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'Kelly vai abrir seu apetite desde a primeira pá gina, encerrando o
maravilhoso banquete com o mais doce dos felizes para sempre. Um
romance queer delicioso' Kirkus.
'O doce romance de estreia de Kelly aumenta o calor. . . os
personagens brilham com quı́mica. O resultado emocionante deixará os
leitores ansiosos por mais de Kelly'
Semana do Editor.
'Anita Kelly tem a receita perfeita para o romance' Ruby Barrett.
'Doce e sexy e totalmente delicioso. Estou louca por esses dois
desastres deliciosos' Rachel Lynn Solomon.
“Esta histó ria é fantasticamente divertida e abre seu coraçã o
vulnerá vel. Mal posso esperar para comprá -lo para todos que já
conheci' Rosie Danan.
'Com apenas um livro, Anita Kelly desembarcou entre meus autores
favoritos de todos os tempos'
Meryl Wilsner.
Sobre o livro
Transfobia
Erro de pronomes proposital
Divó rcio
Representações
Dahlia Woodson pode ter sido uma merda no casamento, mas ela
poderia cortar uma cebola como uma maldita pro issional.
As primeiras fatias iguais, a hachura cruzada. O conforto em quã o
ló gico e perfeito era. Dahlia tinha trabalhado, cebola apó s cebola, até
que ela pudesse criar cortes consistentes de faca todas as vezes. Até que
ela con iou em sua mã o, sua faca, sem ter que pensar nisso: rá pido e
e iciente e certo.
Quando Dahlia pisou no set de Chef's Special em Burbank, Califó rnia,
em uma manhã de terça-feira no inal de julho, ela pensou em cebolas.
Ela certamente nã o conseguia se concentrar no piso de mogno sob
seus pé s, como ele brilhava positivamente. Ou quã o altos eram os tetos,
muito mais altos do que ela imaginara, do que parecia necessá rio. Como
uma espé cie de está dio esportivo. Para nerds de comida.
E as luzes — doce e santo Moisé s.
Era como entrar no terminal de um aeroporto depois de um longo
voo pelo paı́s: tudo muito rá pido, muito alto, muito cheio de novo.
Exceto que o conjunto do Chef's Special nã o era novo, nã o
exatamente. Dahlia tinha visto isso antes, em casa em seu aparelho de
TV. Mas pessoalmente era diferente. Mais avassalador, mais surreal.
Ela se aproximou do alto arco de madeira que marcava a
extremidade traseira do cená rio. Era majestoso e inconfundı́vel, como a
porta de uma catedral, se uma cozinha pudesse ser uma igreja.
Ela se arrastou, olhando com admiraçã o, deslumbrada pelas luzes
brilhantes acima. E um segundo depois, se chocou contra uma parede
só lida de pessoas.
Uma pessoa que soltou um grunhido de desagrado com o rosto de
Dahlia implantado em seu peito.
Dahlia deu um passo para trá s, uma bola de borracha de vergonha, a
lı́ngua grudada no cé u da boca. Piscando, ela viu ê outre competidore
passar a mã o sardenta em seus cabelos avermelhados. Era um corte
curto nas laterais, mais comprido no topo, e quando a mã o dele soltou,
um lop caiu sobre a sobrancelha direita.
Dahlia recuou um metro e meio, mas insu iciente. E essa pessoa era
alta. Essa sobrancelha pairava o que parecia ser um andar inteiro acima
dela.
Mas era fofo, o cabelo avermelhado. Isso fez Dahlia pensar em folhas
mudando de cor no outono, e Anne de Green Gables, e o pô r do sol
re letido na á gua parada. Elu nã o se moveu desde que o rosto dela
encontrou o peito delu, e a proximidade de outro corpo parecia aterrar
de alguma forma, como quando seus olhos se ixam em algué m nas
Chegadas que você reconhece, a cacofonia do aeroporto inalmente se
instalando ao seu redor.
E talvez fosse o cabelo do pô r-do-sol ou a simples proximidade de
outro ser humano senciente, mas Dahlia abriu a boca e…
— Oh Deus. Acabei de dar de cara com você . Eu sinto muito, muito.
Estou tã o nervosa. Tipo, acho que a ú ltima vez que fiquei nervosa era o
meu concurso de ortogra ia da quarta sé rie, quando esqueci como
soletrar assobio e todos riram de mim e talvez eu iz xixi na minha
meia-calça, só um pouco. Deus, usar meia-calça é o pior.
Dahlia respirou fundo. Ela podia ver, pelo canto do olho, os outros
onze competidores circulando, esperando para serem conduzidos para
suas estaçõ es de cozinha designadas por uma produtora chamada
Janet. E Cabelo Loiro Avermelhado continuou parade ali, olhando para
ela com um olhar vazio no rosto. Dahlia se sentiu constrangida ao
terminar a conversa aqui, mas ela nã o sabia como fazer uma transiçã o
suave da micçã o da quarta sé rie – embora, para constar, ela tenha
mantido sua avaliaçã o das meias – entã o ela simplesmente continuou,
seu cé rebro lutando para encontrar uma maneira mais relevante de
terminar este minuto horrı́vel de sua vida.
— De qualquer forma, isso é estranho, certo? Que vamos estar na TV.
Que isso é real. Só consigo pensar em cebolas, o que é tã o idiota porque
todo mundo provavelmente está pensando em, você sabe, vitela e foie
gras ou qualquer outra coisa. Embora eu també m esteja pensando em
como provavelmente vou tropeçar sobre os pé s de algué m na primeira
vez que todos corrermos para a despensa. E como eu provavelmente
vou esquecer como cozinhar assim que o cronô metro começar. — Ela
fez uma pausa para rir um pouco de si mesma. — Um verdadeiro des ile
de pensamento positivo, bem aqui.
Dahlia apontou para sua cabeça. Tentou um sorriso encantador.
E Cabelo Loiro Avermelhado piscou.
— Legal, ok, entã o, ó timo. Boa conversa. Tchau.
Dahlia virou-se para girar em torno de sua ombro direito quando
uma mã o pá lida pousou em seu braço.
— Por aqui, querida.
Agradeça à s deusas acima. A produtora Janet estava salvando Dahlia
de si mesma. Se tal coisa ainda era possı́vel.
Engolindo em seco, Dahlia tentou absorver tudo enquanto Janet a
conduzia atravé s do labirinto curvo de estaçõ es de cozinha que
ocupavam a maior parte do espaço no cená rio cavernoso. Mas
principalmente, tudo o que ela conseguia focar era o quanto ela gostava
das armaçõ es vermelhas brilhantes dos ó culos de Janet, e o pequeno
pulso de calor que tinha empurrado em seu coraçã o quando Janet a
chamou de querida.
Pararam bem na frente do semicı́rculo de estaçõ es, bem à direita.
— Aqui está , Srta. Woodson. Este é o seu.
E com um sorriso reconfortante, Janet virou-se para dirigir o
pró ximo competidor.
Aqui estavam todos os detalhes que Dahlia tinha visto na TV durante
as ú ltimas sete temporadas do Chef's Special: os verdes profundos e
dourados e turquesa cintilante espalhados por todo o set em pops de
vidro colorido. Como a madeira escura das paredes e do piso
contrastava com esses tons mais claros.
Ela sempre achou que o cená rio se assemelhava a um antigo castelo
escocê s nas charnecas, recentemente visitado por Queer Eye.
Aconchegante e forte tudo de uma vez, suas fundaçõ es invocando um
senso de tempo e honra – e aqui e ali, alguns respingos brilhantes de
alegria.
Dahlia olhou para a bancada de aço inoxidá vel brilhante da estaçã o. A
estaçã o dela. Ela se lembrou do olhar vazio no rosto do cara de Cabelo
Loiro Avermelhado alguns minutos atrá s, quando ela se fez de boba
minutos depois de entrar no set, e resistiu à vontade de se inclinar e
bater sua testa contra aquele aço inoxidá vel algumas vezes.
Em vez disso, ela fechou os olhos e respirou pelo nariz, como aquela
aula de ioga que ela foi uma vez um ano atrá s lhe ensinou.
Cebolas. Os pedaços marrons desgrenhados na parte superior e
inferior. O branco puro do interior, irme mas lexı́vel. A estrutura
con iá vel de camadas. Tantas receitas começaram com o bloco de
construçã o bá sico de uma cebola inamente picada.
Dahlia estava aprendendo, em sua nova vida, a dar um passo de cada
vez. Se ela começasse com blocos de construçã o bá sicos, focados em
cada pequeno passo, ela poderia realizar coisas.
Os olhos de Dahlia se abriram quando um homem alto e branco com
cabelo escuro caminhou até o espaço de trabalho pró ximo ao dela. Ele
estava olhando para baixo, rabiscando furiosamente em um pequeno
bloco de notas. Oh Deus. As pessoas estavam tomando notas, e Dahlia
percebeu que ela mal tinha ouvido metade das palavras saindo da boca
de Janet esta manhã . E Janet era barulhenta.
— Ei — o cara alto disse, inalmente olhando para cima. Ele en iou o
lá pis atrá s da orelha, todo legal, e estendeu a mã o. — Jacob. Parece que
somos companheiros de mesa.
Dahlia apertou sua mã o. Ela pensou que talvez dissesse seu nome.
Ela icou impressionada com o quã o con iante ele parecia, quando tudo
o que ela conseguia pensar, alé m de cebolas e aquela cena embaraçosa
sob o arco, era como ela estava com gases de repente. Seu estô mago
estava fazendo sons gorgolejantes e alarmantes. Ela olhou ao redor da
sala. Todos os outros competidores estavam fazendo conversa iada,
sorrindo um para o outro. Eles variavam de arrogantes e atraentes,
como Jacob, a uma mulher baixa e mais velha no canto oposto, seu
cabelo grisalho balançando enquanto ela acenava vigorosamente para a
mulher negra ao lado dela.
Espera. Dahlia reconheceu aquele bob. Ela conheceu aquele bob no
transporte do aeroporto para o hotel há dois dias. Uma avó de Iowa,
Dahlia se lembrava agora. Ela era exatamente o que você esperaria de
uma avó do meio-oeste: gentil, mas a iada. Como você sabia que ela fez
uma torta de maçã malvada, mas també m nã o deixou você se safar com
nenhuma de suas merdas. Dahlia a amou imediatamente. Bá rbara! Esse
era o nome dela.
Uma pequena faı́sca ganhou vida nas veias de Dahlia.
Se Barbara podia fazer isso, ela també m podia.
Mas quando os olhos de Dahlia se desviaram de Barbara, os rostos de
todos os outros icaram borrados nas bordas.
Ela respirou fundo outra vez. Pimentas. Ela gostava de picar
pimentas també m. Nã o tã o satisfató rio quanto uma cebola, mas
esteticamente agradá vel. Cores requintadas, vibrantes, cores que eram
quase difı́cil imaginar emergindo de nada alé m de sementes, sol,
sujeira.
Tudo que você precisava eram blocos de construçã o.
— Olá , competidores da oitava temporada!
Dahlia girou de volta.
Sagrados lagartos saltitantes.
Sai Patel. Sai Patel estava na frente dela. Ficando no meio do Cı́rculo
Dourado, onde os competidores seriam chamados no inal de cada
Desa io de Eliminaçã o para saudar sua gló ria ou seu destino. Dahlia
icou subitamente desconcertada por sua cozinha estar tã o perto desse
cı́rculo, esse espaço que aumentaria sua ansiedade e determinaria seu
futuro. Na verdade, nunca escaparia de sua visã o.
Tudo estava bem.
— Eu sei o quã o nervosos você s estã o agora. — Abençoado seja Sai
Patel, e seu cabelo escuro despenteado, e sua camisa com o botã o de
cima desabotoado, por dizer isso em voz alta. — Mas lembrem-se, nó s
escolhemos você s, entre milhares de possı́veis concorrentes, por uma
razã o. Você s já passaram pela parte mais difı́cil. Você s estã o aqui! E
agora? E aı́ que a diversã o começa.
Enquanto Sai Patel sorria para os treze competidores da oitava
temporada, Dahlia podia ver com seus pró prios olhos aquele canino
ligeiramente torto que ela havia observado tantas vezes do conforto de
seu sofá em Maryland. Era mesmo mais perfeito pessoalmente, o
sorriso de Sai Patel, e o fato de que um dos chefs mais famosos do
mundo estava na frente dela, parecendo genuı́no e encorajador e
totalmente investido na coisa toda, começaram a acalmar os nervos de
Dahlia.
Ele estava certo, a inal. Ela conseguiu passar pelas audiçõ es na
Filadé l ia por um motivo. Chef's Special era para chefs amadores;
milhares de pessoas experimentaram cada ano. Signi icava algo que ela
tinha sido uma das treze de todos aqueles milhares que chegaram aqui.
Ela tinha trabalhado duro. Seu novo companheiro de mesa Jacob e seu
lá pis idiota atrá s da orelha nã o eram melhores do que ela. Ela poderia
fazer isso.
Ela poderia ganhar $100.000.
Janet entrou assim que Sai partiu, sua voz de alguma forma doce e
dominante ao mesmo tempo.
— Aqui vamos nó s, pessoal! Temos um longo dia à nossa frente.
Dahlia endureceu sua espinha, forçou sua cabeça a clarear. Ela
entendeu que tinha que ouvir Janet agora. Sobre como eles iam deixar o
set e voltar a andar, de verdade dessa vez, com as câ meras rodando.
Eles deveriam manter a cabeça erguida, sorrir brilhantemente, mostrar
que estavam prontos para começar esse negó cio.
E Dahlia nã o ia vomitar. Ou liberar gases. Ela ia pensar em cebolas e
pimentõ es, ou talvez no movimento calmante e repetitivo de cortar
pepinos, abobrinhas, cenouras. Fatia, fatia, boom. Con iando no ritmo
de seus pulsos.
O que ela acabou imaginando, poré m, quando ela saiu no set
novamente, era no alho, esmagando-os de suas cascas de papel com a
lâ mina plana de uma faca. Ela sentiu em suas palmas, o estalo
competente de sua faca, o poder disso. Um bloco de construçã o
essencial e perfumado esmagado sob seus dedos.
Sua mente focada, sua visã o de tú nel desaparecendo. Sai estava na
frente dela novamente, agora acompanhado pelos outros juı́zes, Tanner
Tavish e Audra Carnegie. A mesa atrá s deles era alta e imponente, a
parede atrá s dela feita de nogueira polida com um enorme cı́rculo
dourado no meio, um re lexo pró ximo do que estava no chã o. O Chef's
Special estava espalhado pelo cı́rculo em um â ngulo em letras verde-
loresta, fora do centro, uma caligra ia rá pida e cuidadosamente
preguiçosa.
Dahlia sentiu as câ meras a observando, e havia algumas coisas que
ela sabia.
Ela sabia que tinha sido uma coisa tola e precipitada largar o
emprego por causa disso.
Ela sabia que poderia falhar espetacularmente. Cair de cara no chã o.
Mas havia outras coisas també m. Coisas que ela esperava ser
verdadeiras.
Como se ela tivesse sido feita para criar coisas deliciosas e
magnı́ icas.
Como talvez esta fosse sua chance de provar isso. Que ela poderia ser
boa em alguma coisa. Realmente, realmente boa em alguma coisa, algo
que ela escolheu, algo que era para ela e mais ningué m.
A voz de Sai Patel ressoou mais uma vez de dentro do Cı́rculo
Dourado, sua voz sem esforço em sua projeçã o magistral, suas covinhas
e cintilantes olhos irradiando carisma, a nuca de seu cabelo facial um
nı́vel de sensualidade que beirava a grosseria. Dahlia teve que fazer um
esforço consciente para nã o olhar para seus antebraços, aqueles
mú sculos experientes que espreitavam de suas mangas arregaçadas.
E entã o as câ meras pararam, porque aparentemente a saia de Audra
Carnegie nã o estava exatamente certa, e alguns dos competidores nã o
estavam sorrindo o su iciente. Dahlia respirou e olhou ao redor
novamente, absorvendo mais do cená rio – as esculturas abstratas de
vidro de Chihuly, todas perfeitamente iluminadas em tons de verde e
azul, que pontilhavam a parede transparente entre as estaçõ es de
cozinha e a despensa. Ela podia apenas vislumbrar a despensa atravé s
deles, e seu pulso acelerou com todos os produtos frescos em exibiçã o,
o canto apenas visı́vel do catá logo de cartõ es da biblioteca reformado
que ela conhecia continha todos os temperos que ela poderia imaginar.
Dahlia mal podia esperar para entrar naquela despensa.
Foi quando ela virou a cabeça para ver o que estava do outro lado do
aparelho que seus olhos pousaram naquele cabelo loiro avermelhado
novamente. E um rosto, ela viu mais claramente agora com o aumento
do suprimento de oxigê nio para seu cé rebro, que estava generosamente
pontilhado de sardas. Seus olhos castanhos estavam olhando
diretamente para ela. Pelo menos, Dahlia pensou que avelã era a
palavra certa: um cinza-esverdeado atraente, com manchas de ouro e
lashes de escuridã o misturados. O tom de seus cabelos parecia ainda
mais brilhante aqui, sob os efeitos completos das luzes do palco, como
se fossem lançados em um brilho celestial.
Se brilhos celestiais també m incluı́ssem carrancas mal-humoradas.
Embora legal, o magro Jacob ao lado dela era um jaguar, Cabelo Loiro
Avermelhado era um leã o.
Elu estava na estaçã o logo atrá s dela. O rosto de Dahlia se aqueceu
novamente com a lembrança de sua interaçã o anterior, mas raios
rastejantes de con iança estavam penetrando nela agora. Ela poderia
fazer isso melhor, també m.
Ela esboçou um sorriso amigá vel. — Boa sorte — ela sussurrou. O
que era uma coisa muito mais normal de se dizer a um concorrente
especial do Chef do que, você sabe, falar do concurso de soletrar da
quarta sé rie.
Elu olhou para ela, imó vel, por mais um segundo. Ela pensou, talvez,
ela viu sua mandı́bula apertada. E entã o elu grunhiu.
Novamente.
Exceto que este foi um grunhido proposital. Elu pensou sobre este.
Elu grunhiu para ela, e entã o desviou os olhos.
Assim. Isso seria um não para saber se elu achou encantador o surto
de Dahlia.
Dahlia voltou para seu posto. Ela olhou para Jacob, que estava
olhando para frente, os braços cruzados no peito, em uma pose de
grande poder.
