncio enquanto escolhia pipoca de cheddar,
chocolates de manteiga de amendoim Reese e rosquinhas de açú car em
pó . Dahlia seguiu silenciosamente atrá s. London quase aplaudiu
quando ela inalmente descruzou os braços para pegar um pacote de
ané is de goma de pê ssego.
— Foi uma longa semana — ela disse enquanto elus estavam na ila
para fazer o check-out. — Desculpe. Estou cansada.
— Tudo bem. — London deu de ombros.
Dahlia fez um ruı́do vago em sua garganta e olhou para baixo. Ela
estava vestindo uma camiseta rosa justa hoje, uma saia preta de
bolinhas e tê nis. Ela era uma daquelas garotas que realmente
conseguiam usar saias e tê nis. Provavelmente porque suas pernas eram
tã o bonitas. Provavelmente porque ela poderia fazer qualquer coisa.
London coçou a nuca enquanto caminhavam de volta para o hotel.
Elu nunca foi muito boe em ser reconfortante. Sempre que elu queria
fazer Julie se sentir melhor, elu apenas zombava dela até que ela
gritasse com elu. Gritar com London sempre fazia Julie se sentir melhor.
Mas elu nã o pensou que essa estraté gia funcionaria aqui.
Elus pararam quando chegaram à calçada do lado de fora do hotel.
Algo no canto do pré dio captou a visã o de London. Pelo simples desejo
de nã o deixar Dahlia ainda – elu temia que assim que voltassem para
dentro do saguã o ela saı́sse correndo como um rato muito bem vestido
– elu seguiu em frente.
A luz dourada e o ruı́do abafado saı́am de uma janela alta no
primeiro andar. London espiou pela fenda estreita onde as pesadas
cortinas da janela se separavam, oferecendo um vislumbre de um salã o
de baile.
Dahlia esperou silenciosamente atrá s delu. London observou o
enxame de corpos lá dentro por mais um minuto.
E entã o elu tomou uma decisã o.
— Dahlia. — Elu se virou para encará -la. Sua cabeça estava inclinada
para o lado, seus olhos cansados, mas curiosos. — Você por acaso tem
algum plano esta noite?
— Hm. — Dahlia mordeu o lá bio. — Dormir?
— Ou — sentindo-se subitamente ousade, London agarrou seus
ombros —, venha invadir este casamento comigo em vez disso.
As sobrancelhas de Dahlia se ergueram em sua testa.
— Pode repetir?
— Invada esse casamento comigo.
Dahlia sacudiu a cabeça.
— O quê ? — E entã o: — Nó s terı́amos problemas.
— Acho que nã o. Olhe para eles. — London apontou seu agora
curado polegar para a janela atrá s delu. — Este é claramente um grande
casamento, e todo mundo está um lixo. Tipo, eles estã o caindo nos
cantos . Ningué m vai nos notar. Olha essa noiva! Ela provavelmente nos
daria um abraço e nos agradeceria por nossos anos de amizade neste
momento.
Dahlia olhou para elu. London, ume complete tole, manteve as mã os
em seus ombros. Porque era im de semana, e porque era bom.
E entã o o fantasma de um sorriso apareceu nos lá bios de Dahlia.
— Você é ume penetra frequente de casamentos? — ela perguntou.
London balançou a cabeça.
— Mas há uma primeira vez para tudo, certo?
— Uma primeira vez para tudo — ela repetiu.
Ume delus pode ser expulso na pró xima semana.
Mas agora? Era sá bado. Elus sobreviveram a uma longa semana. E
London quase virou a carranca de Dahlia Woodson de cabeça para
baixo.
O que quer que acontecesse a partir daqui valeria a pena.
— Vamos ter que nos trocar. — O rosto de Dahlia icou pensativo
agora, conspirando. Droga, mas London adorava aquele rosto pensativo.
— Você tem traje de casamento?
London nã o tinha pensado tã o longe.
— Talvez eu tenha uma gravata borboleta? Eu nã o sei. Eu vou ingir.
— Eu tenho... um vestido — Dahlia disse lentamente, como se a
existê ncia dele fosse precá ria, e o estô mago de London virou,
imaginando as possibilidades desse vestido.
— OK. — Dahlia se afastou, assentindo. Seu sorriso estava trê mulo,
mas estava lá . — Ok, vamos fazer isso. Encontro você no seu quarto em
quinze minutos?
London assentiu.
E agora ela estava realmente sorrindo.
— Tudo bem, London. Vá se tornar elegante.
A cabeça de Dahlia se inclinou para o lado.
— Você está ouvindo Tegan and Sara?
— Isso é estranho?
London olhou para Dahlia uma vez antes de voltar para o quarto
delu, pegando o telefone para parar a mú sica. Elu nã o podia passar
mais do que aquele breve segundo olhando para aquele vestido. Era
uma coisa preta sedosa com um decote severo que caı́a entre seus seios
pequenos, praticamente até o umbigo. Jesus Cristo, era indecente e
incrı́vel. Nã o admira que ela tenha feito uma pausa antes de mencionar
isso.
A primeira coisa que fez explodir o cé rebro de London foi que talvez
isso tivesse sido uma má ideia.
— Nã o, eu acho que nã o é estranho — disse ela. — Eu só esperava
que você ouvisse tipo... muitos roqueiros indie descolados que eu nunca
tinha ouvido falar, ou algo assim.
London ouvia roqueiros indie descolados que Dahlia provavelmente
nunca tinha ouvido falar. Mas quando elu estava nervose, elu se
refugiava para sua playlist de mú sicas do inı́cio a meados dos anos
2000 que elu e Julie cresceram ouvindo quando eram apenas crianças:
Tegan and Sara, The Shins, Modest Mouse, Death Cab, coisas que
ouviam antes mesmo de entender a letra. Sendo gê meos, elu e Julie
brigavam constantemente, especialmente na escola primá ria. Mas
quando ambes cresceram na adolescê ncia, a mú sica começou a amarrar
ume a outre. Provavelmente sempre amarraria. Esta playlist sempre fez
London se sentir irme e calme.
— OK. Estou pronte. — London se aproximou da porta novamente,
onde Dahlia ainda estava de pé . Ela nã o se moveu, forçando London a
icar ali sem jeito, esperando. Elu tentou por toda a vida manter a calma
de Tegan and Sara.
Dahlia estendeu a mã o e ajeitou a gravata borboleta de London.
— Você está fofe.
London estava pronte para estragar este casamento, mas elu nã o
achava que fosse fofe, e certamente nã o esperava que Dahlia dissesse
que era fofe. Uma camisa estampada acompanhada de gravata
borboleta e jeans escuros era a coisa mais chique que elu conseguia
imaginar. Mesmo que London tivesse aceitado mais nos ú ltimos anos,
tivesse trabalhado para torná -lo mais confortá vel, elu ainda achava que
tinha um corpo estranho: irregular em lugares que nã o deveria ser,
como o estô mago, e quadris; muito estreito em outros, como seus
ombros. Elu parecia um Oompa-Loompa comparade a Dahlia.
Ela havia se maquiado també m, seus olhos ainda mais escuros do
que o normal, seus lá bios mais vermelhos do que antes. Ela era
inequivocamente linda.
Por um segundo, enquanto se preparava, London considerou colocar
um pouco de maquiagem també m. O desejo de mexer com maquiagem
foi um puxã o que elu experimentou talvez uma ou duas vezes por ano.
Elu tinha ido tã o longe esta noite a ponto de tirar o rı́mel de uma bolsa
en iada em seu armá rio. Mas entã o elu se lembrou de que a ú nica
pessoa que poderia fazer a maquiagem parecer semi-decente nelu era
Julie. E nas poucas vezes em que deixou Julie fazer isso, estava bê bade.
Elu nem sabia por que trouxe maquiagem aqui para LA.
De qualquer forma, mesmo que London parecesse fofe, elu queria
que Dahlia pensasse que elu era fofe, especi icamente? Fofe era para
cachorros. Para bebê s.
London pigarreou e avançou, forçando Dahlia a recuar para que
pudesse fechar a porta.
Era hora, claramente, do á lcool.
— Eu aceito um rosé , por favor. — Dahlia lançou aquele sorriso
branco brilhante para o barman cinco minutos depois, depois que elus
se esgueiraram para o salã o de baile como se pertencessem lá . Ou
melhor, London tinha assistido Dahlia se esgueirar. Ela estava
interessada nisso agora, London poderia dizer, e ela era uma
esgueiradora muito melhor. London principalmente andava
desajeitadamente com as mã os nos bolsos e tentava nã o olhar para o
torso exposto de Dahlia.
— E... para você ? — O barman olhou para London, e London
reconheceu imediatamente - a pausa demorada, o jeito que o barman
olhou para elu por um tempo muito longo, tentando decifrar se elu era
um homem ou uma mulher. London odiou essa pausa, mas apreciou o
bartender da mesma forma por deixar de fora o senhor ou senhora que
elu o ouviu usar com seus clientes anteriores.
— Que tipo de uı́sque você tem?
— Você só bebe uı́sque? — Dahlia perguntou. Um tanto julgadora,
pensou London.
— Acontece que eu gosto de uma grande variedade de bebidas
alcoó licas, muito obrigade — respondeu elu. — O uı́sque é
simplesmente... melhor do que todas as outras coisas.
Dahlia riu quando London aprovou um copo de Balcones.
— E certamente melhor do que rosé — acrescentou London
enquanto se afastavam do bar. Dahlia revirou os olhos e bateu seu copo
contra o delu antes de levá -lo aos lá bios, tomando um longo gole e
fazendo um dramá tico ruı́do mmmmmmm para dar ê nfase.
London sabia que Dahlia nã o queria que esse barulho soasse
absolutamente obsceno, mas elu teve que tomar um longo gole de sua
pró pria bebida e desviar os olhos de qualquer maneira.
— Certo — Dahlia disse decisivamente. — Vamos dançar.
London olhou e percebeu que os quadris dela já estavam se
movendo, seus pé s já se arrastando, ao que elu acreditava serem os
tons sonoros de Usher. Ela estava bebendo seu rosé muito rá pido -
embora com rosé , London supunha, nã o importava se a consumisse
corretamente ou nã o – e London mal teve um momento para apreciar a
maneira como seu pescoço balançava quando ela engoliu antes de
depositar o copo em uma mesa vazia e agarrar a mã o de London.
— Ah — elu disse, limpando a garganta novamente. — Certo. Eu
realmente nã o danço.
— London Parker. — Dahlia colocou as mã os nos quadris, apertando
os olhos para elu. — Você me convida para um casamento, e entã o você
me diz que nã o dança?
— Bem, eu… — London gaguejou. — Eu estava pensando
principalmente no á lcool grá tis. — E eu queria te fazer feliz. — Falando
nisso, vou pegar outra bebida. — Elu bateu o copo vazio na mesa ao
lado dela, nã o querendo ser superade.
E no momento em que London adquiriu seu segundo copo de uı́sque,
Dahlia pulou de cabeça para a pista de dança sozinha, jogando as mã os
no ar e sorrindo para todos ao seu redor.
Ela se encaixou perfeitamente. Como esperado.
London bebeu este uı́sque mais devagar, rastreando Dahlia com os
olhos ao redor da sala. Cada sacudida de seus quadris e salto de seus
ombros penetrava em seu sistema, vı́vido e perigoso. Ela era tã o...
luida.
O DJ estava fazendo algumas seleçõ es decentes, as batidas
martelando o ar cada vez mais forte nos ouvidos de London enquanto o
uı́sque fazia efeito. Eventualmente, para o bem ou para o mal, London
nã o pô de deixar de querer participar.
Dahlia sorriu para elu enquanto se dirigia a ela, seu sorriso tã o
brilhante que acendeu algo em chamas no peito de London. Ou talvez
tenha sido apenas o uı́sque que criou a pequena e brilhante bola de luz
que de repente se estabeleceu em sua caixa torá cica.
Luz que desvaneceu dois minutos depois, quando Dahlia começou a
rir delu.
— London — ela respirou entre risos. — Ai meu Deus.
— Eu sei — London disse com uma carranca antes que ela pudesse
continuar. — Eu disse que nã o danço.
— Ouça. Somente ... salte menos em seus pé s. Use mais os quadris. E
o que quer que você esteja fazendo com as mã os, oh meu Deus, apenas
pare. — Suas mã os se fecharam sobre as delu, que estavam fechadas em
punhos. Punhos que London estava agitando sem rumo na frente de seu
peito.
— O que devo fazer com elas, entã o? — elu perguntou impotente,
precisando que Dahlia tirasse suas mã os das suas e temendo o
momento em que ela o izesse. O que foi dois segundos depois.
— Eu nã o sei! Somente… relaxe os dedos e mova-os mais pelo corpo.
Ou no ar. — Dahlia demonstrou, suas palmas empurrando para o teto
no ritmo da mú sica enquanto ela dançava em cı́rculo.
Quando ela se virou para London novamente, elu tentou replicar o
movimento, suas mã os balançando acima delu enquanto girava. Dahlia
riu quando elus se enfrentaram novamente, o esforço mergulhando-a
para a frente em direçã o a elu, suas mã os de repente nas laterais de
London. — Sim! Isso é melhor. Isso é uma melhoria.
Os braços de London icaram congelados acima de sua cabeça. Elu
olhou para Dahlia, seu peito já arfando ligeiramente pelo esforço, um
leve suor permeando seu pescoço. Seria impossı́vel abaixar seus braços
sem envolvê -los em volta dela. Dahlia pareceu perceber isso ao mesmo
tempo e se afastou, tirando as mã os.
— Desculpe — ela disse rapidamente, com um pequeno sorriso, e
London desejou que ela nã o izesse.
Depois de mais quinze minutos de dança que se seguiram sem mais
nenhum toque, uma mú sica lenta começou, apresentada como a
penú ltima mú sica da noite. Antes que London pudesse entrar em
pâ nico com a horripilante cançã o de amor cheia de sintetizadores que
ecoava pelo sistema de som, Dahlia acenou com a cabeça em direçã o ao
canto da sala.
— Os bartenders abandonaram seus postos. Vamos!
London esperou, recuperando o fô lego, enquanto Dahlia espiava
atrá s do balcã o.
— Você quer branco ou tinto? — Ela ergueu duas garrafas de vinho.
— Dahlia. Você deve saber que o vinho branco, objetivamente, nã o é
bom. Certo?
Dahlia revirou os olhos antes de empurrar um pinot noir em seu
peito.
— Oh Deus, você é ume desses. Claro. — Carregando uma garrafa do
branco na mã o direita, ela agarrou a mã o livre de London com a
esquerda e arrastou-os por uma porta lateral para o pá tio nas traseiras
do hotel.
London se sentiu leve, suave, feliz por deixar Dahlia conduzi-lu por
salõ es escuros e pá tios abandonados pelo resto de sua vida.
Elus se sentaram ombro a ombro em um banco contra a parede uma
vez que estavam do lado de fora, uma fonte brilhante e iluminada na
frente deles, o ar da noite ao redor deles mais frio do que antes,
secando o suor em sua pele.
— Espera. Como vamos abrir? — London ergueu a garrafa de vinho.
— Eu cuido disso. — Dahlia vasculhou sua pequena bolsa até que
descobriu uma pequena multiferramenta do Exé rcito Suı́ço, extraindo
suavemente um saca-rolhas de dentro dela.
— Uau — disse London, genuinamente impressionado.
— Nunca saio de casa sem ele. — Dahlia abriu sua garrafa. — E— ela
acrescentou — a sua é de fá cil abertura.
London olhou para baixo em direçã o a seu pinot e riu.
— Entã o tá .
Eles se sentaram em silê ncio por alguns minutos, tomando goles
deselegantes de suas respectivas garrafas, ouvindo a noite ao redor
deles, todas as vozes bê badas atrá s da parede gritando "Don't Stop
Believin'."
Quando os convidados do casamento começaram a se dispersar no
hotel, o ar icou quieto.
— Entã o — London disse inalmente. — Você está realmente
divorciada?
Porque essa foi a maneira de quebrar o silê ncio.
Dahlia nã o se moveu ao lado delu, nã o vacilou ou endureceu ou fez
um movimento para fugir. No entanto, a cada segundo que passava sem
que ela respondesse, London se chutava um pouco mais forte. Era só
que a cabeça delu estava cheia de uı́sque e vinho medı́ocre, e elus
tinham acabado de ir a um casamento, e...
Dahlia suspirou.
— Sim. Desde o ano passado, o icialmente.
— Eu sinto muito, se você nã o quer falar sobre isso. Você parece tã o
jovem — London balbuciou, cavando o buraco mais fundo. — E nã o
consigo imaginar algué m querendo se divorciar de você .
Certo. OK. London provavelmente nã o precisava acrescentar essa
ú ltima frase. Elu tomou outro gole de vinho.
— Nã o, está tudo bem. Na verdade, você sabe o quê ? — Dahlia tomou
outro gole de vinho també m. — Eu quero falar sobre isso. — Exceto que
ela nã o o fez. Ela apenas olhou para a fonte, fazendo sua coisa de
desaparecer novamente. Mas London tinha tempo. Elu esperou.
— David e eu nos conhecemos no ensino mé dio. Comecei a namorar
no meu primeiro ano. — Abruptamente, Dahlia se endireitou no banco
e se lançou nele. — Eu nunca tinha namorado ningué m antes, nunca
tive nada alé m de paixõ es bobas, e David era tã o bonito, tã o gentil, tudo.
Eu pensei que nó s é ramos almas gê meas. Porque você provavelmente
sempre acredita nisso, quando está no ensino mé dio. Mas à s vezes é
verdade, sabe?
Seu rosto pareceu melancó lico por um momento. London queria
correr seus dedos ao longo de sua bochecha.
Elu també m sabia, com sú bita clareza, que havia cometido um erro.
Nã o que London nã o quisesse saber disso. Tudo bem, claro, talvez elu
nã o quisesse exatamente ouvir sobre como apaixonados ela e esse
David estavam, mas elu estava aqui para qualquer coisa que Dahlia
quisesse falar.
Exceto por algum motivo, quando London perguntou a Dahlia sobre
seu divó rcio, elu pensou que ela iria rir e dizer algo como: — Sim, a vida
é uma merda, hein? — Nã o... abrir sua histó ria de vida e começar a soar
triste. Elu nã o tinha ideia de por que pensaram isso. Claramente elu era
ume idiota. Mas elu caiu neste casamento para que elu pudesse ver
Dahlia rir e dançar, nã o ruminar sobre seus fracassos. A cada frase que
ela falava, London se amaldiçoava.
— David me convenceu a ir para a mesma faculdade que ele, a
George Washington em DC, mesmo sendo cara pra caramba e uma que
minha famı́lia nã o podia pagar. Mas é uma boa faculdade, e eu entrei,
entã o... — Dahlia se desvaneceu.
Tã o legal, agora London estava lembrando Dahlia sobre sua má goa e
seus problemas inanceiros. Elu estava arrasade.
Os pais de London conseguiram pagar integralmente sua educaçã o
universitá ria em Belmont.
Elu tomou outro gole de vinho.
Enquanto observava Dahlia ao luar, a refraçã o da luz da fonte fazendo
as sombras dançarem em seu rosto, London icou furiose novamente
porque Dahlia nã o podia usar $100.000 para tirar fé rias em Fiji, ou
Patagô nia, ou onde quer que ela quisesse ir no mundo inteiro, o que ela
quisesse fazer. London a imaginou em um veleiro, voando pelo mar
aberto, aquele cabelo jogado para trá s ao vento como uma obra de arte.
— David sempre soube que queria trabalhar em DC, para o governo.
Ele me fez assistir a muitas reprises de West Wing no ensino mé dio.
— Eu nunca assisti isso — London interrompeu, por nenhuma boa
razã o alé m de que elu de repente odiava esse cara, um pouco, que
começou a assistir a programas de TV com Dahlia no ensino mé dio.
— E… E bom, você sabe, para fantasia polı́tica. Escrita inteligente,
mas eles tratam as mulheres como merda. De qualquer forma. — Outro
gole de vinho. — Ele me pediu em casamento no Natal do nosso
segundo ano na GW. Em casa, em Massachusetts, de onde viemos.
Fiquei um pouco chocada, honestamente, que ele mal podia esperar até
terminarmos a faculdade. Tipo, isso foi estranho? Mas é claro que eu
disse sim. Claro que eu queria me casar com David. Alé m disso, que
maneira de arruinar o Natal para todos, se eu tivesse dito nã o.
Outra pausa.
London nã o apontou que arruinar o Natal para outras pessoas nã o
era uma razã o retumbante para dizer sim a uma proposta de
casamento.
— Em que você se formou, na faculdade? — elu perguntou em vez
disso, para distraı́-la.
— Comunicaçã o. — Dahlia revirou os olhos novamente. — Eu
realmente nã o sabia o que queria fazer. Ainda nã o sei. No que você é
formade? Você foi para a faculdade?
— Eu fui. Eu me formei em Tecnologia de Engenharia de Audio em
Belmont, em Nashville.
Dahlia olhou para elu.
— E é isso que você faz agora? Audio...
— Engenharia de á udio. Sim. Eu trabalho em podcasts agora, mas o
objetivo é entrar em um estú dio de gravaçã o de mú sica, um dia.
— Huh. — Dahlia se afastou delu, olhando para a fonte e tomando
outro gole.
London nã o tinha ideia do que isso signi icava. Era um huh parecido
com os que ela deu na fazenda, quando elu falou sobre a cooperativa.
Elu tinha soado pretensiose agora? London sabia que à s vezes elu podia
soar pretensiose quando falava sobre coisas de á udio. Elu
simplesmente gostava muito.
London saltou seu joelho.
— Entã o, você e David — elu pediu, mesmo que elu nã o quisesse. Elu
realmente nã o queria ouvir mais sobre David, este passado que causou
dor a Dahlia. Se apenas porque elu sabia que conhecer esta Dahlia,
aquela que parecia cansada e vulnerá vel ao lado delu, mudaria as
coisas. Pelo menos para elu.
Mas elu també m sabia que sua histó ria nã o tinha acabado ainda.
— Certo. Entã o ele propô s. Eu o iz esperar para ter a cerimô nia real
até que ambos tivé ssemos nos formado. Entã o foi isso que aconteceu.
Formatura da faculdade, casamento, empregos de verdade, casa nos
subú rbios, bum.
— O sonho americano.
— Sim.
— Exceto que você odiou — London preencheu depois de um
momento. Porque... aquele sonho americano realmente nã o soava como
Dahlia. Pelo menos a Dahlia que London conhecia. Aquela que imitava o
bagre e cantava para as vacas.
— Eu nã o odiei. — Houve outra longa pausa.
Olhando para Dahlia mais de perto, London percebeu que seus olhos
estavam vidrados. Porra. Se ela começasse a chorar de verdade, London
iria... Fazer alguma coisa. Segurar a mã o dela. Fazer chá para ela e
envolva-a em uma colcha e nunca a deixar ir. London nã o tinha colcha
nem chá , mas elu encontraria.
— Eu amava David. Eu realmente amei. Ele é uma pessoa
genuinamente boa. Tivemos a sorte de ambos encontrarem empregos
imediatamente. Trabalhei em um pequeno jornal em Baltimore –
continuei trabalhando lá , na verdade, até me demitir logo antes de vir
para cá . Eu també m nã o odiava isso; Eu acabei… nã o amando. — Ela
olhou para as mã os antes de olhar diretamente para London. — Eu
quero amar alguma coisa, sabe?
— Sim — disse London, e sua voz saiu rouca. Provavelmente porque
sua garganta estava apertando, quase dolorosamente.
— De qualquer forma. Está vamos indo bem. Tı́nhamos amigos; Eu
estava começando a pagar alguns dos meus empré stimos estudantis; Eu
gostava de decorar a casa. Hank começou a fazer a transiçã o e David
realmente apoiou a coisa toda, o que me fez amá -lo ainda mais.
Talvez David nã o fosse um idiota total.
Mas London ainda nã o con iava no cara.
— E entã o um alguns anos atrá s… começamos a ter As Conversas,
sabe?
London balançou a cabeça lentamente.
— O ú ltimo relacionamento sé rio que tive foi na faculdade. Eu nã o sei
o que sã o As Conversas.
Dahlia suspirou.
— O futuro. Famı́lia. Crianças.
— Ah. — London podia ver onde isso estava indo agora.
— Nó s dois sempre assumimos que querı́amos ilhos. Porque nó s
conversamos sobre isso no ensino mé dio, e eu disse: Eu os quero! — A
voz de Dahlia se projetou atravé s do pá tio. — Porque quando você tem
dezoito anos, quando você tem vinte e dois, é isso que você sente que
deveria querer, especialmente como mulher. Mas… — Dahlia suspirou
novamente. —Enquanto David e eu está vamos nos adaptando ao
casamento, eu via todos os meus outros amigos viajarem, icarem
acordados até tarde em Nova York, e ensinarem inglê s no Japã o, serem
bê bados e aventureiros e… — Dahlia deixou a frase desaparecer.
— Você percebeu que nã o queria ilhos — disse London.
— Percebi que estava triste.
Com horror, London viu uma lá grima cair por seu rosto. Elu estendeu
a mã o para limpá -la com o polegar sem pensar. Dahlia nã o reagiu, e
London deixou sua mã o cair de volta ao banco, sentindo-se inú til.
— E sim, eu nã o queria ilhos. Talvez eu quisesse, eventualmente,
mas David os queria antes que tivé ssemos trinta anos. Ele veio de uma
grande famı́lia, e ele queria uma grande famı́lia també m, e ele sempre
foi verdadeiro e tinha um plano e... Começamos a brigar o tempo todo.
Foi terrı́vel. Eu me senti uma merda.
— Eu sinto muito.
— Nã o se desculpe. Eu fui a idiota, você nã o entende? — Dahlia se
virou para elu, os olhos brilhando, sua voz icando mais alta, mais
raivosa. — Acabei mudando de ideia. Claro que David estava confuso.
Claro que ele estava com raiva. Ele queria ilhos antes dos trinta, e
acabamos nos divorciando antes dos trinta. Eu fodi a vida inteira dele.
— Dahlia. — London balançou a cabeça. Elu ia levar a mã o ao rosto
dela novamente, mas entã o se segurou. — Nã o há problema em mudar
de ideia. Esse tipo de coisa acontece muito, à medida que as pessoas
crescem. Mudamos de ideia. Isso é OK.
Dahlia fechou os olhos com força.
— As pessoas mudam de ideia sobre seu vegetal favorito, nã o uma
parte fundamental de seus objetivos em um relacionamento. E a parte
fodida é que eu ainda nem sei o que quero! Nó s nos divorciamos e eu
ainda trabalhava no mesmo emprego que nã o amava, ainda morava no
mesmo subú rbio de Maryland que nã o parecia mais em casa. Eu nã o
estou tendo as aventuras que eu desejava quando eu estava tã o infeliz
com David. Eu quebrei o coraçã o de uma boa pessoa, e agora sou
apenas chata e infeliz sozinha. Palmas para mim.
London tinha testemunhado as mudanças de humor de Dahlia, o
modo como seus olhos perdiam a alegria, sua mente se afastando. Elu
sempre soube que nã o era para um lugar bom. Mas ainda era difı́cil
para elu engolir essa frustraçã o e raiva autodepreciativa. Isso escondido
atrá s de regatas amarelas e sorrisos ofuscantes, Dahlia Woodson estava
triste. Isso nã o estava certo.
— Você entrou no Chef's Special — disse London depois de um
momento. — Você largou o emprego e pegou um aviã o para Los
Angeles para participar de um programa de TV. Se isso nã o é aventura,
nã o sei o que é .
Dahlia deu-lhe um sorriso triste.
— Você acabou de invadir um casamento — acrescentou London.
— Foi ideia sua — ela rebateu.
— Mas você ainda fez isso. Eu… — London suspirou, sentindo-se
irritade com o mundo. — Acho que você está cheia de aventuras, Dahlia
Woodson.
O sorriso de Dahlia cresceu um pouco. Ela virou o rosto para o colo,
mexendo no ró tulo da garrafa de vinho. London sentiu, talvez pela
primeira vez em toda a noite, como se elu tivesse dito a coisa certa.
Elu icou quiete entã o, para nã o estragar tudo.
A fonte borbulhava agradavelmente; o trâ nsito atrá s da parede do
pá tio era um zumbido tranquilo e reconfortante. O cé u estava azul
meia-noite, o horizonte tinha manchas de neblina laranja e cinza.
London pensou que elu podia sentir Dahlia encostar seu ombro,
apenas um centı́metro ou mais, no seu.
Depois de muitos longos minutos, ela disse:
— Ok. Chega disso. Vamos falar de comida.
Dahlia colocou sua garrafa no chã o e se virou completamente no
banco para encará -lu.
London olhou para a garrafa, que estava quase vazia. Elu ainda tinha
pelo menos metade dela. Droga. Isso... nã o era bom.
— Comida? — London ergueu as sobrancelhas, tentando se ajustar a
essa mudança abrupta de assunto, resistindo à necessidade de puxá -la
e sua tristeza secreta em seus braços. — Falar sobre comida o dia todo
nã o é su iciente?
— Nã o, porque nã o podemos falar sobre a comida que queremos
falar! Nó s apenas temos que fazer o que os juı́zes nos dizem, e posso te
dizer, eu nem gosto de peixe?
London riu disso.
— OK. Sobre o que você quer falar?
— Qual é a sua comida ruim favorita para fazer quando você está
triste? Quando você só quer a coisa mais reconfortante que você pode
pensar?
— Churrasco — London disse imediatamente. — Eu amo tudo sobre
churrasco.
— O quê ? Nã o, essa nã o é uma boa resposta. — Dahlia sacudiu a
cabeça.
— Como é ? — London ergueu a cabeça da parede de concreto, agora
també m se virando no banco para encará -la, seus joelhos batendo um
no outro. — Do que você está falando, churrasco nã o é uma boa
resposta? E literalmente a comida caseira da Amé rica!
— Mas demora tanto! — Dahlia disse dramaticamente. — Toda
aquela marinada, e esquentando a grelha, e cozinhando e fumaça e
entã o você tem que ter os acompanhamentos e…
— Os acompanhamentos sã o a melhor parte! — London explodiu. —
Espere, nã o, isso nã o está certo. A carne é a melhor parte! Mas está tudo
bem! E por isso que fazer churrasco é tã o bom!
— Eu sei que fazer churrasco é bom, London; Cristo, eu nã o sou uma
fascista! E só muito trabalho.
— Sabe o que mais eu amo no churrasco? — London continuou, em
um rolo agora. Deus, era bom falar sobre isso, algo que elu sabia como
falar, estar em comum com Dahlia novamente. — Adoro que seja
diferente em todos os lugares. Adoro que o churrasco da Carolina seja
diferente de Memphis, do Texas, de St. Louis. Você sabe? Muita comida
nos Estados Unidos é homogeneizada, o mesmo da Califó rnia à Virgı́nia,
mas churrasco é a ú nica coisa em que os lugares que se importam com
isso sã o como não, isso é foda nossa.
— Oh meu Deus, você é tã o nerd. — Dahlia revirou os olhos. — Alé m
disso, há diferenças na pizza em todas as partes dos Estados Unidos
també m.
London acenou com as mã os em frustraçã o.
— Nã o, há o estilo de Chicago e o estilo de Nova York e todo mundo
tentando imitar um ou outro. E isso. E é apenas um prato. Nã o é uma
experiê ncia completa. E diferente.
Dahlia balançou a cabeça, nã o convencida, mas ela estava sorrindo.
London adorava que ela estivesse sorrindo agora. Elu nã o tinha ideia de
por que havia mencionado o divó rcio. Claramente, elu deveria ter falado
sobre comida a noite toda. Elu era ume idiota.
— Ok, vamos refocar — Dahlia disse. — O churrasco é delicioso,
admito, mas estou procurando uma coisa, uma coisa simples que você
pode preparar em trinta minutos ou menos, quando você está tã o triste
que mal consegue sair do sofá .
London parou novamente com isso. Ao pensar que Dahlia
aparentemente icava tã o triste à s vezes que mal conseguia sair do sofá .
London estava frustrade e confuse e com muita raiva, sobre um
monte de coisas, mas elu nã o sabia se alguma vez icou tã o triste.
Mas Dahlia ainda estava sorrindo agora, mesmo enquanto falava
sobre sua tristeza. Entã o London jogou junto.
— Couves de Bruxelas — elu disse por im.
Dahlia perdeu sua maldita mente.
— Você está falando sério? — ela explodiu, empurrando London no
peito. Doeu um pouco. — Você come Couves de Bruxelas quando está
triste?
— Sim — London disse indignade, esfregando seu peito. — Você as
assa com alho e manteiga até que as folhas iquem marrons, e entã o
elas icam tã o crocantes e...
— Mistura de arroz Krispies! — Dahlia gritou, tã o alto que elus
olharam ume para ê outre em choque por um segundo. E entã o elus
começaram a rir. — Misturas de arroz Krispies — Dahlia repetiu entre
risos. — Eu faço misturas de arroz Krispies quando estou triste. Essa é
uma resposta aceitá vel.
London sorriu.
— Estou me apegando à s couves de Bruxelas. Elas sã o boas.
— Você é ê pior. — Ela sorriu de volta para elu até que o coraçã o de
London começou a bater muito enfaticamente e elu teve que desviar o
olhar. — Ou Muddy Buddies — Dahlia disse depois de um minuto. —
Muddy Buddies també m sã o bons para beliscar.
— Por favor, nã o me pressione de novo quando eu perguntar isso,
mas o que diabos sã o Muddy Buddies?
— Ah, você sabe. Talvez você os chame de algo diferente. Quando
você pega chocolate derretido e manteiga de amendoim e açú car de
confeiteiro e mistura tudo junto com cereais em um saco? Eu nã o os
faço tanto porque eu literalmente nã o consigo parar de comê -los até
que eu tenha comido o saco inteiro e depois me sinto mal.
London apertou os olhos em pensamento.
— Talvez minha babá tenha feito isso uma ou duas vezes quando eu
era criança.
Dahlia olhou para elu.
— Você tinha uma babá ?
Merda.
— Ah, sim. — London coçou o pescoço delu. — Foi ela quem me
ensinou a cozinhar, na verdade. — Na verdade, alé m de Julie, sua babá
foi a melhor amiga de London durante a maior parte de sua infâ ncia.
Sua morte no segundo ano da faculdade de London ainda era a maior
perda que elu já havia experimentado.
— Oh. — Dahlia assentiu. — Que legal.
London sentiu, com um leve pâ nico, algo escapando delu novamente
no rosto de Dahlia. Maldito dinheiro.
— Como você aprendeu a cozinhar? — elu perguntou, desesperade
para desviar a conversa de volta para ela.
Ela deu de ombros.
— Comecei a me interessar muito por isso há alguns anos, quando
meu casamento estava começando a desmoronar. Foi uma boa
distraçã o, sabe? Isso me acalmou. Me fez focar em algo que eu pudesse
entender. Assisti muitos vı́deos no YouTube.
— Espera. — London olhou para ela enquanto isso se encaixava. —
Entã o você realmente começou a cozinhar apenas alguns anos atrá s? E
você acabou aprendendo sozinha?
Dahlia franziu o cenho.
— Sim? Isso é ruim?
— Nã o, Dahlia, isso é incrível. Você é tã o boa. A maioria das pessoas
neste programa cozinham desde crianças. Alguns tiveram formaçã o
pro issional. Jesus. Você é muito talentosa.
Dahlia olhou por cima do ombro para a fonte.
— Eu nã o sei sobre isso. Fizemos apenas alguns desa ios, London.
Quero dizer, lembra-se da semana passada? Foi-me atribuı́do pasta de
grão-de-bico. Qualquer um pode fazer pasta de grã o-de-bico.
— Vamos lá , isso foi só porque Jeffrey era um idiota. E devo
acrescentar que você fez uma pasta de grã o-de-bico muito boa. E você
esteve entre os trê s primeiros e ganhou e...
— Ugh, London, eu nã o quero falar sobre o programa agora, ok?
— OK. — London mordeu o lá bio, olhou para ela olhando para o
pá tio. A luz da fonte ainda projetava leves formas azuis em seu rosto,
estranhamente bonitas e eté reas. Seu cabelo estava para cima, e seu
pescoço estava bem ali, longo e elegante, e London ansiava por isso.
Para tocá -lo. Para saborear. Para estender a ponta dos dedos para o
braço dela, a poucos centı́metros de distâ ncia, e...
— Nó s provavelmente deverı́amos ir para cima. Está icando frio. —
Dahlia se levantou. E sentou-se novamente. — Ah. — Ela olhou para
London. — Estou muito bê bada.
London sorriu.
— Sim, eu sei.
Ela pressionou as palmas das mã os nos olhos.
— Talvez eu precise de sua ajuda.
London se levantou e ofereceu a ela sua mã o. Uma vez que Dahlia
conseguiu icar de pé , ela soltou a mã o de London para que pudesse
agarrar seu braço inteiro. Todos os dez dedos envolveram o bı́ceps de
London e elu se sentiu bê bade també m, e era difı́cil dizer se era do
vinho medı́ocre ou do calor do corpo de Dahlia, tã o perto delu agora.
Intimamente perto.
— Ai meu Deus — Dahlia gemeu, apoiando a testa no ombro delu.
Porra, seu cabelo cheirava bem. — Eu nem percebi o quã o bê bada eu
estava até me levantar. Eu me sentia totalmente bem antes. Deus. Os
corpos sã o tã o estranhos.
— Isso é o que eu venho dizendo há anos — disse London com
tristeza.
— Nossos quartos sã o tã o distantes. Dá para acreditar nessa fonte?
Meu Deus.
London deu um tapinha em uma de suas mã os enquanto, juntes, elus
mancavam de volta para a porta.
— Lembra quando Tanner Tavish gritou comigo na semana passada?
— Dahlia perguntou enquanto entravam. O bar mitzvah parecia ter
acontecido há tanto tempo – anos, deve ter sido – que London sentiu
seu pró prio ataque de histeria borbulhando sob sua pele. — Ele foi tã o
mau. Você acha que ele é tã o mau na vida real, ou apenas para as
câ meras?
— Isso signi ica na vida real. — London assentiu decisivamente,
arrastando Dahlia pelo salã o vazio. — Com certeza.
— Nã o. — Ela balançou a cabeça, e entã o gemeu de arrependimento
o movimento. — Aposto que ele mora com um bando de gatos. E eles
sã o nomeados como Biscoitos de Açú car. Aposto que ele escreve fan ics!
Que tipo de fan ic, poré m, é a questã o. Sobrenatural? Downton Abbey?
Sim, sim, é isso. — Dahlia deu um tapa no braço de London. — Ele
escreve fan ics super sujas de Downton Abbey. A luz de velas. Enquanto
usa chinelos de coelho e um pijama de seda. E posso lhe dizer, London?
— London realmente queria que Dahlia calasse a boca. Para que
pudesse beijá -la. — Ele realmente ama sua avó . Eita. Acho que amo
Tanner Tavish.
— OK. — London deu um tapinha na mã o dela novamente. Foi suave
e fazia pensar em coisas delirantes.
— Meu Deus. London. As vacas. — Dahlia parou no meio do corredor,
se dobrando de rir. — Eu nã o posso acreditar que iquei bê bada com
você e nem consegui que você me contasse seu negó cio com vacas.
— Dahlia. — London lutou para colocá -la de pé novamente, para
mantê -la em movimento. A consciê ncia estava iltrando de volta em seu
sistema, e elu temia que ela pudesse precisar de acesso a um banheiro
em breve.
Dahlia ofegou quando entraram no saguã o.
— Barbara!
Afastando-se do braço de London, Dahlia se arrastou andando até o
pequeno sofá onde Barbara estava sentada, tricotando um cachecol.
— London! — ela gritou por cima do ombro. — E Barbara!
— Certo. — London en iou as mã os nos bolsos enquanto
atravessavam o saguã o. — Eu posso ver isso.
— Barbara, o que você está fazendo aqui? E tipo uma da manhã .
Os calmos olhos azuis de Barbara olharam entre Dahlia e London e
vice-versa. O vestido de Dahlia se mexeu enquanto ela inclinava em
direçã o a Barbara, e London pô de ver a suave parte inferior de um de
seus seios.
Aquela bola de luz brilhante estava de volta no peito de London
novamente, migrando perigosamente para outros lugares.
— Eu poderia perguntar o mesmo de você s dois — respondeu
Barbara.
— Oh, nó s invadimos um casamento no salã o de baile — Dahlia disse
casualmente. — Você está fazendo um cachecol?
— Sim. Infelizmente, desenvolvi um pouco de insô nia na minha
velhice, para responder à sua pergunta.
— Ah, Barbara, você nã o é tão velha assim.
Bá rbara olhou para o vestido de Dahlia e depois estendeu a mã o para
lhe dar um tapinha no braço.
— Sim, querida, eu sou. De qualquer forma, estou icando sozinha no
meu quarto, entã o venho aqui, ver as pessoas irem e virem. Tem sido
bem interessante, na verdade.
— Barbara! — Dahlia gritou. — Você poderia sair totalmente com a
gente se você icar sozinha!
Barbara olhou para London entã o. Elu corou.
— Nã o — ela disse a Dahlia. — Obrigada pela oferta, mas tudo bem.
— Você está fazendo o cachecol para um de seus netos? — Dahlia se
inclinou ainda mais perto de Barbara, examinando a obra em seu colo.
— Aileen talvez?
Barbara sorriu largamente para Dahlia entã o.
— Bishop, na verdade.
London icou boquiaberte para as duas. Claro que Dahlia sabia os
nomes dos netos de Barbara.
— Isso é tã o bom. — Dahlia apoiou a cabeça no ombro de Barbara e
fechou os olhos. — Barbara, nã o seria ó timo se você pudesse ser minha
mã e? Quer dizer, eu já tenho uma, mas você pode ser tipo, um
secundá ria, sabe? Algué m que realmente gosta de mim.
Barbara congelou antes de olhar para London intrigada. London
balançou a cabeça, levantando as sobrancelhas. Seu coraçã o batia,
baixinho, mas persistentemente, atrá s de suas tê mporas.
— Eu acho que é hora de você ir para a cama, querida. — Barbara
gentilmente empurrou Dahlia para longe de seu ombro. London
mergulhou para ajudar Dahlia a icar de pé . Ela balançou para elu, sua
cabeça balançando em seu peito. London estava sobrecarregade. Elu
queria envolver seus braços ao redor dela. Elu nã o sabia como agir na
frente de Barbara. Elu precisava dormir.
— Cuide dela, ok? — Barbara acenou para London, suas
sobrancelhas franzidas em preocupaçã o.
London acenou de volta, esperando que elu parecesse só brie,
responsá vel e irme.
— Eu irei. Boa noite.
Lentamente, silenciosamente, elu deslizou um braço em volta da
cintura dela. Elus navegaram pelo elevador. Elu acompanhou Dahlia até
sua porta.
Dahlia fez uma pausa, cartã o-chave na mã o. London esperou, um
passo atrá s dela, as mã os nos bolsos. Elu nã o tinha certeza do que ia
acontecer aqui. Se ela estava prestes a icar doente. Se ela estava
prestes a convidar elu para entrar. Se ela tinha esquecido como abrir
uma porta.
Ela girou em direçã o a elu e ê cutucou no peito.
— Eu só quero que minha vida seja grande, sabe?
Os olhos castanhos de Dahlia estavam desfocados.
— Tipo… Tipo a sensaçã o da sua mú sica favorita, quando você tem
dezesseis anos. Eu quero que minha vida pareça isso. Eu quero me
sentir grande. Eu quero fazer coisas confusas e selvagens, coisas que eu
vou lembrar, coisas que sejam interessantes. — Ela mordeu o lá bio.
London nã o tinha certeza se elu estava respirando. — Talvez Hank
tenha ilhos um dia, e eu possa ser aquela tia maluca com muitas
histó rias, sabe? Vou usar jó ias grossas, como Janet, e dizer coisas
engraçadas e inapropriadas. E eles vã o icar tipo oh, aquela tia Dahlia.
— Ela sorriu. — Eu gostaria disso.
A garganta de London estava apertada, doendo de coisas que elu
queria dizer, mas nã o conseguia encontrar as palavras.
Dahlia se voltou para sua porta novamente. Ela colocou a chave na
maçaneta. Quase inaudı́vel, ela disse:
— Eu nã o quero ser pequena.
Ela entrou sem se despedir. London olhou para a porta impotente
quando ela começou a se fechar.
De repente, Dahlia se virou e abriu novamente.
— Ei — disse ela, sorrindo. — Você sabe do que eu gosto?
— Mistura de arroz Krispies?
— Fazer você rir. Seus olhos desaparecem e seu rosto faz essa... coisa.
— Ela acenou com a mã o sobre o pró prio rosto, nã o ajudando em nada
com essa descriçã o. London nã o tinha ideia do que ela estava falando.
Mas talvez pela primeira vez em sua vida, elu estava extremamente
grate por seu rosto. Por fazer o pró prio rosto de Dahlia parece o que era
agora. Como se seu monó logo anterior, como seu divó rcio, nunca tivesse
acontecido.
— Posso ver seu telefone? — London perguntou calmamente.
Dahlia pareceu confusa, mas o entregou. Rapidamente, elu digitou
seu nú mero, enviou uma mensagem para si mesme. Para que elu
pudesse checar ela amanhã , ter certeza que ela estava bem.
Elu o devolveu e olhou para ela uma ú ltima vez.
— Boa noite, Dahlia — elu conseguiu dizer.
Dahlia sorriu. A porta se fechou.
London icou parade no corredor silencioso por um longo tempo. Elu
desejava poder ver atravé s daquela porta, para ter certeza de que ela
ainda estava respirando, que ela nã o icaria doente enquanto dormia.
Que seu peito ainda estava subindo e descendo. Que seu coraçã o
machucado, tã o longe de ser pequeno, ainda batia com segurança
dentro de sua pele.
CAPÍTULO OITO

Dahlia acordou no domingo de manhã com um profundo caso de


condenaçã o alcoó lica.
Ela estava deitada na cama, com a cabeça latejando, enquanto
pedaços da noite anterior voltaram para ela.
Ela se lembrava de dançar com London no casamento.
Ela se lembrava de falar com elu sobre David, sobre seu fracasso
espetacular como esposa. Deus, por que ela fez isso? Embora ela se
lembrasse vagamente de London dizendo coisas boas. Ela se lembrava
delu sendo um bom ouvinte.
Talvez ela tivesse expelido isso fora de seu sistema, entã o. Talvez ela
parasse de pensar no e-mail agora. Que ela ainda nã o tinha respondido.
Talvez, també m, Dahlia fosse capaz de ignorar todos os anú ncios de
nascimento, todas as ridı́culas revelaçõ es de gê nero, as propostas de
casamento que pareciam surgir praticamente todos os dias em seus
feeds de mı́dia social. Talvez parasse de doer, cada lembrete de quã o
facilmente todos que ela conhecia estavam navegando no caminho que
David queria tanto, o caminho que Dahlia nã o podia dar a ele. O
caminho Dahlia apenas sabia, em seu ı́ntimo, que nã o podia andar.
E talvez, um dia, ela fosse capaz de ignorar o jeito que sua mã e olhava
para ela, desde que Dahlia lhe contou.
Dahlia sacudiu a cabeça. E entã o gemeu.
Ela nã o conseguia nem se lembrar de chegar ao seu quarto. Jesus, ela
era uma bagunça.
Sua bochecha pressionou contra algo frio ao lado de seu travesseiro.
Ela levou mais tempo do que deveria para perceber que era o telefone
dela. Ela se sentou, esfregando os olhos. Havia uma mensagem de
London de trê s horas atrá s.
Ei Dahlia, é London… Eu iz você me dar seu número de telefone ontem
à noite para que eu pudesse ter certeza de que você estava bem hoje.
Então, você está bem hoje?
Sim, de initivamente nã o lembrava disso.
Dahlia mandou uma mensagem de resposta rá pida e entã o se
levantou, espreguiçando-se. Enquanto ela queria icar aconchegada
debaixo das cobertas, já era dez e meia, mais tarde do que ela dormia
em anos. Ela se sentia horrı́vel, e sabia por experiê ncia que desperdiçar
p p q p ç
o dia na cama só a faria se sentir pior. Ela precisava sair, explorar pelo
menos um pequeno pedaço de LA enquanto tinha a chance.
Depois de um banho quente e uma escovaçã o detalhada dos dentes.
Com uma ajudinha de ibuprofeno.
Trinta minutos depois, Dahlia atravessou o saguã o do hotel,
sentindo-se tã o revigorada quanto provavelmente era possı́vel para ela
se sentir. Ela estava quase na porta quando viu Barbara sentada em um
sofá à direita, comendo um muf in de mirtilo.
— Oi, Barbara. — Dahlia jogou sua bolsa para baixo e se sentou em
um sofá em frente a ela. — Como você está ?
— Dahlia, querida. — Barbara sorriu. — Você está parecendo melhor
do que eu pensei que você estaria. Eu juro que nã o vivo nesse sofá ,
aliá s. Você só tem um timing engraçado.
— Hm. O quê ? — Dahlia piscou para Barbara enquanto algo confuso
arranhava sua memó ria. — Calma. Falei com você ontem à noite?
— Sim. — Barbara assentiu. — Mas estou percebendo que você nã o
se lembra.
— Meu Deus. — Dahlia esfregou a testa. — Nã o ico tã o bê bada há
muito tempo. Fui constrangedora? Eu iz algo idiota?
— Nã o, você foi um doce. — Barbara sorriu tranquilizadoramente
para ela. Barbara provavelmente teria lhe dado um sorriso
tranquilizador, mesmo que Dahlia tivesse vomitado em seus sapatos. Oh
Deus. — E você estava sexy. — Barbara sorriu antes de dar uma
mordida em seu muf in.
— Babs! — Dahlia riu, corando. — Hm. Obrigada?
— Você s dues pareciam estar se divertindo.
— Sim. — Dahlia se recostou no sofá . Era surpreendentemente
confortá vel. — E você ? Você está se divertindo aqui? Quero dizer, nã o
apenas neste sofá . Mas no programa?
Barbara icou pensativa.
— Eu estou. Tem sido bom conhecer tantas pessoas diferentes. Gosto
de você . — Ela sorriu. — E de initivamente mais trabalho do que eu
esperava, no entanto. Eu sabia que os desa ios seriam estressantes,
nunca subestimei isso, mas nã o sabia que os tempos de ilmagem
seriam tã o longos. Eu estou absolutamente enlouquecida. — Barbara
riu. — Meus ilhos nunca vã o ter im desse assunto por me
convencerem a fazer isso.
Dahlia sorriu.
— Aposto que eles estã o tã o orgulhosos de você , no entanto.
— Eles estã o. Para ser honesta, pensei que seria uma das primeiras a
sair. Todas as minhas receitas sã o meio antiquadas. Mas tive sorte até
agora.
— Se você conhece comida, nã o importa se você é antiquada. Pelo
menos, eu nã o penso assim. — Dahlia nem sabia o que Barbara queria
dizer com antiquada, alé m de deliciosa e boa. — Eu provei aqueles
bolinhos que você fez no primeiro dia! Meu Deus. Eles estavam
incrı́veis.
— Obrigada, querida — disse Barbara. — Ainda assim, nã o estou à
altura de você , ou de London. Você vai longe.
— Talvez. — Dahlia olhou pela ampla janela da frente à sua esquerda.
Era um lindo dia de agosto, e ela deve ir antes que ique muito quente.
Mas ela gostava de conversar com Barbara. Ela era uma mulher tã o
reconfortante. Ela irradiava vibraçõ es de sopa de macarrã o de galinha e
cobertores pesados.
— Eu pensei que seria uma das primeiras a ir també m — Dahlia
admitiu, sentindo-se surpresa por ela querer dizer o que ela estava
prestes a dizer. — Mas agora que estou aqui e superei alguns desa ios. . .
— Dahlia tremeu cabeça dela. — Por que é embaraçoso falar sobre
coisas que você quer? Mas eu quero muito, muito. Eu quero icar.
Barbara sorriu para ela.
— Você parecia bem lá , quando ganhou com seu peixe-espada na
semana passada.
Dahlia corou novamente.
— Sim. També m me senti bem.
— Você vai vencer mais desa ios, tenho certeza.
— Pode ser. Obrigada, Barbara.
Barbara icou quieta por um momento. Ela olhou diretamente para
Dahlia antes de perguntar:
— Perdoe-me se isso é rude. Mas você e London conversaram sobre
o que acontecerá quando um de você s for eliminade?
Dahlia inclinou a cabeça. Ela nã o achou essa pergunta rude, mas era
estranha.
— Eu suponho que vou voltar para Maryland e elu vai voltar para
Nashville? Talvez nos sigamos no Instagram?
Barbara fez um pequeno som de tsk baixinho antes de retornar ao
seu muf in.
Dahlia estreitou os olhos.
— Barbara. O que você está dizendo? Eu iz algo embaraçoso com
London na sua frente ou algo assim?
— O que estou dizendo, Dahlia, é que está claro que elu quer ser mais
do que amizade de Instagram com você . Pergunte a qualquer um nesta
competiçã o. Quando os episó dios começarem a ser exibidos esta
semana, aposto que as pessoas em casa també m poderã o ver.
A boca de Dahlia estava aberta.
Ela nã o conseguia pensar em uma coisa a dizer.
— Barbara. — Dahlia mexeu com o telefone no colo. Ela icava
pensando que algo espirituoso viria à mente para redirecionar essa
conversa, mas ela nã o tinha nada.
— Você parecia bastante confortá vel com elu també m, você sabe,
ontem à noite.
— Eu estava bê bada! — Dahlia protestou.
— Mm-hum.
— Barbara.
— E você estava lertando com elu na fazenda outro dia també m.
— Eu... Eu estava? — Dahlia se sentiu verdadeiramente confusa
agora. — Mas tudo o que iz foi tirar sarro delu o dia todo.
Barbara lançou-lhe um olhar aguçado.
— Eu sei.
— Mas… nã o. Vamos, Barbara, você viu todas as coisas que
aconteceram com elu com a vaca! Foi divertido.
— Sim. Mas você sabe, Jacob pisou em uma grande pilha de cocô de
vaca. També m fez uma grande cena sobre isso. Ayesha derrubou o
balde. Duas vezes. Havia outras travessuras acontecendo no celeiro,
mas você estava focada apenas em uma.
— Bem — Dahlia gaguejou —, nã o é minha culpa que Jacob seja
chato.
Barbara simplesmente ergueu uma sobrancelha.
Dahlia afundou de volta no sofá . Ela se sentia tola, ansiosa, como uma
criança.
Ela nã o tinha seduzido ningué m desde David, e mesmo no colé gio, foi
David quem fez a maior parte da seduçã o. Se Dahlia estava lertando
com London, ela nã o estava consciente disso, e uma pessoa nã o deveria
estar consciente disso?
Dahlia se lembrou, de repente, de como suas mã os caı́ram
naturalmente nos quadris de London quando elus dançaram na noite
anterior.
Oh Deus. Ela nã o tinha ideia do que estava fazendo. Ela se sentiu uma
idiota. Ou um babaca. Talvez ambos.
— Dahlia — Barbara cutucou bem-humorada. — Você nã o acha que
elu é fofe?
Dahlia tentou afundar ainda mais as almofadas. Perguntou-se se
talvez ela pudesse desaparecer nelas. É claro que ela achava London
fofe. E mais fofe.
Ela se lembrava de como elu parecia em sua gravata borboleta,
aquela fofa camisa de botõ es estampada. Qual era o padrã o da camisa?
Girafas, talvez. Deus, ela tinha icado muito bê bada.
Dahlia teve que orientar esta conversa.
— Ok. Espera. Você disse que os episó dios começam a ser exibidos
em uma semana?
Agora Barbara sorriu.
— Você nã o tem ouvido Janet gritar sobre isso? Sim. Menos de uma
semana, na verdade. O primeiro episó dio vai ao ar na quinta-feira à
noite.
Dahlia respirou fundo. Menos de uma semana, e todos veriam sua
queda e seus tacos de peixe se espalhando por todo o set. Menos de
uma semana, e todos assistiriam a London anunciar seus pronomes em
rede nacional.
Dahlia percebeu que mal se importava com o primeiro agora. Mas ela
teve uma terrı́vel sensaçã o de mau pressá gio sobre o ú ltimo. As pessoas
seriam horrı́veis online. Talvez of line també m. Era tã o ridı́culo. London
só queria ser elu mesme, o que nã o machucava absolutamente ningué m
– na verdade, London ser elu mesme era incrı́vel, porque só podia
ajudar a todes – e ia ser o pior.
Ela mordeu o lá bio, sentindo-se enjoada. Ela precisava de comida. O
sanduı́che de café da manhã mais gorduroso ela poderia encontrar.
Dahlia sentou-se.
— Obrigada por, hum, este bate-papo.
Barbara assentiu.
— Falarei com você quando quiser, Dahlia, você sabe. Sobre qualquer
coisa. Estou no quarto quinhentos e dez.
— Legal. — Dahlia assentiu. Ela queria muito abraçar Barbara, mas
ela també m queria correr para longe deste hotel em alta velocidade, e
sim, o café da manhã seria bom. — Tchau.
E entã o Dahlia inalmente saiu e tomou um gole profundo de ar
fresco.
Ela encontrou um burrito perfeito para o café da manhã a dois
quarteirõ es de distâ ncia. Seu primeiro pensamento, antes que ela
pudesse parar, foi, eu tenho que contar a London sobre este lugar, o que
a fez congelar.
Quando, nas ú ltimas duas semanas, eu precisava contar a London
sobre isso se tornou sua primeira reaçã o? Meu Deus.
E entã o seu cé rebro disse: Você tem o número de telefone delu; você
pode dizer a elu sobre isso agora.
Mas ela nã o o fez. Dahlia ingiu que nã o estava pegando seu telefone.
Porque... ela estava de ressaca. Porque ela se sentiu estranha. Porque,
como Barbara havia apontado tã o astutamente, qualquer um delus
poderia ser elimindade do programa a qualquer momento. Elus eram
apenas amigues. London provavelmente já se cansou de Dahlia
Woodson na noite passada. Nã o havia necessidade de enviar mensagens
de texto para elu. Elus já icavam juntes, como, trê s quartos de todos os
seus dias. Mensagens de texto signi icavam que elus poderiam entrar
em contato ume com ê outre durante o outro um quarto també m.
Mensagens de texto signi icavam que Dahlia poderia dizer a London
Parker o que ela estava pensando, sempre que quisesse.
E a coisa era, ela sabia que elu sempre ouviria.
Ainda assim. O texto de London esta manhã tinha sido pensativo.
Gentil. Ela gostou de como tinha sido um pequeno pará grafo de texto
adequado, tudo correto, pontuaçã o e letras maiú sculas. Tã o London.
Dahlia jogou fora sua embalagem de burrito e voltou para a rua. Ela
colocou seus ó culos escuros e pulou em um ô nibus.
Ela acabou em North Hollywood. Ela desceu o Lankershim
Boulevard, entrando e saindo das lojas sem comprar nada. Ela mandou
uma mensagem de texto com uma foto de um bar chamado Idle Hour,
que tinha a forma de um barril de madeira gigante, para Hank, porque
ela sabia que ele iria adorar. Ele respondeu segundos depois em letras
maiú sculas: CARA!! Ela sorriu e desejou que ele estivesse ali com ela.
Mas Dahlia també m se sentiu um pouco orgulhosa de estar ali
sozinha. Olhe para mim, ela nã o parava de pensar enquanto caminhava
por este lugar novinho em folha, sozinha. Eu estou fazendo isso.
Mas... nã o parecia certo. Nã o parecia o que ela esperava, quando ela
estava fazendo as malas para esta viagem de volta à Costa Leste.
Quando ela encheu sua cabeça com a irmaçõ es e expectativas sobre
quem Dahlia de LA poderia ser.
Ela talvez se sentisse como Dahlia de LA na noite passada. Usando
um vestido sexy, dançando com estranhos. Bebendo com algué m que só
a conhecia como ela era agora. Rindo junto à quela fonte, sob o cé u
abafado da cidade do deserto.
Dahlia tomou um chá gelado enquanto caminhava e desejou poder se
sentir assim de novo, agora mesmo, sozinha. Parecia perto, bem ali, essa
nova e despreocupada pessoa que ela queria ser, se ela pudesse
desalojar essa pedra em seu sapato que a impedia de pisar nele
corretamente.
Ela encontrou a biblioteca de North Hollywood, em homenagem a
Amelia Earhart. Ela tirou uma sel ie na frente dele e enviou para o pai.
Um bibliotecá rio universitá rio em Johnson and Wales em Providence,
seu pai sempre arrastava ela e Hank para bibliotecas onde quer que
fossem quando eram crianças, mesmo quando eram pequenas da
vizinhança como esta. Ele mantinha o registro de todos os que eles já
haviam visitado em um pequeno diá rio de couro que ele sempre
mantinha no bolso para registrar essas coisas. Dahlia amava tanto seu
pai. Ela sentia falta dele.
Dahlia queria andar até que tudo que estava misturado em seu
cé rebro à noite, David, o rosto triste e desapontado de sua mã e, a velha
e solitá ria Dahlia de Maryland, a nova confusa Dahlia de LA — izesse
sentido.
Em vez disso, ela apenas caminhou até seus pé s doerem, e ela sabia
que tinha que voltar.
Dahlia pegou seu telefone enquanto esperava o ô nibus. Ela mordeu o
lá bio, olhando para suas mensagens, e entã o ela inalmente digitou.
Ei, ela escreveu. Desculpe se fui estranha ontem à noite.
A resposta de London veio de volta imediatamente. Você não foi.
E entã o, Você está bem?
Sim. Obrigada.
Dahlia olhou para seu telefone por mais um minuto, sua cabeça se
sentindo perigosamente vazia e caó tica ao mesmo tempo. Ela se
perguntou se deveria dizer mais. Se London ia dizer outra coisa. O que
ela deveria dizer? O que ela queria que elu dissesse?
O ô nibus dela chegou.
Dahlia en iou o telefone de volta na bolsa e olhou pela janela na
viagem de volta para Burbank. Sua dor de cabeça reapareceu, e logo ela
fechou os olhos para bloquear a luz do sol brilhante, o ritmo do ô nibus
balançando sua mente dentro e fora da consciê ncia. Cada vez que ela
acordava, ela dizia a si mesma para se levantar. Ela estava determinada
a nã o perder sua parada. Ser competente neste lugar novo,
deslumbrante e avassalador. A terra das palmeiras e carros limpos e
cé us azuis.
E cada vez que ela voltava a um meio sono, Dahlia se permitia pensar
no rosto de London, irritante e arrogante, dizendo a ela que sua escolha
de vinho era uma merda. London, com o punho na boca durante o
desa io do bar mitzvah, balançando a cabeça, porque ela ê fez rir. As
mã os de London em seus ombros, um brilho engraçado e
surpreendente em seus olhos, convidando-a para invadir um
casamento. London, ouvindo Tegan and Sara em seu quarto, usando
uma gravata-borboleta rosa torta. O corpo de London ao lado dela em
uma pista de dança suado, desajeitado, mas ainda cheio de alegria,
irreprimı́vel mesmo que elu tentasse esconder. London, tentando fazê -
la se sentir melhor sobre seu concurso de soletrar da quarta sé rie.
London, que era engenheire de á udio. Dahlia nem sabia o que isso
signi icava, mas ela tinha certeza que algué m poderia ganhar um Oscar
por isso, o que era mais interessante do que qualquer coisa que ela já
havia feito. London de Nashville.
London, que era ume cozinheire melhor do que ela.
London, que tinha a chance mais real de todos elus, provavelmente,
de ganhar. London, que queria fazer o bem neste mundo, que ofereceu
seu tempo fazendo trabalho agrı́cola só porque queria melhorar as
coisas para crianças queer. London, que se assumiu para uma mesa
inteira de estranhos em sua primeira noite na cidade.
London Parker era talentose e corajose e irritantemente fofe, e
Dahlia podia imaginar isso agora, cristalino mesmo enquanto sua
cabeça girava com arrependimentos borrados. London, daqui a algumas
semanas, segurando uma daquelas gigantescas ré plicas de cheques nas
mã os. Elu estaria sorrindo para as câ meras enquanto confetes cairiam
em seus cabelos loiro avermelhados. Sai Patel entregando-lhe um
trofé u, brilhando sob as luzes do estú dio, e apertando sua mã o com
orgulho.
E Dahlia. . . Ela nã o conseguia se ver. Ela estava lá ? Em algum lugar à
margem? Ou ela estava em Maryland, implorando por seu antigo
emprego de volta, descobrindo quais contas ela poderia pagar naquele
mê s?
Ou talvez ela fosse simplesmente um espaço em branco, uma tela
vazia, á tomos lutuando sem rumo pela paisagem, cada um tentando
esquecer aquela vez tola em que ela foi para Los Angeles com
esperança e sú plica, cada um tentando desesperadamente apagar as
memó rias de uma pessoa que queria que ela acreditasse que poderia
ter tudo.
CAPÍTULO NOVE

