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O SONHO DE

VIVER NA
EUROPA

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O SONHO DE
VIVER NA
EUROPA

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Euro Dicas - O Sonho de Viver na Europa – 1ª edição 2020

EXPEDIENTE
Direção Editorial: Sandro Aloisio
Projeto Gráfico e Direção de Arte: Fernando Morra
Capa: Fernando Morra
Edição: Sandro Aloisio, Gyselly Mendes e André Rezende
Revisão: Alexandre Camaru e Naza Bahia
Assessoria Editorial: Crica Gomes e Paula Noah
Tratamento de Imagens: G. Andrade
Agradecimentos: Fabiane Gutierrez, Gabriela Glette, Julia Discacciati, Erick Gutierrez,
João Henrique Silva, Rodrigo Costa, Vasco Esteves e Vinícius Ribeiro

Euro Dicas - O Sonho de Viver na Europa é uma obra produzida e editada pela editora
Texto & Traço sob encomenda da Wcontent/Euro Dicas, a quem todos os direitos são
reservados. Não é permitida a reprodução de qualquer parte do conteúdo desta obra, por
qualquer meio, sem a autorização expressa e por escrito dos detentores de seus direitos.
Visite: www.eurodicas.com.br

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R OT E I R O

09 ................................................................ apresentação
12 ................................................................ Missão Europa
18 ................................................................ a palavra é planejamento

EU FUI!

24 ................................................................ foco nos estudos em Lyon


30 ................................................................ primeira parada: Irlanda
42 ................................................................ quem parte leva saudade... Lisboa
48 ................................................................ sogna e lavora: Roma
56 ................................................................ rápida e certeira em Budapeste

A CHEGADA

70 ................................................................ começando do zero


74 ................................................................ desafios diários
80 ................................................................ ao trabalho
85 ................................................................ mudança de paradigmas

MISSÃO CUMPRIDA

98 ............................................................. o ponto B
100 ............................................................. a zona de ‘desconforto’
104 ............................................................. para quem fica… providências
108 ............................................................. empreender – atitude e compromisso
112 ............................................................. ficar ou voltar? eis a questão
116 ............................................................. eu fiz
124 ............................................................. o site

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A P R E S E N TA Ç Ã O

A
vida acontece independentemente de nossas vontades.
Muita gente vive bem assim, na base do “deixa a vida me
levar”. É uma escolha. Mas há aqueles que fazem a opção de
protagonizar a própria existência e simplesmente não aceitam ser
levados, adotam para si o lema escrito, em latim, na bandeira da
cidade de São Paulo: Non ducor, duco, em bom português, o elo-
quente, Não sou conduzido, conduzo.
Este livro nasceu da ideia de contar histórias que, ao final,
resumem esse espírito desbravador, inquieto, ambicioso, estraté-
gico, resiliente e perseverante. Pessoas que ousaram realizar so-
nhos, empreender projetos, fazer planos, correr riscos, atravessar
o oceano e se colocarem à prova. Por si só, essa é uma atitude vito-
riosa, não importa o desfecho, porque, afinal, tudo é uma questão
de circunstâncias e ponto de vista, algo bem pessoal.
Há diversas faces numa trajetória vitoriosa e, nesta obra, edi-
tada pelo site Euro Dicas, ele mesmo fruto de uma jornada visio-
nária, essas faces todas são reveladas.
A face do planejamento, indispensável na viabilização dos
sonhos que se transformaram em projetos de vida. Uma face tão
incrível que, em muitas dessas narrativas, mostra a capacidade de
reinvenção quando o planejamento falha ou a realidade é outra,
bem diferente da imaginada.

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A capacidade de se adaptar é outra face revelada. Como dis-
se Charles Darwin: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais
inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. Essa é uma
realidade inexorável nas jornadas vitoriosas. Adaptar-se ao clima,
à comida, aos hábitos, aos costumes, à economia e a toda sorte de
hostilidade é uma virtude. As dificuldades são transformadas em
aliadas e revelam a face da resiliência que, afinal, é o que fez cada
um de nossos personagens seguir adiante em seus projetos.
Embora diferentes entre si, essas histórias inspiradoras apre-
sentam um método por trás delas. Nada foi aleatório ou aconteceu
ao acaso. Algumas tiveram mais tempo de planejamento, outras
mais ou menos recursos financeiros, algum ou nenhum suporte da
família, oportunidades de emprego logo de início, mas em todas
elas encontramos elementos em comum, seja na personalidade e
na atitude de quem as protagonizou, seja nas soluções encontradas
para os problemas que surgiram. É quando o projeto que motivou
a partida do Brasil se consolida por meio dos estudos concluídos,
que se transformam em novos desafios acadêmicos ou numa meta
de trabalho. Ou do emprego conquistado que, após um tempo, vi-
rou o desejo por promoção ou por empreender e, por fim, constituir
família e estreitar de vez os laços com o Velho Continente. Ou pela
conquista da tão almejada qualidade de vida, esse sim um troféu do
qual não se abre mão, não importando o quanto de esforço, traba-
lho e dedicação se exija. E a exigência é enorme, feita de escolhas
que, pela própria natureza, significam renúncia ao conforto, à se-
gurança emocional e financeira, ao convívio com pessoas queridas.
Cada linha desta obra é fruto de experiências reais, vividas
e sentidas por quem as narra, seja em primeira pessoa, seja como
fontes dos artigos do Euro Dicas, que serviram de fio condutor
para os relatos.
Longe de ser um romance, O Sonho de Viver na Europa é uma
obra que pretende inspirar aqueles que nutrem esse desejo, dispo-
nibilizando estratégias, apontando caminhos que outros já trilha-
ram, mostrando que é possível e que vale a pena investir em pla-
nejamento para fazer desse desafio mais uma história de sucesso.

Erick Gutierrez – cofundador do Euro Dicas

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“O INSUCESSO
É APENAS UMA
OPORTUNIDADE
PARA RECOMEÇAR
COM MAIS
INTELIGÊNCIA.
Henry Ford

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MISSÃO
EUROPA

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Mais conhecido como aeroporto Madri-Barajas, o Adolfo Suárez surpreende
por seu arrojo arquitetônico, sua funcionalidade e sua sustentabilidade.
O projeto mundialmente premiado é assinado pelos arquitetos Antonio Lamela
e Richard Rogers. É uma das principais portas de entrada da Europa.
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HOR A DA DECISÃO. MA S ANTES...

A
insatisfação é o que move as pessoas. É o que faz com que
saiam de sua zona de conforto e decidam mudar de rumo,
virar a chave, ir à luta, encarar de frente os desafios. Os so-
nhos também têm esse poder de nos motivar a dar alguns passos
adiante. E a ambição, essa virtude nem sempre vista como tal, é
outro combustível dessa mesma natureza para nossas ações.
Somados ou de maneira isolada, a insatisfação, os sonhos e a
ambição, cada um a seu tempo, são decisivos para a evolução da
humanidade. Sem qualquer um desses elementos, provavelmente,
ainda estaríamos numa caverna, saindo em busca de alimentos,
friccionando pedras para fazer o fogo e nos aquecer.
No entanto, cá estamos, no século XXI, vivendo num mundo
sem fronteiras, sem obstáculos geográficos que nos impeçam de ir
e vir, ou mesmo de ficar onde desejarmos.

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Esse novo mundo não se trata do virtual da internet, mas sim
do real, globalizado, que tem oferecido boas oportunidades para
quem ousa sair da zona de conforto e buscar, por qualquer que seja
o motivo, um lugar melhor para se viver. Para isso, no entanto, é
necessário mais do que vontade e coragem. É preciso planejamen-
to, organização e conhecimento; caso contrário, o sonho pode se
tornar, muito rapidamente, um pesadelo ou, na menos pior das hi-
póteses, uma grande frustração.
Desde os tempos bíblicos, há relatos de pessoas se deslocan-
do de um lugar para o outro motivadas por um sonho, um desejo,
uma necessidade. No século passado, principalmente nos perío-
dos de pós-guerra, o mundo vivenciou esses fluxos migratórios*
num volume bastante significativo. Foi graças a esses movimen-
tos que muitos projetos saíram do papel, do campo das idéias, e
tornaram-se realidade.
Os sonhos daqueles que ousaram atravessar oceanos influen-
ciaram de forma decisiva os rumos de muitos países. O Brasil foi
um dos portos preferenciais, principalmente entre os povos eu-
ropeus, de pessoas que viram nessa terra uma oportunidade de
recomeçar.
Tente imaginar o desenvolvimento de São Paulo, do Paraná e
de Santa Catarina sem a presença de italianos, alemães, ingleses,
portugueses e espanhóis. Mais do que malas, pertences e expecta-
tivas, os imigrantes trouxeram conhecimentos e experiências que
muito contribuíram para a agricultura e o processo de industria-
lização do Brasil.
Graças a esses deslocamentos, muitos países da América do
Sul saíram da estagnação econômica e deram um salto em seu de-
senvolvimento social e econômico.

EUA , JA PÃO E EU RO PA
O brasileiro é inquieto por natureza. Afinal, nada é fácil por aqui.
Nunca foi. E, sempre que há uma possibilidade, uma condição, mu-
dar é um verbo corriqueiramente conjugado entre nós.
Além dos fluxos migratórios* do pós-guerra motivados por

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questões óbvias, em tempos de paz esses movimentos tam- *Migração:
bém ocorrem. Não há um motivo único ou comum a todas as deslocamento de
uma pessoa ou de
pessoas, cada uma tem sua razão, mas, para a maioria dos bra-
um grupo de pessoas
sileiros, o fator econômico ainda é o principal, seguido pela de uma unidade
busca por melhor qualidade de vida e novas oportunidades geográfica para
profissionais. outra através de uma
Nas décadas de 1980 e 1990, presenciamos significativa fronteira política
ou administrativa,
movimentação de brasileiros para outros países. Os destinos
com o intuito de se
eram, majoritariamente, Estados Unidos e Japão. instalar definitiva ou
A busca pelo American Dream ganhou um capítulo espe- temporariamente em
cial, até mesmo pitoresco à época, pois ocorria um desloca- um lugar diferente de
mento em massa de pessoas que partiam regularmente da ci- seu lugar de origem.
dade mineira de Governador Valadares, que fica a 315 km da
capital do estado, Belo Horizonte. Criou-se praticamente uma
ponte aérea entre Valadares e os EUA. No auge, em 1980, cerca
de 15% da população (34 mil pessoas) dessa cidade emigrou
para os Estados Unidos, segundo dados do Projeto Remessas,
desenvolvido pelo Sebrae. Ainda hoje, cerca de 8,89% da popu-
lação vive lá, de acordo com dados oficiais da prefeitura.
O fato é que essa onda de emigração injetou na economia
local vultosas quantias em dólares, fruto das economias que
os brasileiros faziam na terra do Tio Sam e enviavam para os
familiares no Brasil, o famoso pé-de-meia.
Valadares acabou por atrair também brasileiros de outros
estados, pois oferecia know-how àqueles que almejavam viver
esse sonho, fazendo tudo parecer mais fácil.
Mas não foram poucos os sonhos que se tornaram pesadelos
devido às regras mais rígidas para imigração nos Estados Uni-
* Decasségui:
dos e à famosa constatação de que não existe almoço grátis. Ou
junção das palavras
seja, desconfie sempre de facilidades e milagreiros de plantão. japonesas “deru”
Diferentemente do que aparentava acontecer nos EUA, a (sair) com “kasegu”
busca de oportunidades no Japão não era tão simples. Nesse (ganhar dinheiro),
país, a permissão de trabalho para brasileiros estava restrita conforme consta
em “História de
aos descendentes de japoneses, os chamados decasséguis*,
um Decasségui”.
que partiam daqui com contrato de serviço, alojamento e salá- Disponível em:
rio já definidos. Não havia espaço para aventuras nem impro- https://bit.
visos, como no American Dream. ly/3gvVm9C.

