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VIVER NA
EUROPA
EXPEDIENTE
Direção Editorial: Sandro Aloisio
Projeto Gráfico e Direção de Arte: Fernando Morra
Capa: Fernando Morra
Edição: Sandro Aloisio, Gyselly Mendes e André Rezende
Revisão: Alexandre Camaru e Naza Bahia
Assessoria Editorial: Crica Gomes e Paula Noah
Tratamento de Imagens: G. Andrade
Agradecimentos: Fabiane Gutierrez, Gabriela Glette, Julia Discacciati, Erick Gutierrez,
João Henrique Silva, Rodrigo Costa, Vasco Esteves e Vinícius Ribeiro
Euro Dicas - O Sonho de Viver na Europa é uma obra produzida e editada pela editora
Texto & Traço sob encomenda da Wcontent/Euro Dicas, a quem todos os direitos são
reservados. Não é permitida a reprodução de qualquer parte do conteúdo desta obra, por
qualquer meio, sem a autorização expressa e por escrito dos detentores de seus direitos.
Visite: www.eurodicas.com.br
09 ................................................................ apresentação
12 ................................................................ Missão Europa
18 ................................................................ a palavra é planejamento
EU FUI!
A CHEGADA
MISSÃO CUMPRIDA
98 ............................................................. o ponto B
100 ............................................................. a zona de ‘desconforto’
104 ............................................................. para quem fica… providências
108 ............................................................. empreender – atitude e compromisso
112 ............................................................. ficar ou voltar? eis a questão
116 ............................................................. eu fiz
124 ............................................................. o site
A
vida acontece independentemente de nossas vontades.
Muita gente vive bem assim, na base do “deixa a vida me
levar”. É uma escolha. Mas há aqueles que fazem a opção de
protagonizar a própria existência e simplesmente não aceitam ser
levados, adotam para si o lema escrito, em latim, na bandeira da
cidade de São Paulo: Non ducor, duco, em bom português, o elo-
quente, Não sou conduzido, conduzo.
Este livro nasceu da ideia de contar histórias que, ao final,
resumem esse espírito desbravador, inquieto, ambicioso, estraté-
gico, resiliente e perseverante. Pessoas que ousaram realizar so-
nhos, empreender projetos, fazer planos, correr riscos, atravessar
o oceano e se colocarem à prova. Por si só, essa é uma atitude vito-
riosa, não importa o desfecho, porque, afinal, tudo é uma questão
de circunstâncias e ponto de vista, algo bem pessoal.
Há diversas faces numa trajetória vitoriosa e, nesta obra, edi-
tada pelo site Euro Dicas, ele mesmo fruto de uma jornada visio-
nária, essas faces todas são reveladas.
A face do planejamento, indispensável na viabilização dos
sonhos que se transformaram em projetos de vida. Uma face tão
incrível que, em muitas dessas narrativas, mostra a capacidade de
reinvenção quando o planejamento falha ou a realidade é outra,
bem diferente da imaginada.
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MISSÃO
EUROPA
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A
insatisfação é o que move as pessoas. É o que faz com que
saiam de sua zona de conforto e decidam mudar de rumo,
virar a chave, ir à luta, encarar de frente os desafios. Os so-
nhos também têm esse poder de nos motivar a dar alguns passos
adiante. E a ambição, essa virtude nem sempre vista como tal, é
outro combustível dessa mesma natureza para nossas ações.
Somados ou de maneira isolada, a insatisfação, os sonhos e a
ambição, cada um a seu tempo, são decisivos para a evolução da
humanidade. Sem qualquer um desses elementos, provavelmente,
ainda estaríamos numa caverna, saindo em busca de alimentos,
friccionando pedras para fazer o fogo e nos aquecer.
No entanto, cá estamos, no século XXI, vivendo num mundo
sem fronteiras, sem obstáculos geográficos que nos impeçam de ir
e vir, ou mesmo de ficar onde desejarmos.
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EUA , JA PÃO E EU RO PA
O brasileiro é inquieto por natureza. Afinal, nada é fácil por aqui.
Nunca foi. E, sempre que há uma possibilidade, uma condição, mu-
dar é um verbo corriqueiramente conjugado entre nós.
Além dos fluxos migratórios* do pós-guerra motivados por
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SEM ILUSÕES
A experiência de quem consegue realizar o projeto de viver fora do
país em que nasceu costuma, além de trazer ganhos em pratica-
mente todos os aspectos da vida pessoal e profissional, mudar per-
cepções, corrigir distorções e desfazer preconceitos que possam
existir em relação à sua terra natal.
Se por um lado fatores negativos encontrados no Brasil, como
baixo nível de escolaridade, desorganização e corrupção, se con-
solidam, por outro, pontos positivos saltam aos olhos e é natural
que haja uma sensibilidade maior em relação a eles.
Gabriela nota uma certa queda em seu entusiasmo inicial com
aquilo que idealizou ser a vida na Europa. “Antes de viver na França,
eu romantizava muito a vida no exterior e achava que tudo no Brasil
era pior. Hoje eu não somente valorizo muito mais o meu país e a cultu-
ra brasileira como sei que ser um estrangeiro não é tão simples quanto
pode parecer. A verdade é que nós sempre seremos estrangeiros, mesmo
que passemos a vida toda naquele lugar. Eu adoro viver aqui, sou muito
feliz em Lyon, mas nem tudo é perfeito”, conclui ela, num raciocínio
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JOGO RÁPIDO
O MELHOR DA FRANÇA: “A segurança. Aqui, a gente pode sair de
madrugada e eu não tenho medo de usar meu telefone na rua, coisa
que eu não faço quando estou no Brasil.”
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P R I M E I R A PA R A D A : I R L A N D A
Erick Gutierrez, 29 anos, deu os primeiros passos de sua história na
Europa a partir de Limerick, uma pequena cidade ao sul da Irlanda.
Mas essa jornada se iniciou muito tempo antes.
Erick começou a trabalhar cedo e sempre soube o que queria
em sua vida profissional. “Trabalho na área de tecnologia desde os 16
anos e nunca me vi em outra atividade. Pode parecer maluco, mas com
21 anos decidi que iria viver fora do Brasil. Virou meta”, lembra ele.