London sabia disso. Elu estragou tudo. Elu nunca deveria ter
convidado Dahlia para invadir aquele casamento.
Ela estava sendo super estranha hoje, de uma maneira que era
diferente de seus outros humores moderados. Quando a viu de manhã
nos serviços de artesanato antes do inı́cio das ilmagens, elu perguntou
como foi o resto do im de semana e ela disse:
— Ah, bom. Otimo. Bom. Sim, você sabe, totalmente bom. — E entã o
ela forçou um sorriso que parecia que ela tinha acabado de provar algo
nojento, mas estava tentando ser educada sobre isso.
Ela nã o perguntou como foi o domingo de London. O que estava tudo
bem, porque a ú nica resposta delu seria olhar para o meu telefone me
perguntando se eu poderia enviar uma mensagem de texto para você
novamente.
Durante todo o dia de ilmagem, atravé s de outro Frente-a-frente –
London tinha sido emparelhado com Jacob, e elu chutou a bunda
daquele cara – e outra Inovaçã o de Ingrediente, Dahlia continuou
olhando para elu. E entã o desviando o olhar rapidamente quando
London fazia contato visual. E entã o ela olhava para elu novamente, até
que a sensaçã o dos globos oculares de Dahlia deixou London
paranó ique de que havia algo em seu rosto. Ela estava… trê mula.
London deveria ter deixado passar. Mas, por algum motivo, elu se viu
esperando que ela saı́sse da entrevista individual no inal do dia. Elu
nã o sabia se outra tentativa de conversa normal funcionaria neste
momento, entã o icou desesperade.
— Ei, parceira. — Elu pulou no passo com ela quando ela saiu do set
e caminhou em direçã o à porta do estú dio. — Dia melado, hein?
Dahlia parou, assim como London també m. Ela se virou e olhou para
elu.
— Uh... — London coçou o pescoço delu. — Como nã o você e eu
vamos, uh…
— London — Dahlia interrompeu. — Que diabos está fazendo?
London franziu a testa.
— Minha melhor imitaçã o de Tanner Tavish, obviamente.
Dahlia olhou para elu um momento mais. E entã o, inalmente, aleluia,
ela começou a rir.
ç
London abriu a porta do estú dio.
— Tanner Tavish nã o usa as palavras que você acabou de dizer —
Dahlia disse, seguindo.
— Eu sei. E é por isso que eu acho que ele está cheio de merda.
— O que você quer dizer?
— Esse cara nã o é da Escó cia — disse London.
Dahlia riu novamente.
— E como você sabe disso?
— O sotaque dele é todo instá vel. Duvido que seu nome seja mesmo
Tanner Tavish. Acho que a coisa toda dele — London acenou com a mã o
— é uma encenaçã o.
— Entã o você é ume especialista em escoceses?
London deu de ombros, en iando as mã os nos bolsos enquanto
caminhavam em direçã o ao hotel.
— Nã o. Apenas ume especialista em idiotas. E Tanner Tavish é
de initivamente um desses.
Dahlia balançou a cabeça, sorrindo.
— Ele é um idiota muito gostoso, no entanto.
London franziu a testa novamente.
— Ele nã o é tão gostoso.
Dahlia cruzou os braços sobre o peito enquanto caminhavam.
London estava se sentindo surpreendentemente mal-humorade com
este comentá rio muito gostoso, mas pelo menos Dahlia estava falando
com elu novamente.
— Você acha que eles sempre souberam que queriam ser chefs?
Tanner e Audra e Sai?
London deu de ombros.
— Pode ser. Sai de initivamente; Eu assisti a um documentá rio sobre
ele há um tempo atrá s.
— Sim. — Um carro dirigindo tocou a buzina.
— O que você queria ser quando crescesse, quando era criança? —
London perguntou.
Dahlia icou quieta um momento, mas inalmente ela respondeu.
— Uma escritora. Quando eu estava na escola primá ria, eu preenchia
caderno apó s caderno com essas histó rias sobre meninas no
acampamento. Meus pais nunca poderiam me mandar para um
acampamento, pelo menos um acampamento de fé rias de verdade, nã o
apenas, você sabe, aulas de verã o. Entã o eu vivi todas as minhas
fantasias de acampamento nesses livros.
— Como se chamava o acampamento?
— Acampamento Sunnywood. — Dahlia sorriu, e London viu seus
ombros relaxarem. — Sempre que terminava uma histó ria, eu
arrancava as pá ginas do caderno e fazia uma capa e outra de cartolina e
amarrava tudo com io roxo. — Seu sorriso cresceu. — Dei para meu pai
ler, e ele escrevia borrõ es na parte de trá s de cada um. Tipo, 'O melhor
Sunnywood de Woodson até agora!' — Ela riu, e London riu com ela.
Elus estavam se aproximando do hotel agora.
— Ah! Ah cara. Eu de initivamente passei quase toda a quinta sé rie
trabalhando em Camp Sunnywood: Super Edition #1. Tiffany e Molly
entraram em uma grande briga e derrubaram as canoas uma da outra e
entã o Molly jogou suco de laranja Sunny D em todas as roupas de
Tiffany.
London apertou o botã o do elevador e olhou para ela. Seus olhos
estavam tã o brilhantes agora.
— Que vadia — London comentou enquanto elus entravam no
elevador.
— Nã o, escute, Molly estava apenas passando por algumas coisas —
Dahlia disse enfaticamente. — Seus pais estavam se divorciando e,
honestamente, Tiffany estava agindo muito mesquinha naquele verã o.
Ela nunca deixou Molly montar seu cavalo favorito nos está bulos.
London percebeu que icaria perfeitamente satisfeite em passar o
resto da noite aprendendo cada faceta de Acampamento Sunnywood.
Elu també m se perguntou quando, exatamente, Dahlia havia
desistido de seus sonhos de ser uma autora.
— Ok, ok, estou me calando agora — Dahlia disse enquanto
caminhavam pelo corredor. — O que você queria ser quando criança?
London pensou nisso. Houve muitas coisas, incluindo, por um tempo,
ume chef, mas apenas uma coisa tinha sido consistente.
— Ume mú sique.
— Mesmo? — Dahlia olhou para eles, olhos arregalados. — Oh meu
Deus, London, você estava tipo, em uma banda?
London bufou conscientemente.
— Você está superestimando minha frieza. Eu estava em uma banda
de concertos, se isso conta. — Chegaram à porta do quarto de London.
London se inclinou contra ela, enquanto Dahlia se inclinou contra a
parede, de frente para elu.
— O que você tocava?
— Trompete. Ainda toco, na verdade.
— Espera. — Dahlia realmente estendeu a mã o em um gesto de para.
— Você toca trompete? Tipo, atualmente. Apenas por diversã o. Ou, meu
Deus, você está em um quarteto de jazz ou algo assim?
— Nã o. — London se contorceu, sentindo-se envergonhade. —
Apenas por diversã o. — Embora elu nã o deva se envergonhar. Tocar um
instrumento era totalmente um passatempo normal. Elu nã o tinha ideia
de por que Dahlia se divertia tanto.
— Huh.
— O quê?
— Nada. — Ela sorriu. — E apenas meio sexy. Tocar trompete.
London a encarou.
— Dahlia, você já viu algué m tocar trompete? Nã o é sexy.
Isso era verdade. Nã o era.
Mas London poderia ter passado o resto da noite corando em seu
quarto de qualquer maneira, parabenizando-se por se formar de fofe a
sexy aos olhos de Dahlia Woodson.
Elus voltaram para casa juntes na noite de terça-feira també m.
Depois que London venceu o Desa io de Eliminaçã o, que era sobre
coraçõ es.
— Ugh, isso é nojento, é claro que você adora cozinhar com coraçõ es,
sue bá rbare — Dahlia disse a elu, seu rosto enrugado e adorá vel, de
volta ao seu estado normal.
Mesmo que Dahlia se saı́sse bem com seu pró prio coraçã o. Jacob, no
entanto, nã o.
Depois que ele foi eliminado na terça-feira, Barbara mudou para
ocupar seu lugar na estaçã o de Dahlia na quarta-feira de manhã .
Quando Janet fez a mudança, Dahlia literalmente pulou para cima e
para baixo e bateu palmas. London ingiu escrever algumas notas de
receitas em seu bloco de notas, mas principalmente elu sorriu
pateticamente para o nada. Ahmed estava totalmente em cima delu, e
deu um tapa no ombro delu, o que era constrangedor.
Quando Dahlia e London voltaram para o hotel na noite de quarta-
feira, depois de outro dia de Frente-a-frente e Inovaçã o de Ingredientes,
London estava começando a se sentir perigosamente con iante. Ao
cozinhar no set. Em fazer Dahlia rir. Ao se estabelecer nessa nova
rotina.
Mas quando a porta de seu quarto de hotel se fechou, elu afundou na
cadeira no canto e respirou fundo.
London olhou para o telefone e tentou apagar Dahlia Woodson de
sua mente. Havia duas ligaçõ es que elu tinha que fazer. Bem, uma, na
verdade, e elu tinha adiado o má ximo que podia. Ficou no fundo de sua
mente o dia todo, incomodando como uma coceira irritante. Uma
coceira que elu empurrou para longe, ignorando propositalmente,
desde que esteve em LA. Mas a oitava temporada do Chef's Special iria
estrear amanhã à noite. Já era hora.
O outro telefonema foi apenas para tranquilizá -lu. Esse foi a primeira
que London fez.
— London — Julie ofegou no telefone depois de um toque. — Graças
a Deus você ligou. Posso morrer esta noite, e você deve saber onde
encontrar meu corpo.
— Julie. — London franziu a testa. — Do que diabos você está
falando?
— Estou no Parque Percy Warner. No... onde diabos estamos de
novo? — A voz de Julie desapareceu por um segundo. — Na Trilha
Mossy Ridge. Estou na Trilha Mossy Ridge no Parque Percy Warner.
Anote isso, para a polı́cia.
— Julie. — London esfregou a testa. — Eu sei onde ica a Trilha
Mossy Ridge. Por que diabos você está no Parque Percy Warner à s —
London veri icou a hora, calculando com duas horas de antecedê ncia —
dez horas da noite?
— Eu sei. Temos uma hora até o parque fechar. Espero que você dê
um bom discurso, no meu funeral.
— Julie, eu juro, se você nã o chegar ao…
— O querido Ben Caravalho está treinando para fazer a trilha Paci ic
Crest Trail.
— Sim. Eu sei. Falei com ele na semana passada.
Ben era o melhor amigo de Julie desde a escola primá ria. London
tinha ciú mes dele há muito tempo, embora Julie tivesse assegurado a
London que elu sempre seria seu nú mero um. O ciú me foi exacerbado
pelo fato de que London tinha uma enorme paixã o por Ben durante
todo o ensino mé dio, que parecia sem esperança na é poca, já que Ben
era super gay e London ainda vivia na ilusã o de que elu era apenas uma
garota heterossexual desajeitada.
— Bem, eu tenho tentado convencê -lo de que é uma ideia horrı́vel...
— Julie! Por que você faria isso? Caminhar na PCT é foda!
— Sim, e perigoso.
London sorriu.
— Ben vai icar bem.
— De qualquer forma, ele queria fazer essa trilha idiota no escuro
para ter certeza de que estava preparado para caminhadas noturnas. O
que aparentemente você tem que fazer no deserto da Califó rnia, se
quiser fazer a quantidade certa de quilô metros em um dia, porque está
muito quente para caminhar o dia todo durante o dia. Você ouviu
mesmo essa frase, London? Você ouviu como isso soou ridículo?
— Entã o você foi com ele para convencê -lo de quã o ridı́culo isso é .
— Exatamente.
— Está funcionando?
Houve uma pausa. London praticamente podia ouvir a carranca de
Julie.
— Nã o. Ele está se divertindo muito.
— Ei, London! — Ben gritou ao telefone.
— Você sabe o que Ben estava me dizendo antes de você ligar? —
Julie interrompeu. — Que teremos que veri icar se há carrapatos
É
quando voltarmos para o carro. É por isso que os melhores esportes sã o
praticados dentro de casa.
Enquanto London se concentrava na mú sica no ensino fundamental e
mé dio, Julie era uma estrela do basquete. Ela ainda se recusava a
acreditar em qualquer outra atividade fı́sica comparada.
Ela també m era exagerada, exasperantemente protetora das pessoas
que amava.
Deus, London realmente sentia falta dela.
— Você provavelmente deveria ir entã o, entã o você pode voltar para
o carro antes que o parque feche. Eu posso ligar mais tarde.
— Cala a boca. Estamos a dez passos do carro. Eu posso falar.
— Para que eu não tenha que denunciar seu corpo desaparecido à
polı́cia.
— Você sabe quem ica em estacionamentos de parques assustadores
tarde da noite, em London? Pessoas assustadoras. Ainda nã o estamos
seguros.
London ouviu o bipe da porta do carro de Ben.
— Ok. Entã o estamos seguros agora. Você sabe, a menos que haja
carrapatos na minha bunda prontos para me darem a doença de Lyme.
Vou mantê -lu atualizade sobre isso.
— Excelente. Mal posso esperar.
— E aı́?
London suspirou. Na verdade, elu icaria totalmente satisfeite em
continuar falando sobre os planos de Ben para a PCT, mas elu tinham
que parar de ser covarde e falar sobre isso.
— Entã o o primeiro episó dio do Chef's Special vai ao ar amanhã .
Nã o foi um bom sinal que elu ouviu Julie suspirar.
— Nã o diga. Mas sim, sobre isso. Espere – você nã o foi eliminade ou
algo assim, você foi?
— Eu nã o teria permissã o para te dizer, tecnicamente. Mas nã o, eu
ainda estou aqui.
— Claro que você está . Bom. Ok, entã o você já falou com o papai?
London estremeceu.
— Nã o.
— Ouça, London, você deveria fazer isso. Porque mamã e meio que
organizou uma grande festa para assistir em casa. Ela está cuidando de
tudo mesmo.
London gemeu.
Isso signi icava que metade de Nashville estaria sintonizada, todos
juntos, na sala de estar onde London foi criade.
London nã o deveria ter icado surprese. Claro que a mã e delu
organizaria uma festa para assistir. Ela amava sues ilhes, e ela amava
um evento.
A famı́lia de London era privilegiada, mas eles nã o eram um nı́vel
disfuncional de privilegiados. Os Parkers estavam pró ximos. Crescendo,
os pais de London trabalharam longas horas. O pai delu, em particular,
viajava muito. Mas seus pais ainda assim sempre assistiam a todos os
jogos de basquete de Julie, a todos os concertos de bandas e corais de
London. Elus jantavam juntos na mesa da sala de jantar todas as noites
que podiam, e uma grande ceia de domingo toda semana que incluı́a
um convite aberto a qualquer primo, tio, tia, vizinho ou amigo da
famı́lia que quisesse vir. A infâ ncia de London foi cheia de amor e
comunidade.
— Eu queria dizer algo para o papai sobre isso, para avisá -lo, mas...
— Julie parou.
— Nã o, eu sei. E minha responsabilidade.
E era responsabilidade de London. Que seu pai soubesse que quando
metade de Nashville aparecesse em sua sala de estar, todos estariam
testemunhando London se apresentar como nã o-biná rie na TV
nacional.
London olhou pela janela para as luzes de Burbank, o cé u escuro.
Elu nã o sabia realmente o que esperar quando se assumiu para a
famı́lia há trê s anos. A mã e delu parecia um pouco confusa, mas ela
prontamente fez uma pesquisa, como sua mente cientı́ ica costumava
fazer. E entã o ela estava aceitando totalmente, mesmo que ela tivesse
muitas perguntas intrusivas da Mã e Cientista
Suas duas irmã s mais velhas, Jackie e Sara, també m embarcaram
imediatamente. Jackie e Sara eram sete e nove anos anos mais velhas do
que elu — Julie e London tinham sido uma surpresa dupla para seus
pais — e estavam fora de casa quando London estava no ensino mé dio.
Mas London ainda se lembrava de como ambos eram protetores com
London e Julie quando eram crianças, e isso nã o mudou.
Julie icou chateada. Chorou, mesmo. A princı́pio, foi a reaçã o mais
dolorosa que London poderia ter imaginado. Se Julie nã o tivesse aceito,
de todas as pessoas… Bem, teria sido uma luta. Mas acabou que Julie
nã o se importou com o fato de London ser nã o-biná rie; ela estava mais
chateada que havia algo tã o importante sobre London que ela nã o
sabia.
Embora, como gê mea, é claro que Julie sabia de alguma coisa. Ela
cresceu praticamente colada ao lado delu, a inal. Ela estava lá toda vez
que London fazia birra por usar um vestido, por receber presentes de
meninas burras todo aniversá rio e Natal quando tudo o que elu queria
eram novas ferramentas de cozinha e cartõ es de presente para a loja de
mú sica. Ela estava lá quando London inalmente começou a questionar
sua sexualidade na faculdade, quando elu tinha se assumido como pan.
Entã o, quando Julie descobriu, durante as sessõ es de churrasco de
sua mã e, que London já havia começado a microdosar testosterona, ela
se sentiu traı́da. London icou aborrecide na é poca, pensou que Julie
estava sendo egoı́sta, que ela tinha expectativas irreais, à s vezes, de
toda a coisa dos gê meos. Mas olhando para trá s, London entendeu. Elu
també m tinha sido um pouco egoı́sta, talvez. Mas talvez fosse bom ser
egoı́sta com algumas coisas.
E era uma coisa difı́cil de explicar. Que elu nã o queria ser um homem,
mas que elu nunca se sentiu bem como uma garota. Que elu só começou
a se sentir muito bem quando entendeu que podia ser sua pró pria
coisa. Que elu pudesse existir em um espaço que fosse só delu, que elu
pudesse mudar e se ajustar até que parecesse certo. Elu havia se
estabelecido no sentimento não-binárie certo para elu, mesmo sabendo
que outros como elu tinham seus pró prios nomes que pareciam certos
para suas pró prias experiê ncias. E isso també m era reconfortante. Que
cada pessoa pudesse escolher o que mais a aproximava de pertencer, o
poder nisso. Sabendo que um dia as pessoas podem descobrir palavras
ainda melhores para isso. Que só havia liberdade em continuar a
encontrar novos nomes para quem é ramos, quem poderı́amos ser.
E assim, depois de mais conversas, Julie se acalmou, e as coisas
estavam tã o normais como sempre entre elus. Talvez melhor ainda.
Seu pai, poré m, recusou a identidade de gê nero de London desde o
inı́cio. Isso criou um atrito entre sua mã e e seu pai que London nunca
se lembrava de ter visto antes, o que ê fez se sentir culpade como o
inferno. Elu ainda nã o entendia muito bem. Claro, o pai delu revirou os
olhos um pouco quando London se assumiu como pan, o que tinha sido
menos do que ideal, mas London nunca considerou isso como rejeiçã o
total. Era como… era como se a coisa nã o-biná ria fosse a gota d'á gua
para ele. Como se ele tivesse uma vida inteira de London sendo
estranhe, e ele já tivesse o su iciente.
Julie, Jackie e Sara tentaram trabalhar nele, e London só podia
imaginar que sua mã e tinha trabalhado mais duro do que todas. Mas o
pai de London nunca usou o pronome correto para London em trê s
anos.
London preocupava-se que quanto mais o pai esperasse que London
saı́sse "desta fase", mais ampla e pesada seria a fratura em sua famı́lia.
Quando London disse aquelas poucas frases curtas na entrevista
individual de duas semanas atrá s, realmente tinha sido fá cil. Era apenas
elu, uma sala silenciosa e o rosto tranqü ilizador de Maritza ao lado da
câ mera. Elu se sentia tã o longe de Nashville, da realidade. Tinha sido
importante. Necessá rio. Mas agora, parecia um pouco idiota.
— London? — Julie perguntou baixinho. Ela sabia, é claro, que
London estaria no programa. Elus haviam conversado sobre isso antes
de London partir. — Ele provavelmente deveria saber antes de todos
nó s assistirmos.
— Eu sei.
— Você sabe o quanto estou orgulhosa de você , certo?
Julie conhecia London melhor do que ningué m no mundo. Ela
sempre estava orgulhosa delu. Mas neste momento em particular, era o
que elu precisavam ouvir. Por um segundo, London empurrou seu pai
para fora de seu cé rebro. E elu sabia que o que tinha feito valeria a
pena: os espectadores veriam London como elu era desde o inı́cio. Se
eles tivessem a capacidade de vê -lu como era. O alı́vio impulsionou todo
o seu peito.
— E todos os outros no programa? — perguntou Jú lia. — Eles sã o
legais com você ? E os juı́zes? Oh meu Deus, quebraria meu coraçã o se
Sai Patel fosse um idiota com você .
— Nã o, na verdade, Sai Patel parece ser um cara genuinamente bom.
Todos os juı́zes sã o exatamente como aparecem na TV. Se alguma coisa,
eles levam a competiçã o ainda mais a sé rio do que você imagina. Nada
disso é um ato. E… impressionante, na verdade.
London decidiu nã o contar à sua irmã sobre Lizzie. Havia bastante
negatividade se formando na parte de trá s de sua cabeça por uma noite,
e elu nã o precisava preocupar Julie. E de qualquer forma, elu estava
fazendo um bom trabalho, como elu mesme dizia, ignorando a
existê ncia de Lizzie.
— Graças a Deus. Ok, entã o os outros concorrentes, eu preciso saber,
eles sã o idiotas? Existem pessoas pelas quais eu deveria torcer ou nã o?
Espere, uh, nã o me diga; Nã o quero spoilers. Espere até eu pelo menos
assistir o primeiro episó dio e poder colocar nomes nos rostos. E então
você vai ter que me dar todos os detalhes. Puta merda, London, eu nã o
posso acreditar que você vai estar na TV!
London se inscreveu para isso.
Mas elu també m nã o conseguia acreditar.
London sentiu em seus ossos na manhã de quinta-feira que elu
estava de folga. E elu nã o tinha certeza se mesmo um dia inteiro de
momentos fofos de Dahlia poderia curá -lu.
Elu acabou mandando mensagens de texto para o pai na noite
passada em vez de ligar. Porque elu era, de fato, ume covarde. Elu havia
digitado e redigitado a mensagem pelo menos dez vezes, tentando o
â ngulo mais sem confronto, avisando-o de que estava assumide no
programa, mas terminando com uma vibraçã o do tipo "sinto sua falta,
te amo".
O pai delu levou meia hora responder. E quando o fez, foi com isto:
OK
Apenas as duas letras. A pior resposta possı́vel em toda a histó ria das
mensagens de texto. London queria jogar o telefone pela janela. E, no
entanto, o que mais elu estava esperando? Mesmo esta manhã , elu
continuou checando seu telefone como ume idiota, como se alguma
mensagem má gica pudesse aparecer a qualquer minuto.
Ei ilhe, você sabe, eu pensei sobre isso durante a noite, e eu decidi
parar de ser tão babaca e aceitar você! Desculpe por todas aquelas vezes
que eu não usei o pronome certo e esses três anos que eu iz você se sentir
como se estivesse fodendo toda a nossa família! Muito orgulhoso de você
agora, amigue! Vá pegá-los!
London esfregou a mã o em seu rosto enquanto elu estava em sua
estaçã o. Elu nã o tinha dormido bem, e talvez isso estivesse
contribuindo para o quã o descentralizade elu sentia. Alé m disso, tinha
sido uma semana de ilmagem de quatro dias, todos longos dias de
estú dio, e enquanto quatro dias eram melhores que cinco, ainda tinha
sido muito.
Elu tinha um im de semana de trê s dias começando amanhã , graças
a Deus. Claramente, elu precisava disso.
Na frente delu, Dahlia riu de algo que Barbara disse.
Restavam oito deles agora. Um dı́gito. A medida que cada pessoa saı́a,
estar no programa parecia mais confortá vel e mais tenso. Elus estavam
todes acostumades com o cronograma de produçã o agora. Elus
conheciam a equipe, a copa, os equipamentos, os tiques dos jurados e
dos produtores. Elus se conheciam melhor.
Mas à medida que os nú meros diminuı́am, as apostas pareciam
maiores.
Dahlia se virou, sentindo a presença de London. Ela estava icando
boa nisso, apenas sabendo quando London estava lá , quando elu queria
que ela se virasse e sorrisse para elu. Como ela fez agora.
Entã o, novamente, London queria que ela se virasse e sorrisse para
elu sempre. Entã o talvez nã o fosse um talento em particular.
— Você sabia que eu amo Barbara? — ela disse brilhantemente.
— Sim. — London tentou um sorriso tenso de volta.
— Ei. — Dahlia inclinou a cabeça. — Você está bem?
London assentiu. O que signi icava, é claro, que nã o estava. Dahlia
franziu a testa, entendendo isso, mas entã o Janet deu o sinal, e as
câ meras começaram a rodar, e ela olhou para frente novamente.
Ela estava usando um vestido com estampa loral hoje, hibisco e
plumeria e pá ssaros do paraı́so espalhados em um fundo preto. Era
adorá vel. London queria entrar em colapso.
Elu se concentrou nisso, no vestido de Dahlia, nas ondas escuras de
seu cabelo que balançavam sobre seus ombros, em vez da ideia de
todos que elu conhecia aparecendo na casa delu esta noite em Nashville
para assisti-lu na TV. Dahlia prenderia esse cabelo em
aproximadamente vinte minutos, London adivinhou. Elu sabia seu
cronograma capilar de cor.
Momentos depois, a mesa de demonstraçã o foi lançada no Cı́rculo
Dourado com um ú nico aparelho exibido no centro.
Dahlia saltou levemente nas pontas dos pé s, apertou as mã os atrá s
das costas.
Um rolo de massas.
London sabia que massa era uma das coisas favoritas de Dahlia para
fazer. Ela faria bem.
O pensamento aliviou ligeiramente a tensã o em seus ombros.
Uma hora depois, poré m, as coisas nã o estavam indo tã o bem para
London. As coisas nã o estavam indo nada bem.
A massa delu estava muito pegajosa e depois muito seca quando
tentava equilibrá -la, como se fosse ume amadore que nunca havia feito
massa antes em sua vida. Os competidores tiveram uma breve pausa no
meio do tempo de cozimento para ajudar a massa a descansar, durante
o qual London esfregou seus braços doloridos e fez uma grande careta
enquanto Dahlia conversava com Cath. Mas mesmo depois que a massa
descansava, icava presa no maldito rolo.
Claro, London nã o tinha trabalhado muito com massas, mas era para
ser simples. Calmante para trabalhar, mesmo. Por que London nã o
praticou fazer mais massa antes de vir aqui? Isso foi pior do que o
peixe. Elu se sentia incompetente, confuse.
Quando o ravioli estava no prato, London sabia que estava longe de
ser seu melhor trabalho. O recheio estava bom, mas a forma do ravioli
era inconsistente, e havia muito molho, que era muito ino, mas nã o
teve tempo de consertar. Porra.
— Nã o está tã o ruim — Dahlia disse, e London quase pulou quando
ela colocou a mã o sobre a delu, só por um segundo. Elu nem sabia que
ela estava tã o perto. Mas é claro que ela estava. Esta semana, depois de
segunda-feira, Dahlia sempre parecia por perto.
London estava se esforçando para nã o ser dramá tique sobre isso,
mas os dez minutos que caminhavam para casa no escuro
invariavelmente se transformaram na parte favorita do dia de London.
Queria, neste momento, nada mais do que pular para os dez minutos de
hoje. Dahlia estava olhando para elu com preocupaçã o e seus olhos
eram como um abraço, sincero e aberto. Eles eram quase demais, hoje.
Porque ela estava sendo muito gentil quando chamou o ravioli de nada
mal.
Elu tinha provado a bolonhesa de Dahlia mais cedo. Elu icou
surprese que ela tentaria fazer bolonhesa em apenas uma hora, mas é
claro que ela iria, e claro que era ridiculamente boa. Rica e saborosa,
mas nã o muito pesada. Seus pappardelle estavam perfeitos, macios e
mastigá veis. Tudo sobre vê -la fazer isso – desde bater a massa com as
palmas das mã os, levantar os ios largos e delicados de pappardelle
entre os dedos, até como ela constantemente levava a colher de pau à
boca para provar o molho – tudo parecia esmagadoramente eró tico.
Ela contou a London, durante um intervalo, como o lado da famı́lia de
sua mã e era italiano. Seus bisavó s imigraram para os Estados Unidos de
uma pequena cidade no sul do paı́s, perto de Salerno. Ela disse, com
uma pequena risada, algo sobre como acertar a massa era
provavelmente a ú nica coisa que ela realmente fez certo pelo lado da
famı́lia de sua mã e e, mais tarde, London gostaria que elu tivesse feito
mais perguntas sobre isso. Mas na hora elu só conseguia pensar em
quanto de sua pele estava exposta naquele vestido, o quanto elu
queriam tocá -la.
Quando o julgamento começou, London sentiu uma combinaçã o
desenfreada de frustraçã o, excitaçã o e decepçã o consigo mesme. Elu
falhou hoje, e elu sabia disso.
Elu ia sair dessa competiçã o sem saber qual era o gosto dos lá bios de
Dahlia Woodson, e isso ê matou por dentro.
O julgamento de Dahlia foi muito bem, como London sabia que seria.
Ela sorriu para London enquanto caminhava de volta para sua estaçã o,
como sempre fazia quando as coisas iam bem. London simplesmente a
encarou, pensando em todas as coisas que elu queria dizer e que talvez
nunca conseguisse.
London nã o icou surprese por estar entre os trê s ú ltimos.
Elu nã o olhou para Dahlia quando seu nome foi chamado ao Cı́rculo
Dourado. Mas elu podia sentir seus olhos, como eles nunca ê deixaram
uma vez. Seu pescoço ardeu com o calor. Elu estava naquele cı́rculo
idiota ao lado de Eric e Ayesha, e tudo em que conseguia pensar eram
aquelas duas letras:
OK
Por um breve momento, London quase desejou que Sai Patel ê tirasse
de sua misé ria. Elu o imaginou olhando para elu e apenas dizendo:
OK
E London saberia, e tentaria partir com dignidade.
Mas Sai Patel nã o disse isso.
Ele e os outros juı́zes odiaram mais a massa de Eric.
A de London era ruim, mas aparentemente nã o era a pior. Audra
Carnegie chamou isso de "uma vergonha".
— Ficamos todos surpresos com seu desempenho hoje, London —
disse Sai. — Esperamos mais de você neste momento. De agora em
diante, é melhor você intensi icar seu jogo.
London assentiu, olhou apropriadamente arrependido, e voltou para
sua estaçã o.
A inal, elu conseguiu chegar à quele im de semana de trê s dias. Elu
teria outra chance na pró xima semana, para ser melhor. Elu icou
agradecide e um pouco em choque.
Mas, elu se lembrou um segundo depois, o primeiro episó dio ainda
estava indo ao ar esta noite. E London nã o sabia o que viria depois
disso para elu, fora do set, de volta ao mundo real. Era como se o
cé rebro de London fosse um sinal de rá dio preso entre frequê ncias,
constantemente cortando entre LA e Nashville, e tudo o que elu
queriam era que o rá dio fosse desligado.
London mal registrou, momentos depois, que as câ meras haviam
parado de rodar, perdide em sua pró pria cabeça.
Até que de repente, atordoando seu cé rebro em completo silê ncio e
desligando o disco do rá dio, os braços de Dahlia se envolveram em
torno de seu corpo.
— Ai meu Deus — ela respirou no pescoço de London, apertando
com força. — Eu sabia que seu prato nã o era o pior, mas ainda assim.
London, você ainda nã o pode ir.
Surpreendentemente, ela continuou segurando. London piscou,
compreendendo lentamente o corpo de Dahlia pressionado
completamente contra o delu, seu cabelo roçando sua bochecha.
Todos os outros competidores pararam em suas estaçõ es, olhando
para elus.
Foda-se.
London moveu suas mã os para as costas de Dahlia, tocando
levemente, cautelosamente. Elu moveu a cabeça apenas um centı́metro,
permitindo-se respirar em seu cabelo. Cheirava a coco, rico e quente.
Combinado com a nitidez contrastante de seu hidratante labial de
hortelã -pimenta, os sentidos de London icaram sobrecarregados. Elu
só queria cheirar exatamente isso, frescor e calor, tudo ao mesmo
tempo.
— Dahlia — elu disse, e entã o percebeu que nã o tinha outras
palavras.
Ela deu um passo para trá s, respirou fundo e, embora London
soubesse, objetivamente, que aquele abraço tinha sido muito longo,
muito pró ximo, nã o parecia su iciente. As mã os de London caı́ram para
os lados. Seu corpo estava frio sem ela.
— Vamos — disse ela.
Elus caminharam de volta para o hotel.
Hoje, elus icaram em silê ncio. No meio do caminho, em um impulso,
elu nã o pensou demais pela primeira vez, London estendeu a mã o e
pegou a mã o de Dahlia.
Seus dedos se enroscaram nos delu imediatamente. London deu-lhes
um aperto. A cabeça delu parecia confusa. Elu pretendia soltar a mã o de
Dahlia, depois do aperto, mas Dahlia continuou segurando, entã o elu
també m o fez. Sua mã o era macia e quente, e London jurou que podia
sentir seu pulso batendo em seu dedo mindinho.
Ambos se soltaram quando entraram no saguã o, como se o barulho
do ar condicionado quebrasse um feitiço. Quando chegaram à porta de
London, London en iou as mã os nos bolsos, olhando por cima do ombro
de Dahlia.
— Obrigade — elu disse bruscamente, e limpou a garganta. — Por
nã o querer que eu vá . Eu també m nã o quero que você vá . Para deixar
registrado.
Dahlia sorriu. Mas era um sorriso pequeno, de lá bios fechados. Nem
mesmo uma espiada daqueles dentes ofuscantes.
— Sim. Eu imaginei. — Ela respirou lentamente. — Ok. Certo. Boa
noite.
London queria se inclinar e beijar sua testa. Nã o, isso nã o estava
certo. Elu queria beijar seus lá bios, sentir sua lı́ngua na delu. Elu queria
beijar seu pescoço, seus ombros. Elu queria tudo dela.
E entã o elu queria descansar a cabeça no colo dela e contar a ela
sobre o pai delu. Como ele realmente tinha sido um bom pai, antes.
Como London nã o entendeu por que ele nã o podia simplesmente
superar isso. Como elu nã o entendia por que nã o conseguia superar o
fato de ele nã o ter superado isso. Como elu estava frustrade consigo
mesme.
Se elu icasse por mais tempo neste corredor, elu poderia alcançá -la.
Elu pode tentar qualquer nú mero de coisas.
Mas tinha sido uma longa semana. A dor de cabeça começou quando
London percebeu que, no horá rio central, o primeiro episó dio do Chef's
Special provavelmente já tinha ido ao ar. Estava feito. A festa da casa em
Nashville tinha assistido, e provavelmente havia estranhos vasculhando
sua conta no Twitter enquanto elu e Dahlia estavam lá , olhando ume
para ê outre.
O abraço tinha sido bom. O abraço tinha sido mais do que bom.
O abraço teria que ser su iciente. Algo sobre o ar neste corredor
parecia imprudente, e London nã o con iava em nada agora,
principalmente nelu mesme.
— Boa noite, Dahlia Woodson.
London colocou a chave na porta e elu entrou na escuridã o fria.
CAPÍTULO DEZ

Dahlia bateu na porta de London na sexta de manhã .


Suas palmas estavam suando.
— Ei — ela disse quando London abriu a porta. — Quer ir a algum
lugar?
Elu olhou para ela, olhos turvos, piscando algumas vezes. Elu parecia
horrı́vel, como ela temia que estivesse. Nã o, horrível nã o era a palavra
certa. London ainda estava de pijama amarrotado: uma camiseta cinza-
urze, calça de lanela verde e azul-marinho. Aquela mecha de cabelo no
topo da cabeça apontava em vá rias direçõ es diferentes. Era adorá vel.
Elu era absolutamente adorá vel, e talvez era apenas o que elu parecia à s
oito e meia da manhã .
Mas Dahlia se preocupou que London estivesse tã o desgrenhade nã o
porque elu acidentalmente dormiu, mas porque icou acordade até
tarde lendo os comentá rios.
Foi imediato, depois que o primeiro episó dio foi ao ar na noite
passada. Ela nã o tinha assistido ao episó dio - teria sido muito
constrangedor - mas ela rolou o feed das mı́dias sociais em seu quarto,
com o estô mago tenso e enjoado depois de dizer boa noite para
London. Depois de segurar a mã o delu.
Os comentaristas que nã o estavam falando sobre sua queda é pica
estavam falando sobre London. Ela desejou que todos estivessem
falando sobre ela.
Porque quase todo mundo estava sendo legal com ela.
OH MEU DEUS, ESTOU NERVOSO POR UMA CONCORRENTE
TROPEÇANDO COM SUA COMIDA DESDE QUE COMECEI A VER ESTE
PROGRAMA IDIOTA, ESSA POBRE MULHER, MEU CORAÇÃO ESTÁ
BATENDO POR ELA
Mesmo as pessoas que estavam rindo dela estavam simplesmente
rindo de seu breve momento embaraçoso. Eles nã o estavam rindo de
sua identidade, de quem ela era em sua essê ncia.
Dahlia nã o icou surpresa ao ver que sua viagem havia sido
transformada em um gif. A primeira vez que ela assistiu, ela icou
horrorizada, mas a cada repetiçã o do loop, parecia mais engraçado e
mais engraçado para ela. O olhar surpreso em seu rosto, a forma como
o arroz e os tacos estavam suspensos no ar. Foi engraçado. Era
totalmente digno de gif, e ela tentou processar que seu momento de
g g p q
vergonha provavelmente circularia na internet por anos.
Surpreendentemente, ela se sentiu bem com isso.
Mas Dahlia havia subestimado o quanto as pessoas eram apegadas ao
biná rio no gê nero.
Ela só conseguiu rolar o feed por uma hora, antes de colocar o
telefone virado para baixo na mesa de cabeceira e pegar um livro. Um
livro no qual ela nã o conseguiu se concentrar, nem uma ú nica palavra,
mas que a ajudou a adormecer.
Dahlia realmente esperava que London nã o tivesse lido os
comentá rios, os tó picos, as hashtags. Que elu fosse mais esperto do que
ela.
London coçou a nuca delu.
— Para onde irı́amos? — elu perguntou eventualmente, sua voz
á spera de sono.
— Qualquer lugar. O oceano, eu estava pensando. Ainda nã o vi o
Pacı́ ico, embora já estejamos aqui há trê s semanas. E uma injustiça, na
verdade.
Um canto da boca de London se torceu, só um pouquinho, e uma
pitada de esperança saltou no peito de Dahlia.
— Eu estava pensando que poderı́amos alugar um carro —
continuou ela. — Há um lugar ao redor do quarteirã o, e provavelmente
nã o é tã o caro por um dia e...
— Eu tenho um carro — London interrompeu.
— Mesmo? — Dahlia nã o ê tinha ouvido falar sobre dirigir em
qualquer lugar. — Você dirigiu até aqui de Nashville? Sempre quis fazer
uma road trip assim.
— Nã o. — London limpou a garganta. — Eu aluguei um. Achei que
meio que precisava de um, em LA. Apesar de quase nã o ter usado até
agora. Está na garagem do hotel.
Dahlia tentou calcular o custo de um aluguel de carro por tanto
tempo, quando você nem estava usando, e desistiu depois de alguns
segundos. Ela deduziu, pelas coisas que London disse, que elu tinha
dinheiro.
— Vamos entã o.
London olhou para ela por um momento irme, entã o olhou para sua
roupa.
— Me dê um minuto?
Vinte minutos depois, elus entraram na garagem. London jogou as
chaves no ar.
— Você quer dirigir? — Elu olhou para Dahlia. — Eu me sinto meio
distraı́de, e…
— Caralho sim, eu quero dirigir! — Dahlia arrancou as chaves de
suas mã os. London sorriu.
Dahlia os fez sair da garagem, e elus se afastaram de Burbank.
London nã o tinha ideia de quanto tempo elus estavam no carro.
Poderia ter sido vinte minutos; poderia ter sido dias. Quem sabia que
LA era tã o grande? Quem sabia que tinha tanto trá fego?
OK. Mesmo assim. Era uma realidade realmente potente, quando
você estava nela.
London estava em um carro, sozinhe com Dahlia, sem nenhum
destino real alé m da praia. Dahlia tinha colocado Santa Monica em seu
aplicativo de mapas, mas o trâ nsito em Santa Monica era quase pior do
que em qualquer outro lugar. Ela agitou as mã os e disse:
— Muito cheio — e continuou dirigindo pela Paci ic Coast Highway.
London queria desesperadamente estar presente. Estar conversando
com Dahlia sobre qualquer coisa, apreciando o fato de que elus estavam
na porra da PCH e o sol estava brilhando, o cé u brilhante e claro.
Em vez disso, elus passaram a maior parte do passeio em silê ncio
total, exceto pelo rá dio estridente. London inclinou a cabeça contra a
janela, afastando-se, a paisagem passando por elu em um borrã o. Elu
estava ciente de quã o triste elu parecia, mas elu era incapaz de parar.
Elu se sentia estranhe. Isso foi tudo. Estranhe. Elu nã o assistiu ao
episó dio, mas nã o conseguiu parar de olhar os comentá rios online. A
mı́dia social era a vida delu, mais do que elu queria admitir. A mı́dia
social foi o que ê ajudou a descobrir que elu era nã o-biná rie em
primeiro lugar. As mı́dias sociais deram a elu uma comunidade para ser
elu mesme.
E elu recebeu muito feedback positivo daquela comunidade. Nã o
apenas gifs no Twitter, mas DMs e textos atenciosos.
OMG London! Isso é tão incrível! Você está recebendo muitos trolls?
Cuide-se, vamos desligá-los para você <3 <3 <3 também você está super
gostose, você deveria saber disso direito
Olhe para você, mencionando casualmente seus pronomes em rede
nacional como se não fosse nada. Você é ume verdadeire heróine
americane, London Parker
A coisa sobre trolls era que London sabia que eram trolls. Que você
deveria ser capaz de ignorá -los pelo que eles eram. Talvez London fosse
mais suave do que deveria ter sido, mas elu nunca foi capaz de fazer as
palavras dos trolls pararem de doer de qualquer maneira. Mesmo que
soubesse que era isso que os trolls queriam, mesmo que soubesse que
estava deixando os trolls vencerem.
Julie, Jackie e Sara enviaram mensagens encorajadoras. Jackie
morava em Atlanta agora, Sara em Pittsburgh, entã o obviamente elas
nã o estavam na festa em Nashville, mas Julie disse que tinha sido um
sucesso. London nã o tinha ideia do que signi icava “um sucesso”, mas
de alguma forma elu duvidava que nã o tivesse sido nada estranho. A
mã e delu també m mandou uma mensagem: Seu cordeiro realmente
parecia perfeito. Estamos muito orgulhosos de você, London. Eu te amo.
Nã o havia mensagens de seu pai. Obviamente.
Enquanto o carro serpenteava pelas colinas, o oceano brilhando à
sua esquerda, London sentiu seus pensamentos se tornarem nã o mais
presentes, exatamente, mas se afrouxando, estendendo-se à medida
que os quilô metros passavam. Por que elu estava nesta competiçã o,
realmente? Por que o gê nero era tã o fá cil para algumas pessoas e nã o
para outras? Por que nos importamos tanto com as opiniõ es de outras
pessoas? Por que Dahlia foi legal com elu?
London olhou para ela entã o. E o coraçã o delu falhou as batidas.
Ela tinha uma mã o no topo do volante. Ela estava usando ó culos de
sol grandes, uma camiseta branca simples com decote em V, shorts
jeans curtos. Seu cabelo estava solto. E ela estava radiante. Ela estava
sorrindo atravé s do pá ra-brisa para o nada, enquanto London se
enrolava contra o cinto de segurança em angú stia ilosó ica.
— Você está feliz — London disse simplesmente.
O sorriso de Dahlia vacilou. Seus olhos dispararam para os delu.
— Ah. Oi. Desculpe. Achei que você estivesse dormindo, talvez.
— Nã o. Só pensando.
Ela assentiu.
— Nã o estou feliz com... você sabe. — Outra batida de sua mã o. —
Acabei de descobrir que gosto muito de dirigir em LA.
— Mesmo?
— Mesmo.
London sorriu.
— Estou feliz.
— Há tantas pessoas, e todo mundo vai tã o rá pido. E aterrorizante e
emocionante — Dahlia continuou, sua pele corando. London se
perguntou se Dahlia era mesmo real. Uma mulher que podia cortar um
peixe-espada como se nã o fosse nada, que carregava uma
multiferramenta do Exé rcito Suı́ço na bolsa o tempo todo, que se
divertia com o trá fego de Los Angeles. Ela ê fez suar. — Quero dizer, o
trá fego em DC faz você querer esfaquear algo, mas isso é totalmente
diferente. Esse carro també m é lindo. Você deveria ver o iasco que eu
dirijo pelos subú rbios em Maryland.
O carro alugado era um Nissan. Era bom. London se sentiu um pouco
envergonhade com isso, na verdade. Foi ideia da mã e delu; ela estava
pagando por isso. Mas elu nã o queria admitir isso para Dahlia por
algum motivo.
Elu també m nã o contou a Dahlia que em casa elu dirigia um Tesla.
— E olhe para esta estrada! — Dahlia jorrou. — Nunca vi nada igual.
A estrada realmente era algo. O trá fego da cidade tinha desaparecido
agora. A estrada curvava-se para as colinas, suave, ritmada e poé tica,
como uma sinfonia no asfalto.
London queria que Dahlia continuasse falando sobre trâ nsito, sobre a
estrada, sobre seu carro de volta para casa, sobre qualquer coisa, na
verdade. Dahlia poderia cantar o ABC e isso ajudaria. London queria
dizer a ela que ela estava ajudando. Mas as palavras ainda pareciam
difı́ceis.
Entã o London nã o disse qualquer coisa, e Dahlia parou de falar, e
elus dirigiram por mais dez minutos em silê ncio. Até que ela saiu da
estrada aleatoriamente em uma saı́da nã o marcada. Ela desligou a
igniçã o e icou ali sentada por um segundo. Entã o ela olhou para elu.
— Ei, London?
Elu soltou o cinto de segurança e encontrou o olhar dela, levantando
uma sobrancelha.
— Foda-se quem nã o te vê .
Ela saiu do carro, bateu a porta, e caminhou até a beira do penhasco.
London a observou por um minuto, ouvindo o coraçã o delu bater em
seus ouvidos. Elu queria cristalizar esse momento, por mais agridoce
que fosse: Dahlia Woodson à beira do oceano, o vento soprando em
seus cabelos, as pernas se esticando por quilô metros. Querendo vê -los.
Sentindo-se mais estranhe do que antes, London inalmente abriu a
porta do carro e se juntou a ela.
Elus encontraram um raquı́tico conjunto de escadas que desciam
para a praia. Nã o havia mais ningué m lá que elus pudessem ver, o que
parecia inacreditá vel depois da bagunça caó tica de LA. Duas majestosas
colunas douradas de rocha se projetavam das ondas.
— Olhe para isto — Dahlia respirou. — Este é o lugar mais bonito
que eu já estive.
London concordou em silê ncio. A á gua continuava para sempre. O
bater das ondas, o grito das gaivotas lá em cima. Isso forçou o presente
sobre elu. Elu nã o podia ignorar nada disso.
Elu olhou para Dahlia para dizer algo. Para agradecê -la por trazê -lu
aqui. Para agradecê -la pelo que ela disse no carro. Para dizer a ela como
ela era maravilhosa.
Mas quando seus olhos pousaram sobre ela, elu soltou uma rajada de
ar meio frustrada, meio divertida.
— Fala sé rio, Dahlia.
E antes que elu pudesse se conter, elu estendeu as mã os e en iou as
duas no cabelo dela. O vento a havia tornado selvagem, e chicoteou em
todas as direçõ es como uma tempestade de poeira, obscurecendo seu
rosto.
— Você consegue ver alguma coisa agora com isso? — London tentou
domar as mechas escuras com as mã os, afastando-as do rosto, mas as
pontas continuavam voando para trá s, recusando-se a assentar. — E
sé rio.
Quando London inalmente teve o su iciente dele em seus punhos
para dar uma boa olhada nela, elu a encontrou olhando para elu,
sorrindo, e tudo se encaixou dentro delu, a iado e vı́vido: seus dedos
emaranhados no cabelo com o qual sonhava por trê s semanas, seu
rosto a centı́metros do dela, a praia vazia e o vento roubando seu fô lego.
Dahlia se inclinou para frente e ê beijou.
O cé rebro de London mal teve tempo de processar a sensaçã o de
seus lá bios, macios, lexı́veis e doces, seus dedos automaticamente
enrolando ainda mais apertados em seu cabelo, sedosos e fortes, o
toque de seus narizes colidindo, antes que elu começasse a tossir.
London recuou involuntariamente, suas mã os soltando de seu
domı́nio sobre ela, engasgando com as có cegas de uma mecha de seu
cabelo em sua boca.
Dahlia começou a rir. Ela també m se afastou, puxando o elá stico
preto que circundava perpetuamente seu pulso direito. Ela baixou o
queixo, juntando os ios de sua crina no topo de sua cabeça. London
icou parado, com o coraçã o acelerado, fascinade por assistir esse
processo de perto, ainda mais perto do que no set – pedaços perdidos
continuavam voando em seus rostos enquanto ela tentava contê -los –
enquanto a decepçã o caı́a em seus dedos.
Elu estava positive de que momento havia passado. Elu sentia isso a
cada centı́metro de espaço entre elus. Como London pode ter estragado
tanto isso?
Embora tecnicamente, era culpa do cabelo dela.
Mas quando Dahlia inalmente terminou trinta segundos depois, os
trinta segundos mais longos da vida de London, ela fechou a lacuna
novamente. Nã o houve sequer uma batida de hesitaçã o. O que
signi icava que a primeira vez nã o tinha sido apenas um acaso
espontâ neo, o resultado de London agarrando rudemente o cabelo dela
em suas mã os. Suas mã os permaneciam ao lado do corpo agora, lá cidas
e inú teis, mas Dahlia deu um passo em direçã o a elu de qualquer
maneira. Perto o su iciente para London sentir o cheiro de coco.
Suas mã os seguraram seu rosto. Oh. Suas mã os estavam em seu
rosto. Elas eram tã o macias. Ela era tã o suave.
London olhou para ela por um segundo, viu o sorriso em seus olhos
antes de fechá -los e se inclinar. London nã o desperdiçou desta vez.
Elu empurrou seus lá bios tã o fervorosamente que ela tropeçou um
passo para trá s, e London rapidamente passou os braços ao redor dela,
irmando-a com a palma da mã o na parte inferior de suas costas. Suas
bocas se abriram e lá estava sua lı́ngua, inalmente, quente e
surpreendentemente determinada, assim como Dahlia, e a sensaçã o
disso puxou uma corda em suas entranhas, uma corda que incendiou
todo o resto.
O mundo parecia certo pela primeira vez. Estavam ancorades na
areia, na terra, no vento, no sol e no cé u; nã o havia gê nero, internet,
linha do tempo – apenas pele, mú sculos e sal.
London podia sentir Dahlia se dobrando nelu, de alguma forma,
envolvendo as mã os em volta de seu pescoço, seu corpo avançando tã o
perto quanto era possı́vel estar. Parecia natural segurá -la dessa
maneira, para se tornarem extensõ es ume de outre. O corpo delu era
bom, segurando o dela. Deus, Dahlia se sentia tã o bem.
Depois de um tempo indeterminado, a lı́ngua de Dahlia desapareceu
de sua boca e London expirou, a cabeça pendendo enquanto Dahlia
plantava beijos ao longo de sua mandı́bula, para cima, para cima, até
que ela chupou o ló bulo da orelha em sua boca.
Um som estrangulado escapou dos lá bios de London.
Contra cada instinto, elus se separaram.
London e Dahlia icaram olhando ume para ê outre, bochechas
coradas e bocas ligeiramente abertas, respirando pesadamente,
enquanto as ondas batiam contra a arrebentaçã o. London podia sentir a
pulsaçã o do mar em seu peito, como se estivessem conectades, a força
do oceano batendo em um ritmo incessante contra sua caixa torá cica,
primitiva e selvagem.
Elu tomou outra respiraçã o profunda e torceu as mã os pelos cabelos.
O momento transcendente de paz e luxú ria de meros segundos antes
começou a se estilhaçar, a realidade voltando ao cé rebro de London.
Isso foi um beijo de pena? Dahlia tinha lido as coisas má s que as
pessoas disseram na internet e ê arrastou para este lindo lugar para
tentar fazê -lu se sentir melhor? E ainda…
— Dahlia, você é hetero?
Elu estava tentando decifrar isso por um tempo agora, mas esse
beijo, o jeito que ela ê tocou, foi demais.
Tudo o que sabia sobre Dahlia era que ela havia sido casada. Com um
cara.
O que, é claro, nã o signi icava necessariamente nada. Mas elu
també m sabia que era bastante masculine apresentando-se, e... bem,
London nã o sabia de nada, realmente, naquele momento. Exceto pelo
fato de que elu sabia que nã o poderia ser algum tipo de experimento ou
fetiche para ela. Elu nã o sobreviveria.
London queria explicar tudo isso. Mas Dahlia tinha acabado de beijá -
lu, e elu perdera a habilidade de formar pelo menos oitenta e cinco por
cento das palavras que sabia que estavam em algum lugar em seu
vocabulá rio.
Dahlia olhou para elu, seus olhos tã o claros e verdadeiros como
sempre.
— Ah — ela disse. — London, nã o. Eu sou queer. — Ela fez uma
pausa. — Eu... Acho que nã o mencionei isso antes.
London teve que fechar os olhos. Isso era o que elu queria ouvir, mas
irracionalmente, elu sentiu vontade de socar alguma coisa. Elu queria
grunhir para Dahlia mais alto do que jamais havia grunhido.
— Nã o.
— Eu sinto muito. — Ela mordeu o lá bio, parecendo quase nervosa
agora. — Embora eu só tenha estado com David. Antes de... — Ela
acenou com a mã o entre elus. — Você é a ú nica pessoa que eu já beijei
alé m de David. Que... pode ser embaraçoso. Mas eu sei desde a
faculdade que... sim, que eu nã o sou hetero.
Dahlia respirou fundo antes de dar um passo em direçã o a elu
novamente. Ela estendeu a mã o para elu, mas aparentemente pensou
melhor, en iando as mã os nos bolsos traseiros de seus shorts.
— London — ela disse, ao mesmo tempo que London disse: —
Dahlia.
Ela olhou para elu.
— Você primeiro.
— Isso nã o é uma boa ideia.
Foi a pior frase que já saiu de sua boca, esta frase. Elu assistiu
enquanto esvaziava o rosto de Dahlia, antes que ela olhasse para baixo e
para longe delu, en iando a ponta de sua sandá lia na areia. A pele de
London queria repelir isicamente as palavras, tomá -las de volta. Elu
queria deitar com ela na praia e nunca mais deixá -la ir.
Em vez disso, elu disse:
— Você nã o tem estado com ningué m desde o seu divó rcio; Eu nã o
estive com ningué m desde que me assumi como nã o-biná rie. Isso é
confuso o su iciente. Mas mais do que isso, Dahlia… Ume de nó s poderia
ir para casa na pró xima semana. E eu nã o posso…
Agora London olhava para a areia.
— E — elu ouviu Dahlia dizer, mal por cima do vento, sua voz soando
tã o pequena que London poderia se desintegrar em pó , bem aqui.
Desaparecer com a maré .
Não posso, elu queria dizer, porque mesmo depois daquele beijo, não
sei se aguento mais icar perto de você. Porque se você me beijar de novo,
eu literalmente nunca vou conseguir parar. Vou te levar direto para esta
praia, vou te consumir até conhecer cada centímetro de você. Quando eu
começar com você, não serei capaz de parar. Eu preciso de você de uma
forma que não pode ser temporária.
Dahlia se afastou delu, e ela olhou para o mar.
London observou seu per il, mal respirando.
Elu notou, depois de um minuto, que suas mã os estavam fechadas em
punhos ao seu lado.
— Sinto muito… — disse ela novamente. —Eu nã o queria complicar
as coisas para nó s.
— Nã o, Dahlia — London coçou a nuca. — Você nã o fez nada de
errado.
Ela engoliu em seco e olhou para elu.
— Ainda podemos ser amigues, certo? Eu nã o sei como estar no
Chef's Special sem você ser mi amigue.
Deus, London realmente queria desaparecer.
— Claro — elu disse, e parecia que sua garganta era feita de lixa.
Dahlia voltou a olhar para a á gua. Por im, ela disse:
— Quero fazer algo agora.
London se endireitou.
— OK.
Obviamente, elus deveriam dar o fora desta praia. Se elus nã o
saı́ssem logo desta praia, na verdade, os pulmõ es de London poderiam
entrar em colapso.
— Podemos…
— Você pode nã o gostar — Dahlia interrompeu. — Você pode fechar
os olhos se quiser.
London piscou.
— O quê ?
E entã o Dahlia Woodson tirou a camisa.
London icou boquiaberte enquanto ela rapidamente tirava o short
també m. Ela tirou as sandá lias.
Dahlia nã o olhou para trá s enquanto corria, a toda velocidade, em
direçã o ao oceano, seus calcanhares levantando areia enquanto ela
andava.
— Puta merda — London disse a ningué m.
Dahlia deu um grito alto quando a á gua atingiu seus tornozelos,
joelhos, coxas. London assistiu em transe, imó vel, enquanto ela jogava
seu corpo nas ondas. Sua cabeça desapareceu sob a á gua, que estava
violentamente azul. Elu a viu suspirar enquanto ela ressurgia, e entã o
sorrir, o branco de seus dentes inconfundı́veis mesmo de onde London
estava em terra.
Ela espirrou um pouco mais, nunca indo longe o su iciente para
deixar London realmente nervose. O sol brilhou em sua cabeça, no
rosto de London. Elu podia sentir sua pele queimando. Elu teria que
parar em algum lugar para comprar aloe vera. Oh Deus. Dahlia e
London teriam que dirigir juntes até Burbank depois disso.
Eventualmente, Dahlia voltou para a costa. Ela pisou lentamente em
direçã o a elu, espremendo á gua salgada de seu cabelo. London se
perguntou, à distâ ncia, se talvez estivesse tendo um ataque de pâ nico,
se estivesse alucinando tudo isso. O sutiã e a calcinha de Dahlia eram
um conjunto combinando, suave, aderente, de seda pú rpura escura. Seu
estô mago nu estava liquefazendo as entranhas de London.
Ela ê alcançou e sorriu, parecendo tı́mida. London nã o conseguia se
lembrar de Dahlia alguma vez olhando tı́mida. Mas, novamente, London
nunca esteve na frente de uma Dahlia que estava seminua e pingando. E
London, por mais que tentasse, nã o conseguia parar de olhar.
— O Pacı́ ico está frio pra caralho — Dahlia disse, tentando soar
alegre. Mesmo quando ela corou, sua pele, seu sorriso, estavam
brilhando, tudo parecendo mais relaxado do que antes, as bordas que
estavam lá suavizadas pelo mar. Ela estava legitimamente parecendo
tã o beijá vel, e Dahlia parecia bem beijá vel a maior parte do tempo.
— Ok, agora realmente feche os olhos.
— O quê ? — London perguntou novamente.
Ela se inclinou e pegou suas roupas secas da areia.
— Eu vou me trocar agora. Nã o posso usar essa roupa molhada no
carro durante todo o caminho de volta. Eu vou me irritar.
London fechou os olhos, xingando silenciosamente de novo e de novo
e de novo.
Um minuto depois, elu sentiu algo frio e ú mido bater em sua mã o.
Elu quase gritou.
— Eu sinto muito, muito mesmo, mas você pode segurar isso para
mim? Nã o quero que ique todo cheio de areia.. — London fechou os
dedos ao redor do aro encharcado do sutiã descartado de Dahlia. A
maldiçã o silenciosa em sua cabeça aumentou exponencialmente.
— Tudo bem, eu estou decente. Bem. Relativamente, eu acho.
Quando London se atreveu a abrir suas pá lpebras novamente para o
mundo, Dahlia estava de short e camiseta novamente, calcinha na mã o.
Ela estava fazendo uma dancinha estranha, agachando-se para cima e
para baixo.
— Huh — disse ela. — Sem surpresa, isso pode irritar també m, mas
nã o é tã o ruim.
— Dahlia — London disse, parecendo machucade. — Você pode
parar de se mexer, por favor?
O cé rebro delu estava em curto-circuito por longos minutos agora,
mas observar Dahlia agachada na praia, tentando descobrir como seus
shorts jeans se sentiam contra sua vulva, enquanto elu ainda segurava
seu sutiã molhado, iria realmente encerrar a funcionalidade da
existê ncia de London.
Mas quando Dahlia fez o que elu disse e icou em linha reta e imó vel
na frente delu, mã os nos quadris, London sabia que elu estava errade.
Elu estava arruinade de qualquer maneira. Seu cabelo encharcado
pingava de seu coque derretido em seus ombros. Atravé s de sua
camiseta, London podia ver facilmente seus mamilos pontudos, o
contorno rosa escuro de suas aré olas. Ela era a coisa mais linda que já
vira. London estava louque por ela, e elu tinha acabado de instruı́-la a
nã o beijá -lu mais, embora estivesse tendo di iculdade em lembrar o
porquê .
— Você quer entrar? — Dahlia apontou o queixo para o oceano. — Eu
nã o vou olhar. Isso ajuda a limpar sua cabeça.
London poderia apenas encontrar seus olhos por um segundo.
— Nã o, obrigade.
Dahlia en iou as mã os nos bolsos traseiros de seu short, mordendo o
lá bio.
— Você nã o está brave comigo?
London balançou a cabeça. Mesmo que elu estivesse insegure. Se elu
estava brave, e com quem elu estava brave.
— Você quer icar mais tempo na praia ou fazer outra coisa? — ela
perguntou.
A verdade era que London queria transportar magicamente o inferno
fora desta praia ao mesmo tempo que elu queria icar aqui com Dahlia
para sempre, longe de aparelhos de TV e quartos de hotel e
responsabilidades. Ainda nã o havia mais ningué m por perto, como se
tivesse sido feito para elus, como se Dahlia soubesse exatamente para
onde ir quando saiu da estrada. Pode ser o reino delus. Elus poderiam
viver em uma caverna nas falé sias. Elus cozinhariam à luz do fogo. Elus
fariam amor na areia. Elus voltariam à sociedade ocasionalmente, para
enviar mensagens de texto para aqueles que ê s amavam para que eles
soubessem que estavam bem. Julie e Hank entenderiam.
— Outra coisa — disse London.
— OK. — Dahlia respirou fundo e sorriu, desejando coragem a
ambes. Ela arrancou o sutiã das mã os de London. Finalmente. Ela pegou
suas sandá lias. Ela olhou para London, um canto triste da boca dela se
curvando para cima e disse: — Eu sei que você nã o vai fazer isso. Mas…
Correr com você até o carro?
E entã o ela decolou. London a observou por alguns longos segundos
antes de moverem os pé s, lentamente seguindo-a de volta para a escada
até o penhasco. Ela estava certa, é claro. London nunca tentaria
competir com ela. Dahlia Woodson era um vaga-lume na escuridã o, um
beija- lor em sua janela. Talvez você tenha que vê -la brilhando por um
momento fugaz, mas você nã o podia persegui-la. Ela nã o merecia ser
pega.
De volta ao topo do penhasco, ela jogou as chaves para London.
— Você se importa? Estou me sentindo um pouco cansadoa, de
repente.
Enquanto London navegava pela PCH, elu queria voltar para o
caminho até aqui, quando Dahlia estava incandescente de alegria com o
trá fego de LA, quando a atmosfera entre elus ainda fazia sentido, em
oposiçã o aos movimentos abafados e desajeitados do ar ao redor delus
agora.
Ou talvez London devesse rebobinar todo o caminho de volta. Elu
nunca deveria ter passado por Jacob para se sentar ao lado dela
naquele ô nibus para o bar mitzvah; elu deveria ter feito seu rugelach
sozinhe em uma mesa diferente. Elu nunca deveria tê -la convidado para
invadir um casamento. Elu deveria ter icado em seu quarto de hotel
hoje. Elu devia concentrar-se na cozinha, manter a cabeça baixa.
Claro, elu a teria desejado de qualquer maneira, mas elu poderia ter
feito isso em silê ncio. O desejo nã o expresso era uma habilidade em que
elu era boe. Teria sido mais fá cil do que saber qual era o gosto dela.
Mais importante, ela nã o teria se machucado.
London olhou para ela para talvez dizer um pouco disso, para pedir
desculpas. Mas entã o elu parou. Porque Dahlia estava adormecida. Suas
sandá lias estavam no chã o de seu carro alugado, seus pé s dobrados sob
a pele bronzeada de suas pernas, a centı́metros do câ mbio, sua cabeça
apoiada contra a janela do lado do passageiro, sua calcinha enrolada em
suas mã os.
CAPÍTULO ONZE