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A V E Z DA EU RO PA
Tanto nos EUA como no Japão, o que geralmente esperava os bra-
sileiros era o trabalho duro na indústria automobilística, na cons-
trução civil ou em serviços menos qualificados, aqueles que os
nativos não se dispunham a fazer. Contudo, o aspecto econômico
fazia valer o sacrifício. Comparado ao que se conseguia ganhar
por aqui, o salário pago em outra moeda fazia os olhos brilharem.
Ficar distante da família e dos amigos por meses ou anos era um
preço que valia a pena pagar.
Lembre-se de que, na época, não havia internet, telefonia
celular e tampouco redes sociais. A ordem era engolir o choro e
seguir em frente.
A geopolítica mundial, no entanto, mudou rapidamente. A
União Europeia se fortaleceu como bloco político e econômico.
Com uma população envelhecida e repleta de necessidades a serem
atendidas para garantir todo o seu potencial de crescimento, a re-
gião tornou-se receptiva à chegada de estrangeiros. Era a história
se repetindo, mas a roda, dessa vez, girava no sentido inverso.
Como, no passado, o Brasil havia sido o destino de milha-
res de famílias europeias que aqui criaram suas raízes, tiveram
filhos e netos, e, não raro, realizaram seu objetivo de vida. Com
isso, muitos brasileiros herdaram sangue e sobrenomes europeus,
o que facilitou a possibilidade de viabilizar uma vida de estudos e
trabalho em alguns países da Europa. Paralelamente, EUA e Japão
deixaram de ser tão atraentes para aqueles que não viam muitas
chances de realizar suas ambições pessoais no Brasil, fosse por
questões políticas e econômicas ou simplesmente pela experiên-
cia de repetir o movimento já feito por seus antepassados.
O sonho europeu passou a ser uma possibilidade real.

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A PA L AV R A É P L A N E JA ME N T O
Deixar o país de origem não é uma decisão fácil de se tomar. Esse
desejo pode revelar a triste realidade de não haver boas perspecti-
vas, ou seja, uma crise constante e interminável que mina a espe-
rança a tal ponto que viver longe de tudo que se tem e que se ama
passa a ser uma boa opção. Por outro lado, tentar olhar o copo ‘meio
cheio’, revela também a inquietação de quem quer o ‘algo mais’ da
vida, que pode sim ser conquistado na terra natal, mas que ganha
outra medida quando se imagina rompendo fronteiras e desafios
que somente jornadas como essas podem proporcionar.
Algumas pessoas partem em busca de ganhar um bom dinhei-
ro e ponto. Para atingir o objetivo, não se importam com o tipo de
trabalho que terão de fazer. Aceitam o que surgir, mesmo que seja
algo completamente fora da própria carreira; afinal, o importante
é viabilizar o projeto para se chegar ao objetivo. Provavelmente

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não teriam a mesma postura no Brasil. Salvo em situações críticas
e específicas, dificilmente encontramos um engenheiro lavando
pratos, um advogado servindo mesas, uma nutricionista atuando
como recepcionista ou fazendo faxina. Mas no exterior a realidade
é outra. Não tem nada a ver com orgulho ou falta de humildade.
Essa é uma característica de quem imigra. A busca diária é antes
de tudo pela sobrevivência. Foi assim com os primeiros europeus
que chegaram ao Brasil no século passado. Muitos deles começa-
ram por baixo e com o passar do tempo construíram seus impérios.
Brasileiros repetem esse enredo até que conseguem se estabele-
cer. Outros, por circunstâncias mais favoráveis, têm mais caixa
para aguentar até que surja algo em sua área de atuação. Seja qual
for o perfil, no entanto, é preciso estar preparado financeiramen-
te e, com muita força mental, superar os próprios limites, vencer
conceitos e preconceitos, revisitar e reformular convicções, tudo
isso é imperativo, pois a adaptação requer trabalho, paciência e
perseverança.

GANHO ALÉM DO F INANCEIRO


Quem parte em busca de formação acadêmica, aprimoramento
profissional em cursos técnicos ou atuação na área de pesquisas
tem considerações bem diferentes daqueles que vão apenas para
trabalhar e ganhar dinheiro. São outras questões, outro olhar,
outro recorte, outro planejamento. No site Euro Dicas, especiali-
zado em Europa e em tudo que envolve projetos de quem pretende
viver por lá, o artigo de Carolina Carvalho (https://www.eurodi-
cas.com.br/estudar-no-exterior/) ressalta que a rica experiência
de estudar lá garante, além de incrementar o currículo e, conse-
quentemente, melhorar as perspectivas profissionais, um ganho
cultural inestimável que somente o Velho Continente proporcio-
na, “como o aumento da network e a possibilidade de estudar nas
melhores universidades do mundo”. O artigo traz ainda um menu
completo que ajuda na elaboração do planejamento, tendo em
vista que, em termos de educação em qualquer área, a Europa é o
centro do mundo, portanto faz-se necessário entender o que cada

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país e instituição tem a oferecer de melhor e qual,
seja pelo custo seja pela reputação, melhor se ade-
“EU APRENDI A ACEITAR qua aos seus objetivos.
E ENFRENTAR DESAFIOS Países de todos os continentes enviam seus
QUE EU NUNCA jovens para institutos e universidades europeias;
dessa forma, o brasileiro que consegue viabilizar
HAVIA IMAGINADO uma formação nesse nível terá o privilégio de con-
ANTES. CRESCIMENTO viver com inteligências do mundo todo, uma rique-
E CONFORTO, za cultural imensurável.
DEFINITIVAMENTE, Finalmente há, ainda, os que carregam con-
sigo o espírito empreendedor e topam o desafio de
NÃO COEXISTEM.” vencer na terra de gigantes. A instabilidade políti-
Ginni Rometty – CEO da IBM ca e econômica do Brasil sempre foi empecilho para
quem tem esse perfil. Soma-se a isso o custo para
manter um negócio saudável e duradouro. Esses
problemas já não são encontrados na Europa. Esses não, mas ou-
tros com certeza.
Mas a decisão de quem empreende não passa por fugir de
problemas, mas sim pela capacidade e condições de resolvê-los, e
essas condições a Europa oferece. O próprio Euro Dicas é fruto de
uma história empreendedora de sucesso protagonizada pelos fun-
dadores Erick e Fabiana Gutierrez. Uma história que será contada
mais adiante.
Nas próximas páginas, os relatos de quem ousou cruzar o
oceano e tentar a vida na Europa darão uma melhor dimensão
das motivações e da realidade que cada um enfrentou. Todos os
elementos aqui citados aparecem em maior ou menor grau nessas
histórias. Vale notar, no entanto, que nessas narrativas a palavra
‘planejamento’ é constante e foi crucial para que as coisas dessem
certo, mesmo quando o inesperado, o imponderável surgia.
O site Euro Dicas comprova em seus artigos essa necessidade
de um planejamento amplo e atento a cada detalhe, propondo de-
finições e questionamentos que diminuem consideravelmente os
riscos dessa empreitada, seja para quem quer trabalhar e empre-
ender, seja para quem quer só estudar. É justamente a clareza de
todas essas questões que acabam por diferenciar essa jornada de
vida de uma aventura turística.

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R E SP E I T O AO PA SS A D O
Tem um samba famoso no Brasil, escrito e interpretado por Jorge
Aragão, cujo refrão diz “respeite quem pode chegar aonde a gente
chegou”. Há várias leituras possíveis nesse trecho da música, uma
delas serve para praticamente todas as áreas da vida de qualquer
pessoa: é preciso olhar com respeito, atenção e, em alguns casos,
até com admiração para aqueles que já trilharam o caminho que
estamos prestes a iniciar. É sinal de maturidade, humildade e sa-
bedoria, pois essas experiências de vida são de grande valia na
hora de tomar decisões.
Não é por acaso que sociedades desenvolvidas valorizam, pro-
tegem e reverenciam os idosos. Os anciões são conselheiros, mo-
delos a serem seguidos. São os que chegaram antes, percorreram
o caminho e deixaram como legado histórias, nem
sempre vitoriosas, mas de grandes ensinamentos
para todos que têm sede e gana de aprender. E o que “NUNCA DEIXE QUE O
é a vida se não um grande aprendizado? Imaginar FRACASSO ENTRE EM
que já se sabe tudo é um erro.
Uma frase de Soichiro Honda (1906-1991), fun-
SEU CORAÇÃO E NEM
dador da Honda Motor Company, define esse espírito QUE O SUCESSO LHE
de eterno aprendiz. Ele dizia, aos seus colaborado- SUBA À CABEÇA”
res, que vivia no presente para construir o futuro, Soichiro Honda
mas nada seria possível sem observar as experiên-
cias, do passado. Com essa filosofia, o visionário en-
genheiro superou bombardeios em sua oficina durante a guerra e
o boicote governamental no mesmo período. Soichiro ouviu ainda
da empresa, da qual viria a ser o principal concorrente, que suas
peças não atendiam aos padrões de qualidade exigidos. Pesquisou,
seguiu a orientação de um antigo professor e fez melhor. Seu nome
tornou-se referência no setor automotivo.
Mas nem todo mundo será um Soichiro Honda, e esse não é
o objetivo. Nenhuma história de vida é igual a outra. Não há uma
receita pronta, na qual se encaixam habilidades, competências,
projetos e, num passe de mágica, tem-se o sucesso. A singularida-
de é um dos principais temperos da vida. É essa característica de
sermos únicos que nos permite olhar essas histórias e tirar delas

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ensinamentos, observar os mesmos fatos e enxergá-los de forma
diferente. Essa capacidade de perceber o que vitórias e, principal-
mente, infortúnios nos ensinam, pode ser um diferencial positivo
no planejamento de quem almeja viver na Europa.

