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1471. A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos
efeitos do sacramento da Penitência.
“«A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados
cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e
determinadas condições, pela ação da Igreja, a qual, enquanto dispensadora da
redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações de Cristo e dos
santos» (79). «A indulgência é parcial ou plenária, consoante liberta parcialmente ou na
totalidade da pena temporal devida ao pecado» (80). «O fiel pode lucrar para si mesmo
as indulgências [...], ou aplicá-las aos defuntos» (81).”
“1476. A estes bens espirituais da comunhão dos santos, também lhes chamamos
o tesouro da Igreja, «que não é um somatório de bens, como quando se trata das
riquezas materiais acumuladas no decurso dos séculos, mas sim o preço infinito e
inesgotável que têm junto de Deus as expiações e méritos de Cristo, nosso Senhor,
oferecidos para que a humanidade seja liberta do pecado e chegue à comunhão com o
Pai. É em Cristo, nosso Redentor, que se encontram em abundância as satisfações e os
méritos da sua redenção (86)».
Lutero recordava seu temor ao passar pelos portões góticos e ser recebido por
um ameaçador baixo-relevo de Jesus no juízo final. Em contraste a essa imagem, os
santos eram amigos amáveis que cercavam a mais amada de todos: a Virgem Maria, que
podia ser convencida a tornar seu Filho mais favoravelmente inclinado aos pobres
pecadores. Os dias santos envolviam representações teatrais anuais dos acontecimentos
mais importantes do evangelho, mas a pessoa e a obra de Jesus estavam enterradas sob
um monte de dias de santos e miríades de superstições, relíquias e peregrinações.2
2
Sproul, R.C.; Nichols, Stephen. O Legado de Lutero . Editora Fiel. Edição do Kindle.
O papa Leão X utilizava a venda de indulgências para custear a conclusão da
Basílica de São Pedro, mas não era qualquer indulgência que serviria. O papa Leão X
emitiu uma indulgência plenária, que, aparentemente, levaria o pecador ao estado de
inocência que havia recebido no batismo.
Não havia ninguém mais experiente do que o dominicano Johann Tetzel para
comercializar essa oportunidade única na vida. O que exatamente o pecador recebia na
compra dessa indulgência? Vendedores inescrupulosos como Tetzel davam a impressão
de que a indulgência resultaria no perdão total de todos os pecados.[7] Nem mesmo o
pecado de violar a mãe de Deus seria suficiente para impedir a eficácia dessas
indulgências![8] Até mesmo os horrores de anos no purgatório poderiam ser evitados.
E, se isso não fosse bom o bastante, também havia a oportunidade de comprar uma
indulgência para algum ente querido no purgatório
Viajando de cidade em cidade com toda a pompa de Roma, Tetzel,
descaradamente, incutia nos seus ouvintes um profundo sentimento de culpa:
“Ouçam as vozes dos seus queridos familiares e amigos, suplicando e dizendo:
‘apiedem-se de nós, apiedem-se de nós. Estamos aqui em tormentos terríveis dos quais
vocês podem nos livrar por uma ninharia. Deixarão que fiquemos aqui, em chamas?
Adiarão nossa prometida glória? ” Então, Tetzel apresentava sua cativante rima: Assim
que a moeda tilintar no cofre, a alma é libertada do purgatório”
Ao final de 1517, Martinho Lutero não pôde mais tolerar. Um ano antes, ele
pregara contra as corrupções das indulgências. Dessa vez, registraria por escrito suas
objeções visando a um debate acadêmico. As famosas 95 teses de Lutero, expunham os
abusos das indulgências, negavam o poder e a autoridade do papa sobre o purgatório e
colocavam em dúvida se de fato o papa tinha em mente o bem do pecador. Quando
concluídas, as teses de Lutero foram afixadas na porta da igreja do castelo de
Wittenberg, em 31 de outubro de 1517.
Lutero não queria um cisma, queria uma reforma no pensamento da igreja, como
um bom católico queria que os líderes da igreja se arrependessem dos seus abusos. O
que talvez fosse mais chocante e intolerável nesse momento é que as Escrituras, para
Lutero estavam acima da tradição da igreja e do Papa e isso não podia ser perdoado ou
aceitado, essas ideias deveriam ser expurgadas.
O que é o verdadeiro tesouro da igreja nas teses de Lutero?
63 Este tesouro, entretanto, é o mais odiado, e com razão, porque faz com que os
primeiros sejam os últimos.
76 Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o
menor dos pecados veniais no que se refere à sua culpa.
82 Por exemplo: por que o papa não evacua o purgatório por causa do santíssimo amor e
da extrema necessidade das almas - o que seria a mais justa de todas as causas -, se
redime um número infinito de almas por causa do funestíssimo dinheiro para a
construção da basílica - que é uma causa tão insignificante?