Dahlia pulou no oceano, subiu correndo uma escada frá gil ao lado de
um penhasco de arenito e gastou muito dinheiro em aplicativos de
compartilhamento de carona para passear sozinha por Los Angeles
pelo resto do im de semana, tudo para fugir da sensaçã o dos braços de
London Parker ao seu redor.
E entã o Tanner Tavish apareceu na segunda-feira de manhã e os
esbofeteou novamente, porque ele era um bastardo amargo, e Dahlia
queria cuspir em seu rosto bonito.
O Frente-a-frente deles era sobre tortas. Entã o é claro que London ia
ganhar de qualquer maneira. Elu se destacava na sobremesa.
Duas bandejas de tortas individuais pré -assadas estavam na frente
de cada ume, junto com uma variedade de cremes, frutas e loreios
aleató rios. Elus tinham cinco mı́seros minutos para encher o má ximo
de tortas da maneira mais bonita possı́vel.
— Isto é tã o estú pido — Dahlia ouviu London murmurar ao lado
dela. — Eles já izeram todas as peças mais importantes para nó s. Quem
nã o pode rechear uma torta pronta?
Dahlia, aparentemente.
A primeira vez que ela encheu um saco de confeitar, ela apertou com
um pouco de entusiasmo, e o creme grudento explodiu por toda parte
na borda de sua primeira concha. Entã o ela desperdiçou um minuto
limpando-o, porque ela nã o queria que London o visse. Mesmo
sabendo, porque ela icava olhando para elu, que London nem estava
olhando para o seu lado da mesa.
Dahlia se sentiu mais amarga do que ela esperava que London fosse
tã o legal e controlade. Porque ela podia sentir, sua presença, enchendo
o espaço ao redor delus. Isso fez os pelos de seus braços se arrepiarem,
arrepiaram-se por toda a coluna, fez seus pulmõ es icarem apertados.
Audra Carnegie se apressou e sussurrou:
— Dahlia, quem se importa com a bagunça! Você nã o tem tempo!
Continue, continue!
Dahlia se importava com a bagunça. London era limpe e precise. Elu
estava preenchendo metodicamente duas ileiras de cascas de torta,
boom, boom, boom, cada aplicaçã o suave e consistente. Perfeito. Dahlia
observou os mú sculos apenas visı́veis sob a pele sardenta de seus
antebraços, seus cabelos cor de morango caindo sobre seus olhos
enquanto trabalhava. Parecia brilhante e limpo sob as luzes.
Claro que Dahlia nã o teve tempo de limpar sua estaçã o. Ela tinha dois
minutos e trinta segundos, exatamente, para encher todas as suas
casquinhas de massa.
Mas ela nã o queria ser uma Dahlia bagunçada e desleixada. Ela
odiava o quanto ela nã o queria isso agora. Porque ugh, por quê ? Talvez
ela estivesse um pouco bagunçada. Quem se importava? O que havia de
errado com ela?
Ela olhou para London com trinta segundos faltando.
Elu estava arrumando lores de capuchinha ao longo da borda de
suas tortas, brilhantes e delicadas e encantadoras.
Filhe da puta.
Quando o tempo acabou, Dahlia tinha enchido oito tortas. Ela colocou
sua variedade de frutas bem no meio de cada uma, enquanto London as
colocou elegantemente fora do centro. Em todas as vinte. Ela estava
envergonhada alé m da medida.
Tanner Tavish limitou-se a dar-lhe um olhar quando chegou à sua
estaçã o. Um olhar que ela merecia.
— Muito bom, London. — Tavish assentiu. — Muito bom mesmo.
Dahlia mal podia esperar que as câ meras desligassem, para correr
para o banheiro e rolar em seu telefone para fotos fofas de
cachorrinhos.
— Ei — disse London, uma vez que os assistentes deram o sinal
o icial, antes que ela pudesse fugir para o conforto digital de orelhas
caı́das e pelo macio. London enxugou as mã os em um pano de prato e
se virou para ela, cruzando os braços e batendo o quadril contra a mesa.
Dahlia olhou para elu rapidamente, notando, tragicamente, como
aquela inclinaçã o estava bonita nelu. — Está tudo bem — Elu disse
gentilmente. — Todos nó s temos manhã s difı́ceis.
— Nó s? — Dahlia retrucou, pegando uma das tortas perfeitas de
London e mastigando-a violentamente antes que a equipe viesse para
levá -las embora.
Um canto da boca de London virou-se lentamente.
— Sim. Nó s temos. — Entã o a boca delu se achatou e elu limpou a
garganta. — Hm. Como foi o seu inal de semana?
Dahlia engoliu o resto da deliciosa torta e olhou para baixo.
— Foi bom.
Ela fechou os olhos brevemente. Ela odiava isso, como isso parecia
estranho. Seus dedos coçavam, querendo fugir mais do que nunca. Mas
se ela queria que as coisas voltassem ao normal entre elus, ela tinha
que tentar. Entã o, mesmo que ela nã o tivesse vontade, Dahlia forçou
mais detalhes a sair de sua boca.
— Fui a Venice Beach no sá bado. Estava muito cheio e cheirava mal.
Eu amei.
London sorriu totalmente com isso.
— Fui ao Observató rio Grif ith, andei por aı́ — disse elu. — Tentei
descer essa trilha que leva ao letreiro de Hollywood.
Dahlia se iluminou um pouco. Ela olhou para elu de verdade desta
vez.
— Mesmo? Isso está na minha Lista. Foi incrı́vel ver a placa de perto?
— Eu nã o sei. A trilha estava empoeirada e quente, e lotada como o
inferno. Eu voltei depois de um quarto de milha.
Dahlia sorriu.
— Mal dava para se mover em Venice Beach, havia tantas pessoas.
Você teria odiado.
London sorriu de volta.
— Provavelmente. — Uma pausa. — Sempre que você quiser usar
meu carro alugado, nos ins de semana ou dias de folga ou qualquer
outra coisa, você pode. Apenas me mande uma mensagem.
Dahlia hesitou.
— Isso nã o é contra o seu contrato de aluguel?
London deu de ombros e se afastou da mesa.
— Considere-nos transgressores de regras imprudentes, Dahlia. —
Elu deu outro pequeno sorriso e se afastou.
Dahlia comeu outra torta, uma de sua autoria. Pode ser feia, mas
ainda tinha um gosto bom.
Ajudou, apenas um pouco, a cobrir o gosto deixado em sua boca com
a ideia de dirigir o carro de London em torno de Los Angeles, sozinha,
sem elu.
E entã o ela se sentou em um canto e olhou para o Twitter. Estava
cheio de pessoas que eram mais legais do que ela, sendo mais
descoladas e encantadoras do que ela, explicando notı́cias sobre as
quais se sentia culpada por nã o saber o su iciente. Ela se sentia um
pouco pior a cada minuto que passava, mas continuou rolando o feed de
qualquer maneira.
Eles foram chamados de volta à s suas estaçõ es. Antes das câ meras
começarem a rolar, antes de Sai Patel revelar qual seria o ingrediente
secreto para sua Inovaçã o de Ingredientes hoje, Barbara estendeu a
mã o e apertou sua mã o.
— Você está bem hoje, Dahlia?
Dahlia baixou os olhos para suas mã os entrelaçadas, para os dedos
de Barbara, envelhecidos mas macios, agarrando os dela com tanta
con iança.
Ela nã o sabia por que icara tã o magoada com a rejeiçã o de London
na praia. Ela só pensou… Barbara havia dito… Mas nã o. Ela sentiu a
forma como London a beijou de volta. Ela sabia o jeito que elu olhava
para ela. Ou, a maneira como elu a olhara antes de hoje. Dahlia sabia
que nã o tinha inventado a atraçã o entre elus, embora tivesse demorado
a entender. Porque, aparentemente, só namorar uma pessoa durante a
maior parte de sua vida a tornou inepta para entender o lerte.
De alguma maneira, no entanto, ser lenta na absorçã o fez doer ainda
mais. Porque quando a atingiu – como era certo beijar London naquela
praia, assim que ela fez isso, ela entendeu que queria fazer isso há
muito tempo – foi como um soco no estô mago. Tudo abrangente,
chocante, roubo de ar.
Era horrı́vel saber que London estava certe, que nada sobre ir alé m
daquele beijo era uma boa ideia, mesmo que cada cé lula em seu corpo
queria se rebelar contra isso. Foi uma má ideia porque, como London
disse, elus poderiam ser eliminades do programa a qualquer momento.
Tã o logo amanhã , de fato, Dahlia se lembrou. Havia outro Desa io de
Eliminaçã o amanhã . Nã o importa o quã o confortá vel ela começou a se
sentir aqui, nada era garantido.
Mas mesmo alé m da eliminaçã o, alé m do programa... a verdade era
que London era uma pessoa extremamente está vel. Uma boa pessoa
com objetivos e talentos. Elu amava Nashville, um lugar que Dahlia
nunca tinha ido ou sequer pensado seriamente em visitar, e elu nã o
desejava deixá -lo. Elu tinha um trabalho de som legal que gostava. Elu
iria começar uma organizaçã o sem ins lucrativos que poderia
potencialmente mudar vidas, realmente fazer a diferença. Elu tinha
famı́lia e amigos. London tinha futuro.
Dahlia tinha um apartamento chato em um pré dio sem alma em uma
cidade suburbana comum, cujo aluguel ela nã o tinha ideia de como
pagaria no mê s seguinte se nã o ganhasse US$100.000. Ela tinha cartõ es
de cré dito com saldos estourados e juros de empré stimos muito altos.
Nã o só Dahlia nã o tinha emprego, como també m nã o fazia ideia de que
tipo de emprego queria, ou começaria a procurar, quando voltasse para
casa. Ela tinha um pai bobã o e um doce irmã o que morava a centenas
de quilô metros de distâ ncia, que ela nã o visitava o su iciente. Ela tinha
uma mã e que estava decepcionada com ela, com quem Dahlia nã o sabia
mais como falar. Ela nem tinha certeza se tinha amigos.
Dahlia era uma bagunça, e London merecia muito melhor.
Dahlia olhou para a mã o de Barbara na sua, tentou lembrar o que
Barbara tinha perguntado. Oh. Sim. Se ela estava bem.
—Nã o — ela disse baixinho. Porque ela sempre se sentiu segura para
contar a verdade a Barbara.
— Tudo bem, amor — disse Barbara depois de um minuto. — Tudo
bem nã o estar bem à s vezes.
Dahlia nã o soltou sua mã o até que uma assistente deu o sinal, e as
câ meras ligaram mais uma vez.
London nunca sentiu uma gratidã o tã o pura quanto quando Tanner
Tavish anunciou o Desa io de Eliminaçã o no dia seguinte.
Su lê s. Um de chocolate, um de queijo. Isso era tudo que elu tinha que
fazer. Sem enfeites ou personalizaçã o criativa. Apenas um par de su lê s.
Suflê s fazia todo o sentido para London. Gemas e claras de ovos.
Chocolate derretido; bechamel. Picos rı́gidos e dobras. Este pode até ser
um dia de ilmagem curto. As pessoas se intimidavam com su lê s, por
algum motivo, mas na verdade eram bem simples. Eles eram muito
mais simples do que, digamos, imaginar descobrir como lidar com seu
coraçã o em torno de Dahlia Woodson.
No set de ontem, elu se concentrou mais nos desa ios do que nunca.
Elu planejava fazer o mesmo hoje, e no dia seguinte, e no dia seguinte. E
talvez fora do set, quando London olhou para o teto de seu quarto de
hotel por horas a io e pensou em Dahlia, parada na frente delu de
calcinha em um trecho solitá rio do paraı́so, ou Dahlia, dançando com
aquele vestido preto em uma pista de dança suada, ou Dahlia,
arrulhando sobre vacas abandonadas por Deus que ela chamou de
Margaret – bem, talvez elu eventualmente icasse louque.
Mas no set, essa misé ria pode levar London a um foco tã o irme que
elu teria que ganhar os US$ 100.000. Que era o que elu tinha voado para
LA para fazer.
Entã o, tudo somado, um comé rcio uniforme.
No meio do caminho na hora de cozinhar hoje, poré m, esse foco foi
interrompido por um turbilhã o de cabelos escuros em pâ nico.
— Nã o sei o que estou fazendo de errado. — Ela se virou para
encará -lu, suas mã os segurando as laterais da estaçã o de London, seu
rosto contorcido. London sentiu um estranho tipo de alı́vio que ela
estava recorrendo a elu para conselhos. Mesmo que ela parecesse
miserá vel. Ela havia pedido seus conselhos sobre o set de todos a é poca,
pré -Malibu, e este foi o primeiro momento desde entã o que realmente
parecia normal. — Eles quase nã o estã o subindo.
— Você nã o misturou muito as claras, certo? Você só as dobrou?
— Sim, London, eu as dobrei, porra — Dahlia assobiou, movendo
suas mã os para seus quadris, olhando ansiosamente para seu forno, e
London teve que reprimir um sorriso. Agora isso parecia normal. Dahlia
xingando para elu parecia absolutamente fantá stico.
— Você ainda tem tempo — disse elu. — Faça quantos ramekins2
puder; nem todos precisam ser perfeitos.
— E se nenhum deles for perfeito? — Dahlia distraidamente soprou
um io de cabelo de seu rosto. Havia uma mancha de farinha em sua
bochecha. — Esses seus vã o icar perfeitos. — Ela estava surtando.
London hesitou. Entã o elu estendeu a mã o sobre a estaçã o e colocou
a mã o em seu antebraço. Elu apenas a manteve lá por um segundo.
Ainda assim, elu sentiu, a sensaçã o da pele dela sob seus dedos,
formigando até o couro cabeludo.
— Você icará bem.
Dahlia olhou para onde London tinha colocado sua mã o. E entã o ela
disse: — Ok — e se virou. London engoliu.
Dahlia nã o estava bem. E tanto ela quanto London sabiam disso.
Normalmente, a porçã o cronometrada de cada desa io voou. Isto foi o
julgamento que se seguiu que levou muito tempo, especialmente
durante os Desa ios de Eliminaçã o. Foi aı́ que todo o drama entrou,
onde as coisas foram ilmadas e refeitas para parecerem exatamente
certas. Mas hoje, cada segundo assistindo a testa franzida de Sai Patel,
os olhos preocupados de Audra Carnegie, e o rosto rabugento de Tanner
Tavish borraram na mente cheia de ansiedade de London.
O corpo de London trouxe seus su lê s até os juı́zes, mas era como se
sua mente estivesse presa em um tú nel de vento. Elu mal podia ouvir o
que os juı́zes diziam, embora pensasse que estavam sorrindo.
Quando foi a vez de Dahlia trazer seus su lê s, seus sorrisos
desapareceram.
Foi quando London realmente começou a entrar em pâ nico.
Deve ter sido assim que Dahlia se sentiu quando London quase foi
chutade com aqueles horrı́veis raviolis. Talvez, se Dahlia fosse
eliminada, elu poderia se voluntariar para ser eliminade. Apenas uma
pequena troca. Como Katniss em Jogos Vorazes. Isso era aceitá vel, certo?
Isso poderia acontecer? Deus, qual era o nome da irmã de Katniss de
novo? Por que London nã o tentou participar dos Jogos Vorazes em vez
disso? Chef’s Special é pior.
London percebeu, enquanto os juı́zes se reuniam para as falsas
deliberaçõ es, que estava perdendo o controle de seus pensamentos. Elu
precisava se concentrar. Elu precisava…
London, Ahmed e Khari foram chamados para o Cı́rculo Dourado.
Top trê s.
— Parabé ns, London — Audra sorriu para elu. — Outra atuaçã o
estelar.
Ahmed deu um tapa no ombro delu com um sorriso.
A boca de London tinha gosto de giz.
Tanner Tavish anunciou os trê s ú ltimos.
Dahlia, Barbara, e Cath.
Os trê s de cima e de baixo trocaram de lugar, e London só podia
assistir com pavor.
Eram todas excelentes cozinheiras, Dahlia, Barbara e Cath. Nã o fazia
sentido. O que tinha acontecido? Talvez houvesse algo errado com a
energia na estaçã o de Barbara e Dahlia, algo descontrolado com seus
fogõ es...
Cath foi salva. Ela caminhou de volta para sua estaçã o, estufando as
bochechas em um profundo suspirar.
Barbara e Dahlia permaneceram no cepo naquele horrı́vel, horrı́vel
cı́rculo. Elas se aproximaram, de mã os dadas. Barbara descansou a
cabeça no ombro de Dahlia.
Enquanto London agarrava a borda de sua bancada, elu tentava se
lembrar do que havia acontecido com os competidores que já haviam
sido eliminados. Eles saı́ram do set e entã o… London nunca mais os viu.
Os produtores devem realmente enviá -los de volta para casa
imediatamente. Fazia sentido. Nã o há razã o para desperdiçar dinheiro
em quartos de hotel desnecessá rios.
De repente, Barbara e Dahlia estavam se abraçando. Elas estavam
chorando. Espera. O que diabos aconteceu? London nã o tinha ouvido o
que aconteceu. Elu nã o podia ouvir nada. Por que elu estava tã o ruim
em existir agora? Atordoade, elu viu Barbara dizer algo no ouvido de
Dahlia, apertar seu braço e dar um sorriso tranquilizador.
E entã o Dahlia voltou para sua estaçã o. Ela nã o olhou para London.
Sua cabeça permaneceu baixa enquanto Barbara saı́a do set.
Mas Dahlia ainda estava em seu posto.
As câ meras pararam de rodar, mas o coraçã o de London ainda estava
batendo forte. Dahlia foi imediatamente chamada para uma entrevista
individual, seus ombros tensos enquanto ela se afastava. Janet correu
para London, disse-lhe para esperar, que elu seria ê pró xime.
Elu presumiu que Janet iria perguntar sobre ganhar o desa io. Mas
em vez disso, quando elu foi arrastade para o set de entrevistas
individuais – Dahlia havia desaparecido, e tudo em que London
conseguia pensar era para onde ela tinha ido – Janet perguntou como
era ver Barbara e Dahlia e Cath entre as trê s ú ltimas.
Ela perguntou sobre todas elas, mas London sabia instintivamente
que Janet queria ver sua reaçã o a Dahlia. E entã o London soube que
Janet sabia. Maritza deu-lhe um sorriso triste por trá s da câ mera. Todos
eles sabiam.
London merecia um prê mio extra do Chef's Special, nã o importa
quando elu acabasse sendo eliminade. Eles estavam fazendo um
excelente programa de TV e elu queria vomitar.
London disse algumas palavras que esperava fazer parte da lı́ngua
inglesa, e entã o correu para fora do estú dio. Elu olhou ao redor
descontroladamente assim que o ar frio da noite atingiu seus pulmõ es,
como se fosse ume detetive em um programa de TV pronte para pular
carros em movimento para encontrar o criminoso.
— Sua garota foi embora há alguns minutos.
A voz era inconfundı́vel. London girou para olhar para Cath,
encostada no pré dio, tragando um cigarro.
London nã o fumava desde que era ume adolescente burre no ensino
mé dio, mas de repente nada parecia tã o atraente.
— Ela nã o é minha garota — London conseguiu dizer, desejando que
seu coraçã o batesse menos freneticamente, para parecer menos
paté tique na frente de Cath, que era inegavelmente legal. Elu olhou para
a fumaça que saı́a habilmente dos lá bios dela, tentando nã o pensar em
Dahlia caminhando sozinha para casa. Sem elu.
Cath apenas ergueu as sobrancelhas e deu outra tragada profunda.
Ela estava com o boné de beisebol virado para trá s que sempre aparecia
assim que as ilmagens terminavam, e a aba batia contra a parede de
concreto do estú dio.
— Tudo bem — ela disse, nã o necessariamente crı́tica, mas
gentilmente duvidosa.
London continuou ali como ume idiote, de repente desejando algum
conselho lé sbico sá bio de Cath. Ou para ela bater nelu e dizer para elu
parar de ser tã o emocionade, ou algo assim.
Depois de um momento, Cath disse:
— Aquele abraço que ela deu em você no outro dia foi tã o doce que
quase partiu meu maldito coraçã o.
London desviou o olhar entã o.
— Ela nunca esteve com algué m como eu antes. E… — Todas as
palavras caı́ram em sua cabeça, o raciocı́nio que parecia tã o só lido na
praia. Ou talvez també m nã o parecesse só lido na é poca, mas elu sabia
que era pelo menos racional. Nã o se apaixonar por algué m no set de um
reality show. — Porra, eu nã o sei.
Elu podia ver Cath acenar com a cabeça, com o canto do olho.
— E — Outra batida tranquila. — Ela parece ser uma das boas, no
entanto. Foi um dia difı́cil hoje. Ela e aquela velhinha pareciam
pró ximas.
Deus, tudo em que London podia pensar era em Dahlia, mas é claro
que Dahlia icaria arrasada por causa de Barbara.
Cath deu um tapinha no ombro de London enquanto se afastava da
parede e esmagou o cigarro sob o tê nis.
— As vezes, você só precisa fazer o que tem que fazer. Mas ouça…
cuide-se, está bem? — Ela deu outro aceno e começou a se afastar.
London permaneceu por mais alguns momentos, do lado de fora da
fachada surpreendentemente chata do estú dio, observando Cath ir
embora, respirando dentro e fora enquanto a luz do dia sangrava do
cé u.
E entã o elu correu até chegar à porta de Dahlia.
CAPÍTULO DOZE

Dahlia abriu a porta imediatamente, suspirando um pouco. Ela disse:


— Eu estava esperando por você .
— Dahlia. — London deu um passo para dentro. Distante, elu ouviu a
porta se fechar atrá s delu. O quarto de Dahlia era mais bagunçado que o
delu. Tentou nã o olhar para as roupas descartadas, os livros, os recibos
amassados. Tentou nã o imaginar Dahlia en iando tudo de volta em sua
mala. — Quando eu vi você lá em cima hoje…
London estava sem fô lego de correr até aqui, e elu nã o sabia como
terminar essa frase. Elu parou, boquiaberte como um peixe, enquanto
Dahlia estava a um metro de distâ ncia, com as mã os nos bolsos de trá s
do short. Seus olhos eram suaves e tristes, e ela nã o parava... de olhar
para elu. Como se ela estivesse esperando por algo. O ar parecia pesado
nos pulmõ es de London, seus cabelos arrepiando na nuca.
— London — ela disse simplesmente.
Seus pé s deram um passo mais perto dela por vontade pró pria, como
se puxados pela voz dela, por seu olhar, e o resto do corpo de London
estava impotente para deter-se.
Elu deu mais um passo, fechando a distâ ncia entre elus.
Dahlia olhou para elu, implorando. London tinha recuperado o
fô lego, mas agora o mesmo parecia preso em sua garganta. Era isso que
elu queria que acontecesse, quando correu para cá ? Elu nã o sabia mais.
Ou talvez nunca tivesse havido um plano. Houve apenas pâ nico, e agora
havia apenas o rosto de Dahlia.
— Por favor — ela sussurrou.
London segurou seu rosto em suas mã os, correu o polegar por sua
bochecha. Ela fechou os olhos, apoiando-se na palma da mã o, e soltou
um suspiro tã o pequeno e vulnerá vel que quebrou todas as defesas que
London ainda possuı́a.
Elu a beijou.
Nã o havia nenhum rugido do oceano aqui, nenhum vento batendo
em seus rostos, nenhum sal no ar. Nã o havia nada para diminuir a
realidade dela, o gosto dela, os ruı́dos de alı́vio e desejo em sua boca.
Depois de um precioso momento de ternura, Dahlia beijou London
de volta com uma intensidade que ê surpreendeu, que quase ê
derrubou, e elu se fortaleceu contra ela. Ela empurrou a lı́ngua em sua
boca ao mesmo tempo em que levou as mã os ao pescoço, apertando
contra sua garganta.
O coraçã o de London disparou, mas sua mente se acalmou.
O corpo de Dahlia se inclinou totalmente contra o delu com outro
pequeno suspiro de calor e necessidade, e London abaixou seus braços
para se esgueirar em torno de suas costas, para pressionar a base de
sua espinha, para pressioná -la mais perto, mais perto, até que nã o
houvesse mais para onde ir. O cheiro de coco de seu cabelo encheu seus
sentidos; elu nã o podia imaginar respirar ar sem isto.
Entã o, de repente, aquele alarme irritante e instintivo no cé rebro
disparou novamente, forçando-ê a recuar, desembaraçando membros,
inalando ar fresco em seus pulmõ es, afastando suas mã os de Dahlia
para esfregar suas pró prias tê mporas.
— Espere — Elu disse.
London estava tã o cansade de romper os beijos com Dahlia. Estava
começando a parecer um há bito horrı́vel.
— Você está chateada. Foi um dia perturbador. Precisamos conversar,
para...
— London. — Dahlia deu um passo em direçã o a elu novamente. —
Nã o. Isso nã o é apenas sobre hoje. Nã o me diga como me sinto. Ok?
Ela roçou as costas da mã o na bochecha delu, e isso reverberou até as
pontas dos dedos de London. Ela mordeu o lá bio, parecendo que queria
dizer mais. London queria con iar nela, mais do que qualquer outra
coisa que elu sempre quisera. Elu queria ceder.
Dahlia deu um passo para trá s e tirou a camisa.
— Deus, Dahlia. — London enrolou as unhas nas palmas das mã os.
— Você continua fazendo isso.
Ela estava usando um colar, uma corrente ina presa a uma barra de
ouro maciço. London piscou para isso, descansando acima de seu sutiã
lavanda. Elu levantou um pouco, no ritmo de sua respiraçã o. Ela estava
olhando para elu com determinaçã o agora. Deus, ela era linda.
— Espera — London disse novamente, mas o sangue delu estava
pulsando tã o alto em seus ouvidos que mal podia ouvir a si mesme. Elu
pensava desesperadamente nas notas em seu telefone. Elu izera uma
lista, no domingo à noite, quando nã o conseguiu dormir, de coisas que
nã o sabia sobre ela. Parecia um exercı́cio particularmente triste na
é poca, mas parecia importante agora. Elu nã o queria que o que ia
acontecer fosse impulsivo e fugaz. Elu queria estar alicerçade nela.
— Dahlia. Qual seu ilme favorito?
— O quê ? —Ela franziu a testa.
— Seu ilme favorito. Qual é ?
Dahlia sacudiu a cabeça e se moveu para elu novamente. Ela colocou
as mã os nos quadris de London. Pressionou os dedos na pele macia e
grumosa que elu odiava, antes que ela se inclinasse e beliscasse seu
pescoço. Jesus, seus dentes. London sentiu sua pele aquecida, tornando-
se hipersensı́vel.
— Eu odeio esse tipo de pergunta. Nunca consigo pensar em nada
favorito. Muita pressã o — disse ela.
— Exceto para Misturas de Arroz Krispies.
Ela riu, sua respiraçã o lutuando sobre sua orelha.
— Sim. Nunca tive qualquer dú vida sobre isso.
London engoliu. Elu tentou um ú ltimo esforço valente.
— Ok, mú sica favorita.
Dahlia gemeu, e o barulho foi demais para London. Seus braços
voltaram para as costas dela como se eles pertencessem lá . Seus
polegares izeram cı́rculos em seus lados agora nus, sua pele tã o macia
sob suas mã os calejadas, e elu a sentiu estremecer, mesmo quando ela
abriu a boca para protestar.
— Essa pergunta é ainda pior, e você sabe disso. Depende! Gê nero?
Perı́odo de tempo? Atmosfera?
London inclinou o rosto, afundando o nariz em seu cabelo. Elu sabia
isto. Elu estava sendo ridı́cule. Ela estava respondendo a pergunta
exatamente como elu faria.
Mas enquanto ela falava, seu corpo estava se soltando, a verdadeira
Dahlia retornando em sua voz, e London se acomodou com isso. Esta
nã o era apenas Dahlia assustada e vulnerá vel, mas aquela que falava
demais, que fazia London rir, que nã o se escondia quando estava
irritada com elu.
— Mas — ela adicionou, seu corpo dando um leve empurrã o quando
as pontas dos dedos de London percorreram seu estô mago —, se
estamos sendo puramente objetivos, 'The Chain' do Fleetwood Mac é
provavelmente a melhor mú sica já escrita.
London fez uma pausa.
— Hm — elu murmurou em seu cabelo.
— Isso nã o é uma resposta legal? Eu provavelmente deveria
comentar que meu pai me criou em um luxo bastante constante de
rock dos anos 70 e somente rock dos anos 70, entã o eu realmente nã o
sei se…
— Nã o — London interrompeu, afastando-se para olhar seu rosto. —
E perfeito. Você é perfeita.
Dahlia revirou os olhos e empurrou London levemente no ombro.
— Cale a boca.
— Cale você — disse London, sorrindo agora. Elu a puxou para mais
perto novamente. Elu rolou o polegar sobre o mamilo, atravé s do tecido
transparente de seu sutiã , e ela fez um som choramingando, sua cabeça
caindo para frente.
London sentiu suas mã os deslizarem sob a camiseta, um centı́metro
nas costas, tocando a pele que ningué m mais tocava há anos.
— Está tudo bem? — ela perguntou baixinho. — Existe algum lugar
que eu nã o possa tocar em você ?
Os olhos de London lutuaram fechados.
— Nã o. Você pode me tocar em qualquer lugar. Mas, Dahlia…
London procurou o autocontrole uma ú ltima vez. Elu sabia que seu
primeiro beijo nã o tinha sido por pena delu, que este, esta noite, nã o
era por pena dela pró pria. Elu sabia disso. Que isso era simplesmente o
que Dahlia queria.
Mas London també m sabia que se isso acontecesse, elu estaria
totalmente dentro. Elu nã o poderia ser casual sobre isso. Elu nã o seria
capaz de dizer adeus a ela – amanhã , se for eliminade do programa,
nunca.
Dahlia levou as mã os ao rosto de London. Certi icou-se de que
estavam olhando-a nos olhos.
— Eu preciso de você . Ok? E eu preciso que você precise de mim de
volta.
London respirou fundo.
— Você nã o tem ideia do quanto — disse elu.
— Entã o tudo bem.
Ela ê beijou, faminto, duro, molhado, e London se soltou. Parecia uma
liberaçã o fı́sica, deixando ir, algo pelo qual elu tinha que trabalhar, mas
elu fez isso. Elu esquecera as notas em seu telefone. Elu tirou o Chef’s
Special do cé rebro. A ú nica coisa que importava, elu decidiu, era essa
humana na frente delu, sua pele, seu cabelo, sua grande vida que ela
estava, milagrosamente, deixando-ê fazer parte.
A boca de London viajou para o pescoço de Dahlia, chupando,
lambendo, perseguindo aqueles sons em sua garganta, querendo senti-
los contra seus lá bios. Seus dedos voltaram para seus mamilos,
beliscando com mais força, e ela ê recompensou empurrando sua pé lvis
contra a delu e soltando um suspiro que foi direto para o intestino de
London.
Em um movimento suave, London desabotoou o sutiã de Dahlia,
deslizou as alças pelos ombros e gentilmente, inalmente, a empurrou
para a cama.
London estava começando a icar inebriante agora. Alguma parte de
seu cé rebro lhe disse para desacelerar, mas enquanto a seguia para a
cama, os joelhos escarranchados sobre suas coxas, seus mamilos
pontudos ê chamavam. A maneira como seu corpo se contorceu quando
London os levou em sua boca era viciante. Ela era tã o reativa a tudo; fez
London se sentir como ume má gique. Uma emoçã o ê percorreu com a
maldiçã o que ela lançou quando elu engajou a mais leve pressã o dos
dentes contra a pele enrugada e sensı́vel.
As mã os de London rastrearam seus lados enquanto sua boca
trabalhava. Elu ouviu o aumento na respiraçã o de Dahlia, sentiu o leve
arqueamento de suas costas com cada toque. Elu se sentia quase
desconcertantemente selvagem com tanto poder.
Por im, London recuou para respirar, para estudá -la, absorvê -la. Ela
olhou de volta, as pá lpebras pesadas e escuras.
— Sé rio mesmo — London disse, levemente arrastando os dedos por
sua barriga. — Você é perfeita.
Dahlia congelou. Depois de um segundo, ela se apoiou nos cotovelos.
Seus olhos clarearam.
— Eu tive acnes muito feias no giná sio. Eu ainda tenho cicatrizes, por
toda parte. — Ela apontou para o rosto. — Imperfeito.
A carranca de London combinava com a dela. Elu se inclinou para
examinar o rosto de Dahlia, para mostrar a ela que nã o estavam sendo
desdenhose. Ficaram algumas cicatrizes. Talvez elu tivesse notado
antes. Talvez elu nã o se importasse.
London balançou a cabeça.
— Ainda parece muito fodidamente perfeita para mim.
Dahlia grunhiu de frustraçã o. Ela caiu de volta em suas costas, bateu
um punho fechado contra seu quadril.
— Nã o faça isso.
London se arrastou mais para a cama, descansando ao lado dela.
— Fazer o quê ? Eu nã o estou mentindo. Você realmente é perfeita
para mim.
— Perfeiçã o nã o é real — Dahlia disse, exasperada. Ela se virou para
enfrentá -lu. — Nã o quero ser perfeita, porque sei que nã o sou. Eu quero
que isso — ela tocou o peito de London —, seja real.
London olhou para ela por uma batida. Elu nunca tinha olhado nos
olhos de Dahlia tã o de perto antes. Elu tentou impedir seu cé rebro de
categorizá -los como perfeitos. Elu falhou.
London se perguntou o que real signi icava para ela, como era
mesmo uma questã o que isso era.
Elu sabia que Dahlia nã o tinha estado com ningué m alé m de David.
Que estar com outra pessoa era provavelmente assustador, ou estranho.
Pode ser… Talvez ela tenha pensado que as coisas eram perfeitas com
David, até que elas nã o eram, entã o agora ela nã o con iava mais em
perfeito.
Mas Dahlia tinha que saber que isso era real.
London precisava convencê -la, elu decidiu, como isso era real.
London se levantou da cama e removeu, o mais rá pido possı́vel, todas
as peças de sua roupa.
Dahlia voltou para suas costas, apoiada nos cotovelos, e observou,
um olhar ligeiramente divertido, mas atento, ultrapassando a incerteza
que estava em seu rosto.
— Você nã o é muito perfeite — disse ela quando London estava nue
na frente dela. — E eu gosto muito de você .
London estava prestes a pular na cama e arrancar o short de Dahlia –
a remoçã o de suas pró prias roupas era para ser e iciente, nã o um strip-
tease – mas de repente elu parou. Elu compreendeu Dahlia olhando
para elu, ê estudando, coisa que elu tinha acabado de fazer. Elu estavam
tã o focade em Dahlia, no que ela estava sentindo e no que ela precisava
que era como se o cé rebro delu fosse para outra dimensã o, e agora…
Oh. Agora elu congelou, a autoconsciê ncia caindo sobre elu como uma
onda.
Era isso. Possivelmente era por isso que elu nã o tinha dormido com
ningué m em tanto tempo. Se Dahlia estava com medo de fazer isso, ela
nã o tinha ideia do que era medo. Elu estava desnudando seu corpo para
ela, este corpo que nunca pareceu certo em toda a vida de London.
Mas parecia melhor agora, devido ao tempo e à educaçã o. Amigos da
Internet. Coragem e testosterona.
E talvez, London percebeu, elu nã o quisesse compartilhar isso com
ningué m alé m de si mesme.
Elu sabia que suas roupas nã o escondiam exatamente o jeito que elu
parecia por baixo, que Dahlia nã o deveria se surpreender com nada que
ela estava vendo agora. Um binder só fez parte do todo. Mas ainda havia
esse medo, latejando na tê mpora de London, de que as coisas seriam
diferentes agora. Que Dahlia ê veria de forma diferente.
— Ei — Dahlia disse suavemente, movendo-se para se ajoelhar na
beira da cama, o olhar divertido em seu rosto desapareceu. — Você está
bem?
London conseguiu acenar com a cabeça, a garganta seca.
Dahlia olhou para elu por mais um momento, mas ela estava apenas
olhando para o rosto delu desta vez.
— Tudo bem se eu disser o que eu mais gosto? — Ela perguntou
baixinho.
London encontrou seus olhos e tentou um pequeno sorriso, tentando
agir normalmente.
— Todas as minhas coisas imperfeitas?
Ela assentiu seriamente.
— Sim.
London engoliu. E, eventualmente, elu acenou de volta.
— Essas manchas de sardas. — Dahlia estendeu ambas as mã os para
acariciar os ombros de London. — Sã o de matar — Ela passou as mã os,
alisando, tocando London da palma da mã o até a ponta do dedo, na
clavı́cula e no meio do peito. — E eu gosto disso.
London olhou para baixo para onde suas mã os descansavam. Elu
reprimiu um grunhido.
— Você gosta da minha barriga rechonchuda? Eu chamo de besteira.
— Sim. Embora eu nã o goste da palavra rechonchuda. — Ela fez
có cegas sobre a barriga, e London respirou fundo. — E macia e
adorá vel. Toda essa á rea, realmente… — Dahlia agarrou London ao
redor dos quadris com surpreendente agressã o. — E como, mmmph.
Carnuda e forte e eu gosto.
London olhou para ela, sem saber como responder a nada disso.
— E entã o, é claro, há o seu rosto. — Dahlia levantou as mã os dos
lados de London para gesticular aleatoriamente no ar. — E eu mal
posso falar sobre seus antebraços. — Dahlia fracassou de volta para a
cama, jogando os braços para os lados dramaticamente. — Eles sã o
absurdos.
Isso quebrou o feitiço.
London se ajoelhou ao pé da cama, corando, e pegou um dos
pezinhos de Dahlia.
— Carnudo… — Elu repetiu antes de levar o pé à boca e beijar seu
arco, dedos amassando seu calcanhar.
— Isso nã o é uma descriçã o aceitá vel? Eu disse que gostava.
Dahlia olhou para baixo em London acariciando seus pé s por um
momento antes de fechar os olhos, suas mã os distraidamente tocando
seu estô mago. Ela gostou disso. London gostou que ela gostasse disso.
— Isto é … Interessante — disse London. — Imperfeito e carnudo.
Existem descriçõ es melhores, provavelmente.
Elu trouxe seu dedã o do pé em sua boca.
— Tudo bem — disse ela, com a respiraçã o engatando. — Você é
muito sexy, e eu estou incrivelmente atraı́da para você . Melhor?
London pegou seu outro pé .
— Sim.
— Chate. — Dahlia murmurou.
Quando London se moveu para seus tornozelos e um zumbido feliz
escapou de seus lá bios, elu sorriu.
E quando elu se aproximara da cama novamente, entre suas pernas,
enquanto suas bocas e mã os se moviam até seus joelhos, suas coxas,
enquanto desabotoava seu short, enquanto a deslizava para fora de sua
calcinha, London diminuiu a velocidade. Elu se deixou verdadeiramente
absorver tudo isso.
Porque elu percebera que talvez ainda estivesse insegure. Nã o sobre
como elu se sentia sobre Dahlia, mas sobre como Dahlia se sentia sobre
elu. Aquele beijo na praia tinha sido… Espetacular. Mas mesmo um beijo
lendá rio era diferente disso, de corpos nus e desajeitados – o corpo de
London – de pele com pele em uma sala silenciosa.
London tinha o há bito de con iar nas pessoas quando lhe diziam
quem elu era. Elu esperava que, um dia, o universo estendesse essa
cortesia de volta para elu, ou pelo menos para a pró xima geraçã o. Que
um dia as pessoas pudessem simplesmente dizer Isso é quem eu sou e
nã o ser saudadas com baforadas incré dulas, com O que você quer dizer?
Entã o elu con iou que Dahlia era queer.
Mas o fato de ela ter estado apenas com David… London sabia,
enquanto elu pressionava beijos no estô mago de Dahlia, enquanto elu
movia a boca para os seios dela novamente, que elu ainda estava
paranó ique sobre ser um experimento. Parte de London estava
preocupade que, se chegasse a isso, a esse nı́vel de proximidade e
realidade, ela mudaria de ideia. Ela icaria envergonhada e se sentiria
culpada por isso, mas London aceitaria, e entã o tudo estaria acabado.
Mas cada barulho que Dahlia soltou, cada arrepio de seu corpo foi
uma a irmaçã o. London beijou os espaços macios e brilhantes debaixo
de seus seios, passou as mã os por seus lados. E quando a respiraçã o de
Dahlia icou mais pesada novamente, quando ela disse “Ah” e “Porra,
London”, e passou as mã os pelas costas delu, elu se permitiu acreditar
totalmente. Que ela nã o piscou quando London se despiu na frente dela.
Que ela nã o estava apenas tentando ser fofa quando listou as partes que
ela gostou. Que ela nã o ê via de forma diferente agora. Que Dahlia, de
fato, sempre ê tinha visto exatamente como era.
E que ela ê queria.
London arrastou seus lá bios para seu pescoço, afastando seu cabelo
grosso para melhor acesso.
— Ah — ela disse, sua voz soando deliciosamente drogada. — Eu
queria perguntar. — Ela limpou a garganta, piscou, e lutou para se
sentar. London recuou. — Eu sei que meu cabelo é tipo, uma coisa para
você .
— Bem — disse London, quase querendo rir de escutar isso. — E
bastante inevitá vel.
— Entã o você quer ele para cima ou para baixo?
London olhou para ela. Dahlia olhou ixamente de volta, e seus olhos
estavam brilhantes. Feliz. Nada incerto ou envergonhado.
— Para cima — London decidiu inalmente. — Melhor acesso ao seu
pescoço.
Dahlia alcançou o elá stico no pulso dela.
— Deus. — O calor se acumulou no estô mago de London enquanto os
dedos de Dahlia trabalhavam atravé s dos ios escuros, os braços
movendo-se sobre sua cabeça. Seus antebraços també m nã o eram
ruins. — Eu amo ver você fazer isso.
Dahlia olhou para elu enquanto terminava as ú ltimas voltas de seu
pulso.
— Você adora me ver arrumar meu cabelo?
— Sim. — London disse solenemente. — Você normalmente faz isso
quinze minutos antes de um desa io, no set. — Elu se inclinou para falar
em seu ouvido. — Isso me excita todas as vezes.
Dahlia exalou uma respiraçã o que London pensou que poderia ter
sido uma risada, mas que acabou soando como um chiado estrangulado
e agudo.
London moveu seus lá bios de volta para seu pescoço, mas Dahlia ê
empurrou para trá s novamente, levemente, seus dedos empurrando
seus ombros.
— Ok, espere. — Sorrindo, ela lambeu os lá bios e respirou fundo. Ela
mexeu os quadris, sentou-se mais reta. — Entã o, o que aconteceria se,
digamos, um dia eu usasse um elá stico particularmente defeituoso e,
depois de colocá -lo, isso acontecesse? — Dahlia arrancou o elá stico de
repente, e seu cabelo caiu em cascata ao redor de seus ombros
novamente. — E entã o — ela disse dramaticamente, gostando disso. —
Eu vou ter que tentar de novo, e…
Sua tentativa de varrer seu cabelo novamente foi interrompida por
London empurrando-a de volta para a cama.
— Você — sussurrou em seus lá bios. — E uma pessoa muito
desagradá vel.
Elu beliscou seu mamilo e beijou sua mandı́bula e seu sorriso se
transformou em um gemido.
Entã o, o cabelo de Dahlia icou solto, a inal.
Elu a beijou de novo, fervorose e preguiçose ao mesmo tempo, e
London sentiu agora como se elu nunca tivesse pertencido a nenhum
lugar tanto quanto pertencia aqui, com a lı́ngua na boca de Dahlia
Woodson, o corpo totalmente em cima do dela. As unhas de Dahlia
deslizaram para cima e para baixo em suas costas, levemente no inı́cio e
depois pressionando mais forte à medida que o beijo se aprofundava.
London adorou, a nitidez inegá vel, o menor indı́cio de dor.
Quando Dahlia enrolou uma perna em torno de uma delu, London
parou de pensar completamente. Já nã o havia provocaçõ es agora, nã o
havia mais perguntas. London queria sentir tudo dela. Elu queria fazê -
la se desfazer.
Elu beijou do pescoço até a clavı́cula. Sua pele estava aquecida,
pegajosa. Elu se moveu para mais abaixo em seu corpo.
— Espere — Dahlia disse. London parou para olhar para ela. — Volte.
— Ela acenou vagamente, mas com urgê ncia, e a falta de ar em sua voz
fez London obedecer imediatamente.
London falou em seu ouvido novamente, gentilmente desta vez.
— Eu estava esperando cair de boca em você . Você nã o gosta disso?
Tudo bem se você nã o izer isso, é claro, mas… — Elu beijou a pele logo
abaixo do ló bulo da orelha dela — Eu sou muito bor nisso.
Dahlia soltou um ruı́do em sua garganta que London nã o conseguiu
interpretar.
— Na pró xima vez. Eu acabei de… eu quero você aqui.
Ela passou os braços em volta de London e ê apertou ainda mais em
si mesma, para demonstrar. London deixou seu peso cair totalmente em
seu peito, fornecendo a pressã o e a proximidade que ela precisava,
deixando as palavras da próxima vez afundarem em sua pele.
Elu teve que se levantar um pouco, no entanto, para en iar a mã o
entre seus corpos e entre as pernas dela.
— Porra. — Dahlia disse isso tã o alto que London parou novamente
para olhar para ela com preocupaçã o. O toque foi muito repentino? Elu
pensou que tinha sido gentil, mas talvez ela precisasse de mais aviso?
— Desculpe — disse ela. Seu pescoço corou quando ela mordeu o lá bio.
— Você acabou de tocar tipo, o ponto exato certo imediatamente. Jesus.
Que ó timo. London poderia trabalhar com isso.
Elus mantiveram contato visual enquanto suas mã os se
reconectavam com esse exato ponto certo, o calor se espalhando por
suas entranhas enquanto observavam suas pupilas dilatarem, seu foco
icando nebuloso.
— Entã o isso é real o su iciente para você , entã o? — London tentou
nã o soar muito presunçose.
— Caralho — Dahlia conseguiu dizer antes de quebrar seu olhar,
inclinando a cabeça para trá s no travesseiro. Seus olhos se fecharam
quando a mã o de London começou a se mover em um cı́rculo mais
amplo. Um segundo depois, ela acrescentou, mais suavemente: — Sim.
London tentou manter o má ximo possı́vel de sua pele pressionada
irmemente contra a de Dahlia, como ela desejava, enquanto sua mã o
encontrava seu ritmo.
— Está tudo bem? — Elu perguntou, seus dedos deslizando ainda
mais para baixo de suas dobras.
— Sim. Uh-uh. Por favor — ela respirou, os olhos ainda fechados, e
London sorriu em seu ombro. Cuidadosamente, lentamente, elu moveu
seu dedo mé dio dentro dela, seus quadris movendo-se para frente
enquanto afundavam na junta. A boca delu caiu de volta para seu
esterno, lı́ngua saboreando em todos os lugares que podia alcançar
enquanto seu dedo trabalhava mais fundo dentro dela, a base de sua
palma esfregando contra seu clitó ris.
— Posso fazer mais? — Elu perguntara.
— Huh? — Os olhos de Dahlia se abriram, mas apenas um pouco, sua
voz á spera e confusa, como se London tivesse feito uma pergunta em
um idioma que ela nã o entendia. Deus, ela estava respirando com
di iculdade. E, Deus… London se sentia bem.
Elu falou mais deliberadamente desta vez.
— Posso colocar outro dedo dentro de você , Dahlia?
— Ah. — Seus olhos se fecharam novamente, e ela lambeu os lá bios.
— Ah. Hum. Nã o. Nã o, tudo bem. Isso é bom.
London sorriu, retirando o dedo antes de mergulhá -lo novamente,
aplicando mais pressã o em seu clitó ris.
— Apenas bom?
Ela gemeu.
— London — London inclinou o dedo para cima, mordendo
levemente seu ombro, e ela choramingou. Disse: — Você é ê pior —
seguido quase imediatamente por: — Ah, isso é tã o bom — e London
sentiu como se estivesse voando.
Ela nã o formou muitas frases coerentes depois disso, mas nada
importava para London como os barulhos que Dahlia estava fazendo
agora. A primeira vez que London fez sexo, elu icara praticamente em
silê ncio, envergonhade pelos sentimentos e sensaçõ es, mas Dahlia nã o
segurava qualquer coisa, e essa foi a coisa mais sexy que elu já
experimentara. Elu sentia como que seus suspiros e gemidos fizessem
parte delu, que seus suspiros corriam por seus pró prios pulmõ es. Elu
sentia cada som abençoado entre suas pernas.
London sabia que ela estava perto, suas paredes apertando em seu
dedo, sua perna apertada ao redor da coxa de London. Sua testa estava
franzida, sua mandı́bula apertada quase como se ela estivesse com dor.
— Dahlia — elu respirou, aumentando a velocidade de suas mã os, a
essê ncia de tudo de bom neste mundo girando em seus dedos, no
espaço entre as respiraçõ es irregulares de Dahlia.
E entã o ela icou subitamente silenciosa, silenciosa e trê mula, a boca
aberta, as mã os agarrando as costas. London observou seu rosto com
admiraçã o, ú mido e selvagem e ainda tã o devastadoramente bonito.
Elus estavam ambes quietes enquanto Dahlia se acalmava, testas
juntas, seus peitos subindo e descendo. Lentamente, London removeu o
dedo. Ela choramingou mais uma vez e entã o ê empurrou fracamente,
colocando um braço sobre os olhos.
— Eu… Eu nã o… — ela começou a dizer, mas quando London moveu
seu peso para o lado dela, dando a ambes mais espaço para respirar, ela
nunca terminou sua frase.
— Você está bem? — London perguntou suavemente, passando a
mã o sobre seu estô mago.
Dahlia nã o respondeu, nem moveu o braço. London começou a icar
preocupade. Elu queria ver os olhos dela. Elu observava sua respiraçã o,
tentando ser paciente. Seu cabelo espalhado sobre o travesseiro,
pequenos ios escuros colados em seu pescoço.
Finalmente, ela removeu o braço. Ela olhou para o teto.
— Você foi tã o boe nisso — disse ela. — E se eu nã o for boa em tocar
você ?
London estendeu a mã o e pegou uma de suas mã os. Elu a levou entre
suas pernas, suspirando quando os dedos de Dahlia chegaram ao seu
destino.
— Dahlia — elu disse —, nã o importa como você me toque, eu vou
gozar em aproximadamente trinta segundos.
Isso a fez sorrir, pelo menos. Ela se virou de lado, entã o elus icaram
cara a cara.
— Mas você gosta assim — ela disse suavemente, seus dedos se
movendo sob a mã o instrutiva de London. Elu levantou uma perna para
deitar em cima de sua coxa, para se abrir mais para ela.
— Sim — disse London, e elu pensou em tirar a mã o, para deixá -la
assumir. Mas entã o elu nã o fez isso.
Elu gostava disso, dizer aos dedos de Dahlia para onde ir, senti-la ê
sentindo. Elu gostava de estar no controle.
Quando elu olhou para ela, seus rostos a centı́metros de distâ ncia, ela
estava olhando para suas mã os unidas, e a pele de London se arrepiou
com a consciê ncia de ser estudade novamente. Depois de um momento,
ela olhou para cima para encontrar seu olhar.
— Oi — ela disse, e isso fez London rir, mas apenas por um segundo,
porque seus pulmõ es nã o tinham espaço para isso, suas vias aé reas já
sobrecarregadas pelas outras sensaçõ es correndo por seu corpo. Talvez
levasse mais de trinta segundos para vir, mas nã o demoraria muito. Elu
se sentia sem peso, um animal simples emparelhado com outro, todo
calor, necessidade e instinto.
Realmente fazia tanto tempo desde que algué m ê tocou. Elu pensara
que só poderia ser uma fantasia que um algué m pudesse ser Dahlia.
London manteve contato visual o má ximo que pode enquanto seus
dedos se moviam juntos, até sentir a pressã o aumentando e elu teve
que fechar os olhos, a testa empurrando a de Dahlia novamente. Elu
vagamente ouviu seus encorajamentos sussurrando, eu tô com você, eu
tenho você, que eram tã o sinceramente doces que o coraçã o de London
se sentiu bê bado com isso, mesmo que parte delu quisesse rir e
protestar, na verdade nós me temos, e entã o elu realmente se foi, seu
cé rebro congelado, suas entranhas em espasmos. Com um suspiro inal
e tonto, elu segurou sua mã o apertada e imó vel contra elu pelo tempo
que elus aguentaram antes de soltar seus dedos, a perna delu caindo de
sua coxa, rolando de costas para encher seus pulmõ es de ar.
London nã o tinha certeza, exatamente, quantos segundos ou minutos
se passaram enquanto elu recuperava o fô lego. Eventualmente, elu
reuniu pedaços su icientes de consciê ncia despedaçada para virar a
cabeça para ver Dahlia, ainda de lado, uma mã o sob a cabeça,
observando-u. Ela sorriu e passou os dedos pelo cabelo de London,
alisou-o da testa de novo e de novo.
— Obrigada — ela sussurrou.
London fechou os olhos enquanto os dedos de Dahlia percorriam sua
bochecha. Seus membros estavam pesados, seus mú sculos
profundamente relaxados, sua mente já mergulhando na escuridã o.
Elu deixou Dahlia Woodson embalar seu rosto quando elu
adormeceu, sentiu seu estô mago se acomodar contra seu braço
enquanto ela abraçava mais perto, e pelo menos naquele momento,
ambos os corpos pareciam, se nã o perfeitos, entã o maravilhosamente
reais. Os corpos de London e Dahlia eram carnudos e cheios de
cicatrizes e quentes, e elus se encostavam ume em outre: exatamente
como deveriam ser.
CAPÍTULO TREZE