BUSC A S E (DE S)ENCONT ROS


Nas páginas que seguem, o contundente Eu Fui!, mais do que uma
expressão que reflete a afirmação de algo realizado, traduz a atitu-
de face a um sonho. Cada um dos personagens que generosamente
divide suas experiências, revela o verdadeiro espírito com o qual
se deve encarar um projeto desse nível: viver como estrangeiro
não é para amadores. Imagine, então, vencer o desafio de triunfar
no Velho Continente? É preciso coragem, ousadia e planejamento.
Mulheres e homens, com sonhos e objetivos que por vezes se
cruzam e em outros se distanciam. Pontos de vistas contraditórios
sobre aspectos semelhantes. Desfechos diferentes, mas que, de for-
ma inequívoca, podem ser chamados de vitória. É o que encontra-
mos ao seguir as pegadas de Gabriela, que partilha sua jornada de
estudos na fascinante Lyon, na França; e de Erick, que divide sua
rica experiência na saga que se inicia em Limerick, na Irlanda, e
termina por encontrar um universo de realizações na cidade do Por-
to. A história do inquieto Rodrigo, que desbrava Lisboa e se rende
aos encantos de Portugal, nos fala do poder da resiliência, funda-
mental aos que, como ele, têm apego imenso à família. Há que se
prestar atenção no meticuloso plano familiar traçado por Vinícius,
que, após cinco anos na Itália, volta realizado ao Brasil. Já o últi-
mo, mas não menos incrível relato, é contado por Julia, numa jor-
nada que tem a determinação como palavra-chave, afinal, começou
quando ela tinha apenas 22 anos e se desdobrou num intercâmbio
em Portugal. Desde então, a mineira de Barbacena fincou os dois pés
e a alma na Europa e nunca mais voltou. Após dez anos em Portugal,
encontrou o que buscava em Budapeste, na Hungria.
É disto que trata essa obra: de buscas, de encontros e desen-
contros que se transformam em novos encontros. Buscas que vão
ajudar você a encontrar os seus caminhos.

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EU FUI!

FOCO NOS ESTUDOS


Gabriela Glette, 35 anos, já é praticamente uma francesa, embora
viva no país há pouco mais de três anos. Mas esse ‘praticamente’
parece que nunca deixará de existir, pois, independentemente de
qualquer condição, Gabriela sempre será brasileira e, como tal,
uma estrangeira na França.
Mas isso, além de não ser um problema, pode até, em algumas
circunstâncias, ser uma vantagem. “Nós brasileiros temos muita fa-
cilidade em nos adaptar e nas horas de dificuldade isso ajuda muito”,
comenta Grabriela. Dificuldades não faltam no caminho de quem
opta por viver em outro país.
A história de Gabriela começa após uma viagem que a deixou
fascinada pelo país no qual, um dia, fixaria residência. “Como mui-
tas pessoas, eu também tinha essa vontade de viver uma experiência
em outro país, mas comecei a levar isso a sério depois de conhecer a
França. Na época, eu não falava absolutamente nada de francês, mas
fiquei tão apaixonada pelo país que, assim que voltei das férias, come-
cei a estudar. Depois disso, durante anos, eu me preparei para viver na
França. Foi como se o país tivesse me escolhido e não o contrário.”
O caminho percorrido por Gabriela para tocar em frente o so-
nho de viver no exterior foi o dos estudos. A Europa sempre surge
como um dos principais destinos para os que buscam aprimorar
sua formação. Em todas as áreas do conhecimento, há excelentes

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A Fonte Bartholdi, em
Lyon, uma das cidades mais
encantadoras da França,
é destaque na Place des
Terreaux, patrimônio
da UNESCO. No mesmo local
há o Museu de Belas Artes
e a prefeitura da cidade,
além de bares e cafés.

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universidades, institutos e escolas que atraem pessoas de diversos
países em busca da excelência de suas instituições. Praticamente
todos os países do continente têm programas de intercâmbio edu-
cacional em formação e pesquisa científica, este último com um
campo imenso à frente, uma vez que são notórios os grandes in-
vestimentos que os países europeus fazem em pesquisa científica.
Foram nas viagens de férias que Gabriela teve a oportunidade
de conhecer melhor a França antes de tomar a decisão que mudaria
sua vida. “Visitei o país por três vezes como turista e só depois decidi
que este seria meu destino. Antes de começar o mestrado, optei por
cursar, durante três meses, um intensivo de francês e conseguir o di-
ploma de proficiência na língua”, conta ela.

LYON, A MOR À PR IM EIR A V ISTA


Dominar o idioma é essencial para a adaptação a uma nova cultura,
um novo país, e, para as ambições de Gabriela, era mesmo funda-
mental. Essa estratégia de já em solo francês mergulhar de cabeça no
estudo da língua local definiu também onde ela fixaria residência.
“Como o curso era na Aliança Francesa, eu precisava escolher entre as
cidades que tinham a escola. Havia seis opções. Uma delas era Paris e,
apesar de amar a cidade, eu já tinha decidido que não seria lá, por conta
do custo de vida e também porque procurava uma vida mais calma. Es-
colhi Lyon pela história e pela localização. Eu me encantei com cidade.
Daí em diante finquei os pés e a alma em Lyon, segui para o mestrado e
nem me dei o trabalho de me candidatar para outras cidades, apliquei
somente para universidades em Lyon. É aqui que vivo desde 2017.”

A V IDA MOSTR A NDO C A MINHOS


Os laços afetivos que Gabriela mantém no Brasil nunca foram empeci-
lho para o projeto de viver fora. Como essa foi uma ideia amadurecida
durante anos, seus familiares sabiam que tudo era apenas uma ques-
tão de tempo. “Esse não é um projeto que acontece de uma hora para ou-
tra, o planejamento vem de muito antes, por isso essas questões emocio-
nais não foram complicadas, nem para mim, nem para minha família.”
Sentir esse respaldo fortalece as convicções de quem parte. É
importante dar atenção a esse ponto. A história de Gabriela ensina
isso. “Minha família percebeu que eu me esforçava e me dedicava na

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“MINHA DICA É SE PREPARAR
PSICOLOGICAMENTE PARA ESTA
MUDANÇA, PRINCIPALMENTE
QUEM VAI SOZINHO. VOCÊ TERÁ
MOMENTOS DE SOLIDÃO E PASSARÁ
POR PERRENGUES, MAS, SE TIVER
CERTEZA DE QUE É ISSO QUE VOCÊ
QUER, CONSEGUIRÁ SUPERAR.
FAÇA AMIGOS, TENHA UMA REDE

DE AJUDA, NÃO SE ISOLE.
Gabriela Glette

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busca de um sonho. Jamais me faltou apoio e isso ajuda muito.” Ainda
mais para quem, como Gabriela, parte em carreira solo para essa jor-
nada. “Vim sozinha para Lyon, mas pouco tempo depois conheci meu
namorado, que é francês. Ele me ajudou e continua ajudando muito, e
sua família também, em todos os sentidos. Vivemos juntos e meu proje-
to vai se consolidando sem muitos percalços”, conta a solista que já tem
uma família para chamar de sua em solo francês.
E é assim... as coisas muitas vezes transbordam, ultrapassam,
vão além do planejado. E para o bem. Certamente o encontro com esse
namorado agregou muito à experiência de Gabriela. “Ter alguém que
me ajudou com situações pragmáticas locais, além da língua, claro, foi
e é bárbaro. Meu namorado me auxiliou muito com todas as burocracias
francesas, que é o pior daqui. Tudo precisa de presença física, quase
nada se faz remotamente. Ele foi incrível, tornou-se meu maior e melhor
companheiro nessa jornada. Claro que sinto muita saudade da minha
família, mas conto com ele e isso faz muita diferença. Imagino que, se
estivesse sozinha, teria sido muito mais difícil. Eu continuaria vivendo o
meu sonho, mas certamente seria mais difícil”, admite.

SEM ILUSÕES
A experiência de quem consegue realizar o projeto de viver fora do
país em que nasceu costuma, além de trazer ganhos em pratica-
mente todos os aspectos da vida pessoal e profissional, mudar per-
cepções, corrigir distorções e desfazer preconceitos que possam
existir em relação à sua terra natal.
Se por um lado fatores negativos encontrados no Brasil, como
baixo nível de escolaridade, desorganização e corrupção, se con-
solidam, por outro, pontos positivos saltam aos olhos e é natural
que haja uma sensibilidade maior em relação a eles.
Gabriela nota uma certa queda em seu entusiasmo inicial com
aquilo que idealizou ser a vida na Europa. “Antes de viver na França,
eu romantizava muito a vida no exterior e achava que tudo no Brasil
era pior. Hoje eu não somente valorizo muito mais o meu país e a cultu-
ra brasileira como sei que ser um estrangeiro não é tão simples quanto
pode parecer. A verdade é que nós sempre seremos estrangeiros, mesmo
que passemos a vida toda naquele lugar. Eu adoro viver aqui, sou muito
feliz em Lyon, mas nem tudo é perfeito”, conclui ela, num raciocínio

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que mostra amadurecimento em relação às imperfeições da vida.
A lição que fica é que, por melhor que seja seu planejamento,
sempre haverá espaço para situações não previstas, mas que cer-
tamente colaborarão para seu sucesso no exterior. Essa percepção
de que nem tudo é perfeito no Velho Continente é um ótimo sinal,
pois as ilusões vão ficando pelo caminho e, no entanto, o projeto
da vida real segue firme e forte.

JOGO RÁPIDO
O MELHOR DA FRANÇA: “A segurança. Aqui, a gente pode sair de
madrugada e eu não tenho medo de usar meu telefone na rua, coisa
que eu não faço quando estou no Brasil.”