Certo. Você nã o poderia ganhar todo mundo. Ela ainda tinha a
perspectiva de amizade com Barbara de Iowa, pelo menos. Foda-se
essas pessoas; vovó s eram incrı́veis.
Demorou muito mais do que Dahlia havia previsto, mas inalmente,
inalmente, mais de uma hora e muitas instruçõ es surpreendentemente
especı́ icas depois, chegou a hora de cozinhar.
O primeiro desa io sempre foi simples, aberto. Cada concorrente
cozinhava o que queria para mostrar seus estilos pessoais, suas
habilidades de assinatura. Todo mundo sabia disso, tinham tempo para
planejar por semanas.
Na verdade, ela nã o tropeçou na corrida louca para a despensa.
Assim que Dahlia colocou as mã os em alguns limõ es, ela se sentiu
calma. De volta à sua estaçã o, ela varreu o cabelo escuro no topo da sua
cabeça quando o reló gio vermelho embutido na mesa dos juı́zes
estalou, e ela fez um plano de jogo. Ela estava vagamente ciente de que
Jacob estava fazendo ilé mignon, que ê Cabelo Loiro Avermelhado de
Rosto Grunhido atrá s dela estava fazendo cordeiro. Ela sabia que seria
assim.
Em todos os programas de culiná ria que ela já assistiu, todo mundo
sempre se masturbava com proteı́nas com as quais ela quase nunca
cozinhava. Todas essas coisas custam dinheiro. Dinheiro que uma
editora de texto recé m-divorciada nã o tinha.
Honestamente, a ú nica proteı́na que Dahlia realmente poderia pagar,
se ela cumprisse seu orçamento, era atum enlatado. Mas ela preferia
pratos vegetarianos de qualquer maneira. Pode-se fazer coisas incrı́veis
com produtos frescos, farinha, grã os, ovos e uma tonelada de
especiarias. Aperfeiçoar a massa caseira foi o primeiro verdadeiro
bá lsamo para sua alma no ano passado, depois que ela se mudou para
fora da casa que ela dividia com David, para icar realmente sozinha
pela primeira vez em sua vida.
Pratos vegetarianos nã o ganhavam o Chef’s Special.
Porém. Dahlia crescera nas costas rochosas da Nova Inglaterra. Ela
atualmente vivia nas á guas salobras da Baı́a de Chesapeake. Ela
també m conhecia frutos do mar.
Nã o que os tacos de peixe fossem realmente uma assinatura da Nova
Inglaterra ou de Chesapeake. Mas seja o que for, quem queria mexer
com caranguejos e lagostas, que sempre lhe pareceram mais trabalho
do que valiam? Ela poderia comer um pedaço de bacalhau e ainda se
divertir com todas as outras coisas. Marinada para misturar, tortilhas
frescas para grelhar, repolho para picar, jalapeñ os para picar. Cores,
sabores, sucos. Quanto mais brilhante e picante a comida, mais alegria
Dahlia tirava dela.
Ela nã o tinha ideia se os tacos de peixe seriam muito bá sicos para os
juı́zes ou nã o, mas ela sabia que eles teriam um gosto bom e icariam
bonitos, e esses eram os ú nicos blocos de construçã o com os quais
Dahlia tinha que trabalhar.
Entã o ela espremia, misturava, grelhava, cortava, cozinhava. Ela fez
um plano e o seguiu. Ela sorriu para os juı́zes e respondeu à s suas
brincadeiras amá veis quando eles pararam em sua estaçã o. Ela tentou
nã o pensar nas câ meras, tentou nã o olhar para os rostos dos juı́zes
enquanto provavam sua comida. Tentou nã o pensar em cordeiro ou
bife.
E mesmo que este primeiro dia de ilmagem já tivesse levado um
milhã o de horas, os sessenta minutos que eles tinham para cozinhar
realmente passaram voando. De alguma forma, faltavam apenas cinco
minutos, e Dahlia se sentiu tensa, mas bem, essa onda de adrenalina
varreu todos os outros pensamentos de sua mente. Suas mã os estavam
irmes enquanto ela banhava. Ela ainda teve um minuto extra para
arrumar sua estaçã o.
Quando Tanner Tavish gritou: — Acabou o tempo! — seus braços
caı́ram para os lados. Seus pé s deram um passo para trá s.
E foi quando Dahlia começou a tremer.
O que ela esperava que nã o fosse perceptı́vel em todas essas câ meras
de alta de iniçã o, ou para os juı́zes na frente dela, que estiveram ao
redor do mundo e cozinharam em restaurantes com estrelas Michelin.
Que andavam pelo set como se fossem dono do cená rio. Porque eles
eram. Na pior das hipó teses, ela esperava que seus tremores fossem
notados apenas pelo Estranho Rabugento atrá s dela, cuja opiniã o sobre
ela provavelmente nã o poderia diminuir neste momento de qualquer
maneira.
Houve uma breve pausa, enquanto Janet, os assistentes de produçã o
e os juı́zes se amontoavam, apontavam e discutiam quem sabe o quê . As
placas dos concorrentes foram ajustadas ligeiramente, aperfeiçoadas
para as câ meras. Os competidores correram para o banheiro, riram
nervosamente uns com os outros. Dahlia permaneceu no lugar,
mordendo o lá bio.
E entã o eles estavam de volta.
E Audra Carnegie disse o nome dela.
Sério?
Ela seria a primeira a ter sua comida julgada?
Dahlia nã o tinha ideia se isso era uma bê nçã o ou uma maldiçã o. Mas
ela sabia que seus nervos ainda estavam se recuperando de sessenta
minutos de hiperfoco.
Fechando os olhos por apenas um segundo, ela tomou outra
respiraçã o de ioga. Ela colocou as mã os debaixo do prato. Ela se afastou
de sua estaçã o. Ela contornou a mesa.
E ela tropeçou.
O mundo girou em câ mera lenta, um torturante ilme de terror. Do
lado de fora de seu corpo, Dahlia viu Sai Patel correr para frente, mã os
estendidas, olhos castanhos arregalados. Ela pensou ter ouvido algué m
xingar. Havia algo em seu caminho? Um pedaço virado de ita isolante?
Ou ela, Dahlia Woodson, pelo amor de tudo que era sagrado, realmente
tropeçou em seus pró prios pé s depois de ter feito sua primeira refeiçã o
na TV nacional?
Oh caro senhor. Ela ia literalmente cair de cara no chã o.
Em algum lugar, nos recessos de seu cé rebro, ela pensou, bem,
naturalmente, antes que sua mente icasse entorpecida. As luzes do
estú dio foram ofuscadas quando rajadas de arroz, tiras de repolho roxo
e uma pitada divertida de creme de limã o voaram momentos antes de
seu corpo bater no chã o.
CAPÍTULO DOIS
Levou vinte e quatro horas e dois banhos para tirar o cheiro de vaca
da pele de London.
E durante esses banhos, elu se encontrou cantarolando a cançã o sem
sentido que Dahlia tinha inventado enquanto ordenhava sua pró pria
vaca, com a qual, claro, ela tinha lidado perfeitamente.
Isso deveria ter sido irritante, a cançã o de vaca de Dahlia icando
presa em sua cabeça. Mas, em vez disso, durante todo aquele
abençoado sá bado de folga, London continuou sorrindo.
Enquanto se atualizava nas mı́dias sociais, quando sua risada
explodiu aleatoriamente em seu lobo frontal, como ela nã o conseguia
parar de rir durante toda a viagem de ô nibus para casa.
Depois que decidiu dar um mergulho na piscina do hotel, deitade em
uma chaise sob o sol forte para se secar, quando fechou os olhos e tudo
o que pode ver foi o rosto de Dahlia, brilhante e aberto, quando ela
encontrou a alcachofra perfeita nos campos da Fazenda da Famı́lia
Graham.
Tudo isso tornou as coisas especialmente confusas horas depois,
quando London se deparou com Dahlia no saguã o do hotel e seu rosto
estava contraı́do e fechado, seus olhos vermelhos e embaçados, como se
ela tivesse chorado. London teve di iculdade em se lembrar da cançã o
da vaca na hora.
Elu estava assistindo a um ilme em seu quarto, tinha descido para
comprar comidas gordurosas no posto de gasolina do outro lado da rua.
— Corrida à loja de conveniê ncias… — disse London, depois que elus
pararam na frente ume de outre e um segundo de silê ncio
constrangedor passado. Elu inclinou a cabeça em direçã o à porta. —
Quer vir?
Dahlia pareceu pensar nisso. London en iou as mã os nos bolsos para
impedir-se de tocá -la. Eventualmente, ela assentiu.
London optou pelo silê ncio enquanto escolhia pipoca de cheddar,
chocolates de manteiga de amendoim Reese e rosquinhas de açú car em
pó . Dahlia seguiu silenciosamente atrá s. London quase aplaudiu
quando ela inalmente descruzou os braços para pegar um pacote de
ané is de goma de pê ssego.
— Foi uma longa semana — ela disse enquanto elus estavam na ila
para fazer o check-out. — Desculpe. Estou cansada.
— Tudo bem. — London deu de ombros.
Dahlia fez um ruı́do vago em sua garganta e olhou para baixo. Ela
estava vestindo uma camiseta rosa justa hoje, uma saia preta de
bolinhas e tê nis. Ela era uma daquelas garotas que realmente
conseguiam usar saias e tê nis. Provavelmente porque suas pernas eram
tã o bonitas. Provavelmente porque ela poderia fazer qualquer coisa.
London coçou a nuca enquanto caminhavam de volta para o hotel.
Elu nunca foi muito boe em ser reconfortante. Sempre que elu queria
fazer Julie se sentir melhor, elu apenas zombava dela até que ela
gritasse com elu. Gritar com London sempre fazia Julie se sentir melhor.
Mas elu nã o pensou que essa estraté gia funcionaria aqui.
Elus pararam quando chegaram à calçada do lado de fora do hotel.
Algo no canto do pré dio captou a visã o de London. Pelo simples desejo
de nã o deixar Dahlia ainda – elu temia que assim que voltassem para
dentro do saguã o ela saı́sse correndo como um rato muito bem vestido
– elu seguiu em frente.
A luz dourada e o ruı́do abafado saı́am de uma janela alta no
primeiro andar. London espiou pela fenda estreita onde as pesadas
cortinas da janela se separavam, oferecendo um vislumbre de um salã o
de baile.
Dahlia esperou silenciosamente atrá s delu. London observou o
enxame de corpos lá dentro por mais um minuto.
E entã o elu tomou uma decisã o.
— Dahlia. — Elu se virou para encará -la. Sua cabeça estava inclinada
para o lado, seus olhos cansados, mas curiosos. — Você por acaso tem
algum plano esta noite?
— Hm. — Dahlia mordeu o lá bio. — Dormir?
— Ou — sentindo-se subitamente ousade, London agarrou seus
ombros —, venha invadir este casamento comigo em vez disso.
As sobrancelhas de Dahlia se ergueram em sua testa.
— Pode repetir?
— Invada esse casamento comigo.
Dahlia sacudiu a cabeça.
— O quê ? — E entã o: — Nó s terı́amos problemas.
— Acho que nã o. Olhe para eles. — London apontou seu agora
curado polegar para a janela atrá s delu. — Este é claramente um grande
casamento, e todo mundo está um lixo. Tipo, eles estã o caindo nos
cantos . Ningué m vai nos notar. Olha essa noiva! Ela provavelmente nos
daria um abraço e nos agradeceria por nossos anos de amizade neste
momento.
Dahlia olhou para elu. London, ume complete tole, manteve as mã os
em seus ombros. Porque era im de semana, e porque era bom.
E entã o o fantasma de um sorriso apareceu nos lá bios de Dahlia.
— Você é ume penetra frequente de casamentos? — ela perguntou.
London balançou a cabeça.
— Mas há uma primeira vez para tudo, certo?
— Uma primeira vez para tudo — ela repetiu.
Ume delus pode ser expulso na pró xima semana.
Mas agora? Era sá bado. Elus sobreviveram a uma longa semana. E
London quase virou a carranca de Dahlia Woodson de cabeça para
baixo.
O que quer que acontecesse a partir daqui valeria a pena.
— Vamos ter que nos trocar. — O rosto de Dahlia icou pensativo
agora, conspirando. Droga, mas London adorava aquele rosto pensativo.
— Você tem traje de casamento?
London nã o tinha pensado tã o longe.
— Talvez eu tenha uma gravata borboleta? Eu nã o sei. Eu vou ingir.
— Eu tenho... um vestido — Dahlia disse lentamente, como se a
existê ncia dele fosse precá ria, e o estô mago de London virou,
imaginando as possibilidades desse vestido.
— OK. — Dahlia se afastou, assentindo. Seu sorriso estava trê mulo,
mas estava lá . — Ok, vamos fazer isso. Encontro você no seu quarto em
quinze minutos?
London assentiu.
E agora ela estava realmente sorrindo.
— Tudo bem, London. Vá se tornar elegante.
A cabeça de Dahlia se inclinou para o lado.
— Você está ouvindo Tegan and Sara?
— Isso é estranho?
London olhou para Dahlia uma vez antes de voltar para o quarto
delu, pegando o telefone para parar a mú sica. Elu nã o podia passar
mais do que aquele breve segundo olhando para aquele vestido. Era
uma coisa preta sedosa com um decote severo que caı́a entre seus seios
pequenos, praticamente até o umbigo. Jesus Cristo, era indecente e
incrı́vel. Nã o admira que ela tenha feito uma pausa antes de mencionar
isso.
A primeira coisa que fez explodir o cé rebro de London foi que talvez
isso tivesse sido uma má ideia.
— Nã o, eu acho que nã o é estranho — disse ela. — Eu só esperava
que você ouvisse tipo... muitos roqueiros indie descolados que eu nunca
tinha ouvido falar, ou algo assim.
London ouvia roqueiros indie descolados que Dahlia provavelmente
nunca tinha ouvido falar. Mas quando elu estava nervose, elu se
refugiava para sua playlist de mú sicas do inı́cio a meados dos anos
2000 que elu e Julie cresceram ouvindo quando eram apenas crianças:
Tegan and Sara, The Shins, Modest Mouse, Death Cab, coisas que
ouviam antes mesmo de entender a letra. Sendo gê meos, elu e Julie
brigavam constantemente, especialmente na escola primá ria. Mas
quando ambes cresceram na adolescê ncia, a mú sica começou a amarrar
ume a outre. Provavelmente sempre amarraria. Esta playlist sempre fez
London se sentir irme e calme.
— OK. Estou pronte. — London se aproximou da porta novamente,
onde Dahlia ainda estava de pé . Ela nã o se moveu, forçando London a
icar ali sem jeito, esperando. Elu tentou por toda a vida manter a calma
de Tegan and Sara.
Dahlia estendeu a mã o e ajeitou a gravata borboleta de London.
— Você está fofe.
London estava pronte para estragar este casamento, mas elu nã o
achava que fosse fofe, e certamente nã o esperava que Dahlia dissesse
que era fofe. Uma camisa estampada acompanhada de gravata
borboleta e jeans escuros era a coisa mais chique que elu conseguia
imaginar. Mesmo que London tivesse aceitado mais nos ú ltimos anos,
tivesse trabalhado para torná -lo mais confortá vel, elu ainda achava que
tinha um corpo estranho: irregular em lugares que nã o deveria ser,
como o estô mago, e quadris; muito estreito em outros, como seus
ombros. Elu parecia um Oompa-Loompa comparade a Dahlia.
Ela havia se maquiado també m, seus olhos ainda mais escuros do
que o normal, seus lá bios mais vermelhos do que antes. Ela era
inequivocamente linda.
Por um segundo, enquanto se preparava, London considerou colocar
um pouco de maquiagem també m. O desejo de mexer com maquiagem
foi um puxã o que elu experimentou talvez uma ou duas vezes por ano.
Elu tinha ido tã o longe esta noite a ponto de tirar o rı́mel de uma bolsa
en iada em seu armá rio. Mas entã o elu se lembrou de que a ú nica
pessoa que poderia fazer a maquiagem parecer semi-decente nelu era
Julie. E nas poucas vezes em que deixou Julie fazer isso, estava bê bade.
Elu nem sabia por que trouxe maquiagem aqui para LA.
De qualquer forma, mesmo que London parecesse fofe, elu queria
que Dahlia pensasse que elu era fofe, especi icamente? Fofe era para
cachorros. Para bebê s.
London pigarreou e avançou, forçando Dahlia a recuar para que
pudesse fechar a porta.
Era hora, claramente, do á lcool.
— Eu aceito um rosé , por favor. — Dahlia lançou aquele sorriso
branco brilhante para o barman cinco minutos depois, depois que elus
se esgueiraram para o salã o de baile como se pertencessem lá . Ou
melhor, London tinha assistido Dahlia se esgueirar. Ela estava
interessada nisso agora, London poderia dizer, e ela era uma
esgueiradora muito melhor. London principalmente andava
desajeitadamente com as mã os nos bolsos e tentava nã o olhar para o
torso exposto de Dahlia.
— E... para você ? — O barman olhou para London, e London
reconheceu imediatamente - a pausa demorada, o jeito que o barman
olhou para elu por um tempo muito longo, tentando decifrar se elu era
um homem ou uma mulher. London odiou essa pausa, mas apreciou o
bartender da mesma forma por deixar de fora o senhor ou senhora que
elu o ouviu usar com seus clientes anteriores.
— Que tipo de uı́sque você tem?
— Você só bebe uı́sque? — Dahlia perguntou. Um tanto julgadora,
pensou London.
— Acontece que eu gosto de uma grande variedade de bebidas
alcoó licas, muito obrigade — respondeu elu. — O uı́sque é
simplesmente... melhor do que todas as outras coisas.
Dahlia riu quando London aprovou um copo de Balcones.
— E certamente melhor do que rosé — acrescentou London
enquanto se afastavam do bar. Dahlia revirou os olhos e bateu seu copo
contra o delu antes de levá -lo aos lá bios, tomando um longo gole e
fazendo um dramá tico ruı́do mmmmmmm para dar ê nfase.
London sabia que Dahlia nã o queria que esse barulho soasse
absolutamente obsceno, mas elu teve que tomar um longo gole de sua
pró pria bebida e desviar os olhos de qualquer maneira.
— Certo — Dahlia disse decisivamente. — Vamos dançar.
London olhou e percebeu que os quadris dela já estavam se
movendo, seus pé s já se arrastando, ao que elu acreditava serem os
tons sonoros de Usher. Ela estava bebendo seu rosé muito rá pido -
embora com rosé , London supunha, nã o importava se a consumisse
corretamente ou nã o – e London mal teve um momento para apreciar a
maneira como seu pescoço balançava quando ela engoliu antes de
depositar o copo em uma mesa vazia e agarrar a mã o de London.