Dahlia acordou muito antes de London, enquanto o cé u ainda estava


escuro.
Ela olhou para elu, como suas pá lpebras se contraı́am
ocasionalmente, seus cı́lios roçando suas bochechas sardentas, que
pareciam fantasmagó ricas na penumbra. Ela ouviu a cadê ncia constante
de sua respiraçã o, cheirou sua pele, olhou para seus lá bios ligeiramente
abertos.
E entã o ela começou a se sentir assustada com isso e se jogou para
pegar o telefone de seu short, amassado ao lado da cama.
Dahlia olhou o Instagram sem entender, curtindo cada post, mesmo
os chatos, mesmo aqueles que ela provavelmente nã o deveria gostar, de
pessoas que ela provavelmente nã o deveria mais seguir, que ela deveria
ter cortado depois do divó rcio como eles a cortaram. Ela os imaginou
olhando para o telefone com surpresa quando virem suas curtidas,
entrando nessa hora absurda. Dahlia se perguntou quantos deles
sabiam que ela estava aqui, que ela estava no Chef's Special.
Nã o, é claro que eles saberiam. Esse tipo de fofoca nã o passaria
despercebido. Ela se perguntou o que seus velhos amigos estavam
dizendo. Sim, ela deixou David sem dinheiro, e agora ela está se exibindo
na TV nacional? Fala sério. A audácia.
Dahlia jogou seu telefone na cama. Ela viu o cé u começar a clarear
atravé s das cortinas brancas transparentes. Ela pensou em se levantar,
tomar um banho. Mas ela nã o quis que London acordasse e pensasse
que ela ê deixou. Ela queria estar lá quando London acordasse.
Ela olhou para elu, ainda tã o silenciose, contente e inocente, e
segurou um grito, prendendo as mã os no cabelo.
Ela izera sexo com London Parker por dois motivos.
Um: ela queria. Ela realmente, realmente queria. E a Dahlia de LA
fazia o que queria.
Dois: Ela teve um dia horrı́vel no set, e ela pensou que sexo a faria se
sentir melhor.
Tinha feito, ela supô s. Ela certamente nã o dava mais a mı́nima para
su lê s.
Agora Dahlia se importava demais com todo o resto.
Quando ela pensou no beijo na praia, quando ela pensou no jeito que
ela pegou London olhando para ela à s vezes, ela pensou que o sexo
p g p p q
seria rá pido e sujo. Cru e satisfató rio. Ela nã o tinha previsto que
London beijaria cada centı́metro dela, lente e estudiose.
Embora em retrospectiva, é claro que ela deveria ter previsto isso.
Ela tinha visto London cozinhar. Ela sabia como elu era atenciose e
detalhista.
E é claro que o sexo signi icaria muito para London també m. Elu
tinha acabado de dizer a ela que nã o tinha dormido com ningué m desde
que se assumiu como nã o-biná rie. O olhar em seu rosto, quando se
despiu na frente dela. Ela queria se envolver com elu para sempre. Ela
era digna desse tipo de con iança?
Nã o. Ela nã o era. Ela sabia disso intrinsecamente.
Dahlia se enrolou de lado, olhando para seu quarto bagunçado. Na
camiseta macia de London, jogada no braço de uma cadeira. Ela
adorava as camisetas de London.
Deus. Ela bateu a mã o no rosto. Elas eram literalmente simples
camisetas. Provavelmente eram camisetas bonitas e caras, nã o as
especiais de US$5 da Target que ela usava, mas ainda assim. O que havia
de errado com ela?
O que estava errado com ela era que ela nã o esperava que o sexo a
desequilibrasse tã o completamente. Só de pensar nisso enviou uma
onda de calor entre suas pernas. Eram apenas seis da manhã e ela
estava completamente excitada. Ela queria acordar ê anje adormecide
London para que ela pudesse pule em cima delu, dizer “Ei, você pode ir
pra baixo de mim agora” e depois morder seu ombro sardento.
Ela apertou os olhos fechados e tentou tomar uma respiraçã o de ioga.
Sexo com David tinha sido excitante no ensino mé dio e na faculdade.
Ou pelo menos, ela tinha certeza que deveria ter sido. Mas desde que se
casaram, começaram a trabalhar, pularam de cabeça em suas vidas
adultas… Ela nã o conseguia se lembrar exatamente quando deixou de
ser bom. Eles estavam tã o cansados a maior parte do tempo, depois de
longos dias de trabalho e longas viagens. Eles ainda faziam sexo, à s
vezes, embora cada vez menos com o passar do tempo.
Durante o ú ltimo ano, especialmente, quando suas brigas estava em
seu pior momento, o sexo quase fez Dahlia chorar. Porque o sexo nã o
estava dando a David o que ele queria. Ela se perguntou se ele ainda
queria isso, ou se o ato apenas reforçou sua decepçã o. Era tudo o que
ela conseguia pensar nas ú ltimas vezes. Sinto muito, não posso deixar
seu esperma penetrar em um dos meus óvulos e se implantar na parede
uterina. Ela começou a pensar em seu corpo como um recipiente, cheio
de vazio e dor, um que ela havia escolhido para tomar do mundo. Podia
ser um recipiente vazio, mas era dela.
Certamente ela nã o tinha esquecido completamente que o sexo
poderia simplesmente ser sobre o prazer, certo?
Certamente nã o houve chupar o dedo do pé com David. Ou beliscar o
mamilo, ou lamber o pescoço. A cada segundo que London estava
tocando seu clitó ris, ou deslizando o dedo dentro e fora dela, elu estava
tocando outra coisa, beijando-a em outro lugar, e isso fazia tudo parecer
muito mais intenso, como fogos de artifı́cio explodindo por todo o lugar
até que ela corpo perdeu o rastro, e tudo o que ela conseguia pensar era
Oh sim, é por isso que as pessoas gostam de sexo e Deus, como um dedo
solitário pode se sentir tão bem lá e por que essa pessoa está sendo tão
legal comigo e acho que esqueci que tenho tanta pele e foda-se porra
caralho.
E quando London segurou sua mã o enquanto elu gozava, segurando-
a para elu… Era surpreendentemente sexy. David sempre se afastava
quando gozava; ela gostou de como London se inclinou para ela em vez
disso, apertou suas testas juntas, de modo que ela testemunhou cada
emoçã o em seu rosto, inalou sua respiraçã o. Ela queria que elu guiasse
sua mã o por todo o corpo para que ela pudesse aprender cada ponto
gracioso que fosse bom.
Cada coisa sobre a noite passada tinha sido diferente de tudo que ela
já experimentou: mais suave, mais quente, mais terno. Nã o era apenas
prazer; isso foi… proximidade.
Claro, foi quando Dahlia estava ruminando sobre isso que London
acordou.
Coisa que elu fez com um gemido gutural. E se Dahlia já nã o estivesse
molhada, bem…
— Olá — Dahlia disse, esperando que isso soasse como um olá
normal, e nã o um olá você -me-fode-de-todo-o-jeito.
London esfregou os olhos antes de olhar para ela.
— Você icou acordada por um tempo? Você parece acordada.
— Pode ser.
Elu esticou os braços acima da cabeça.
— Você é totalmente uma pessoa matinal, nã o é ?
— Pode ser.
Ela totalmente era. Mesmo que nã o fosse por isso que ela acordou
tã o cedo hoje.
London gemeu novamente.
— Claro que você é . — E elu parecia tã o irritade que a encantou até
os dedos dos pé s, quebrando seu devaneio, e ela nã o pô de evitar. Ela
sorriu tanto que suas bochechas doeram.
— Que horas sã o?
Dahlia olhou para o reló gio na mesa de cabeceira.
— Dez para as seis.
London sentou-se.
— Você está falando sé rio? Dahlia, temos que estar no set à s seis e
quinze! Droga. Eu tenho que fazer meu cabelo!
London rolou para fora da cama, jogando as roupas furiosamente.
— Você tem que fazer o seu cabelo? — Dahlia repetiu, tentando
manter o riso fora de sua voz.
— Sim.
— E para isso que eles tê m cabelo e maquiagem, no set.
— Elas nã o fazem do jeito certo! — London gritou.
Agora Dahlia riu.
— Eu odeio você — disse London, entrando em suas calças.
— Nã o odeia nã o.
— Sim, é verdade. Você vai se vestir agora, ou o quê ?
Dahlia se vestiu enquanto London corria para seu quarto para que
pudesse vestir roupas limpas també m. Quando ela entrou no corredor,
London estava esperando por ela, parecendo atormentade e adorá vel, e
elus se apressaram para o set, London segurando a mã o de Dahlia o
tempo todo.
Exceto que isso nã o estava exatamente certo. London nã o estava
segurando a mã o de Dahlia; elu estava agarrando-a, segurando-se pela
preciosa vida. Como se estivesse tentando lhe dizer algo.
Elu só deixou soltar quando abriram a porta do estú dio. No momento
em que Dahlia e London entraram, Janet apareceu na frente delus.
— Dahlia Woodson, você passou por um tornado a caminho? — Ela
deu um tapinha no topo do coque encaroçado na cabeça de Dahlia,
franzindo a testa. — Cabelo e maquiagem, agora mesmo. E você s dues
— ela apontou para elus por sua vez, dando uma olhada por cima dos
aros de seus ó culos, casco de tartaruga — Se você s tornarem um há bito
chegarem atrasades e desgrenhades assim, preparem-se para um
assistente estar estacionado do lado de fora suas portas com uma
buzina à s cinco horas em ponto. E sé rio. Eu tenho buzinas. Eu vou usá -
las.
Janet balançou a cabeça e virou-se para se afastar, murmurando:
— Eu juro, negó cios indecentes, todas as temporadas — sob a
respiraçã o.
Dahlia nunca se sentiu mais grata por ser repreendida por Janet. Isso
a fez se sentir calma, de alguma forma. Ela teve que lutar contra o
desejo de persegui-la. Pedir a ela para gritar com ela um pouco mais.
Talvez, se ela conseguisse, Janet pudesse ser uma querida e despejasse
um pouco de á gua gelada sobre a cabeça de Dahlia.
Claro, Janet nã o fez isso, porque a vida era cruel, mas Dahlia ainda
tinha um momento de paz no cabelo e maquiagem, longe da nuvem de
luxú ria e sentimentos de London Parker. Foi só quando Mack estava
puxando o cabelo dela é que ela compreendeu a ú ltima coisa que Janet
disse enquanto se afastava.
Negó cio indecente. Cada temporada! Meu Deus.
Quem estava fazendo negócios indecentes a cada temporada?
Foram Chloe e John? Da quinta temporada? Dahlia sempre pensou
que algo estava acontecendo com eles. Ou espere – Dahlia quase
engasgou em voz alta – foram Patrick e Tony, da temporada passada? O
ó dio um pelo outro era evidente, mas talvez esse ó dio fosse apenas
tensão sexual.
Dahlia tinha que falar com London sobre isso.
Demorou Dahlia mais do que deveria para lembrar por que sua
cozinha parecia tã o vazia.
Barbara.
Dahlia tinha esquecido, momentaneamente, em sua né voa sexual,
que Barbara se foi.
— Finalmente. — Janet apareceu na frente dela, olhando para seu
telefone. — Você s estã o prontos. London, aqui em cima.
As mã os de Dahlia congelaram, no meio de amarrar o avental atrá s
das costas.
Uma batida passou. Janet olhou para cima.
— Parker — ela retrucou, olhando para alé m da porta atrá s do
ombro de Dahlia. e, em seguida, apontou. — Você está tomando o lugar
de Barbara. E torne isso rá pido, pelo amor de Deus.
Janet se afastou entã o, murmurando baixinho. Mas antes de sair, seus
olhos encontraram os de Dahlia, por apenas um segundo. E Dahlia viu.
Janet estava sorrindo.
Dahlia engoliu.
Seus olhos permaneceram focados na estaçã o à sua frente, sua tá bua
de cortar, suas lindas facas brilhantes, mas ela sentiu a presença de
London ao lado dela quando elu inalmente se mudou.
— Bem — elu disse. — Isto é bom.
Dahlia se permitiu um breve olhar na direçã o delu. A mandı́bula de
London estava tensa.
— Certo — Dahlia disse, alisando suas mã os em seu avental. — Bom.
— Quero dizer, tudo bem que esta nã o seja a estaçã o que eu me
acostumei a cozinhar no ú ltimo mê s — London continuou. — E que eu
fui jogade aqui sem aviso e meu cabelo está ruim e agora nã o posso
olhar para sua bunda quando estou ansiose, e estamos ilmando em
dois segundos. Tudo está bom.
Dahlia olhou para elu, uma risada surpresa presa no meio de sua
garganta. Mas se London estava surtando, entã o Dahlia nã o poderia
surtar. Isso foi ú til.
— Seu cabelo parece bom — disse ela. Porque literalmente parecia
exatamente o mesmo de sempre. A manhã que ela bateu na porta delu
antes de sua viagem para o oceano foi a ú nica vez que ela já tinha visto
um pouco torto. E, bem, ontem à noite, quando ela varreu a testa delu,
estava suada e...
— Espere — ela disse. — Você olhou para a minha bunda?
— Nã o, principalmente seu cabelo. Nã o sei por que acabei de dizer
sua bunda. Eu olhava para sua bunda à s vezes.
Dahlia balançou a cabeça, sorrindo.
— Você ainda pode olhar para minha bunda, se quiser. Apenas me
diga quando precisar.
London soltou uma explosã o de risadinhas nervosas, o que foi tã o
hilariamente fora do personagem, e Dahlia se sentiu confortada que
talvez ambos estivessem enlouquecendo.
No entanto, quando as câ meras começaram a rodar, a né voa de
luxú ria e sentimentos se instalou ao redor dela novamente, cada cé lula
de seu corpo consciente de London ao lado dela, seus braços, seu
pescoço, seus quadris, suas mã os. Ela conscientemente ignorou a
presença de Jacob no inı́cio da competiçã o; era mais fá cil focar dessa
forma. E entã o Barbara tinha sido tã o nã o intrusiva, tã o agradá vel, que
cozinhar ao lado dela tinha sido uma brisa.
Mas agora todo o poder cerebral de Dahlia estava sintonizado para
garantir que seu cotovelo nã o roçasse o cotovelo de London. Ela mal
ouviu os juı́zes dizendo a eles sobre o desa io de hoje. Até que ela se
lembrou com um sobressalto que ela quase foi eliminada ontem.
Ela piscou, rangendo os dentes. Ela poderia passar por isso. Ela tinha
que passar por isso. Ela se recusou a ir para casa agora.
Dahlia tirou seu pequeno caderno do bolso de trá s, com sua capa de
bolinhas e pá ginas desgastadas, enquanto os seis concorrentes
restantes se reuniam em torno da demonstraçã o familiar, mesa que
tinha sido empurrada para o Cı́rculo Dourado. Um grande frango cru
depenado estava em cima. London estava ao lado dela quando Tanner
começou sua demonstraçã o de como cortar o frango corretamente. A
camiseta de algodã o delu roçou no braço dela, tã o macia e maravilhosa,
e sé rio, London nã o queria ir falar com Cath ou algo assim? Dahlia
precisava se concentrar.
E depois de alguns minutos, ela fez. Como Dahlia observou Tanner
cortar uma faca de desossar com autoridade na carne e ossos da
galinha, em vez do pâ nico e incerteza que a inundaram durante alguns
dos primeiros desa ios, ela agora tomou notas e pensou, eu posso fazer
isso.
E era por isso que ela estava aqui.
Ela foi emparelhada com Ahmed para o Frente-a-frente, uma partida
perfeitamente neutra. Eles sorriram um para o outro antes que o
cronô metro começasse, e Dahlia se sentiu bem. Ou mais perto de tudo
bem. Ela desmontou aquela galinha como uma patroa. Suas mã os
estavam irmes. Ela se sentiu quase ela mesma novamente, sexo
alucinante quase esquecido. A galinha desconstruı́da de Dahlia era
claramente melhor que a de Ahmed, e quando os trê s juı́zes
con irmaram, seu peito se encheu de orgulho.
— Dahlia, Cath, Khari… Você s descobrirã o sua vantagem antes do
Desa io de Eliminaçã o. — Audra sorriu para eles. — Agora, preparem-
se para levar essa con iança para a Inovaçã o de Ingredientes.
Quando as câ meras foram desligadas para uma pausa, Dahlia voltou
para sua estaçã o. Ela havia jogado seu caderno no balcã o e estava se
preparando para lavar as mã os quando London se aproximou. Elu nã o
disse nada, mas suas mã os roçaram a dela antes de envolver o dedo
mindinho em torno de seu dedo mindinho para um aperto rá pido.
E entã o London continuou andando sem olhar para trá s.
Dahlia olhou para seus pé s, tentando esconder seu sorriso bobo.
Talvez ela pudesse fazer isso, trabalhar ao lado delu. Talvez ela
merecesse um aperto de dedo mindinho depois de fazer um bom
trabalho.
O ingrediente secreto para a Inovaçã o de Ingredientes hoje era o
maracujá — Uma fruta muito comum e popular em outros paı́ses, mas
menos conhecida nos Estados Unidos — como explicou Sai Patel.
Embora Dahlia tivesse consumido seu quinhã o de coisas com sabor de
maracujá , ela nunca havia trabalhado com a fruta em si: uma casca cor
de ameixa com um excesso de sementes dentro, coberta de polpa
gelatinosa laranja brilhante. Era, no seu conjunto, uma coisa
extremamente estranha. Dahlia adorava coisas extremamente
estranhas. Elas lembravam que a Terra estava cheia de surpresas.
Dahlia se inclinou sobre a bancada antes de ir para a despensa,
caneta pousada sobre seu caderno. Ela decidiu fazer um coulis de
maracujá , porque nunca tinha feito um coulis antes. Talvez superasse
alguns copos de cheesecake simples, mas decadentes, que seriam fá ceis
de fazer em quarenta minutos. Uma crocâ ncia de bolachas trituradas no
fundo, riqueza cremosa no meio, o coulis doce, mas azedo por cima. Ela
nã o tinha ideia se seria muito simples, mas ela já tinha uma vantagem
no Desa io de Eliminaçã o. Ela se sentiria bem em tentar algo novo, pelo
menos.
Mas vinte minutos depois, ela estava menos certa.
O coulis estava bom, mas a consistê ncia estava certa? Deveria ser
mais grosso?
Ela se virou sem pensar.
— London. — Elu ergueu os olhos de sua pilha de sementes de
maracujá . — Você pode provar isso?
Dahlia levantou uma colher de coulis aos lá bios de London, sua outra
mã o equilibrada embaixo para pegar qualquer gota que caı́sse.
Os olhos de London encontraram os dela por apenas um segundo
antes que elu abrisse a boca e aceitasse a colher.
Assim que as pontas dos dedos de Dahlia roçaram os lá bios de
London, ela percebeu seu erro.
Os competidores foram autorizados a dar conselhos uns aos outros.
Provar a comida um do outro era aceitá vel.
Mas alimentar um ao outro, tã o perto seus dedos roçaram os lá bios
de seu concorrente, sua outra mã o pairando perigosamente perto do
queixo de seu concorrente, tentando seu polegar a descer pela garganta
de seu concorrente, bem… Isso provavelmente nã o era normal.
Dahlia baixou as mã os do rosto de London, corando. Os olhos de
London estavam ixos nos dela enquanto engolia, e Dahlia se sentiu
impotente para fazer qualquer coisa alé m de olhar para os mú sculos de
sua mandı́bula, sua garganta, trabalhando de forma sedutora.
Lentamente, desnecessariamente, London mostrou sua lı́ngua para
deslizar ao longo de seu lá bio, maldite, e Dahlia sentiu seu coraçã o
bater atrá s de sua caixa torá cica, a calma que ela trabalhou toda a
manhã para conseguir se despedaçou mais uma vez.
Parecia tã o natural voltar-se para London e pedir conselhos dessa
maneira, levar a colher à boca delu. Ela tinha feito isso sem pensar.
Uma visã o invadiu sua mente. Ela e London em uma cozinha de
verdade, nã o de tamanho industrial em um aparelho de TV de Burbank.
Ela imaginou os olhos de London sobre ela enquanto ela socava massa
fresca. Jogando farinha em seu nariz. Levando a colher de pau do molho
até a lı́ngua delu, repetidas vezes, para aprovaçã o.
Elus comeriam a refeiçã o fresca, de pé lado a lado na cozinha ilha,
enquanto bebiam vinho direto da garrafa, como haviam feito no pá tio
do hotel naquela noite. Dahlia revirava os olhos enquanto London
zombava de seu sauvignon blanc, e ê chamava de pretensiose por seu
pinot noir superfaturado. Haveria uma janela acima da pia, embaçada
pela á gua fervente, e London acariciaria sua nuca enquanto lavava a
louça, ligeiramente embriagade, ocasionalmente espirrando á gua com
sabã o por cima do ombro para elu.
E depois que os pratos estivessem prontos, London empurraria
Dahlia para cima do balcã o, onde ela pularia alegremente, envolvendo
os braços em volta do pescoço e abrindo as pernas e...
— Eu nã o mudaria nada.
Dahlia fechou a boca. Ela nã o tinha percebido que estava aberta. Ela
ergueu o olhar, longe dos lá bios de London, onde ela també m nã o tinha
percebido que ela estava olhando para os olhos delu, que estavam
enrugados nas laterais, mal contendo um sorriso maroto.
— Sobre o coulis — London forneceu. — E realmente ó timo.
Dá lia engoliu.
— Certo. Obrigada.
— Talvez eu pudesse provar també m, Srta. Woodson?
Dahlia quase tropeçou para trá s ante a voz retumbante de Tanner
Tavish, justo ao lado dela. Quando ela olhou, ela notou as duas câ meras
atrá s do ombro de Tavish, apontadas diretamente para ela.
— Claro. — Dahlia girou e deu um passo atrá s para seu lado da
estaçã o, as bochechas em chamas.
As câ meras provavelmente ilmaram toda a interaçã o. Elus estavam
tã o perto ume de outre. A voz de Barbara ecoou no ouvido de Dahlia:
Pergunte a qualquer um nesta competição, e eles dirão que London quer
ser mais do que amigue do Instagram. Quando os episódios começarem a
ser exibidos, aposto que as pessoas em casa também poderão ver.
Dahlia se perguntou, brevemente, se Janet tinha visto seu cabelo de
negó cios indecentes esta manhã e se apressou para o resto da equipe
de produçã o para dizer: “Você sabe o que devemos fazer? Mover Parker
ao lado de Woodson. Fique de olho nesses dois, ok? O pú blico vai comer
essa merda.”
Dahlia nã o queria acreditar que Janet faria isso.
Mas a TV era um negó cio, a inal.
Uma onda de ná usea percorreu seu estô mago.
Tentando ignorá -lu, ela voltou para seu coulis, de volta ao conforto da
comida e à sua pró pria mente.
Sua mente, que tinha acabado de fazer uma coisa engraçada.
Havia muitas facetas sem sentido da fantasia que Dahlia acabara de
ter, antes que as câ meras a arruinassem. Havia o fato de que ela e
London estavam atualmente vivendo em um hotel, claramente carente
de cozinhas aconchegantes e fumegantes. E que quando elus voltarem
para suas respectivas cozinhas, longe do Chef's Special, ume estava
muito em Nashville, enquanto a outra permaneceu em Maryland. Como
haviam estabelecido. Como havia sido estabelecido, desde o inı́cio.
E de qualquer forma, Dahlia já havia provado que era
espetacularmente ruim em felicidade domé stica. Ela nã o aprendeu
nada? A ideia de decepcionar London como ela havia decepcionado
David – se London també m quisesse felicidade domé stica – fez seu
estô mago afundar nos dedos dos pé s como uma pedra.
Alé m disso, elus dormiram juntos uma vez. Seu cé rebro realmente
devia estar confuso. Ela pensou que esta manhã tinha icado
impressionada com o quã o bom o sexo era, mas agora aqui estava ela,
decorando mentalmente sua cozinha imaginá ria. Ela precisava se
acalmar porra.
Exceto que London, aparentemente, també m nã o estava muito calme.
Assim que a equipe os chamou para um intervalo depois que a parte
culiná ria do Inovaçã o de Ingredientes terminou, London esperou até
que todos os outros competidores saı́ssem do set, em direçã o aos
serviços de artesanato ou aos banheiros, antes de pegar a mã o de
Dahlia e puxá -la para longe, uma alcova atrá s do set de entrevistas solo.
Elu empurrou ela contra a parede, as mã os deles descendo pelos
lados dela, a testa pressionando a dela, e foi tudo muito rá pido,
surpreendente e impressionante. Nã o há mais apertos secretos do
mindinho, entã o. Dahlia tentou segurar seu suspiro trê mulo a sensaçã o
repentina de London totalmente pressionade contra ela novamente.
— Diga-me o que você estava pensando mais cedo — disse London,
os lá bios a centı́metros dos dela. — Quando você me deu seu coulis
para provar e seus olhos icaram vidrados.
— Eu nã o quero. — Dahlia se encolheu com o quã o infantil isso soou.
London inclinou a cabeça para o lado para chupar a orelha de Dahlia,
enquanto rolava seus quadris levemente para frente.
— Conte-me. — A respiraçã o deles fez có cegas em sua bochecha.
O sangue trovejou nos ouvidos de Dahlia. Ela engoliu.
— Você está muito autoritá rie e sexy agora, você sabia? Sé rio, foi
impressionante. Nota 10 para você .
— Dahlia.
Ela tentou tirar o devaneio de cozinhar-com-London-em-nossa-casa-
aconchegante de sua mente, mas honestamente, todo o negó cio com
London agora estava apenas melhorando. As coisas que elu poderia
fazer com ela contra aquela ilha de cozinha imaginá ria…
— Eu estava pensando no que poderı́amos fazer — Dahlia disse
depois de um momento, com a mente correndo —, com comida.
Isso nã o foi tecnicamente uma mentira.
Mesmo que a implicaçã o em sua voz nã o fosse o que estava na cabeça
de Dahlia.
Mas ela estava totalmente abatida com a implicaçã o que tinha
acabado de sair de sua boca també m, entã o, tanto faz. Boa defesa,
cé rebro.
London congelou.
— Vou precisar de mais detalhes, Woodson.
— Bem… Chantilly é um pouco clichê , certo? Entã o talvez outra coisa.
London icou quiete por um momento.
— Eu nã o sei — elu murmurou em seu cabelo. — Se for chantilly
caseiro, pode valer a pena.
Dahlia sacudiu a cabeça, sentindo-se mais irme agora.
— Nah, isso envolve muita agitaçã o. Eu preferiria que você
mantivesse sua força de pulso para outras coisas.
Uma gargalhada explodiu da garganta de London, e Dahlia sorriu,
relaxando ainda mais. Deus, ela adorava fazer London rir.
— Talvez mel. Ou caramelo — ela disse. — Exceto que esses icariam
bem pegajosos, provavelmente. Nó s bagunçarı́amos os lençó is.
— Eu diria que qualquer coisa que estamos pensando aqui
provavelmente icará muito bagunçado, Dahlia. Felizmente, estamos
morando em um lugar que emprega uma equipe de limpeza para ajudar
com isso.
Dahlia franziu o cenho, afastando-se alguns centı́metros.
— Isso é meio rude, no entanto? Os camareiros tê m um trabalho
bastante difı́cil.
— Eles tê m que limpar os lençó is de qualquer maneira.
— Eu acho.
— Dahlia. Qual é sua fruta favorita?
— Mirtilos — ela disse automaticamente. London riu novamente. —
O quê ? — Ela perguntou defensivamente.
— Estou apenas imaginando despejar um pote de mirtilos em cima
de você e tê -los rolando por toda parte. Nã o parece muito… E iciente.
Dê o nome de outra fruta.
— Melã o.
London considerou.
— Podemos trabalhar com isso. Mesmo assim, Dahlia, essa é uma
fruta horrı́vel.
— Ok, Intrometide. Qual é sua fruta favorita?
— Nectarinas.
— Oh. Boa escolha.
— Tenho muito bom gosto.
Dahlia se inclinou para beijá -lu no momento em que os sons de
outros competidores se arrastando de volta para suas posiçõ es
atingiram seus ouvidos, muito perto.
— Quer passar na Vons depois que terminarmos de ilmar? —
London perguntou. — Você pode dirigir.
Dahlia pegou uma das mã os de London e plantou um beijo na palma
da mã o.
— E um encontro.
CAPÍTULO QUATORZE

London jogou as sacolas da Vons na mesinha de seu quarto de hotel.


— Entã o, devemos fazer um plano. — Elu começou a descarregar as
mercadorias. Dahlia riu.
— Esse é o tipo de coisa que você planeja? Nã o deveria ser tipo…
Espontâ neo e bagunçado?
London tentou nã o se sentir aborrecide. Dahlia foi quem implantou
toda essa ideia em sua cabeça, mas ela passou metade de sua viagem a
Vons rindo e corando. O que tinha sido fofo, por um lado, mas London
també m estava cansade e pronte para começar a trabalhar.
E obviamente o sexo seria melhor se fosse planejado.
— Tudo bem — elu bufou, cruzando os braços. — Entã o por onde
começamos?
Dahlia pegou a lata de chantilly, abriu a tampa e esguichou um jato
direto em sua boca.
— Ficar nues —Ela disse, abafada por sua boca cheia de açú car e
produtos quı́micos.
Ela era realmente insuportá vel. E caramba, London ia tirar a camisa
desta vez.
De maneira engraçada o su iciente, a irritaçã o delu desaparecia com
cada peça de roupa que elus tiravam. Havia menos nervos, menos
barulho desta vez, mas se alguma coisa, a tensã o no corpo de London
era ainda maior. Elu sabia como ela se sentia agora. Seu corpo já estava
aprendendo melhor a desejá -la.
Ter que icar ao lado dela o dia todo tinha sido uma tortura. O tipo
mais requintado de tortura.
Em poucos minutos, elus estavam emaranhados em volta ume de
outre na cama, joelhos e coxas empurrando entre os outros, peito a
peito, a lı́ngua de Dahlia tã o doce na boca de London. Era satisfató rio
como o inferno sentir como ela já estava escorregadia enquanto se
esfregava contra elu. Elu pensou novamente sobre aquele olhar em seu
rosto quando ela lhe pediu para provar aquele coulis, e elu se
perguntou, com um arrepio de sensaçã o na espinha, se ela esteve tã o
molhada para elu o dia todo.
— Ok. — Elu se afastou de repente, antes que qualquer um deles
icasse muito fora de controle, para pegar a lata que ela havia deixado
na mesa de cabeceira. — Vamos fazer isso.
— Oh — Dahlia disse, mordendo o lá bio. — Nó s nã o temos que
realmente - quero dizer, isso é …
London interrompeu pressionando o bico uma, duas vezes. Duas
rajadas perfeitas de chantilly para dois peitos perfeitos.
Ela explodiu em risadas e deu um soco no braço de London.
— Jesus.
— Você é a ú nica que nã o tinha um plano. Este é o meu plano. — Elu
se inclinou e lambeu um mamilo até limpá -lo. Mesmo quando elu a
sentiu enrijecer, sua respiraçã o aumentar um pouco, ela ainda estava
rindo. London se inclinou, ainda na mã o, e colocou uma grande
quantidade de creme no nariz antes de retornar ao outro seio. — Pare
de rir.
Mas ela nã o o fez. Dahlia estava praticamente fora de si quando ela
estava gritando sobre o melã o, que London tinha tirado da bolsa em
seguida, ser muito frio. E embora fosse realmente divertido, London
estava deslizando rapidamente de volta para o aborrecimento. Elu se
recostou nos calcanhares.
— Esta foi sua ideia, você sabe.
— Eu sei. — Dahlia prendeu a respiraçã o. — Eu sei. — Ela engoliu
em seco, tentando abafar um sorriso. — Eu sinto muito. Estou melhor.
Tente outra coisa.
London se inclinou sobre a cama e vasculhou a sacola de compras,
extraindo uma nectarina.
Elu sentiu, na mercearia, como essas nectarinas eram macias e
maduras. O que era raro, para a seçã o de hortifrú tis de uma rede de
supermercados, onde a fruta normalmente chegava dura como uma
rocha, preservada para maior vida ú til. Enquanto London segurava a
fruta de caroço na mã o, sua pele tã o macia quanto a de Dahlia por baixo
delu, elu se sentiu, verdadeiramente, abençoade.
Elu deu uma mordida grande e bagunçada. Elu deixou o suco
escorrer pelo queixo, sentindo-se um pouco selvagem. Elu apertou a
fruta um pouquinho na mã o, sentindo outro rastro de suco translú cido
deslizar pelo braço. A boca de Dahlia se contraiu enquanto seu sorriso
suavizou, desaparecendo. Depois de um segundo, seus lá bios se
separaram ligeiramente.
— Ah — ela disse.
London descansou a casca aberta da nectarina na pele de Dahlia. Elu
começou pelo lado dela, a curva suave que se estendia da barriga até o
quadril, antes de arrastá -la sobre o estô mago. Elu estava montade em
seus quadris, mas agora se moveu mais para baixo, seus joelhos
apoiados no lençó is entre as pernas, que se abriram ainda mais para
elu. Elu arrastou a nectarina para dentro de sua coxa direita e depois a
esquerda, aproximando-se provocativamente, antes de traçar a fruta até
suas panturrilhas, observando cada contraçã o de seu corpo, ouvindo
cada uma de suas respiraçõ es profundas e á speras.
Elu rastejou de volta sobre seu torso, concentrando-se em irmar-se
com uma mã o e roçar a suculenta carne laranja de volta em seu
estô mago com a outra, até que estivessem cara a cara novamente.
Dahlia nã o estava mais rindo.
Seu rosto estava frouxo, a boca aberta, mas seus olhos eram
selvagens, ainda mais escuros que o normal, dois poços negros de
desejo. Sentindo-se inteiramente satisfeite consigo mesme, London deu
outra mordida ruidosa na nectarina.
— Porra — Dahlia disse. — London, me fode.
London nã o se moveu por um momento, mastigando, deixando o som
do pedido de Dahlia passar por elu.
— London — Dahlia disse novamente. Ela agarrou a nectarina de sua
mã o e atirou-a na parede. Elu a ouviu bater, primeiro no armá rio e
depois no chã o, com dois baques surdos. — Me fode agora. — Ela
lambeu os lá bios e depois um pouco mais suave: — Com a boca.
E agora London estava totalmente selvagem.
Elu beijou seu estô mago, seguindo o rastro da nectarina descartada,
e enquanto a doçura de seus sucos se derretia com o sal da pele de
Dahlia, um delicioso redemoinho em sua lı́ngua, London decidiu que
esta era a melhor ideia que Dahlia já teve. Elu estava muito grate por
dormir com uma gê nia.
Depois que se estabeleceu entre suas pernas, fez uma pausa,
massageando a coxa de Dahlia. Ela estava tremendo.
— Ei — London sussurrou, tentando esfriar sua pró pria adrenalina
crescente. — Você está bem?
— Nã o — disse ela, e London olhou para cima para encontrar seu
braço pendurado em seus olhos novamente. — Nem um pouco.
London franziu a testa.
— Você quer parar?
Ela balançou a cabeça vigorosamente por baixo do braço.
London massageou sua coxa um pouco mais.
— Preciso de uma con irmaçã o verbal, Dahlia.
Ela suspirou dramaticamente.
— Seria bom ver seu rosto també m — elu se arriscou.
Seu braço caiu, mas seus olhos permaneceram focados no teto.
— Você pode me beijar? — ela perguntou. London foi como um raio
para cumprir.
— Desculpe — ela disse quando elu pairou sobre sua boca. Ela
revirou os olhos um pouco e fez gestos engraçados com as mã os que
London viu com o canto dos olhos. — Eu acabei de... — London esperou
que ela completasse seu pensamento, sem tirar os olhos dela. —
Sentimentos — ela inalmente terminou. E ela suspirou.
London beijou seus lá bios, suavemente, com o que elu esperava que
fosse toda a ternura que sentia por ela naquele momento. Era
fascinante, vê -la ser bagunçada e vulnerá vel assim. Entendendo que ela
nã o tinha as palavras certas, exatamente, porque à s vezes nã o havia
palavras certas, mas sabendo que ela estava sentindo algo grande, e
parando para reconhecê -lo. Dahlia era talvez a pessoa mais
emocionalmente honesta e perceptiva que London já conheceu, e isso
machucou seus coraçã o por saber que ela nã o achava isso uma
qualidade admirá vel. London nunca tinha admirado mais ningué m.
Quando você estava perto de algué m que sentia tudo, fez você se
sentir como se pudesse sentir tudo també m. Como se as profundezas
do mundo fossem de repente ilimitadas.
— Ok. — Dahlia se separou, assentindo. — Estou pronta para icar
impressionada com seus talentos, ou qualquer outra coisa.
London sorriu para ela. Elu a beijou por mais tempo. E entã o elu
retomou sua posiçã o entre as pernas dela, onde começou com beijos
mais suaves, empurrando as pernas para cima e afastando ainda mais,
esfregando os polegares ao longo das dobras delicadas de suas coxas e
seu traseiro, antes de usar uma mã o para abrir os lá bios e lambê -la
onde ela merecia ser lambida.
Os gemidos que ela soltou deixaram London menos inibide com seus
pró prios gemidos, pressionando perto para que ela pudesse sentir as
vibraçõ es de seus lá bios, sua lı́ngua em seus lugares mais sensı́veis,
antes de iniciar um ritmo circular constante em torno de seu clitó ris.
— London — elu ouviu seu murmú rio.
Elu olhou para ela entã o, nunca parando a atividade de sua boca, e a
viu olhando para elu, acariciando preguiçosamente um de seus seios.
London manobrou um dedo dentro dela.
A cabeça de Dahlia caiu para trá s, seus olhos se fechando.
— Você pode colocar mais desta vez?
Quando London moveu um segundo dedo, elu sentiu algo mudar
dentro dela, de alguma forma. Como se estivesse se soltando para elu,
por dentro e por fora.
— Mais um, talvez — ela respirou.
London teve que levantar a boca, para ter certeza de que elu estava
sendo cuidadose com ela.
— Diga-me se nã o estiver tudo bem — elu disse, ajustando seus
dedos dentro dela para fazer caminho para um terceiro. Os olhos de
Dahlia permaneceram fechados, mas sua boca se abriu silenciosamente
quando London sentiu o caminho para dentro. Elu parou, esperando
que ela se ajustasse.
— Sim — ela disse sem fô lego um momento depois, assentindo. —
Isso é bom.
Com essa con irmaçã o, a lı́ngua de London voltou a funcionar, e com
um gemido, Dahlia se soltou completamente. Ela empurrou seus
quadris para elu, e London trabalhou com ela, para encontrar o ritmo
perfeito de dedos, boca, estocadas.
Quando London olhou para ela novamente, ela estava com os dois
braços acima da cabeça, os dentes cravados no lá bio inferior. Parecia o
oposto de sua linguagem corporal na noite passada, quando ela
precisava de London por perto, o corpo delu prendendo o dela,
mantendo-a segura. Esta noite... era como se ela estivesse deixando seu
corpo livre. Este era o seu prazer, e London simplesmente teve a sorte
de testemunhar isso.
Ela tinha um gosto bom na boca de London. Ela se sentia bem nas
mã os de London. Mas London sentiu como se ela se sentisse bem
consigo mesma, esta noite, e isso nã o fez nada disso parecer sujo.
Parecia lindo.
Elu se sentou nos calcanhares, depois que Dahlia se desfez, e a
observou. Ela nã o cobriu o rosto desta vez, mas deixou a cabeça cair
para o lado, uma mã o sobre ela peito, sentindo seu pró prio batimento
cardı́aco. London passou a mã o gentilmente por sua coxa. A cabeça delu
parecia pesada, a garganta grossa, tudo nelu cheio e quente.
Finalmente, ela afastou a bochecha do travesseiro. Ela olhou para elu
e estendeu a mã o em direçã o ao rosto delu. London se inclinou para ela,
abaixando sua bochecha em sua palma.
— London — ela disse suavemente. — O que você quer?
London pensou nisso. Elu olhou para sua pele ú mida, seus olhos
turvos. Ela parecia tã o contente.
Elu precisava de algo mais do que isso? Isso parecia o su iciente. Isso
parecia mais do que elu jamais fora capaz de imaginar.
— Posso deitar de bruços? — elu perguntou depois de um minuto.
Dahlia saiu do caminho para que London pudesse ocupar o centro da
cama.
— Minhas costas. — London fez um gesto com a mã o assim que elu
se estabeleceu. — Somente… faça algo aı́.
Dahlia nã o riu, nem fez nenhum comentá rio, nem fez nada alé m do
que London pediu. Ela estendeu a mã o para o lado da cama, farfalhando
na sacola de compras. E entã o London sentiu algo escorrer entre suas
omoplatas, viscoso e frio. Seu caminho continuou pela espinha, até o
có ccix, enviando um arrepio pelos braços de London, pela parte de trá s
das pernas.
E entã o Dahlia começou a massagear.
Os olhos de London estavam fechados, sua cabeça virada para longe
dela enquanto respirava sobre os travesseiros, mas elu podia imaginar
tudo sobre ela. Elu estava assistindo Dahlia usar suas mã os por
semanas. Quando as palmas de suas mã os cravaram em sua pele, elu
imaginou como ela estava batendo a massa para seu pappardelle. Os
dedos que carinhosamente espalham azeite e especiarias sob a pele do
frango eram os mesmos dedos que agora massageavam seus ombros e
seus lancos com força e cuidado.
London sempre considerou cozinhar uma forma de arte, de terapia,
uma expressã o de amor e intençã o. Sem todas as aulas de culiná ria de
sua babá , sua cozinha quente e ú mida de fogõ es quentes e á gua
fervente, a infâ ncia de London teria sido uma paisagem muito mais
solitá ria. Ainda hoje, cozinhar emprestou London uma sensaçã o de
controle que muitas vezes lhe faltava no resto de sua vida. Elu nã o
podia controlar seu pai, ou como seus genes haviam sido con igurados
em seu cé rebro, ou a impressionante desigualdade do mundo.
Mas podia fazer su lê s, bolos e o bife mais tenro. Elu podia fazer o
que quisesse.
Fazia sentido para London que cozinhar tivesse ajudado Dahlia em
seu divó rcio. Claro que tinha. Elu observou como isso a acalmava,
sempre que ela tinha uma faca nas mã os, um conjunto de ingredientes
na frente dela e um plano em sua mente. Isso os acalmava da mesma
maneira. Elus se entendiam nisso, um entendimento que London nunca
havia compartilhado com mais ningué m.
E assim, enquanto as mã os de Dahlia trabalhavam em suas costas,
enquanto ela espalhava o que elu pensavam ser melã o ao longo de sua
pele, elu sabia, sem ter que ver, o olhar de concentraçã o que estava em
seu rosto, relaxado e focado ao mesmo tempo. Desde que viu Dahlia
Woodson estripar um peixe, elu queria sentir aquelas mã os sobre elu,
descascando suas pró prias camadas espinhosas. Talvez Dahlia estivesse
descobrindo suas escamas, sorrateiramente, uma ponta a iada de cada
vez, pouco a pouco ao longo do ú ltimo mê s, até este exato momento,
seu corpo lexı́vel e macio em suas mã os, quando elu inalmente se
sentiu totalmente limpe.
Dahlia se inclinou e usou sua boca. Ela começou na parte de trá s de
seu pescoço, fazendo seu caminho ao longo de suas omoplatas,
descendo pelos lados. Ela fez um zumbido satisfeito.
— London — disse ela. — Você tem um gosto delicioso.
London sorriu.
— Esta foi uma boa ideia.
As mã os de Dahlia tinham embalado London em um estado quase
meditativo, mas sua lı́ngua despertou outras sensaçõ es no centro de
London. Depois de alguns momentos de ê xtase, elu abriu as pernas.
— Toque-me.
London levantou seus quadris para fora da cama para lhe dar melhor
acesso. Os dedos de Dahlia ê tocou, na medida certa, enquanto sua
lı́ngua continuava a acariciar suas costas, seus ombros, seus mamilos
roçando suas costas, e era tudo que London precisava, tudo que elu
queria, começar a espiralar por dentro, mais apertado, mais leve, até
que as sensaçõ es se condensassem em uma coluna de calor. Elu atirou
cegamente um braço atrá s delu, pressionando Dahlia em suas costas.
Ela beijou o ponto onde o pescoço delu encontrava o ombro,
murmurando o nome delu, e elu pensou, atravé s da né voa inebriante de
sua mente, que podia se ouvir dizendo o dela em resposta.
E entã o London caiu, enrolando de repente fora de seu estô mago em
uma bola, e ela caiu de lado com elu, deslizando os braços ao redor
delu, segurando-ê com força, a pele entre elus ainda pegajosa e doce.
Dahlia icou sob o luxo de á gua quente por um ú ltimo segundo antes
de, com relutâ ncia, se inclinar para desligá -lo.
Afastando a cortina do chuveiro, ela olhou para London na frente
dela, esfregando vigorosamente uma toalha na cabeça antes de envolvê -
la sob as axilas. Elu olhou para ela, aquele pedaço ú mido de cabelo
morango su icientemente despenteado e adorá vel, a pele vermelha e
ú mida do vapor quente.
— Ei. — London sorriu. E entã o, seus olhos se estreitando um
centı́metro, elu disse: — Você está bem?
Dahlia agarrou a toalha que lhe entregou, envolvendo-a de forma
protetora.
Elu estava sempre perguntando isso, no momento exato em que ela
nã o tinha ideia de como responder.
A noite anterior tinha sido, alternadamente e à s vezes
simultaneamente, a coisa mais engraçada e eró tica que ela já havia
experimentado. Ela tinha amado cada segundo disso. Cada momento
com London era uma nova experiê ncia em deixar-se levar. Um exercı́cio
de ser vulnerá vel. Um ensaio de felicidade verdadeira e exaltada. Ontem
à noite, ela sentiu... livre.
O ú nico curso de açã o ló gico quando elus acordaram com membros
emaranhados nos quadris em lençó is muito bagunçados foi um banho
quente e completo juntes. E enquanto Dahlia a princı́pio pensou que
este poderia ser um empreendimento igualmente sexy – ela sempre
quis tentar sexo no chuveiro! – ambos os corpos estavam muito
exaustos para contemplá -lo.
Em vez disso, a cena no chuveiro acabou sendo quase
embaraçosamente gentil.
London lavou cada centı́metro quadrado da pele de Dahlia nos
limites do chuveiro, curvando-se desajeitadamente para icar entre as
coxas, atrá s dos joelhos, a sola dos saltos e entre todos os dedos dos
pé s. Ela continuou gritando com elu, preocupada que elu caı́sse no
ladrilho molhado e batesse de cabeça, mas entã o elu a tocou com uma
atençã o tã o reverente que ela icou sem palavras novamente.
Havia remendos de si mesma, dolorida pela determinaçã o com que
London havia sugado a doçura pegajosa dela, chocada com sendo vista
e adorada, que ela nã o tinha certeza se já tinha percebido antes.
Ela tentou retribuir o favor, esfregando as costas e ombros de
London, todas as suas fendas escondidas, querendo fazê -lu sentir-se
limpe, renovade e cuidade.
E agora, enquanto ela estava pingando do banho, ver London se secar
e escovar os dentes, coisas tã o comuns e ı́ntimas, Dahlia se sentiu
desgastada nas pontas. Como se ela se sentisse grande demais para seu
corpo, de repente, como se nã o soubesse como proceder sem que seus
membros se des izessem.
— Vou precisar de outra toalha para o meu cabelo — ela disse
eventualmente, apontando frouxamente para sua cabeça. —Este é um
caso de duas toalhas.
— Claro. — London entregou a ela outra toalha e ela amassou o
cabelo, grata por uma açã o prá tica e normal.
— Você nã o me respondeu — London disse enquanto elu observava.
— Você está bem? Você parece... um pouco trê mula.
Dahlia torceu a toalha em cima de sua cabeça.
— Eu estou... cansada. Você está me esgotando, London Parker.
Um sorriso empurrou um canto de sua boca.
— Eu pediria desculpas, mas você sabe, eu realmente nã o me sinto
mal.
Dahlia sacudiu a cabeça, mas també m sorriu. London presunçose e
sexy era demais.
— Acho que preciso de uma noite para recuperar o sono — disse ela.
— Tudo bem? Podemos desmoronar em nossas pró prias camas hoje à
noite e pegar isso de volta amanhã ?
Quanto mais ela pensava sobre isso, mais ela sabia que precisava
disso. Um suspiro de alı́vio agridoce a percorreu.
— Isso soa muito razoá vel e saudá vel. Eu quero dizer, eu nã o adoro,
mas com certeza, se você gosta desse tipo de coisa. — London deu um
passo mais perto do chuveiro. Elu se inclinou e beijou seu ombro.
— Obrigada — disse ela. E entã o ela saiu do chuveiro para começar a
se preparar para o dia.
Foi só mais tarde, quando elus entraram no set, prestes a ilmar
outro Desa io de Eliminaçã o que poderia resultar em qualquer um
delus sendo mandade para casa, que Dahlia percebeu seu erro.
Ela havia sugerido uma noite de folga. Que elus peguem isso de volta
amanhã .
Como se outra noite estivesse garantida.
Como se amanhã fosse uma promessa.
CAPÍTULO QUINZE