O PIOR DA FRANÇA: “O distanciamento das pessoas. Apesar de ser


uma diferença cultural que não dá para julgar, o europeu é muito
mais frio comparado ao brasileiro. Aqui não se bate papo com o gar-
çom no restaurante, as pessoas não se abraçam tanto, e mesmo os
familiares possuem uma relação mais fria e distante do que estamos
acostumados no Brasil.”

O QUE A FARIA VOLTAR AO BRASIL: “Família e amigos. Sinto falta


do calor do brasileiro, das festas que só nós sabemos fazer, de falar
alto, da comida, da música, das praias.”

O QUE A FAZ PERMANECER NA FRANÇA: “O que me faz pensar se eu


quero continuar a viver aqui é em relação a filhos, porque, o dia que
eu resolver ter um filho, eu não sei até que ponto será melhor viver em
um país de primeiro mundo, mas privá-lo de conviver com sua famí-
lia. Um verdadeiro dilema.”

DEFINA ESSA JORNADA EM UMA PALAVRA: “Confiança. Se este é


o seu sonho, confie nele e trabalhe para que aconteça. Só conte às
pessoas depois que as coisas já tiverem encaminhadas, pois muita
gente tem a tendência de julgar nossas escolhas. Corra atrás de seu
sonho, planeje e confie!”

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EU FUI!

P R I M E I R A PA R A D A : I R L A N D A
Erick Gutierrez, 29 anos, deu os primeiros passos de sua história na
Europa a partir de Limerick, uma pequena cidade ao sul da Irlanda.
Mas essa jornada se iniciou muito tempo antes.
Erick começou a trabalhar cedo e sempre soube o que queria
em sua vida profissional. “Trabalho na área de tecnologia desde os 16
anos e nunca me vi em outra atividade. Pode parecer maluco, mas com
21 anos decidi que iria viver fora do Brasil. Virou meta”, lembra ele.
São Paulo, apesar de ainda ser a grande metrópole não só do
Brasil mas da América do Sul, esgota, satura seus habitantes física
e emocionalmente, pois, com a mesma velocidade que abre mil pos-
sibilidades, assassina mil expectativas... diariamente. “Eu estava
de fato cansado da vida que levava em São Paulo, afinal, nem tudo se
resume a dinheiro, não deve se resumir a dinheiro. Minha vontade de
experimentar, conhecer o novo, me desenvolver, me sentir desafiado e
me certificar de que a vida na Europa era o que eu imaginava foi uma
espécie de combustível para alimentar esse sonho”, recorda Erick.
A personalidade de quem resolve partir se revela também em
suas motivações. Nada de errado em romper fronteiras em busca
de dinheiro, isso é legítimo. Apenas não pode ser o único objetivo.
Pode até ser o principal, mas jamais o único, pois corre-se o risco de
repetir a velha receita a ser evitada: colocar todos os ovos numa úni-
ca cesta. Sim, pois, quando se parte com uma única meta, é quase

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Vista do castelo transformado
em hotel na pequena cidade
de Limerick, ao sul da Irlanda.

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‘um tudo ou nada’ que se impõe à vida. E mais: fecham-se a mente e
os olhos para outras experiências incríveis e engrandecedoras que
uma jornada como essa oferece, não apenas do ponto de vista finan-
ceiro e profissional mas também pelo aspecto humano e cultural,
patrimônios que não se corroem com o passar do tempo e que fazem
toda a diferença durante a existência de qualquer pessoa.

R OM P E R A B OL H A , FA Z E R A S M A L A S E PA R T I R
Gutierrez baseou seu plano em três pilares motivacionais. “Foram
três as motivações principais em meu projeto de vida: 1) seguir o so-
nho e viver o que eu imaginava ser a Europa. 2) A experiência de uma
vida com mais qualidade em relação à segurança. Quem vive em São
Paulo ou nas capitais do Brasil sabe do que estou falando. A sensação
de poder andar na rua sem medo é algo que se busca e sem a qual é
impossível falar em vida com qualidade. 3) Uma fuga. Exatamente
isso, uma fuga, uma maneira ‘fácil’ de sair da casa dos meus pais e
viver integralmente a minha vida, gerir meu cotidiano, meus relacio-
namentos, enfim, romper a bolha.”
Não há dúvidas de que foi uma atitude ousada, mas note como
as coisas acontecem primeiro no âmbito psicológico. É na cabeça,
nas ideias, que todo projeto se inicia, e não importa muito se no mo-
mento é um processo consciente ou não. O que vale é que o foco vai
sendo direcionado para o que se quer e cada ação tomada acaba, até
de forma involuntária, conduzindo as coisas para o objetivo maior.
À época, apenas com 21 anos, Erick Gutierrez nem sequer
imaginava aonde a definição daqueles três pilares o levaria em
menos de uma década.
O passo foi dado. Erick chegou à Irlanda em 2014, mas, em vez
de se instalar em Dublin, desfez suas malas na pequena Limerick,
uma cidade que fica a 200 km da capital. “Eu tinha acabado de tirar
a cidadania portuguesa e podia viver em qualquer parte da Europa,
mas a minha namorada, cuja presença era fundamental nesse proje-
to, não tinha a cidadania, pois na época não éramos casados. Então,
precisava de um país onde fosse fácil conseguir um visto que a per-
mitisse estudar e trabalhar, e a Irlanda era a melhor opção tendo em
vista o cenário que se apresentou. Apenas comprando um curso de in-
glês ela poderia estudar e trabalhar por seis meses e, depois, mais seis

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“É UM ERRO ACREDITAR QUE
PODEMOS DAR UM JEITO NO FINAL,
PORQUE NÃO EXISTE O ‘JEITINHO
BRASILEIRO’ FORA DO TERRITÓRIO
NACIONAL. É OUTRA CULTURA,
SÃO OUTROS CÓDIGOS, OUTRA
DISCIPLINA. MAS É INEGÁVEL
QUE SOMOS SOLUCIONADORES
DE PROBLEMAS POR NATUREZA.
SABEMOS VIVER NA ADVERSIDADE.
Erick Gutierrez

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meses só trabalhando. Além disso, queríamos aprimorar nosso inglês,
que era bem precário. Outro fator era ganhar o suficiente para se man-
ter fazendo qualquer tipo de trabalho, nem que fosse braçal. A Irlanda
surgiu como o lugar ideal para um início sem turbulências”, recorda.

UM A JOR NA DA A DOIS
O Projeto Irlanda foi pensado e implantando em nove meses. O pe-
ríodo exato de uma gestação saudável. “Sempre brinco com isso, que
foi a gestação de um sonho essa etapa mais concreta, pois há tempos
era uma meta. Esses anos todos, até por limitações financeiras, inex-
periências e situações inerentes à idade, eu planejava tudo de manei-
ra muito superficial, mas, do dia que eu comprei as passagens até o
embarque, foram nove meses intensos”, relembra Erick.
“Com as passagens em mãos, cuidei de tudo que precisava ser
feito nesse tempo disponível de nove meses, principalmente viabilizar
o que era necessário, inclusive os trâmites de minha cidadania portu-
guesa, que eram bem mais rápidos do que é hoje. Ao final desse período
de gestação, posso afirmar que o resultado foi um sucesso”, conclui.
Então tudo deu certo? Nem tudo. Em relação às questões de
ordem prática, planejamento cumprido à risca. Porém, a parte emo-
cional, aquela que é impossível planilhar, Erick define assim: “Uma
grande tragédia. Tanto a minha família como a da Fabiane, na época
minha namorada, não apoiaram de forma alguma os nossos planos.
Ao contrário, de certo modo até torceram contra e achavam que não
conseguiríamos ficar mais de seis meses fora do Brasil”.
Erick se recorda que, diante deste cenário, ele e Fabiane aca-
baram desanimando um pouco e até deixaram de compartilhar
algumas situações. “Só voltamos a acreditar mesmo no dia em que
embarcamos. Mas o universo conspira a favor quando o propósito é
bom. Pouco tempo antes de viajarmos, a Fabiane visitou os avós no
Nordeste. Isso foi importante, pois logo nos primeiros meses na Ir-
landa a avó dela faleceu. Teria sido um baque ainda maior caso não
tivesse passado uns dias com eles antes de deixar o Brasil.”
Fabiane, hoje esposa de Erick, sempre foi parte fundamental
desse projeto. Ele conta que, na realidade, quando tomou a deci-
são, jamais havia imaginado cumprir essa jornada sem que ela es-
tivesse ao seu lado. A ida a dois sempre fez parte de todo o planeja-

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mento. “Eu queria estar com ela, mas eu tinha um sonho do qual não
abriria mão, então, fiz a minha parte, preparei tudo prevendo uma
vida de casal, convidei a Fabi e mostrei estar preparado para garantir
que não a faria passar por nenhuma situação complicada. E ela sabia
que eu seguiria em frente, mesmo se ela dissesse não. Eu sempre dei-
xei claro que o plano era seguirmos juntos, esse era meu desejo. No
final, mostrou-se uma excelente escolha. Fizemos o certo! Ela sempre
foi uma parceira incrível. Enfrentamos momentos bem complicados
juntos e isso fortaleceu nossa vida, trouxe muita cumplicidade, casa-
mos e tivemos uma filha fora do Brasil.”

UM A V IDA SEM ‘JEI T IN HO’


Limerick foi o primeiro degrau de uma trajetória exitosa de Erick
e Fabiane. Mas foi em Portugal, etapa que será contemplada mais
a frente nesse livro, que eles deram saltos significativos e conse-
guiram ampliar o alcance de tudo aquilo que havia sido planejado.
Nessa primeira etapa, Erick julga que cumpriu a maior parte
do que havia imaginado. “Diria que uns 60% das projeções foram
realizadas. Tudo que foi projetado em termos de datas, custos, co-
tidiano, rotina, tudo muito certo também. O projeto inicial era um
ano na Irlanda e acabamos por ficar seis meses, faltou trabalho e ou-
tras circunstâncias acabaram precipitando uma nova mudança. Mas,
como disse, o universo conspira quando o propósito é bom. Portugal
chamou e nós atendemos ao chamado.”
Das muitas lições que esse período em Limerick deixou, a
questão do ‘jeitinho brasileiro’ talvez tenha sido a maior delas.
“Não devemos contar com o improviso quando moramos em outro
país. É um erro acreditar que podemos dar um jeito no final, porque
não existe o ‘jeitinho brasileiro’ fora do território nacional, de forma
alguma. Nas coisas do dia a dia, inclusive, sofremos um pouco em al-
gumas situações que, normalmente, seriam facilmente contornáveis,
mas não em outra cultura, com outros hábitos, outros códigos, outra
disciplina, outro entendimento. Mas é inegável que somos soluciona-
dores de problemas por natureza, e essa é uma habilidade louvável.
Sabemos viver na adversidade e isso me ajudou a me virar, sair da
Irlanda e redesenhar todo meu projeto de vida em tempo hábil e reco-
meçar em Portugal.”