— Ah — elu disse, limpando a garganta novamente. — Certo. Eu
realmente nã o danço.
— London Parker. — Dahlia colocou as mã os nos quadris, apertando
os olhos para elu. — Você me convida para um casamento, e entã o você
me diz que nã o dança?
— Bem, eu… — London gaguejou. — Eu estava pensando
principalmente no á lcool grá tis. — E eu queria te fazer feliz. — Falando
nisso, vou pegar outra bebida. — Elu bateu o copo vazio na mesa ao
lado dela, nã o querendo ser superade.
E no momento em que London adquiriu seu segundo copo de uı́sque,
Dahlia pulou de cabeça para a pista de dança sozinha, jogando as mã os
no ar e sorrindo para todos ao seu redor.
Ela se encaixou perfeitamente. Como esperado.
London bebeu este uı́sque mais devagar, rastreando Dahlia com os
olhos ao redor da sala. Cada sacudida de seus quadris e salto de seus
ombros penetrava em seu sistema, vı́vido e perigoso. Ela era tã o...
luida.
O DJ estava fazendo algumas seleçõ es decentes, as batidas
martelando o ar cada vez mais forte nos ouvidos de London enquanto o
uı́sque fazia efeito. Eventualmente, para o bem ou para o mal, London
nã o pô de deixar de querer participar.
Dahlia sorriu para elu enquanto se dirigia a ela, seu sorriso tã o
brilhante que acendeu algo em chamas no peito de London. Ou talvez
tenha sido apenas o uı́sque que criou a pequena e brilhante bola de luz
que de repente se estabeleceu em sua caixa torá cica.
Luz que desvaneceu dois minutos depois, quando Dahlia começou a
rir delu.
— London — ela respirou entre risos. — Ai meu Deus.
— Eu sei — London disse com uma carranca antes que ela pudesse
continuar. — Eu disse que nã o danço.
— Ouça. Somente ... salte menos em seus pé s. Use mais os quadris. E
o que quer que você esteja fazendo com as mã os, oh meu Deus, apenas
pare. — Suas mã os se fecharam sobre as delu, que estavam fechadas em
punhos. Punhos que London estava agitando sem rumo na frente de seu
peito.
— O que devo fazer com elas, entã o? — elu perguntou impotente,
precisando que Dahlia tirasse suas mã os das suas e temendo o
momento em que ela o izesse. O que foi dois segundos depois.
— Eu nã o sei! Somente… relaxe os dedos e mova-os mais pelo corpo.
Ou no ar. — Dahlia demonstrou, suas palmas empurrando para o teto
no ritmo da mú sica enquanto ela dançava em cı́rculo.
Quando ela se virou para London novamente, elu tentou replicar o
movimento, suas mã os balançando acima delu enquanto girava. Dahlia
riu quando elus se enfrentaram novamente, o esforço mergulhando-a
para a frente em direçã o a elu, suas mã os de repente nas laterais de
London. — Sim! Isso é melhor. Isso é uma melhoria.
Os braços de London icaram congelados acima de sua cabeça. Elu
olhou para Dahlia, seu peito já arfando ligeiramente pelo esforço, um
leve suor permeando seu pescoço. Seria impossı́vel abaixar seus braços
sem envolvê -los em volta dela. Dahlia pareceu perceber isso ao mesmo
tempo e se afastou, tirando as mã os.
— Desculpe — ela disse rapidamente, com um pequeno sorriso, e
London desejou que ela nã o izesse.
Depois de mais quinze minutos de dança que se seguiram sem mais
nenhum toque, uma mú sica lenta começou, apresentada como a
penú ltima mú sica da noite. Antes que London pudesse entrar em
pâ nico com a horripilante cançã o de amor cheia de sintetizadores que
ecoava pelo sistema de som, Dahlia acenou com a cabeça em direçã o ao
canto da sala.
— Os bartenders abandonaram seus postos. Vamos!
London esperou, recuperando o fô lego, enquanto Dahlia espiava
atrá s do balcã o.
— Você quer branco ou tinto? — Ela ergueu duas garrafas de vinho.
— Dahlia. Você deve saber que o vinho branco, objetivamente, nã o é
bom. Certo?
Dahlia revirou os olhos antes de empurrar um pinot noir em seu
peito.
— Oh Deus, você é ume desses. Claro. — Carregando uma garrafa do
branco na mã o direita, ela agarrou a mã o livre de London com a
esquerda e arrastou-os por uma porta lateral para o pá tio nas traseiras
do hotel.
London se sentiu leve, suave, feliz por deixar Dahlia conduzi-lu por
salõ es escuros e pá tios abandonados pelo resto de sua vida.
Elus se sentaram ombro a ombro em um banco contra a parede uma
vez que estavam do lado de fora, uma fonte brilhante e iluminada na
frente deles, o ar da noite ao redor deles mais frio do que antes,
secando o suor em sua pele.
— Espera. Como vamos abrir? — London ergueu a garrafa de vinho.
— Eu cuido disso. — Dahlia vasculhou sua pequena bolsa até que
descobriu uma pequena multiferramenta do Exé rcito Suı́ço, extraindo
suavemente um saca-rolhas de dentro dela.
— Uau — disse London, genuinamente impressionado.
— Nunca saio de casa sem ele. — Dahlia abriu sua garrafa. — E— ela
acrescentou — a sua é de fá cil abertura.
London olhou para baixo em direçã o a seu pinot e riu.
— Entã o tá .
Eles se sentaram em silê ncio por alguns minutos, tomando goles
deselegantes de suas respectivas garrafas, ouvindo a noite ao redor
deles, todas as vozes bê badas atrá s da parede gritando "Don't Stop
Believin'."
Quando os convidados do casamento começaram a se dispersar no
hotel, o ar icou quieto.
— Entã o — London disse inalmente. — Você está realmente
divorciada?
Porque essa foi a maneira de quebrar o silê ncio.
Dahlia nã o se moveu ao lado delu, nã o vacilou ou endureceu ou fez
um movimento para fugir. No entanto, a cada segundo que passava sem
que ela respondesse, London se chutava um pouco mais forte. Era só
que a cabeça delu estava cheia de uı́sque e vinho medı́ocre, e elus
tinham acabado de ir a um casamento, e...
Dahlia suspirou.
— Sim. Desde o ano passado, o icialmente.
— Eu sinto muito, se você nã o quer falar sobre isso. Você parece tã o
jovem — London balbuciou, cavando o buraco mais fundo. — E nã o
consigo imaginar algué m querendo se divorciar de você .
Certo. OK. London provavelmente nã o precisava acrescentar essa
ú ltima frase. Elu tomou outro gole de vinho.
— Nã o, está tudo bem. Na verdade, você sabe o quê ? — Dahlia tomou
outro gole de vinho també m. — Eu quero falar sobre isso. — Exceto que
ela nã o o fez. Ela apenas olhou para a fonte, fazendo sua coisa de
desaparecer novamente. Mas London tinha tempo. Elu esperou.
— David e eu nos conhecemos no ensino mé dio. Comecei a namorar
no meu primeiro ano. — Abruptamente, Dahlia se endireitou no banco
e se lançou nele. — Eu nunca tinha namorado ningué m antes, nunca
tive nada alé m de paixõ es bobas, e David era tã o bonito, tã o gentil, tudo.
Eu pensei que nó s é ramos almas gê meas. Porque você provavelmente
sempre acredita nisso, quando está no ensino mé dio. Mas à s vezes é
verdade, sabe?
Seu rosto pareceu melancó lico por um momento. London queria
correr seus dedos ao longo de sua bochecha.
Elu també m sabia, com sú bita clareza, que havia cometido um erro.
Nã o que London nã o quisesse saber disso. Tudo bem, claro, talvez elu
nã o quisesse exatamente ouvir sobre como apaixonados ela e esse
David estavam, mas elu estava aqui para qualquer coisa que Dahlia
quisesse falar.
Exceto por algum motivo, quando London perguntou a Dahlia sobre
seu divó rcio, elu pensou que ela iria rir e dizer algo como: — Sim, a vida
é uma merda, hein? — Nã o... abrir sua histó ria de vida e começar a soar
triste. Elu nã o tinha ideia de por que pensaram isso. Claramente elu era
ume idiota. Mas elu caiu neste casamento para que elu pudesse ver
Dahlia rir e dançar, nã o ruminar sobre seus fracassos. A cada frase que
ela falava, London se amaldiçoava.
— David me convenceu a ir para a mesma faculdade que ele, a
George Washington em DC, mesmo sendo cara pra caramba e uma que
minha famı́lia nã o podia pagar. Mas é uma boa faculdade, e eu entrei,
entã o... — Dahlia se desvaneceu.
Tã o legal, agora London estava lembrando Dahlia sobre sua má goa e
seus problemas inanceiros. Elu estava arrasade.
Os pais de London conseguiram pagar integralmente sua educaçã o
universitá ria em Belmont.
Elu tomou outro gole de vinho.
Enquanto observava Dahlia ao luar, a refraçã o da luz da fonte fazendo
as sombras dançarem em seu rosto, London icou furiose novamente
porque Dahlia nã o podia usar $100.000 para tirar fé rias em Fiji, ou
Patagô nia, ou onde quer que ela quisesse ir no mundo inteiro, o que ela
quisesse fazer. London a imaginou em um veleiro, voando pelo mar
aberto, aquele cabelo jogado para trá s ao vento como uma obra de arte.
— David sempre soube que queria trabalhar em DC, para o governo.
Ele me fez assistir a muitas reprises de West Wing no ensino mé dio.
— Eu nunca assisti isso — London interrompeu, por nenhuma boa
razã o alé m de que elu de repente odiava esse cara, um pouco, que
começou a assistir a programas de TV com Dahlia no ensino mé dio.
— E… E bom, você sabe, para fantasia polı́tica. Escrita inteligente,
mas eles tratam as mulheres como merda. De qualquer forma. — Outro
gole de vinho. — Ele me pediu em casamento no Natal do nosso
segundo ano na GW. Em casa, em Massachusetts, de onde viemos.
Fiquei um pouco chocada, honestamente, que ele mal podia esperar até
terminarmos a faculdade. Tipo, isso foi estranho? Mas é claro que eu
disse sim. Claro que eu queria me casar com David. Alé m disso, que
maneira de arruinar o Natal para todos, se eu tivesse dito nã o.
Outra pausa.
London nã o apontou que arruinar o Natal para outras pessoas nã o
era uma razã o retumbante para dizer sim a uma proposta de
casamento.
— Em que você se formou, na faculdade? — elu perguntou em vez
disso, para distraı́-la.
— Comunicaçã o. — Dahlia revirou os olhos novamente. — Eu
realmente nã o sabia o que queria fazer. Ainda nã o sei. No que você é
formade? Você foi para a faculdade?
— Eu fui. Eu me formei em Tecnologia de Engenharia de Audio em
Belmont, em Nashville.
Dahlia olhou para elu.
— E é isso que você faz agora? Audio...
— Engenharia de á udio. Sim. Eu trabalho em podcasts agora, mas o
objetivo é entrar em um estú dio de gravaçã o de mú sica, um dia.
— Huh. — Dahlia se afastou delu, olhando para a fonte e tomando
outro gole.
London nã o tinha ideia do que isso signi icava. Era um huh parecido
com os que ela deu na fazenda, quando elu falou sobre a cooperativa.
Elu tinha soado pretensiose agora? London sabia que à s vezes elu podia
soar pretensiose quando falava sobre coisas de á udio. Elu
simplesmente gostava muito.
London saltou seu joelho.
— Entã o, você e David — elu pediu, mesmo que elu nã o quisesse. Elu
realmente nã o queria ouvir mais sobre David, este passado que causou
dor a Dahlia. Se apenas porque elu sabia que conhecer esta Dahlia,
aquela que parecia cansada e vulnerá vel ao lado delu, mudaria as
coisas. Pelo menos para elu.
Mas elu també m sabia que sua histó ria nã o tinha acabado ainda.
— Certo. Entã o ele propô s. Eu o iz esperar para ter a cerimô nia real
até que ambos tivé ssemos nos formado. Entã o foi isso que aconteceu.
Formatura da faculdade, casamento, empregos de verdade, casa nos
subú rbios, bum.
— O sonho americano.
— Sim.
— Exceto que você odiou — London preencheu depois de um
momento. Porque... aquele sonho americano realmente nã o soava como
Dahlia. Pelo menos a Dahlia que London conhecia. Aquela que imitava o
bagre e cantava para as vacas.
— Eu nã o odiei. — Houve outra longa pausa.
Olhando para Dahlia mais de perto, London percebeu que seus olhos
estavam vidrados. Porra. Se ela começasse a chorar de verdade, London
iria... Fazer alguma coisa. Segurar a mã o dela. Fazer chá para ela e
envolva-a em uma colcha e nunca a deixar ir. London nã o tinha colcha
nem chá , mas elu encontraria.
— Eu amava David. Eu realmente amei. Ele é uma pessoa
genuinamente boa. Tivemos a sorte de ambos encontrarem empregos
imediatamente. Trabalhei em um pequeno jornal em Baltimore –
continuei trabalhando lá , na verdade, até me demitir logo antes de vir
para cá . Eu també m nã o odiava isso; Eu acabei… nã o amando. — Ela
olhou para as mã os antes de olhar diretamente para London. — Eu
quero amar alguma coisa, sabe?
— Sim — disse London, e sua voz saiu rouca. Provavelmente porque
sua garganta estava apertando, quase dolorosamente.
— De qualquer forma. Está vamos indo bem. Tı́nhamos amigos; Eu
estava começando a pagar alguns dos meus empré stimos estudantis; Eu
gostava de decorar a casa. Hank começou a fazer a transiçã o e David
realmente apoiou a coisa toda, o que me fez amá -lo ainda mais.
Talvez David nã o fosse um idiota total.
Mas London ainda nã o con iava no cara.
— E entã o um alguns anos atrá s… começamos a ter As Conversas,
sabe?
London balançou a cabeça lentamente.
— O ú ltimo relacionamento sé rio que tive foi na faculdade. Eu nã o sei
o que sã o As Conversas.
Dahlia suspirou.
— O futuro. Famı́lia. Crianças.
— Ah. — London podia ver onde isso estava indo agora.
— Nó s dois sempre assumimos que querı́amos ilhos. Porque nó s
conversamos sobre isso no ensino mé dio, e eu disse: Eu os quero! — A
voz de Dahlia se projetou atravé s do pá tio. — Porque quando você tem
dezoito anos, quando você tem vinte e dois, é isso que você sente que
deveria querer, especialmente como mulher. Mas… — Dahlia suspirou
novamente. —Enquanto David e eu está vamos nos adaptando ao
casamento, eu via todos os meus outros amigos viajarem, icarem
acordados até tarde em Nova York, e ensinarem inglê s no Japã o, serem
bê bados e aventureiros e… — Dahlia deixou a frase desaparecer.
— Você percebeu que nã o queria ilhos — disse London.
— Percebi que estava triste.
Com horror, London viu uma lá grima cair por seu rosto. Elu estendeu
a mã o para limpá -la com o polegar sem pensar. Dahlia nã o reagiu, e
London deixou sua mã o cair de volta ao banco, sentindo-se inú til.
— E sim, eu nã o queria ilhos. Talvez eu quisesse, eventualmente,
mas David os queria antes que tivé ssemos trinta anos. Ele veio de uma
grande famı́lia, e ele queria uma grande famı́lia també m, e ele sempre
foi verdadeiro e tinha um plano e... Começamos a brigar o tempo todo.
Foi terrı́vel. Eu me senti uma merda.
— Eu sinto muito.
— Nã o se desculpe. Eu fui a idiota, você nã o entende? — Dahlia se
virou para elu, os olhos brilhando, sua voz icando mais alta, mais
raivosa. — Acabei mudando de ideia. Claro que David estava confuso.
Claro que ele estava com raiva. Ele queria ilhos antes dos trinta, e
acabamos nos divorciando antes dos trinta. Eu fodi a vida inteira dele.
— Dahlia. — London balançou a cabeça. Elu ia levar a mã o ao rosto
dela novamente, mas entã o se segurou. — Nã o há problema em mudar
de ideia. Esse tipo de coisa acontece muito, à medida que as pessoas
crescem. Mudamos de ideia. Isso é OK.
Dahlia fechou os olhos com força.
— As pessoas mudam de ideia sobre seu vegetal favorito, nã o uma
parte fundamental de seus objetivos em um relacionamento. E a parte
fodida é que eu ainda nem sei o que quero! Nó s nos divorciamos e eu
ainda trabalhava no mesmo emprego que nã o amava, ainda morava no
mesmo subú rbio de Maryland que nã o parecia mais em casa. Eu nã o
estou tendo as aventuras que eu desejava quando eu estava tã o infeliz
com David. Eu quebrei o coraçã o de uma boa pessoa, e agora sou
apenas chata e infeliz sozinha. Palmas para mim.
London tinha testemunhado as mudanças de humor de Dahlia, o
modo como seus olhos perdiam a alegria, sua mente se afastando. Elu
sempre soube que nã o era para um lugar bom. Mas ainda era difı́cil
para elu engolir essa frustraçã o e raiva autodepreciativa. Isso escondido
atrá s de regatas amarelas e sorrisos ofuscantes, Dahlia Woodson estava
triste. Isso nã o estava certo.
— Você entrou no Chef's Special — disse London depois de um
momento. — Você largou o emprego e pegou um aviã o para Los
Angeles para participar de um programa de TV. Se isso nã o é aventura,
nã o sei o que é .
Dahlia deu-lhe um sorriso triste.
— Você acabou de invadir um casamento — acrescentou London.
— Foi ideia sua — ela rebateu.
— Mas você ainda fez isso. Eu… — London suspirou, sentindo-se
irritade com o mundo. — Acho que você está cheia de aventuras, Dahlia
Woodson.
O sorriso de Dahlia cresceu um pouco. Ela virou o rosto para o colo,
mexendo no ró tulo da garrafa de vinho. London sentiu, talvez pela
primeira vez em toda a noite, como se elu tivesse dito a coisa certa.
Elu icou quiete entã o, para nã o estragar tudo.
A fonte borbulhava agradavelmente; o trâ nsito atrá s da parede do
pá tio era um zumbido tranquilo e reconfortante. O cé u estava azul
meia-noite, o horizonte tinha manchas de neblina laranja e cinza.