— Dahlia! — A mã o de Janet pousou no ombro de Dahlia. — Vamos


para cabelo e maquiagem. Parker, você está bom.
Dahlia deu a London um pequeno encolher de ombros, que elu
devolveu, antes que ela seguisse Janet pelo corredor. Quando chegaram
ao cabelo e maquiagem, Janet se sentou em uma das cadeiras pretas ao
lado de Dahlia, girando um pouco enquanto Mack desamarrava o cabelo
ainda ú mido de Dahlia do prendedor em que ela o havia jogado.
— Bom dia, querida. — Mack sorriu suavemente para ela, como
sempre fazia. Mack foi gentil, tranquilizador.
Janet, por outro lado, parecia empolgada. Ela sempre foi intensa,
Janet, mas dessa forma controlada e intimidadora. Hoje sua perna
saltou no anel de prata na parte inferior da cadeira, um sorriso
ligeiramente selvagem empoleirado em seu rosto sob seus ó culos de
armaçã o magenta.
O fato de que ela estava sentada aqui, ao lado de Dahlia, em vez de
correr pelo set, preparando todo mundo para o dia, era... estranho.
Realmente estranho.
Oh Deus. A ansiedade começou a rastejar dentro do intestino de
Dahlia. Janet parecia estranhamente feliz, mas talvez ela estivesse
tentando encobrir alguma coisa, preparando Dahlia para um golpe. Algo
estava errado? Aconteceu alguma coisa com Hank? A mã e ou o pai dela?
— Janet? Algo está errado?
— Ah!
A explosã o exuberante de Janet assustou Dahlia tanto que ela pulou.
Mack franziu a testa.
— Desculpe. — Janet limpou a garganta, amarrando os dedos na
frente dela. — Nã o, Woodson, por uma vez, nada está errado. Na
verdade, a oitava temporada está indo incrivelmente bem.
Janet se inclinou para frente em sua cadeira.
— Dahlia, você deve saber que as classi icaçõ es do Chef's Special
estã o despencando nas ú ltimas temporadas.
Dahlia respirou profundamente pelo nariz. Seu coraçã o estava
sensı́vel desde a noite anterior, toda a confusã o dos ú ltimos dias, e tudo
o que ela queria era passar por outro dia de cozinha e depois se
enroscar na cama por dez horas. Ela nã o dava a mı́nima para as
classi icaçõ es e nã o fazia ideia de por que Janet estava falando com ela
sobre elas.
— Há tantos programas de culiná ria agora, em todas as plataformas
— continuou Janet, acenando com a mã o no ar —, na Net lix, em todos
os outros serviços de streaming aleató rios que parecem surgir todos os
meses hoje em dia, até mesmo no YouTube. Chef's Special é chapé u
velho agora. Estamos perdendo espectadores a torto e a direito. Mas...
— Janet se recostou na cadeira, um sorriso satisfeito no rosto. — Como
eu previ, London Parker mudou tudo isso.
O pescoço de Dahlia girou para Janet tã o rapidamente que doeu.
Mack fez um tsk baixinho.
— London? O que você quer dizer?
— Bem, você sabe, há toda a coisa do Time Lizzie contra o Time
London…
— Como é?
— Oh. — As sobrancelhas de Janet se ergueram, parecendo
genuinamente surpresa. — Achei que você estaria seguindo. — Ela
tirou o telefone do bolso e fez uma busca rá pida antes de entregá -lo.
A ansiedade nas entranhas de Dahlia mudou de forma,
transformando-se em algo mais pró ximo de um fantasma, sussurrando
em seus pulmõ es enquanto ela lia a manchete aberta no navegador de
Janet.
Os fãs do Chef's Special se posicionam: você é #TimeLizzie ou
#TimeLondon?
Dahlia examinou o artigo, incré dula. Sua boca se abriu.
— Mas… mas Lizzie e London di icilmente conversam no set. Como
as pessoas sabem que nã o gostam ume de outre? Que Lizzie tem um
problema com London?
Pela primeira vez desde que cumprimentou Dahlia dez minutos
atrá s, Janet parecia desconfortá vel.
— No primeiro episó dio, quando os juı́zes estavam elogiando o
cordeiro de London. Uma das câ meras pegou Lizzie revirando os olhos.
E entã o… Lizzie disse algumas coisas, em uma de suas entrevistas
individuais.
— O quê? — Dahlia ergueu os olhos do telefone. Ela sentiu como se
continuasse falando em letras maiú sculas, mas nã o havia outra maneira
de responder. — O que ela disse?
Janet torceu a boca para o lado, como se tivesse provado algo azedo.
— Isso nã o é importante. Nenhuma coisa... nada que poderia
surpreendê -la, ou London.
Ela se inclinou para frente, colocou uma mã o no joelho de Dahlia.
— De qualquer forma, nã o é por isso que eu queria falar com você .
Você sabe que somos todos Time London, certo?
Janet olhou signi icativamente para Mack. Que parecia visivelmente
desconfortá vel, mas acenou para Dahlia em con irmaçã o.
Dahlia sentiu como se nã o pudesse respirar.
Se Janet fosse realmente #TimeLondon, ela teria exigido que
editassem essa porra de entrevista.
Se o Chef's Special fosse #TimeLondon, eles nã o estariam usando
London como peã o.
— A briga entre London e Lizzie aumentou nossa audiê ncia
imediatamente. Mas entã o — Janet sorriu, sua mã o ainda no joelho de
Dahlia —, lá estava você. — Ela se recostou na cadeira novamente. — Eu
esperava alguma atençã o extra da mı́dia quando London nos informou
que elu estaria no programa, mas eu nã o esperava você .
Janet sorriu, olhos brilhantes.
— Seu heroı́smo, correndo para o lado de London quando elu se
cortou com o peixe. E depois há a maneira como elu olha para você ... A
internet só está louca porque é difı́cil fazer um bom nome de shipp de
London e Dahlia. Acredite em mim, nossa equipe está trabalhando
nisso, mas estamos icando sem ideias, també m. Quando o episó dio da
semana que vem for ao ar e todo mundo ver você s dois rindo durante o
bar mitsvá , meu deus…
O telefone de Janet, que Dahlia ainda estava segurando, caiu da mã o
de Dahlia, atingindo o chã o com um barulho metá lico que parecia muito
alto em seus ouvidos. Ela ia vomitar. Se o izesse, apontaria para o rosto
de Janet.
— Dahlia — Janet disse, inclinando-se para pegar o telefone com
uma carranca. — Você deve ter visto alguns dos comentá rios online,
certo? Eu sei que as pessoas estã o explodindo em seu Instagram. Você e
London sã o muito adorá veis.
— Você está olhando meu Instagram?
— Claro que estamos — Janet disse, com naturalidade, como se isso
nã o devesse ser uma surpresa.
Mas era. Parecia que Dahlia havia entrado em uma realidade
alternativa do Chef's Special. Uma onde ela era a estrela, mas por
nenhuma das razõ es que ela queria. Razõ es que nã o tinham nada a ver
com suas habilidades culiná rias.
Ela nã o tinha visto os comentá rios on-line. Desde a praia na semana
passada, depois que o primeiro episó dio foi ao ar e ela viu todas as
coisas horrı́veis que as pessoas estavam dizendo sobre London, ela
desligou todas as noti icaçõ es em seu telefone. Assim como ela
aconselhou London a fazer.
E ela estava... ocupada. Com outras coisas. Como se iludir acreditando
que tinha entrado em um relacionamento privado, aparentemente.
Ela engoliu bile nas costas, enquanto Janet estava sentada, inclinando
a cabeça com um olhar estranho no rosto.
Dahlia mordeu o lá bio, sacudindo-se mentalmente. Nã o... Ela sabia.
Ela sabia que ela e London estavam na TV nacional. Barbara a havia
avisado. Seu pró prio cé rebro havia dito a ela, ontem no set, quando ela
escorregou e agiu muito ı́ntima com London e viu as câ meras se
aproximando, seu cabelo de negócios indecentes ontem. Nada disso deve
ser uma surpresa.
Mas tudo parecia demais, de repente. Esta conversa. As duas ú ltimas
noites com London. Tudo.
— Por que você está me contando tudo isso?
Janet se inclinou.
— Vai haver uma oportunidade hoje no set. Está tudo funcionando
perfeitamente. Você , Cath e Khari tê m a vantagem do Frente-a-frente de
ontem.
O Frente-a-frente? Dahlia mal conseguia se lembrar. Ontem já parecia
muito tempo atrá s.
— Você vai conseguir salvar outro competidor. Você poderá escolher
entre London ou Lizzie. Ou Ahmed, mas ele nã o é realmente importante
aqui. — Janet acenou com a mã o. — Entã o é isso que estou pensando —
ela continuou, sorrindo, como se isso fosse genuinamente divertido
para ela. — Khari e Lizzie sã o pró ximos, entã o imagino que ele vai
querer lutar por ela.
— Khari e Lizzie sã o amigos? — Dahlia icou tã o impressionada com
isso que cortou seu cé rebro temporariamente desligado.
Janet revirou os olhos.
— Você e London nã o saberiam, mas sim, outros competidores
també m izeram amizade um com o outro, Dahlia. De qualquer forma,
imagino que Khari lutará por Lizzie. E será sua oportunidade de
realmente lutar por London, explicar por que elu merece mais a
vantagem do que Lizzie. Uma con iguraçã o clá ssica do Time Lizzie
versus Time London, com um pouco de romance. E ouro.
Janet recostou-se na cadeira.
— Eu pensei em avisá -la para que você esteja preparada quando
estiver lá em cima, para que você possa pensar em algumas coisas
realmente boas sobre Lizzie ou algo assim. — Janet bufou. — Eu
poderia pensar em alguns bons comentá rios sobre Lizzie.
Dahlia abriu a boca, mas Janet ainda estava falando.
— A coisa boa? — Janet bateu na lateral da cadeira, balançando a
cabeça. — E que Lizzie e London sã o concorrentes tã o fortes. Eu posso
ver a inal sendo Time Lizzie contra o Time London de verdade, e cara,
esse provavelmente seria o nosso inal mais assistido de todos os
tempos.
Ela fez uma pausa, seu sorriso vacilando novamente por um
momento.
— Novamente — ela estendeu a mã o para Dahlia —, somos todos
totalmente Time London. Certo? — Ela olhou para Mack novamente. —
Certo?
— Certo — Mack murmurou, dando os retoques inais no cabelo de
Dahlia, parecendo descontente.
Mesmo com o quã o nebuloso o processo de pensamento de Dahlia se
sentiu nos ú ltimos quinze minutos, algo se in iltrou pelas frestas agora.
Uma dor lenta e viscosa, como um mel sem doçura.
Havia alguma possibilidade na mente de Janet? Que poderia ser
Dahlia na inal em vez disso?
Algué m era Time Dahlia?
Ou seu ú nico propó sito aqui era ser uma anedota fofa, a desastrada
engraçada, um papel coadjuvante para o Time London?
Estar com London a fez se sentir mais viva, mais conectada a outra
pessoa do que ela talvez já tivesse se sentido em sua vida.
Mas naquele exato momento – um contraste confuso com o quanto
ela també m queria ser o Time London, com quã o violentamente ela
queria para defender sua honra momentos antes – Dahlia de repente se
sentiu agudamente sozinha.
— Eu pensei… — Ela inalmente disse, engolindo. — Achei que o
Chef's Special nã o tinha roteiro. Como você sabe quem estará na inal?
— Ah! — Os olhos de Janet se arregalaram de surpresa. — Nã o, nã o,
eu estava apenas cuspindo sobre a inal. Mesmo que eu tenha a
tendê ncia de acertar essas coisas, depois de fazer isso por tanto tempo.
Mas desculpa, você tem razã o; Estou me empolgando um pouco. Foi
uma manhã emocionante, recebendo os ú ltimos nú meros e tudo mais.
Mas nã o, Dahlia. — O rosto sé rio de produtora de Janet se instalou
novamente, o que Dahlia conhecia, o que ela havia achado
reconfortante anteriormente. — Se eu iz você questionar a integridade
de nossos juı́zes por um segundo, eu sinceramente sinto muito. Tudo
que Sai, Tanner e Audra fazem no set é legı́timo. Nada está
predeterminado. Eles levam essa competiçã o muito a sé rio. Assim como
eu. Chef's Special tem sido minha vida há oito temporadas. Amo o que
faço e sou boa nisso. O julgamento é sempre autê ntico, mas é meu
trabalho garantir que as pessoas realmente sintonizem para esse
julgamento. Você sabe?
Um assistente en iou a cabeça na porta.
— Oi, Janet. Estamos prontos para começar em breve? Os
concorrentes estã o icando impacientes.
Janet deu um aceno curto.
—Cinco minutos.
Dahlia nã o tinha ideia de como ela voltaria para o set depois disso.
Ela queria rastejar em um buraco escuro.
Janet se levantou. Ela limpou a poeira invisı́vel de suas calças.
— Você vai se sair muito bem hoje, ok? Estamos todos tã o felizes que
você ainda está aqui. Vá pegá -los, Woodson.
Depois de dar um aceno para Mack, Janet deu um tapa no ombro de
Dahlia e sorriu antes de ir embora. Como se isso tivesse sido uma
reuniã o inspiradora antes do grande jogo.
Dahlia piscou, ouvindo os passos de Janet desaparecendo, o ritmo
combinando com as batidas solitá rias do coraçã o de Dahlia.
London franziu a testa.
— Tem certeza que está bem? — Nã o pela primeira vez hoje, elu
colocou as costas da mã o na testa de Dahlia. Ela o empurrou para longe,
os olhos correndo ao redor do set.
— London, sé rio, estou bem — ela sibilou.
— Você está pá lida. E… suada.
— Obrigada pelo aumento de con iança. Concentre-se no seu bolo,
ok?
Ela voltou para seu pró prio trabalho, esmagando furiosamente
framboesas em uma pequena tigela de cerâ mica, seus lá bios uma linha
ina. London franziu a testa mais profundamente, mas fez o que foi dito.
O Desa io de Eliminaçã o de hoje era sobre bolos, e London també m
era sobre bolos. Elu estava fazendo sexo fantá stico com uma pessoa
fantá stica. Tudo sobre hoje deveria ter sido incrı́vel.
Exceto pelo fato de que Dahlia parecia que ia desmaiar. E mal falava
com elu.
Ainda assim, tudo estava indo relativamente bem com os
preparativos do bolo de London – café , farinha, açú car, chocolate e
hortelã , medidos, dobrados e misturados – até que o reló gio parou
inesperadamente. Bem no meio do Desa io de Eliminaçã o, os nú meros
vermelhos na mesa dos juı́zes pararam repentinamente faltando
exatamente quarenta minutos.
Sai Patel chamou sua atençã o. As mã os dos seis competidores
restantes pararam na borda de suas assadeiras, em suportes de
batedeira, enroladas em colheres dentro de tigelas de glacê .
— Dahlia, Cath e Khari — Sai continuou. — Por favor, vã o até a mesa
dos juı́zes.
London tentou lançar um sorriso tranquilizador para Dahlia o que
quer que isso fosse. Ela enxugou as mã os enfarinhadas no avental, o
rosto sombrio, e nã o olhou para trá s uma vez.
Certo. Dahlia estava obviamente bem.
— Vamos mudar as coisas. Você s trê s, por favor, podem se sentar
atrá s da mesa dos jurados? — Sai gesticulou atrá s dele para a dramá tica
mesa da frente com o reló gio congelado. London assistiu Dahlia
assumir o lugar de Tanner Tavish, ladeada por Cath e Khari de cada lado
dela. London nã o pô de deixar de sorrir. Ela poderia estar se recusando
a admitir que tinha caı́do com a peste ou que seu apê ndice estava
prestes a estourar ou algo assim, mas Dahlia ainda parecia bem lá em
cima.
— Você sabe… — Sai andou casualmente pelo Cı́rculo Dourado,
juntando os dedos na frente dele. — Ter a responsabilidade de fazer
todas as decisõ es à s vezes cansam. Você s trê s ganharam uma vantagem
no Frente-a-frente de ontem. E desta vez, é um grande problema. Agora,
você s vã o escolher uma pessoa aqui — Sai apontou para os trê s
competidores restantes em suas estaçõ es — uma pessoa que você s
escolhem salvar, agora. Eles podem parar de assar neste segundo e
deixar descansar até o pró ximo episó dio, sã os e salvos.
Sai se virou para enfrentar a mesa dos juı́zes.
— Você s també m vã o escolher uma pessoa para colocar em
desvantagem. A pessoa terá que terminar o bolo quinze minutos mais
cedo.
As sobrancelhas de London se ergueram. Droga. Isso era uma
desvantagem intensa.
Assar era tudo uma questã o de tempo. Elu foi informade de que
teriam sessenta minutos para assar. Nã o havia literalmente nada que
você pudesse fazer se seu bolo já nã o estivesse no forno.
— Isso parece duro, chefe — Cath expressou em voz alta.
Sai sorriu bem-humorado.
— Possivelmente. Mas se você tivesse cronometrado tudo bem, você
já teria planejado tirar o bolo do forno quinze minutos antes para
permitir que esfrie antes de aplicar a cobertura. Essa desvantagem
simplesmente exigirá algum pensamento criativo. Você tem trê s
minutos para decidir.
Sai fez um grande show con igurando um cronô metro em seu
smartwatch.
— Vã o.
Khari e Cath se aproximaram de Dahlia. Ela nã o disse nada durante
os primeiros trinta segundos, seu rosto estranhamente em branco
enquanto Khari e Cath falavam acaloradamente ao redor dela, suas
vozes um murmú rio baixo. London estava pensando em chamar o
mé dico. Claramente havia algo acontecendo com Dahlia.
E entã o ela franziu a testa, profundamente, cruzando os braços na
frente do peito, e pulou na conversa. Ela parecia chateada. London
queria muito beijá -la.
— Dez segundos!
Dahlia revirou os olhos e suspirou, inclinando-se para as costas da
cadeira de Tanner Tavish.
— Eee o tempo acabou! — Sai estalou os dedos. — Mesa dos juı́zes,
estamos prontos para sua decisã o. Khari, quem tem quinze minutos a
menos para assar hoje?
— Ahmed — disse ele.
Ahmed gemeu e abaixou a cabeça.
— E, Dahlia, quem é a alma sortuda que consegue tirar o resto do dia
de folga?
Dahlia fechou os olhos brevemente. Quando ela os abriu, ela olhou
para o lado do set, fora da câ mera. London olhou na direçã o de seu
olhar, confuso. Para quem ela estava olhando? Janet?
Dahlia abriu a boca. E nã o foi até que sua lı́ngua levantou para rolar
um L que London sequer pensou sobre o que ela ia dizer. Nã o foi até
que ela terminou com izzie que London percebeu que elu tinha certeza
de que ela diria outra coisa.
Parecia errado. Parecia errado, nas entranhas de London, ouvir
aquele nome sair da boca de Dahlia.
London sabia que era apenas uma vantagem boba para um drama
extra. Que este era apenas um programa de TV. Mas elu també m sabia
que teria lutado para salvar Dahlia, se a situaçã o fosse invertida, para
dar-lhe paz de espı́rito extra, se pudesse. Elu nunca teria concordado
em salvar Lizzie.
Quem estava totalmente ofegante, atrá s delu. London se virou para
vê -la apertar as mã os no coraçã o.
— Parabé ns, Lizzie! Você pode guardar seu avental para o dia e ir
descansar os pé s. — Sai Patel abriu seu sorriso premiado.
— Oh! — ela vibrou. — Uau! Mas…
London pensou ter visto a boca de Sai Patel se contorcer.
— Você se importa se eu terminar o bolo mesmo assim? —
perguntou Lizzie. — Já estou na metade; Eu odiaria ver um bom bolo
ser desperdiçado!
— Ai meu Deus — London murmurou.
Mas Sai Patel permitiu. Dahlia, Cath e Khari foram liberados de volta
aos seus postos.
— London — Dahlia disse com urgê ncia enquanto ela refazia seu
avental. — Desculpe, isso foi...
— O reló gio está funcionando de novo — disse London. — Você
deveria trabalhar em seu ganache.
Elu sentiu sua pausa ao lado delu, o peso que se abateu sobre sua
posiçã o.
London partiu os palitos de hortelã -pimenta com talvez um
pouquinho mais de força do que o necessá rio.
No entanto, foi satisfató rio ver Dahlia pular com cada estalo alto de
seu martelo. Assistindo uma confecçã o só lida quebrar em cacos a iados.
Enquanto Dahlia trabalhava em seu bolo ao lado delu - esponjas de
chocolate com camadas de framboesa gelé ia, coberta com ganache
decadente – London sabia, em algum lugar na parte ló gica de seu
cé rebro, que nã o havia como Dahlia querer que isso acontecesse. Cath
també m. Khari deve ter pressionado para salvar Lizzie.
Como muitos dos outros competidores – todos que se sentaram em
um silê ncio constrangedor durante aquele jantar de boas-vindas
semanas atrá s – London nunca tinha certeza de onde elu estava com
Khari. Ningué m mais tinha pisado naquela noite como Lizzie tinha. Mas
isso nã o signi icava necessariamente nada. Talvez Khari pensasse que
elu era uma abominaçã o també m.
De qualquer jeito. Dahlia deveria ter lutado mais por elu do que
Khari lutou por Lizzie.
London se sentiu bem com o bolo; elu nã o estava preocupade com a
eliminaçã o. Elu nã o precisava da vantagem.
Mas quando Dahlia disse o nome de Lizzie, tudo o que Lizzie
representava foi trazido das profundezas do subconsciente de London
para a vanguarda de seu cé rebro. Doloroso, presente, impossı́vel de
ignorar.
A verdade era que London tinha icado muito boe em ingir que
Lizzie nã o existia no set, mas elu estava apenas ingindo ingir. Como
elu ingia com seu pai. Como se ingisse quase todas as horas de todos
os dias que estava em pú blico.
O fato de que London sempre estar cercade por pessoas que nã o
aprovavam sua identidade ou nã o a entendiam nã o era um fato que
pudesse ser simplesmente ignorado. London poderia afastá -los para
existir. Mas isso estava sempre à espreita nas sombras, deixando
London em guarda sobre como deveria agir, o que deveria dizer na
frente de outros seres humanos.
Estava tã o acostumade a esse modo de existê ncia que só
compreendia verdadeiramente as profundezas disso quando imaginava
como seria o oposto. Se houvesse uma sociedade onde todos
rejeitassem o biná rio, onde as normas de gê nero nã o existissem, onde
os corpos fossem apenas corpos, todos reais e vá lidos e igualmente
humanos, e você nã o precisasse se preocupar com o que as pessoas
estavam assumindo ou nã o assumindo sobre você .
A ideia fez London parecer tã o leve e livre que só entã o sentiu
plenamente o peso do estresse invisı́vel que carregava, compactado em
seus ossos.
Exceto que elu nã o sentia esse estresse quando estava com Dahlia.
Quando London estava sozinhe com Dahlia, seu subconsciente podia se
soltar.
E quando Dahlia disse o nome de Lizzie, foi como se o cé rebro do
estresse de London saltasse para o cé rebro de Dahlia de London e
corresse para dentro com pé s enlameados, deixando manchas de
sujeira no chã o.
Quando os sessenta minutos terminaram, London olhou para trá s
novamente. Elu icou extremamente satisfeite com o bolo, mas o de
Lizzie, que London a ouvira dizer aos jurados se chamava Limonada de
Morango da Tarde, era impressionante. A cobertura estava
perfeitamente raspada nas laterais, oferecendo vislumbres artı́sticos do
bolo amarelo-limã o embaixo. Parecia arejado e decadente de uma só
vez. Os morangos açucarados no topo eram macios e brilhantes. Lizzie
tinha cortado um pedaço e en iado uma garfada na boca com um
zumbido satisfeito.
Com a existê ncia de Lizzie agora mais premente na consciê ncia de
London, elu també m teve que aceitar o quã o excelente ela era. Lizzie
era uma verdadeira candidata.
Lizzie poderia ganhar tudo.
E isso nã o seria apenas fodidamente tı́pico.
— Droga — Tanner Tavish disse quando London trouxe seu bolo. Ele
bateu os dentes do garfo contra a boca. — Esse é um bom bolo.
— Eu concordo. — Audra assentiu. — A combinaçã o de sabores aqui
é estelar. A riqueza do chocolate e do café realmente aparece, mas entã o
sua lı́ngua termina com o frescor da menta. E sua decoraçã o de hortelã
amassada nas laterais está muito bem feita. Poderia ter icado confuso,
mas você o fez parecer so isticado. Realmente adorá vel.
— Você arrasou no parquinho — Sai disse.
Este teria sido um bom dia, pensou London.
Dahlia també m se saiu bem. Ela parecia chocada por estar entre os
trê s primeiros, mas os juı́zes realmente gostaram.
— O ganache é macio como veludo — Sai disse. — O bolo é rico, mas
a acidez e doçura do seu recheio de framboesa equilibra isso
perfeitamente. Claro, os sabores poderiam ter sido mais criativos, mas
esta é uma sobremesa bem executada. Bom trabalho.
London venceu o desa io. Mas pela primeira vez durante todo o dia, o
brilho de Dahlia reapareceu.
Ela era tã o bonita quando estava feliz.
O peito de London doı́a.
E entã o Ahmed foi eliminado.
O pensamento criativo aparentemente nã o ajudou o bolo de Ahmed,
que nã o teve tempo su iciente para terminar de assar, que estava muito
quente para sua cobertura sequer tentar aderir.
Uma vez que as câ meras desligaram, London caminhou até ele para
dizer adeus, sentindo-se pronte para socar alguma coisa.
— Ei, London.
Ahmed realmente sorriu para elu. Na verdade, Ahmed estava quase
radiante.
— Olha, isso foi uma merda, Ahmed. Eu sinto muito. — London
cruzou os braços sobre o peito e balançou a cabeça. Essa desvantagem
tinha sido injusta.
— Nã o me importo. E uma competiçã o. — Ahmed deu de ombros. —
Se alguma coisa me surpreendeu, foi eles pensarem que eu era uma
ameaça o su iciente para me dar a desvantagem. Quase me deixou um
pouco arrogante por um segundo.
London tentou sorrir. Elu percebeu, com clareza, o quanto gostava de
Ahmed. Ahmed sorriu para London durante o jantar de boas-vindas.
Ahmed e London nã o eram necessariamente amigues, mas Ahmed
sempre foi legal com elu. London tinha tido muita sorte, elu sabia,
tendo Ahmed como companheiro de mesa para tanto desta competiçã o.
Sua aceitaçã o deixou London se sentir confortá vel, deu espaço para elu
cozinhar no seu melhor.
Mais uma pessoa que London poderia encaixar no lado Você pode
relaxar de seu cé rebro. E agora ele estava indo embora.
— Ouça, London, nã o se sinta mal por mim. Este é o mais longo
tempo que eu sempre estive longe da minha esposa e ilhos e,
honestamente, estou perdendo a cabeça. O fato de eu ter chegado tã o
longe de initivamente será meu momento de pai mais legal de todos os
tempos, entã o estou bem.
London estendeu a mã o. Ahmed olhou para elu.
E entã o ele puxou London para um abraço.
— Cuide-se, London — ele disse perto do ouvido de London. — Nã o
deixe os bobos deprimi-lu.
Ahmed recuou e deu um tapinha no ombro de London com um
sorriso genuı́no. E entã o ele foi embora para sua ú ltima entrevista solo.
London deu meia-volta. Dahlia esperou por elu com energia nervosa,
mudando de um pé para outro, torcendo as mã os.
— Ei — ela disse. — Vamos lá .
Ela girou nos calcanhares e correu sob o arco de madeira em direçã o
à saı́da rapidamente, com propó sito. London teve que correr para
alcançá -la.
Elus seguiram na direçã o do hotel em silê ncio, o ar abafado da noite
enchendo os pulmõ es de London.
— Bom trabalho — London disse depois de alguns minutos,
decidindo tomar uma conversa neutra em vez de O que diabos está
acontecendo com você? — Eu sei que você ica nervosa com as
sobremesas. Espero que isso tenha feito você perceber que nã o deveria.
— London — Dahlia disse, parando no meio da calçada. Ela deixou
cair a cabeça em suas mã os. — Eu sei que você está brave comigo por
causa da Lizzie, e você deveria estar. Eu sinto muito, muito.
London esfregou a nuca delu. Elu odiava icar brave com ela. Elu
odiava icar brave com seu pai. Elu até odiava icar brave com Lizzie.
Ficar brave ocupava tanto espaço. Ficar brave era exaustivo.
— Está tudo bem — elu disse inalmente. — Estou mais preocupade
se você está bem.
— Khari realmente pressionou para salvar Lizzie, por qualquer
motivo — Dahlia disse com pressa, ignorando a ú ltima frase de London.
— E dar-lhe a desvantagem. Eu só queria ter certeza de que você nã o
icasse em desvantagem. E eu estava tã o perturbada por estar lá em
cima, e cansada, e nã o pude...
— Dahlia. — London estendeu a mã o e pegou a mã o dela. De repente,
elu nã o queria mais falar sobre isso. Era uma coisa idiota. Dahlia estava
certa; pelo menos nã o teve a desvantagem, o que poderia ter sido
desastroso. Elu empurrou Lizzie para longe novamente, de volta aos
recessos de suas mentes, onde ela pertencia.
— Tudo certo, ok? — elu disse. — Nó s passamos por outra
eliminaçã o. Nó s ainda estamos aqui. Isso é tudo que importa.
E esta tinha sido uma grande eliminaçã o para sobreviver. Era quinta-
feira agora; elus tinham um im de semana de trê s dias pela frente, e o
pró ximo Desa io de Eliminaçã o nã o seria até terça-feira. Ambes tinham
acabado de ganhar mais cinco dias juntos.
E London ainda queria isso.
London ainda queria adormecer ao lado dela esta noite.
— Você acha que Ahmed está chateado comigo? — Dahlia perguntou.
— Eu queria me desculpar.
— Nã o, Ahmed está bem — London respondeu. — Ele está feliz por
estar dirigindo casa para sua esposa e ilhos.
— Sé rio? — Os ombros de Dahlia relaxaram visivelmente. — Isso é
bom.
— Sim.
— London, você acha…? — Dahlia mordeu o lá bio. — Você acha que
estar nesse programa vale a pena?
London franziu a testa.
— O que você quer dizer?
Dahlia desviou o olhar, abraçando os cotovelos contra si mesma e
estremecendo um pouco, embora estivesse quente. Um longo momento
se passou.
— Deixa pra lá . — Ela balançou a cabeça antes sorrindo para eles.
Mas era um sorriso tã o pequeno e forçado, a coisa menos parecida com
Dahlia que London já tinha visto.
Ela se virou e continuou andando em direçã o ao hotel, os sons agora
familiares desta cidade preenchendo o silê ncio. London a seguiu,
tentando pensar em alguma maneira de trazê -la de volta para elu.
— Você merece parte da minha vitó ria, realmente — disse London
quando o hotel apareceu. — Você foi a inspiraçã o.
— Mas... — Dahlia franziu o cenho. — Eu nem bebo café .
— Sim, o que nã o faz sentido. A parte do café era eu. Mas... — London
se interrompeu, sentindo-se um pouco envergonhade agora. Mas elu
precisava preencher o espaço entre elus de alguma forma, com algo
bom e verdadeiro, antes de voltarem para o quarto sozinhe. — Você
tem gosto de menta.
— O quê ? — A boca de Dahlia se abriu em um sorriso verdadeiro
desta vez, um cem por cento Woodson, e o calor inundou o peito de
London.
— Oh meu Deus — Dahlia disse. — Você me fez um bolo.
— Um dos meus melhores, se assim posso dizer.
Dahlia parou mais uma vez, puxando o braço de London. Elu
tropeçou de volta para ela, e ela passou os braços em volta do pescoço
delu, estendendo a mã o para plantar um beijo em sua boca.
London podia sentir seu sorriso brincalhã o sob seus lá bios. Elu
agarrou seus quadris e a puxou para mais perto, mudando a intençã o
do beijo, abrindo sua boca, querendo sentir sua lı́ngua, seu há lito
quente.
Isso foi descomplicado. Isso foi glorioso. Isso nã o envolvia pensar, e
London queria mais.
Elus se afastaram apenas uns centı́metros.
— Tem certeza que ainda quer uma noite de folga? Podemos dormir
até amanhã de manhã , você sabe. — Elu correu seus dedos até o lado
dela.
— Sim — ela disse, mas sua voz vacilou com o esforço. — Acho que
se eu te beijar mais uma vez, vou desmaiar. Precisamos de algum espaço
para respirar, London.
London suspirou e deu um beijo irme em sua tê mpora. Elus icaram
ali por um momento, abraçades, respirando o ar da noite: meio jasmim,
meio escapamento do motor.
— Tudo bem, Woodson — London disse inalmente, soltando-a, e
elus entraram no brilho do hotel. — Vamos respirar.
CAPÍTULO DEZESSEIS

O cé u do lado de fora da janela de Dahlia estava nebuloso e pá lido


quando ela acordou na manhã seguinte, e combinava com a cor de suas
emoçõ es, brilhante e silenciado ao mesmo tempo.
Era estranho estar sozinha.
Mesmo assim, antes de sua vida no Chef’s Special, Dahlia havia se
acostumado a icar sozinha quase o tempo todo.
Ela se perguntou o que London estava fazendo. Tomando café de
pijama com seu lindo cabelo de cama? Andando para pegar um burrito
de café da manhã daquele lugar na esquina? Ainda roncando debaixo
das cobertas? Exceto que London nã o ronca. O que era estranho. Quem
nã o roncava? Elu estava lendo um livro? O que London gostava de ler?
Mesmo que Dahlia nã o soubesse o que London estava fazendo neste
exato segundo, o estranho era que ela ê sentia de qualquer maneira.
Duas noites em seus braços e era como se sua pele ê tivesse
memorizado, ainda podia sentir o peso delu, um fantasma ocupando
espaço em sua cama. Saber que elu estava no corredor, a alguns quartos
de distâ ncia, só piorou.
Ela ansiava pelo conforto de sua proximidade.
Mas ela tinha que resolver sua cabeça primeiro. Porque as ú ltimas
vinte e quatro horas izeram disso uma bagunça absoluta.
Desde que ela conversou com Janet ontem, sua mente parecia
torcida. Como se ela estivesse olhando para suas pró prias memó rias
atravé s de um espelho contorcido.
Dahlia virou para o outro lado, longe da janela.
A conversa com Janet teria sido su iciente para arruinar o dia, mas
també m havia toda aquela vantagem idiota. Foi horrı́vel dizer o nome
de Lizzie. Como Janet previra, Khari lutou para que Lizzie fosse salva e
para que London icasse em desvantagem. Cath tentou bancar a
paci icadora, fazendo o compromisso de que Lizzie teria a vantagem,
mas London nã o obteria desvantagem, e entã o o tempo acabou.
Mas uma parte de Dahlia se perguntou. Se ela tivesse lutado ainda
um pouco mais. Se ela tivesse dito o nome de London de qualquer
maneira, quando Sai a chamou, desa iando a decisã o do grupo. Se ela
nã o soubesse, agora, que dizer o nome de Lizzie seria contrariar a
narrativa. Que isso deixaria Janet surpresa. E Dahlia queria deixar Janet
surpresa.
p
Porque Dahlia també m nã o queria ser um peã o.
Ela se enrolou em uma pequena bola, fechando os olhos contra a luz
do dia.
Com o passar do dia, as palavras de Janet afundaram um pouco mais.
A maior parte acabou sendo menos chocante do que apenas levemente
deprimente. Este era um reality show. Claro que haveria hashtags,
pequenas manipulaçõ es.
Exceto a cada dia que passava com Dahlia ainda em Los Angeles –
com cada novo dia passado com London – Dahlia começou a esquecer
que nada disso era normal.
E havia certas coisas que Janet havia dito que se recusava a entender.
Isso icava quicando na cabeça de Dahlia.
Eu posso ver a inal sendo Time Lizzie versus Time London de verdade,
e cara, essa provavelmente seria a nossa inal mais assistida de todos os
tempos.
E pouco antes de ela ir embora:
Estamos todos tão felizes que você ainda está aqui.
Parecia paternalista. Como... se fosse uma surpresa que Dahlia ainda
estivesse ali.
Dahlia nã o estava delirando. Ela estava se lembrando, todos os dias,
como tudo isso poderia acabar a qualquer momento. E ela sabia que
havia vá rios concorrentes fortes sobrando. London. Cath. E... ugh...
Lizzie. Deus, Dahlia nã o sabia se ela realmente perdoaria o Chef's
Special por exibir o que quer que Lizzie havia dito sobre London.
Mesmo assim, Dahlia podia sentir suas habilidades culiná rias se
aguçando a cada desa io. Ela estava no Top Cinco. Cinco. Mais da metade
do caminho para a linha de chegada.
Isso tinha que signi icar alguma coisa.
Nã o era completamente ridı́culo, certo? Querer continuar lutando?
Ela se lembrou do que Barbara havia sussurrado em seu ouvido,
antes de deixar o Cı́rculo Dourado para sempre naquele dia, naquele dia
em que foi há apenas alguns dias, mas parecia muito mais tempo:
Você merece mais do que pensa. Vá e pegue tudo.
Dahlia gostava de pensar que por pegue tudo, Barbara queria dizer
que acreditava que Dahlia poderia ganhar $100.000.
Mesmo que no fundo de seu coraçã o, Dahlia sabia que Barbara estava
falando sobre mais do que apenas isso.
E agora, pensar em mais do que apenas isso – na verdade, pegar tudo
– só parecia muito pesado.
Ela nã o esperava tanto disso quando voou para LAX de BWI um mê s
atrá s. Ela sempre quis ganhar o $100.000, nã o havia dú vida sobre isso.
Ela queria aprimorar suas habilidades culiná rias. E ela tinha sonhado
com a Dahlia de LA, sobre talvez ter algumas aventuras divertidas a
caminho do prê mio.
Ela nã o esperava London.
E ela nã o esperava que Dahlia de LA afundasse em seus ossos tã o
completamente. Na verdade, ela se sentiu uma pessoa diferente, uma
pessoa de quem ela gostaria de ser amiga, talvez. Estabelecendo-se em
uma terra seca e superpovoada, sentindo-se confortada por cé us
enevoados. Sentindo-se vista pelas palmeiras.
Se ela fosse eliminada do programa… Dahlia nem sabia para onde iria
daqui agora. Como ela se despediria da Dahlia de LA.
Como ela se despediria de London.
Eu cuido para acertar essas coisas, depois de fazer isso por tanto
tempo.
Nã o.
Dahlia balançou a cabeça e inalmente rolou para fora da cama. Ela
andou de um lado para o outro da sala, passando pela janela, a cô moda,
a cadeira no canto cheia de roupas sujas. Este pequeno e esté ril espaço
que quase parecia, à sua maneira engraçada, como um lar.
Porque Dahlia esteve aqui por tanto tempo.
Janet pode acertar muito. Talvez ela fosse uma produtora realmente
excelente.
Mas ela nã o decidia o destino de Dahlia.
Nã o. Dahlia nã o ia dizer adeus a nada disso. Deus, ela esteve à beira
de um colapso durante todo o dia de ontem e ainda assou o melhor bolo
de sua vida. Ela tinha merecido isso.
Quem se importava se o ú nico outro membro do Time Dahlia era
Barbara.
Vovó s eram inteligentes para caramba.
Dahlia parou de andar, um pensamento repentino batendo nela.
Havia pelo menos um outro membro do Time Dahlia també m.
Ela pegou o telefone da mesa de cabeceira e discou o nú mero da
pessoa que ela mais sentia falta.
— Ba-By. Garotaaaaaaa! Como é ser famosa?
— Hank. Você quase estourou meu tı́mpano. — A voz de Dahlia
estava á spera por usá -la pela primeira vez esta manhã , mas seu rosto se
abriu em um sorriso.
— Você está no trabalho? — ela perguntou. — Você pode falar? E/ou
gritar?
— Claro que estou no trabalho e claro que posso falar. Meu chefe vai
entender que estou falando com minha irmã zinha muito famosa. Outra
pessoa pode dizer à s pessoas para reiniciar seus computadores por um
tempo.
Hank trabalhava em TI para um grupo hoteleiro em Boston, onde
esteve por anos. Como o pai deles, ele sempre foi um nerd afá vel, e
Dahlia nã o conseguia imaginá -lo fazendo nada além de TI.
— Hank, você é um ano mais velho que eu e eu nã o sou famosa.
Hank bufou.
— Que seja, irmã zinha.
Dahlia saltou para trá s na cama, esticando os dedos dos pé s.
— Mas como é o trabalho?
— Como é o trabalho? Oh meu Deus, chato, Dahlia; cale a boca e me
fale sobre LA! Como diabos você está ! Sai Patel é um sonho total na vida
real? Você está arrasando? Porque acabamos de assistir o segundo
episó dio ontem à noite, e eu nã o tenho ideia de como tudo isso funciona
e quando você realmente ilmou essa merda, mas caso você já tenha
esquecido, deixe-me lembrá -la que você arrasou.
Dahlia riu.
E entã o aconteceu uma coisa estranha.
Sua risada se transformou em um soluço.
Foi um soluço de riso. Lá grimas gordas e salgadas escorriam por seu
rosto, ao mesmo tempo em que ela nã o conseguia parar de rir.
Era possı́vel que ela ainda estivesse um pouco em privaçã o de sono.
E parecia que todas as coisas que haviam mudado em sua vida nas
ú ltimas quatro semanas a atingiram com mais força, de alguma forma,
quando ela ouviu a voz de seu irmã o. A voz que a conhecia antes da
Dahlia de LA. Quem a amaria nã o importava qual Dahlia ela fosse. Ela
desejou que ele estivesse aqui em pessoa, pudesse envolvê -la em um de
seus abraços apertados. Ajudá -la a fundir esta nova versã o de si mesma
com todas as antigas. Prometer a ela que tudo daria certo, que ser Time
Dahlia nã o era apenas um sonho.
Houve uma pausa longa do outro lado da linha.
— Hum, Dahlia? Você está bem?
— Desculpe — Dahlia murmurou atravé s de seu ranho. Ela pegou um
lenço de papel, soltou uma ú ltima risada fraca. — Eu, uh. Eu estava
ligando porque queria ouvir exatamente o que você acabou de dizer.
Entã o… obrigada.
— De nada, eu acho? Você tem um caso de tristeza? Quero dizer, eu
só posso imaginar o estresse que você está sentindo, irmã zinha. E
compreensı́vel.
— Na verdade. — Dahlia suspirou. — Eu estou… Eu nã o sei.
— Ah. O eu-nã o-sei. Isso pode ser ainda pior. Bem, graças a Deus você
ligou. Espere um segundo.
Dahlia ouviu vozes sussurrantes e abafadas ao fundo.
— OK. — Hank voltou à linha. — Vou pegar minha pausa para
almoço. Estou andando e falando aqui. Você tem um caderno?
— Sim. Algum lugar. Deixe-me encontrá -lo.
Dahlia colocou Hank no viva-voz e se levantou, olhando ao redor de
seu maravilhoso desastre de quarto. Ela jogou as roupas ao redor,
procurando no chã o. Ela podia dizer, pelo aumento do ruı́do de fundo
do lado de Hank, no momento em que ele saiu de seu pré dio e entrou
na Copley Square.
— Ah, há muitos turistas em torno de hoje. Vou tentar encontrar um
lugar tranquilo perto da biblioteca. Avise-me quando estiver pronta.
— Ahá ! — Dahlia viu um caderno debaixo da cama. Este caderno era
do tamanho normal de um diá rio e servia a um propó sito diferente do
pequeno bloco de notas que ela carregava. O bloco de notas era para
comida; o caderno era para sentimentos. — Achei.
— Bom. Entã o, estou obviamente preocupado que você tenha o eu-
nã o-sei, e você me dirá por que tem o eu-nã o-sei mais tarde, se quiser,
mas devo dizer que estou bastante animado por você ter ligado. Eu
tenho guardado algumas ideias realmente matadoras por um tempo
agora.
— Fantá stico. Vá em frente.
Dahlia se acomodou na cama, encostada na cabeceira da cama.
— As dez melhores mú sicas de Britney, apenas de 2001 ou anterior.
Dahlia revirou os olhos com tanta força que ela estava certa Hank
podia ouvir.
— Hank. Já izemos Britney antes. Tipo cinco vezes pelo menos.
— Mas continuamos deixando de lado as principais faixas! Percebi
que nã o incluı́mos "I’m Not a Girl, Not Yet a Woman" em nenhum dos
nossos dez primeiros, e é simplesmente notó rio.
Hank e Dahlia estavam elaborando as listas dos dez melhores para
combater a tristeza – ou, aparentemente, o eu-nã o-sei – há mais de uma
dé cada. Começou durante o divó rcio dos seus pais, quando Dahlia
estava na quinta sé rie. Dahlia teve um momento particularmente difı́cil
quando seu pai se mudou, e uma noite, quando Hank ouviu Dahlia
chorando, ele entrou em seu quarto e sentou em sua cama, penteando
seu cabelo com os dedos até que ela se acalmasse. E entã o ele pediu a
ela para listar seus dez melhores episó dios de Lizzie McGuire.
Dahlia sentou-se na cama imediatamente, levando a tarefa tã o a sé rio
que ela inalmente teve que encontrar um caderno para rabiscar seus
pensamentos, riscando e reescrevendo até que ela tivesse seus dez
episó dios perfeitos. Entã o Hank pediu que ela escrevesse seus dez
melhores almoços do refeitó rio da Escola Intermediá ria New Bedford.
Olhando para trá s, Dahlia ainda estava chocada com a genialidade de
Hank, ainda nã o sabia o que o fez perguntar essas coisas a ela naquele
momento. Mas quando Hank a deixou no quarto naquela noite para
voltar para sua pró pria cama, Dahlia se sentiu signi icativamente menos
triste. Ela adormeceu direitinho.
— Chega de Britney. E quanto a… — Dahlia bateu o lá pis contra uma
pá gina em branco. — Os dez melhores queijos.
Agora Hank riu.
— De jeito nenhum, nó s já izemos isso antes també m.
— Eu juro que nã o! Eu sei que já izemos sorvete vá rias vezes, mas
ainda nã o chegamos no queijo.
— Ok. — Hank suspirou. — Nú mero dez. Suı́ço.
— Eca. — Dahlia mostrou a lı́ngua para o telefone. Suas lá grimas
haviam secado completamente agora. — Vamos fazer Havarti para o
nú mero dez.
Hank gemeu.
— E por isso que nã o faço mais listas de comida com você .
— Hank! Havarti nã o é tã o esnobe!
— Dahlia Woodson, eu literalmente nã o tenho ideia do gosto do
queijo Havarti.
Dahlia sorriu e listou os nú meros de um a dez em seu caderno. Ela
escreveu Havarti na dé cima linha.
— Estou supondo que você nã o apoiaria o queijo americano para o
nú mero nove.
Dahlia mastigou a tampa da caneta antes de responder.
— Nã o, vamos fazer isso — disse ela. — Americano é delicioso.
Enquanto anotava em seu caderno, ela sorriu, imaginando o que
London diria. Elu olharia para a lista dela com desâ nimo e entã o
gesticularia descontroladamente com as mã os. “Queijo americano nem
é queijo, Dahlia” elu diria. E entã o ela iria beijá -lu.
Hank e Dahlia terminaram a lista de queijos. Ela estava se
preparando para sugerir uma lista das dez vezes mais importantes para
o papai trancar as chaves no carro quando Hank rapidamente mudou
de assunto.
— Entã o, o que está acontecendo, irmã zinha? Você foi eliminada do
programa?
— Oh — Dahlia disse, seu sistema se sentindo confuso com a brusca
volta à realidade. — Assinei um Acordo de Con idencialidade entã o,
tecnicamente, nã o estou autorizada a lhe dizer. Mas, hum, ainda estou
em LA.
Dahlia se levantou e caminhou até o banheiro, enchendo um copo
com á gua.
— Entã o… — Hank esperou. — O que está errado?
Dahlia olhou para si mesma no espelho acima da pia, para as
sombras sob seus olhos.
Sua boca fez a pergunta antes que seu cé rebro realmente soubesse
que precisava perguntar.
— Você icaria desapontado? Se eu nã o ganhar?
Ela ouviu Hank estalar a lı́ngua.
— Dahlia — ele disse. — Vamos lá ...
— Mamã e icaria desapontada, provavelmente. Eu sinto que estou
sempre decepcionando a mamã e.
— Nada de merda. — Hank bufou. — Para que conste, ela foi dura
com nó s dois, sabe. Você nã o tem exclusividade em decepcionar nossa
mã e.
— Você nã o se divorciou, tipo, da pessoa favorita dela porque você
nã o queria dar netos a ela — Dahlia retrucou.
— Você nã o se assumiu transgê nero aos vinte e poucos anos — Hank
rebateu.
Dahlia fez uma pausa.
— Ok, justo. Mamã e foi ó tima sobre isso, no entanto.
— Eu acho que ela está bem com o seu divó rcio també m. Você
simplesmente nã o consegue ver.
Dahlia suspirou baixinho e voltou para a sala principal. Hank nã o
sabia o quã o animada sua mã e icava, sempre que ela visitava Dahlia e
David em sua casa nos subú rbios, o modo como seus olhos se
iluminavam quando falava sobre netos. A forma como aquela luz se
extinguiu quando Dahlia deu a notı́cia do divó rcio.
— Ela está muito orgulhosa de você , Dahlia — Hank disse depois de
um momento. — Você tem que saber disso.
— Nã o acredito nisso.
— Todos nó s assistimos o primeiro episó dio juntos, você sabe. Você
deveria ter visto como ela icou chateada quando você tropeçou.
— Oh Deus. — Dá lia caiu pesadamente na cama e colocou a cabeça
entre as mã os. — Como isso é estar orgulhosa de mim?!
— Porque ela icou toda protetora. Ela se sentou no sofá e disse: 'Eles
nã o deveriam ter mostrado isso. Eles estã o rindo dela.' Ela estava tã o
chateada.
— Parece que ela estava envergonhada, Hank.
Agora Hank suspirou audivelmente no telefone.
— Ela nã o estava. Dahlia, você sabe que Nonna e Nonno foram duros
com a mamã e, també m. Ter altas expectativas é exatamente como ela
foi criada.
— Sim — Dahlia disse fracamente, embora ela soubesse que isso era
verdade. Os avó s de Dahlia e Hank por parte de mã e eram pessoas
amorosas, mas difı́ceis. Dahlia tinha um pouco de medo deles quando
criança.
— Só ... talvez, eu nã o sei, tente falar mais com ela — Hank disse. —
Eu sei que falar com papai é mais fá cil para você , mas se você está se
sentindo toda triste e estranha sobre mamã e, estenda a mã o e conte-lhe
coisas. Veja o que acontece.
— Eu falo com ela sobre coisas — Dahlia disse defensivamente.
Hank bufou novamente.
Certo. Ponto tomado.
— E você sabe que todos nó s vamos te amar tanto, nã o importa o que
aconteça no programa. Eu nã o me importo se você for eliminada no
terceiro episó dio e estiver vagando por LA desde entã o. OK?
Dahlia icou quieta por um longo momento.
— Ok — ela disse. — Os dez melhores ilmes de Sandra Bullock.
Ela pegou seu caderno e sentou-se novamente, balançando o pé .
— Fá cil — disse Hank. — Nú mero dez, A Proposta.
Depois que eles brigaram por um tempo sobre se Enquanto Você
Dormia, Miss Simpatia ou Speed eram mais merecedores do primeiro
lugar, Dahlia largou a caneta.
— Sua pausa para o almoço deve acabar logo — disse ela.
— Talvez — Hank disse evasivamente.
Ela queria contar a ele sobre London. Ela sabia que Hank estaria do
seu lado sobre tantas coisas. Como o fato de que as Couves de Bruxelas
de initivamente não contam como comida de conforto. Como o fato de
London Parker ser ao mesmo tempo a pessoa mais fofa e sexy que já
existiu.
Ela queria que elus se encontrassem um dia, para que London
pudesse dizer a Hank qualquer coisa que ele quisesse saber sobre
Nashville.
Ela queria contar tudo a Hank.
Mas isso era para outro dia.
Talvez agora a garantia de que depois de tudo isso, mesmo que ela
nã o conseguisse tudo, ela ainda teria Hank, fosse su iciente.
Ela respirou fundo.
OK.
OK.
Time Dahlia, pronta para a decolagem.
— Você é um irmã o realmente incrı́vel, Hank.
Ela podia ouvir seu sorriso.
— Eu nunca me canso de ouvir você dizer isso.
— Ok, volte ao trabalho antes de ser demitido.
— Eles nunca me demitiriam. Eu envio todos os melhores memes.
Aquele lugar seria totalmente sem graça sem mim.
— Eu te amo, perdedor.
— També m te amo, irmã zinha.
CAPÍTULO DEZESSETE

London, era como uma tarefa fá cil certi icada quando se trata de
todas as coisas Dahlia Woodson, realmente pensou que seria o primeiro
a desistir. Elu sentia-se um pouco orgulhose de si mesme, na verdade,
por ter passado vinte horas inteiras sem mandar uma mensagem para
ela ou, alternativamente, derrubar sua porta.
Tinha sido mais fá cil do que London poderia ter esperado. Porque
toda vez que a ansiedade chegava perto de ser demais, London
simplesmente imaginava Dahlia sentada na cadeira de Tanner Tavish,
dizendo o nome de Lizzie.
E London esvaziaria, só um pouquinho.
Mas quando este texto chegou à s quatro horas da tarde de sexta-
feira:
Oi, eu estou com saudade de você
O peito de London encheu todo o caminho de qualquer maneira.
Assim como quando elu a beijou na noite passada.
London provavelmente precisava checar a cabeça delu.
Elu provavelmente també m nã o deveria ter passado as ú ltimas oito
horas deitade na cama assistindo a comé dias româ nticas. Agora elu
realmente nã o tinha nenhuma perspectiva sobre a realidade.
London pegou o telefone.
London: Você está respirando melhor agora?
Dahlia: muito
Dahlia: o que você está fazendo?
London fez uma pausa. Elu olhou para a TV.
Elu poderia mentir. Elu provavelmente deveria mentir.
London: Eu… possivelmente estou assistindo Mamma Mia
Dahlia: OH
Dahlia: MEU
Dahlia: DEUS
Dahlia: UM OU DOIS LONDON
London: . . . . . . . . . dois
Dahlia: OH MEU DEUSSSSSSSSS
Dahlia: VOCE ESTA NO SEU QUARTO
London: Sim.
Dahlia: AQUI VAMOS NOS NOVAMENTE!!
O telefone de London ainda estava iluminado por causa desta ú ltima
mensagem quando uma batida rá pida e forte na porta delu vibrou na
sala trinta segundos depois. Jesus. London olhou para si mesme. Elu
estava vestindo suas calças de pijama de lanela, seu binder jogado no
chã o, e sua camiseta ainda tinha uma mancha do burrito que elu comeu
no almoço. E o cabelo delu provavelmente estava...
Outro bater impaciente.
Resmungando, London rastejou para fora da cama.
— Oh nã o — Dahlia disse quando elu abriu a porta.
Ela estava vestindo seu moletom framboesa e shorts. Seu cabelo
estava solto, levemente molhado, como se ela tivesse acabado de tomar
banho. O que signi icava que agora London a estava imaginando no
chuveiro. Ela mordeu a manga de seu moletom, amontoada sobre as
mã os.
— O quê ? — London perguntou, a mã o ainda na maçaneta da porta,
confuse sobre o oh não.
— Eu esqueci como você é fofe — disse ela.
E entã o ela estava em seus braços, sua boca na delu, com um sabor
fresco, limpo e leve, e London teve que engolir um gemido. Uma onda
de calor encheu seu sistema, ficando só lida contra seu peito novamente,
a porta se fechando quando elu empurrou seus dedos nas costas delu,
sua cabeça leve e confusa e...
— Ok. — Dahlia empurrou para trá s, andando no quarto. — Onde
estamos? — Ela engasgou, olhando para a TV. — Oh meu Deus, está
quase no im! Cher está quase lá !
Ela pulou na cama de London e icou debaixo das cobertas. Quando
London se juntou a ela, ela imediatamente se aconchegou ao lado delu,
en iando a cabeça debaixo do braço delu como um cachorrinho e
descansando a cabeça em seu peito.
Era isso que London queria. Todos os malditos dias de sua vida.
Uma risada explodiu na garganta de Dahlia quando Cher apareceu na
tela.
— Você já viu algo tã o exagerado? Deus. Isso deve ter sido tã o
divertido de ilmar.
London virou a cabeça para acariciar o nariz em seu cabelo. Elu
respirou fundo. Deus, era bom tê -la ao lado delu assim. Era bom deixar
a estranheza de ontem escapar.
— Quer assistir outra coisa? — London extraiu-se de Dahlia uma vez
que os cré ditos começaram a rolar, vasculhando nos lençó is em busca
do controle remoto.
— Claro. — Dahlia sentou-se.
Enquanto London percorria o menu da Net lix, elu a sentiu se mexer
ao lado delu, puxando os joelhos até o queixo.
— London?
Elu olhou para ela.
— Sim?
Mas ela apenas mordeu o lá bio, sem dizer nada. London apertou o
botã o de mudo no controle remoto.
Era o pico Dahlia Cara Pensativa. London poderia praticamente
sentir os pensamentos girando sob sua pele. Mas ela apenas icou
sentada lá , em silê ncio.
Ela pulou de repente, abrindo a gaveta na mesa de cabeceira de
London, puxando o bloco de papel gené rico do hotel dentro.
— Vamos fazer uma lista. — Ela se sentou de volta, com as pernas
cruzadas, na cama.
— Uma lista?
— De coisas que queremos fazer antes de sairmos de LA. Dez
melhores.
Algo torceu dentro do intestino de London quando Dahlia disse essa
frase. Antes de sairmos de LA. Ela começou a rabiscar alguma coisa,
naquela caligra ia bagunçada e maluca.
— Eu quero ir para Hollywood e tirar uma sel ie com a estrela da
Dolly Parton na Calçada da Fama, para Hank — ela disse antes de olhar
para elu. — E você ?
London apenas olhou para ela. Elu nã o conseguia pensar em nada
alé m de simplesmente estar com ela. Ficar Chef 's Special pelo tempo
que for humanamente possı́vel. Dormir ao lado dela. Elu nã o queria
pensar em deixar LA.
— Talvez pudé ssemos ir ao Universal Studios? — London disse
eventualmente, quebrando a cabeça por coisas que estavam em LA. —
Ou Disneylâ ndia?
Dahlia sorriu antes de se controlar e sacudiu a cabeça.
— Sempre quis ir para a Disney. Mas nã o, muito caro.
— Eu poderia pagar — London ofereceu. — Eu nã o me importo.
— Nã o — Dahlia disse imediatamente, bruscamente. — Nã o. Na
verdade, praticamente tudo nesta lista tem que ser… barato. Ou grá tis.
Eu meio que estourei meu orçamento já em viagens compartilhadas,
quando fui passear no im de semana passado. De qualquer forma, há
uma tonelada de coisas grá tis para fazer em LA — ela disse, com voz
pro issional agora, como se ela fosse uma agente de viagens fazendo
uma apresentaçã o em PowerPoint. — Eu quero ir para a Ultima
Livraria. Ah, e há outra que eu li que é totalmente dedicada a romances.
Ela escreveu Livrarias ao lado do nú mero 2 em sua lista.
— Ok, o que mais você quer fazer? — ela perguntou. — Você tem que
contribuir com pelo menos uma coisa para a lista. Por favor —
acrescentou ela.
— Há uma instalaçã o de arte do lado de fora de algum museu —
disse depois de um momento de re lexã o. Elu tinha visto fotos no
instagram. — Um monte de postes de luz juntos. Deve parecer legal à
noite.
Dahlia assentiu enfaticamente e anotou.
— Quer ir amanhã à noite? — Ela olhou para elu, os olhos cheios de
uma esperança cautelosa, quase como se estivesse nervosa.
Quase como se estivesse… chamando London em um encontro.
— Certo. — O estô mago de London revirou.
— Legal. — Ela sorriu, o rosto relaxado, e olhou de volta para a lista.
— E eu quero voltar para aquela praia com você — disse London, sua
mente correndo agora para o que elu realmente ainda queria fazer em
LA. — Em Malibu. Eu quero icar com você de verdade lá . Tipo, deitar
na areia, curtir. Se pegar num nı́vel tipo, você vai icar com areia no
cabelo por dias.
Dahlia riu, e foi o som mais magnı́ ico. Talvez nem tivesse sido um
total de vinte e quatro horas desde que elus estiveram separades, mas
London tinha perdido isso de qualquer maneira.
— Isso soa... bastante injusto com o meu cabelo.
London deu de ombros.
— E o que eu quero.
Dahlia en iou o polegar entre os dentes, sorrindo.
— Eu nã o consigo ver se envolver em um amasso de corpo inteiro
com você que nã o resulte em sexo de corpo inteiro.
— Tudo bem entã o — London disse. — Anota.
Dahlia escreveu ao lado do nú mero 4: Sexo na praia. E entã o, talvez.
— Com licença! — London zombou e estendeu a mã o para pegar a
caneta de sua mã o, rabiscando a ú ltima palavra. — Você nã o pode
colocar talvez em sua pró pria sugestã o!
— Eu apenas! — Dahlia gaguejou. — Tudo o que estou imaginando é
areia na vagina, e isso nã o parece desconfortá vel?
— Levaremos uma toalha — London rosnou, e Dahlia riu novamente.
— Está bem, está bem. Ah, e eu quero ir para Koreatown — ela disse
suavemente, como se essa transiçã o izesse sentido, e London estava
tentade a fazer o nú mero quatro agora, com praia ou sem praia.
— Caminhõ es de taco — disse elu, para tirar a mente da sarjeta. —
Esses sã o baratos — acrescentou.
Dahlia anotou.
Elu sugeriu outros quatro — o Pı́er de Santa Mô nica, o Getty, o
Grande Mercado Central, o Sunset Boulevard — e entã o Dahlia largou a
caneta, sorrindo.
— Sabe o que mais é barato? Sorvete. Nó s de initivamente
precisamos de sorvete antes do pró ximo ilme. — Ela icou. — Vamos
dar uma corrida na loja de conveniê ncia.
London olhou para si mesmo novamente.
— Eu nã o posso sair assim.
Dahlia revirou os olhos.
— Para o posto de gasolina? Sim, London, você pode.
E assim, ela ê estava arrastando porta afora.
Meia hora e um sorvete Chunky Monkey compartilhado do
Ben&Jerry’s depois, o corpo de Dahlia foi enrolado em seguida para
London novamente, e elus estavam a um quarto do caminho para
Always Be My Maybe. London tentou deslizar a mã o delu sob a camisa
dela dez minutos atrá s e ela deu um tapa, dizendo distraidamente:
— Pare com isso; Eu nunca vi esse antes — seus olhos colados na
tela.
Depois de passar nove horas assistindo a ilmes, os olhos de London
estavam secos e doloridos. O calor de seu corpo junto ao dela fez elu
icar com sono. Elu estava bem com uma simples noite de ilmes e
carinho, elu supunha. Majoritariamente.
Elu correu os dedos pelo cabelo dela.
— Pode ser você , sabe — elu disse, referindo-se ao personagem chef-
celebridade de Ali Wong na tela da TV.
Dahlia balançou a cabeça contra seu peito.
— Nã o. Deve ser você .
London icou quiete por um momento, os dedos ainda em seu cabelo.
— Eu nã o quero isso — elu disse.
— Nem eu — ela murmurou.
Alguns minutos depois, ela abraçou o torso de London com mais
força.
— O que vou fazer, London? Depois disto.
London tentou olhar para ela.
— O que você quer fazer?
— Eu nã o sei — ela sussurrou.
Elu colocou seus lá bios em sua testa.
— Eu acho que… os sonhos que temos quando somos crianças
importam.
London també m estava pensando nisso, quase inconscientemente,
desde que elu estava aqui. Elu faria mais esforço quando voltasse para
casa para entrar em um estú dio de mú sica. Havia uma tonelada de
pessoas hoje em dia que eram mais apaixonadas por podcasts do que
elu. London queria estar perto de guitarras, bateria, pianos. Elu queria
sentir as linhas de baixo reverberando em seus ossos. Elu queria passar
seus dias enchendo suas entranhas com mú sica.
— Pode ser que você deveria escrever.
Dahlia soltou uma meia risada ofegante.
— Sobre o quê ? Odeio dizer isso a você , London, mas meu pai estava
errado; Acampamento Sunnywood na verdade nã o era digno de um
Pulitzer.
— Bem, em primeiro lugar, eu duvido disso. — London moveu sua
mã o para esfregar suas costas. — Escreva sobre o que você sabe. — Um
momento depois, elu acrescentou: — Você poderia escrever sobre
comida.
— Escrever sobre qualquer coisa nã o vai pagar minhas contas — ela
disse.
— Você vai ganhar $100.000, no entanto — disse London. — Você
nã o terá que se preocupar com as contas.
Ela nã o respondeu. Mas ela deu a seu corpo outro aperto suave.
London estava triste porque a respiraçã o de Dahlia já estava icando
mais pesada, esticada, quando chegaram à cena do jantar de Keanu
Reeves. Dahlia adoraria isso. Mas elu tinha certeza de que ela já estava
dormindo.
Entã o elu a ouviu murmurar algo ao seu lado.
— O quê ?
— Eu vou desapontá -lu — disse ela. Seus olhos estavam fechados.
— O quê ? — London perguntou novamente.
— Eu decepciono a todos.
— Dahlia — London sussurrou, cutucando seu ombro.
O que isso signi icava, ela decepciona a todos?
Mas ela já estava dormindo.
London franziu a testa, passando os dedos pelo cabelo dela por mais
um momento.
Com cuidado, para nã o acordá -la, elu alcançou a mesa lateral, dedos
tateando pelo controle remoto. Mas antes que pudesse desligar o ilme
e seguir Dahlia no sono, antes que pudesse analisar melhor o que
Dahlia tinha acabado de dizer, seu telefone tocou.
London, de vdd, nosso pai sempre foi um idiota? E nós simplesmente
não sabíamos?? Porque ele era nosso pai?? Eu não consigo parar de
pensar nisso
London piscou.
Antes que elu pudesse pensar o que dizer em resposta a isso, Julie
continuou digitando.
Mas nossa mãe é tão arrojada
E ela não estaria casada com um idiota, certo?
Mas às vezes as pessoas em relacionamentos fazem coisas estranhas
ECA
London inalmente encontrou o controle remoto e desligou a maldita
TV. Elu olhou para o telefone, o ú nico som na sala agora era o baque alto
de seu coraçã o.
Elu estava esperando por esses textos, pelo menos
inconscientemente. Por semanas, Julie soou fora do normal,
esquivando-se de perguntas relativamente normais de London como, Ei
Jules, como foi? Ceia de domingo? E Julie nã o era de se esquivar, nã o era
o tipo de pessoa que dava respostas vagas, de uma palavra. Julie Parker
geralmente contava a uma pessoa tudo o que estava em sua mente,
quer ela quisesse saber ou nã o.
No entanto, de repente, tudo em Nashville, segundo ela, estava bem.
Bem bem bem. London estava começando a odiar a palavra.
Mas agora que Julie estava inalmente soando como ela mesma
novamente, London se sentiu perturbade.
Julie, elu digitou, reunindo coragem, O que está acontecendo? O que
papai fez?
E entã o, é claro, ela icou em silê ncio.
Elu se libertou de Dahlia, rolando-a suavemente para o outro lado da
cama. Ela foi de boa vontade, fazendo um pequeno zumbido.
London virou de lado, respirou fundo algumas vezes.
Julie? Elu tentou novamente.
Ugh, desculpe London
Ben me deu tequila; ele será punido amanhã
Ignore-me
Está tudo bem aqui
Te amo
London olhou para o telefone por longos e inú teis minutos,
desejando que a honestidade implacá vel de sua gê mea reaparecesse
magicamente, mesmo sabendo que nã o iria.
Porque a outra coisa que London sabia ser verdade sobre Julie era
que ela faria qualquer coisa ao seu alcance para proteger aqueles que
ela amava.
Suspirando, London jogou o telefone na mesa lateral, rolando de
volta para Dahlia, puxando-a para perto. Elu envolveu um braço ao
redor de seu estô mago, encontrando suas mã os, entrelaçando seus
dedos juntos. Mais murmú rios indistintos ressoaram de seu peito
enquanto ela mexia sua bunda nelu, e elu nã o podia deixar de sorrir em
seu cabelo.
London sabia, no fundo, que elu nã o precisava de Julie para somar
dois mais dois para elu. Elu nã o gostava que ela estivesse escondendo
os detalhes, mas London podia adivinhar muito bem. Que ter sue ilhe
des ilando com uma identidade com a qual você nã o concorda, em rede
nacional, provavelmente nã o foi uma coisa fá cil para um homem
orgulhoso como Tom Parker engolir.
Elu simplesmente nã o sabia o que fazer sobre isso. O que seria como,
quando voltasse para casa, quando tivesse que enfrentar sua famı́lia e
todos que conhecia novamente. Elu se revelou para milhõ es de
estranhos. Elu sabia que haveria consequê ncias.
Era tã o fá cil ignorar a realidade quando elu estava no set. Quando elu
estava aqui, ao lado de Dahlia. London en iou o rosto no calor do
pescoço dela e fechou os olhos, tentando acalmar seu pulso.
Talvez Dahlia e London tivessem mais em comum do que apenas
cozinhar. Elu ainda nã o sabia exatamente o que Dahlia quis dizer, antes
de adormecer. Mas talvez London soubesse uma coisa ou duas sobre ser
uma decepçã o.
CAPÍTULO DEZOITO