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JOGO RÁPIDO
O MELHOR DA EUROPA: “A sensação de segurança e a qualidade de
vida que temos são de cara o primeiro impacto. Depois, o fato de viver
num ‘mundo sem fronteiras’, com países incríveis e suas portas aber-
tas, tudo muito perto e fácil.”

O PIOR DA EUROPA: “De longe são a formalidade, a burocracia e, de


certa forma, uma resistência em aderir a tecnologias e novidades. É,
de modo geral, uma sociedade bem tradicional. Mas, depois que com-
preendemos como as coisas funcionam, deixa de ser um problema.”

O QUE A EUROPA ENSINA: “Levar uma vida mais simples, valorizan-


do aquilo que é necessário e deixar o que é secundário de lado. A
vida mais próxima à família também é um grande aprendizado. Em
resumo: aprendemos a dar valor às coisas que realmente importam.”

UM ERRO A NÃO SE COMETER: “Sem dúvidas o erro capital a ser evi-


tado é a falta de planejamento em todos os aspectos, mas principal-
mente o financeiro. Partir para esse projeto sem fazer essa lição de
casa pode colocar tudo a perder.”

DEFINA SUA JORNADA EM UMA PALAVRA: “Superação. Essa pala-


vra resume tudo o que passamos a cada dia vivendo no exterior. São
desafios seguidos e diários que testam seu propósito, sua força mental,
sua autoconfiança. Superar as dificuldades é o caminho do sucesso.”

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A cidade do Porto é fascinante por qualquer
ângulo. Foi a segunda e definitiva parada de
Erick e Fabiane Gutierrez em seu projeto Europa.
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EUROCUR IOS IDADE S
V ISIONÁ R IOS
A Europa tem seu dia no calendário. A data celebra o aniversário
da Declaração Schuman, quando, em 9 de maio de 1950, Robert
Schuman, à época Ministro de Negócios Estrangeiros da França,
propôs uma nova forma de cooperação política entre os países da
Europa. A ideia era estreitar os laços para evitar uma guerra entre
os povos do continente. A proposta passava pela criação de uma
entidade para gerir essas questões e, em menos de um ano, o tra-
tado foi assinado. Ali nascia o embrião do que da União Europeia.

PORTAS A BERTAS
Graças ao Acordo Schengen, assinado em 14 de junho de 1985, em
Luxemburgo, na cidade de Schengen, o trânsito entre 26 países
da Europa é feito de maneira livre. Esse acordo estabelece uma
política de abertura de fronteiras, ou seja, a livre circulação de
pessoas entre os países que compõem o Espaço Schengen. Os voos
entre esses países, por exemplo, são considerados voos domésticos
e, para tristeza de muitos que colecionam carimbos em passapor-
te, dispensa essa formalidade, mas, no entanto, o seguro saúde
segue sendo obrigatório. Este acordo está em vigor desde março
de 1995. Dos 26 países signatários do acordo, 22 são membros da
União Europeia. Vale saber mais a respeito desse tratado no www.
eurodicas.com.br/paises-fora-do-tratado-de-schengen/.

E U R O, MOE D A F OR T E
O dólar é a moeda que move a economia global. Por ser a mais estável
historicamente, é a que desperta maior confiança e, por isso, é utili-
zada como padrão nos negócios e referência para cotações de produ-
tos e serviços em praticamente todos os países. Porém, desde 2002,
o Euro, que passou a circular em 1999, possui a cotação maior que
o dólar, isso por conta dos custos em operar com essa moeda, com-
posto por aspectos como impostos (IOF), operacionais e logísticos.

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A Noruega tem mais de 150 mil ilhas
em seu litoral, mas em Oslo a estação
central exibe o mesmo movimento
intenso de outras capitais europeias.

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O M A IOR E O MENOR Apesar de
O maior país do mundo fica na Europa. É a Rússia, que possui juventude, foi
fundada em 1914,
17.075.400 quilômetros quadrados, mais de duas vezes o ta-
a Universidade
manho do território brasileiro. A curiosidade é que a maior de Frankfurt, na
parte da população vive na parte europeia, que, por sua vez, Alemanha, tem
é onde fica a menor parte do território e onde fica a capital, enorme prestígio.
Moscou. A maior parte do território russo fica no continente Por suas salas de
aula passaram
asiático, mas a minoria da população vive lá. É também euro-
nada menos do que
peu o menor país do mundo, o Vaticano, que possui 0,44 km2. 19 ganhadores do
Pequeno, mas com dois idiomas oficiais para uma população prêmio Nobel.
de cerca de 800 habitante: o latim e o italiano.

TER R A DO CONHECIMEN TO
O nível cultural da Europa é altíssimo. Essa excelência pode ser
vista no trato com as pessoas, na vanguarda de suas políticas
que contemplam a diversidade e os valores humanos, no domí-
nio de diversos assuntos de diferentes áreas, na maneira como
insere as artes em seu cotidiano, como valoriza e preserva sua
história. Isso em regra geral, claro, aqui e acolá há os que des-
toam, mas há um ‘padrão europeu’ de qualidade consolidado.
Suas universidades refletem esse conceito e, não por aca-
so, atraem estudantes de todas as partes do mundo. A univer-
sidade como instituição que conhecemos hoje surgiu na Idade
Média e seu berço, pelo menos na parte ocidental do globo, foi
a Europa. A Universidade de Bolonha, na Itália, tida como a
mais antiga do mundo, foi fundada em 1088, embora haja uma
polêmica em relação a esse título, uma vez que na cidade do
Cairo, a Universidade de Al-Azhar registre sua fundação no
Fundada em 1290,
ano de 988. Polêmicas à parte, não se pode negar que a Europa
a Universidade de
faz por merecer o título de berço da civilização ocidental e da Coimbra é a primeira
construção de conhecimento, uma vez que em seu território de Portugal e até o
aconteceram as grandes revoluções da cultura e da ciência, início do século XX
que renderam muitos e bons frutos para toda a humanidade. foi a única instituição
de língua portuguesa
do mundo. É
NOMES DE PESO Patrimônio Mundial
Além de excelência na formação de seus estudantes, as uni- da Humanidade
versidades europeias reúnem histórias incríveis, que só fazem segundo a Unesco.

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aumentar o prestígio e o peso de seus nomes. A badalada Sorbon-
ne, em Paris, nasceu com a nobre missão de ensinar teologia aos
pobres. Seu nome é em referência ao fundador Robert de Sorbon,
que era capelão do Rei Luiz IX. A universidade teve entre seus pro-
fessores, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, René Descartes,
Louis Pasteur e Lavoisier. Nos anos 1930, 30% dos seus alunos
eram estrangeiros, o que motivou a criação da Cidade Universitá-
ria Internacional.
A Universidade de Oxford, fundada em 1090, foi palco de fatos
que marcaram a história da Inglaterra, como o debate, em 1860, en-
tre Thomas Huxley e o bispo Wilberforce sobre a teoria da evolução,
de Charles Darwin. O astrofísico Stephen Hawking estudou lá. Entre
seus professores famosos, estão Lewis Carroll, autor de Alice no País
das Maravilhas, e JRR Tolkien, autor da saga Senhor dos Anéis.

E N E M É A C E I T O E M A L GU N S PA Í S E S
Estudar em universidades europeias não é um sonho tão distante,
ainda mais com a aceitação das notas do ENEM para ingressar em
algumas delas. Só em Portugal, mais de 30 instituições abrem suas
portas para os brasileiros com bom desempenho no Exame Nacio-
nal do Ensino Médio. Desde 2014, o Inep (Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão ligado
ao Ministério da Educação (MEC), tem acordos de cooperação com
universidades e instituições de ensino portugueses. Em Portugal,
embora haja um grande número de universidades que aceitam a
nota do ENEM, a regra não vale para todos os cursos. Por outro
lado, as vagas para brasileiros são cativas, não se está disputando
com portugueses ou outros europeus, o que melhora consideravel-
mente as chances.
Outros países também aceitam as notas do ENEM na admissão de
alunos brasileiros. No Reino Unido, as universidades de Oxford, Kin-
gston e Bristol consideram a nota, embora por si só ela não garanta o
acesso e submeta o candidato a outras avaliações. França e Irlanda
também contam com instituições que consideram as notas do ENEM,
contudo, o processo nesses países é mais complexo e as exigências
variam de acordo com os cursos e as instituições. O certo é que fazer
ou concluir a formação acadêmica na Europa vale qualquer esforço.

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EU FUI!

QU E M PA R T E L E VA S AU D A DE ... E E SP E R A NÇ A
Rodrigo Costa, 33 anos, vive em Lisboa faz quase três anos. É um
típico paulistano, cosmopolita e apaixonado por cidades grandes e
desafiadoras. E foi o desafio que o fez aventurar-se em outro conti-
nente. “O desejo de viver em outro país sempre existiu. Desde adoles-
cente eu desejava fazer intercâmbio e ter uma experiência fora do Bra-
sil. A minha motivação foi seguir esse sonho e vencer o desafio que me
impus. Aos 30 anos consegui concretizar. Foi logo após sair do emprego
que tinha em São Paulo, na área de marketing. Quando recebi o convi-
te, juntei todas as economias que tinha, inclusive da rescisão, e ousei
realizar um sonho da maneira como ele se apresentou”, conta Rodrigo.
Portugal não era a rota traçada nesse desafio. Talvez o cami-
nho mais coerente fossem os Estados Unidos, pois Rodrigo, tam-
bém fluente em inglês, era apaixonado pelo American way of life.
“Mas Portugal caiu no meu colo. Foi ao mesmo tempo uma surpresa
e uma grande oportunidade. Por indicação de um amigo, recebi uma
proposta de trabalho. O sim era a única resposta possível.”
Entre o convite de trabalho e o desembarque em terras lusitanas
foram meses que mudaram por completo a vida de Rodrigo. “Foi um
tempo de planejamento mesmo. Fiz tudo em segredo. Não queria gerar
expectativas nem nos outros nem em mim. Quando dei a notícia foi um
choque para todos na minha família e para os amigos mais próximos.
Mas eu me joguei e parti. O desafio chama e fala mais alto.”