São Paulo, apesar de ainda ser a grande metrópole não só do
Brasil mas da América do Sul, esgota, satura seus habitantes física
e emocionalmente, pois, com a mesma velocidade que abre mil pos-
sibilidades, assassina mil expectativas... diariamente. “Eu estava
de fato cansado da vida que levava em São Paulo, afinal, nem tudo se
resume a dinheiro, não deve se resumir a dinheiro. Minha vontade de
experimentar, conhecer o novo, me desenvolver, me sentir desafiado e
me certificar de que a vida na Europa era o que eu imaginava foi uma
espécie de combustível para alimentar esse sonho”, recorda Erick.
A personalidade de quem resolve partir se revela também em
suas motivações. Nada de errado em romper fronteiras em busca
de dinheiro, isso é legítimo. Apenas não pode ser o único objetivo.
Pode até ser o principal, mas jamais o único, pois corre-se o risco de
repetir a velha receita a ser evitada: colocar todos os ovos numa úni-
ca cesta. Sim, pois, quando se parte com uma única meta, é quase
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R OM P E R A B OL H A , FA Z E R A S M A L A S E PA R T I R
Gutierrez baseou seu plano em três pilares motivacionais. “Foram
três as motivações principais em meu projeto de vida: 1) seguir o so-
nho e viver o que eu imaginava ser a Europa. 2) A experiência de uma
vida com mais qualidade em relação à segurança. Quem vive em São
Paulo ou nas capitais do Brasil sabe do que estou falando. A sensação
de poder andar na rua sem medo é algo que se busca e sem a qual é
impossível falar em vida com qualidade. 3) Uma fuga. Exatamente
isso, uma fuga, uma maneira ‘fácil’ de sair da casa dos meus pais e
viver integralmente a minha vida, gerir meu cotidiano, meus relacio-
namentos, enfim, romper a bolha.”
Não há dúvidas de que foi uma atitude ousada, mas note como
as coisas acontecem primeiro no âmbito psicológico. É na cabeça,
nas ideias, que todo projeto se inicia, e não importa muito se no mo-
mento é um processo consciente ou não. O que vale é que o foco vai
sendo direcionado para o que se quer e cada ação tomada acaba, até
de forma involuntária, conduzindo as coisas para o objetivo maior.
À época, apenas com 21 anos, Erick Gutierrez nem sequer
imaginava aonde a definição daqueles três pilares o levaria em
menos de uma década.
O passo foi dado. Erick chegou à Irlanda em 2014, mas, em vez
de se instalar em Dublin, desfez suas malas na pequena Limerick,
uma cidade que fica a 200 km da capital. “Eu tinha acabado de tirar
a cidadania portuguesa e podia viver em qualquer parte da Europa,
mas a minha namorada, cuja presença era fundamental nesse proje-
to, não tinha a cidadania, pois na época não éramos casados. Então,
precisava de um país onde fosse fácil conseguir um visto que a per-
mitisse estudar e trabalhar, e a Irlanda era a melhor opção tendo em
vista o cenário que se apresentou. Apenas comprando um curso de in-
glês ela poderia estudar e trabalhar por seis meses e, depois, mais seis
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UM A JOR NA DA A DOIS
O Projeto Irlanda foi pensado e implantando em nove meses. O pe-
ríodo exato de uma gestação saudável. “Sempre brinco com isso, que
foi a gestação de um sonho essa etapa mais concreta, pois há tempos
era uma meta. Esses anos todos, até por limitações financeiras, inex-
periências e situações inerentes à idade, eu planejava tudo de manei-
ra muito superficial, mas, do dia que eu comprei as passagens até o
embarque, foram nove meses intensos”, relembra Erick.
“Com as passagens em mãos, cuidei de tudo que precisava ser
feito nesse tempo disponível de nove meses, principalmente viabilizar
o que era necessário, inclusive os trâmites de minha cidadania portu-
guesa, que eram bem mais rápidos do que é hoje. Ao final desse período
de gestação, posso afirmar que o resultado foi um sucesso”, conclui.
Então tudo deu certo? Nem tudo. Em relação às questões de
ordem prática, planejamento cumprido à risca. Porém, a parte emo-
cional, aquela que é impossível planilhar, Erick define assim: “Uma
grande tragédia. Tanto a minha família como a da Fabiane, na época
minha namorada, não apoiaram de forma alguma os nossos planos.
Ao contrário, de certo modo até torceram contra e achavam que não
conseguiríamos ficar mais de seis meses fora do Brasil”.
Erick se recorda que, diante deste cenário, ele e Fabiane aca-
baram desanimando um pouco e até deixaram de compartilhar
algumas situações. “Só voltamos a acreditar mesmo no dia em que
embarcamos. Mas o universo conspira a favor quando o propósito é
bom. Pouco tempo antes de viajarmos, a Fabiane visitou os avós no
Nordeste. Isso foi importante, pois logo nos primeiros meses na Ir-
landa a avó dela faleceu. Teria sido um baque ainda maior caso não
tivesse passado uns dias com eles antes de deixar o Brasil.”
Fabiane, hoje esposa de Erick, sempre foi parte fundamental
desse projeto. Ele conta que, na realidade, quando tomou a deci-
são, jamais havia imaginado cumprir essa jornada sem que ela es-
tivesse ao seu lado. A ida a dois sempre fez parte de todo o planeja-
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PORTAS A BERTAS
Graças ao Acordo Schengen, assinado em 14 de junho de 1985, em
Luxemburgo, na cidade de Schengen, o trânsito entre 26 países
da Europa é feito de maneira livre. Esse acordo estabelece uma
política de abertura de fronteiras, ou seja, a livre circulação de
pessoas entre os países que compõem o Espaço Schengen. Os voos
entre esses países, por exemplo, são considerados voos domésticos
e, para tristeza de muitos que colecionam carimbos em passapor-
te, dispensa essa formalidade, mas, no entanto, o seguro saúde
segue sendo obrigatório. Este acordo está em vigor desde março
de 1995. Dos 26 países signatários do acordo, 22 são membros da
União Europeia. Vale saber mais a respeito desse tratado no www.
eurodicas.com.br/paises-fora-do-tratado-de-schengen/.
E U R O, MOE D A F OR T E
O dólar é a moeda que move a economia global. Por ser a mais estável
historicamente, é a que desperta maior confiança e, por isso, é utili-
zada como padrão nos negócios e referência para cotações de produ-
tos e serviços em praticamente todos os países. Porém, desde 2002,
o Euro, que passou a circular em 1999, possui a cotação maior que
o dólar, isso por conta dos custos em operar com essa moeda, com-
posto por aspectos como impostos (IOF), operacionais e logísticos.