Dahlia apertou a mã o de London no caminho de volta para o hotel do


set de segunda-feira à noite. Elu sorriu para ela. Ela sorriu de volta
totalmente boba.
O im de semana passado tinha sido... incrı́vel. Dahlia decidiu
empurrar qualquer dú vida persistente sobre o Chef’s Special para fora
de sua mente, e para este im de semana má gico, apenas ser. Sem
hashtags, sem ansiedade sobre eliminaçõ es. Sem câ meras. Ela se
permitiu ter tudo com London, uma memó ria de cada vez.
Tudo parecia despreocupado e divertido, explorando LA juntes,
enchendo seus estô magos com tacos e chá de bolhas e risos e vinho.
E hoje a magia continuou, mesmo com a pressã o de volta ao set. Elus
trabalharam juntes em um desa io de grupo especial, junto com os
outros competidores restantes, cozinhando uma refeiçã o para a equipe
do Chef's Special. Parecia tã o certo cozinhar lado a lado. Dahlia adorava
ver London trabalhar. Suas habilidades de empratar eram impecá veis,
tã o precisas e lindas.
Elu era ume artista. Todos os melhores chefs eram.
De sua parte, ela havia ajudado a fazer vá rias rodadas do mais
delicioso lombo de porco. Foi uma correria, trabalhar tantos pratos ao
mesmo tempo, e a equipe delirou. Era tã o satisfató rio cozinhar para
algué m que nã o fosse os juı́zes. Encheu sua barriga de orgulho,
cozinhando comida boa para gente boa.
Eles teriam outro Desa io de Eliminaçã o amanhã . Mas quando
entraram no saguã o do hotel, Dahlia nã o se sentiu nervosa, cheia
apenas de uma energia inquieta.
Elus caminharam em direçã o aos elevadores, mas Dahlia fez uma
pausa, puxando o braço de London enquanto uma ideia se in iltrava em
seu cé rebro.
Elu arqueou uma sobrancelha, mas seguiu sem questionar, até que
Dahlia parou diante de duas portas maciças.
— Acho que está vazio.
Dahlia segurou sua orelha para as portas do salã o de baile por mais
um segundo antes de tentar uma alça. Para seu deleite, ela se abriu. Ela
saltou para dentro, leve na ponta dos pé s. Ela se virou para London
assim que chegou ao centro da pista de dança, agora completamente
desprovida de foliõ es de casamento.
p
— Perdemos a dança lenta, da ú ltima vez que estivemos aqui.
London caminhou até ela, coçando a nuca.
— Acho que nã o deverı́amos estar aqui agora.
— Isso nã o te impediu da ú ltima vez. — Ela sorriu. Uma bolha de riso
escapou de sua garganta quando um lash de memó ria iluminou seu
cé rebro.
— Você deveria ter visto o pâ nico em seu rosto quando aquela
mú sica lenta começou. Eu tive que roubar aquele vinho para salvá -lu.
— Era uma mú sica ruim de qualquer maneira. — London tirou o
telefone do bolso de trá s. — Você tem uma melhor em mente?
Ela balançou a cabeça.
— Você escolhe.
London icou em silê ncio por um momento, rolando pelo telefone.
Dahlia saltou em seus pé s, de bem com a espera. Tudo bem com esticar
esta noite o mais longe possı́vel.
— Aquele vestido que você usou naquela noite. . . — London olhou
para ela por um segundo. — Aquele vestido era á rduo, Dahlia.
— Eu nunca tinha usado antes.
— Mesmo? — As sobrancelhas de London se ergueram um pouco,
um canto de sua boca se erguendo. Elu icou satisfeite, ela poderia dizer,
que elu era ê ú nique que a tinha visto usar.
— Sim. Comprei-o como uma terapia de varejo um dia antes de voar.
Eu tive visõ es de talvez fazer ume nove amigue em LA que poderia
querer sair na cidade uma noite. — Ela sorriu. — Acontece que eu
tenho você .
London inalmente fez uma seleçã o e colocou o telefone no chã o.
Dahlia se moveu para colocar as mã os em volta da cintura mas parou
na carranca profunda em seu rosto.
— O quê ? Você nem quer dançar devagar comigo quando somos
literalmente as ú nicas pessoas aqui?
— Nã o, nã o, isso nã o. E apenas... — London acenou com a mã o no ar
com raiva. — A qualidade do som deste alto-falante do telefone é atroz.
E um insulto a Sam Cooke, honestamente.
Dahlia alcançou ao redor de sua cintura e apertou, empurrando seu
rosto em seu peito.
— Eu vou aceitar.
— Espere — disse London. — Eu nã o deveria ter meus braços em
volta da sua cintura? Nã o sei o que fazer com meus braços agora.
Ela se afastou para olhar para elu.
— Isso nã o soa bastante gê nero normativo?
— Nã o. Eu sou mais alte do que você . Você coloca suas mã os em volta
do meu pescoço, eu coloco as minhas nas suas costas. E assim que
funciona.
Dahlia acomodou o rosto em seu peito, apertando ainda mais o torso.
— Que pena. Estou confortá vel aqui.
Ela ê sentiu balançar a cabeça, mas seus braços envolveram seus
ombros, seus dedos roçando sua nuca.
Foi mais um abraço levemente oscilante do que uma dança, mas era
assim que ela gostava. Ela fechou os olhos, descansando a testa no
ombro delu.
— London — ela disse baixinho depois de um minuto ouvindo a
letra. — Acho que isso é uma mú sica triste.
Ela ê sentiu beijar seu cabelo.
— Todas as melhores cançõ es de amor sã o.
Dahlia nã o sabia o que dizer sobre isso. Entã o ela apenas segurou
London Parker com outra mú sica doce e triste.
No meio da terceira mú sica, London arrastou os dedos pela nuca,
alcançando a linha do cabelo, massageando o couro cabeludo. Seus
olhos se fecharam.
— Meu pai nunca usou meus pronomes — disse London.
Os olhos de Dahlia se abriram.
Ela inclinou a cabeça para trá s para olhar para elu, todos os outros
pensamentos saindo de seu cé rebro.
— O quê ?
Os olhos de London eram ilegı́veis.
— Eu nã o sei por que eu queria te dizer isso agora. Mas... aı́ está .
— Entã o ele nã o. . .
— Sim. Ele acha que estou passando por uma fase, ou algo assim.
Uma fase de trê s anos ao longo da vida.
Dahlia extraiu um braço de suas costas, correu um dedo abaixo de
sua bochecha.
— London. Eu sinto muito.
— Julie me enviou algumas mensagens vagas sobre ele
recentemente. Eu acho que... — A testa de London enrugou. — Acho
que estar no programa causou algum drama, talvez.
— E você odeia drama — Dahlia forneceu.
— Eu realmente odeio.
— O resto de sua famı́lia…?
London assentiu.
— Sim. Eles estã o bem.
— Bom — Dahlia sussurrou.
— De qualquer forma, eu realmente nã o quero falar sobre isso. Eu só
queria que você soubesse.
— OK. — Ela esfregou o pescoço delu.
— Você vai me falar mais sobre... coisas que estã o sempre
incomodando você també m? Coisas de famı́lia ou coisas da vida ou
qualquer coisa.
Os olhos de London estavam procurando, sé rios.
Dahlia engoliu.
— Sim — disse ela. Embora sentir-se deprimida por nunca ser capaz
de agradar sua mã e parecesse uma coisa pequena naquele momento.
— OK. — London levou uma respiraçã o trê mula. E entã o: — Chega
disso.
Elu se inclinou e pegou o telefone.
— Vamos tomar um ar.
Dahlia ê seguiu pelo salã o de baile, em direçã o à porta que conduzia
ao pá tio.
Parecia que ela estava andando em cima de gelé ia.
A raiva in iltrou-se em seu sistema a cada passo, a cada segundo que
as palavras de London percorriam seu cé rebro. Ele nã o tinha usado os
pronomes de London nem uma vez em três anos? Ela passou de um gato
ronronando dentro dos braços de London para uma leoa. Ela queria
rugir, afundar suas garras no peito do pai de London, vê -lo se contorcer
de dor.
Dahlia e London saı́ram para o inı́cio da noite, para o pá tio com a
fonte iluminada e cintilante sob um cé u roxo.
— E estranho que ningué m mais esteja aqui — disse London. — E
lindo.
Dahlia assentiu, mal ê ouvindo, sentindo uma estranha falta de ar.
London virou-se para olhá -la, sua boca se curvou em um meio
sorriso.
— Talvez seja só para nó s.
Dahlia chamou sua atençã o e teve que desviar o olhar.
De repente, Dahlia realmente nã o conseguia respirar.
Oh Deus.
Ela sabia disso há algum tempo, provavelmente. Talvez ela nã o
soubesse disso na ú ltima vez que estiveram aqui neste pá tio, mas em
algum momento depois disso. Talvez a primeira vez que ela realmente
pressionou seus lá bios nos delu. Talvez naquela manhã no chuveiro,
depois do sexo de comida. Este im de semana, provavelmente, quando
elus foram a livrarias e museus e London teve uma leve queimadura de
sol e ela estava mais feliz do que ela jamais poderia se lembrar de estar.
Mas agora, quando London deu um passo em direçã o a ela e ela já
podia antecipar como seus lá bios iriam se sentir em poucos segundos,
ela sabia. Quando London pediu a ela, alguns minutos atrá s, para
contar-lhe coisas, qualquer coisa que a incomodasse, ela sabia que elu
falava sé rio, e ela sabia o que queria dizer a elu. Qualquer coisa e tudo.
Quando London contou a ela sobre seu pai, ela sentiu uma vontade de
proteger London com sua vida, de lutar contra qualquer coisa que já lhe
causou dano.
Porque ela ê amava.
London a pressionou de volta contra a parede de concreto, seus
ombros nus raspando contra sua superfı́cie fria e implacá vel. Ela estava
usando um vestido folgado de verã o, azul marinho pontilhado com
pequenos coraçõ es roxos claros. Sem mangas e gola alta, um pequeno
babado ao redor da gola. Ela estava com o cabelo preso; o babado nã o
funcionava de outra forma.
Este vestido nã o era apertado e revelador como o preto tinha sido, da
ú ltima vez que elus estiveram aqui, mas Dahlia ainda me sentia bonita
neste.
Ela sabia que London sempre a achava bonita. Mas se sentia melhor
quando ela sentiu isso també m.
London se inclinou e reivindicou sua boca. Seus lá bios se abriram
automaticamente para elu, querendo ser reivindicados. Querendo que
London a engolisse inteira.
A boca de London se moveu para a linha do cabelo atrá s da orelha,
suas mã os viajando para fora de suas coxas. Dahlia olhou por cima do
ombro no cé u nebuloso, tons de laranja explodindo atravé s do roxo e
rosa. Um crepú sculo aprimorado pela poluiçã o atmosfé rica. Ela cobria o
pá tio com uma luz quente, fazendo até a pele pá lida de London parecer
dourada. Seus cabelos brilhavam como champanhe efervescente.
— London — ela disse, sua voz tensa. — Você pode me foder duro e
sujo? Bem aqui?
Elu levantou a cabeça para olhar para ela.
— Sim — elu disse depois de um momento. — Eu posso fazer isso.
A brisa beijou a pele de suas coxas enquanto London levantava seu
vestido com as palmas das mã os. Ainda estava quente, embora o sol
estava quase no im, aquela sensaçã o de im de tarde de verã o mais
quente do que deveria ser, pesada e inebriante.
Dahlia suspirou quando os dedos de London alisaram sua calcinha
uma vez antes de puxá -la para baixo completamente, e Dahlia mal teve
um segundo para chutá -la antes que London a empurrasse de volta
contra a parede novamente, empurrando seus lá bios nos dela com força
contundente, enquanto suas mã os deslizavam de volta sob seu vestido e
encontravam seu clitó ris.
Ela gemeu contra seus lá bios. Ela queria que isso durasse para
sempre, esperava contra a esperança de que se London apenas a
fodesse com força su iciente, essa sensaçã o poderia de alguma forma
resolver as coisas. Sexo parecia mais fá cil do que falar, do que dizer a
verdade.
Porque a verdade real, Dahlia sabia, escondida bem debaixo da
superfı́cie como uma mú sica triste e lenta, era que nã o importava o que
acontecesse a seguir, ume delus iria embora em breve.
E talvez ambes estivessem com muito medo de falar sobre isso.
Dahlia preferia esta verdade: o modo como as mã os de London
sempre sabiam exatamente para onde ir, o modo como sua boca sempre
destrancava seus espaços sagrados favoritos.
Como se ouvisse seus pensamentos, London moveu seus lá bios para
seu pescoço e moveu seus dedos até que eles estivessem dentro dela,
dois dedos a iados e profundos. Dahlia afundou sobre eles, empurrando
seu corpo mais perto de suas mã os.
— Eu amo o quã o molhada você está sempre para mim — London
respirou em seu pescoço, enquanto seu polegar encontrou seu caminho
de volta para seu clitó ris.
Ela gemeu, a cabeça caindo em seu ombro.
— Isso é bom. Continue falando sujo, gosto disso.
Dahlia tentou se concentrar em como isso era excitante. Elus estavam
do lado de fora, em pú blico, os sons da rua logo alé m das paredes do
pá tio alto em seus ouvidos, a porta destrancada de volta para o salã o de
baile e o hotel literalmente a centı́metros de distâ ncia. Dahlia nunca
tinha feito nada assim antes. Havia també m o fato de que London estava
totalmente vestide. Enquanto seu vestido estava amarrado em volta da
cintura na momento, Dahlia essencialmente estava també m. Ela sabia
que London ia fazê -la e que ia ser bom, enquanto elu usava aqueles
jeans skinny e aquela camiseta lavanda desbotada. Dahlia nã o entendia
muito bem por que isso era tã o sexy, mas era.
London fez uma pausa, afastando-se dela, recuando uns centı́metros.
— E possı́vel para você subir um pouco? O â ngulo nã o está certo.
Elu mudou sua postura e Dahlia enganchou uma perna ao redor de
sua coxa, arqueando-se tanto quanto podia, ancorando seus ombros
contra a parede. London agarrou seu quadril, prendendo-a contra elu. A
outra mã o emaranhando em seu cabelo, puxando ligeiramente. A leve
pressã o em seu couro cabeludo a fez querer gritar.
London se inclinou e mordeu seu pescoço.
— Puta que pariu — Dahlia disse, meio de surpresa, meio de prazer.
A lı́ngua de London se estendeu para massagear onde seus dentes
haviam acabado de marcá -la, sua pressã o molhada ao mesmo tempo
acalmando e aumentando a dor.
— Toque-me novamente — disse ela, dolorosamente ciente de que as
mã os de London ainda estava ocupadas em outro lugar.
— Nã o até que você prometa parar de se segurar — London disse em
seu ouvido. — Você normalmente é muito mais barulhenta do que isso.
—Bem. — Dahlia tentou gesticular ao redor deles com ela queixo. —
A rua ica, você sabe, logo depois daquele muro.
— Seu ponto é ? — London beliscou sua mandı́bula. — Deixe-os ouvir
você . Gema para mim, Dahlia.
Seus dedos encontraram o caminho entre suas pernas novamente, e
ela fez o que pediu. London estava certe. Era melhor quando ela estava
desinibida. Sentiu-se melhor quando ela deixou seu corpo liberar o que
precisava.
London circulou em torno de seu clitó ris, lento e tortuoso, até que
Dahlia gemeu.
— Mais rá pido. Dois dedos — ela bufou.
— Assim?
— Ah, caralho.
London estava certe. O â ngulo foi muito melhor desta vez.
— Monte minha mã o, Dahlia. — A voz de London era baixa, rouca
contra a bochecha de Dahlia. Perfeiçã o.
Ela passou os braços em volta do pescoço delu, segurando suas
costas, e fez exatamente isso.
— Dahlia — London gemeu, seus dentes beliscando sua orelha. —
Deus. Você é tã o…
Dahlia mordeu a lı́ngua, sentindo-se começando a escorregar, assim
como as palavras de London. E ela ainda nã o queria. Isso tinha que
durar para sempre. Tinha que.
Ela soltou uma respiraçã o pesada enquanto diminuı́a o movimento
de seus quadris. London lambeu seu pescoço.
— Grite por mim, Dahlia.
— Me faça gritar.
Em um movimento suave, seus dedos nunca desacelerando dentro
dela, London caiu de joelhos.
Quando ela sentiu a boca delu nela, ela gritou. Ela en iou a mã o em
seus cabelos e segurou irme.
— London — ela respirou.
Ela nã o conseguia parar. Ela estava alcançando aquele auge agora, o
ponto sem volta, onde tudo parecia tã o bom, e entã o ela voltaria à
realidade e por que, por que isso nã o poderia continuar sendo
realidade? Por que elus tinham que estar em um programa de TV idiota,
por que nã o moravam na mesma cidade, por que ela nã o poderia
continuar tendo apenas isso, isso, isso…
— Oh, puta merda — ela gritou, empurrando o rosto de London para
ela, os dedos apertando naquele maravilhoso cabelo cor de morango.
Ela nunca tinha gozado tã o forte em uma posiçã o de pé antes, e antes
que ela soubesse o que estava acontecendo, suas pernas cederam e ela
caiu, deselegantemente, no chã o, nos braços de London esperando.
Elu se envolveu em torno dela enquanto ela tremia, ainda descendo,
suas mã os acariciando suas costas.
A voz delu era suave e gentil.
— Dahlia — London respirou em sua tê mpora. — Minha Dahlia.
Algo se abriu no peito de Dahlia.
Lá grimas brotaram nos cantos de seus olhos.
Seus braços, que estavam lá cidos ao seu lado, ganharam vida entã o,
envolvendo-se ao redor do torso de London, seus dedos se enrolando
no algodã o macio de sua camiseta.
Elus sentaram-se no chã o duro sob o pesado cé u de Los Angeles, e se
abraçaram até encontrarem força su iciente para se levantarem
novamente.
CAPÍTULO DEZENOVE

No dia seguinte, o Desa io de Eliminaçã o foi baseado no tema das


estaçõ es.
Dahlia foi designada para o outono, o que foi perfeito. O outono era
seu favorito.
Ela adorava a sensaçã o de comida reconfortante, os sabores da
estaçã o tã o importantes quanto lenços e casacos de lã aconchegantes e
folhas caindo.
A melhor hora para a sopa.
Uma sopa de abó bora e feijã o preto, para ser mais precisa, com
sementes de abó bora assadas e croutons condimentados frescos e
crocantes. Era caloroso, farto, saboroso. Era algo que Dahlia realmente
faria para comer em casa, e havia algo sobre isso que parecia certo. Ela
ajustou o tempero vá rias vezes para garantir que fosse doce e cremoso,
mas també m tivesse uma profundidade saborosa, um pouco de efeito
deixado em sua lı́ngua. Ela sabia que as câ meras e o olhar atento de
Janet a seguiam mais de perto do que nunca, mas ela tinha menos
controle hoje. Ela fez London provar nada menos do que quinze vezes.
Um, porque ela honestamente queria o conselho delu. Dois, porque ela
adorava tanto roçar os dedos naquela boca, vê -lu sorrir e acenar em
aprovaçã o.
London tinha sido designade para o verã o, e estava fazendo uma
galette de lavanda de mirtilo com cobertura de merengue de limã o. Era
bonito e leve, o oposto do de Dahlia, mas ela gostava de trabalhar em
coisas diferentes juntes: London con irmou que havia usado a
quantidade certa de pimenta em pó , ela garantindo-lhe que o recheio de
mirtilo nã o era muito doce.
Dahlia desejou, mais tarde, que nã o tivesse sido um dia tã o lindo. Que
ela nã o estivesse tã o satisfeita consigo mesma.
Isso tornaria o fato de os juı́zes odiarem seu prato muito menos
esmagador.
— Nã o é que seja ruim, Dahlia — disse Audra Carnegie. — Mas
estamos cada vez mais perto de decidir quem estará na inal. Você
realmente tem que aumentar seu nı́vel de so isticaçã o neste momento,
e nã o tenho certeza se esta sopa faz isso.
— E feia — Sai Patel disse, sem rodeios. — O gosto é bom, mas é um
prato feio.
p
— Esta sopa está ótima — disse Tanner Tavish. — Mas nã o estamos
procurando isso. Este é um prato para mã es no Pinterest, nã o para
concorrentes no Chef's Special.
Dahlia nã o tinha ideia do que ela disse em reaçã o a esses
julgamentos, se ela disse qualquer coisa, ou como ela voltou para sua
estaçã o. Mas ela estava lá , olhando para a bancada de aço inoxidá vel,
durante o tempo interminá vel que levou para julgar os pratos dos
outros concorrentes. Ela concentrou toda sua energia em nã o olhar
para London.
Ela nã o ouviu o que os juı́zes disseram sobre sua galette, mas ela
tinha certeza de que eles gostaram. Era bonita. Tudo que London fazia
era lindo.
Ela continuou pensando naquela queda em seu primeiro dia no set.
Como seus tacos voaram pelo ar. Como isso foi morti icante.
Mas isso foi bobagem, um meme. Ela nã o sabia o quanto isso seria
pior.
Dahlia pensou que seria eliminada depois de realmente errar em
alguma coisa, quando se debateu em um conjunto de habilidades que
nã o possuı́a. Como fazer um ó timo su lê .
Ela nã o pensou que seria eliminada em algo que ela amava. Quando
ela entrou no Cı́rculo Dourado para seu julgamento inal, algo
engraçado fez có cegas no fundo de sua garganta quando ela percebeu
que a outra concorrente no fundo com ela era Lizzie.
Janet havia orquestrado isso? Ela podia imaginar as manchetes:
Inimiga de London versus Amante de London. As câ meras devem estar
focadas a laser em London agora, editores ansiosos nos bastidores para
em breve emendar em sua foto de reaçã o.
Lizzie estava ao lado dela, queixo erguido, orgulhosa, enquanto
Dahlia mal se mantinha irme. Lizzie sabia que estava entrando na
pró xima rodada. Ela entraria na pró xima rodada, com London, e Dahlia
estava doente de ciú mes e raiva.
Ela sentiu como se estivesse fora de seu corpo, vendo-o passar em
sua pró pria tela de TV na Costa Leste, quando Lizzie voltou para seu
posto e Dahlia ouviu Tanner Tavish dizer seu nome com um suspiro. Ela
se sentiu balançando a cabeça e entregando seu avental para Audra
Carnegie, que sorriu tristemente para ela e apertou sua mã o. As mã os
de Audra eram ligeiramente á speras — mã os calejadas e trabalhadoras
— e algo sobre isso parecia reconfortante para a pele de Dahlia. Talvez
um dia ela pudesse ter mã os assim també m.
Ela se virou, os olhos focados no arco na parte de trá s do conjunto.
Fez seus pé s andarem debaixo dele pela ú ltima vez. Ela nã o se virou
para olhar para trá s em sua estaçã o.
Time Dahlia estava acabado.
Janet a pegou de leve pelo braço na parte de trá s do aparelho pela
ú ltima vez. Elas trocaram um aceno curto e sem palavras. Certo. Hora
de sua ú ltima entrevista.
— Tudo bem que eu vou para casa — Dahlia disse para a câ mera,
tentando manter sua voz irme, sentindo-se entorpecida. Porque nã o
estava tudo bem. Nã o estava nada bem. — Aprendi muito com os juı́zes
e os outros competidores e me sinto muito grata. Eu conheci as pessoas
mais incrı́veis.
Ela parou. Maritza inclinou a cabeça, perguntando-se se Dahlia
continuaria.
— Sinto muito — Dahlia disse. — Isso é tudo que eu tenho.
Maritza assentiu, os olhos gentis.
Dahlia olhou para trá s, para o vidro turquesa grosso que ela sentou
na frente tantas vezes para essas entrevistas individuais. Ela sabia que
todos se sentavam exatamente no mesmo cená rio para essas coisas,
mas parecia quase pessoal, um porto seguro onde ela de alguma forma
se sentia confortá vel compartilhando pensamentos na frente de uma
câ mera. O vidro turquesa era tã o bonito. Ela se perguntou como
poderia replicar algo assim em seu apartamento, e sabia que nã o podia.
Parecia caro.
— Fique de olho em seu telefone — disse Maritza gentilmente. —
Tenho certeza de que Janet vai deixar você saber as informaçõ es do seu
voo de volta para casa quando os assistentes chegarem a ela.
Provavelmente será pela manhã em algum momento. E ei, Dahlia? Você
fez um ó timo trabalho aqui. Descanse um pouco. Você deveria se sentir
orgulhosa.
Dahlia assentiu e se levantou. Parte dela queria dar um abraço em
Maritza – ela realmente gostou do tempo que passou com ela – mas seu
corpo nã o sabia direito o que fazer, como se estivesse funcionando com
bateria fraca. Ela hesitou atrá s da porta fechada porta, medo
acumulando em seu estô mago sobre o que ela iria encontrar fora dela.
Estaria London bem ali, esperando, com os olhos cheios de pena e
decepçã o? Por que ela nã o planejou o que ela queria dizer a elu?
O que ela queria dizer a elu?
Uma pequena lasca de sorte deve ter sido concedida a ela por um
simpá tico Deus, porque quando ela inalmente abriu a porta — ou
quando Maritza inalmente abriu a porta — London estava do outro
lado da sala, conversando com Cath. Suas mã os estavam en iadas nos
bolsos das calças folgadas verde-exé rcito que usava tanto. Elu era a
coisa mais bonita que ela já tinha visto.
Ela girou nos calcanhares e fugiu do estú dio, nã o levando mais um
segundo para olhar para trá s.
A sorte dela nã o durou muito.
— Dahlia. Dahlia, o que você está fazendo?
London envolveu suas mã os ao redor dos pulsos de Dahlia.
Dahlia fechou os olhos ao contato. Sua corrida aqui lhe deu alguns
momentos extras para ela mesma, para desenterrar sua mala do
armá rio, para respirar. Mas ela nã o foi capaz de ignorar a batida em sua
porta que ela sabia que viria. Agora, inevitavelmente, London estava na
frente dela, olhos em pâ nico e pleiteando. E sua mente permaneceu tã o
nebulosa quanto no set da entrevista individual. Isso ia ser o pior.
— O que parece, London. — Dahlia tragou, tentando manter a voz
calma. — Estou fazendo as malas. Meu voo sai amanhã de manhã .
— Mas você … — London gaguejou. Seu rosto estava pá lido,
pontilhado de manchas vermelhas. Elu parecia desequilibrade. — Você
nã o pode sair, Dahlia.
— Eu nã o acho que eu tenho uma escolha.
— Claro que tem! — London soltou seus pulsos e jogou as mã os no
ar. — Diga que você nã o precisa da passagem. Apenas espere comigo.
Espere até eu ir també m. Entã o nó s podemos…
London parou. Entendendo que nunca tinha falado sobre isso, como
terminar aquela frase.
— Você nã o vai agora, London — Dahlia disse, tentando parecer
orgulhosa, nã o triste, mas ela sabia que estava falhando. — Nã o até o
im.
— Entã o ique até o inal! — London implorou, com os olhos
arregalados. — Por favor. Por favor, Dahlia. Nã o me deixe. Eu... Eu nã o
posso fazer isso sem você .
Dahlia sentiu um calafrio percorrendo sua espinha. Tristeza se
transformando em um toque de raiva.
Ela nã o queria icar com raiva delu. Ela queria abraçá -lu e tê -lu
apertando-a com força pelas pró ximas oito horas, e depois beijá -la
docemente antes de sair. Ela queria que elu a acalmasse, dizer-lhe que
tudo icaria bem. E entã o ambes poderiam olhar para tudo isso com
carinho.
Mas seu pâ nico desesperado estava fazendo com que todos os seus
nervos desgastados e embaraçados estalassem, fervessem, raivosos e
quentes, sob sua pele.
Elu estava perdendo o ponto. Elu nã o icaria chateade aqui. Elu iria
vencer; nã o iria? Elu ia receber os $100.000. Elu iria cumprir sua
missã o.
E ela estava feliz por elu. Ela realmente estava.
Mas agora tudo o que ela era capaz de entender era que ela havia
perdido.
Assim como Janet sempre soube. Assim como todo mundo assistindo
em casa provavelmente sempre soube.
Ela tinha perdido tudo.
— Deus. Você vai icar bem.
Dahlia soltou um suspiro, acenou uma mã o no ar. A raiva loresceu
como um vı́rus em seu peito, indesejada, mas pró spera de qualquer
forma.
Ela se virou e continuou jogando roupas em sua mala. Se ela
continuasse se movendo, entã o talvez ela nã o chorasse. O silê ncio
tiquetaqueou enquanto ela trabalhava, London imó vel atrá s dela.
Ela podia senti-lu, poré m, mesmo sem vê -lu. A tensã o em seu corpo,
o estresse apertado em seu rosto pesava sobre seus ombros, uma carga
que ela nã o sabia como lidar.
— Eu larguei meu emprego, London — ela disse eventualmente,
girando de volta para encará -lu. Dahlia sabia que seus fracassos nã o
eram culpa de London. Mas ela precisava deles para pelo menos dar um
testemunho ali. Reconhecer a diferença entre elu e ela. — Nã o sei se
vou conseguir pagar o aluguel mê s que vem. Porra. Porra. Eu sou uma
idiota do caralho.
— Venha para Nashville. — London deu um passo em direçã o a ela,
pegando suas mã os. — Dahlia. Você nã o pertence a Maryland. Você nã o
está feliz lá . Venha para Nashville. Você vai adorar, eu prometo.
Dahlia se afastou, uma sensaçã o gelada enchendo seu peito.
— London. Nã o. Você nã o pode me dizer onde eu pertenço ou nã o,
ok? Isto é minha vida. Eu estou encarregada disso. A razã o pela qual eu
tentei isso foi para ver se eu poderia ser boa em alguma coisa, por conta
pró pria. E segui-lu para casa como uma cachorrinha perdida… —
Dahlia sacudiu a cabeça, fechando os olhos por um momento. — Seria
um fracasso ainda maior do que ser eliminada do Chef's Special.
London parecia feride.
— Eu nã o acho que tentar icar comigo seria um fracasso, Dahlia —
elu disse suavemente, a dor em sua voz evidente.
Mas algo sobre aquela dor cravada no cé rebro de Dahlia, parecia
certo de uma forma doentia. Ela queria que London icasse com raiva
també m. Era tã o solitá rio, estar com raiva sozinha.
— Você nã o entende, London. Eu sei que você tem dinheiro, ok?
Aposto que você provavelmente poderia começar essa organizaçã o sem
ins lucrativos, nã o importa o quê , mesmo sem o prê mio em dinheiro.
Mas eu precisava. Você nã o tem ideia de como estou humilhada agora.
Que eu inalmente tenho que encarar isso, a bagunça que eu sou.
— Dahlia — London disse, uma rispidez inalmente entrando em sua
voz. — Você nã o é …
— Pare.
Dahlia precisava que London parasse de mentir.
— Ok. — London baixou as mã os e respirou fundo e trê mulo. — Eu
sinto muito. Por tentar te dizer onde você pertence. E se... e se eu for
para Maryland?
— O quê ? — Dahlia sacudiu a cabeça, estremecendo até mesmo com
a ideia disso. Por que elu nã o estava entendendo? Ela havia perdido. Ela
estava perdida. Mas elu... elu ia jogar suas chances. Elu tinha tanto pela
frente. Ela voltaria para sua vida, tentaria reformulá -la novamente, e elu
começaria sua organizaçã o sem ins lucrativos no Tennessee. Se jogasse
isso fora por ela, ela nunca se perdoaria. Ou elu. — Nã o. Nã o, London.
Eu nã o quero isso.
London olhou para ela, a cor que estava em seus bochechas
desaparecendo até parecerem pá lidas e evisceradas. Era a pior coisa
que Dahlia já tinha visto.
— London. — Ela colocou as mã os nos quadris, olhando para o chã o.
Tentando ser a voz da razã o, concentrando-se no aqui e agora. — Eu
tenho que ir, mas você tem que icar. Você nã o pode deixar Lizzie
ganhar. OK?
— Dahlia. — London zombou. — Você tem que saber que eu nã o dou
a mı́nima para Lizzie agora.
Dahlia precisava continuar se movendo. Ela estava parada há muito
tempo.
Ela estava icando sem coisas para dizer, coisas que poderiam manter
essa tristeza esmagadora à distâ ncia. Nada estava funcionando, e uma
pressã o estava crescendo atrá s de seus olhos. Ela sabia que se essa
conversa nã o terminasse logo, ou melhorasse de alguma forma, as
lá grimas começariam. E ela nã o sabia, se ela as deixasse começar, se ela
seria capaz de fazê -las parar.
Ela pegou um livro que começara trê s semanas atrá s e nunca
terminou e o jogou na mala.
— Embora talvez fosse assim que tudo isso deveria acontecer no
inal de qualquer maneira — ela murmurou, meio para si mesma. O
esforço para manter-se em ordem estava começando a fazê -la sentir-se
meio delirante. — Lizzie quer começar uma padaria, certo? Nã o é por
isso que as pessoas normalmente fazem testes para esse programa
horrı́vel? Para realmente começar uma carreira em comida? Por que
eles deixaram nó s dois aqui? Deus. Talvez sejamos apenas dois idiotas.
Dahlia colocou um sutiã em cima do livro.
— Eu nã o… — A voz de London vacilou. — Eu nã o acho que você
quer dizer isso.
Ela nã o queria. Ela mal entendia o que estava dizendo neste
momento. Mas parecia meio engraçado para ela, agora que ela pensou
sobre isso. Que nenhum delus se encaixa na narrativa desse programa,
como deveria ser. Que ambos de alguma forma encontraram seu
caminho até aqui de qualquer maneira.
— Eu nã o acho que nó s somos idiotas em tudo — London disse
calmamente, depois de um horrı́vel e constrangedor minuto de silê ncio
enquanto Dahlia procurava debaixo de sua cama por meias perdidas. —
Mas eu acho que você está agindo como um idiota agora.
Ai, pensou Dahlia. Ao mesmo tempo que ela pensou, Justo.
A pressã o estava formigando no canto de seus olhos agora. Zona de
perigo. Ela icou de pé , girando em um cı́rculo, vendo o que mais nas
proximidades ela poderia jogar em sua mala.
— Dahlia — London disse, frustraçã o soando em sua voz agora. —
Você pode, por favor, parar de fazer as malas e olhar para mim? Mostre-
me que eu signi ico alguma coisa para você ? Eu nã o… Eu nã o entendo
por que você está sendo assim.
Dahlia passou uma mã o trê mula pelo cabelo. Ela precisava que elu
saı́sse, agora. Foi demais.
Ela se virou para enfrentá -lu.
Com David ela aprendera como era partir o pró prio coraçã o
lentamente, torturantemente, luta apó s luta, mê s apó s mê s.
Agora ela sabia como era quebrar tudo de uma vez.
— London. — Ela lambeu os lá bios. — Sabı́amos que isso
aconteceria. Você nem sabe o quanto sou grata por… você , por tudo,
mas agora nó s dois temos que voltar para...
— Nã o faça isso. — London deu um passo mais perto. — Você nã o
ouse fazer isso. O que você está dizendo, que isso foi uma aventura?
Você está apenas declarando que acabou? Eu nã o tenho uma palavra a
dizer?
Dahlia nã o podia olhar para elu. Ela olhou apenas alé m de seus
ombro, para a porta, sem saber o que dizer. Ela queria explicar tudo
melhor de alguma forma. Explicar o que elu realmente signi icava para
ela, o que tudo isso signi icava. Ela sabia que estava dizendo todas as
coisas erradas, mas tudo o que podia ouvir era Tanner Tavish dizendo o
nome dela pela ú ltima vez. Maritza, com seus olhos gentis e tristes,
dizendo-lhe que um assistente lhe traria a passagem de aviã o em breve.
Elus deveriam ter falado sobre tudo isso antes, ela e London, mas
elus nã o falaram, e agora, quando ela deveria estar dizendo a elu o
quanto ela ê amava, tudo que ela podia provar era sua pró pria perda
amarga.
— Dahlia. — London tentou novamente, mais gentil desta vez, e a
audá cia delu de ser gentil com ela agora, quando ela sabia que ela
estava sendo horrı́vel, era simplesmente angustiante. — Nã o fuja.
Espere comigo. Fique comigo.
Ela engoliu.
— Você é mais corajosa do que isso — London sussurrou. — Nã o
fuja.
Dahlia fechou os olhos. Havia tantas coisas que ela poderia ter dito.
Eu não sou mais corajosa do que isso.
Eu te amo.
Mas o que ela disse foi:
— Eu acho que você deve ir.
London congelou. Elu a encarou por muitas batidas, cada segundo
parecendo muito longo. Esperando que ela retirasse o que disse.
— Por favor, London — ela sussurrou, a pressã o em sua cabeça
icando dolorosa agora. — Eu quero que você vá .
O rosto delu mudou entã o. Elu cerrou aquela linda mandı́bula e
olhou para o chã o.
— Tudo bem. — London suspirou, e inalmente, inalmente, naquele
pesado sopro de ar, Dahlia ouviu adeus. — Sua profecia auto-realizá vel
inalmente se tornou realidade. Parabé ns, Dahlia. Você també m me
decepcionou.
Dahlia piscou.
Seus ossos pareciam ocos, como os de um pá ssaro. A beira de
quebrar, pulverizando em pó .
London deu um passo para trá s. Elu balançou a cabeça uma ú ltima
vez.
— Divirta-se torcendo por Lizzie.
Não, ela queria chorar. Isso não foi…
London caminhou em direçã o à porta.
Freneticamente, ela tentou compartimentar isso em seu cé rebro, a
ú ltima vez que ela veria London Parker. Mas tudo o que brilhou atrá s de
seus olhos foram mensagens de erro. Tudo parecia errado.
London nã o olhou para trá s. A porta se fechou atrá s delu, o mais
suave dos cliques. Claro que London Parker nã o iria bater portas. Elu
nã o batia.
Elu simplesmente se afastou, quiete e irme. Dahlia olhou para elu, o
sú bito silê ncio de seu quarto de hotel enchendo seu cé rebro, sufocante
e cruel, até que suas pernas cederam e ela caiu no chã o, inalmente
sozinha com sua mala desleixada e meio cheia.
CAPÍTULO VINTE