London pensou que elu podia sentir Dahlia encostar seu ombro,
apenas um centı́metro ou mais, no seu.
Depois de muitos longos minutos, ela disse:
— Ok. Chega disso. Vamos falar de comida.
Dahlia colocou sua garrafa no chã o e se virou completamente no
banco para encará -lu.
London olhou para a garrafa, que estava quase vazia. Elu ainda tinha
pelo menos metade dela. Droga. Isso... nã o era bom.
— Comida? — London ergueu as sobrancelhas, tentando se ajustar a
essa mudança abrupta de assunto, resistindo à necessidade de puxá -la
e sua tristeza secreta em seus braços. — Falar sobre comida o dia todo
nã o é su iciente?
— Nã o, porque nã o podemos falar sobre a comida que queremos
falar! Nó s apenas temos que fazer o que os juı́zes nos dizem, e posso te
dizer, eu nem gosto de peixe?
London riu disso.
— OK. Sobre o que você quer falar?
— Qual é a sua comida ruim favorita para fazer quando você está
triste? Quando você só quer a coisa mais reconfortante que você pode
pensar?
— Churrasco — London disse imediatamente. — Eu amo tudo sobre
churrasco.
— O quê ? Nã o, essa nã o é uma boa resposta. — Dahlia sacudiu a
cabeça.
— Como é ? — London ergueu a cabeça da parede de concreto, agora
també m se virando no banco para encará -la, seus joelhos batendo um
no outro. — Do que você está falando, churrasco nã o é uma boa
resposta? E literalmente a comida caseira da Amé rica!
— Mas demora tanto! — Dahlia disse dramaticamente. — Toda
aquela marinada, e esquentando a grelha, e cozinhando e fumaça e
entã o você tem que ter os acompanhamentos e…
— Os acompanhamentos sã o a melhor parte! — London explodiu. —
Espere, nã o, isso nã o está certo. A carne é a melhor parte! Mas está tudo
bem! E por isso que fazer churrasco é tã o bom!
— Eu sei que fazer churrasco é bom, London; Cristo, eu nã o sou uma
fascista! E só muito trabalho.
— Sabe o que mais eu amo no churrasco? — London continuou, em
um rolo agora. Deus, era bom falar sobre isso, algo que elu sabia como
falar, estar em comum com Dahlia novamente. — Adoro que seja
diferente em todos os lugares. Adoro que o churrasco da Carolina seja
diferente de Memphis, do Texas, de St. Louis. Você sabe? Muita comida
nos Estados Unidos é homogeneizada, o mesmo da Califó rnia à Virgı́nia,
mas churrasco é a ú nica coisa em que os lugares que se importam com
isso sã o como não, isso é foda nossa.
— Oh meu Deus, você é tã o nerd. — Dahlia revirou os olhos. — Alé m
disso, há diferenças na pizza em todas as partes dos Estados Unidos
també m.
London acenou com as mã os em frustraçã o.
— Nã o, há o estilo de Chicago e o estilo de Nova York e todo mundo
tentando imitar um ou outro. E isso. E é apenas um prato. Nã o é uma
experiê ncia completa. E diferente.
Dahlia balançou a cabeça, nã o convencida, mas ela estava sorrindo.
London adorava que ela estivesse sorrindo agora. Elu nã o tinha ideia de
por que havia mencionado o divó rcio. Claramente, elu deveria ter falado
sobre comida a noite toda. Elu era ume idiota.
— Ok, vamos refocar — Dahlia disse. — O churrasco é delicioso,
admito, mas estou procurando uma coisa, uma coisa simples que você
pode preparar em trinta minutos ou menos, quando você está tã o triste
que mal consegue sair do sofá .
London parou novamente com isso. Ao pensar que Dahlia
aparentemente icava tã o triste à s vezes que mal conseguia sair do sofá .
London estava frustrade e confuse e com muita raiva, sobre um
monte de coisas, mas elu nã o sabia se alguma vez icou tã o triste.
Mas Dahlia ainda estava sorrindo agora, mesmo enquanto falava
sobre sua tristeza. Entã o London jogou junto.
— Couves de Bruxelas — elu disse por im.
Dahlia perdeu sua maldita mente.
— Você está falando sério? — ela explodiu, empurrando London no
peito. Doeu um pouco. — Você come Couves de Bruxelas quando está
triste?
— Sim — London disse indignade, esfregando seu peito. — Você as
assa com alho e manteiga até que as folhas iquem marrons, e entã o
elas icam tã o crocantes e...
— Mistura de arroz Krispies! — Dahlia gritou, tã o alto que elus
olharam ume para ê outre em choque por um segundo. E entã o elus
começaram a rir. — Misturas de arroz Krispies — Dahlia repetiu entre
risos. — Eu faço misturas de arroz Krispies quando estou triste. Essa é
uma resposta aceitá vel.
London sorriu.
— Estou me apegando à s couves de Bruxelas. Elas sã o boas.
— Você é ê pior. — Ela sorriu de volta para elu até que o coraçã o de
London começou a bater muito enfaticamente e elu teve que desviar o
olhar. — Ou Muddy Buddies — Dahlia disse depois de um minuto. —
Muddy Buddies també m sã o bons para beliscar.
— Por favor, nã o me pressione de novo quando eu perguntar isso,
mas o que diabos sã o Muddy Buddies?
— Ah, você sabe. Talvez você os chame de algo diferente. Quando
você pega chocolate derretido e manteiga de amendoim e açú car de
confeiteiro e mistura tudo junto com cereais em um saco? Eu nã o os
faço tanto porque eu literalmente nã o consigo parar de comê -los até
que eu tenha comido o saco inteiro e depois me sinto mal.
London apertou os olhos em pensamento.
— Talvez minha babá tenha feito isso uma ou duas vezes quando eu
era criança.
Dahlia olhou para elu.
— Você tinha uma babá ?
Merda.
— Ah, sim. — London coçou o pescoço delu. — Foi ela quem me
ensinou a cozinhar, na verdade. — Na verdade, alé m de Julie, sua babá
foi a melhor amiga de London durante a maior parte de sua infâ ncia.
Sua morte no segundo ano da faculdade de London ainda era a maior
perda que elu já havia experimentado.
— Oh. — Dahlia assentiu. — Que legal.
London sentiu, com um leve pâ nico, algo escapando delu novamente
no rosto de Dahlia. Maldito dinheiro.
— Como você aprendeu a cozinhar? — elu perguntou, desesperade
para desviar a conversa de volta para ela.
Ela deu de ombros.
— Comecei a me interessar muito por isso há alguns anos, quando
meu casamento estava começando a desmoronar. Foi uma boa
distraçã o, sabe? Isso me acalmou. Me fez focar em algo que eu pudesse
entender. Assisti muitos vı́deos no YouTube.
— Espera. — London olhou para ela enquanto isso se encaixava. —
Entã o você realmente começou a cozinhar apenas alguns anos atrá s? E
você acabou aprendendo sozinha?
Dahlia franziu o cenho.
— Sim? Isso é ruim?
— Nã o, Dahlia, isso é incrível. Você é tã o boa. A maioria das pessoas
neste programa cozinham desde crianças. Alguns tiveram formaçã o
pro issional. Jesus. Você é muito talentosa.
Dahlia olhou por cima do ombro para a fonte.
— Eu nã o sei sobre isso. Fizemos apenas alguns desa ios, London.
Quero dizer, lembra-se da semana passada? Foi-me atribuı́do pasta de
grão-de-bico. Qualquer um pode fazer pasta de grã o-de-bico.
— Vamos lá , isso foi só porque Jeffrey era um idiota. E devo
acrescentar que você fez uma pasta de grã o-de-bico muito boa. E você
esteve entre os trê s primeiros e ganhou e...
— Ugh, London, eu nã o quero falar sobre o programa agora, ok?
— OK. — London mordeu o lá bio, olhou para ela olhando para o
pá tio. A luz da fonte ainda projetava leves formas azuis em seu rosto,
estranhamente bonitas e eté reas. Seu cabelo estava para cima, e seu
pescoço estava bem ali, longo e elegante, e London ansiava por isso.
Para tocá -lo. Para saborear. Para estender a ponta dos dedos para o
braço dela, a poucos centı́metros de distâ ncia, e...
— Nó s provavelmente deverı́amos ir para cima. Está icando frio. —
Dahlia se levantou. E sentou-se novamente. — Ah. — Ela olhou para
London. — Estou muito bê bada.
London sorriu.
— Sim, eu sei.
Ela pressionou as palmas das mã os nos olhos.
— Talvez eu precise de sua ajuda.
London se levantou e ofereceu a ela sua mã o. Uma vez que Dahlia
conseguiu icar de pé , ela soltou a mã o de London para que pudesse
agarrar seu braço inteiro. Todos os dez dedos envolveram o bı́ceps de
London e elu se sentiu bê bade també m, e era difı́cil dizer se era do
vinho medı́ocre ou do calor do corpo de Dahlia, tã o perto delu agora.
Intimamente perto.
— Ai meu Deus — Dahlia gemeu, apoiando a testa no ombro delu.
Porra, seu cabelo cheirava bem. — Eu nem percebi o quã o bê bada eu
estava até me levantar. Eu me sentia totalmente bem antes. Deus. Os
corpos sã o tã o estranhos.
— Isso é o que eu venho dizendo há anos — disse London com
tristeza.
— Nossos quartos sã o tã o distantes. Dá para acreditar nessa fonte?
Meu Deus.
London deu um tapinha em uma de suas mã os enquanto, juntes, elus
mancavam de volta para a porta.
— Lembra quando Tanner Tavish gritou comigo na semana passada?
— Dahlia perguntou enquanto entravam. O bar mitzvah parecia ter
acontecido há tanto tempo – anos, deve ter sido – que London sentiu
seu pró prio ataque de histeria borbulhando sob sua pele. — Ele foi tã o
mau. Você acha que ele é tã o mau na vida real, ou apenas para as
câ meras?
— Isso signi ica na vida real. — London assentiu decisivamente,
arrastando Dahlia pelo salã o vazio. — Com certeza.
— Nã o. — Ela balançou a cabeça, e entã o gemeu de arrependimento
o movimento. — Aposto que ele mora com um bando de gatos. E eles
sã o nomeados como Biscoitos de Açú car. Aposto que ele escreve fan ics!
Que tipo de fan ic, poré m, é a questã o. Sobrenatural? Downton Abbey?
Sim, sim, é isso. — Dahlia deu um tapa no braço de London. — Ele
escreve fan ics super sujas de Downton Abbey. A luz de velas. Enquanto
usa chinelos de coelho e um pijama de seda. E posso lhe dizer, London?
— London realmente queria que Dahlia calasse a boca. Para que
pudesse beijá -la. — Ele realmente ama sua avó . Eita. Acho que amo
Tanner Tavish.
— OK. — London deu um tapinha na mã o dela novamente. Foi suave
e fazia pensar em coisas delirantes.
— Meu Deus. London. As vacas. — Dahlia parou no meio do corredor,
se dobrando de rir. — Eu nã o posso acreditar que iquei bê bada com
você e nem consegui que você me contasse seu negó cio com vacas.
— Dahlia. — London lutou para colocá -la de pé novamente, para
mantê -la em movimento. A consciê ncia estava iltrando de volta em seu
sistema, e elu temia que ela pudesse precisar de acesso a um banheiro
em breve.
Dahlia ofegou quando entraram no saguã o.
— Barbara!
Afastando-se do braço de London, Dahlia se arrastou andando até o
pequeno sofá onde Barbara estava sentada, tricotando um cachecol.
— London! — ela gritou por cima do ombro. — E Barbara!
— Certo. — London en iou as mã os nos bolsos enquanto
atravessavam o saguã o. — Eu posso ver isso.
— Barbara, o que você está fazendo aqui? E tipo uma da manhã .
Os calmos olhos azuis de Barbara olharam entre Dahlia e London e
vice-versa. O vestido de Dahlia se mexeu enquanto ela inclinava em
direçã o a Barbara, e London pô de ver a suave parte inferior de um de
seus seios.
Aquela bola de luz brilhante estava de volta no peito de London
novamente, migrando perigosamente para outros lugares.
— Eu poderia perguntar o mesmo de você s dois — respondeu
Barbara.
— Oh, nó s invadimos um casamento no salã o de baile — Dahlia disse
casualmente. — Você está fazendo um cachecol?
— Sim. Infelizmente, desenvolvi um pouco de insô nia na minha
velhice, para responder à sua pergunta.
— Ah, Barbara, você nã o é tão velha assim.
Bá rbara olhou para o vestido de Dahlia e depois estendeu a mã o para
lhe dar um tapinha no braço.
— Sim, querida, eu sou. De qualquer forma, estou icando sozinha no
meu quarto, entã o venho aqui, ver as pessoas irem e virem. Tem sido
bem interessante, na verdade.
— Barbara! — Dahlia gritou. — Você poderia sair totalmente com a
gente se você icar sozinha!
Barbara olhou para London entã o. Elu corou.
— Nã o — ela disse a Dahlia. — Obrigada pela oferta, mas tudo bem.
— Você está fazendo o cachecol para um de seus netos? — Dahlia se
inclinou ainda mais perto de Barbara, examinando a obra em seu colo.
— Aileen talvez?
Barbara sorriu largamente para Dahlia entã o.
— Bishop, na verdade.
London icou boquiaberte para as duas. Claro que Dahlia sabia os
nomes dos netos de Barbara.
— Isso é tã o bom. — Dahlia apoiou a cabeça no ombro de Barbara e
fechou os olhos. — Barbara, nã o seria ó timo se você pudesse ser minha
mã e? Quer dizer, eu já tenho uma, mas você pode ser tipo, um
secundá ria, sabe? Algué m que realmente gosta de mim.
Barbara congelou antes de olhar para London intrigada. London
balançou a cabeça, levantando as sobrancelhas. Seu coraçã o batia,
baixinho, mas persistentemente, atrá s de suas tê mporas.
— Eu acho que é hora de você ir para a cama, querida. — Barbara
gentilmente empurrou Dahlia para longe de seu ombro. London
mergulhou para ajudar Dahlia a icar de pé . Ela balançou para elu, sua
cabeça balançando em seu peito. London estava sobrecarregade. Elu
queria envolver seus braços ao redor dela. Elu nã o sabia como agir na
frente de Barbara. Elu precisava dormir.
— Cuide dela, ok? — Barbara acenou para London, suas
sobrancelhas franzidas em preocupaçã o.
London acenou de volta, esperando que elu parecesse só brie,
responsá vel e irme.
— Eu irei. Boa noite.
Lentamente, silenciosamente, elu deslizou um braço em volta da
cintura dela. Elus navegaram pelo elevador. Elu acompanhou Dahlia até
sua porta.
Dahlia fez uma pausa, cartã o-chave na mã o. London esperou, um
passo atrá s dela, as mã os nos bolsos. Elu nã o tinha certeza do que ia
acontecer aqui. Se ela estava prestes a icar doente. Se ela estava
prestes a convidar elu para entrar. Se ela tinha esquecido como abrir
uma porta.
Ela girou em direçã o a elu e ê cutucou no peito.
— Eu só quero que minha vida seja grande, sabe?
Os olhos castanhos de Dahlia estavam desfocados.
— Tipo… Tipo a sensaçã o da sua mú sica favorita, quando você tem
dezesseis anos. Eu quero que minha vida pareça isso. Eu quero me
sentir grande. Eu quero fazer coisas confusas e selvagens, coisas que eu
vou lembrar, coisas que sejam interessantes. — Ela mordeu o lá bio.
London nã o tinha certeza se elu estava respirando. — Talvez Hank
tenha ilhos um dia, e eu possa ser aquela tia maluca com muitas
histó rias, sabe? Vou usar jó ias grossas, como Janet, e dizer coisas
engraçadas e inapropriadas. E eles vã o icar tipo oh, aquela tia Dahlia.
— Ela sorriu. — Eu gostaria disso.
A garganta de London estava apertada, doendo de coisas que elu
queria dizer, mas nã o conseguia encontrar as palavras.
Dahlia se voltou para sua porta novamente. Ela colocou a chave na
maçaneta. Quase inaudı́vel, ela disse:
— Eu nã o quero ser pequena.
Ela entrou sem se despedir. London olhou para a porta impotente
quando ela começou a se fechar.
De repente, Dahlia se virou e abriu novamente.
— Ei — disse ela, sorrindo. — Você sabe do que eu gosto?
— Mistura de arroz Krispies?
— Fazer você rir. Seus olhos desaparecem e seu rosto faz essa... coisa.
— Ela acenou com a mã o sobre o pró prio rosto, nã o ajudando em nada
com essa descriçã o. London nã o tinha ideia do que ela estava falando.
Mas talvez pela primeira vez em sua vida, elu estava extremamente
grate por seu rosto. Por fazer o pró prio rosto de Dahlia parece o que era
agora. Como se seu monó logo anterior, como seu divó rcio, nunca tivesse
acontecido.
— Posso ver seu telefone? — London perguntou calmamente.
Dahlia pareceu confusa, mas o entregou. Rapidamente, elu digitou
seu nú mero, enviou uma mensagem para si mesme. Para que elu
pudesse checar ela amanhã , ter certeza que ela estava bem.
Elu o devolveu e olhou para ela uma ú ltima vez.
— Boa noite, Dahlia — elu conseguiu dizer.
Dahlia sorriu. A porta se fechou.
London icou parade no corredor silencioso por um longo tempo. Elu
desejava poder ver atravé s daquela porta, para ter certeza de que ela
ainda estava respirando, que ela nã o icaria doente enquanto dormia.
Que seu peito ainda estava subindo e descendo. Que seu coraçã o
machucado, tã o longe de ser pequeno, ainda batia com segurança
dentro de sua pele.
CAPÍTULO OITO
London sabia disso. Elu estragou tudo. Elu nunca deveria ter
convidado Dahlia para invadir aquele casamento.
Ela estava sendo super estranha hoje, de uma maneira que era
diferente de seus outros humores moderados. Quando a viu de manhã
nos serviços de artesanato antes do inı́cio das ilmagens, elu perguntou
como foi o resto do im de semana e ela disse:
— Ah, bom. Otimo. Bom. Sim, você sabe, totalmente bom. — E entã o
ela forçou um sorriso que parecia que ela tinha acabado de provar algo
nojento, mas estava tentando ser educada sobre isso.
Ela nã o perguntou como foi o domingo de London. O que estava tudo
bem, porque a ú nica resposta delu seria olhar para o meu telefone me
perguntando se eu poderia enviar uma mensagem de texto para você
novamente.