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TER R A DO CONHECIMEN TO
O nível cultural da Europa é altíssimo. Essa excelência pode ser
vista no trato com as pessoas, na vanguarda de suas políticas
que contemplam a diversidade e os valores humanos, no domí-
nio de diversos assuntos de diferentes áreas, na maneira como
insere as artes em seu cotidiano, como valoriza e preserva sua
história. Isso em regra geral, claro, aqui e acolá há os que des-
toam, mas há um ‘padrão europeu’ de qualidade consolidado.
Suas universidades refletem esse conceito e, não por aca-
so, atraem estudantes de todas as partes do mundo. A univer-
sidade como instituição que conhecemos hoje surgiu na Idade
Média e seu berço, pelo menos na parte ocidental do globo, foi
a Europa. A Universidade de Bolonha, na Itália, tida como a
mais antiga do mundo, foi fundada em 1088, embora haja uma
polêmica em relação a esse título, uma vez que na cidade do
Cairo, a Universidade de Al-Azhar registre sua fundação no
Fundada em 1290,
ano de 988. Polêmicas à parte, não se pode negar que a Europa
a Universidade de
faz por merecer o título de berço da civilização ocidental e da Coimbra é a primeira
construção de conhecimento, uma vez que em seu território de Portugal e até o
aconteceram as grandes revoluções da cultura e da ciência, início do século XX
que renderam muitos e bons frutos para toda a humanidade. foi a única instituição
de língua portuguesa
do mundo. É
NOMES DE PESO Patrimônio Mundial
Além de excelência na formação de seus estudantes, as uni- da Humanidade
versidades europeias reúnem histórias incríveis, que só fazem segundo a Unesco.
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E N E M É A C E I T O E M A L GU N S PA Í S E S
Estudar em universidades europeias não é um sonho tão distante,
ainda mais com a aceitação das notas do ENEM para ingressar em
algumas delas. Só em Portugal, mais de 30 instituições abrem suas
portas para os brasileiros com bom desempenho no Exame Nacio-
nal do Ensino Médio. Desde 2014, o Inep (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão ligado
ao Ministério da Educação (MEC), tem acordos de cooperação com
universidades e instituições de ensino portugueses. Em Portugal,
embora haja um grande número de universidades que aceitam a
nota do ENEM, a regra não vale para todos os cursos. Por outro
lado, as vagas para brasileiros são cativas, não se está disputando
com portugueses ou outros europeus, o que melhora consideravel-
mente as chances.
Outros países também aceitam as notas do ENEM na admissão de
alunos brasileiros. No Reino Unido, as universidades de Oxford, Kin-
gston e Bristol consideram a nota, embora por si só ela não garanta o
acesso e submeta o candidato a outras avaliações. França e Irlanda
também contam com instituições que consideram as notas do ENEM,
contudo, o processo nesses países é mais complexo e as exigências
variam de acordo com os cursos e as instituições. O certo é que fazer
ou concluir a formação acadêmica na Europa vale qualquer esforço.
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QU E M PA R T E L E VA S AU D A DE ... E E SP E R A NÇ A
Rodrigo Costa, 33 anos, vive em Lisboa faz quase três anos. É um
típico paulistano, cosmopolita e apaixonado por cidades grandes e
desafiadoras. E foi o desafio que o fez aventurar-se em outro conti-
nente. “O desejo de viver em outro país sempre existiu. Desde adoles-
cente eu desejava fazer intercâmbio e ter uma experiência fora do Bra-
sil. A minha motivação foi seguir esse sonho e vencer o desafio que me
impus. Aos 30 anos consegui concretizar. Foi logo após sair do emprego
que tinha em São Paulo, na área de marketing. Quando recebi o convi-
te, juntei todas as economias que tinha, inclusive da rescisão, e ousei
realizar um sonho da maneira como ele se apresentou”, conta Rodrigo.
Portugal não era a rota traçada nesse desafio. Talvez o cami-
nho mais coerente fossem os Estados Unidos, pois Rodrigo, tam-
bém fluente em inglês, era apaixonado pelo American way of life.
“Mas Portugal caiu no meu colo. Foi ao mesmo tempo uma surpresa
e uma grande oportunidade. Por indicação de um amigo, recebi uma
proposta de trabalho. O sim era a única resposta possível.”
Entre o convite de trabalho e o desembarque em terras lusitanas
foram meses que mudaram por completo a vida de Rodrigo. “Foi um
tempo de planejamento mesmo. Fiz tudo em segredo. Não queria gerar
expectativas nem nos outros nem em mim. Quando dei a notícia foi um
choque para todos na minha família e para os amigos mais próximos.
Mas eu me joguei e parti. O desafio chama e fala mais alto.”
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O VA L OR DE T E R U M A A SSE SSOR I A
Se por um lado não havia barreira de idioma ao chegar em Portu-
gal, outras dificuldades, no entanto, se apresentaram. Encontrar
uma casa para morar foi a maior delas. “Portugal está na crista da
onda para os europeus, que descobriram um país com belezas e atra-
tivos tão encantadores quanto os de destinos distantes – as rotas mais
comuns, como as praias e riquezas culturais da América do Sul e da
Ásia – só que na Europa, o que é financeiramente bem mais viável.
Com isso, tornou-se a primeira opção de muitos, seja para turismo seja
para curtir a aposentadoria e viver bem. O reflexo é sentido logo de
cara no setor imobiliário. Com a alta procura, os valores obviamente
sobem, mas o tempo ajeita tudo e acabamos por entrar no ritmo. Mas
inicialmente é o que mais assusta, sem dúvidas.”
Rodrigo credita boa parte de seu êxito em terras portuguesas
ao planejamento nos meses que antecederam o embarque, mas
lembra como foi relevante contar com uma assessoria especializa-
da nessa jornada. “A empresa que me contratou disponibilizou uma
assessoria bastante efetiva. Isso foi fundamental. Há um programa
específico dedicado aos estrangeiros contratados e isso faz toda a di-
ferença. Mas para quem, porventura, não der a sorte de contar com
uma empresa estruturada nesse sentido, é importante procurar quem
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E X P EC T A T I VA × R E A L I D A DE
Saber lidar com frustrações é importante em qualquer fase da vida
e, no planejamento de quem pretende viver no exterior, é condição
indispensável.