O primeiro pensamento de Dahlia, quando ela entrou em seu


apartamento, foi que ela deveria cancelar a TV a cabo.
Ela estava sempre pensando em fazer isso de qualquer maneira.
Durante toda a viagem de aviã o de LAX para BWI, seu cé rebro icou
preso em um loop de memó rias. Tomando sorvete e assistindo ilmes
na cama de London, dançando com elu naquele casamento, a brisa do
oceano passando por seus cabelos no carro enquanto elu descansava no
assento ao lado dela. E entã o um novo quadro entraria em cena: o jeito
que London olhou para ela na noite passada. O clique da porta quando
elu saiu. E recomeçar.
Ela derramou todas as lá grimas entre o momento em que London
saiu de seu quarto e o tá xi a levou para o aeroporto. Hora de cortar o
loop agora. Iniciar um novo quadro.
Talvez ela pudesse solicitar o adiamento de seus empré stimos
estudantis. Nã o era uma boa decisã o inanceira, mas seria apenas por
pouco tempo. Todo mundo fez isso. Talvez ela pudesse conseguir seu
antigo emprego de volta, ou candidatar-se a outra coisa no papel. Ela
tinha sido uma trabalhadora só lida. Talvez eles a aceitassem de volta.
A mala de Dahlia bateu no chã o quando ela a deixou cair perto da
porta. Ela entrou em sua pequena cozinha. Encarou seus armá rios
vazios.
Nas ú ltimas semanas, Dahlia cozinhava com os melhores
ingredientes do mundo. Ela quase começou a sentir que era normal, ter
uma despensa interminá vel cheia de comida da mais alta qualidade. Era
tã o bizarro, esta experiê ncia que Dahlia tinha acabado de ter, que de pé
em sua cozinha esté ril agora, ela se perguntou se isso tinha acontecido.
Se ela tinha alucinado o ú ltimo mê s de sua vida inteiramente.
Dahlia entrou em seu quarto. Ela se enrolou em uma bola em cima
das cobertas sem tirar a roupa. Ela tentou se fazer pequena, tã o
pequena e antinatural como se sentia.
Quando ela acordou horas depois, tudo em que conseguia pensar era
o quanto sentia falta do hotel.
Eventualmente, Dahlia se levantou. Ela trocou de roupa. Ela iria
superar isso. Ela só precisava fazer um plano.
Ela encontrou uma colher e um pote meio vazio de manteiga de
amendoim na cozinha e sentou-se em seu sofá Ikea. Ok, ela tinha
sentido falta deste tapete. Afundar os dedos dos pé s em seu luxo de
pilha alta tinha sido a melhor parte de seu dia, à s vezes. Provavelmente
foi a coisa mais bonita que ela comprou para si mesma depois do
divó rcio. Ela deixou David icar com quase todos os mó veis antigos.
Ela caminhou até a janela. Seu apartamento dava para uma rodovia,
os telhados quadrados e cinzas das praças de compras, as copas
ocasionais das á rvores. As vezes, especialmente à noite, ela gostava de
ver as luzes passando na estrada, tantas pessoas a caminho de algum
lugar.
Seu apartamento estava bem. Ela se orgulhava de ter um espaço que
era todo seu.
Era aceitá vel, disse a si mesma, admitir que era difı́cil. Admitir que
voltar aqui o con irmava. Que embora este apartamento tenha sido um
passo importante para ela, por um tempo, ainda nã o se sentia em casa.
E Dahlia de repente, dolorosamente queria um lar.
Você não pertence a Maryland. Você não é feliz lá.
Dahlia se voltou para a sala de estar, segurando ansiosamente seu
pescoço.
Blocos de construçã o. Levando as coisas um passo de cada vez.
Havia uma loja U-Haul ao redor do quarteirã o. Ela iria buscar caixas.
Ela iria pegar pã o e leite no caminho de volta. Etapas um e dois.
Dahlia pegou seu telefone. Passo trê s.
— Olá pai? Ei, sim. Entã o, estou de volta a Maryland. Fui eliminada do
programa. Sim, está tudo bem. Nã o conte a mais ningué m. Nã o… nã o,
pai, estou bem. Mas eu estava me perguntando... Como você se sentiria
tendo uma visita por um tempo?
London apertou os olhos contra o sol.
Eram apenas dez horas, e este dia já parecia ter um milhã o de anos.
Elu nã o tinha ideia de como iria sobreviver neste im de semana.
Os ú ltimos dois dias tinham sido tolerá veis. Claro, London estava
vivendo em um estado de purgató rio excruciante, mas pelo menos elu
conseguia cozinhar. Elu tinha tarefas para completar no set, coisas para
ocupar suas mã os e sua mente.
Depois da briga com Dahlia na terça-feira, London icou deitade na
cama, sem dormir, olhando para o telefone por horas, desejando que
uma mensagem chegasse. Ou talvez uma batida em sua porta. O sono
deve tê -lu alcançado em algum momento, e elu acordou com Janet
batendo na porta delu.
— Eu nã o tive coragem de trazer a buzina — ela disse, quando
London inalmente abriu. — Mas você tem que ir, queride.
E naquela altura, Dahlia já havia partido.
Algué m estava lá para buscá -la no aeroporto? London nã o conseguia
parar de pensar nisso. Hank e seus pais estavam em Massachusetts.
Dahlia nã o tinha, agora que London pensou nisso, mencionado muitos
amigos em Maryland, alé m de alguns antigos colegas de trabalho.
Talvez ela os tivesse chamado. Talvez ela nã o estivesse sozinha. A ideia
de ela estar sozinha ê fez querer colocar fogo em algo.
Mesmo que pensar sobre como as coisas terminaram entre elus na
noite de terça ê fez querer colocar fogo em algo també m.
London icaria feliz com um inferno agora. Basta queimar tudo limpo.
A faı́sca de um novo crescimento.
Mas elu seguiu Janet de volta ao set na quarta-feira de manhã . Elu
havia completado os desa ios naquele dia e no dia seguinte, assistiu
Khari ser eliminado na quinta-feira. Ouviu os juı́zes parabenizá -lu, Cath
e Lizzie por serem os trê s primeiros.
E se sentiu absolutamente entorpecide com tudo isso.
Agora elu tinha um im de semana de trê s dias, antes de um ú ltimo
Desa io de Eliminaçã o na pró xima semana que determinaria os dois
inalistas da oitava temporada, que entã o iriam para a inal.
London nã o tinha ideia de como preencher trê s dias inteiros sem
Dahlia.
Entã o elu estava fazendo o que fez nas duas ú ltimas noites, depois
que voltou para o quarto de hotel depois das ilmagens e percebeu que
nã o tinha vontade de fazer nada alé m de socar as coisas.
Elu andou.
London calçou os tê nis, saiu do hotel e caminhou. Elu andou mesmo
que já estivesse exauste. Andou até os pé s doerem.
Eventualmente, elu chamariam um Uber de volta ao hotel.
Elu sabia que provavelmente deveria devolver o carro alugado. Elu
nã o iria tocá -lo, obviamente. Isso ê lembrava muito dela.
London pegou o telefone agora enquanto caminhava e veri icava se
havia novas noti icaçõ es. Elu tinha silenciado tudo nas ú ltimas
semanas, depois que o primeiro episó dio foi ao ar. Era muito difı́cil
tentar iltrar os trolls dos incentivos, consumindo muito tempo
bloqueando todos que diziam alguma merda. London sabia que elu
estava fora de contato com o mundo, mas francamente, elu estava muito
apaixonade por Dahlia Woodson para se importar.
Desde que ela saiu, elu se conectou novamente. London estava
estupefate com a quantidade de seguidores que elu tinha agora. Elu
conectou-se com todos os seus amigos online novamente, que estavam
pirando e icaram emocionados ao ouvir delu. Era bom conversar com
pessoas que ainda queriam falar com elu.
As mensagens encorajadoras que estavam chegando em sua linha do
tempo e em suas DMs agora pareciam importantes o su iciente para
iltrar os trolls. Elu abafou a besteira #TimeLizzie versus #TimeLondon.
London estava veri icando seu telefone obsessivamente nos ú ltimos
dias, durante os intervalos set, à noite, quando elu nã o conseguia
dormir. Elu tentava deslizar atravé s do pior. Elu clicava no botã o
Bloquear o mais rá pido que podia.
E entã o elu desacelerou para o resto. Certi icando-se de que elu lia
cada palavra.
Eu não posso te dizer o quanto signi ica para mim ver uma pessoa não-
binária na TV. Nesse episódio da semana, Sai e Tanner estavam
discutindo seu prato, e eles icavam dizendo "prato delu" e "habilidades
delu" e eu quase não conseguia acreditar, essas duas pessoas famosas
usando seus pronomes como se não fosse grande coisa. Isso me fez
imaginar um mundo melhor para mim. Obrigade.
Minha ilhe se assumiu esta semana como não-binárie. Assistimos
juntes ao Chef's Special e não posso deixar de fazer a conexão. Muito
obrigado por ser você.
Você está saindo com alguém? Porque estou disponível, todas as horas
do dia. Só pra você sabeeeeeeer
Eu sei que você é de Nashville – você tem algum conselho para uma
criança trans que mora em uma pequena cidade em Kentucky? É como se
fôssemos vizinhos, mas não somos. . . Eu tenho sonhado em me mudar
para Nashville e sair com você e as coisas icarem bem. Mas eu estou
apenas no colegial e não tenho dinheiro e não quero deixar minha mãe,
mas as coisas realmente não parecem bem.
Minha irmã anteriormente meio transfóbica tem uma queda por você e
é hilário. Ela continua dizendo "Elu é apenas ume boe cozinheire!" mas
TODOS NÓS SABEMOS e ela diz ELU!! Ela até nos faz assistir todos os
episódios AO VIVO, como em TEMPO REAL, e quem faz isso? Estou
obcecado com isso. Você está balançando mundos aqui fora, London
Hey London, adoro ver você no Chef's Special! Queria saber se você
poderia dar RT nesse tópico? Está cheio de amigues não-bináries
atribuídes homens ao nascerem e, honestamente, parece que muitas
pessoas nem sabem que estamos aqui também. Obrigado <3
Eu nunca tinha ouvido o termo não-binário antes, mas meu neto me
ajudou a explicar. Ele também está me ajudando a enviar esta mensagem.
Eu quero dizer que estou tão impressionado com sua geração. Eu sei que
muitas pessoas provavelmente dão a você um momento di ícil, mas vocês,
jovens, estão sempre me ensinando coisas novas e interessantes, e eu me
pergunto quantas pessoas da minha geração provavelmente nunca
poderiam ser elas mesmas, e quantos de nós estão se sentindo melhor,
mesmo como velhos esquisitos, vendo você muda o mundo. Obrigado por
me ensinar. Eu espero que você ganhe.
London nã o conseguiu responder a todas as mensagens, muitas
vezes porque elu simplesmente nã o sabia o que dizer. Mas elu
impulsionou e retuitou todos os de outras pessoas trans. Elu enviou
uma mensagem para aquele garoto de Kentucky. Disse-lhe que poderia
sair com elu em Nashville sempre que quisesse.
Elu estava pensando muito naquele garoto em Kentucky.
As mensagens també m foram um bá lsamo contra o controle de
London aumentando a ansiedade sobre sua famı́lia. Elu nã o tinha
notı́cias de seu pai desde aquele Ok solitá rio. E Julie nã o tinha enviado
nada real desde aquela noite, uma semana atrá s. Os Parkers ainda
estavam "muito bem".
London parou para observar um grupo de crianças correndo pelo
pá tio de uma Associaçã o Cristã de Moços. Seus gritos atravessaram os
fones de ouvido de London.
Elu viu cair o grupo em escorregadores, pendurados como macacos
em uma peça estruturada. Eles perseguiam um ao outro em
ziguezagues, pegando as costas dos cotovelos, rindo furiosamente.
London continuou andando depois de um minuto. Uma ideia estava
se formando em sua mente.
Quando mais alguns quarteirõ es se passaram, London quase se
sentiu… animade.
Um acampamento de verã o para crianças LGBTQ+. Um acampamento
de culiná ria, para ser especı́ ique. London encontraria um lugar na
loresta e ensinaria crianças queer e trans e nã o-conformistas de
gê nero de todas as idades como cozinhar.
Dizer à s crianças marginalizadas que elas eram amadas, que tudo ia
melhorar, era muito bom, mas nã o necessariamente mudava suas
realidades. Por outro lado, dar uma habilidade à s pessoas, fazê -las
sentir que eram boas em alguma coisa, era ú til e fortalecedor.
Isso era o que sua organizaçã o sem ins lucrativos seria.
Elu poderia alcançar outras organizaçõ es LGBTQ+ sem ins lucrativos
que já existiam quando chegasse em casa, outros programas da cidade
que já funcionavam para crianças carentes no verã o. Elu espera que o
reconhecimento de seu nome no programa possa incentivar algum tipo
de parceria. Nã o teria que ser tudo por conta pró pria.
A mente de London estava correndo por tudo o que deveria fazer
primeiro quando o telefone tocou.
O barulho ê fez parar, fazer um balanço dos arredores. Elu nã o tinha
ideia de onde elu estava.
— Julie? Está tudo bem?
— Claro, alé m do fato de que você ignorou todas as minhas
mensagens, entã o eu só queria, você sabe, ter certeza de que você estava
vive.
London revirou os olhos. Elu estava ignorando suas mensagens? Elu
nã o sabia honestamente. A memó ria delu estava embaçada nos ú ltimos
dias.
— Você nem respondeu ao vı́deo que enviei onde experimentei a
mochila de caminhada de Ben e imediatamente cai de bunda para trá s.
London riu. Elu assistiu a isso, e foi hilá rio. Deve ter esquecido de
responder. Essa mochila tinha que ser muito pesada para derrubar
Julie.
Entre esta sú bita explosã o de riso e a adrenalina em seu sistema
sobre o acampamento de culiná ria, London quase se sentiu meio vive
novamente.
— Eu sinto muito. Eu assisti. Eu estive distraı́de.
— Algo aconteceu? Você foi eliminade do programa?
— Nã o. — London avistou um café do outro lado da rua. Apertou o
botã o na faixa de pedestres, esperou que o ponteiro laranja mudasse. —
Mais uma vez, eu realmente nã o deveria te dizer nada. Mas estou entre
os trê s primeiros.
— Puta merda, London. Entã o você só precisa passar por mais um
desa io e está na inal?
— Sim. — London se apressou no cruzamento.
— Meu Deus. Oh meu Deus, London, você vai ganhar.
— Eh. Provavelmente nã o. Espere, vou pedir um café e nã o vou ser
aquelu babaca falando ao telefone no balcã o.
— London… — elu ouviu Julie gritar, mas elu já a estava apertando
contra o peito, caminhando até um balcã o preto e lustroso para pedir
seu Americano.
— Ok, entã o o que está acontecendo? — London embalou o telefone
entre a orelha e o ombro depois de pegar a bebida, acrescentando leite
da estaçã o de jarras antes de voltar para fora. — Você realmente ligou
para gritar comigo por nã o responder suas mensagens?
— Por que você nã o acha que vai ganhar? — Julie exigiu, ignorando a
pergunta.
— Tem essa mulher Cath, ela é muito boa. Melhor do que eu
provavelmente. Eu nã o icaria chateade se ela ganhasse. E també m
tem…
London parou no meio de um passo e de uma frase. Elu ainda nã o
queria contar a Julie sobre Lizzie. Elu nem queria ter que dizer o nome
de Lizzie. Entã o elu nã o o fez.
— E entã o há quem? Quem é o ú ltimo concorrente? E... espere.
Espere, London, a ú ltima concorrente é Dahlia?
London sentou-se em um banco.
— Nã o.
— Oh — Julie respirou. — Entã o. . . ela se foi?
— Sim. — London chutou em um pedaço de lixo no chã o. — Partiu na
terça-feira à noite.
London havia contado a Julie alguns detalhes bá sicos sobre Dahlia na
semana passada. Mesmo que nã o tivesse, ativar suas noti icaçõ es
novamente ê havia alertado para o fato de que todos no mundo
aparentemente sabiam sobre elu e Dahlia.
Quase a cada hora, London recebia mais curtidas nas fotos idiotas
que elu postou no im de semana passado, correndo por LA juntes,
comendo em taco trucks e tirando sel ies na frente das armadilhas para
turistas. E porque elu era ume glutã o por puniçã o, elu nã o podia se
obrigar a excluı́-las.
— Espere — disse Julie. — Entã o o que está acontecendo? Você vai
fazer relacionamento a distâ ncia ou...
— Nã o. — London abriu a boca para explicar mais e vacilou. Elu
ainda estava tã o confuse sobre o que diabos tinha acontecido esta
semana que elu nã o tinha palavras para isso. — Isto… parece que nã o.
— Oh — Julie disse novamente, suave e preocupada. — Ah, London.
— Uma pausa. — Por que nã o?
London tomou um longo gole de seu Americano.
— Ela nã o quer.
Julie deu uma gargalhada ao telefone.
— Duvido muito disso, London. Aquela ú ltima foto que você postou,
onde você está tomando sorvete e ela está olhando para você e rindo,
juro por Deus que nunca vi nada tã o puro e...
— Pedi a ela para recusar a passagem de aviã o do programa de volta
para Maryland, para icar comigo e depois vir para Nashville, ou eu iria
com ela, seja o que for, e ela basicamente me disse para ir me foder,
entã o sim, talvez você devesse acreditar nisto.
London bufou uma respiraçã o agravada.
Talvez Dahlia nã o tivesse usado essas palavras exatas. Quanto mais o
tempo passava, mais London mal conseguia lembrar o que qualquer um
delus tinha dito, exatamente.
Mas… bem, parecia que ela disse isso.
Julie icou quieta por um longo momento.
— Quero dizer... você já falou sobre o que realmente aconteceria? Se
algum de você s fosse eliminade?
London quebrou a cabeça. Como elu tinha feito a semana toda. Elu
tinha certeza de que deveria ter, em algum momento. A inal, foi por isso
que London rejeitou o beijo de Dahlia em Malibu em primeiro lugar.
Porque elu estava pensando sobre as coisas. Elu tinha. . .
Elu correu para o quarto dela alguns dias depois e dormiu com ela e
nunca olhou para trá s.
London passou a mã o pelo seu rosto. Elu assumiu que seu silê ncio
era resposta su iciente.
Julie suspirou.
— Ok — ela disse. — Entã o você apenas assumiu que Dahlia se
mudaria para Nashville? Por você ?
As defesas de London entraram em açã o imediatamente.
— Nã o. Eu disse que iria para Maryland també m, mas Julie, Dahlia
odeia Maryland, ok? A ú nica razã o pela qual ela se mudou para lá foi
por causa de seu ex-marido. Ela largou o emprego antes de começar o
programa, entã o nã o há literalmente nada a mantendo lá . Claro que ela
deveria vir para Nashville.
— Certo, mas tipo... você perguntou a ela o que ela queria? Se ela nã o
está ligada a Maryland, talvez haja outros sonhos que ela tem em vez
disso. Talvez ela quisesse mudar para tipo. . . Colorado, ou algo assim, se
ela estava planejando se mudar, e o Tennessee nã o estava exatamente
em seus planos.
London se levantou e jogou a xı́cara de café vazia em uma lixeira. Elu
nã o tinha uma resposta para isso. Mas era irritante que parecia que
Julie nã o estava do lado delu aqui.
Elu també m estava bebendo muito café e comendo muito pouco
nesses ú ltimos dias.
Era possı́vel que isso estivesse afetando seu humor.
Depois de alguns momentos de silê ncio, Julie continuou.
— London, você sabe que eu nã o quero que você saia de Nashville.
Isto seria ó timo se Dahlia se mudasse para cá . Sé rio, eu apoio cem por
cento, se for a escolha dela. Eu apenas sinto que você s deveriam ter
falado sobre isso.
— Tentei falar sobre isso, juro, mas quando cheguei ao quarto dela
naquela noite, depois que ela foi eliminada... ela estava apenas jogando
coisas em uma mala e... Eu nã o sei, era como se ela fosse uma pessoa
diferente.
— Bem, sim, London, ela tinha acabado de ser eliminada do
programa. Ela provavelmente estava pirando.
London parou de andar novamente, apertando o nariz e respirando
fundo. Elu sabia, de repente, que ia chorar, e nã o queria, e elu odiava
isso.
— Eu gostaria que tivé ssemos pelo menos chegado ao encerramento.
Foi o pior, Julie. — London encostou a testa em um poste, lutando para
manter a voz calma. — Eu... Eu nem sei mais o que estou fazendo aqui.
Eu só quero ir para casa.
London ouviu Julie fungar. Elu quase riu, sabendo que ela
provavelmente começou a chorar no segundo em que ouviu a voz de
London gorjear. Ela sentia as emoçõ es de outras pessoas com muita
facilidade.
— De qualquer forma, obrigade por me deixar desabafar, Jules — elu
disse rapidamente, querendo voltar atrá s para que Julie nã o icasse
triste. — Estou bem.
— Nã o, você nã o está , sue grande idiota. — Julie cheirou novamente.
— Deus, eu odeio nã o estar ai. Se eu estivesse ai, teria feito você s
idiotas falarem sobre isso muito antes de Dahlia ser eliminada, e tudo
icaria bem.
Agora London sufocou uma risada.
— Eu nã o sei o que eu estava pensando, vindo para Los Angeles sem
você .
— Você está muito certe — disse Julie.
— Foi uma tolice.
— A ideia també m foi sua.
Julie zombou.
— Nó s está vamos bê bades naquela noite, London. Eu nã o pensei que
quando eu te desa iei a entrar no programa que você realmente, tipo,
faria isso.
London sorriu.
— Claro que você pensou.
Ela suspirou.
— Sim, você está certe. Ok, mas voltando ao programa. Eu sei que
você está chateade com Dahlia, e tenho certeza que você sente falta de
casa, mas chega de conversa de nã o-sei-o-que-estou-fazendo-aqui, ok?
Ou a besteria de eu-provavelmente-nã o-vou-ganhar. Você está entre os
trê s primeiros, London. Eu vi você cozinhar desde que é ramos bebê s,
praticamente. Eu sei o quanto você merece isso.
London se levantou e caminhou por outra faixa de pedestres,
respirando fundo. Elu se sentia inquiete com a ideia de merecer algo.
Dahlia merecia 100.000 dó lares. Cath també m. Assim como qualquer
um, realmente, que trabalhou duro e tentou ser uma pessoa decente.
— Se você diz — elu disse.
— Eu digo isso. Eu acredito que você pode vencer isso mais do que
eu já acreditei em qualquer coisa na minha vida. E ei, se você chegar ao
inal, eles convidam as famı́lias para assistir, certo?
Eles convidam.
Eles també m convidam ex-concorrentes.
Mas Dahlia provavelmente nã o viria. Provavelmente.
Nã o que London tivesse chegado a inal ainda.
Elu de initivamente nã o estava pensando sobre isso.
— Entã o, espero estar aı́ em menos de uma semana para ajudar a
torcer por você . Eu já disse ao trabalho que eu poderia tirar alguns dias
de folga.
Todo o corpo de London cedeu de alı́vio com a ideia de ver sua irmã
novamente. Se elu chegar à inal ou nã o, elu veria ela novamente em
breve.
— Vai ser tã o bom ver você , Julie. Estou feliz que você acredita em
mim. Signi ica muito.
— Oh meu Deus, você é positivamente sentimental aı́. A Costa Oeste
te deixa mole.
— Para ser juste, estou extremamente exauste e nã o tenho me
alimentado direito. Meu cé rebro provavelmente nã o está funcionando
direito.
— Você nã o tem se alimentado direito? — A voz de Julie rapidamente
se transformou em um guincho. — London, você sabe que você está em
um programa de culinária, certo? Deus, você realmente precisa de mim
aı́.
London sorriu e esfregou os olhos novamente. Estava especialmente
quente hoje, e seu binder ê irritava. Elu ligaria para um Uber assim que
desligasse a ligaçã o com Julie. Elu assistiria a um ilme enquanto a
cafeı́na passava, e entã o talvez tirasse uma soneca.
— E ei, London?
— Sim?
— Nã o desista de Dahlia, ok? Porque… você també m nã o deve
desistir de si mesme. E eu me preocupo que é isso que você está
fazendo. As vezes as pessoas cometem erros, especialmente quando
estã o estressadas. Mas… nem todo mundo é igual ao papai, sabe? A
maioria das pessoas assume seus erros se você lhes der algum tempo.
London parou de andar. Elu olhou para os galhos largos e altos de
uma palmeira, imaginando se deveria fazer Julie expandir isso.
Comentar do pai.
— Ok — elu disse depois de um minuto.
— Tenho uma reuniã o em dez minutos, entã o devo ir. Mas, por favor,
me ligue ou mande uma mensagem o quanto você precisar para passar
os pró ximos dias, ok? Eu amo você .
— Sim, tudo bem. Eu també m te amo.
London pediu um carro e en iou o telefone no bolso de trá s. Ficou
olhando para a palmeira enquanto esperava, lembrando o quanto
Dahlia gostava delas. Imaginando se as coisas icariam bem entre elus
se elus tivessem conversado sobre o que ia acontecer depois do Chef 's
Special, como Julie disse.
Depois das coisas que Dahlia disse na noite de terça-feira, poré m, nã o
parecia tã o fá cil.
No universo que London compreendia anteriormente, onde elus
realmente signi icavam algo um para o outro, Dahlia teria caı́do em seus
braços quando elu abrisse a porta. Ela nã o iria mencionar Lizzie, em
qualquer capacidade. London saberia o que fazer, estaria equipade com
as coisas certas para dizer.
Elus nã o teriam se separado no primeiro bloqueio.
A sombra das folhas pesadas das palmeiras deu abrigo a London
enquanto elu descansava, esperando um Toyota prateado, pronte para
escapar do calor implacá vel, do brilho severo do cé u de agosto e das
perguntas sem respostas ocupando muito espaço em sua mente
cansada.
No inal de seu terceiro dia inteiro de volta a Maryland, Dahlia
percebeu que a ú ltima pessoa com quem havia falado era o caixa do
Food Lion dois dias atrá s. O apartamento já estava trê s quartos
arrumado. Talvez ela estivesse pronta para dirigir para Massachusetts
já neste im de semana.
E nã o havia uma alma, alé m de seu pai, que sabia o que estava
acontecendo.
Ela se serviu de uma tigela de cereal e se sentou no sofá . Ela estava
exausta de fazer as malas, nã o conseguia se concentrar em nenhum
livro que ela abria. Só resta uma coisa a fazer.
Com um suspiro, ela ligou a TV e abriu o DVR.
Chef's Special: 3 novos episódios
Dahlia preparou sua psique para ver London.
Mas a primeira coisa que a surpreendeu depois que ela apertou o
play, curiosamente, foi ela mesma.
Isto foi estranho. Dahlia se olhava todos os dias no espelho. Mas ela
nunca tinha visto tanto de si mesma, de uma perspectiva como esta.
Uma vez que a cozinha realmente começou, ela estava... boa.
Competente. Forte.
A câ mera girou atrá s dela para London.
A tela cortou para a introduçã o delu no set de entrevistas individuais.
Dahlia catalogou cada detalhe de seu rosto, destacado tã o
perfeitamente pelas luzes do estú dio: as sardas, as intrigantes manchas
de cores ricas em seus olhos cor de avelã . Como o sorriso delu se
inclinava ligeiramente para a esquerda.
Seu peito doı́a.
Era fascinante ver London trabalhar, agora que ela ê conhecia.
Naquele primeiro episó dio, quando elu parecia tã o mal-humorade para
ela, ela agora reconhecia a tensã o no canto de seus olhos, no conjunto
de sua mandı́bula. Elu estava estressade. Ela queria alcançar atravé s da
tela, atravé s do espaço e do tempo, e retroativamente acariciar aquela
mandı́bula, pressionar uma mã o tranquilizadora na base de suas costas.
O rosto estressado de London estava a dois tons de distâ ncia de seu
rosto de jogo hiperfocado, que Dahlia icou encantada ao descobrir
quando passou para o segundo episó dio. Aquilo pinicava os sentidos
que estavam adormecidos desde que Dahlia desembarcou em
Maryland.
Tã o sé rio. Tã o talentoso. Mas Dahlia conhecia toda a suavidade
escondida por baixo. Como era ter aquela cara de jogo focada nela.
Ela queria sentir a boca delu em sua pele.
Dahlia piscou, movendo-se no sofá . Ela deitou de lado e tentou
acalmar as memó rias vı́vidas, o aquecimento de seu sangue.
Ela se concentrou em como Barbara era doce nesses desa ios,
quantas vezes ela ria de si mesma enquanto estava cozinhando, quantas
vezes ela deu um tapinha tranquilizador no ombro de sua colega de
mesa Ayesha. Dahlia també m sentia falta dela.
Dahlia tinha sido intimidada por tantas dessas pessoas quando ela
chegou ao set. Mas quando ela foi embora, apenas alguns realmente
deixaram um gosto ruim em sua boca. Jeffrey. Khari. Lizzie. O resto
eram apenas pessoas.
A câ mera inevitavelmente escaneou de volta para London, a testa
enrugada em concentraçã o.
Dahlia se perguntou se Julie tinha um olhar semelhante em seu rosto,
sempre que ela e London jogavam jogos de tabuleiro, ou lutavam no
quintal, ou o que quer que os gê meos competitivos ocupassem.
Ela ansiava por ver um á lbum de fotos delus crescendo, todos
membros desengonçados e rostos sardentos sob o sol do sul. Os olhos
de London sempre foram tã o sé rios, mesmo quando criança?
Era bobo, claro. Imaginar essas coisas. Se ela e London se
encontrassem novamente, London iria querer falar com ela? Foi ela
quem ê afastou. Ela nã o podia desejar fotogra ias de infâ ncia agora.
Assistir a esses episó dios foi claramente uma má ideia. Mas ela disse
a si mesma que chafurdar era parte do processo de luto. Ela tinha sido
tã o boa nos ú ltimos dias, tentando esquecer tudo.
Entã o ela deixou sangrar de volta, apenas por um tempinho. Ela
esqueceu que estava cercada por caixas contendo todos os seus
pertences mundanos. Ela esqueceu que suas costas doı́am. Em vez
disso, ela voltou para o mundo do Chef's Special, a vida que ela teve a
sorte de viver por algumas semanas.
Dahlia icou fascinada com o trabalho de pó s-produçã o, como todas
aquelas horas no set foram condensadas em sessenta minutos, como a
mú sica e os cortes izeram tudo parecer muito mais dramá tico. E já
parecia bastante dramá tico, honestamente, durante as ilmagens.
Mas principalmente, Dahlia nã o conseguia parar de olhar para si
mesma. Com quanta alegria havia em seus olhos. Em London, como era
bonite e boe. Isso fez seu corpo se sentir excessivamente cheio.
E entã o algué m bateu em sua porta.
Dahlia saltou, o coraçã o atirado em sua garganta. Ela pressionou
Pause no controle remoto e levou um segundo para se acalmar. Quem
estaria batendo em sua porta de qualquer maneira?
Ela icou paralisada em choque um minuto depois, com a mã o
apertada na maçaneta.
A pessoa do outro lado da porta pigarreou, ajeitando uma mochila no
ombro.
— Olá , Dahlia.
— Mã e?
CAPÍTULO VINTE E UM

Dahlia embrulhou outra tigela no jornal e a colocou na caixa aberta


diante dela.
Ela olhou para a mã e, embrulhando canecas no balcã o oposto.
Por que Dahlia decidiu arrumar a cozinha por ú ltimo?
Tudo era pesado e de formato desajeitado, e havia simplesmente
demais, e Dahlia estava mal-humorada.
Ela ia ter que conseguir mais caixas.
Dahlia odiava caixas.
Ela odiava especialmente embalar as caixas em um silê ncio
desconfortá vel ao lado de sua mã e.
A culpa se desfez dela enquanto ela se mudava para os pratos. Já era
tarde quando sua mã e chegou ontem à noite. Dahlia encontrou lençó is
extras de uma caixa previamente embalada e arrumou o sofá para ela.
Elas nã o tinham falado muito.
Mas quando sua mã e entrou no apartamento, ela disse isso:
— Seu pai me disse que você está se mudando para casa. Já que
parece que você vai icar com ele, pensei em ajudá -la a fazer as malas.
Eu gostaria de ser ú til de alguma forma.
E Dahlia imediatamente se sentiu uma merda.
Ela nem tinha pensado em perguntar à sua mã e.
Nã o que o sonho de todos os pais fosse que sua ilha crescida
voltasse a morar com eles. Mas ela nem sequer enviou um texto
dizendo à mã e que ela estava vindo.
Esposa horrı́vel, namorada horrı́vel, ilha horrı́vel. Cozinheira
medı́ocre.
Elas tinham saı́do para tomar café esta manhã , e Dahlia tentou
compensar isso. Ela tagarelava sobre o programa, cujos desa ios eram
seus favoritos, quebrando seu Acordo de Con idencialidade a torto e a
direito na tentativa de fazer sua mã e sorrir. Sua mã e, por sua vez,
contou a Dahlia sobre as mudanças em New Bedford, as ú ltimas
atualizaçõ es sobre conhecidos da famı́lia. Tinha sido perfeitamente
agradá vel.
E entã o elas voltaram para o apartamento de Dahlia, e um silê ncio
constrangedor desceu mais uma vez.
Elas eram e icientes em equipe, no entanto. Com a ajuda de sua mã e,
Dahlia pode estar pronta para voltar para Massachusetts dentro de um
p p p p
dia.
E ela ainda nã o tinha certeza de como se sentia sobre isso.
Mas, Dahlia lembrou a si mesma, a vida nã o era simplesmente sobre
sentimentos. As vezes, ser adulto signi icava aceitar os fatos. E o fato
era que Dahlia havia perdido o Chef's Special e nã o podia mais morar
aqui, e tomar fô lego em New Bedford era a ú nica opçã o real. Ela
procuraria empregos de editora em Boston. Havia muito trabalho
editorial lá , e seu antigo chefe do jornal escreveria para ela uma
recomendaçã o estelar. Seria bom estar perto de Hank. Talvez ela
dormisse no sofá dele por um tempo enquanto reconstruı́a suas
economias, pagava algumas das contas mais assustadoras.
Dahlia fechou uma caixa e passou para outra que estava meio cheia.
Ela poderia encaixar seu liquidi icador de imersã o lá , algumas conchas
e colheres de pau.
Algo chamou sua atençã o enquanto ela folheava, tentando
reorganizar as coisas para uma utilizaçã o ideal do espaço. Ela estendeu
a mã o para o canto para retirá -lo, sua capa macia e suave contra as
pontas dos dedos.
O coraçã o de Dahlia deu uma pequena palpitaçã o.
Ela realmente jogou isso em uma caixa sem pensar duas vezes esta
manhã ? Ou talvez sua mã e tivesse.
O caderno era maior e mais chique do que o pequeno bloco de notas
que ela sempre usou no set. Dahlia correu para seu quarto, de repente
querendo aquele també m. Estava em sua cô moda, onde ela o jogou em
sua primeira noite de volta, intocado desde entã o.
De volta à cozinha, ela empurrou para o lado caixas e jornais no
balcã o para abrir espaço. Ela se levantou, mã os nos quadris, estudando
ambos os cadernos na frente dela.
O menor era mais bagunçado, propenso a mais derramamento
durante as frené ticas passagens de cozinha cronometradas no
programa. O Moleskine maior e mais arrumado que ela acabara de
desenterrar da caixa morava em sua pró pria cozinha, onde ela podia
levar seu tempo – horas, quase todas as noites – para descobrir as
coisas. Praticar, experimentar, provar e tentar novamente.
Sua mã e veio para icar ao lado dela.
— Eu sinto que estes sã o importantes? — ela se aventurou.
Dahlia lhe entregou o Moleskine. Sua mã e abriu, virando
cuidadosamente as pá ginas.
— A primeira metade sã o receitas que encontrei online ou em livros
de receitas. Eu só os copiei quando tive ajustes que descobri que queria
lembrar. — Quando ela substituia um ingrediente, ou alterava o
tempero, ou adicionava algo novo à mistura.
— Na ú ltima metade — Dahlia disse à mã e —, sã o as minhas.
Nada se comparava à quela primeira receita, mais ou menos na
metade do caderno, que ela mesma izera.
Tinha sido extremamente simples, apenas um prato de arroz com
ingredientes aleató rios jogados, essencialmente uma caçarola, mas
Dahlia ainda se sentia nervosa enquanto o preparava. Escolhendo todos
os seus blocos de construçã o, por conta pró pria, pela primeira vez.
Certo seria uma bagunça.
Mas entã o tinha um gosto bom. Muito bom.
A voz de Tanner Tavish surgiu em sua cabeça.
Este é um prato para as mães no Pinterest.
Ela riu silenciosamente para si mesma agora, que ele achava que isso
era um insulto.
As mã es no Pinterest faziam uma comida deliciosa.
Uma ideia explodiu na mente de Dahlia, refrescante e brilhante, como
um açafrã o depois de um longo inverno.
— Ei, mã e, você se importa se eu passar no Food Lion?
Sua mã e ergueu os olhos do Moleskine.
— Quer que eu vá com você ? — ela perguntou.
— Nã o, tudo bem. Farei o almoço para nó s quando voltar.
Dahlia remexeu em sua bolsa em busca de suas chaves. Esta pode ser
uma das ú ltimas vezes que ela dirigia sua velha má quina antes de
vendê -la. Ela já tinha algumas ofertas decentes online; ajudaria a
compensar o custo do U-Haul.
— Parece bom — disse sua mã e, seu rosto voltou-se para o caderno
de Dahlia.
Dahlia pode nã o ter um carro ou um apartamento em breve, mas
quando ela pegou os poucos ingredientes que precisava na loja, ela
sabia que tinha aqueles dois cadernos. Aqueles cadernos eram ela,
desleixados e reais e cheios de fracassos e sucessos. Um testemunho de
que Dahlia Woodson podia aprender coisas novas, sozinha, só porque
queria.
Entregar aquele Moleskine para sua mã e olhar foi outra tentativa de
compensar as coisas. Foi como entregar seu coraçã o.
Dahlia colocou os ingredientes no balcã o quando voltou. No
programa, ela eviscerou e puri icou uma abó bora de verdade, mas ela
nã o precisava ser tã o chique agora. Ela teria deixado de molho seu
pró prio feijã o preto durante a noite també m, se ela fosse uma boa chef,
mas tudo bem. Dahlia nã o tinha vergonha da comida enlatada diante
dela.
Sua mã e a ajudou a encontrar as coisas que ela já tinha embalado e
que ela precisava: sua boa panela, temperos, um pouco de azeite.
— Posso ajudar? — sua mã e perguntou, quase esperançosa.
Dahlia estudou seus ingredientes e balançou a cabeça, mas sorriu.
— Nã o, eu estou bem. Você pode apenas relaxar. Nã o vai demorar
muito.
Dahlia colocou uma mú sica e começou a trabalhar.
O movimento de suas mã os, o cheiro de especiarias enchendo o ar. O
ritmo da agitaçã o, a paciê ncia da espera, a magia dos ingredientes se
fundindo por conta pró pria.
Pela primeira vez em dias, Dahlia se sentiu bem em seu corpo. Ela
quase chorou de alı́vio.
Assim que os sabores ferveram o su iciente, ela trouxe duas tigelas
fumegantes para o sofá .
Sua mã e sorriu depois que ela tomou seu primeiro gole. Dahlia fez,
també m. Era doce e picante, quente e reconfortante em sua barriga,
cheio de promessas de folhas girando e luz dourada. Logo seria
setembro, e Dahlia estava feliz. Seria mais fá cil, de alguma forma, ela
pensou, icar triste no outono.
— Isso é delicioso, Dahlia — sua mã e disse.
Dahlia olhou para sua tigela, ainda sorrindo.
— Este foi o prato que me tirou do programa — disse ela.
A colher de sua mã e chacoalhou contra o lado de sua tigela.
— O quê ?
— Eu iz esta sopa. E acho que foi muito sem graça e feia — disse
Dahlia, engolindo outra colherada. — Mas eu gosto.
Sua mã e colocou a tigela na mesa de café com um barulho alto.
— Está tudo bem? — Dahlia olhou para ela, com um sorriso
vacilante. — Muito quente?
E entã o, confusa, ela percebeu que os olhos de sua mã e estavam
molhados.
— Eu nã o estou com raiva porque você se divorciou de David — sua
mã e disse.
Dahlia congelou com outra colherada a meio caminho de sua boca.
— Uh — ela disse, abaixando sua colher. — Ok.
Quando sua mã e simplesmente mordeu o lá bio, nã o adicionando
mais nada a esta declaraçã o estranha e chocante, Dahlia juntou sua
tigela de sopa com a de sua mã e na mesa.
Dahlia se virou, apoiando um cotovelo no encosto do sofá .
— Mã e — ela pediu.
— Hank pode ter dito algo vago para mim, sobre algo que você disse
a ele.
— Ugh. — Dahlia deu um tapa na testa com a palma da mã o. Hank!
Que boca grande. Dahlia deveria saber.
— Dahlia, eu sei que você pensa que eu estava brava com você . Ou
chateada, ou algo assim. E eu estava chateada. Você nã o tem ideia de
como é difı́cil ver sua ilha com dor. — Sua mã e franziu a testa. — E sim,
eu estava entusiasmada com os netos. Ok? — Ela piscou um rá pido
revirar de olhos. — Entã o me processe.
Mesmo que até agora essa conversa estivesse con irmando os medos
de Dahlia, algo sobre o revirar de olhos de sua mã e, esse toque de
honestidade aberta, tã o incomum para sua mã e, fez Dahlia querer rir.
— Mas eu nunca iquei brava com você — sua mã e continuou
rapidamente. — Eu fui... ciumenta, talvez.
— Ciú mes — repetiu Dahlia em silê ncio.
— Sim. Fiquei com ciú mes quando entendi que o divó rcio foi ideia
sua. Que era o que você queria. Mas també m nã o iquei surpresa. Você
sempre soube o que queria, Dahlia.
Dahlia abriu a boca para interromper, mas sua mã e continuou.
— E ainda mais do que isso, você segue em frente para conseguir o
que quer. E uma qualidade que pouca gente tem, sabe. De initivamente,
nã o uma que eu já possuı́, por mais que eu desejasse.
O cé rebro de Dahlia estava trabalhando em sobrecarga para
processar todos estes… sentimentos de uma mulher que raramente
falava sobre sentimentos. Sua mã e parecia francamente melancó lica
agora.
Nada disso fazia sentido.
— Você pensa... que eu sei o que quero? — Dahlia perguntou
incré dula.
Dahlia estendeu o braço, gesticulando para a sala cheia de caixas.
— Mã e. Este nã o é o apartamento de uma mulher que sabe o que
quer. Este é o apartamento de uma mulher de quase trinta anos que vai
voltar a morar com um dos pais.
— Exatamente — disse sua mã e fervorosamente. — Por favor, Dahlia,
se você realmente quisesse icar neste apartamento, você faria isso
acontecer. Como algué m que conhece você há quase trinta anos,
acredite em mim, você faria. Mas você sabe que precisa de um novo
começo, e é isso que você está fazendo acontecer. Você acha que eu
seria capaz de en iar meu rabo entre minhas pernas e pedir ajuda aos
meus pais quando eu tinha vinte e poucos anos? Nã o, porque nã o foi
assim que fui criada.
Os olhos de sua mã e brilharam com algo parecido com… raiva?
Arrependimento?
— Eu teria encontrado um emprego que odiaria e seria
absolutamente miserá vel, desde que mantivesse as aparê ncias.
Dahlia afundou no sofá , sem saber o que dizer.
Sua mã e respirou fundo, recuperou um pouco de compostura.
— O que quero dizer, Dahlia, é que toda a minha vida, tentei fazer o
que deveria fazer. Eu nunca me permiti ouvir o que eu realmente
queria. Estou tã o, tã o orgulhosa de você , que você faz isso, que você
sempre fez.
Dahlia sabia que deveria estar absorvendo isso, deixando absorver
toda a dor dentro dela, transformando essa dor em algo melhor. Mas em
vez disso, ela apenas se sentiu confusa.
E um pouco irritada també m. Que aparentemente sua mã e sempre
estava tão, tão orgulhosa dela, mas estava apenas expressando isso
agora.
— Entã o você nã o está … decepcionada comigo?
— Nã o, Dahlia — sua mã e respondeu imediatamente. — Claro que
nã o. Me desculpe se… — Ela parou, aparentemente perdida em
pensamentos.
— E como se eu sempre mantivesse minha cabeça baixa — sua mã e
começou novamente —, nunca escutei meus instintos, à s vezes sinto
que toda a minha vida adulta foi surpresa atrá s de surpresa. Eu iquei
surpresa quando você me disse que estava se divorciando. Se eu agi
mal, é por isso. Eu sinto muito. Mas eu nã o fazia ideia, e pelo que você
disse, as coisas nã o estavam bem por um tempo. Eu sei que nã o sou seu
pai, eu sei que nã o somos... amigas, mas uma mã e ainda deve saber
quando seu ilho está infeliz. Entã o eu estava chateada comigo mesma.
E entã o, como eu disse, depois que eu percebi que você era a
instigadora do divó rcio, que você passou por essa coisa horrı́vel e
assustadora porque você acreditava em sua pró pria felicidade…
A umidade nos olhos de sua mã e reapareceu entã o, com força,
ameaçando derramar. Mas sempre a rainha da compostura, ela fungou,
limpando-a.
— Eu estava com ciú mes. Orgulhosa, mas com ciú mes. O que é uma
coisa egoı́sta de se sentir. Eu sinto muito.
— Mas... Mã e... desculpe, nã o entendi. Você també m passou por
aquela coisa horrı́vel e assustadora.
— Sim — sua mã e disse simplesmente. Ela se sentou rigidamente,
alisando as palmas das mã os sobre o jeans. — Meu divó rcio foi
diferente. Mas nã o é apropriado falar sobre isso com você .
Dahlia piscou para ela. E de repente, ela entendeu.
O divó rcio de seus pais nã o era o que sua mã e queria.
O divó rcio deles deve ter sido outra surpresa.
— Eu tenho feito terapia — sua mã e disse rapidamente, passando
por isso. — Sei que só posso controlar minhas pró prias reaçõ es à s
coisas, e as de mais ningué m, nem mesmo as de meus ilhos. Mas
suponho que eu... queria que você soubesse mais sobre minhas reaçõ es.
Caso eu nã o tenha explicado bem no passado.
A mandı́bula de Dahlia caiu em choque.
— Mã e — ela disse depois de uma pausa constrangedora. — Você
está indo para a terapia?
— Nã o há nada de errado com a terapia — sua mã e gorjeou.
— Eu sei — Dahlia disse imediatamente.
— Mas sim. Nã o foi apenas Hank que me inspirou a vir aqui. — Sua
mã e estudou suas unhas, um sorriso malicioso e engraçado crescendo
em seu rosto. — Nonna e Nonno estariam rolando em seus tú mulos,
provavelmente.
— Talvez nã o — Dahlia disse. — Nunca se sabe. — E entã o: — O que
mais te pegou de surpresa? Você disse que toda a sua vida adulta foi
surpresa atrá s de surpresa.
Dahlia estava tentando imaginar sua mã e como uma pessoa agora.
Nã o como sua mã e, mas uma pessoa normal com inseguranças e
dú vidas. Era como se de repente o quebra-cabeça de sua mã e estivesse
se juntando, peça por peça, e Dahlia quisesse ver tudo.
Sua mã e balançou a cabeça rapidamente, como se já tivesse falado
demais.
Mas entã o ela disse:
— Posso dizer uma coisa que me pegou de surpresa. Você . — Ela
olhou para cima, os olhos brilhando, olhando diretamente para Dahlia
pela primeira vez. — Estar na TV. — Ela gesticulou para a tela escura e
silenciosa em frente a elas. — E lorescendo nisso.
— Mesmo? — Dahlia mordeu o interior de sua bochecha para tentar
acalmar o sorriso que explodiu em seu rosto com a aprovaçã o de sua
mã e, aprovaçã o que ela estava realmente tentada a acreditar.
Mais uma vitó ria para o Time Dahlia.
Tentando um tom de calma fria, ela perguntou:
— Você acha que eu loresci com isso? Mesmo caindo de cara?
— Claro — disse a mã e. — Você é tã o cheia de vida na tela, Dahlia.
Você é natural.
Sua mã e estendeu a mã o e pegou sua sopa. Finalizando a conversa.
Silenciosamente, o cé rebro girando, Dahlia se mexeu em seu assento
e alcançou para sua pró pria tigela. Ainda estava morna.
— Falando no programa — disse sua mã e —, nunca consegui assistir
ao ú ltimo episó dio. Você o tem guardado? Seria estranho assistir
juntas?
Dahlia sacudiu a cabeça lentamente.
A mã e dela havia interrompido a maratona do Chef's Special na noite
passada apó s o segundo episó dio. Dahlia també m nã o tinha assistido ao
terceiro.
Dahlia pegou o controle remoto.
— Ei mã e? — ela disse. Sua mã e olhou para ela. — Estou muito feliz
por você ter vindo.
E quando ela disse isso, Dahlia percebeu que era verdade. Nã o só por
causa de tudo que sua mã e tinha acabado de dizer a ela, mas porque
empacotar tudo o que ela possuı́a tinha sido muito solitá rio. E porque
ela nã o tinha certeza, exatamente, de como ela iria conduzir seus
mó veis sozinha até o U-Haul. E mesmo que Dahlia gostasse de pensar
que ela poderia dirigir um U-Haul centenas de quilô metros sozinha,
ainda seria bom, sabendo que sua mã e estaria seguindo atrá s,
certi icando-se de que ela estava segura.
Dahlia e sua mã e nã o se abraçaram uma vez desde que sua mã e
apareceu em sua porta na noite anterior. Mas o sorriso que a mã e de
Dahlia deu a ela agora parecia pró ximo o su iciente.
Dahlia apertou o Play.
Foi o primeiro Desa io no Mundo Real no quartel dos bombeiros. O
bar mitzvah.
Dahlia terminou sua sopa. Ela colocou a tigela vazia no chã o e
abraçou os joelhos contra o peito.
Ela e London estavam tã o pró ximos ume de outre. Ningué m mais
estava tã o perto um do outro. Barbara e Janet estavam certas.
Realmente era ó bvio.
Eles nã o exibiram ela e London falando sobre torturar Jeffrey, mas
como esperado, eles foram ao ar quando Tanner gritou com ela. Dahlia
estremeceu.
— Que idiota — disse sua mã e com uma carranca.
Dahlia se permitiu um pequeno sorriso.
E entã o a câ mera mudou para London.
Dahlia nã o se lembrava de ter visto a reaçã o de London naquele
momento. Ela estava muito ocupada voltando ao trabalho, tentando
agir com seriedade.
Ela havia perdido aquelu London olhando abertamente para Tavish.
Bochechas coradas, mandı́bula cerrada, olhos como facas. Como se
London quisesse socá -lo. Por ela.
Dahlia pausou o episó dio, com o coraçã o martelando.
Ela abriu a boca, sentindo-se ligeiramente selvagem. Talvez sua mã e
a tivesse inspirado. Dahlia també m podia falar verdades
surpreendentes no ar.
— Aquela pessoa aı́? London? — Dahlia disse, seu peito apertando
quando ela disse seu nome em voz alta. — Estou apaixonada por elu.
Sua mã e soltou um pequeno suspiro, levou a mã o à boca.
— Ah — ela disse. — Oh. — E entã o, depois de uma batida: —E elu
é ... Oh.
— Sim. — Dahlia deduziu seu signi icado. — Eu sou queer. Acho que
nunca te disse isso.
— Nã o — sua mã e disse. — Nã o, você nã o disse. Mas obrigada por
me dizer agora.
Dahlia riu de repente, um grasnado engraçado, como se viesse do
fundo de suas entranhas.
— E Hank disse que eu nunca te conto coisas! Tome isso, Hank.
Sua mã e soltou uma risadinha nervosa mas icou sé ria rapidamente,
sua mã o agora descansando em seu peito.
— Obrigada, Dahlia — ela disse novamente — por me dizer.
Dahlia pegou o controle remoto, mas sua mã e rapidamente estendeu
a mã o para cobrir a dela, dizendo-lhe para esperar. Dahlia deu uma
olhada. O rosto de sua mã e parecia confuso, como se ela estivesse
trabalhando em algo.
— Dahlia — ela disse. — Você mal tocou em seu telefone desde que
cheguei aqui. Você nã o ligou ou até mesmo mandou uma mensagem
para algué m.
— Boa maneira de esfregar minha vida social emocionante na minha
cara, mã e.
— Nã o, nã o. — Sua mã e acenou com a mã o para ela em irritaçã o. —
Dahlia. Estou honrada e um pouco chocada que você acabou de me
dizer isso, mas... você disse a London que está apaixonada por elu?
Dahlia olhou para os dedos dos pé s.
As desculpas que ela deu a si mesma em LA pareciam murchar. Ela
sabia que nenhuma delas faria sentido se ela as dissesse em voz alta
para sua mã e.
— Nã o.
A mã e de Dahlia cruzou os braços sobre o peito.
— Bem. Dahlia Grace Woodson, se você nã o pegar todo esse discurso
que acabei de lhe dar e colocá -lo em bom uso aqui, icarei desapontada
com você .
E entã o Dahlia realmente riu.
Você sempre soube o que queria.
E ainda mais do que isso, você segue até conseguir.
Dahlia mastigou seu lá bio.
Ela poderia…?
Seria London…?
Oh Deus.
Oh, Deus, ela ia tentar de qualquer maneira.
Ela se levantou, sentindo-se meio como se fosse desmaiar, meio como
se pudesse correr uma maratona. Ou, tudo bem. Pelo menos uns 5Km.
— Ok — ela disse. — Acho que posso ter uma ideia.
— Claro que sim — sua mã e disse suavemente.
Dahlia caminhou até a porta e en iou os pé s nos sapatos.
— Assim... Vou voltar para o Food Lion. Sim. Ok. E isso que vou fazer.
— Ela assentiu, sua con iança aumentando conforme ela falava consigo
mesma, lenta mas seguramente. — Só preciso de mais alguns
ingredientes.
Dahlia encontrou seus ó culos escuros e as chaves do carro e
gesticulou para a TV.
— Fique à vontade para continuar assistindo, se quiser. Eu sei o que
acontece.
— Dahlia? — sua mã e ligou quando ela já estava na metade da porta.
Dahlia virou em seu calcanhar.
— Sim?
Sua mã e se levantou e procurou em sua bolsa antes de empurrar uma
nota de vinte dó lares nas mã os de Dahlia.
— Você se importaria de pegar uma garrafa de vinho? Foi um dia e
tanto.
Dahlia sorriu.
— Claro, mã e.
E entã o ela se foi.
London caiu pesadamente em sua cama, de cara, ao retornar ao seu
quarto de hotel na noite de segunda-feira. Elu gritou surdamente em
seu travesseiro.
Hoje, em suma, foi horrı́vel.
Horrı́vel com força.
Elu estava tã o pronte para voltar ao set esta manhã . Era o ú nico lugar
em que London parecia normal agora. Os desa ios começaram a parecer
quase fá ceis, agora que nã o havia mais nada no set para distraı́-lu.
Tã o fá cil que London estava navegando direto para a inal. O
confronto inal.
Elu só tinha um concorrente para vencer.
E nã o era Cath.
London já estava imaginando isso, elu percebeu. Dois queers
desajustades que sabiam cozinhar por tudo o que valiam. Agora isso
seria uma inal de Chef’s Special para esperar. Ume pansexual
abertamente nã o-biná rie e uma mulher tã o obviamente gay quanto o
dia era longo? Convide Carly Rae Jepsen e pendure bandeiras de arco-
ı́ris nas vigas.
Mas Cath tinha sido eliminada hoje.
Elu nã o podia acreditar que Cath havia sido eliminada.
A amargura desceu ao sistema de London.
Era assim que deveria ser, nã o era? Os produtores provavelmente
planejaram isso desde o inı́cio. Isso realmente nã o ê havia incomodado
até agora. Time London versus Time Lizzie, certo? Que grande
momento da TV.
London deslizou para fora da cama. Elu estava no quarto há menos
de cinco minutos e nã o aguentava mais. Elu tinha realmente cogitado
pedir um novo quarto neste im de semana. Um onde elu nã o tinha
dormido com Dahlia.
Elu pegou seu cartã o-chave e foi embora.
Quando London voltou para o saguã o do hotel quase duas horas
depois, aquela explosã o do ar-condicionado ainda era um choque a
cada vez, Hugo na recepçã o ê chamou.
— Ei, London! Fico feliz em te encontrar. Tenho algo para você .
London tinha conhecido muitos funcioná rios do hotel ao longo das
semanas. Hugo era um de seus favoritos.
— Eu ia deixá -lo do lado de fora da sua porta, mas iquei preocupado
que algué m o pegasse.
— Sim, obrigade, cara. — London pegou o pacote da mã o de Hugo
com um aceno de cabeça. Elu caminhou até o elevador, imaginando o
que a mã e delu havia enviado para elu agora. Embora tenha sido meio
estranho. A mã e delu, junto com o resto da famı́lia, chegaria de aviã o
amanhã . Ela provavelmente poderia ter esperado para dar a London o
que quer que fosse pessoalmente.
Foi só quando estava dentro do elevador, a caminho do andar, que
olhou para baixo e viu a caligra ia torta e bagunçada na frente da caixa.
As portas do elevador abriram. London quase as deixou fechar
novamente, prese contra a parede do elevador em choque mudo.
De alguma forma, elu voltou para seu quarto. Elu colocou a caixa em
sua cama. Encarou-a por alguns longos momentos.
E entã o elu vasculhou todo o quarto de hotel, procurando por algo
a iado. Ela tinha gravado o inferno do lado de fora desta coisa. Com uma
meia risada, London pensou em como elu deveria investir em uma de
suas multiferramentas do Exé rcito Suı́ço. Ela estaria preparada, se
estivesse aqui.
Eventualmente, elu en iou as chaves do carro alugado a ita vezes
su icientes para obter um rasgo irregular. O coraçã o delu ia bater direto
no peito.
Assim que London abriu a caixa, elu cambaleou para trá s.
Puta merda.
O cheiro.
London sabia exatamente o que era, e elu cobriu a boca para escapar
do cheiro e segurar uma risada. Com as pontas dos dedos, elu levantou
o Tupperware ofensivo e voltou para o corredor, até o lixo, onde jogou
tudo dentro, silenciosamente se desculpando com qualquer um que
passasse pelo corredor e tivesse que aguentar. Couves de Bruxelas,
assadas com alho e manteiga, e depois deixadas para apodrecer em um
pacote enviado por todo o paı́s.
De volta ao seu quarto, com uma leve trepidaçã o agora, elu examinou
o outro conteú do da caixa. Um outro Tupperware e um bilhete.
London sentou-se na beirada da cama e abriu o papel dobrado.
Eu sei. Eu sei. Espero que não cheire muito mal. Tentei fechar bem o
recipiente com ita adesiva, mas estou nervosa. Eu não podia comprar
embalagens refrigeradas. Se está horrível, você só tem que culpar a si
mesme.
Sinto muito, London. Você não sabe o quanto eu sinto muito.
Você é ê únique chef por quem estou torcendo.
Vejo você em breve.
Beijo
London abriu o outro Tupperware, deu uma cheirada. Nã o parecia
que as couves de Bruxelas tinham se in iltrado demais. Elu moveu a
caixa de papelã o vazia para o chã o e deitou de lado, apoiade em um
travesseiro, mastigando as misturas de arroz Krispies. Elu leu a nota,
repetidamente. Imaginou ela escrevendo, rabiscando a primeira parte
rapidamente, depois parando, mordendo o lá bio, brincando com a
ponta da caneta.
Vejo você em breve.
London correu os dedos sobre o papel, as dobras onde seus dedos
estiveram.
Elu fechou os olhos. Elu se sentia mais fraturade do que nunca, de
uma maneira estranha, seus tendõ es e ligamentos tensos e frá geis.
Mas entã o elu começou a rir. Elu riu sozinhe em seu quarto de hotel
solitá rio até que mal conseguia respirar, e cada sacudida de seus
ombros, cada chiado de seus pulmõ es trouxe seu corpo mais perto de
se recompor, novas cé lulas se estendendo sobre as feridas, tentando o
seu melhor, cutucando umas à s outras, nã o desistindo desses ossos
cansados ainda.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

— Ei, irritante. — Julie bateu no braço de London. — Talvez deixe seu


telefone de lado e aproveite algum tempo de qualidade com sua famı́lia
que você nã o vê há mais de um mê s.
— Julie — sua mã e soltou um murmú rio do outro lado da mesa. —
Sé rio. Linguagem.
— Tudo bem, mã e. Você diz a London para parar de enviar
mensagens de texto para a namorada delu e realmente sair com a gente.
A carne e o sangue delu, que voaram por todo o paı́s em um voo
corujã o...
— Eu nã o estou mandando mensagens para ela — London
interrompeu. Mas elu en iou o telefone no bolso de qualquer maneira.
Elu estava olhando obsessivamente para o telefone desde que
recebeu aquele pacote, esperando por uma mensagem, imaginando se
deveria enviar uma primeiro? Sim, sim, elu tinha. Talvez elu estivesse,
de fato, sendo irritante.
Dahlia parecia tã o perto agora. Todos os ex-participantes do Chef's
Special, das temporadas atuais e anteriores, foram convidados a
participar da inal amanhã . London nunca teve certeza, até que elu
estivesse mastigando misturas de arroz Krispies na noite passada, que
Dahlia estaria lá . E agora… agora o bilhete de Dahlia com sua grande
caligra ia alegre estava no bolso de trá s, e pelo que sabia, ela poderia
estar de volta a LA agora, enquanto elu e sua famı́lia jantavam neste
restaurante italiano chique. Ela estava descarregando a mala no hotel?
Elus poderiam estar respirando o mesmo ar novamente. London estava
praticamente vibrando com isso.
— Entã o você admite que ela é sua namorada — disse Julie, com um
sorriso satisfeito no rosto.
— Eu odeio você — disse London.
— Nossa, como eu senti falta de você s dois brigando a cada segundo
do dia — disse a mã e delu, levando uma taça de vinho à boca. Que se
curvou em um sorriso.
A boca de London nã o podia deixar de espelhar a dela. Elu també m
tinha sentido.
Mesmo que nã o izesse ideia se Dahlia Woodson era realmente sua
namorada ou nã o.
Deus, elu queria falar com ela. Elu queria beijá -la e conversar sobre
todas as coisas que deveriam ter falado antes de ela partir.
Mas primeiro, egoisticamente, elu queria repassar o cardá pio com
ela, para amanhã . London já o havia examinado em profundidade com
Sai, Tanner e Audra; elu sabia que tinha feito tudo o que podia nesse
ponto. Mas conversar com Dahlia sobre comida acalma seus nervos. Ela
lhe asseguraria que tinha feito as escolhas certas, que poderia fazer
isso, que seria melhor do que Lizzie, que...
— Ok, ouça. Tentei manter minha boca fechada aqui, mas tenho uma
pergunta agora.
O sorriso de London caiu, levado pelo vento forte que era o pai delu,
avançando pesadamente para descansar os cotovelos na toalha de mesa
branca.
Desde que sua famı́lia chegou ao LAX naquela manhã , London e seu
pai mal trocaram dez palavras. Tom Parker simplesmente icou em
segundo plano o dia todo, tã o mal-humorado e distante quanto um
adolescente. Parecia... estranho, e nã o como seu pai, e havia uma tensã o
subjacente no rosto de sua mã e durante todo o dia que London estava
tentando ignorar. Suas irmã s ajudaram. Jú lia, Sara e Jackie estava
balbuciando o dia todo, claramente compensando demais o que diabos
estava acontecendo com sua famı́lia, e London foi com isso. A nota no
bolso de trá s de London també m estava ajudando, um conforto
silencioso.
Elu só tinha que passar pela inal, dissera a si mesme. E entã o elu
convocaria a capacidade mental para lidar com o que quer que fosse
essa nuvem da famı́lia Parker.
Mas Tom Parker tinha bebido esta noite. Fortemente. E,
aparentemente, ele estava pronto para o trovã o agora.
— Tudo bem, pai. — London suspirou, recostando-se na cadeira. —
Vamos fazer isso.
Os olhos de seu pai se ixaram nos delu.
— Você é lé sbica agora, ou algo assim?
— Pai — disse Julie, mas o pai delu ergueu a mã o desdenhosamente,
silenciando-a.
A mandı́bula de London apertou, mas eles nã o se moveram.
— Eu sou pansexual, pai, como eu te disse na faculdade. E…
— Você sempre trazia garotos para casa, no ensino mé dio — seu pai
continuou, acenando com outra mã o enquanto ê interrompia. — Mas
agora, aparentemente, você tem uma namorada.
London trouxe para casa exatamente dois meninos no ensino mé dio.
Um, elu namorou por cinco meses. O outro durou duas semanas.
London nunca soube que seu pai havia se tornado tã o apegado.
— Eu namorei outras pessoas na faculdade, pai. — London tomou
um gole de sua á gua, em uma tentativa de mostrar que eles estavam
calmos e controlados. — Eu só nã o os trouxe para casa para conhecê -lo.
Pergunte-me por que.
A mã e de London limpou a garganta. London olhou para ela, seu
coraçã o caindo no olhar torturado em seu rosto enquanto ela dobrava e
dobrava novamente o guardanapo em seu colo.
— Tom — ela disse, de um jeito letalmente quieto.
Mas seu marido a ignorou.
— Entã o você e esta pessoa Dahlia — o pai de London disse agora. —
Você está namorando.
— Eu… — O rosto de London corou. Adoraria saber a resposta a essa
pergunta, pai. Eu vou deixar você saber se eu descobrir isso.
Mas o pai de London nã o parecia muito preocupado com a resposta
real aqui; ele falou sobre a hesitaçã o de London.
— E você está confortá vel chamando-a de sua namorada. Mas de que,
por favor, diga, Dahlia te chama?
O coraçã o de London começou a bater, insistente, batendo contra sua
caixa torá cica.
— O que você quer dizer?
— Se você nã o é a namorada de Dahlia? Você é o parceiro dela?
— Pai, pare com isso — disse Julie.
London olhou e, com horror, viu que Julie estava chorando.
— Ei. — Elu pegou a mã o dela e apertou. — Está tudo bem, Julia.
Mesmo que nã o estivesse.
Elu olhou de volta para o pai.
— Porra, eu nã o sei pai. OK? — Com o canto do olho, elu viu sua mã e
se encolher. Elu engoliu e continuou se movendo. — Ainda nã o
conversamos sobre isso. Mas sim, eu icaria muito grate por ser parceire
de Dahlia Woodson. Acho que ser parceire da pessoa que você ama é
um objetivo bastante razoá vel para se lutar.
Julie soltou um pequeno suspiro, seus dedos ainda apertados nos
delu.
— London — ela respirou, e London arrancou seus olhos dos de seu
pai para olhar para ela. — Você a ama.
— Sim — London disse, sangue correndo em seus ouvidos, deixando-
ê tonte. — Eu amo.
Os olhos de Julie ainda estavam ú midos, mas ela sorriu.
— Bom.
— Você já terminou agora, Tom? — A mã e de London perguntou, e
quando London olhou para cima, elu viu que seus olhos eram como
punhais, apontados para a garganta de seu pai. — Tinha sido uma noite
tã o agradá vel até que você decidiu abrir a boca.
E tinha realmente sido. Mesmo com a estranheza claramente em
torno de sua famı́lia, estar perto deles ainda era o fundamento hoje.
Familiar.
London recostou-se em seu assento, tomando outro gole de á gua.
Boa sorte para quem teve que sofrer a ira de Charlotte Parker quando
ela estava assim.
O pai de London nã o foi perturbado. Ele trouxe sua taça de vinho
para sua boca mais uma vez. Depois de um grande gole, ele balançou a
cabeça.
— Claro. Eu sou sempre o cara mau. Tudo bem. Algué m tem que ser.
Só estou tentando cuidar de você , London. Você sempre foi tã o volú vel.
Se nã o é uma coisa, é outra, e você já passou da idade de se encontrar.
Você precisa crescer um dia desses.
— Isso é muito vindo de você . — Charlotte murmurou.
London olhou para seu pai uma ú ltima vez. Parte delu queria sentir
pena desse homem, bê bado e infantil, entã o profundamente abalado
pelo menor desvio das normas sociais. E elu teria, se estivesse sentade
em frente a Lizzie, ou Khari, ou qualquer outra pessoa que nã o
importasse. Mas este homem segurou London em seus braços quando
elu era um bebê . Este era o homem que alegremente chutou a bunda de
London no Trivial Pursuit durante a noite de jogos da famı́lia, ano apó s
ano, despenteando os cabelos e sorrindo com o rosto inteiro quando
dizia "Mais sorte da pró xima vez". Este homem tinha compartilhado
chocolates quentes tarde da noite com London nas noites em que
nenhum delus conseguia dormir. Elus assistiam a comé dias româ nticas
juntos na sala; o pai delu sempre ingia que nã o o faziam chorar, que
suas alergias estavam apenas atacando. Este homem tinha vindo a
todos os grandes eventos da vida de London.
E ele nã o iria arruinar este.
— Ok — London soltou a mã o de Julie para se afastar da mesa. —
Hora de ir. — Elu esvaziou a taça de vinho antes de se levantar, mas
deixou o tagliatelle meio comido sobre a mesa. Nã o era tã o bom quanto
o pappardelle de Dahlia, de qualquer maneira.
— London, queride — a mã e de London estendeu a mã o para pegar a
mã o delu —, por favor. Nã o vá assim.
— Posso ir com você ? — Julie perguntou, jogando o guardanapo
sobre a mesa.
— Nã o nã o. — London tentou dar-lhe um sorriso reconfortante,
tentou passá -lo para todos os outros na mesa, para Sara e Jackie, que
estavam olhando para London, franzindo a testa, preocupaçã o gravada
em suas sobrancelhas. London nã o conseguia se obrigar a olhar para
sua mã e. — Está bem. Eu prometo. Eu só tenho um grande dia amanhã .
London deu um tapinha no topo da cabeça de Julie, um gesto que
sempre a irritou desde a sexta sé rie, quando London passou por um
surto de crescimento que o icialmente ê deixou dois centı́metros mais
alte.
— Vejo você em breve. Obrigade pelo jantar.
Elu respirou fundo quando voltou para o banco do motorista do
Nissan, permitindo-se uma pancada de testa contra o volante. Elu
desejava que Dahlia estivesse aqui. Elu nã o estava com muita vontade
de dirigir.
Elu tirou o telefone do bolso. Sessenta novas noti icaçõ es do Twitter
desde a ú ltima vez que veri icou. Trinta e nove do Instagram.
Sem novas mensagens.
Elu colocou o carro em marcha à ré e saiu do estacionamento.
London nã o conseguia dormir.
A inal seria em dez horas, e todos os pensamentos ansiosos que o
cé rebro de London possivelmente concebeu desde o voo para Los
Angeles há mais de um mê s estavam agora des ilando em seu cé rebro.
London estava orgulhose da visibilidade que elu alcançou para sua
comunidade no Chef's Special.
Mas agora, no escuro, o reló gio correndo até o momento em que elu
pisou naquele set pela ú ltima vez com o mundo assistindo, aquela
visibilidade parecia pesada em seus ombros.
Elu sabia que quem nã o gostasse delu iria desacreditá -lu de qualquer
maneira. Se elu perdesse, elu merecia o que tinha acontecido. Se elu
ganhasse, entã o o programa tinha manipulado em favor do
politicamente correto.
Mas e se London perdesse na frente de todos que queriam que elu
ganhasse?
Como se sentiria aquele garoto trans em Kentucky?
Silenciosamente, London se levantou. Seus há bitos da ú ltima semana
ainda estavam arraigados em seu sistema. Seu corpo estava coçando
para andar.
Elu iria pegar aquele chá verde horrı́vel no saguã o que elu bebeu
demais essa semana. Caminhando um pouco pelos corredores.
Mas London nem chegou à estaçã o de chá . Porque quando elu
atravessou o saguã o, elu foi parade por um per il curto familiar, um
cabelo escuro com uma mecha de prata, sentado no bar do hotel.
Automaticamente, London caminhou em direçã o a ela. Sentando-se
ao lado da mã e.
— O que você está bebendo aı́?
Seus olhos se arregalaram de surpresa, e depois baixaram
novamente. Sua testa enrugada alisou, e ela sorriu.
— Um ponche quente. Se eu consumir mais vinho esta noite, estarei
desmaiada no seu grande dia amanhã . Por favor. — Ela empurrou o
copo quente ao longo do balcã o em direçã o a eles. — Beba.
Um ponche quente realmente parecia perfeito agora. London tomou
um gole.
— Entã o você está apaixonade, hein? — Charlotte Parker perguntou.
London engasgou com o rum. Uma vez que elu se recuperou, elu
lançou um olhar de soslaio para ela.
— Nó s estamos apenas pulando direto ao ponto entã o, hein?
— Seremos capazes de conhecê -la em breve?
London correu um dedo pelo balcã o.
— Esperançosamente.
Elu tomou goles mais longos do ponche. Deslizou pela garganta delu,
quente e reconfortante.
Um momento se passou, e entã o Charlotte suspirou. Ela estendeu a
mã o envelhecida e pousou-a na bochecha de London.
— Oh, baby — ela disse suavemente. — Eu sinto muito.
London largou o copo. Elu olhou para os ané is que havia deixado no
balcã o.
— Eu simplesmente nã o entendo — elu disse eventualmente. — Ele
teve tanto tempo. Eu nã o... Eu nã o sei por que é um negó cio tã o difı́cil.
A mã e delu passou a mã o pelo cabelo de London e olhou para elu por
um longo momento. Elu fechou os olhos, querendo se apoiar nela
enquanto podia.
Ela baixou a mã o e olhou para frente novamente, focada no arco-ı́ris
de garrafas de bebida ao longo da parede.
— Nã o importa quantas vezes dissemos a ele, acho que ele realmente
achava que era uma fase — ela meditou. — E você sendo você mesme
no programa o fez perceber que estava errado. Seu pai nã o lida bem
com estar errado.
Buá buá caralho, London pensou.
— Parece que… — London brincou com a alça curva do copo quente.
Sabendo o quã o paté tico isso ia soar, mas precisando que sua mã e
ouvisse de qualquer maneira. — Como se ele nem me amasse mais.
Charlotte levou um punho à boca. Ela o manteve lá por um longo
momento, e London icou perturbade por ela estar demorando tanto a
discordar.
— Ele te ama, London. Ele ama. Mesmo que ele tenha esquecido
como mostrar. Ele é … — Charlotte suspirou novamente. — Ele
construiu toda a sua vida em torno de você s quatro. Em cada lugar que
ele vai, ele fala sobre o que suas garotas estã o fazendo. E agora… Ele
nã o sabe o que dizer, eu acho. Agora que ele nã o pode dizer 'minhas
meninas'.
London amaldiçoou baixinho.
— Nã o é tã o difı́cil — elu disse, incomodade. — Ele pode falar sobre
suas crianças, entã o. Suas crianças. Sua descendê ncia, eu nã o sei, tanto
faz! Eu tirei uma palavra dele. Pode chorar.
— Eu sei, London, eu sei. Nã o estou inventando desculpas; Estou
tentando entender isso també m.
— Desculpe, o pode chorar foi dirigido a ele, nã o a você .
— Sim, eu entendi isso.
Ela balançou a cabeça.
— Eu nunca o vi agir como ele fez esta noite — disse ela. — E antes
do seu grande dia. Eu estou… horrorizada. Nã o sei mais o que fazer.
Charlotte Parker esfregou os olhos e parecia perdida, um nı́vel de
exaustã o e vulnerabilidade que London nunca tinha visto nela, e
parecia que o mundo como elu sempre soube estava desmoronando. A
cabeça delu parecia pesada; sua garganta entupida.
— Mã e — elu engasgou. — Você vai se divorciar por minha causa?
Ela sacudiu em direçã o a London, como se lembrasse que elu estava
lá . Ela se virou no banco do bar para encará -lu. Ela segurou o rosto de
London com as duas mã os, cheirando ao perfume Chanel que ela usava
desde que London conseguia se lembrar.
— Minhe grande, sensı́vel e bonite London — disse ela com um
sorriso de olhos lacrimejantes. — Se meu marido nã o consegue tirar a
cabeça da bunda sobre isso, isso nã o tem nada, nem mesmo um pingo, a
ver com você , e tudo a ver com ele. Voce entende?
London tentou engolir, mas era como se a lı́ngua delu tivesse se
tornado chumbo dentro da boca. Elu conseguiu um pequeno aceno de
cabeça.
— Nã o importa o que aconteça com seu pai, eu te amo exatamente
como você é , exatamente como você sempre será , e estou tã o orgulhosa
de você que mal posso começar a expressar isso. OK?
Elus sentaram assim por um momento, olhando ume para ê outre,
olhos cor de avelã assustados procurando os castanhos suaves e nã o
encontrando nada alé m da verdade.
A lı́ngua de London se deslocou o su iciente para permitir que elu
sussurrasse:
— Eu també m te amo, mã e.
Finalmente, Charlotte soltou o rosto de London e se inclinou para
frente novamente, tomando um gole do ponche enquanto o fazia.
— London — disse ela depois de alguns momentos de silê ncio
confortá vel. — Você quer que seu pai participe da gravaçã o amanhã ?
London olhou para ela. Ela ê estava estudando cuidadosamente, mas
sem julgamento.
— Eu vou me certi icar de que ele nã o venha, se você nã o quiser. Nã o
se sinta culpade, de qualquer maneira. Faria sentido para mim se você o
quisesse lá , e faria sentido se você nã o quisesse. Mas a escolha é sua.
London olhou para o copo quase vazio na frente delu.
Elu nunca tinha sequer considerado que poderia ser uma opçã o. Que
London pudesse dizer nã o ao pai. Sobre isso, sobre qualquer coisa. Que
London poderia estar no comando.
Elu se sentiu infantil, de repente, que isso nã o lhe ocorreu.
Elu ainda desejava… elu desejava que essa nã o fosse uma opçã o que
elu tivesse que considerar. Ainda parecia injusto. Mas ter algum poder
na equaçã o parecia um pouco melhor.
— Eu o quero lá — London decidiu. — Eu quero que ele me veja
vencer.
Charlotte acariciou a bochecha delu com outro sorriso triste.
— Essu é ê minhe London.
Ela estendeu a mã o e bebeu os ú ltimos restos de ponche.
— Falando nisso. Eu acredito que nó s precisamos do nosso sono de
beleza se estamos planejando impressionar as câ meras amanhã .
Elu deslizou para fora de seus bancos e deixou o bar escuro.
Charlotte entrelaçou o braço no de London, apoiando-se ligeiramente
no ombro delu enquanto caminhavam em direçã o aos elevadores.
— Eu só espero que todos nó s passemos amanhã sem Julie agredir
ningué m — Charlotte disse enquanto apertava o botã o prateado na
parede. — Você deveria ver sua irmã quando ela assiste você neste
programa. Eu juro, ela transformou a exibiçã o do Chef's Special em um
esporte de contato total.
London riu quando elus entraram no elevador, os nervos nervosos
que estavam ganhando velocidade suas veias novamente compensadas
marginalmente por um calor nebuloso.
— Parece com ela.
O elevador apitou no andar de sua mã e.
London a esmagou em seu peito em um abraço meio bê bado e meio
desajeitado antes que ela se afastasse delu.
— London?
Charlotte se virou assim que entrou no corredor.
London olhou para ela com expectativa. Ela sorriu.
— Você consegue, queride.
E entã o as portas se fecharam.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

O set era uma cena de má ia.