Durante todo o dia de ilmagem, atravé s de outro Frente-a-frente –
London tinha sido emparelhado com Jacob, e elu chutou a bunda
daquele cara – e outra Inovaçã o de Ingrediente, Dahlia continuou
olhando para elu. E entã o desviando o olhar rapidamente quando
London fazia contato visual. E entã o ela olhava para elu novamente, até
que a sensaçã o dos globos oculares de Dahlia deixou London
paranó ique de que havia algo em seu rosto. Ela estava… trê mula.
London deveria ter deixado passar. Mas, por algum motivo, elu se viu
esperando que ela saı́sse da entrevista individual no inal do dia. Elu
nã o sabia se outra tentativa de conversa normal funcionaria neste
momento, entã o icou desesperade.
— Ei, parceira. — Elu pulou no passo com ela quando ela saiu do set
e caminhou em direçã o à porta do estú dio. — Dia melado, hein?
Dahlia parou, assim como London també m. Ela se virou e olhou para
elu.
— Uh... — London coçou o pescoço delu. — Como nã o você e eu
vamos, uh…
— London — Dahlia interrompeu. — Que diabos está fazendo?
London franziu a testa.
— Minha melhor imitaçã o de Tanner Tavish, obviamente.
Dahlia olhou para elu um momento mais. E entã o, inalmente, aleluia,
ela começou a rir.
ç
London abriu a porta do estú dio.
— Tanner Tavish nã o usa as palavras que você acabou de dizer —
Dahlia disse, seguindo.
— Eu sei. E é por isso que eu acho que ele está cheio de merda.
— O que você quer dizer?
— Esse cara nã o é da Escó cia — disse London.
Dahlia riu novamente.
— E como você sabe disso?
— O sotaque dele é todo instá vel. Duvido que seu nome seja mesmo
Tanner Tavish. Acho que a coisa toda dele — London acenou com a mã o
— é uma encenaçã o.
— Entã o você é ume especialista em escoceses?
London deu de ombros, en iando as mã os nos bolsos enquanto
caminhavam em direçã o ao hotel.
— Nã o. Apenas ume especialista em idiotas. E Tanner Tavish é
de initivamente um desses.
Dahlia balançou a cabeça, sorrindo.
— Ele é um idiota muito gostoso, no entanto.
London franziu a testa novamente.
— Ele nã o é tão gostoso.
Dahlia cruzou os braços sobre o peito enquanto caminhavam.
London estava se sentindo surpreendentemente mal-humorade com
este comentá rio muito gostoso, mas pelo menos Dahlia estava falando
com elu novamente.
— Você acha que eles sempre souberam que queriam ser chefs?
Tanner e Audra e Sai?
London deu de ombros.
— Pode ser. Sai de initivamente; Eu assisti a um documentá rio sobre
ele há um tempo atrá s.
— Sim. — Um carro dirigindo tocou a buzina.
— O que você queria ser quando crescesse, quando era criança? —
London perguntou.
Dahlia icou quieta um momento, mas inalmente ela respondeu.
— Uma escritora. Quando eu estava na escola primá ria, eu preenchia
caderno apó s caderno com essas histó rias sobre meninas no
acampamento. Meus pais nunca poderiam me mandar para um
acampamento, pelo menos um acampamento de fé rias de verdade, nã o
apenas, você sabe, aulas de verã o. Entã o eu vivi todas as minhas
fantasias de acampamento nesses livros.
— Como se chamava o acampamento?
— Acampamento Sunnywood. — Dahlia sorriu, e London viu seus
ombros relaxarem. — Sempre que terminava uma histó ria, eu
arrancava as pá ginas do caderno e fazia uma capa e outra de cartolina e
amarrava tudo com io roxo. — Seu sorriso cresceu. — Dei para meu pai
ler, e ele escrevia borrõ es na parte de trá s de cada um. Tipo, 'O melhor
Sunnywood de Woodson até agora!' — Ela riu, e London riu com ela.
Elus estavam se aproximando do hotel agora.
— Ah! Ah cara. Eu de initivamente passei quase toda a quinta sé rie
trabalhando em Camp Sunnywood: Super Edition #1. Tiffany e Molly
entraram em uma grande briga e derrubaram as canoas uma da outra e
entã o Molly jogou suco de laranja Sunny D em todas as roupas de
Tiffany.
London apertou o botã o do elevador e olhou para ela. Seus olhos
estavam tã o brilhantes agora.
— Que vadia — London comentou enquanto elus entravam no
elevador.
— Nã o, escute, Molly estava apenas passando por algumas coisas —
Dahlia disse enfaticamente. — Seus pais estavam se divorciando e,
honestamente, Tiffany estava agindo muito mesquinha naquele verã o.
Ela nunca deixou Molly montar seu cavalo favorito nos está bulos.
London percebeu que icaria perfeitamente satisfeite em passar o
resto da noite aprendendo cada faceta de Acampamento Sunnywood.
Elu també m se perguntou quando, exatamente, Dahlia havia
desistido de seus sonhos de ser uma autora.
— Ok, ok, estou me calando agora — Dahlia disse enquanto
caminhavam pelo corredor. — O que você queria ser quando criança?
London pensou nisso. Houve muitas coisas, incluindo, por um tempo,
ume chef, mas apenas uma coisa tinha sido consistente.
— Ume mú sique.
— Mesmo? — Dahlia olhou para eles, olhos arregalados. — Oh meu
Deus, London, você estava tipo, em uma banda?
London bufou conscientemente.
— Você está superestimando minha frieza. Eu estava em uma banda
de concertos, se isso conta. — Chegaram à porta do quarto de London.
London se inclinou contra ela, enquanto Dahlia se inclinou contra a
parede, de frente para elu.
— O que você tocava?
— Trompete. Ainda toco, na verdade.
— Espera. — Dahlia realmente estendeu a mã o em um gesto de para.
— Você toca trompete? Tipo, atualmente. Apenas por diversã o. Ou, meu
Deus, você está em um quarteto de jazz ou algo assim?
— Nã o. — London se contorceu, sentindo-se envergonhade. —
Apenas por diversã o. — Embora elu nã o deva se envergonhar. Tocar um
instrumento era totalmente um passatempo normal. Elu nã o tinha ideia
de por que Dahlia se divertia tanto.
— Huh.
— O quê?
— Nada. — Ela sorriu. — E apenas meio sexy. Tocar trompete.
London a encarou.
— Dahlia, você já viu algué m tocar trompete? Nã o é sexy.
Isso era verdade. Nã o era.
Mas London poderia ter passado o resto da noite corando em seu
quarto de qualquer maneira, parabenizando-se por se formar de fofe a
sexy aos olhos de Dahlia Woodson.
Elus voltaram para casa juntes na noite de terça-feira també m.
Depois que London venceu o Desa io de Eliminaçã o, que era sobre
coraçõ es.
— Ugh, isso é nojento, é claro que você adora cozinhar com coraçõ es,
sue bá rbare — Dahlia disse a elu, seu rosto enrugado e adorá vel, de
volta ao seu estado normal.
Mesmo que Dahlia se saı́sse bem com seu pró prio coraçã o. Jacob, no
entanto, nã o.
Depois que ele foi eliminado na terça-feira, Barbara mudou para
ocupar seu lugar na estaçã o de Dahlia na quarta-feira de manhã .
Quando Janet fez a mudança, Dahlia literalmente pulou para cima e
para baixo e bateu palmas. London ingiu escrever algumas notas de
receitas em seu bloco de notas, mas principalmente elu sorriu
pateticamente para o nada. Ahmed estava totalmente em cima delu, e
deu um tapa no ombro delu, o que era constrangedor.
Quando Dahlia e London voltaram para o hotel na noite de quarta-
feira, depois de outro dia de Frente-a-frente e Inovaçã o de Ingredientes,
London estava começando a se sentir perigosamente con iante. Ao
cozinhar no set. Em fazer Dahlia rir. Ao se estabelecer nessa nova
rotina.
Mas quando a porta de seu quarto de hotel se fechou, elu afundou na
cadeira no canto e respirou fundo.
London olhou para o telefone e tentou apagar Dahlia Woodson de
sua mente. Havia duas ligaçõ es que elu tinha que fazer. Bem, uma, na
verdade, e elu tinha adiado o má ximo que podia. Ficou no fundo de sua
mente o dia todo, incomodando como uma coceira irritante. Uma
coceira que elu empurrou para longe, ignorando propositalmente,
desde que esteve em LA. Mas a oitava temporada do Chef's Special iria
estrear amanhã à noite. Já era hora.
O outro telefonema foi apenas para tranquilizá -lu. Esse foi a primeira
que London fez.
— London — Julie ofegou no telefone depois de um toque. — Graças
a Deus você ligou. Posso morrer esta noite, e você deve saber onde
encontrar meu corpo.
— Julie. — London franziu a testa. — Do que diabos você está
falando?
— Estou no Parque Percy Warner. No... onde diabos estamos de
novo? — A voz de Julie desapareceu por um segundo. — Na Trilha
Mossy Ridge. Estou na Trilha Mossy Ridge no Parque Percy Warner.
Anote isso, para a polı́cia.
— Julie. — London esfregou a testa. — Eu sei onde ica a Trilha
Mossy Ridge. Por que diabos você está no Parque Percy Warner à s —
London veri icou a hora, calculando com duas horas de antecedê ncia —
dez horas da noite?
— Eu sei. Temos uma hora até o parque fechar. Espero que você dê
um bom discurso, no meu funeral.
— Julie, eu juro, se você nã o chegar ao…
— O querido Ben Caravalho está treinando para fazer a trilha Paci ic
Crest Trail.
— Sim. Eu sei. Falei com ele na semana passada.
Ben era o melhor amigo de Julie desde a escola primá ria. London
tinha ciú mes dele há muito tempo, embora Julie tivesse assegurado a
London que elu sempre seria seu nú mero um. O ciú me foi exacerbado
pelo fato de que London tinha uma enorme paixã o por Ben durante
todo o ensino mé dio, que parecia sem esperança na é poca, já que Ben
era super gay e London ainda vivia na ilusã o de que elu era apenas uma
garota heterossexual desajeitada.
— Bem, eu tenho tentado convencê -lo de que é uma ideia horrı́vel...
— Julie! Por que você faria isso? Caminhar na PCT é foda!
— Sim, e perigoso.
London sorriu.
— Ben vai icar bem.
— De qualquer forma, ele queria fazer essa trilha idiota no escuro
para ter certeza de que estava preparado para caminhadas noturnas. O
que aparentemente você tem que fazer no deserto da Califó rnia, se
quiser fazer a quantidade certa de quilô metros em um dia, porque está
muito quente para caminhar o dia todo durante o dia. Você ouviu
mesmo essa frase, London? Você ouviu como isso soou ridículo?
— Entã o você foi com ele para convencê -lo de quã o ridı́culo isso é .
— Exatamente.
— Está funcionando?
Houve uma pausa. London praticamente podia ouvir a carranca de
Julie.
— Nã o. Ele está se divertindo muito.
— Ei, London! — Ben gritou ao telefone.
— Você sabe o que Ben estava me dizendo antes de você ligar? —
Julie interrompeu. — Que teremos que veri icar se há carrapatos
É
quando voltarmos para o carro. É por isso que os melhores esportes sã o
praticados dentro de casa.
Enquanto London se concentrava na mú sica no ensino fundamental e
mé dio, Julie era uma estrela do basquete. Ela ainda se recusava a
acreditar em qualquer outra atividade fı́sica comparada.
Ela també m era exagerada, exasperantemente protetora das pessoas
que amava.
Deus, London realmente sentia falta dela.
— Você provavelmente deveria ir entã o, entã o você pode voltar para
o carro antes que o parque feche. Eu posso ligar mais tarde.
— Cala a boca. Estamos a dez passos do carro. Eu posso falar.
— Para que eu não tenha que denunciar seu corpo desaparecido à
polı́cia.
— Você sabe quem ica em estacionamentos de parques assustadores
tarde da noite, em London? Pessoas assustadoras. Ainda nã o estamos
seguros.
London ouviu o bipe da porta do carro de Ben.
— Ok. Entã o estamos seguros agora. Você sabe, a menos que haja
carrapatos na minha bunda prontos para me darem a doença de Lyme.
Vou mantê -lu atualizade sobre isso.
— Excelente. Mal posso esperar.
— E aı́?
London suspirou. Na verdade, elu icaria totalmente satisfeite em
continuar falando sobre os planos de Ben para a PCT, mas elu tinham
que parar de ser covarde e falar sobre isso.
— Entã o o primeiro episó dio do Chef's Special vai ao ar amanhã .
Nã o foi um bom sinal que elu ouviu Julie suspirar.
— Nã o diga. Mas sim, sobre isso. Espere – você nã o foi eliminade ou
algo assim, você foi?
— Eu nã o teria permissã o para te dizer, tecnicamente. Mas nã o, eu
ainda estou aqui.
— Claro que você está . Bom. Ok, entã o você já falou com o papai?
London estremeceu.
— Nã o.
— Ouça, London, você deveria fazer isso. Porque mamã e meio que
organizou uma grande festa para assistir em casa. Ela está cuidando de
tudo mesmo.
London gemeu.
Isso signi icava que metade de Nashville estaria sintonizada, todos
juntos, na sala de estar onde London foi criade.
London nã o deveria ter icado surprese. Claro que a mã e delu
organizaria uma festa para assistir. Ela amava sues ilhes, e ela amava
um evento.
A famı́lia de London era privilegiada, mas eles nã o eram um nı́vel
disfuncional de privilegiados. Os Parkers estavam pró ximos. Crescendo,
os pais de London trabalharam longas horas. O pai delu, em particular,
viajava muito. Mas seus pais ainda assim sempre assistiam a todos os
jogos de basquete de Julie, a todos os concertos de bandas e corais de
London. Elus jantavam juntos na mesa da sala de jantar todas as noites
que podiam, e uma grande ceia de domingo toda semana que incluı́a
um convite aberto a qualquer primo, tio, tia, vizinho ou amigo da
famı́lia que quisesse vir. A infâ ncia de London foi cheia de amor e
comunidade.
— Eu queria dizer algo para o papai sobre isso, para avisá -lo, mas...
— Julie parou.
— Nã o, eu sei. E minha responsabilidade.
E era responsabilidade de London. Que seu pai soubesse que quando
metade de Nashville aparecesse em sua sala de estar, todos estariam
testemunhando London se apresentar como nã o-biná rie na TV
nacional.
London olhou pela janela para as luzes de Burbank, o cé u escuro.
Elu nã o sabia realmente o que esperar quando se assumiu para a
famı́lia há trê s anos. A mã e delu parecia um pouco confusa, mas ela
prontamente fez uma pesquisa, como sua mente cientı́ ica costumava
fazer. E entã o ela estava aceitando totalmente, mesmo que ela tivesse
muitas perguntas intrusivas da Mã e Cientista
Suas duas irmã s mais velhas, Jackie e Sara, també m embarcaram
imediatamente. Jackie e Sara eram sete e nove anos anos mais velhas do
que elu — Julie e London tinham sido uma surpresa dupla para seus
pais — e estavam fora de casa quando London estava no ensino mé dio.
Mas London ainda se lembrava de como ambos eram protetores com
London e Julie quando eram crianças, e isso nã o mudou.
Julie icou chateada. Chorou, mesmo. A princı́pio, foi a reaçã o mais
dolorosa que London poderia ter imaginado. Se Julie nã o tivesse aceito,
de todas as pessoas… Bem, teria sido uma luta. Mas acabou que Julie
nã o se importou com o fato de London ser nã o-biná rie; ela estava mais
chateada que havia algo tã o importante sobre London que ela nã o
sabia.
Embora, como gê mea, é claro que Julie sabia de alguma coisa. Ela
cresceu praticamente colada ao lado delu, a inal. Ela estava lá toda vez
que London fazia birra por usar um vestido, por receber presentes de
meninas burras todo aniversá rio e Natal quando tudo o que elu queria
eram novas ferramentas de cozinha e cartõ es de presente para a loja de
mú sica. Ela estava lá quando London inalmente começou a questionar
sua sexualidade na faculdade, quando elu tinha se assumido como pan.
Entã o, quando Julie descobriu, durante as sessõ es de churrasco de
sua mã e, que London já havia começado a microdosar testosterona, ela
se sentiu traı́da. London icou aborrecide na é poca, pensou que Julie
estava sendo egoı́sta, que ela tinha expectativas irreais, à s vezes, de
toda a coisa dos gê meos. Mas olhando para trá s, London entendeu. Elu
també m tinha sido um pouco egoı́sta, talvez. Mas talvez fosse bom ser
egoı́sta com algumas coisas.
E era uma coisa difı́cil de explicar. Que elu nã o queria ser um homem,
mas que elu nunca se sentiu bem como uma garota. Que elu só começou
a se sentir muito bem quando entendeu que podia ser sua pró pria
coisa. Que elu pudesse existir em um espaço que fosse só delu, que elu
pudesse mudar e se ajustar até que parecesse certo. Elu havia se
estabelecido no sentimento não-binárie certo para elu, mesmo sabendo
que outros como elu tinham seus pró prios nomes que pareciam certos
para suas pró prias experiê ncias. E isso també m era reconfortante. Que
cada pessoa pudesse escolher o que mais a aproximava de pertencer, o
poder nisso. Sabendo que um dia as pessoas podem descobrir palavras
ainda melhores para isso. Que só havia liberdade em continuar a
encontrar novos nomes para quem é ramos, quem poderı́amos ser.
E assim, depois de mais conversas, Julie se acalmou, e as coisas
estavam tã o normais como sempre entre elus. Talvez melhor ainda.
Seu pai, poré m, recusou a identidade de gê nero de London desde o
inı́cio. Isso criou um atrito entre sua mã e e seu pai que London nunca
se lembrava de ter visto antes, o que ê fez se sentir culpade como o
inferno. Elu ainda nã o entendia muito bem. Claro, o pai delu revirou os
olhos um pouco quando London se assumiu como pan, o que tinha sido
menos do que ideal, mas London nunca considerou isso como rejeiçã o
total. Era como… era como se a coisa nã o-biná ria fosse a gota d'á gua
para ele. Como se ele tivesse uma vida inteira de London sendo
estranhe, e ele já tivesse o su iciente.
Julie, Jackie e Sara tentaram trabalhar nele, e London só podia
imaginar que sua mã e tinha trabalhado mais duro do que todas. Mas o
pai de London nunca usou o pronome correto para London em trê s
anos.