É certo que não há uma receita comum para essas situações;
cada pessoa lida de forma diferente com as adversidades. Rodrigo
Costa adotou como estratégia não gerar altas expectativas, dese-
nhou o pior cenário para que, em vez da frustração, houvesse es-
paço para se surpreender com as conquistas. “Sou apaixonado pelo
Brasil e sabia que seria fácil me decepcionar. Cheguei preparado para
odiar. Mas, por fim, acabei amando Portugal.”
A capacidade de se adaptar às diversas realidades é, de fato, um
diferencial a favor de quem parte para a vida no exterior em busca
de um sonho. “O brasileiro aprende desde muito cedo a fazer as coisas
acontecerem com o pouco que tem. Essa característica ajuda muito na
fase de adaptação. Você segue em frente e se adequa. Dessa forma,
buscando o positivo de cada situação, meu entusiasmo com a vida, o
trabalho e o país só aumentou. Meu projeto de vida sempre passou por
conhecer lugares, pessoas, o mundo. Vir para cá me permitiu isto: não
só viver fora do meu país, mas também conhecer o mundo. As distân-
cias na Europa são pequenas e financeiramente é mais fácil viabilizar
essas viagens”, constata, reafirmando que ainda há muito a conhe-
cer e que os ganhos vão muito além do financeiro nessa jornada. “É
nítido o crescimento cultural. Não dá para mensurar as experiências
que tive e as pessoas que conheci. Quanto vale isso? É uma conquista
que só se tem cruzando oceanos.”
No entanto, apesar de estar totalmente inserido na realidade
e no cotidiano lisboeta, Rodrigo ainda se sente e se vê como um
estrangeiro. “Acho que isso nunca vai mudar. Mas não é um proble-
ma, tampouco xenofobia, embora se torne mais evidente sempre que
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JOGO RÁPIDO
O MELHOR DE PORTUGAL: “A educação das pessoas encanta desde o
início. A cordialidade dos portugueses e dos europeus, de modo geral,
só não é maior do que a beleza de Lisboa.”
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SOGN A E L AV OR A
Nem todo sonho de viver no exterior é um desejo de aventura pro-
tagonizado por um jovem em busca de experiência que o leve a um
futuro melhor. Muitas vezes, a decisão de partir faz parte de um pro-
jeto familiar. Mas será que isso torna a empreitada mais difícil? Não
necessariamente. Como em todas as demais circunstâncias, a res-
posta à essa indagação apresenta variações. A história de Vinícius
Ribeiro, 46 anos, profissional da área digital, mostra que, com pla-
nejamento, sempre é tempo de colocar o projeto de vida em prática.
Um projeto, no caso do Vinícius, com data para começar e terminar.
Vinícius não partiu para a Europa sem conhecimento de causa.
Ele já havia experimentado a vida nos Estados Unidos quando sol-
teiro. Esse período agregou bastante experiência para o momento
em que, posteriormente, já casado e com filho, não errasse a mão
em seu projeto Europa. “Minhas passagens pelos EUA foram funda-
mentais. Na primeira temporada, fiquei lá por quatro meses e, na se-
gunda, por cerca de um ano. Essa curiosidade por outras culturas e
o desejo de aprender outros idiomas sempre estiveram comigo. Acho
que era inevitável essa busca por viver fora do Brasil”, conta Vinícius.
Ainda no Brasil e com uma vida estável em São Paulo, a ideia
de Europa sempre rondou seu plano de vida. Mas que tipo de ma-
luco se arrisca e abre mão da estabilidade profissional e uma vida
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PA R L A C H E T E FA B E N E
Mesmo para aqueles que, como Vinícius, têm mais intimidade com
o idioma, a prática cotidiana da língua pode ser um problema; por-
tanto, jamais menospreze essa necessidade. Por melhor que seja a
sua fluência, aprimore. “Sem dúvidas esta é a maior dificuldade: do-
minar a língua. A comunicação influencia todo o restante como, por
exemplo, procurar emprego, abrir uma conta no banco, comprar um
carro, levar o carro no mecânico, ir ao médico. Mas isso é aprimorado
com o passar do tempo. Porém, chegar no destino com a consciência
de ter um bom domínio do idioma dá mais segurança para os próximos
passos; por isso, dedique-se muito à comunicação”, recomenda Viní-
cius que, mesmo tendo uma boa base, fez um curso intensivo de ita-
liano para melhorar a comunicação. “Uma imersão diária na cultura
do país, assistindo TV, lendo jornal e revistas, falando com as pessoas
na rua, tudo isso ajudou a superar mais rapidamente essa barreira.”
A família Ribeiro chegou ao final dessa jornada com um saldo
altamente positivo em relação ao que foi planejado quando saíram
do Brasil há cinco anos. “É incrível notar como estamos dentro do pla-
nejado. É óbvio que algumas coisas se ajustaram no decorrer dos acon-
tecimentos, mas posso dizer que estamos entre 85 e 95% de acerto. Vi-
vemos quase que exatamente o que nos propusemos”, revela Vinícius.
O segredo desse sucesso é explicado no planejamento feito a
partir do momento em que a decisão foi tomada. Atenção aos de-
talhes é fundamental. “Esteja preparado, financeiramente, fisica-
mente e emocionalmente. Além disso, estude bem a cultura, hábitos
alimentares, clima, tudo isso ajudará você a não ser surpreendido. A
questão do dinheiro e da documentação, sem dúvida, é importante,
mas os aspectos culturais podem definir a continuidade de seu proje-
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A R IQUEZ A DO A PR ENDIZ A DO
Prestes a retornar de mala e cuia ao Brasil após cinco bons anos
vividos na Itália, a família Ribeiro não traz arrependimentos na
bagagem, apenas aprendizados, frutos de uma rica experiência,
que carregarão pelo resto de suas vidas. “O aprendizado é imenso,
em todos os sentidos. Você não volta para casa o mesmo após uma ex-
periência como essa. Somos mutantes, seres em constante formação,
e viver fora da sua zona de conforto agrega bastante conhecimento”,
diz Vinícius. “A experiência em si, os erros, os acertos, as alegrias,
as dificuldades, os amigos, as pessoas que encontramos, as amizades
que fizemos, os lugares que conhecemos, o viver, o comer, o beber, o
amar, o respirar, as relações que construímos, tudo isso só foi possí-
vel porque ousamos sonhar e viver esse projeto”, finaliza.