Nã o na á rea de palco sufocante onde London e Lizzie estavam
esperando pelo que parecia ser horas. London poderia ter um pouco
mais de caos aqui atrá s.
Mas elu podia ver o andar principal de uma rachadura nas paredes
temporá rias montadas ao redor delu. Com o pulso batendo em seus
ouvidos, London observou todos entrarem.
O set foi transformado para dar lugar a uma platé ia ao vivo. Todas as
estaçõ es de cozinha foram removidas, com exceçã o de duas
megaestaçõ es para London e Lizzie, que estavam situades em frente
ume de outre. Eles izeram a mesa dos juı́zes ainda mais alta e
grandiosa, para que todos os trê s pudessem pairar sobre o processo de
cozimento durante todo o perı́odo de cozimento de trê s horas.
E atrá s das duas megaestaçõ es, foram instalados degraus pretos para
acomodar os familiares e ex-concorrentes. London observou Ahmed
entrar agora, conversando com Ayesha. Com um beliscã o em suas
vı́sceras, elu viu Cath. Jacob. Jeffrey.
Os olhos de London percorreram a sala. Ela tinha que estar aqui em
breve.
Elu tinha noventa e oito por cento de certeza de que ela estaria aqui
em breve.
Lizzie estava sentada quieta no canto oposto, como estivera a manhã
toda, estudando ichas e aparentemente praticando algum tipo de Zen
interior.
Bom para ela, porra.
London coçou o pescoço delu. A jaqueta branca do chef que foi
adornada para os competidores apenas durante o Confronto Final era
uma coceira como o inferno.
Ali.
London parou de respirar.
A famı́lia de London entrou com Dahlia. Dahlia estava rindo com Julie
até que viu Barbara, momento em que ela disparou pelo chã o.
Uma enxurrada de palavrõ es percorreu a mente de London como
coelhos desbocados em velocidade. Como ela estava rindo e sorrindo
com Julie? Quando elas foram mesmo apresentadas uma a outra? Santa
madrepé rola. Ela estava aqui. Ela estava sorrindo. Ela estava usando um
p q
top listrado de preto e branco, fora dos ombros, e uma saia de tule preto
com babados, e ela parecia tã o gostosa mesmo daqui que London
parecia que sua pele ia derreter.
Com um suspiro alto e desajeitado, o ar encheu os pulmõ es de
London. Lizzie olhou para cima, um olhar interrogativo em seu rosto.
Porra Lizzie.
London sacudiu sua perna. OK. Respira. Elu nã o podia se concentrar
em Dahlia agora.
Elu assistiu sua famı́lia se acomodar na primeira ila.
London nã o deveria deixar a á rea de encenaçã o, mas elu decidiu, em
algum momento entre a noite passada e agora, que havia algo que elu
precisava fazer. Elu saiu pela porta dos fundos e procurou por Janet.
— Parker, você deveria estar esperando a chamada inal — ela disse
com irritaçã o quando London a localizou nã o muito longe.
— Por favor — elu disse, sabendo que ela estava prestes a socá -lu. —
Eu preciso que você me faça um pequeno favor.
— Você está falando sé rio agora? — Janet olhou para elu por cima de
suas molduras violetas magras. — Você sabe quantas bolas eu tenho na
minha quadra neste exato momento? A sua, por exemplo.
— Você vê aquele cara lá fora? De pé perto de Cath? — London se
apressou. — Alto, cabelo da mesma cor que o meu?
— O cara que se parece com você , mas velho. Sim, London, eu vejo
aquele cara.
— Eu preciso falar com ele. Você pode mandá -lo de volta aqui por
apenas cinco minutos? Por favor?
Janet deu a London um olhar morto antes de ir prontamente com
nada mais do que um aceno de cabeça. Mesmo depois de seis semanas
tomando direçã o da mulher, London ainda nã o tinha certeza se isso era
um sim ou um nã o.
Mas dois minutos depois, seu pai estava na frente delu.
Suas mã os estavam en iadas nos bolsos de sua calça cá qui, e ele tinha
um olhar desgostoso no rosto. Um olhar de ressaca. London nã o se
importava.
London tinha que cuspir essas palavras agora, antes que elu perdesse
a coragem. Se nã o o izesse, elu se preocupava em engoli-las
acidentalmente para sempre.
— London — seu pai começou. — Olha, eu estou muito… — E entã o
ele parou. Ele parecia assustado quando perguntou: — Você está
usando maquiagem?
London fechou os olhos. Que foram adornados com sombra verde,
delineador e rı́mel. Elu convenceu alguns assistentes de som a deixar
Julie ir ao set com elu, esta manhã , para fazer do jeito que elu gostasse.
E elu nã o deixaria seu pai distraı́-lu.
— Somente... Pare. Nã o diga nada. — Para o pró prio choque de
London, a voz delu soou irme. — Estou falando agora, e você está
ouvindo. OK?
O pai deles calou a boca. Para alı́vio de London, ele assentiu.
London respirou fundo. Elu fechou os olhos brevemente.
Elu poderia fazer isso.
— Pai, você começa a usar meus pronomes ou entã o eu estou farto.
Você nã o me vê mais.
O pai delu franziu a testa, soltou um pequeno bufo incré dulo.
— Vamos lá , London…
— Eu nã o vou para os jantares de domingo — London continuou. —
Você nã o terá permissã o para entrar no meu apartamento. Nã o te verei
em ocasiõ es especiais. Eu sei que moramos na mesma cidade, e
podemos nos encontrar ocasionalmente. Mas você teve trê s anos, pai. E
toda vez que você usa o pronome errado, o que eu percebo é que,
mesmo que eu me sinta melhor comigo mesme do que em toda a minha
vida, você nã o me respeita. Você nã o me vê . As vezes, parece que você
nã o me ama. E sim, as pessoas escorregam com pronomes o tempo
todo. E natural errar. Mas toda vez que você erra, é proposital, e dó i pra
caralho.
London respirou fundo. Elu descobriu que nã o podia olhar
diretamente para o rosto de seu pai, entã o London nã o tinha certeza de
sua reaçã o a nada disso. Elu estava olhando em algum lugar perto do
ombro direito do blazer de seu pai.
Mas elu ainda estava fazendo isso. Era aterrorizante, mas elu estava
dizendo as palavras. E elu estava quase pronte.
— Nã o importa o que aconteça, se eu ganhar ou perder, nã o me
encontre depois do programa. Eu nã o quero falar com você novamente
até que você decida. E eu quero que você tome seu tempo, leve isso tã o
a sé rio quanto eu. Entã o…
London vacilou por apenas um momento, sentindo-se
repentinamente tonto. Mas elu insistiu.
— Vejo você de volta em Nashville, pai. Ou nã o.
E entã o elu se virou e foi embora, de volta à á rea claustrofó bica onde
agora estava desesperade para chegar.
London se jogou em uma cadeira e cobriu o rosto com as mã os. Que
tremiam terrivelmente.
Lizzie nã o perguntou se elu estava bem. Lizzie nem mesmo olhou
para cima.
— Tudo bem, crianças. — Janet en iou a cabeça na pequena sala
temporá ria. — Dez minutos até os juı́zes entrarem no palco. Você s
serã o chamades logo depois disso. Preparem-se.
London alisou as palmas das mã os em suas calças.
Elu fechou os olhos e pensou nas Couves de Bruxelas. Elu pensou em
churrasco. Elu pensou em sentar em um banco duro em um pequeno
pá tio tranquilo com Dahlia Woodson, bebendo garrafas de vinho. Elu
sabia que tinha acabado de fazer a coisa mais assustadora que jamais
faria. Mais assustadora do que perder para Lizzie. Mais assustadora do
que cozinhar uma refeiçã o na frente de trê s juı́zes que elu já havia
cozinhado tantas vezes antes.
E elu estava tranquile.
London e Lizzie foram chamades para a ponta do set.
Maritza olhou por trá s de sua câ mera e piscou. Os assistentes deram
um aceno de cabeça.
As luzes do estú dio sempre pareciam brilhantes, mas quando London
caminhou até sua estaçã o pela ú ltima vez que cozinharia no set do
Chef's Special, elas estavam mais ofuscantes do que nunca. Quando
London olhou atrá s delu para a platé ia, tudo o que elu viu foi escuridã o
pontuada por estrelas brilhantes.
Mas mesmo que elu nã o pudesse vê -la, London sabia que Dahlia
estava lá . Junto com suas irmã s e uma mã e que amava elu ferozmente. E
isso era tudo o que importava.
— Bem-vindes, tudo e todes, ao Confronto Final da oitava temporada.
Sai Patel abriu os braços com um sorriso de triunfo, convidando o
pú blico a aplausos estridentes.
Tanner Tavish estava ao lado dele, seu rosto ixo em um olhar sé rio e
presunçoso.
Audra Carnegie parecia um deleite.
Já era tempo.
Dahlia agarrou a mã o de Barbara.
Ela tinha sido atirada quando andava no set esta manhã . Parecia tã o
diferente.
Quando ela viu Barbara, foi a distraçã o perfeita dos nervos batendo
em seu estô mago.
— Babs — ela disse —, tenho tanto para lhe contar.
Dahlia estava sentada entre ela e Cath agora, e era o sanduı́che mais
engraçado e perfeito. Isso deu a Dahlia a força que ela precisava para
passar por isso.
Ela poderia dizer a partir do momento em que viu London em sua
estaçã o que elu se sentia bem. Que elu nã o estava muito nervose. O
rosto delu tinha apenas aquele olhar irme e focado.
Bem, tudo bem, Parker, ela pensou. Acho que vou ter que engolir
nervos o su iciente para nós dois então.
Estava levando tudo dentro dela para nã o bater os pé s no chã o, para
nã o esmagar os frá geis ossos da vovó Barbara, para nã o pegar a mã o de
Cath també m, para nã o morder direto o lá bio inferior.
Eles estavam apenas na porra dos aperitivos.
O julgamento foi excruciante. Será que aqueles trê s tolos já
demoraram mais para contemplar duas mordidas de comida de
passarinho?
E entã o, quando eles inalmente deixaram de ser cabeçudos e izeram
um pronunciamento, os juı́zes gostaram mais do aperitivo de Lizzie.
A cabeça de Dahlia caiu em suas mã os.
Santo inferno.
Ela nã o ia conseguir chegar até o inal.
Barbara esfregou as costas e fez ruı́dos tranquilizadores.
— Está tudo bem, Dahls — disse Cath. — London vai matar no prato
principal. E você sabe que de jeito nenhum Lizzie vai vencê -lu na
sobremesa.
— Cath — Dahlia disse, olhando para ela. — Lizzie quer abrir uma
porra de uma padaria.
— Sim — disse Cath calmamente. — E há uma tonelada de padarias
medı́ocres. London é melhor.
Dahlia sentou-se novamente. Assentiu.
— Você tem razã o.
— Eu sempre tenho, Dahls — disse Cath.
Os nervos de Dahlia começaram a se acalmar um pouco durante o
prato principal, principalmente porque levou muito tempo, e o sistema
nervoso dela provavelmente teria implodido se ela nã o tivesse se
acalmado um pouquinho.
Alé m disso, quanto mais ela assistia a London cozinhando, mais
excitada ela icava. Entã o també m tinha isso. Ela esperava que nã o fosse
muito ó bvio, o fato de que todo o sangue em seu corpo estava correndo
em direçã o a lugares especı́ icos. Parecia que se passaram dez anos
desde que ela ê viu pela ú ltima vez. Droga, estava quente aqui com
essas luzes. Ela tinha certeza de que haviam instalado luzes extras hoje.
Parecia que os juı́zes gostaram do pato de London. Muito.
Mas eles també m gostaram do cordeiro de Lizzie.
— Eu vou morrer — Dahlia sussurrou.
Barbara apertou sua mã o. Cath estava inclinada para frente em sua
cadeira agora, boné de beisebol virado para trá s. Ela també m icou em
silê ncio, mas deu uma cotovelada rá pida em Dahlia com o joelho.
London passou as costas da mã o sobre a testa enquanto caminhava
de volta para sua estaçã o para começar a preparar a sobremesa. Elu
parecia cansade agora. Dahlia se perguntou se algué m se importaria se
ela simplesmente descesse, bem rá pido, para beijá -lu.
London estava fazendo uma torta de coco com limã o. Lizzie estava
fazendo macarons. Dahlia estava preocupada. Macarons pareciam mais
avançados tecnicamente, mais impressionantes. Dahlia se endireitou e
se certi icou de que respirava pelo abdô men. Ela se concentrou nisso,
inalando e exalando, e observou.
Ela poderia dizer quando foi feito que London estava satisfeite. Elu
até sorriu um pouco. Elu serviu trê s fatias perfeitas, polvilhadas com
coco torrado e uma porçã o extra de chantilly para apresentaçã o. Elu se
afastou de sua estaçã o, com as mã os nos quadris. Seus cabelos caı́ram
sobre seus olhos. Precisava cortar o cabelo, pensou Dahlia
distraidamente.
E entã o ela percebeu que elu estava pronte.
London havia terminado o icialmente sua ú ltima refeiçã o no Chef's
Special.
O coraçã o de Dahlia começou a inchar quando Audra deu uma
mordida extra na torta de London. E entã o Tanner deu uma mordida
extra no dele.
Sai Patel comeu a fatia inteira.
Os jurados deixaram o palco para deliberar, e London e Lizzie
izeram uma pausa.
— Você nã o quer descer lá ? — Barbara perguntou enquanto London
caminhava até sua famı́lia.
Dahlia observou Julie saltar de seu assento e abraçá -lu. Ela estendeu
a mã o e puxou o cabelo de London e disse alguma coisa. Dahlia sorriu,
perguntando-se se havia acabado de lhe dizer para cortar o cabelo.
Entã o Julie correu seu dedo perto do olho esquerdo de London.
Dahlia podia distinguir um pouco, mesmo à distâ ncia. Talvez alguma
açã o delineadora? London com maquiagem. Deus, era sexy como o
inferno.
— Ainda nã o — Dahlia disse a Barbara. Ela observou Charlotte
passar uma mã o tranquilizadora pelo ombro de London.
Ela os conhecera esta manhã , no saguã o do hotel. Pareceu... estranho,
conhecê -los sem London, mas Julie tinha puxado-a para um abraço
mortal assim que viu Dahlia se esgueirando. Entã o Dahlia a abraçou de
volta, e depois abraçou todos eles, e foi bom.
Bem, ela abraçou todos, exceto o pai de London. Que permaneceu
sentado agora.
E entã o London olhou para o resto da platé ia, colocou a mã o sobre os
olhos delu, apertando os olhos.
O estô mago de Dahlia se revirou.
Elu a encontrou. Abaixou a mã o.
E lentamente, adoravelmente, elu sorriu.
Dahlia sorriu de volta tã o rá pido e tã o forte que suas bochechas
doeram.
E entã o Julie deu um tapa na nuca de London. London virou-se para
ela, a boca movendo-se rapidamente, e Dahlia viu os ombros de Jackie e
Sara sacudindo-se de tanto rir.
Janet correu e arrastou London para longe, provavelmente para uma
entrevista individual. Dahlia recostou-se na cadeira, com a mã o no
peito, e tentou desacelerar seu pulso. Ela tentou reagrupar seu rosto em
uma expressã o mais normal e descobriu que nã o podia.
Ao lado dela, Cath riu. Barbara limpou a garganta.
Dahlia olhou entre elas.
— Calem-se.
Cath riu mais forte. Barbara simplesmente estendeu a mã o e apertou
a mã o dela.
Depois do que pareceu uma eternidade, os inalistas e os jurados
voltaram. London e Lizzie foram chamades para o Cı́rculo Dourado.
Sai tagarelava por um tempo sobre que temporada fantá stica tinha
sido, que inal incrı́vel, quã o perto estava, blá blá blá . Dahlia apertou os
joelhos. Ela soltou a mã o de Barbara, inalmente, para agarrar os cantos
de sua cadeira.
Quando Audra Carnegie disse isso, Dahlia nã o sentiu surpresa,
apenas alı́vio por tudo isso ter acabado agora. Ela podia respirar. Deus,
ela realmente tinha que fazer xixi, mas ela estava nervosa demais para
se mexer nas ú ltimas trê s horas.
Julie saltou de seu assento e jogou um punho cerrado no ar, como se
ela tivesse acabado de fazer uma cesta de trê s pontos.
O pai delu se levantou e aplaudiu.
E entã o Lizzie se virou e saiu do set.
Barbara engasgou.
— Essa cadela — ela respirou.
Dahlia nã o podia nem entender isso, quã o sem precedentes e
horrı́vel era, porque tudo o que ela podia ver era London. London,
sorrindo, apertando as mã os dos juı́zes. London, coberta de purpurina
caindo do teto. Oh cé us. London odiava glitter.
London, virando-se para o pú blico enquanto sua famı́lia corria para
elu. London, olhando por cima das cabeças de Julie, Jackie, Sara, mesmo
enquanto as abraçava. London, procurando por ela.
Barbara a cutucou.
— Você realmente nã o vai descer lá ?
— Sim, Dahls — disse Cath. — Dê à s pessoas o que elas querem.
Dahlia riu, só um pouco, em meio à s lá grimas. Oh. Ela nã o tinha
percebido que estava chorando.
— Nã o — ela disse. — Isso deveria ser apenas para elus. — Ela
fungou, enxugou os olhos. E entã o ela deu um abraço em Cath e
Barbara.
— Eu tenho que ir — disse ela. — Obrigada a ambas por serem
você s.
E Dahlia desceu apressadamente os degraus, longe das luzes
ofuscantes.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Julie tirou a taça de champanhe das mã os de London.


— Mas esse é apenas o meu segundo! — elu protestou. Com certeza,
vencer O Chef's Special garantia mais de uma taça e meia de
champanhe.
Revirando os olhos, Julie arrastou London para fora do bar lotado.
Ela nã o ê soltou até chegarem ao estacionamento.
London franziu a testa.
— Onde estamos indo? — Elu engasgou. — Julie, você tem maconha?
— Elus nã o tinham escapado de uma reuniã o de famı́lia para fumar
juntos desde a faculdade.
— Nã o, London, eu nã o tenho maconha. Deus, quanto champanhe
você realmente tomou?
— Insu iciente. Sã o apenas as endor inas. De, você sabe, ganhar o
Chef's Special.
— Querido senhor. — Julie parou na frente do Nissan. — Você vai ser
positivamente insuportá vel agora, nã o é ?
London sorriu.
— Só perto de você .
— Entre, cara de cu.
— Espera. Onde estamos indo? — London perguntou novamente,
mas elu já estava apertando o cinto de segurança.
Julie olhou em seu telefone antes de jogá -lo no porta-copos.
— Você é necessá rie de volta ao set para alguma coisa.
— O quê? — London jogou a cabeça para trá s com um gemido. —
Achei que tinha acabado com aquele lugar! E melhor eles terem
limpado o glitter. Espere, você está me levando de volta lá só para me
atormentar com mais glitter? E estranho, mas també m parece algo que
você faria.
Julie balançou a cabeça, os olhos na estrada.
London virou-se em seu assento. Elu olhou para ela.
— Por que você está tã o quieta? Que segredo você está escondendo?
Julie mordeu o lá bio.
London apertou os olhos com mais força.
— Hum. Todos em nossa famı́lia sabem como você é ruim em
esconder segredos. Entã o quem iria…?
London ofegou. E deu um tapa no braço de sua irmã gê mea.
g p ç g
— Ai! — ela gritou, esfregando seu bı́ceps. — Caramba, London. Nã o
nos mate antes mesmo de chegarmos lá .
— E ela, nã o é ? Eu vi você falando com ela esta manhã . Você s sã o
como, amigas ou algo assim? Que merda.
Julie apenas sorriu.
London olhou para frente novamente, esfregando suas tê mporas. Seu
estô mago revirou.
Ela havia desaparecido, depois que as câ meras desligaram e elu
inalmente pô de procurá -la. Isso ê deixou inquiete, desapontade, mas
entã o Ahmed ê estava abraçando, e Cath estava batendo-lhe nas costas,
e elu estava sendo apresentade a todos os ex-vencedores do Chef's
Special, e sua famı́lia estava levando-ê para longe e enchendo-ê de
champanhe.
Julie parou do lado de fora do portã o do estú dio. Ela se virou para
sorrir para elu.
— Vá pegá -la, London.
Suas mã os tremiam quando elu desa ivelou o cinto de segurança. Elu
estava a meio caminho da porta quando Julie ê chamou novamente.
London olhou para trá s.
— Sim?
— Ela parece legal. Nã o seja ume idiota.
— Te odeio. — Elu bateu a porta do carro. E recostou-se na janela
aberta. — Mas també m, você sabe que eu te amo, certo?
— Oh meu Deus, — Julie acenou com o braço. — Vai!
Assim elu fez. London correu pelo portã o, desceu a calçada, passando
por jacarandá s, bolhas de champanhe efervescente correndo em suas
veias, até chegar ao está gio de som trê s. Elu arrombou a porta. Correu
até chegar ao arco de madeira onde se conheceram.
Elu parou, ofegando ligeiramente, inclinando-se para recuperar o
fô lego. Finalmente, reunindo-se, elu se endireitou e, pela ú ltima vez,
pisou no set do Chef's Special.
E foi aı́ que o tempo parou.
A pausa no universo permitiu que todos os restantes machucados,
pedaços de cura dentro de London se juntassem novamente, até que
milagrosamente, seu corpo inteiro relaxou e elu se sentiu inteire.
Dahlia soltou um pequeno guincho. Ela tentou tirar rapidamente o
avental sujo, embora, é claro, tenha icado preso em seu cabelo, que
estava preso em seu coque caracterı́stico. Depois de um momento, ela
se desembaraçou, o ninho de pá ssaro em sua cabeça apenas
ligeiramente torto, e ela jogou o amarelo avental ao lado. Ela acariciou
nervosamente a saia.
Vejo você em breve.
Ela icou no meio do Cı́rculo Dourado em frente à estaçã o dos
jurados, que agora era agraciada com uma banner de PARABÉNS!,
aparentemente da loja de um dó lar, as cores metá licas de cada letra
brilhando sob as luzes do estú dio.
London podia ver, mesmo da parte de trá s do set, que os nó s dos
dedos de Dahlia estavam brancos enquanto ela os segurava na frente de
ela, prendendo o tule preto de sua saia.
London en iou as mã os nos bolsos.
Elu fez o seu caminho entre as duas megaestaçõ es, ainda montadas
desde a inal.
Elu tentou nã o sorrir muito, mas o champanhe e a adrenalina ainda
em seu sistema estavam di icultando.
Dahlia girou antes que pudesse alcançá -la. Ela pulou para trá s da
mesa dos juı́zes, movendo pratos e talheres.
London parou quando elu chegou lá . Elu olhou para sua propagaçã o.
London nunca iria esquecer este dia.
— Você me fez churrasco.
— Pare de sorrir assim — Dahlia estalou. — Você nem sabe se está
bom.
London sorriu mais forte.
— Que declaraçã o ridı́cula. Claro que eu sei. — Elu examinou os
pratos mais de perto. — Você fez meus aperitivos favoritos. Como você
sabia meus aperitivos favoritos? Eu nã o acho que te disse.
Dahlia se jogou no assento de Audra Carnegie e acenou com a mã o
impaciente.
— Julie comenta em todos os seus posts. Eu sei usar a internet. Nã o
foi difı́cil.
— E estamos sentades à mesa dos juı́zes. Isso parece ousado.
— Eu pensei... — Dahlia engoliu. — Achei que você merecia a melhor
mesa. — Ela pegou seu copo de vinho branco e depois o largou
novamente sem tomar um gole.
London olhou para o copo vermelho colocado ao lado de seu prato.
— Sabe, nó s realmente deverı́amos estar bebendo cerveja com
churrasco, nã o vinho.
— Eu nã o sei que tipo de cerveja você gosta, e eu já tinha
incomodado Julie com muitas coisas! E... Eu nunca vi você beber
cerveja! — Dahlia gritou, sua voz à beira da histeria.
Ela fechou os olhos e respirou fundo. London quase se sentiu mal.
Talvez elu estivesse sendo mau. Elu estava feliz demais para ter
qualquer tipo de perspectiva. Elu adorou que ela estivesse brigando
com elu enquanto tentava fazer essa coisa legal. Como ela conseguiu
isso? Ela deve estar aqui desde que a inal terminou. Ela tinha uma
mancha de molho de churrasco na bochecha. Ela era tã o, tã o bonita.
London tinha sentido tanto a falta dela.
— Você vai se sentar, ou o quê ? A comida está esfriando.
London sentou-se.
— Entã o eu obviamente nã o tive muito tempo para marinar ou
fumegar as costelas, embora eu as tenha começado mais cedo, na
cozinha do hotel, mas ainda assim, elas podem nã o ser tã o boas quanto
o que você está acostumade. E quando perguntei a Julie se você gosta de
mac 'n' cheese, ela apenas disse: 'Nã o sei cara, é mac 'n' cheese', o que
realmente nã o ajudou em nada...
— Dahlia — London disse.
— Sinto muito — ela sussurrou, seus ombros afundando de repente.
— Sinto muito por ter saı́do. Por tudo que eu disse. Eu gostaria de
poder… Eu..
London estava ao seu lado imediatamente.
— Você já pediu desculpas — elu disse. — Com as misturas de arroz
Krispies. Obrigade, a propó sito.
— O pacote cheirava mal? — Ela ainda estava sussurrando.
— Muito mal. — London sorriu. Dahlia sorriu um pouco entã o,
també m, mas seus olhos estavam ú midos nas bordas.
— Dahlia, eu també m sinto muito.
Ela balançou a cabeça.
— Você nã o...
— Dahlia. Vamos ambes nos arrepender. Vamos ser pessoas que
lamentam muito comendo churrasco. OK?
Ela mordeu o lá bio, a pele ao redor de seus olhos enrugou em
preocupaçã o. London passou um dedo pelo lado de sua bochecha até
que pousou naqueles lá bios preocupados.
Automaticamente, como se nã o pudesse evitar, Dahlia abriu sua boca
e mordeu, o aperto de seus dentes nas pontas dos dedos tã o a iado e
gentil ao mesmo tempo que London estremeceu visivelmente.
Retirando a mã o, elu se obrigou a se recostar em sua pró pria cadeira
novamente e olhar para a comida. Ela claramente trabalhou duro, e
nada disso seria comido se houvesse qualquer açã o adicional de lá bios
e dentes. Seu sistema já estava começando a espiralar.
— Dahlia, eu nã o sei o que dizer. Eu nem sei se mereço isso.
— London — Dahlia disse, soando exasperada. — Sé rio, você ganhou
o Chef’s Special. Só ... come porra.
E entã o ela riu de novo, de si mesma. Soou melhor desta vez, mais
real. London pegou o garfo. Elu estava prestes a comer o mac 'n' cheese,
ou a salada de batata, quando viu outro prato na mesa.
— Oh meu Deus. — Elu estendeu a mã o e pegou uma bola de fubá
perfeitamente frita. — Você fez hush puppies també m?
— Sim… — Dahlia estremeceu. — Desculpe, eu sei que eles sã o mais
uma coisa da Carolina…
— Dahlia — London interrompeu antes de en iá -lo em sua boca. —
Nunca, nunca peça desculpas por Hush Puppies. — E entã o elu gemeu.
E percebeu que estava morrendo de fome.
London en iou na boca a salada de batata e depois um pouco de
verduras, e elu estava prestes a pegar uma costela quando Dahlia pisou
em seu pé .
— Ai! — Elu riu, com a boca ainda cheia.
— Pare de fazer todos esses barulhos! Seu... — London olhou e
percebeu que as bochechas de Dahlia estavam coradas. — E injusto.
London sorriu.
— Bem, se eu estiver prestes a ver você comer costelas e chupar o
molho dos dedos, o que tenho certeza que estou prestes a ver, eu diria o
mesmo.
Dahlia corou ainda mais.
— Deus, eu mal posso esperar para beijar você .
London parou em seus passos.
Ela estava certa. Elu tinha comido um pouco da comida agora. Beijar
estava obviamente em ordem.
Elu largou o garfo e se levantou da cadeira. Graças a Deus essas
cadeiras de juiz eram ridiculamente grandes, como trê s cadeiras feitas
para reis. Tornou surpreendentemente fá cil deslizar no colo de Dahlia,
montar seus joelhos ao lado de seus quadris.
Dahlia soltou um suspiro pequeno e trê mulo. Era a coisa mais sexy
que London já tinha ouvido.
Elu pegou o rosto dela em suas mã os.
Suas pá lpebras tremeram em suas bochechas, seu foco mudando
para seus lá bios.
London passou a mã o pelo pescoço de Dahlia, en iando a mã o em seu
cabelo, esticando os dedos, sentindo os ios sedosos entre cada um. Ela
fechou os olhos completamente e inclinou a cabeça para trá s em sua
palma, soltando um gemido suave.
— Dahlia. — London se inclinou para frente, deu um beijo em cada
uma de suas pá lpebras. — Dahlia. — Elu suspirou em sua bochecha. —
Eu senti tanto sua falta.
E entã o um cronô metro disparou.
Os olhos de Dahlia se abriram.
— Ah Merda! — Ela empurrou London para o lado, e elu tropeçou
para fora da cadeira. — Eu quase esqueci!
Ela correu ao redor da mesa dos juı́zes e para a estaçã o de London,
onde um fogã o apitava. Ela puxou uma luva de forno. Depois que
London se recuperou de sua seduçã o sendo tã o rudemente
interrompide, elu se juntou a ela e olhou para o que ela tinha acabado
de tirar do forno.
— Você me fez torta de batata doce?
London nã o queria que esta noite acabasse.
— Sim? — Dahlia disse nervosamente. — Julie disse que era o seu
favorito. Mas foi difı́cil dizer, por DM, se ela estava apenas brincando
comigo ou nã o. Se você nã o…
— Nã o, nã o, Dahlia. Eu amo isso.
London olhou para ela mais um segundo e entã o se afastou da
bancada.
— Ei — elu disse. — Fique aı́ por um minuto. Sé rio, nã o se mexa.
Dahlia deu-lhe um olhar engraçado.
— OK.
London caminhou atrá s dela.
Elu deu alguns passos para a direita. Considerado. Sim, isso estava
certo. Era onde sua antiga estaçã o teria estado.
Elu olhou para o cabelo dela, na nuca. Seus ombros estavam tensos,
incertos. Como se ela estivesse esperando para ser chamada ao Cı́rculo
Dourado. Mas ela cozinhando esta noite tinha sido perfeito. Ela já
deveria saber que ela explodiu a competiçã o.
London a fez esperar mais um minuto.
— Foi aqui que me apaixonei por você — disseram eles.
Lentamente, ela se virou. Ela estava sorrindo, sem dentes, quase
tı́mida.
— E foi aqui que me apaixonei por você .
London sorriu de volta.
— Mas você estava de costas para mim. Você nã o podia nem me ver.
— Sim — Dahlia disse suavemente. — Mas eu sempre soube que
você estava lá .
London fez uma rá pida avaliaçã o de seus arredores. A estaçã o onde
elu preparara a refeiçã o de sua vida hoje cedo, onde ela tinha acabado
de cozinhar a dela, estava uma bagunça absoluta, potes e panelas sujos
por toda parte, junto com uma torta de batata-doce refrescante.
Elu deu um passo à frente e empurrou tudo para longe. Com exceçã o
da torta, é claro. Uma panela caiu ruidosamente no chã o e Dahlia
engasgou. London a pegou pela cintura, girando-a, empurrando-a
contra a bancada. E entã o elu fez algo que secretamente queria fazer
por semanas. Elu a pegou e a jogou em cima da mesa, neste lugar onde
elu cozinhara e ansiava por ela e a amava. Elu se colocou entre as
pernas dela, que ela imediatamente se envolveu em torno delu, e,
inalmente, elu se inclinou e a beijou.
Dahlia ê beijou de volta, colocando seu rosto em suas palmas, com
gosto de menta, cheiro de coco e churrasco, tudo marcante e precioso e
ela. Pela primeira vez, ela era mais alta do que elu, e parecia
estranhamente emocionante. Mas sua lı́ngua pressionando contra a
delu era tã o familiar, os suspiros em sua garganta a trilha sonora de
London estava faltando, seus lá bios puxando os lugares mais vivos em
seu corpo, os lugares que elu já havia empurrado tã o profundamente na
ausê ncia dela, que estava vibrando de volta à vida.
— Espera. — Dahlia se separou, empurrando levemente os ombros
de London. Ela respirou fundo e trê mulo. — Eu estava tã o nervosa
quando você entrou aqui que eu mal conseguia pensar. Mas agora eu
tenho que dizer algumas coisas. Por favor.
London deixou cair suas mã os para os lados de Dahlia. Elu empurrou
um polegar em seu quadril.
— Você estava certe. — Dahlia engoliu. — Eu fui decepcionante,
naquela noite.
Ela levantou a mã o para a bochecha de London.
— Honestamente? — disse London. — Acho que nó s dois fomos.
— Pode ser. — Ela sorriu, mas parecia um pouco triste. — Eu deveria
ter me comportado melhor, conversado sobre as coisas com você . Eu
estava tã o, tã o assustada, com tantas coisas. Ainda estou com medo,
para ser honesta. Ainda nã o sei o que estou fazendo da minha vida. —
Ela engoliu novamente. — Eu posso decepcioná -lu novamente, no
futuro. Assim… Aviso justo.
London olhou para ela.
— O futuro — disse.
— Sim. — Seu polegar roçou o lá bio inferior de London. — Se... se
você quiser isso.
London beijou o polegar e depois o pulso. Elu beijou seu braço nu,
bronzeado e levemente polvilhado com cabelo escuro, seu ombro, o
ponto celestial onde seu ombro encontrava seu pescoço.
— Eu quero isso — elu disse, e a sentiu expirar. — Faça o seu pior,
Woodson. Vamos ter medo juntes.
Elu beijou até o maxilar dela, sorrindo quando elu chegou lá . Elu
podia sentir seu pulso, vibrando rá pido em seu pescoço.
— Realmente — elu murmurou —, eu culpo Tanner Tavish.
Dahlia riu, um pouco sem fô lego, tilintando deliciosamente no ouvido
de London.
— O quê ?
— Por chutar você em primeiro lugar.
— London. Acho que foi uma decisã o conjunta.
— Sim, mas eu realmente quero culpar esse cara por alguma coisa.
Dahlia cantarolou divertida contra sua bochecha.
— Eu suponho — London disse com um leve suspiro —, que eu nã o
posso mais dar a ningué m no Chef's Special muita merda, considerando
que eles estã o me dando $100.000. Bem, menos todos os impostos.
— London. — Dahlia empurrou-ê suavemente para longe de seu
pescoço, para que pudesse sorrir para elu. — Sua organizaçã o sem ins
lucrativos.
— Oh sim. — London se viu sorrindo de volta. — Eu tive algumas
ideias. Deus, eu tenho tanto para te dizer.
Dahlia piscou, seus olhos de repente enevoados.
— Mal posso esperar — ela sussurrou.
— Dahlia. — London balançou a cabeça, ainda sorrindo. — Você está
tã o alta agora. — Elu correu um polegar sobre sua bochecha. — Parece
engraçado.
Dahlia soltou outra gargalhada, solta, aliviada e alegre, todas
embrulhadas no pequeno e maravilhoso som.
— Eu sei — disse ela, soando muito mais como ela mesma. — Eu nã o
posso acreditar que você anda por aı́ assim o tempo todo. Eu me sinto
embriagada de poder.
E entã o, como se para provar isso, ela enrolou as duas pernas ao
redor dos quadris de London, puxando-ê o mais perto possı́vel, e ê
beijou tã o forte e profundamente que London nem conseguiu controlar
o rosnado que saiu de seu peito.
O cé rebro delu icou em branco, toda a pressã o e excitaçã o do dia
foram apagadas, substituı́das por nada alé m de branco, calor e prazer,
espirais de conforto e contentamento irradiando em seus membros. Seu
coraçã o batia, irme e só lido em seu peito, sim, sim, sim com cada baque.
Dahlia abriu a boca, mas London nã o a deixaria escapar desta vez.
Elu a abraçou mais apertado, moveu seus lá bios para o ló bulo de sua
orelha, chupando-o em sua boca atravé s dos dentes.
— London. — Ela soltou as pernas de sua cintura. — Eu odeio parar
com isso, mas... a comida está esfriando. E se eu trabalhei tã o
freneticamente em tudo isso e nada for comido, vou chorar. — Ela
empurrou levemente contra seu estô mago.
— Tudo beeeemmmmm.
London admitiu a derrota e recuou.
Dahlia saltou do balcã o. E tropeçou.
—Calma aı́. — London agarrou seu cotovelo.
Dahlia colocou a mã o na cabeça, curvada, sem se mover ou
responder por um nú mero preocupante de segundos.
— Dahlia. Você está bem?
Ela se endireitou.
— Desculpe. Fiquei tonta. E… possı́vel que antes de voar aqui ontem,
eu poderia ter dirigido um U-Haul de Maryland para Massachusetts. E
assistir a essa inal quase me deu um ataque de pâ nico. Estou, talvez, só
um pouquinho, funcionando com fumaça. Mas eu vou calar a boca
agora, porque você, você provavelmente teve que chegar hoje à s tipo, o
quê , cinco da manhã ? E entã o cozinhar trê s pratos inteiros e...
London entrou na frente dela, segurando seus ombros.
— Dahlia. Respira.
— Sim. — E ela fez. — Estou bem agora.
London a beijou mais uma vez, suavemente, nos lá bios.
— Entã o — elu passou a mã o no cabelo dela novamente —, vamos
começar com o churrasco, mas depois você vai me contar muito mais
sobre essa coisa toda do U-Haul.
Ela assentiu.
— Negó cio fechado.
— Tudo bem, Woodson. — London apertou sua mã o e pegou a torta
de batata-doce. — Vamos comer.
EPÍLOGO

Três meses depois


Dahlia agarrou o cabelo de London em suas mã os.
— Ah, porra — ela disse. — London. Estou perto.
London recuou para sorrir para ela.
— Eu sei. Você é bastante ó bvia sobre isso.
— Só … — Dahlia gemeu, exasperada, antes de empurrar o rosto
atrevido de London entre suas pernas. — Eu preciso que você … ah.
Vá rios momentos atordoados, estrelas piscando atrá s de suas
pá lpebras, London rastejou de volta pelo corpo de Dahlia, deixando
beijos ao longo do caminho.
— Bom dia — elu sussurrou em seus lá bios, altivos e lindos, antes de
rolar da cama, deixando-a desossada nas profundezas do volumoso
edredom branco.
Dahlia realmente amava Nashville. Mas ela jurou que London a
enganou para morar com elu com esta cama. O colchã o era divino.
Dahlia nã o queria saber quanto custava.
Ela havia sublocado um quarto quando se mudou o icialmente para
Nashville há dois meses. Mas depois de apenas um mê s, London a
convenceu de que estava perdendo dinheiro com isso, sendo que ela
sempre estava aqui de qualquer maneira. Depois que Dahlia insistiu
que ela pagaria o aluguel, o que London concordou evasivamente com
um revirar de olhos, ela concordou.
E assim Dahlia se mudou para o apartamento de London na 12South,
com suas paredes de tijolos expostos, seus tetos altos e mó veis
minimalistas, e sua proximidade com a Jeni's Splendid Ice Creams.
Dahlia icou chocada que London nunca contou a ela que sua
sorveteria favorita em LA també m tinha um local aqui.
Entã o talvez tenha sido Jeni quem a enganou.
Em ambos os casos, Dahlia e London ainda estavam negociando o
aluguel.
Elus estavam em negociaçõ es ainda mais acaloradas sobre um
cachorro.
— Tem certeza que nã o quer que eu faça algo por você ? — Dahlia
perguntou com um bocejo.
London balançou a cabeça do banheiro, já escovando os dentes.
— Sem tempo. — Elu enxaguou. — E de qualquer forma, isso foi mais
do que su iciente para mim.
— Acho que foi uma maneira decente de acordar.
— Ainda nã o consigo acreditar que você nã o vai comigo. — London
voltou para o quarto, enrolando os punhos de sua camisa.
— Acredite em mim, eu quero passear por Nova York com você
també m. — Dahlia se aconchegou ainda mais nos lençó is. — Mas Hank
teve sua passagem reservada por dois meses. E eu tenho uma tonelada
de coisas para fazer antes que ele chegue aqui.
— Eu sei, eu sei. — London suspirou. — Mas e se eles me izerem
perguntas idiotas? E eu icar mal-humorade? E se eu nã o for boe o
su iciente para falar sobre ser nã o-biná rie, ou edizer algo errado, e as
pessoas icarem bravas comigo no Twitter? Blerrrgh. — London fez
uma pausa de dobrar roupas em sua mala para pendurar o rosto em
suas mã os.
— London. — Dahlia lutou para se sentar. — Con ie na Hoda. Vai icar
tudo bem, ok? Lembre-se, você poderá promover a organizaçã o sem
ins lucrativos. Você vai ser incrı́vel. Mas... talvez me prometa que você
nã o vai olhar o Twitter por pelo menos uma hora depois de ir ao ar?
— Prometo.
London retirou o carregador de telefone da parede, suspirando.
— Mal posso esperar para assistir. — Dahlia sorriu. — Nã o consigo
me lembrar da ú ltima vez que assisti ao programa Today. Eu e Max
vamos nos divertir muito, relaxando em nossos pijamas e fofocando
sobre o quã o gostose você é .
London fez uma pausa, calcinha cuidadosamente dobrada na mã o.
— Max?
— Ah, sim, você sabe, o cachorro que eu vou pegar enquanto você
estiver fora. Decidi chamá -lo de Max.
— Eu te odeio — London murmurou, procurando ao redor da sala
por seus sapatos bonitos.
Dahlia esticou os braços acima da cabeça e sorriu antes de
inalmente afastar as cobertas.
— Fica na cama. — London franziu a testa. — Ainda é o raiar do dia.
— Nã o. — Dahlia puxou um moletom surrado de Belmont sobre sua
cabeça. Como costumava pertencer a London, era enorme para ela. Ela
supô s que ainda pertencia a London. Tecnicamente. Mas era seu
favorito. — Estou de pé agora. Talvez eu possa terminar minha resenha
para a Source daquela nova churrascaria depois de você sair. E sempre
mais fá cil para mim escrever de manhã . E entã o terei muito tempo
depois para terminar de editar meu ú ltimo vı́deo e publicá -lo antes de
me preparar para Hank.
Dahlia prendeu o cabelo em um coque e foi ao banheiro lavar o rosto.
— Sempre apressando — disse London. Elu fechou a mala.
— O sonho do milê nio, baby.
London encostou-se ao batente da porta do banheiro, olhando para
ela.
— E talvez você publique outra entrada no site també m?
Dahlia corou ligeiramente enquanto escovava os dentes. Mas ela
assentiu.
Suas resenhas de restaurantes para o Nashville Source foram
desa iadoras e emocionantes. Seus vı́deos no YouTube eram mais
trabalhosos do que ela esperava, mas eram grati icantes e divertidos.
Foi muito mais agradá vel, ela aprendeu, estar na câ mera sem juı́zes e
uma equipe de produtores assistindo. Gostava de compartilhar dicas de
culiná ria, as receitas que a ajudaram a se reencontrar. Conectando-se
com as pessoas atravé s da comida, mas desta vez à sua maneira, sem
tique-taque.
O site de Dahlia, no entanto, esperou para ser lançado até a semana
passada. Quando a inal inalmente foi ao ar, todos os segredos da oitava
temporada foram inalmente revelados. Porque ela teve que esconder o
que o tı́tulo de seu primeiro post ia ser. Ela o havia escrito semanas
atrá s.
A receita que deixou minha bunda (não tão) arrependida ser eliminada
do Chef's Special.
Era sobre divó rcio, trabalho duro, correr riscos e surpresas. E sopa.
Hank disse que isso o fez chorar. O que nã o contava muito,
considerando as coisas pelas quais seu irmã o derramou lá grimas, mas
Dahlia ainda apreciava isso.
E emocionante ser paga para escrever para a Source. Mas escrever
suas histó rias pessoais e receitas em seu site era o que ela mais se
orgulhava. Era vulnerá vel e assustador.
Mas o Chef's Special a ensinou que ela podia fazer coisas vulnerá veis
e assustadoras.
Quando Dahlia nã o estava escrevendo ou criando vı́deos, ela
trabalhava meio perı́odo na Vanderbilt University, onde Julie també m
trabalhava. Isso era o que realmente pagava as contas de Dahlia. Mas
Dahlia gostou, o trabalho de escritó rio, a agitaçã o ao lado. Talvez as
agitaçõ es se transformassem em tempo integral, algum dia. Seu canal
no YouTube já era mais bem-sucedido do que ela esperava. Mas, por
enquanto, ela adorava ter um monte de ovos em um monte de cestas
diferentes, essa vida caó tica em que ela e London haviam caı́do. Ela se
sentiu desa iada, criativa. Está vel, mas maravilhosamente viva.
Isto ajudou, claro. Sabendo que London estaria ao seu lado, nã o
importa o que ela quisesse tentar em seguida. London tinha sido
diferente de David desde o inı́cio, mas Dahlia estava empenhada em ser
diferente desta vez també m. Mais honesta. Admitindo mais cedo
quando ela nã o tinha certeza sobre algo. Quando ela estava insegura.
Quando ela estava com medo.
Mas a verdade era que ela nã o se sentia assustada com muita
frequê ncia nos dias de hoje.
A maioria do tempo, ela estava muito ocupada simplesmente se
sentindo animada.
Na maioria das vezes, ela se permitia sentir orgulho.
London rolou sua mala para fora do quarto, Dahlia seguindo logo
atrá s.
— Você tem tudo?
London suspirou e acenou com a cabeça, chamando uma carona em
seu telefone.
— Sim, infelizmente.
— Ah, vamos lá , vai ser divertido. Você verá Sai novamente. Oh! Você
deve pedir a ele conselhos sobre organizaçõ es sem ins lucrativos! Ele
nã o tem, tipo, dez?
— Sim, e tenho certeza de que ele tem uma centena de assistentes
para lidar com todas as coisas chatas com as quais estou lidando agora.
O trabalho na organizaçã o sem ins lucrativos, provisoriamente
chamado Acampamento CookOut, tinha sido lento e complicado, e
incluı́a uma quantidade de papelada que deixou London descontente.
Mas Dahlia tinha plena fé que elu faria isso acontecer, e que seria
incrı́vel.
— Pergunte a ele de qualquer maneira — ela insistiu.
— Sim, querida.
Elu parou na porta. London soltou sua mala para segurar o rosto de
Dahlia em suas mã os, colocando um ú ltimo beijo suave em seus lá bios.
Os olhos de Dahlia permaneceram fechados depois que elu se afastou.
Ela colocou dois dedos na boca, uma pequena explosã o de melancolia
de repente a puxando. Realmente teria sido divertido trotar juntes pela
cidade de Nova York.
— Você está bem?
London colocou um dedo debaixo de seu queixo, forçando seus olhos
a encontrarem os deles.
Ela sorriu.
— Sim.
Talvez numa pró xima vez.
London beijou seu nariz.
— Sã o apenas alguns dias. Você sabe que o estú dio precisa de mim
de volta na segunda-feira de qualquer maneira.
London começou no estú dio de mú sica um mê s atrá s, na mesma
é poca em que Dahlia se mudou. Ela nunca presenciou London mais
empolgade e mais à beira de ter um colapso nervoso, tudo de uma vez.
Ela ê achara incrivelmente adorá vel.
— Eu te amo — elu disse.
— Eu també m te amo.
— Diga a Hank que sinto muito por nã o estar aqui para recebê -lo
o icialmente no Tennessee para sua primeira visita. Mas que estou
animade para vê -lo quando voltar.
— Eu irei.
— E certi ique-se de comprar pã o de canela em Dollywood.
Dá lia revirou os olhos.
— Eu sei. Pela dé cima vez.
London hesitou.
— Dahlia?
— Sim?
— Por favor, nã o pegue um cachorro enquanto eu estiver fora.
Dahlia riu e ê empurrou porta afora.
— Vai!
A porta se fechou atrá s delu.
Dahlia caminhou até a janela, para certi icar-se de que London
descesse as escadas ı́ngremes de seu pré dio com segurança para a rua.
Elu se virou quando chegou à calçada, apertou os olhos para o cé u que
clareava lentamente e acenou para ela, trê s andares acima. Dahlia
acenou de volta, um pouco de vibraçã o em seu estô mago com a doçura
boba disso. Ela ê observou entrar em sua carona, esperou enquanto o
carro se afastava pela rua arborizada que Dahlia tanto amava. A rua que
parecia em casa, desde o primeiro momento que Dahlia a viu.
E entã o, uma vibraçã o diferente pousou em seu estô mago ao saber
que ela tinha o lugar completamente para ela pelas pró ximas vinte e
quatro horas, até Hank chegar amanhã . Ela se virou e foi direto para o
escritó rio, determinada a fazer o que havia dito e fazer algum trabalho.
O escritó rio costumava ser o quarto do antigo colega de quarto de
London, Eddy. Ele se mudou quando Dahlia se mudou, o que ela sentiu
horrı́vel. London garantiu a ela que Eddy estava tentando morar com
sua pró pria namorada de qualquer maneira. Dahlia nã o se sentiu muito
mal com isso por muito tempo, no entanto. Tinha sido um alívio voltar
ao sexo tã o alto-quanto Dahlia queria, onde e quando quisessem fazê -lo.
Ela en iou os dedos dos pé s no tapete de pilha alta que colocou no
centro do escritó rio. Ela nã o trouxe muitas coisas com ela para
Nashville de New Bedford, mas ela estava feliz por ter trazido isso, um
pouco de bom de sua antiga vida para se misturar com a nova.
Seus olhos se desviaram para uma foto na mesa enquanto o
computador carregava. Era da famı́lia de London no set do Chef's
Special, logo apó s London ter sido declarade ê vencedore. Glitter ainda
estava caindo do teto. Julie estava agarrada aos braços de London, com
Charlotte, Jackie e Sara inclinadas por perto e sorrindo largamente.
O pai de London també m estava na foto, bem na ponta, com as mã os
en iadas nos bolsos.
Dahlia estava animada para muitas coisas neste im de semana: ter
um tempo sozinha hoje, apresentar Hank à sua nova casa. Mas ela
també m icou intrigada em ir ao jantar de domingo na casa dos Parkers.
London havia garantido que ela nã o precisava ir enquanto elu estivesse
em Nova York, especialmente porque Hank estava de visita. Mas Dahlia
queria. Ela adorava as ceias de domingo; Os jantares de domingo eram
barulhentos, alegres e divertidos. Alé m disso, ela estava convencida de
que Hank e Julie iriam se dar bem imediatamente.
Mas ela també m talvez tivesse uma missã o secreta neste im de
semana. Ela só queria ter certeza. Que o pai de London ainda usaria as
palavras certas, mesmo quando London nã o estivesse por perto.
Tom Parker escolhera o lado certo do ultimato de London ao
retornar a Nashville. A inal do Chef's Special aparentemente foi o
despertador que ele precisava, e ele estava trabalhando em expiaçã o. As
coisas ainda icavam estranhas, à s vezes, mas London estava se
sentindo bem com isso, entã o Dahlia tentou ser solidá ria. Ou seja, ela
sorriu para o pai delu agora que estavam todos juntos. As vezes.
Mas se ele mostrasse suas verdadeiras cores sem a pressã o de
London estar na mesma sala, Dahlia estava preparada para despertar a
leoa.
Quando o computador carregou, Dahlia abriu o rascunho de sua
revisã o sobre a nova churrascaria em Germantown. Ela leu
aproximadamente duas frases antes que seu cé rebro icasse pppfffffttt.
Não, obrigado.
Dahlia se afastou da cadeira. Novo plano.
Sustâ ncia em primeiro lugar.
Ela entrou na cozinha sobre os pisos de madeira. Ela sabia que elus
tinham uma quantidade razoá vel de restos de vegetais variados, e
London recebia os ovos locais mais bonitos toda semana da
cooperativa. E, ela lembrou quando ela abriu a geladeira, London pegou
aquele bacon fresco esta semana també m.
Droga. Esta ia ser uma boa frittata.
Dahlia jogou a frigideira de ferro fundido no fogã o.
Ela se perguntou se London já estava no aeroporto. Se elu estava
ouvindo mú sica e se deixando relaxar.
Seu coraçã o voltou ao normal enquanto ela reunia os ingredientes.
Ela estava especialmente ansiosa, ela percebeu, para cozinhar sozinha
neste im de semana. Dahlia adorava cozinhar com London. Mas ela
també m sentia falta disso.
Ela colocou uma mú sica, já começando a balançar os quadris
enquanto trabalhava. Ela estudou a comida na frente dela. Começou a
planejar seus blocos de construçã o.
Havia algo essencial faltando, no entanto.
Dahlia abriu a geladeira novamente e vasculhou a gaveta de vegetais.
Ah, ali. Bem lá no fundo. Ela pegou a cebola e a trouxe para a tá bua de
cortar, sua casca de papel já começando a se desfazer.
E entã o ela pegou sua faca.
Notas

[←1]
Lembrando que na língua inglesa os pronomes neutros usados são they/them, no
português são pronomes plurais eles/deles ou elas/delas, na língua portuguesa os pronomes
neutros mais usados e conhecidos são elu/delu
[←2]
Ramekin é um pequeno pote de cerâmica usado para a preparação e o serviço de vários
pratos ou guarnições. Dentre outros: creme brûlée, suflê e pratos gra nados com queijo.
Table of Contents
Elogios para Love and Other Disasters
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
EPÍLOGO

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