London preocupava-se que quanto mais o pai esperasse que London
saı́sse "desta fase", mais ampla e pesada seria a fratura em sua famı́lia.
Quando London disse aquelas poucas frases curtas na entrevista
individual de duas semanas atrá s, realmente tinha sido fá cil. Era apenas
elu, uma sala silenciosa e o rosto tranqü ilizador de Maritza ao lado da
câ mera. Elu se sentia tã o longe de Nashville, da realidade. Tinha sido
importante. Necessá rio. Mas agora, parecia um pouco idiota.
— London? — Julie perguntou baixinho. Ela sabia, é claro, que
London estaria no programa. Elus haviam conversado sobre isso antes
de London partir. — Ele provavelmente deveria saber antes de todos
nó s assistirmos.
— Eu sei.
— Você sabe o quanto estou orgulhosa de você , certo?
Julie conhecia London melhor do que ningué m no mundo. Ela
sempre estava orgulhosa delu. Mas neste momento em particular, era o
que elu precisavam ouvir. Por um segundo, London empurrou seu pai
para fora de seu cé rebro. E elu sabia que o que tinha feito valeria a
pena: os espectadores veriam London como elu era desde o inı́cio. Se
eles tivessem a capacidade de vê -lu como era. O alı́vio impulsionou todo
o seu peito.
— E todos os outros no programa? — perguntou Jú lia. — Eles sã o
legais com você ? E os juı́zes? Oh meu Deus, quebraria meu coraçã o se
Sai Patel fosse um idiota com você .
— Nã o, na verdade, Sai Patel parece ser um cara genuinamente bom.
Todos os juı́zes sã o exatamente como aparecem na TV. Se alguma coisa,
eles levam a competiçã o ainda mais a sé rio do que você imagina. Nada
disso é um ato. E… impressionante, na verdade.
London decidiu nã o contar à sua irmã sobre Lizzie. Havia bastante
negatividade se formando na parte de trá s de sua cabeça por uma noite,
e elu nã o precisava preocupar Julie. E de qualquer forma, elu estava
fazendo um bom trabalho, como elu mesme dizia, ignorando a
existê ncia de Lizzie.
— Graças a Deus. Ok, entã o os outros concorrentes, eu preciso saber,
eles sã o idiotas? Existem pessoas pelas quais eu deveria torcer ou nã o?
Espere, uh, nã o me diga; Nã o quero spoilers. Espere até eu pelo menos
assistir o primeiro episó dio e poder colocar nomes nos rostos. E então
você vai ter que me dar todos os detalhes. Puta merda, London, eu nã o
posso acreditar que você vai estar na TV!
London se inscreveu para isso.
Mas elu també m nã o conseguia acreditar.
London sentiu em seus ossos na manhã de quinta-feira que elu
estava de folga. E elu nã o tinha certeza se mesmo um dia inteiro de
momentos fofos de Dahlia poderia curá -lu.
Elu acabou mandando mensagens de texto para o pai na noite
passada em vez de ligar. Porque elu era, de fato, ume covarde. Elu havia
digitado e redigitado a mensagem pelo menos dez vezes, tentando o
â ngulo mais sem confronto, avisando-o de que estava assumide no
programa, mas terminando com uma vibraçã o do tipo "sinto sua falta,
te amo".
O pai delu levou meia hora responder. E quando o fez, foi com isto:
OK
Apenas as duas letras. A pior resposta possı́vel em toda a histó ria das
mensagens de texto. London queria jogar o telefone pela janela. E, no
entanto, o que mais elu estava esperando? Mesmo esta manhã , elu
continuou checando seu telefone como ume idiota, como se alguma
mensagem má gica pudesse aparecer a qualquer minuto.
Ei ilhe, você sabe, eu pensei sobre isso durante a noite, e eu decidi
parar de ser tão babaca e aceitar você! Desculpe por todas aquelas vezes
que eu não usei o pronome certo e esses três anos que eu iz você se sentir
como se estivesse fodendo toda a nossa família! Muito orgulhoso de você
agora, amigue! Vá pegá-los!
London esfregou a mã o em seu rosto enquanto elu estava em sua
estaçã o. Elu nã o tinha dormido bem, e talvez isso estivesse
contribuindo para o quã o descentralizade elu sentia. Alé m disso, tinha
sido uma semana de ilmagem de quatro dias, todos longos dias de
estú dio, e enquanto quatro dias eram melhores que cinco, ainda tinha
sido muito.
Elu tinha um im de semana de trê s dias começando amanhã , graças
a Deus. Claramente, elu precisava disso.
Na frente delu, Dahlia riu de algo que Barbara disse.
Restavam oito deles agora. Um dı́gito. A medida que cada pessoa saı́a,
estar no programa parecia mais confortá vel e mais tenso. Elus estavam
todes acostumades com o cronograma de produçã o agora. Elus
conheciam a equipe, a copa, os equipamentos, os tiques dos jurados e
dos produtores. Elus se conheciam melhor.
Mas à medida que os nú meros diminuı́am, as apostas pareciam
maiores.
Dahlia se virou, sentindo a presença de London. Ela estava icando
boa nisso, apenas sabendo quando London estava lá , quando elu queria
que ela se virasse e sorrisse para elu. Como ela fez agora.
Entã o, novamente, London queria que ela se virasse e sorrisse para
elu sempre. Entã o talvez nã o fosse um talento em particular.
— Você sabia que eu amo Barbara? — ela disse brilhantemente.
— Sim. — London tentou um sorriso tenso de volta.
— Ei. — Dahlia inclinou a cabeça. — Você está bem?
London assentiu. O que signi icava, é claro, que nã o estava. Dahlia
franziu a testa, entendendo isso, mas entã o Janet deu o sinal, e as
câ meras começaram a rodar, e ela olhou para frente novamente.
Ela estava usando um vestido com estampa loral hoje, hibisco e
plumeria e pá ssaros do paraı́so espalhados em um fundo preto. Era
adorá vel. London queria entrar em colapso.
Elu se concentrou nisso, no vestido de Dahlia, nas ondas escuras de
seu cabelo que balançavam sobre seus ombros, em vez da ideia de
todos que elu conhecia aparecendo na casa delu esta noite em Nashville
para assisti-lu na TV. Dahlia prenderia esse cabelo em
aproximadamente vinte minutos, London adivinhou. Elu sabia seu
cronograma capilar de cor.
Momentos depois, a mesa de demonstraçã o foi lançada no Cı́rculo
Dourado com um ú nico aparelho exibido no centro.
Dahlia saltou levemente nas pontas dos pé s, apertou as mã os atrá s
das costas.
Um rolo de massas.
London sabia que massa era uma das coisas favoritas de Dahlia para
fazer. Ela faria bem.
O pensamento aliviou ligeiramente a tensã o em seus ombros.
Uma hora depois, poré m, as coisas nã o estavam indo tã o bem para
London. As coisas nã o estavam indo nada bem.
A massa delu estava muito pegajosa e depois muito seca quando
tentava equilibrá -la, como se fosse ume amadore que nunca havia feito
massa antes em sua vida. Os competidores tiveram uma breve pausa no
meio do tempo de cozimento para ajudar a massa a descansar, durante
o qual London esfregou seus braços doloridos e fez uma grande careta
enquanto Dahlia conversava com Cath. Mas mesmo depois que a massa
descansava, icava presa no maldito rolo.
Claro, London nã o tinha trabalhado muito com massas, mas era para
ser simples. Calmante para trabalhar, mesmo. Por que London nã o
praticou fazer mais massa antes de vir aqui? Isso foi pior do que o
peixe. Elu se sentia incompetente, confuse.
Quando o ravioli estava no prato, London sabia que estava longe de
ser seu melhor trabalho. O recheio estava bom, mas a forma do ravioli
era inconsistente, e havia muito molho, que era muito ino, mas nã o
teve tempo de consertar. Porra.
— Nã o está tã o ruim — Dahlia disse, e London quase pulou quando
ela colocou a mã o sobre a delu, só por um segundo. Elu nem sabia que
ela estava tã o perto. Mas é claro que ela estava. Esta semana, depois de
segunda-feira, Dahlia sempre parecia por perto.
London estava se esforçando para nã o ser dramá tique sobre isso,
mas os dez minutos que caminhavam para casa no escuro
invariavelmente se transformaram na parte favorita do dia de London.
Queria, neste momento, nada mais do que pular para os dez minutos de
hoje. Dahlia estava olhando para elu com preocupaçã o e seus olhos
eram como um abraço, sincero e aberto. Eles eram quase demais, hoje.
Porque ela estava sendo muito gentil quando chamou o ravioli de nada
mal.
Elu tinha provado a bolonhesa de Dahlia mais cedo. Elu icou
surprese que ela tentaria fazer bolonhesa em apenas uma hora, mas é
claro que ela iria, e claro que era ridiculamente boa. Rica e saborosa,
mas nã o muito pesada. Seus pappardelle estavam perfeitos, macios e
mastigá veis. Tudo sobre vê -la fazer isso – desde bater a massa com as
palmas das mã os, levantar os ios largos e delicados de pappardelle
entre os dedos, até como ela constantemente levava a colher de pau à
boca para provar o molho – tudo parecia esmagadoramente eró tico.
Ela contou a London, durante um intervalo, como o lado da famı́lia de
sua mã e era italiano. Seus bisavó s imigraram para os Estados Unidos de
uma pequena cidade no sul do paı́s, perto de Salerno. Ela disse, com
uma pequena risada, algo sobre como acertar a massa era
provavelmente a ú nica coisa que ela realmente fez certo pelo lado da
famı́lia de sua mã e e, mais tarde, London gostaria que elu tivesse feito
mais perguntas sobre isso. Mas na hora elu só conseguia pensar em
quanto de sua pele estava exposta naquele vestido, o quanto elu
queriam tocá -la.
Quando o julgamento começou, London sentiu uma combinaçã o
desenfreada de frustraçã o, excitaçã o e decepçã o consigo mesme. Elu
falhou hoje, e elu sabia disso.
Elu ia sair dessa competiçã o sem saber qual era o gosto dos lá bios de
Dahlia Woodson, e isso ê matou por dentro.
O julgamento de Dahlia foi muito bem, como London sabia que seria.
Ela sorriu para London enquanto caminhava de volta para sua estaçã o,
como sempre fazia quando as coisas iam bem. London simplesmente a
encarou, pensando em todas as coisas que elu queria dizer e que talvez
nunca conseguisse.
London nã o icou surprese por estar entre os trê s ú ltimos.
Elu nã o olhou para Dahlia quando seu nome foi chamado ao Cı́rculo
Dourado. Mas elu podia sentir seus olhos, como eles nunca ê deixaram
uma vez. Seu pescoço ardeu com o calor. Elu estava naquele cı́rculo
idiota ao lado de Eric e Ayesha, e tudo em que conseguia pensar eram
aquelas duas letras:
OK
Por um breve momento, London quase desejou que Sai Patel ê tirasse
de sua misé ria. Elu o imaginou olhando para elu e apenas dizendo:
OK
E London saberia, e tentaria partir com dignidade.
Mas Sai Patel nã o disse isso.
Ele e os outros juı́zes odiaram mais a massa de Eric.
A de London era ruim, mas aparentemente nã o era a pior. Audra
Carnegie chamou isso de "uma vergonha".
— Ficamos todos surpresos com seu desempenho hoje, London —
disse Sai. — Esperamos mais de você neste momento. De agora em
diante, é melhor você intensi icar seu jogo.
London assentiu, olhou apropriadamente arrependido, e voltou para
sua estaçã o.
A inal, elu conseguiu chegar à quele im de semana de trê s dias. Elu
teria outra chance na pró xima semana, para ser melhor. Elu icou
agradecide e um pouco em choque.
Mas, elu se lembrou um segundo depois, o primeiro episó dio ainda
estava indo ao ar esta noite. E London nã o sabia o que viria depois
disso para elu, fora do set, de volta ao mundo real. Era como se o
cé rebro de London fosse um sinal de rá dio preso entre frequê ncias,
constantemente cortando entre LA e Nashville, e tudo o que elu
queriam era que o rá dio fosse desligado.
London mal registrou, momentos depois, que as câ meras haviam
parado de rodar, perdide em sua pró pria cabeça.
Até que de repente, atordoando seu cé rebro em completo silê ncio e
desligando o disco do rá dio, os braços de Dahlia se envolveram em
torno de seu corpo.
— Ai meu Deus — ela respirou no pescoço de London, apertando
com força. — Eu sabia que seu prato nã o era o pior, mas ainda assim.
London, você ainda nã o pode ir.
Surpreendentemente, ela continuou segurando. London piscou,
compreendendo lentamente o corpo de Dahlia pressionado
completamente contra o delu, seu cabelo roçando sua bochecha.
Todos os outros competidores pararam em suas estaçõ es, olhando
para elus.
Foda-se.
London moveu suas mã os para as costas de Dahlia, tocando
levemente, cautelosamente. Elu moveu a cabeça apenas um centı́metro,
permitindo-se respirar em seu cabelo. Cheirava a coco, rico e quente.
Combinado com a nitidez contrastante de seu hidratante labial de
hortelã -pimenta, os sentidos de London icaram sobrecarregados. Elu
só queria cheirar exatamente isso, frescor e calor, tudo ao mesmo
tempo.
— Dahlia — elu disse, e entã o percebeu que nã o tinha outras
palavras.
Ela deu um passo para trá s, respirou fundo e, embora London
soubesse, objetivamente, que aquele abraço tinha sido muito longo,
muito pró ximo, nã o parecia su iciente. As mã os de London caı́ram para
os lados. Seu corpo estava frio sem ela.
— Vamos — disse ela.
Elus caminharam de volta para o hotel.
Hoje, elus icaram em silê ncio. No meio do caminho, em um impulso,
elu nã o pensou demais pela primeira vez, London estendeu a mã o e
pegou a mã o de Dahlia.
Seus dedos se enroscaram nos delu imediatamente. London deu-lhes
um aperto. A cabeça delu parecia confusa. Elu pretendia soltar a mã o de
Dahlia, depois do aperto, mas Dahlia continuou segurando, entã o elu
també m o fez. Sua mã o era macia e quente, e London jurou que podia
sentir seu pulso batendo em seu dedo mindinho.
Ambos se soltaram quando entraram no saguã o, como se o barulho
do ar condicionado quebrasse um feitiço. Quando chegaram à porta de
London, London en iou as mã os nos bolsos, olhando por cima do ombro
de Dahlia.
— Obrigade — elu disse bruscamente, e limpou a garganta. — Por
nã o querer que eu vá . Eu també m nã o quero que você vá . Para deixar
registrado.
Dahlia sorriu. Mas era um sorriso pequeno, de lá bios fechados. Nem
mesmo uma espiada daqueles dentes ofuscantes.
— Sim. Eu imaginei. — Ela respirou lentamente. — Ok. Certo. Boa
noite.
London queria se inclinar e beijar sua testa. Nã o, isso nã o estava
certo. Elu queria beijar seus lá bios, sentir sua lı́ngua na delu. Elu queria
beijar seu pescoço, seus ombros. Elu queria tudo dela.
E entã o elu queria descansar a cabeça no colo dela e contar a ela
sobre o pai delu. Como ele realmente tinha sido um bom pai, antes.
Como London nã o entendeu por que ele nã o podia simplesmente
superar isso. Como elu nã o entendia por que nã o conseguia superar o
fato de ele nã o ter superado isso. Como elu estava frustrade consigo
mesme.
Se elu icasse por mais tempo neste corredor, elu poderia alcançá -la.
Elu pode tentar qualquer nú mero de coisas.
Mas tinha sido uma longa semana. A dor de cabeça começou quando
London percebeu que, no horá rio central, o primeiro episó dio do Chef's
Special provavelmente já tinha ido ao ar. Estava feito. A festa da casa em
Nashville tinha assistido, e provavelmente havia estranhos vasculhando
sua conta no Twitter enquanto elu e Dahlia estavam lá , olhando ume
para ê outre.
O abraço tinha sido bom. O abraço tinha sido mais do que bom.
O abraço teria que ser su iciente. Algo sobre o ar neste corredor
parecia imprudente, e London nã o con iava em nada agora,
principalmente nelu mesme.
— Boa noite, Dahlia Woodson.
London colocou a chave na porta e elu entrou na escuridã o fria.
CAPÍTULO DEZ
Dahlia pulou no oceano, subiu correndo uma escada frá gil ao lado de
um penhasco de arenito e gastou muito dinheiro em aplicativos de
compartilhamento de carona para passear sozinha por Los Angeles
pelo resto do im de semana, tudo para fugir da sensaçã o dos braços de
London Parker ao seu redor.
E entã o Tanner Tavish apareceu na segunda-feira de manhã e os
esbofeteou novamente, porque ele era um bastardo amargo, e Dahlia
queria cuspir em seu rosto bonito.
O Frente-a-frente deles era sobre tortas. Entã o é claro que London ia
ganhar de qualquer maneira. Elu se destacava na sobremesa.
Duas bandejas de tortas individuais pré -assadas estavam na frente
de cada ume, junto com uma variedade de cremes, frutas e loreios
aleató rios. Elus tinham cinco mı́seros minutos para encher o má ximo
de tortas da maneira mais bonita possı́vel.
— Isto é tã o estú pido — Dahlia ouviu London murmurar ao lado
dela. — Eles já izeram todas as peças mais importantes para nó s. Quem
nã o pode rechear uma torta pronta?
Dahlia, aparentemente.
A primeira vez que ela encheu um saco de confeitar, ela apertou com
um pouco de entusiasmo, e o creme grudento explodiu por toda parte
na borda de sua primeira concha. Entã o ela desperdiçou um minuto
limpando-o, porque ela nã o queria que London o visse. Mesmo
sabendo, porque ela icava olhando para elu, que London nem estava
olhando para o seu lado da mesa.
Dahlia se sentiu mais amarga do que ela esperava que London fosse
tã o legal e controlade. Porque ela podia sentir, sua presença, enchendo
o espaço ao redor delus. Isso fez os pelos de seus braços se arrepiarem,
arrepiaram-se por toda a coluna, fez seus pulmõ es icarem apertados.
Audra Carnegie se apressou e sussurrou:
— Dahlia, quem se importa com a bagunça! Você nã o tem tempo!
Continue, continue!