Ao final dessa jornada, o entusiasmo dos Ribeiro por viver no
exterior não diminuiu, apenas foi, digamos, reconfigurado: “Nos-
so entusiasmo muda, pois nós mudamos, envelhecemos. As conquis-
tas e as derrotas moldam a forma como enxergamos as coisas. Tudo
isso faz parte de um processo extremamente válido. Sou e sempre se-
rei um entusiasta da experiência, da vida. O resto não importa mui-
to. Devemos estar sempre abertos às novas e boas oportunidades”,
ensina Vinícius.
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R ÁPIDA E CERTEIR A
Julia Discacciati, 33 anos, mineira da cidade de Barbacena, na
Serra da Mantiqueira, é o que se pode chamar de uma globetrotter
precoce, afinal, ela saiu para um intercâmbio quando tinha 22 anos
de idade e nunca mais voltou para casa. Pelo menos não para ficar.
Quando Julia estava finalizando a faculdade de Turismo, sur-
giu a oportunidade de fazer um intercâmbio. Ela já tinha passado
uma temporada nos Estados Unidos, mas dessa vez a Europa batia
a sua porta. Essa possibilidade mexeu com ela. “Sempre tive von-
tade de conhecer a Europa, vivenciar a cultura e ter uma experiência
profissional na minha área.”
O destino foi Portugal. Tudo muito rápido. Julia enviou seu
currículo e conseguiu um estágio remunerado em um hotel. Não
havia tempo para muito planejamento – a data para iniciar no
novo trabalho já estava definida. Ela teve de ser prática e rápida.
“Fui a uma agência de viagens, fiz a cotação da passagem e do seguro
de viagem. Pesquisei sobre a cidade onde eu ia morar e enviei os do-
cumentos para o Consulado Português (só podia comprar a passagem
depois que o visto fosse aprovado). O contrato de trabalho era para
um ano e me programei para isso. Fiz as malas pensando em ficar um
ano. Deixei muitas coisas para trás.”
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PA R T I U BU D A P E S T E
A estada em Portugal foi incrível, mas a vida é feita de de-
safios. São eles que nos trazem novas perspectivas e nos im-
pulsionam. Inquieta, Julia buscava outros caminhos, até que,
durante uma viagem a Taiwan, em conversa com um amigo,
veio a inspiração. “A ideia foi buscar trabalho em empresas que
precisavam de pessoas que falassem português. E a oportuni-
dade apareceu em Budapeste, na Hungria. O bacana é que eu já
tinha amigos lá e não sofreria com adaptação, pelo menos era o
*Budapeste,
que eu achava.” a capital da Hungria,
E tome correria. Planejar mudança, providenciar passa- tem esse nome por
gem, devolver a casa em que morava, empacotar o que desse ser formada por
para levar, vender algumas coisas, doar outras, encontrar lugar um lado elevado
chamado Buda
para guardar o que seria despachado depois... tudo em sema-
em um lado plano
nas. “Terminei de embalar o que eu precisaria nos primeiros dias e chamado Peste,
já estava preparada para essa nova aventura.” divididos pelo
Julia chegou sozinha em Budapeste*, a encantadora cida- rio Danúbio.
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INGL AT ER R A E FR A NÇ A
Ingleses e franceses protagonizam outro embate histórico que
remonta à Idade Média. Conhecida como Guerra dos Cem Anos,
na verdade, esse evento durou mais de um século. Historiado-
res registram o início em 1337 e seu final apenas em 1453. No
entanto, não foram 116 anos de batalhas ininterruptas. Mas
que motivo poderia haver para uma guerra durar tanto tempo?
A história conta que tudo começou em 1066, quando um duque
francês de nome Guilherme conquistou a Inglaterra. Criou-se
aí uma situação inusitada, pois, ao mesmo tempo em que era rei
da Inglaterra, ele e seus sucessores ainda deviam obediência
e eram submissos ao rei da França. Contudo, não tardaria para
alguém despertar para esse estranho fato. Não deu outra. Em
1328 o rei da França, Carlos IV, morreu e não deixou sucessor. O
então rei da Inglaterra, Eduardo III, viu aí uma chance de unir
os tronos e reivindicou a vaga deixada por Carlos IV, de quem
era sobrinho. Os nobres franceses não gostaram da ideia e, em
assembleia, escolheram outro rei, um conde chamado Felipe VI.
A partir daí, as relações entre Eduardo e Felipe, marcadas por
grandes tensões e disputas por territórios, deram origem à du- A peça Henrique V,
radoura guerra no ano de 1337. de Shakespeare,
retrata a batalha de
Essa primeira fase do conflito foi até 1360. Em 1420, Agincourt, em 1415.
Henrique V, rei da Inglaterra, reivindicou o trono da França, Foi uma grande
aproveitando-se de uma crise na corte daquele país. Começou vitória inglesa na
novamente o conflito entre os países. Ao final, a França se deu guerra. Cerca de
9 mil soldados
bem, Carlos VII e seu poderoso exército expulsaram os ingle- de Henrique V
ses da Normandia, Guiana e Gasconha. A batalha na cidade de derrotaram 25 mil
Castillon, na França, em 1453, é considerada o fim da guerra. cavaleiros franceses.
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A
CHEGADA
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N
em toda chegada é um novo começo. Pode ser apenas a conti-
nuidade natural daquilo que estamos produzindo até ali. Mas
é inequívoca a afirmação que são novas chances, oportunida-
des que surgem e que, se bem aproveitadas, definem nosso destino.
Não despreze nem jogue fora tudo que você viu, viveu e aprendeu.
Afinal, foi a soma de todas essas vivências que trouxeram você ao
lugar em que chegou. Da mesma forma, não se apegue ao passado,
olhe para frente e abra sua mente para outras possibilidades.