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Lisboa, uma cidade de luzes e cores que atrai turistas
e pessoas em busca de oportunidades. Vista do Ascensor
da Bica, um furnicular. Ao fundo, o rio Tejo.

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A POIO EMOCIONA L
Rodrigo Costa é uma pessoa altamente sociável, precisa de gente
por perto e, certamente, a solidão e a distância da família e dos ami-
gos surgiam como um grande problema. “O suporte emocional seria
fundamental para eu me estabelecer em qualquer lugar do mundo. Não
gosto de ficar sozinho, isolado. Durante esses meses de planejamen-
to, consegui uma saída para essa questão que, de fato, era o que mais
me pegava e me deixava em dúvida. A solução foi, digamos, caseira:
convidei meu primo, e grande amigo, para embarcar nessa comigo. Ele
topou enfrentar o desafio da Europa e isso foi ótimo, pois essa seguran-
ça emocional ajudou a superar os momentos difíceis”, conta Rodrigo,
que não hesita em afirmar que, mesmo se tivesse de encarar a jorna-
da sozinho, não abriria mão de seu sonho. “Definitivamente seguiria.
Quando você estipula um objetivo na vida, penso que tem de seguir em
frente e não olhar para trás.”

O VA L OR DE T E R U M A A SSE SSOR I A
Se por um lado não havia barreira de idioma ao chegar em Portu-
gal, outras dificuldades, no entanto, se apresentaram. Encontrar
uma casa para morar foi a maior delas. “Portugal está na crista da
onda para os europeus, que descobriram um país com belezas e atra-
tivos tão encantadores quanto os de destinos distantes – as rotas mais
comuns, como as praias e riquezas culturais da América do Sul e da
Ásia – só que na Europa, o que é financeiramente bem mais viável.
Com isso, tornou-se a primeira opção de muitos, seja para turismo seja
para curtir a aposentadoria e viver bem. O reflexo é sentido logo de
cara no setor imobiliário. Com a alta procura, os valores obviamente
sobem, mas o tempo ajeita tudo e acabamos por entrar no ritmo. Mas
inicialmente é o que mais assusta, sem dúvidas.”
Rodrigo credita boa parte de seu êxito em terras portuguesas
ao planejamento nos meses que antecederam o embarque, mas
lembra como foi relevante contar com uma assessoria especializa-
da nessa jornada. “A empresa que me contratou disponibilizou uma
assessoria bastante efetiva. Isso foi fundamental. Há um programa
específico dedicado aos estrangeiros contratados e isso faz toda a di-
ferença. Mas para quem, porventura, não der a sorte de contar com
uma empresa estruturada nesse sentido, é importante procurar quem

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“MEU PLANEJAMENTO FOI
MUITO BOM. TIVE SUPORTE
FINANCEIRO E ISSO ME DEU MAIS
CONFORTO. DEFINITIVAMENTE,
PLANEJAMENTO FINANCEIRO FAZ
A DIFERENÇA NESSA JORNADA.
MAS A FORÇA DE VONTADE

É O QUE DEFINE O SUCESSO.
Rodrigo Costa

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o assessore, que dê informações confiáveis que possam ajudar na to-
mada de decisão, pois são muitas questões importantes, tanto antes
quanto depois da viagem. Essa questão da moradia, por exemplo, foi
menos penosa justamente por já estar, de certa forma, preparado de
acordo com o que a assessoria havia me dito, então foi um desafio
difícil, mas já sabia como lidar com ele.”

E X P EC T A T I VA × R E A L I D A DE
Saber lidar com frustrações é importante em qualquer fase da vida
e, no planejamento de quem pretende viver no exterior, é condição
indispensável.
É certo que não há uma receita comum para essas situações;
cada pessoa lida de forma diferente com as adversidades. Rodrigo
Costa adotou como estratégia não gerar altas expectativas, dese-
nhou o pior cenário para que, em vez da frustração, houvesse es-
paço para se surpreender com as conquistas. “Sou apaixonado pelo
Brasil e sabia que seria fácil me decepcionar. Cheguei preparado para
odiar. Mas, por fim, acabei amando Portugal.”
A capacidade de se adaptar às diversas realidades é, de fato, um
diferencial a favor de quem parte para a vida no exterior em busca
de um sonho. “O brasileiro aprende desde muito cedo a fazer as coisas
acontecerem com o pouco que tem. Essa característica ajuda muito na
fase de adaptação. Você segue em frente e se adequa. Dessa forma,
buscando o positivo de cada situação, meu entusiasmo com a vida, o
trabalho e o país só aumentou. Meu projeto de vida sempre passou por
conhecer lugares, pessoas, o mundo. Vir para cá me permitiu isto: não
só viver fora do meu país, mas também conhecer o mundo. As distân-
cias na Europa são pequenas e financeiramente é mais fácil viabilizar
essas viagens”, constata, reafirmando que ainda há muito a conhe-
cer e que os ganhos vão muito além do financeiro nessa jornada. “É
nítido o crescimento cultural. Não dá para mensurar as experiências
que tive e as pessoas que conheci. Quanto vale isso? É uma conquista
que só se tem cruzando oceanos.”
No entanto, apesar de estar totalmente inserido na realidade
e no cotidiano lisboeta, Rodrigo ainda se sente e se vê como um
estrangeiro. “Acho que isso nunca vai mudar. Mas não é um proble-
ma, tampouco xenofobia, embora se torne mais evidente sempre que

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tenho de interagir com os colegas portugueses. As diferenças cultu-
rais permanecem, ainda mais nos detalhes.”
A saudade da família e de amigos é algo com que a maioria das
pessoas que optam por morar fora terá de conviver. Dias de festas,
como final de ano, aniversários e casamentos, são praticamente
riscados da agenda. Também não há muito espaço para tempos di-
fíceis, como enfermidades e casos de morte (sim, a distância abre
essas feridas). É o preço que se paga! Por isso tem de valer cada
segundo investido no planejamento, pesando cada situação para
ter foco e a força mental necessária.

JOGO RÁPIDO
O MELHOR DE PORTUGAL: “A educação das pessoas encanta desde o
início. A cordialidade dos portugueses e dos europeus, de modo geral,
só não é maior do que a beleza de Lisboa.”

O PIOR DE PORTUGAL: “Inacreditavelmente encontrei uma burocra-


cia que não imaginava. Soma-se a isso um pouco de falta de organi-
zação. Nesse sentido, achei Portugal muito parecido com o Brasil.”

O QUE O FARIA VOLTAR AO BRASIL: “Sou apaixonado pelo que faço.


E fazer o que se ama num lugar em que se sente bem é uma dádiva.
Estou muito feliz em Portugal, mas uma oferta de trabalho que me
permitisse ter as mesmas condições e ganhos que tenho aqui me fa-
riam retornar. Seria o que chamamos de oferta irrecusável.”

O QUE O FAZ PERMANECER EM PORTUGAL: “Me apaixonei por Por-


tugal, em particular, e pela Europa. O que me amarrou nessas terras
é algo que não conseguimos ter no Brasil, a tal qualidade de vida.
Sob qualquer aspecto, exceto a ausência de amigos e familiares, vivo
melhor aqui. Acrescente a isso o vinho... Ah, o vinho!”

DEFINA ESSA JORNADA EM UMA PALAVRA: “Resiliência. Essa pa-


lavra me acompanha em boa parte da minha vida e ser resiliente foi
decisivo para manter essa trajetória de vida como estrangeiro.”

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EU FUI!

SOGN A E L AV OR A
Nem todo sonho de viver no exterior é um desejo de aventura pro-
tagonizado por um jovem em busca de experiência que o leve a um
futuro melhor. Muitas vezes, a decisão de partir faz parte de um pro-
jeto familiar. Mas será que isso torna a empreitada mais difícil? Não
necessariamente. Como em todas as demais circunstâncias, a res-
posta à essa indagação apresenta variações. A história de Vinícius
Ribeiro, 46 anos, profissional da área digital, mostra que, com pla-
nejamento, sempre é tempo de colocar o projeto de vida em prática.
Um projeto, no caso do Vinícius, com data para começar e terminar.
Vinícius não partiu para a Europa sem conhecimento de causa.
Ele já havia experimentado a vida nos Estados Unidos quando sol-
teiro. Esse período agregou bastante experiência para o momento
em que, posteriormente, já casado e com filho, não errasse a mão
em seu projeto Europa. “Minhas passagens pelos EUA foram funda-
mentais. Na primeira temporada, fiquei lá por quatro meses e, na se-
gunda, por cerca de um ano. Essa curiosidade por outras culturas e
o desejo de aprender outros idiomas sempre estiveram comigo. Acho
que era inevitável essa busca por viver fora do Brasil”, conta Vinícius.
Ainda no Brasil e com uma vida estável em São Paulo, a ideia
de Europa sempre rondou seu plano de vida. Mas que tipo de ma-
luco se arrisca e abre mão da estabilidade profissional e uma vida

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Roma é surpreendente pela história,
pelo passado, pelo presente
e pelo futuro que pode oferecer. Na
foto, a Piazza Navona, um dos muitos
cartões-postais da Cidade Eterna.

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confortável por uma rotina de estrangeiro? Ora, o tipo que não se
acomoda na ilusória zona de conforto e que espera mais da vida.
E esse ‘esperar mais’ não necessariamente se refere a dinheiro, é
bom ressaltar.
Vinícius é casado com uma italiana e seria natural que, em
algum momento, a oportunidade se revelaria para o casal. “Essa
oportunidade surgiu e foi construída gradativamente. Minha esposa
é italiana, isso facilitou o meu processo de cidadania. Além disso, ha-
via uma parte da família dela vivendo por lá, o que nos ofereceu mais
segurança. A ideia amadureceu, até que surgiu uma oportunidade
de trabalho para ela na Itália. Foi o impulso que faltava para nossa
tomada de decisão”, relembra.