Dahlia se importava com a bagunça. London era limpe e precise. Elu
estava preenchendo metodicamente duas ileiras de cascas de torta,
boom, boom, boom, cada aplicaçã o suave e consistente. Perfeito. Dahlia
observou os mú sculos apenas visı́veis sob a pele sardenta de seus
antebraços, seus cabelos cor de morango caindo sobre seus olhos
enquanto trabalhava. Parecia brilhante e limpo sob as luzes.
Claro que Dahlia nã o teve tempo de limpar sua estaçã o. Ela tinha dois
minutos e trinta segundos, exatamente, para encher todas as suas
casquinhas de massa.
Mas ela nã o queria ser uma Dahlia bagunçada e desleixada. Ela
odiava o quanto ela nã o queria isso agora. Porque ugh, por quê ? Talvez
ela estivesse um pouco bagunçada. Quem se importava? O que havia de
errado com ela?
Ela olhou para London com trinta segundos faltando.
Elu estava arrumando lores de capuchinha ao longo da borda de
suas tortas, brilhantes e delicadas e encantadoras.
Filhe da puta.
Quando o tempo acabou, Dahlia tinha enchido oito tortas. Ela colocou
sua variedade de frutas bem no meio de cada uma, enquanto London as
colocou elegantemente fora do centro. Em todas as vinte. Ela estava
envergonhada alé m da medida.
Tanner Tavish limitou-se a dar-lhe um olhar quando chegou à sua
estaçã o. Um olhar que ela merecia.
— Muito bom, London. — Tavish assentiu. — Muito bom mesmo.
Dahlia mal podia esperar que as câ meras desligassem, para correr
para o banheiro e rolar em seu telefone para fotos fofas de
cachorrinhos.
— Ei — disse London, uma vez que os assistentes deram o sinal
o icial, antes que ela pudesse fugir para o conforto digital de orelhas
caı́das e pelo macio. London enxugou as mã os em um pano de prato e
se virou para ela, cruzando os braços e batendo o quadril contra a mesa.
Dahlia olhou para elu rapidamente, notando, tragicamente, como
aquela inclinaçã o estava bonita nelu. — Está tudo bem — Elu disse
gentilmente. — Todos nó s temos manhã s difı́ceis.
— Nó s? — Dahlia retrucou, pegando uma das tortas perfeitas de
London e mastigando-a violentamente antes que a equipe viesse para
levá -las embora.
Um canto da boca de London virou-se lentamente.
— Sim. Nó s temos. — Entã o a boca delu se achatou e elu limpou a
garganta. — Hm. Como foi o seu inal de semana?
Dahlia engoliu o resto da deliciosa torta e olhou para baixo.
— Foi bom.
Ela fechou os olhos brevemente. Ela odiava isso, como isso parecia
estranho. Seus dedos coçavam, querendo fugir mais do que nunca. Mas
se ela queria que as coisas voltassem ao normal entre elus, ela tinha
que tentar. Entã o, mesmo que ela nã o tivesse vontade, Dahlia forçou
mais detalhes a sair de sua boca.
— Fui a Venice Beach no sá bado. Estava muito cheio e cheirava mal.
Eu amei.
London sorriu totalmente com isso.
— Fui ao Observató rio Grif ith, andei por aı́ — disse elu. — Tentei
descer essa trilha que leva ao letreiro de Hollywood.
Dahlia se iluminou um pouco. Ela olhou para elu de verdade desta
vez.
— Mesmo? Isso está na minha Lista. Foi incrı́vel ver a placa de perto?
— Eu nã o sei. A trilha estava empoeirada e quente, e lotada como o
inferno. Eu voltei depois de um quarto de milha.
Dahlia sorriu.
— Mal dava para se mover em Venice Beach, havia tantas pessoas.
Você teria odiado.
London sorriu de volta.
— Provavelmente. — Uma pausa. — Sempre que você quiser usar
meu carro alugado, nos ins de semana ou dias de folga ou qualquer
outra coisa, você pode. Apenas me mande uma mensagem.
Dahlia hesitou.
— Isso nã o é contra o seu contrato de aluguel?
London deu de ombros e se afastou da mesa.
— Considere-nos transgressores de regras imprudentes, Dahlia. —
Elu deu outro pequeno sorriso e se afastou.
Dahlia comeu outra torta, uma de sua autoria. Pode ser feia, mas
ainda tinha um gosto bom.
Ajudou, apenas um pouco, a cobrir o gosto deixado em sua boca com
a ideia de dirigir o carro de London em torno de Los Angeles, sozinha,
sem elu.
E entã o ela se sentou em um canto e olhou para o Twitter. Estava
cheio de pessoas que eram mais legais do que ela, sendo mais
descoladas e encantadoras do que ela, explicando notı́cias sobre as
quais se sentia culpada por nã o saber o su iciente. Ela se sentia um
pouco pior a cada minuto que passava, mas continuou rolando o feed de
qualquer maneira.
Eles foram chamados de volta à s suas estaçõ es. Antes das câ meras
começarem a rolar, antes de Sai Patel revelar qual seria o ingrediente
secreto para sua Inovaçã o de Ingredientes hoje, Barbara estendeu a
mã o e apertou sua mã o.
— Você está bem hoje, Dahlia?
Dahlia baixou os olhos para suas mã os entrelaçadas, para os dedos
de Barbara, envelhecidos mas macios, agarrando os dela com tanta
con iança.
Ela nã o sabia por que icara tã o magoada com a rejeiçã o de London
na praia. Ela só pensou… Barbara havia dito… Mas nã o. Ela sentiu a
forma como London a beijou de volta. Ela sabia o jeito que elu olhava
para ela. Ou, a maneira como elu a olhara antes de hoje. Dahlia sabia
que nã o tinha inventado a atraçã o entre elus, embora tivesse demorado
a entender. Porque, aparentemente, só namorar uma pessoa durante a
maior parte de sua vida a tornou inepta para entender o lerte.
De alguma maneira, no entanto, ser lenta na absorçã o fez doer ainda
mais. Porque quando a atingiu – como era certo beijar London naquela
praia, assim que ela fez isso, ela entendeu que queria fazer isso há
muito tempo – foi como um soco no estô mago. Tudo abrangente,
chocante, roubo de ar.
Era horrı́vel saber que London estava certe, que nada sobre ir alé m
daquele beijo era uma boa ideia, mesmo que cada cé lula em seu corpo
queria se rebelar contra isso. Foi uma má ideia porque, como London
disse, elus poderiam ser eliminades do programa a qualquer momento.
Tã o logo amanhã , de fato, Dahlia se lembrou. Havia outro Desa io de
Eliminaçã o amanhã . Nã o importa o quã o confortá vel ela começou a se
sentir aqui, nada era garantido.
Mas mesmo alé m da eliminaçã o, alé m do programa... a verdade era
que London era uma pessoa extremamente está vel. Uma boa pessoa
com objetivos e talentos. Elu amava Nashville, um lugar que Dahlia
nunca tinha ido ou sequer pensado seriamente em visitar, e elu nã o
desejava deixá -lo. Elu tinha um trabalho de som legal que gostava. Elu
iria começar uma organizaçã o sem ins lucrativos que poderia
potencialmente mudar vidas, realmente fazer a diferença. Elu tinha
famı́lia e amigos. London tinha futuro.
Dahlia tinha um apartamento chato em um pré dio sem alma em uma
cidade suburbana comum, cujo aluguel ela nã o tinha ideia de como
pagaria no mê s seguinte se nã o ganhasse US$100.000. Ela tinha cartõ es
de cré dito com saldos estourados e juros de empré stimos muito altos.
Nã o só Dahlia nã o tinha emprego, como també m nã o fazia ideia de que
tipo de emprego queria, ou começaria a procurar, quando voltasse para
casa. Ela tinha um pai bobã o e um doce irmã o que morava a centenas
de quilô metros de distâ ncia, que ela nã o visitava o su iciente. Ela tinha
uma mã e que estava decepcionada com ela, com quem Dahlia nã o sabia
mais como falar. Ela nem tinha certeza se tinha amigos.
Dahlia era uma bagunça, e London merecia muito melhor.
Dahlia olhou para a mã o de Barbara na sua, tentou lembrar o que
Barbara tinha perguntado. Oh. Sim. Se ela estava bem.
—Nã o — ela disse baixinho. Porque ela sempre se sentiu segura para
contar a verdade a Barbara.
— Tudo bem, amor — disse Barbara depois de um minuto. — Tudo
bem nã o estar bem à s vezes.
Dahlia nã o soltou sua mã o até que uma assistente deu o sinal, e as
câ meras ligaram mais uma vez.
London nunca sentiu uma gratidã o tã o pura quanto quando Tanner
Tavish anunciou o Desa io de Eliminaçã o no dia seguinte.
Su lê s. Um de chocolate, um de queijo. Isso era tudo que elu tinha que
fazer. Sem enfeites ou personalizaçã o criativa. Apenas um par de su lê s.
Suflê s fazia todo o sentido para London. Gemas e claras de ovos.
Chocolate derretido; bechamel. Picos rı́gidos e dobras. Este pode até ser
um dia de ilmagem curto. As pessoas se intimidavam com su lê s, por
algum motivo, mas na verdade eram bem simples. Eles eram muito
mais simples do que, digamos, imaginar descobrir como lidar com seu
coraçã o em torno de Dahlia Woodson.
No set de ontem, elu se concentrou mais nos desa ios do que nunca.
Elu planejava fazer o mesmo hoje, e no dia seguinte, e no dia seguinte. E
talvez fora do set, quando London olhou para o teto de seu quarto de
hotel por horas a io e pensou em Dahlia, parada na frente delu de
calcinha em um trecho solitá rio do paraı́so, ou Dahlia, dançando com
aquele vestido preto em uma pista de dança suada, ou Dahlia,
arrulhando sobre vacas abandonadas por Deus que ela chamou de
Margaret – bem, talvez elu eventualmente icasse louque.
Mas no set, essa misé ria pode levar London a um foco tã o irme que
elu teria que ganhar os US$ 100.000. Que era o que elu tinha voado para
LA para fazer.
Entã o, tudo somado, um comé rcio uniforme.
No meio do caminho na hora de cozinhar hoje, poré m, esse foco foi
interrompido por um turbilhã o de cabelos escuros em pâ nico.
— Nã o sei o que estou fazendo de errado. — Ela se virou para
encará -lu, suas mã os segurando as laterais da estaçã o de London, seu
rosto contorcido. London sentiu um estranho tipo de alı́vio que ela
estava recorrendo a elu para conselhos. Mesmo que ela parecesse
miserá vel. Ela havia pedido seus conselhos sobre o set de todos a é poca,
pré -Malibu, e este foi o primeiro momento desde entã o que realmente
parecia normal. — Eles quase nã o estã o subindo.
— Você nã o misturou muito as claras, certo? Você só as dobrou?
— Sim, London, eu as dobrei, porra — Dahlia assobiou, movendo
suas mã os para seus quadris, olhando ansiosamente para seu forno, e
London teve que reprimir um sorriso. Agora isso parecia normal. Dahlia
xingando para elu parecia absolutamente fantá stico.
— Você ainda tem tempo — disse elu. — Faça quantos ramekins2
puder; nem todos precisam ser perfeitos.
— E se nenhum deles for perfeito? — Dahlia distraidamente soprou
um io de cabelo de seu rosto. Havia uma mancha de farinha em sua
bochecha. — Esses seus vã o icar perfeitos. — Ela estava surtando.
London hesitou. Entã o elu estendeu a mã o sobre a estaçã o e colocou
a mã o em seu antebraço. Elu apenas a manteve lá por um segundo.
Ainda assim, elu sentiu, a sensaçã o da pele dela sob seus dedos,
formigando até o couro cabeludo.
— Você icará bem.
Dahlia olhou para onde London tinha colocado sua mã o. E entã o ela
disse: — Ok — e se virou. London engoliu.
Dahlia nã o estava bem. E tanto ela quanto London sabiam disso.
Normalmente, a porçã o cronometrada de cada desa io voou. Isto foi o
julgamento que se seguiu que levou muito tempo, especialmente
durante os Desa ios de Eliminaçã o. Foi aı́ que todo o drama entrou,
onde as coisas foram ilmadas e refeitas para parecerem exatamente
certas. Mas hoje, cada segundo assistindo a testa franzida de Sai Patel,
os olhos preocupados de Audra Carnegie, e o rosto rabugento de Tanner
Tavish borraram na mente cheia de ansiedade de London.
O corpo de London trouxe seus su lê s até os juı́zes, mas era como se
sua mente estivesse presa em um tú nel de vento. Elu mal podia ouvir o
que os juı́zes diziam, embora pensasse que estavam sorrindo.
Quando foi a vez de Dahlia trazer seus su lê s, seus sorrisos
desapareceram.
Foi quando London realmente começou a entrar em pâ nico.
Deve ter sido assim que Dahlia se sentiu quando London quase foi
chutade com aqueles horrı́veis raviolis. Talvez, se Dahlia fosse
eliminada, elu poderia se voluntariar para ser eliminade. Apenas uma
pequena troca. Como Katniss em Jogos Vorazes. Isso era aceitá vel, certo?
Isso poderia acontecer? Deus, qual era o nome da irmã de Katniss de
novo? Por que London nã o tentou participar dos Jogos Vorazes em vez
disso? Chef’s Special é pior.
London percebeu, enquanto os juı́zes se reuniam para as falsas
deliberaçõ es, que estava perdendo o controle de seus pensamentos. Elu
precisava se concentrar. Elu precisava…
London, Ahmed e Khari foram chamados para o Cı́rculo Dourado.
Top trê s.
— Parabé ns, London — Audra sorriu para elu. — Outra atuaçã o
estelar.
Ahmed deu um tapa no ombro delu com um sorriso.
A boca de London tinha gosto de giz.
Tanner Tavish anunciou os trê s ú ltimos.
Dahlia, Barbara, e Cath.
Os trê s de cima e de baixo trocaram de lugar, e London só podia
assistir com pavor.
Eram todas excelentes cozinheiras, Dahlia, Barbara e Cath. Nã o fazia
sentido. O que tinha acontecido? Talvez houvesse algo errado com a
energia na estaçã o de Barbara e Dahlia, algo descontrolado com seus
fogõ es...
Cath foi salva. Ela caminhou de volta para sua estaçã o, estufando as
bochechas em um profundo suspirar.
Barbara e Dahlia permaneceram no cepo naquele horrı́vel, horrı́vel
cı́rculo. Elas se aproximaram, de mã os dadas. Barbara descansou a
cabeça no ombro de Dahlia.
Enquanto London agarrava a borda de sua bancada, elu tentava se
lembrar do que havia acontecido com os competidores que já haviam
sido eliminados. Eles saı́ram do set e entã o… London nunca mais os viu.
Os produtores devem realmente enviá -los de volta para casa
imediatamente. Fazia sentido. Nã o há razã o para desperdiçar dinheiro
em quartos de hotel desnecessá rios.
De repente, Barbara e Dahlia estavam se abraçando. Elas estavam
chorando. Espera. O que diabos aconteceu? London nã o tinha ouvido o
que aconteceu. Elu nã o podia ouvir nada. Por que elu estava tã o ruim
em existir agora? Atordoade, elu viu Barbara dizer algo no ouvido de
Dahlia, apertar seu braço e dar um sorriso tranquilizador.
E entã o Dahlia voltou para sua estaçã o. Ela nã o olhou para London.
Sua cabeça permaneceu baixa enquanto Barbara saı́a do set.
Mas Dahlia ainda estava em seu posto.
As câ meras pararam de rodar, mas o coraçã o de London ainda estava
batendo forte. Dahlia foi imediatamente chamada para uma entrevista
individual, seus ombros tensos enquanto ela se afastava. Janet correu
para London, disse-lhe para esperar, que elu seria ê pró xime.
Elu presumiu que Janet iria perguntar sobre ganhar o desa io. Mas
em vez disso, quando elu foi arrastade para o set de entrevistas
individuais – Dahlia havia desaparecido, e tudo em que London
conseguia pensar era para onde ela tinha ido – Janet perguntou como
era ver Barbara e Dahlia e Cath entre as trê s ú ltimas.
Ela perguntou sobre todas elas, mas London sabia instintivamente
que Janet queria ver sua reaçã o a Dahlia. E entã o London soube que
Janet sabia. Maritza deu-lhe um sorriso triste por trá s da câ mera. Todos
eles sabiam.
London merecia um prê mio extra do Chef's Special, nã o importa
quando elu acabasse sendo eliminade. Eles estavam fazendo um
excelente programa de TV e elu queria vomitar.
London disse algumas palavras que esperava fazer parte da lı́ngua
inglesa, e entã o correu para fora do estú dio. Elu olhou ao redor
descontroladamente assim que o ar frio da noite atingiu seus pulmõ es,
como se fosse ume detetive em um programa de TV pronte para pular
carros em movimento para encontrar o criminoso.
— Sua garota foi embora há alguns minutos.
A voz era inconfundı́vel. London girou para olhar para Cath,
encostada no pré dio, tragando um cigarro.
London nã o fumava desde que era ume adolescente burre no ensino
mé dio, mas de repente nada parecia tã o atraente.
— Ela nã o é minha garota — London conseguiu dizer, desejando que
seu coraçã o batesse menos freneticamente, para parecer menos
paté tique na frente de Cath, que era inegavelmente legal. Elu olhou para
a fumaça que saı́a habilmente dos lá bios dela, tentando nã o pensar em
Dahlia caminhando sozinha para casa. Sem elu.
Cath apenas ergueu as sobrancelhas e deu outra tragada profunda.
Ela estava com o boné de beisebol virado para trá s que sempre aparecia
assim que as ilmagens terminavam, e a aba batia contra a parede de
concreto do estú dio.
— Tudo bem — ela disse, nã o necessariamente crı́tica, mas
gentilmente duvidosa.
London continuou ali como ume idiote, de repente desejando algum
conselho lé sbico sá bio de Cath. Ou para ela bater nelu e dizer para elu
parar de ser tã o emocionade, ou algo assim.
Depois de um momento, Cath disse:
— Aquele abraço que ela deu em você no outro dia foi tã o doce que
quase partiu meu maldito coraçã o.
London desviou o olhar entã o.
— Ela nunca esteve com algué m como eu antes. E… — Todas as
palavras caı́ram em sua cabeça, o raciocı́nio que parecia tã o só lido na
praia. Ou talvez també m nã o parecesse só lido na é poca, mas elu sabia
que era pelo menos racional. Nã o se apaixonar por algué m no set de um
reality show. — Porra, eu nã o sei.
Elu podia ver Cath acenar com a cabeça, com o canto do olho.