O ponto de partida para todos que pisam em solo estrangei-
ro – não na qualidade de turista, mas daquele chega aonde será
sua casa pelos próximos meses, anos, talvez, pelo resto da vida – é
marcado por algumas incertezas. Será que me adaptarei? E se não
conseguir trabalho? O dinheiro vai dar? Aguentarei o frio? O que
farei sozinho? E se eu perder meus documentos? São tantos ‘e se?’,
tantas perguntas, que é até natural bater a sensação de que você
entrou numa roubada. Mas isso passa. E rápido, pois não há tempo a
perder. Quanto mais cedo acontecer a adaptação, tanto melhor. En-
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DESAFIOS DIÁRIOS
Como superar e vencer esses desafios diários? A dica de Erick é sim-
ples e direta: envolva-se com a comunidade local o quanto antes,
estabeleça relações com os nativos e, na medida do possível, evite
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AO TR ABALHO
Um aspecto que merece atenção em nossa programação mental
como tentativa de nos prepararmos para encarar os desafios da
vida no exterior, está relacionado à busca por trabalho. Logo de
cara será preciso entender que o modelo que temos de emprego
no Brasil não existe na maioria dos países. As garantias trazidas
pela nossa CLT são uma realidade muito particular, que faz frente
às necessidades de países em desenvolvimento e, portanto, não
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AS REGRAS DO JOGO
É fato que normalmente tem-se uma remuneração melhor na Euro-
pa, ainda mais se comparada ao Brasil. Quando então as cabeças
são acostumadas a fazer a conversão da moeda e estabelecer a pa-
ridade com o real, aí é que só se veem vantagens. Mas essa prática
pode ser bem perigosa ao criar uma ilusão de que se está ganhando
rios de dinheiro. Lembre-se: ganha-se em euro, mas as despesas
também são em euro.
Em Portugal, por exemplo, o normal é acertar o salário, em al-
guns casos há o vale-refeição, que não é obrigatório, assim como
um seguro-saúde, que também é opcional, a empresa pode não ofe-
recer em seu pacote de benefícios. Lá também há o chamado sub-
sídio de Natal, que corresponde ao 13º salário no Brasil, e férias
remuneradas. Nesses pontos é bem próximo da nossa realidade.
Erick vivenciou os dois lados da moeda, pois trabalhou como
empregado e também foi empregador em Portugal. “Com o tempo en-
tendi que, devido à alta carga de impostos sobre os salários em Portu-
gal, mais alta do que no Brasil, é mais vantajoso negociar o recebimen-
to de benefícios do que aumento. Eu cheguei a receber o pagamento
da escola da minha filha. A empresa arcava com esse custo em vez de
aumentar meu salário. Foi bom para os dois lados. Conheço casos de
executivos de empresas que ganham salários médios, mas, em com-
pensação, a empresa paga a casa, o carro, as compras, tudo que possa
aliviar a carga tributária”, conta.
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MU DA N Ç A DE PA R A DIGM A S
Há uma riqueza enorme nessa experiência de trabalhar e tentar
carreira fora do país de origem. O choque cultural tem aspectos
bem positivos, refletidos em quem chega sem pressa de voltar e
também naqueles que retornam às origens. A bagagem adquirida,
torna-se diferencial.
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Pontos positivos
• Muita experiência prática, ir além da teoria é admirável.
• Disposição em resolver problemas.
• Criatividade e busca por soluções aparentemente fáceis para casos
complexos, ou seja, nossa capacidade de improvisar.
• Facilidade de adaptação.
Pontos negativos
• Falta de compromissos com datas e horários.
• Dizer que domina determinada técnica ou ferramenta e depois
demonstrar conhecimento apenas superficial.
• Baixo nível de exigência com a própria performance.
• Pouca atenção com a documentação legal exigida para trabalhar.
• Troca de emprego muito facilmente.
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FAT O R T E M P O
Outro ponto que pode causar estranheza nos brasileiros é que, na
Europa as promoções levam mais tempo para acontecer. Parece ha-
ver um outro ritmo, um processo de maturação antes de as coisas
deslancharem. “No Brasil é comum sair de ‘júnior’ para ‘pleno’ em
um ano e meio ou dois em média. Na Europa, isso pode levar no mí-
nimo o dobro de tempo”, releva Erick. Para ser aprovado, leva-se
muito mais tempo na cultura europeia, eles valorizam o resultado
tanto quanto a construção, a trajetória que levou ao bom resul-
tado, seguem os protocolos, há um método nessa maneira de ser.
A cultura de trabalhar e estudar é outra diferença a ser res-
saltada. Lá não é muito comum essa prática. Erick sentiu o reflexo
dessa realidade, pois no Brasil, começou a trabalhar cedo para pa-
gar os estudos. “No meu primeiro e único emprego na Europa, com
apenas 22 anos, eu já tinha seis de experiência na minha área, con-
tando o estágio que fiz aos 16, uma situação impensável para eles,
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E SPA Ç O PA R A T OD A S A S R E L IGIÕE S
A Europa é um continente de maioria cristã, mas, salvo episódios
muito localizados e esporádicos, não há problemas para professar
e praticar qualquer fé, pois é possível encontrar templos católicos
romanos, anglicanos e ortodoxos; igrejas protestantes, mesquitas,
sinagogas; templos budistas e hindus, enfim, há lugar para todas
manifestações e práticas e uma convivência pacífica.
As raízes históricas, no entanto, ligam a Europa ao cristianismo,
já que os principais impérios estiveram sempre ligados ao poder da
Igreja Romana e seus papas. Depois do cristianismo, ateus, agnósti-
cos e muçulmanos aparecem em franco crescimento nas mais varia-
das estatísticas sobre religião. Entre os cristãos, o catolicismo ainda
lidera, apesar de ter estagnado seu crescimento nos últimos anos e,
em alguns países, ter até mesmo visto diminuir o número de fiéis.
Para quem muda de país, manter as práticas espirituais e reli-
giosas é também uma maneira de manter suas ligações com aquilo
que ficou para trás quando deixou sua terra. Encontrar pessoas
que professam da mesma crença conforta e dá um importante su-
porte para enfrentar os momentos de dificuldade. Não raro, mui-
tas comunidades estrangeiras surgem desse convívio em espaços
onde a prática espiritual é um elo significativo que mantém as
pessoas próximas de suas raízes.
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MISSÃO
CUMPRIDA
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A
lgumas frases soam clichê e, mesmo que sejam, não sig-
nifica que estejam esvaziadas de determinadas verdades.
Não raro, refletem a realidade em relação às situações que
tentam traduzir. Talvez a vida seja mesmo um clichê e o desafio
consista em torná-la mais apaixonante, de tal forma que a cada
dia o entusiasmo esteja presente, não apenas nas milhares de boas
ideias que surgem, mas, principalmente, nas atitudes concretas,
que é o que faz a diferença ao fim das 24 horas. Renovar as metas e
não entrar no modo piloto automático é desafiador.