CUIDE DOS DETA LHES E E V IT E CON T R AT EMPOS


Então, tudo certo: trabalho, família que pode dar suporte na Itá-
lia. Bastava comprar os bilhetes e arrivederci, correto? Não! Nada é
tão simples assim, mesmo quando todas as circunstâncias conspi-
ram a favor. O sonho próximo de tornar-se realidade exige provi-
dências práticas, afinal, não é uma mudança qualquer.
Vinícius já tinha um filho com dois anos de idade, mas, acre-
dite, isso nunca foi impedimento para o projeto deles. “Ao contrá-
rio, foi um fator de peso para nossa decisão, talvez tenha sido o mais
relevante, pois nosso filho estava aprendendo a falar e começando
a descobrir o mundo. Vimos aí uma ótima oportunidade de dar a ele
algo que eu não tive na infância, que era esse contato próximo com
outra cultura, uma cultura que também era a dele, ser alfabetizado
em outro idioma, abrir a cabeça para o diferente, expandir os hori-
zontes. Bingo! Estava aí montada a fórmula mágica, mas não sem
antes organizar muita coisa”, revela Vinícius.
Foram seis meses de trabalho intenso e diário para que tudo
ocorresse sem riscos. A família Ribeiro tinha, e ainda tem, dois
cães que não deixariam para trás. “Há todo um processo quando
você quer levar seu pet numa viagem como essa. Então começamos por
aí. Deixá-los no Brasil não era uma possibilidade. Foi um tanto com-
plexo e demorado, mas demos conta e eles embarcaram com a gente.”
Enquanto se resolvia a questão dos amigões da família, para-
lelamente Vinícius e sua esposa agilizaram todos os documentos

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“AS CONQUISTAS E AS DERROTAS
MOLDAM A FORMA COMO ENXERGAMOS
AS COISAS. TUDO ISSO FAZ PARTE
DE UM PROCESSO EXTREMAMENTE
VÁLIDO. SOU E SEMPRE SEREI UM
ENTUSIASTA DA EXPERIÊNCIA, DA
VIDA. O RESTO NÃO IMPORTA MUITO.
DEVEMOS ESTAR SEMPRE ABERTOS
ÀS NOVAS E BOAS OPORTUNIDADES.
Vinícius Ribeiro

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que seriam necessários para evitar surpresas em terra estrangei-
ra, colocaram para alugar a casa onde viviam, afinal, todo recur-
so financeiro é necessário e bem-vindo nessas horas, e só depois
emitiram os bilhetes.
O que fica da jornada da família Ribeiro é que cada detalhe
merece atenção, ainda mais quando a família toda está envolvida
no projeto. Com o planejamento seguido à risca, não houve espaço
para contratempos.

PA R L A C H E T E FA B E N E
Mesmo para aqueles que, como Vinícius, têm mais intimidade com
o idioma, a prática cotidiana da língua pode ser um problema; por-
tanto, jamais menospreze essa necessidade. Por melhor que seja a
sua fluência, aprimore. “Sem dúvidas esta é a maior dificuldade: do-
minar a língua. A comunicação influencia todo o restante como, por
exemplo, procurar emprego, abrir uma conta no banco, comprar um
carro, levar o carro no mecânico, ir ao médico. Mas isso é aprimorado
com o passar do tempo. Porém, chegar no destino com a consciência
de ter um bom domínio do idioma dá mais segurança para os próximos
passos; por isso, dedique-se muito à comunicação”, recomenda Viní-
cius que, mesmo tendo uma boa base, fez um curso intensivo de ita-
liano para melhorar a comunicação. “Uma imersão diária na cultura
do país, assistindo TV, lendo jornal e revistas, falando com as pessoas
na rua, tudo isso ajudou a superar mais rapidamente essa barreira.”
A família Ribeiro chegou ao final dessa jornada com um saldo
altamente positivo em relação ao que foi planejado quando saíram
do Brasil há cinco anos. “É incrível notar como estamos dentro do pla-
nejado. É óbvio que algumas coisas se ajustaram no decorrer dos acon-
tecimentos, mas posso dizer que estamos entre 85 e 95% de acerto. Vi-
vemos quase que exatamente o que nos propusemos”, revela Vinícius.
O segredo desse sucesso é explicado no planejamento feito a
partir do momento em que a decisão foi tomada. Atenção aos de-
talhes é fundamental. “Esteja preparado, financeiramente, fisica-
mente e emocionalmente. Além disso, estude bem a cultura, hábitos
alimentares, clima, tudo isso ajudará você a não ser surpreendido. A
questão do dinheiro e da documentação, sem dúvida, é importante,
mas os aspectos culturais podem definir a continuidade de seu proje-

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to de vida fora do Brasil. Pesquise e aprenda os hábitos locais e domi-
ne o idioma. Isso certamente vai tornar o seu processo de adaptação
muito menos doloroso”, recomenda.

A R IQUEZ A DO A PR ENDIZ A DO
Prestes a retornar de mala e cuia ao Brasil após cinco bons anos
vividos na Itália, a família Ribeiro não traz arrependimentos na
bagagem, apenas aprendizados, frutos de uma rica experiência,
que carregarão pelo resto de suas vidas. “O aprendizado é imenso,
em todos os sentidos. Você não volta para casa o mesmo após uma ex-
periência como essa. Somos mutantes, seres em constante formação,
e viver fora da sua zona de conforto agrega bastante conhecimento”,
diz Vinícius. “A experiência em si, os erros, os acertos, as alegrias,
as dificuldades, os amigos, as pessoas que encontramos, as amizades
que fizemos, os lugares que conhecemos, o viver, o comer, o beber, o
amar, o respirar, as relações que construímos, tudo isso só foi possí-
vel porque ousamos sonhar e viver esse projeto”, finaliza.
Ao final dessa jornada, o entusiasmo dos Ribeiro por viver no
exterior não diminuiu, apenas foi, digamos, reconfigurado: “Nos-
so entusiasmo muda, pois nós mudamos, envelhecemos. As conquis-
tas e as derrotas moldam a forma como enxergamos as coisas. Tudo
isso faz parte de um processo extremamente válido. Sou e sempre se-
rei um entusiasta da experiência, da vida. O resto não importa mui-
to. Devemos estar sempre abertos às novas e boas oportunidades”,
ensina Vinícius.

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JOGO RÁPIDO
O MELHOR DA ITÁLIA: “A segurança. Claro, existem inúmeras outras
diferenças positivas, desde a alimentação, o turismo, a educação de
base da população, mas para mim o ponto principal é sem dúvidas
a segurança. Você pode circular à noite, mesmo nas grandes cida-
des, sem medo de acontecer algo. Como em qualquer lugar do mundo,
existem as zonas mais perigosas, mas no geral a sensação de estar
seguro é infinitamente maior que no Brasil.”

O PIOR DA ITÁLIA: “O brasileiro, no geral, é um povo mais caloroso,


tem um sorriso mais fácil nos lábios, mede um pouco mais as pala-
vras. Aqui as coisas são mais diretas, principalmente em determi-
nadas regiões. Isso pode causar esse impacto negativo. Mas não é
a regra. Seria errado rotular as pessoas, estaríamos sendo injustos
com tantas outras pessoas bacanas que encontramos pelo caminho.”

O QUE OS FAZ VOLTAR AO BRASIL: “O final do projeto. Estamos com


o nosso retorno programado. O plano de cinco anos foi concluído. O
Brasil, mesmo com todos os problemas, é a nossa pátria. Não tem
nenhum outro lugar no mundo onde a gente se sinta mais em casa. A
família, os amigos, as piadas, as peculiaridades da vida, tudo isso é
diferente longe da nossa terra e isso pesa na nossa decisão de voltar.”

O QUE OS FARIA PERMANECER NA ITÁLIA: “Construímos bons rela-


cionamentos na Itália, mas, provavelmente, o fator segurança seria
aquele que contaria mais numa decisão de ficarmos.”

DEFINA ESSA JORNADA EM UMA PALAVRA: “A palavra é realização.


Tínhamos um sonho, que virou uma vontade, se transformou num
plano, que por fim acabou sendo concretizado ou, em outras pala-
vras, realizado.”

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O mundo desembarca na Itália em busca
de turismo, gastronomia, cultura. Um dos
países mais visitados do mundo é também
uma fonte inesgotável de oportunidades.
Na imagem, a famosa Via del Corso.
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EU FUI!

R ÁPIDA E CERTEIR A
Julia Discacciati, 33 anos, mineira da cidade de Barbacena, na
Serra da Mantiqueira, é o que se pode chamar de uma globetrotter
precoce, afinal, ela saiu para um intercâmbio quando tinha 22 anos
de idade e nunca mais voltou para casa. Pelo menos não para ficar.
Quando Julia estava finalizando a faculdade de Turismo, sur-
giu a oportunidade de fazer um intercâmbio. Ela já tinha passado
uma temporada nos Estados Unidos, mas dessa vez a Europa batia
a sua porta. Essa possibilidade mexeu com ela. “Sempre tive von-
tade de conhecer a Europa, vivenciar a cultura e ter uma experiência
profissional na minha área.”
O destino foi Portugal. Tudo muito rápido. Julia enviou seu
currículo e conseguiu um estágio remunerado em um hotel. Não
havia tempo para muito planejamento – a data para iniciar no
novo trabalho já estava definida. Ela teve de ser prática e rápida.
“Fui a uma agência de viagens, fiz a cotação da passagem e do seguro
de viagem. Pesquisei sobre a cidade onde eu ia morar e enviei os do-
cumentos para o Consulado Português (só podia comprar a passagem
depois que o visto fosse aprovado). O contrato de trabalho era para
um ano e me programei para isso. Fiz as malas pensando em ficar um
ano. Deixei muitas coisas para trás.”

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Ponte Chain, sobre o Rio Danúbio, une a
cidade. Ao fundo, a Basílica de Santo Estevão.

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O processo seletivo para trabalhar em Portugal tinha seis
vagas e, quando a vida resolve ajudar, sai de baixo. “Milagro-
samente eu e cinco amigos fomos aprovados. Íamos todos morar
juntos por um ano em Portugal.” Estava tudo perfeito demais.
Porém, houve problemas com os vistos de trabalho. “O hotel
onde íamos trabalhar fechou durante o inverno e, quando o con-
sulado entrou em contato para ver se a oferta de trabalho era váli-
da, ninguém atendeu. Resultado: todos os vistos foram negados.”
Mas Julia tinha acabado de obter a cidadania italiana e partiu
sem problemas. “A viagem virou uma aventura solo”.
Parece uma história maluca. E é, pois o fator tempo, fun-
damental nos planejamentos mais ortodoxos, simplesmente
não existiu.
Já instalada em Portugal, na cidade de Albufeira, no Al-
garve, Julia se apaixonou pelo país e se inscreveu em um curso
de mestrado. Depois fez doutorado e, nessa toada, passaram-se
dez anos. “Procurei trabalho na minha área. Defini que faria car-
reira na Europa, onde teria uma qualidade de vida que dificilmen-
te conquistaria em outro lugar. Não abro mão disso nunca mais.”