— E — Outra batida tranquila. — Ela parece ser uma das boas, no
entanto. Foi um dia difı́cil hoje. Ela e aquela velhinha pareciam
pró ximas.
Deus, tudo em que London podia pensar era em Dahlia, mas é claro
que Dahlia icaria arrasada por causa de Barbara.
Cath deu um tapinha no ombro de London enquanto se afastava da
parede e esmagou o cigarro sob o tê nis.
— As vezes, você só precisa fazer o que tem que fazer. Mas ouça…
cuide-se, está bem? — Ela deu outro aceno e começou a se afastar.
London permaneceu por mais alguns momentos, do lado de fora da
fachada surpreendentemente chata do estú dio, observando Cath ir
embora, respirando dentro e fora enquanto a luz do dia sangrava do
cé u.
E entã o elu correu até chegar à porta de Dahlia.
CAPÍTULO DOZE
London, era como uma tarefa fá cil certi icada quando se trata de
todas as coisas Dahlia Woodson, realmente pensou que seria o primeiro
a desistir. Elu sentia-se um pouco orgulhose de si mesme, na verdade,
por ter passado vinte horas inteiras sem mandar uma mensagem para
ela ou, alternativamente, derrubar sua porta.
Tinha sido mais fá cil do que London poderia ter esperado. Porque
toda vez que a ansiedade chegava perto de ser demais, London
simplesmente imaginava Dahlia sentada na cadeira de Tanner Tavish,
dizendo o nome de Lizzie.
E London esvaziaria, só um pouquinho.
Mas quando este texto chegou à s quatro horas da tarde de sexta-
feira:
Oi, eu estou com saudade de você
O peito de London encheu todo o caminho de qualquer maneira.
Assim como quando elu a beijou na noite passada.
London provavelmente precisava checar a cabeça delu.
Elu provavelmente també m nã o deveria ter passado as ú ltimas oito
horas deitade na cama assistindo a comé dias româ nticas. Agora elu
realmente nã o tinha nenhuma perspectiva sobre a realidade.
London pegou o telefone.
London: Você está respirando melhor agora?
Dahlia: muito
Dahlia: o que você está fazendo?
London fez uma pausa. Elu olhou para a TV.
Elu poderia mentir. Elu provavelmente deveria mentir.
London: Eu… possivelmente estou assistindo Mamma Mia
Dahlia: OH
Dahlia: MEU
Dahlia: DEUS
Dahlia: UM OU DOIS LONDON
London: . . . . . . . . . dois
Dahlia: OH MEU DEUSSSSSSSSS
Dahlia: VOCE ESTA NO SEU QUARTO
London: Sim.
Dahlia: AQUI VAMOS NOS NOVAMENTE!!
O telefone de London ainda estava iluminado por causa desta ú ltima
mensagem quando uma batida rá pida e forte na porta delu vibrou na
sala trinta segundos depois. Jesus. London olhou para si mesme. Elu
estava vestindo suas calças de pijama de lanela, seu binder jogado no
chã o, e sua camiseta ainda tinha uma mancha do burrito que elu comeu
no almoço. E o cabelo delu provavelmente estava...
Outro bater impaciente.
Resmungando, London rastejou para fora da cama.
— Oh nã o — Dahlia disse quando elu abriu a porta.
Ela estava vestindo seu moletom framboesa e shorts. Seu cabelo
estava solto, levemente molhado, como se ela tivesse acabado de tomar
banho. O que signi icava que agora London a estava imaginando no
chuveiro. Ela mordeu a manga de seu moletom, amontoada sobre as
mã os.
— O quê ? — London perguntou, a mã o ainda na maçaneta da porta,
confuse sobre o oh não.
— Eu esqueci como você é fofe — disse ela.
E entã o ela estava em seus braços, sua boca na delu, com um sabor
fresco, limpo e leve, e London teve que engolir um gemido. Uma onda
de calor encheu seu sistema, ficando só lida contra seu peito novamente,
a porta se fechando quando elu empurrou seus dedos nas costas delu,
sua cabeça leve e confusa e...
— Ok. — Dahlia empurrou para trá s, andando no quarto. — Onde
estamos? — Ela engasgou, olhando para a TV. — Oh meu Deus, está
quase no im! Cher está quase lá !
Ela pulou na cama de London e icou debaixo das cobertas. Quando
London se juntou a ela, ela imediatamente se aconchegou ao lado delu,
en iando a cabeça debaixo do braço delu como um cachorrinho e
descansando a cabeça em seu peito.
Era isso que London queria. Todos os malditos dias de sua vida.
Uma risada explodiu na garganta de Dahlia quando Cher apareceu na
tela.
— Você já viu algo tã o exagerado? Deus. Isso deve ter sido tã o
divertido de ilmar.
London virou a cabeça para acariciar o nariz em seu cabelo. Elu
respirou fundo. Deus, era bom tê -la ao lado delu assim. Era bom deixar
a estranheza de ontem escapar.
— Quer assistir outra coisa? — London extraiu-se de Dahlia uma vez
que os cré ditos começaram a rolar, vasculhando nos lençó is em busca
do controle remoto.
— Claro. — Dahlia sentou-se.
Enquanto London percorria o menu da Net lix, elu a sentiu se mexer
ao lado delu, puxando os joelhos até o queixo.
— London?
Elu olhou para ela.
— Sim?
Mas ela apenas mordeu o lá bio, sem dizer nada. London apertou o
botã o de mudo no controle remoto.
Era o pico Dahlia Cara Pensativa. London poderia praticamente
sentir os pensamentos girando sob sua pele. Mas ela apenas icou
sentada lá , em silê ncio.
Ela pulou de repente, abrindo a gaveta na mesa de cabeceira de
London, puxando o bloco de papel gené rico do hotel dentro.
— Vamos fazer uma lista. — Ela se sentou de volta, com as pernas
cruzadas, na cama.
— Uma lista?
— De coisas que queremos fazer antes de sairmos de LA. Dez
melhores.
Algo torceu dentro do intestino de London quando Dahlia disse essa
frase. Antes de sairmos de LA. Ela começou a rabiscar alguma coisa,
naquela caligra ia bagunçada e maluca.
— Eu quero ir para Hollywood e tirar uma sel ie com a estrela da
Dolly Parton na Calçada da Fama, para Hank — ela disse antes de olhar
para elu. — E você ?
London apenas olhou para ela. Elu nã o conseguia pensar em nada
alé m de simplesmente estar com ela. Ficar Chef 's Special pelo tempo
que for humanamente possı́vel. Dormir ao lado dela. Elu nã o queria
pensar em deixar LA.
— Talvez pudé ssemos ir ao Universal Studios? — London disse
eventualmente, quebrando a cabeça por coisas que estavam em LA. —
Ou Disneylâ ndia?
Dahlia sorriu antes de se controlar e sacudiu a cabeça.
— Sempre quis ir para a Disney. Mas nã o, muito caro.
— Eu poderia pagar — London ofereceu. — Eu nã o me importo.
— Nã o — Dahlia disse imediatamente, bruscamente. — Nã o. Na
verdade, praticamente tudo nesta lista tem que ser… barato. Ou grá tis.
Eu meio que estourei meu orçamento já em viagens compartilhadas,
quando fui passear no im de semana passado. De qualquer forma, há
uma tonelada de coisas grá tis para fazer em LA — ela disse, com voz
pro issional agora, como se ela fosse uma agente de viagens fazendo
uma apresentaçã o em PowerPoint. — Eu quero ir para a Ultima
Livraria. Ah, e há outra que eu li que é totalmente dedicada a romances.
Ela escreveu Livrarias ao lado do nú mero 2 em sua lista.
— Ok, o que mais você quer fazer? — ela perguntou. — Você tem que
contribuir com pelo menos uma coisa para a lista. Por favor —
acrescentou ela.
— Há uma instalaçã o de arte do lado de fora de algum museu —
disse depois de um momento de re lexã o. Elu tinha visto fotos no
instagram. — Um monte de postes de luz juntos. Deve parecer legal à
noite.
Dahlia assentiu enfaticamente e anotou.
— Quer ir amanhã à noite? — Ela olhou para elu, os olhos cheios de
uma esperança cautelosa, quase como se estivesse nervosa.
Quase como se estivesse… chamando London em um encontro.
— Certo. — O estô mago de London revirou.
— Legal. — Ela sorriu, o rosto relaxado, e olhou de volta para a lista.
— E eu quero voltar para aquela praia com você — disse London, sua
mente correndo agora para o que elu realmente ainda queria fazer em
LA. — Em Malibu. Eu quero icar com você de verdade lá . Tipo, deitar
na areia, curtir. Se pegar num nı́vel tipo, você vai icar com areia no
cabelo por dias.
Dahlia riu, e foi o som mais magnı́ ico. Talvez nem tivesse sido um
total de vinte e quatro horas desde que elus estiveram separades, mas
London tinha perdido isso de qualquer maneira.
— Isso soa... bastante injusto com o meu cabelo.
London deu de ombros.
— E o que eu quero.
Dahlia en iou o polegar entre os dentes, sorrindo.
— Eu nã o consigo ver se envolver em um amasso de corpo inteiro
com você que nã o resulte em sexo de corpo inteiro.
— Tudo bem entã o — London disse. — Anota.
Dahlia escreveu ao lado do nú mero 4: Sexo na praia. E entã o, talvez.
— Com licença! — London zombou e estendeu a mã o para pegar a
caneta de sua mã o, rabiscando a ú ltima palavra. — Você nã o pode
colocar talvez em sua pró pria sugestã o!
— Eu apenas! — Dahlia gaguejou. — Tudo o que estou imaginando é
areia na vagina, e isso nã o parece desconfortá vel?
— Levaremos uma toalha — London rosnou, e Dahlia riu novamente.
— Está bem, está bem. Ah, e eu quero ir para Koreatown — ela disse
suavemente, como se essa transiçã o izesse sentido, e London estava
tentade a fazer o nú mero quatro agora, com praia ou sem praia.
— Caminhõ es de taco — disse elu, para tirar a mente da sarjeta. —
Esses sã o baratos — acrescentou.
Dahlia anotou.
Elu sugeriu outros quatro — o Pı́er de Santa Mô nica, o Getty, o
Grande Mercado Central, o Sunset Boulevard — e entã o Dahlia largou a
caneta, sorrindo.
— Sabe o que mais é barato? Sorvete. Nó s de initivamente
precisamos de sorvete antes do pró ximo ilme. — Ela icou. — Vamos
dar uma corrida na loja de conveniê ncia.
London olhou para si mesmo novamente.
— Eu nã o posso sair assim.
Dahlia revirou os olhos.
— Para o posto de gasolina? Sim, London, você pode.
E assim, ela ê estava arrastando porta afora.
Meia hora e um sorvete Chunky Monkey compartilhado do
Ben&Jerry’s depois, o corpo de Dahlia foi enrolado em seguida para
London novamente, e elus estavam a um quarto do caminho para
Always Be My Maybe. London tentou deslizar a mã o delu sob a camisa
dela dez minutos atrá s e ela deu um tapa, dizendo distraidamente:
— Pare com isso; Eu nunca vi esse antes — seus olhos colados na
tela.
Depois de passar nove horas assistindo a ilmes, os olhos de London
estavam secos e doloridos. O calor de seu corpo junto ao dela fez elu
icar com sono. Elu estava bem com uma simples noite de ilmes e
carinho, elu supunha. Majoritariamente.
Elu correu os dedos pelo cabelo dela.
— Pode ser você , sabe — elu disse, referindo-se ao personagem chef-
celebridade de Ali Wong na tela da TV.
Dahlia balançou a cabeça contra seu peito.
— Nã o. Deve ser você .
London icou quiete por um momento, os dedos ainda em seu cabelo.
— Eu nã o quero isso — elu disse.
— Nem eu — ela murmurou.
Alguns minutos depois, ela abraçou o torso de London com mais
força.
— O que vou fazer, London? Depois disto.
London tentou olhar para ela.
— O que você quer fazer?
— Eu nã o sei — ela sussurrou.
Elu colocou seus lá bios em sua testa.
— Eu acho que… os sonhos que temos quando somos crianças
importam.
London també m estava pensando nisso, quase inconscientemente,
desde que elu estava aqui. Elu faria mais esforço quando voltasse para
casa para entrar em um estú dio de mú sica. Havia uma tonelada de
pessoas hoje em dia que eram mais apaixonadas por podcasts do que
elu. London queria estar perto de guitarras, bateria, pianos. Elu queria
sentir as linhas de baixo reverberando em seus ossos. Elu queria passar
seus dias enchendo suas entranhas com mú sica.
— Pode ser que você deveria escrever.
Dahlia soltou uma meia risada ofegante.
— Sobre o quê ? Odeio dizer isso a você , London, mas meu pai estava
errado; Acampamento Sunnywood na verdade nã o era digno de um
Pulitzer.
— Bem, em primeiro lugar, eu duvido disso. — London moveu sua
mã o para esfregar suas costas. — Escreva sobre o que você sabe. — Um
momento depois, elu acrescentou: — Você poderia escrever sobre
comida.
— Escrever sobre qualquer coisa nã o vai pagar minhas contas — ela
disse.
— Você vai ganhar $100.000, no entanto — disse London. — Você
nã o terá que se preocupar com as contas.
Ela nã o respondeu. Mas ela deu a seu corpo outro aperto suave.
London estava triste porque a respiraçã o de Dahlia já estava icando
mais pesada, esticada, quando chegaram à cena do jantar de Keanu
Reeves. Dahlia adoraria isso. Mas elu tinha certeza de que ela já estava
dormindo.
Entã o elu a ouviu murmurar algo ao seu lado.
— O quê ?
— Eu vou desapontá -lu — disse ela. Seus olhos estavam fechados.
— O quê ? — London perguntou novamente.
— Eu decepciono a todos.
— Dahlia — London sussurrou, cutucando seu ombro.
O que isso signi icava, ela decepciona a todos?
Mas ela já estava dormindo.
London franziu a testa, passando os dedos pelo cabelo dela por mais
um momento.
Com cuidado, para nã o acordá -la, elu alcançou a mesa lateral, dedos
tateando pelo controle remoto. Mas antes que pudesse desligar o ilme
e seguir Dahlia no sono, antes que pudesse analisar melhor o que
Dahlia tinha acabado de dizer, seu telefone tocou.
London, de vdd, nosso pai sempre foi um idiota? E nós simplesmente
não sabíamos?? Porque ele era nosso pai?? Eu não consigo parar de
pensar nisso
London piscou.
Antes que elu pudesse pensar o que dizer em resposta a isso, Julie
continuou digitando.
Mas nossa mãe é tão arrojada
E ela não estaria casada com um idiota, certo?
Mas às vezes as pessoas em relacionamentos fazem coisas estranhas
ECA
London inalmente encontrou o controle remoto e desligou a maldita
TV. Elu olhou para o telefone, o ú nico som na sala agora era o baque alto
de seu coraçã o.
Elu estava esperando por esses textos, pelo menos
inconscientemente. Por semanas, Julie soou fora do normal,
esquivando-se de perguntas relativamente normais de London como, Ei
Jules, como foi? Ceia de domingo? E Julie nã o era de se esquivar, nã o era
o tipo de pessoa que dava respostas vagas, de uma palavra. Julie Parker
geralmente contava a uma pessoa tudo o que estava em sua mente,
quer ela quisesse saber ou nã o.
No entanto, de repente, tudo em Nashville, segundo ela, estava bem.
Bem bem bem. London estava começando a odiar a palavra.
Mas agora que Julie estava inalmente soando como ela mesma
novamente, London se sentiu perturbade.
Julie, elu digitou, reunindo coragem, O que está acontecendo? O que
papai fez?
E entã o, é claro, ela icou em silê ncio.
Elu se libertou de Dahlia, rolando-a suavemente para o outro lado da
cama. Ela foi de boa vontade, fazendo um pequeno zumbido.
London virou de lado, respirou fundo algumas vezes.
Julie? Elu tentou novamente.
Ugh, desculpe London
Ben me deu tequila; ele será punido amanhã
Ignore-me
Está tudo bem aqui
Te amo
London olhou para o telefone por longos e inú teis minutos,
desejando que a honestidade implacá vel de sua gê mea reaparecesse
magicamente, mesmo sabendo que nã o iria.
Porque a outra coisa que London sabia ser verdade sobre Julie era
que ela faria qualquer coisa ao seu alcance para proteger aqueles que
ela amava.
Suspirando, London jogou o telefone na mesa lateral, rolando de
volta para Dahlia, puxando-a para perto. Elu envolveu um braço ao
redor de seu estô mago, encontrando suas mã os, entrelaçando seus
dedos juntos. Mais murmú rios indistintos ressoaram de seu peito
enquanto ela mexia sua bunda nelu, e elu nã o podia deixar de sorrir em
seu cabelo.
London sabia, no fundo, que elu nã o precisava de Julie para somar
dois mais dois para elu. Elu nã o gostava que ela estivesse escondendo
os detalhes, mas London podia adivinhar muito bem. Que ter sue ilhe
des ilando com uma identidade com a qual você nã o concorda, em rede
nacional, provavelmente nã o foi uma coisa fá cil para um homem
orgulhoso como Tom Parker engolir.
Elu simplesmente nã o sabia o que fazer sobre isso. O que seria como,
quando voltasse para casa, quando tivesse que enfrentar sua famı́lia e
todos que conhecia novamente. Elu se revelou para milhõ es de
estranhos. Elu sabia que haveria consequê ncias.
Era tã o fá cil ignorar a realidade quando elu estava no set. Quando elu
estava aqui, ao lado de Dahlia. London en iou o rosto no calor do
pescoço dela e fechou os olhos, tentando acalmar seu pulso.
Talvez Dahlia e London tivessem mais em comum do que apenas
cozinhar. Elu ainda nã o sabia exatamente o que Dahlia quis dizer, antes
de adormecer. Mas talvez London soubesse uma coisa ou duas sobre ser
uma decepçã o.
CAPÍTULO DEZOITO
[←1]
Lembrando que na língua inglesa os pronomes neutros usados são they/them, no
português são pronomes plurais eles/deles ou elas/delas, na língua portuguesa os pronomes
neutros mais usados e conhecidos são elu/delu
[←2]
Ramekin é um pequeno pote de cerâmica usado para a preparação e o serviço de vários
pratos ou guarnições. Dentre outros: creme brûlée, suflê e pratos gra nados com queijo.
Table of Contents
Elogios para Love and Other Disasters
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO QUATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
EPÍLOGO