Há uma máxima que diz ‘ser mais difícil manter-se no topo
do que chegar nele’. Eis um clichê que nos ajuda a compreender
a plenitude da Missão Europa, iniciada no primeiro capítulo des-
te livro. É disso que trataremos nas próximas páginas, de como
manter a motivação após conseguir aquilo pelo qual tanto se lu-
tou. Bernardinho, técnico supercampeão do vôlei, acostumou-se
a treinar equipes vencedoras. Erguer taças e ganhar medalhas era
rotina. Para manter o foco e o entusiasmo após tantos triunfos, ele
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O U T R A S ‘ D O R E S D E C A B E Ç A’
Não há um caminho único na luta contra esse marasmo disfarça-
do do conforto pós-conquista. Também, não se trata de não saber
vencer. Há que se saborear e desfrutar o que foi honesta e justa-
mente conquistado. Esse texto não é uma ode ao mau humor, ape-
nas uma necessária pulga atrás das orelhas dos que chegam lá e lá
pretendem permanecer.
Manter-se focado é um dos antídotos recomendados. Manter
o sonho vivo, ampliá-lo, torná-lo tão gigante quanto possível ali-
menta a motivação. Óbvio que não se trata de um comportamento
juvenil ou descolado da realidade e das possibilidades. Reconhe-
cer limites, também nesses momentos, é saudável e não inibe em
nada o apetite pelo crescimento, desenvolvimento ou aprimora-
mento, caso já tenha encontrado o tamanho exato de seu projeto.
Sair da zona de conforto não significa cair numa zona de des-
conforto. Não que isso seja de todo ruim afinal. Como bem disse
Lee Iacocca, um ousado empresário da indústria automobilística
no século XX, “se a vida estiver amarga, dê uma chacoalhada, o
açúcar pode estar embaixo”. Ninguém, em sã consciência, vai op-
tar por uma vida de preocupações e estresse, mas sempre vale o
esforço de buscar o doce onde quer que ele esteja, disso não há
quem duvide. Não há dilema possível na escolha entre o bom e o
ruim, essa escolha já está feita. Na vida, a verdadeira escolha tem
de ser sempre entre o que bom e o que é ou pode ser melhor. A aco-
modação nunca chegará aos que olham para a vida sob esse viés.
O oposto do conforto é o ambiente criativo, desafiador, esti-
mulante. É nele que ideias e oportunidades ficam claras e que os
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PA R A QU EM F IC A . . . P ROV I DÊ N C I A S
Ir para a Europa e nela permanecer por muito tempo – talvez pelo
resto da vida. Este é o plano de boa parte dos brasileiros. Outros,
como Vinícius Ribeiro, que nos contou sua jornada na Itália, pro-
jetam um prazo e retornam. Esses enfrentarão o desafio da readap-
tação a uma realidade bem diferente daquela vivida na Europa, po-
rém, com a vantagem de estarem mais experientes do que quando
partiram, e perto de tudo e todos que ficaram para trás o que, sem
dúvidas, é um tremendo ganho, principalmente emocional.
Já os que decidem ficar terão de enfrentar o desafio de assi-
milar plenamente o que significa uma vida europeia, pressupondo
que houve um importante aprendizado durante o tempo em que a
decisão de permanecer foi tomada. Culturalmente falando esses
pontos já foram abordados nos outros capítulos. Agora, providên-
cias práticas, como cidadania e educação dos filhos, precisam ser
consideradas. Trata-se de um planejamento de longo prazo, que
precisa estar permanentemente no radar.
As regras dos processos de cidadania variam de país para país;
no entanto, o volume de documentos necessários é considerável.
O Euro Dicas trata desse tema de forma detalhada, em diversos ar-
tigos, mostrando, inclusive, o que cada país solicita a quem pre-
tende iniciar o processo. Vale uma leitura atenta. As informações
certamente ajudarão na elaboração do planejamento e, principal-
mente, na busca pelos documentos necessários, uma etapa que
normalmente consome tempo e dinheiro.
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AT I T U D E E CO M P RO M I S S O
Empreender, como todo verbo transitivo, exige complemento para
ter sentido. É transitivo e direto, um verbo de ação, que tem peso,
contundência e chama ao comprometimento. Na prática da vida é
essa a postura exigida daqueles que possuem o espírito empreen-
dedor. E, seguindo na metáfora, o complemento a esse verbo pode
ser compreendido como uma atitude proativa, que leva à realiza-
ção. E tem de ser direto, manter o foco e a determinação. Empreen-
der é mais do que um verbo, é uma atitude de peso, contundente e
que chama ao comprometimento.
No Brasil, o espírito empreendedor é quase que uma impo-
sição aos que pretendem uma vida melhor. São raras as posições
como empregado que oferecem o pacote ganho financeiro, plano
de carreira em sintonia com o projeto de vida que se tem e satis-
fação pessoal. Tampouco oferecem o que talvez seja o mais impor-
tante para quem nasceu com esse espírito: estar no controle, ou ao
menos ter a sensação de que se está no controle. Como empregado,
a ideia do ‘não sou conduzido, conduzo’, o lema da bandeira da
cidade de São Paulo citado na abertura deste livro, simplesmente
não existe e, para o empreendedor, não ter as rédeas do negócio,
abrir mão do poder de decidir rumos e estratégias é praticamente
o inferno na terra.
Não são poucos os brasileiros que partem para o exterior e
carregam esse sonho de ter o negócio próprio. E há espaço para
todos os perfis de empreendedor, desde os mais versáteis, que
fazem de manutenção predial completa, aos desenvolvedores de
aplicativos e tecnologias bem sofisticados para as mais diversas
áreas e setores.
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EDUC AR-SE
A consciência empreendedora precisa ser educada para a realidade
de hoje sem perder de vista as projeções do futuro. É um equívoco
acreditar que empreender é abrir mão do emprego, ter uma ideia
na cabeça e sair por aí, batendo de porta em porta, até que alguém
perceba o quão genial é a sua ideia e que os clientes se estapeiem
por seu atendimento.
Empreender requer consequência. Arriscar-se é importante,
mas fazê-lo de qualquer forma é estupidez e pode custar caro.
Abandonar o emprego, ao contrário do que muitos pensam, não
é o início da realização do sonho ou do projeto. Sonhos e projetos
exigem antes um propósito bem definido, clareza de ideias, saber
o que quer e aonde quer chegar. O próximo passo é o 'como' e pres-
supõe planejamento, uma tecla batida insistentemente em cada
página dessa obra. E, o principal, definir propósito e planejar tem
de acontecer antes de se largar o emprego. É assim que nasce a
consciência empreendedora, de forma consequente e madura.
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NO C U R SO DO DESEN V OLV I M EN T O
A Europa é um continente de maioria cristã, mas, salvo episódios
muito localizados e esporádicos, não há problemas para professar
e praticar qualquer fé, pois é possível encontrar templos católicos
romanos, anglicanos e ortodoxos; igrejas protestantes; mesquitas;
sinagogas; templos budistas e hindus, enfim, há lugar para todas
manifestações e práticas e uma convivência pacífica.
Os rios são partes importantes da construção e desenvolvi-
mento da Europa. Por eles escoam de maneira sustentável, eco-
logicamente correta e economicamente viável boa parte das ri-
quezas do continente. Impressiona o modo como as cidades se
desenvolveram às suas margens e o jeito como as pessoas se rela-
cionam com eles. São locais de lazer, fontes de renda para diversos
setores e pontos turísticos.
As hidrovias implantadas criaram um eficiente e lucrativo
modelo de logística. Suas rotas tiraram das estradas um signifi-
cativo número de caminhões. Isso impacta positivamente a qua-
lidade de vida das pessoas ao diminuir os congestionamentos e
acidentes. Na economia local os efeitos também são sentidos, pois
o transporte pelo rio tende a ser mais barato. Com os custos opera-
cionais menores, os preços finais, como consequência, caem.
O meio ambiente também colhe os efeitos que essas boas
águas provocam. Com a diminuição no consumo de combustíveis e
na emissão de poluentes, o ar fica bem melhor de se respirar.
Para nós brasileiros, essa relação impressiona ainda mais. Em
pouco mais de 500 anos de história, foram poucos os momentos em
que nossos rios tiveram o protagonismo merecido. E nada indica
que essa cultura irá mudar. Apesar de termos muitos rios navegá-
veis cortando nosso país, a prática não caminha para esse modelo
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FA MOSOS E I M P OR T A N T ES
Historicamente os rios europeus se prestaram ao papel de ser o
‘meio de comunicação’ com o mundo. Foram palcos de conflitos
também. Atualmente, cumprem uma função estratégica na eco-
nomia: quem sabe utilizá-lo em todo seu potencial, leva vantagem
na disputa pelo poder econômico dentro e fora do continente.
A maioria dos países da Europa tem pelo menos um rio como
referência. Pensou em Portugal, pensou no Tejo, no D’Ouro – um
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A U N I ÃO QU E FA Z A F OR Ç A
Dos 50 países europeus, 27 fazem parte da chamada União
Europeia. Juntos eles respondem por um território de qua- Dos 27 países, 19 aderiram
se 5 milhões de km2, ou seja, praticamente a metade de à moeda comum formando
todo o continente. A população dessa região é de cerca de a zona do euro. De acordo
446 milhões de habitantes, segundo dados oficiais da UE. com a União Europeia, são
340 milhões de cidadãos
movimentando a economia de
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moeda única nessas 19 nações.
No bloco da União Europeia falam-se 24 línguas oficiais di- São eles: Alemanha, Áustria,
ferentes: búlgaro, croata, checo, dinamarquês, holandês, Bélgica, Chipre, Eslováquia,
inglês, estônio, finlandês, francês, alemão, grego, húnga- Eslovênia, Espanha, Estônia,
ro, irlandês, italiano, letão, lituano, maltês, polonês, por- Finlândia, França, Grécia,
Irlanda, Itália, Letônia,
tuguês, romeno, eslovaco, esloveno, espanhol e sueco. Mas
Lituânia, Luxemburgo, Malta,
não se preocupe, com um bom inglês dá para conviver bem Holanda, Portugal. O euro
na maioria dos países, mas sempre lembrando que apren- foi introduzido como moeda
der a língua local ajuda na adaptação e é sinal de respeito. comum no ano de 2002.
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ER A UM A V EZ UM BLOG...
Euro Dicas é um site de informações sobre como viver na Europa,
escrito por brasileiros para brasileiros. Até aí poderia ser apenas
mais um slogan de qualquer espaço ou publicação voltada aos tu-
ristas ou às muitas pessoas que sonham em fazer a vida fora do
Brasil em algum país europeu. Mas por trás dessa marca forte, cla-
ra e objetiva, que já na primeira leitura diz a que veio, tem uma
história bem costurada pelo destino e por seus protagonistas.
A iniciativa de Fabiane Fernandes foi fruto de uma experiên-
cia pessoal bastante desagradável, que fez com que ela notasse a
lacuna que havia para quem buscava informações objetivas sobre
a vida na Europa. Erick Gutierrez, marido de Fabiane e co-funda-
dor do site, recorda as circunstâncias em que tudo aconteceu: “A
Fabi ficou frustrada ao chegarmos em Limerick, na Irlanda, e encon-
trar uma realidade completamente diferente de tudo que havia lido
em pesquisas antes de embarcar.”
A indignação da Fabiane encontrou abrigo no conhecimen-
to de Erick em tecnologia. Bingo! Nasceu ali, no formato simples
de um blog quase pessoal, um espaço com o objetivo de oferecer
dicas práticas e informações sobre a Europa. “Era tudo muito pes-
soal, falava do cotidiano, as fotos do blog eram de nossas viagens.
Notamos que era preciso ir além para ser, de fato, um espaço que aju-
dasse as pessoas. Esse desejo virou nosso mantra: ‘queremos ajudar
os brasileiros que desejam morar na Europa’. A ideia de evitar que
outros passassem pela mesma frustração que Fabiane tornou-se
algo grande e relevante, influenciou a vida de muita gente e mu-
dou a vida do casal.
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Fontes de Pesquisa: BBC, O Tempo, Folha de S. Paulo, O Globo, O Público, Eurostat, História do Mundo, Leituras da História,
Gestão&Negócios, O Pensador, www.eurodicas.com.br/europa.eu/european-union/about-eu/figures/living_pt, worldometers.info/,
politize.com.br/migracoes-historia-mundial/; historiaonline.com.br/fronteiras-fortificadas-no-mundo-atual/
Essa Europa, sempre relevante, pode ser o espaço ideal para você escre-
ver a sua história pessoal e profissional. O lugar que reúne e oferece con-
dições para realizar, evoluir e consolidar seu projeto de vida. Esses são os
verbos mais conjugados pelas pessoas que relatam, nesta obra publicada
pelo Euro Dicas, parte importante de suas jornadas no Velho Continente.
Leia e inspire-se.