PA R T I U BU D A P E S T E
A estada em Portugal foi incrível, mas a vida é feita de de-
safios. São eles que nos trazem novas perspectivas e nos im-
pulsionam. Inquieta, Julia buscava outros caminhos, até que,
durante uma viagem a Taiwan, em conversa com um amigo,
veio a inspiração. “A ideia foi buscar trabalho em empresas que
precisavam de pessoas que falassem português. E a oportuni-
dade apareceu em Budapeste, na Hungria. O bacana é que eu já
tinha amigos lá e não sofreria com adaptação, pelo menos era o
*Budapeste,
que eu achava.” a capital da Hungria,
E tome correria. Planejar mudança, providenciar passa- tem esse nome por
gem, devolver a casa em que morava, empacotar o que desse ser formada por
para levar, vender algumas coisas, doar outras, encontrar lugar um lado elevado
chamado Buda
para guardar o que seria despachado depois... tudo em sema-
em um lado plano
nas. “Terminei de embalar o que eu precisaria nos primeiros dias e chamado Peste,
já estava preparada para essa nova aventura.” divididos pelo
Julia chegou sozinha em Budapeste*, a encantadora cida- rio Danúbio.

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“ACREDITO QUE NADA PODE NOS
IMPEDIR DE CORRER ATRÁS DOS
NOSSOS SONHOS. TEREMOS DIAS
BONS E OUTROS NEM TANTO. TEMOS
DE SUPERAR ISSO PARA CRESCER E
CHEGAR MAIS PERTO DO QUE QUEREMOS
CONQUISTAR. COM ESSE PENSAMENTO
SIGO EM FRENTE, COM FOCO NOS
OBJETIVOS E SABENDO QUE TUDO

O QUE FAÇO É PARA O MEU MELHOR.
Julia Discacciati

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de banhada pelo rio Danúbio*. E como quem tem amigos tem
tudo, a turma tratou de ensinar o funcionamento da cidade.
“Foram essenciais na minha adaptação, me mostraram como
usar o transporte público, como fazer compras, enfim, a rotina
básica, pois o idioma é totalmente diferente”, recorda ela.
É crucial contar com ajuda no processo de imersão na cul-
tura e na rotina local. Julia estava preparada para a Hungria,
um país bem diferente de tudo que já havia experimentado,
mas ela reconhece que sem a colaboração dos amigos, não se-
ria nada fácil. “Descobrir sozinha o melhor banco, a operadora
de internet mais adequada, rotas de trem, metrô e ônibus adi-
cionaria um estresse desnecessário. Fora essas questões práti-
cas, tem ainda o suporte emocional, que ajuda a superar medos e
amenizar as saudades da família.”
Vencida a barreira da familiaridade, ainda havia, e há,
o aparentemente instransponível muro do idioma. Julia não
sabia falar absolutamente nada em húngaro: “Mesmo após um
ano vivendo aqui, só sei o básico”. Não é um idioma fácil de se
dominar. “Tento entender, aprendo uma frase e outra e vou le-
vando. Fico chateada por não ter tempo para me dedicar a um
curso, é importante aprender o idioma e sigo me esforçando, con-
tando com o bom humor e a inteligência das pessoas.”
A experiência de Julia num país tão diferente de qualquer
realidade que podemos vislumbrar, rompe uma ‘regra de ouro’
para quem emigra. Neste caso, a comunidade brasileira local é
a chamada ‘mão na roda’. Não há como seguir sem contar com
essa conexão. Via de regra, a receita é se envolver ao máximo
com a comunidade local. Mas em países como a Hungria, os
compatriotas podem ser decisivos na adaptação. “Eu estava
*Com 2.880 km,
apreensiva para me mudar para Budapeste, e uma amiga em Por- o Danúbio é o
tugal me disse que a comunidade brasileira seria imensa e essas segundo maior rio
pessoas me ajudariam. Isso é muito real. Aqui em Budapeste fo- em extensão da
ram os primeiros a me acolher”, reconhece. Europa. Nasce na
Floresta Negra, na
Alemanha, e desagua
E XCEÇ ÃO À R EGR A no Mar Negro. É
Olhando para trás, Julia vê que mudar de país foi a melhor fronteira natural de
escolha. Ela nunca foi de apegos, aliás, como dizia sua mãe, dez países europeus.

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‘seria uma pessoa do mundo’. E a profecia se concretizou – Julia
ganhou o mundo e não há espaço para arrependimentos.
Sem planejamentos mirabolantes, ela reconhece que tirou
boas lições dos contratempos. “Por mais planejada que seja a mu-
dança, muita coisa dá errado e temos de continuar por nossos sonhos.
O mais importante nessa saga que é mudar de país, é fazer isso pelos
motivos certos. Ter a certeza do que busca, impedirá que você desista
diante de obstáculos”, ensina Julia.
Essa ausência de planejamento rígido está longe de ter sido
uma aventura inconsequente. Julia já era formada em Turismo e
sabia como as coisas funcionavam. A cidadania também pesou a
favor. Isso garantiu uma boa margem de segurança. “Apesar de ter
feito tudo sozinha, é importante ter alguém para ajudar, uma asses-
soria mesmo, são muitos detalhes. Conheço pessoas que tiveram esse
apoio e evitaram o estresse de tratar da documentação, que é a parte
mais importante de uma mudança de país. Ir tentando a sorte e ficar
ilegal, definitivamente, não é uma boa opção.”
É compreensível que após tanto tempo vivendo fora, o entu-
siasmo já não seja o mesmo. No caso de Julia, isso não é sinônimo
de apatia, é a compreensão do lugar que ocupou no mundo e, a par-
tir daí, renovam-se planos e objetivos. “Esse entusiasmo de morar
no exterior é como qualquer outro: depois da conquista, vem a rotina.
Mas mantenho o meu entusiasmo de conhecer novos países, encarar
desafios e viver outras experiências.”
Mesmo tendo essa história exitosa, Julia é uma estrangeira
e se lembra disso sempre que tem de abrir a boca para falar algu-
ma coisa. Mas isso não faz a menor diferença, pois seus objetivos
sempre estão alguns passos à frente. As únicas coisas que a fariam
voltar ao Brasil seriam a família e a carreira. “Se a minha família
precisasse de mim ou se houvesse uma proposta de emprego irrecu-
sável, eu voltaria. Do contrário, sigo aqui, levando a vida com uma
simplicidade que aprendi a amar. Não viver de aparências é uma evo-
lução enorme, traz uma sensação de liberdade que nunca senti no
Brasil”, conclui.

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JOGO RÁPIDO
O MELHOR DE BUDAPESTE: “Os húngaros são hospitaleiros... muita
gente vai dizer que não! Antes de me mudar para cá, muitas pessoas
me alertaram sobre a frieza e a falta de educação dos húngaros, mas
não foi isso que encontrei. A cidade é muito organizada e eu nunca vi
uma rede de transportes que funcione melhor do que a de Budapeste.”

O PIOR DE BUDAPESTE: “O idioma é meu maior problema. Eu che-


guei sabendo que seria um desafio viver em um país com uma língua
que não falo, mas nunca imaginei deixar de comprar algo no mercado
por não entender o que é ou por não conseguir me comunicar em in-
glês em todos os lugares.”

O QUE A EUROPA ENSINA: “Tudo o que aconteceu comigo nessa tra-


jetória me fez crescer. Tive de trabalhar em empregos que não eram
da minha área, trabalhar em turnos, pedir dinheiro emprestado para
amigos, mas tudo isso me fortaleceu e me fez ser quem sou hoje. A
lição é de humildade e perseverança.”

UM ERRO A NÃO SE COMETER: “Não seria um erro, mas algo a se levar


em conta é estar com a mente aberta e saber que terá de se adaptar
a uma nova cultura e uma nova língua. Se não tiver essa disposição,
melhor nem embarcar.”

DEFINA SUA JORNADA EM UMA PALAVRA: “Tenho mais que uma:


sonho, realização, autoconhecimento, força. É uma soma de palavras
que explicam o que acontece. Após alguns anos morando em Portu-
gal, fiz uma tatuagem que também define os sentimentos e a força
de viver fora do país. Tatuei as palavras ‘Amor, Família e Saudade’,
escritas com a caligrafia da minha mãe, da minha irmã e do meu pai,
respectivamente, tiradas de um cartão-postal que eles me enviaram.

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O centro comercial de Budapeste
é ponto de encontro de moradores e turistas.
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EUROHI S TÓR I A

T ER R A DE LÍDER ES E CONQUISTA DOR ES


A União Europeia é uma experiência social, política, eco-
nômica e humana incrível, afinal, é formada por países que
passaram boa parte de suas histórias em conflito, principal-
mente por território. Europeus são desde suas origens povos
conquistadores, desbravadores, que produzem líderes como:
Alexandre, o Grande; Carlos Magno; Cristóvão Colombo; Pe-
dro Álvares Cabral; Napoleão Bonaparte; Winston Churchill;
Mikhail Gorbatchov; Nicole Fontaine; Helmut Kohl; François
Mitterrand; Angela Merkel entre tantos outros nas mais va-
riadas épocas. Pela própria natureza de sua história, se há um
lugar no mundo onde o verbo 'conquistar' tem grande chance
de se tornar o substantivo 'conquista', esse lugar é a Europa.
Não são poucos os conflitos ao longo da história envolven-
do praticamente todos os países, mas vale destacar dois deles.
*O Tratado de
P OR T UG A L E E SPA N H A Tordesilhas,
Uma das principais rivalidades é contada nas relações entre assinado na vila
espanhola de
espanhóis e portugueses durante os séculos XV e XVI, quan- Tordesilhas em
do os países disputavam a dianteira na descoberta de rotas junho 1494, portanto
marítimas. Esse espírito competitivo de ambos os povos não seis anos antes
se aquietou nem mesmo após a assinatura do Tratado de Tor- da chegada dos
portugueses ao Brasil,
desilhas*, que desenhou os domínios de cada um dos lados foi um documento
no Novo Continente, onde esses povos aportaram suas embar- que demarcava por
cações. O domínio português, rezava o Tratado, começava na meio de uma linha
região de Belém, no Pará, e numa linha reta terminava em La- imaginária as posses
de Portugal e da
guna, no estado de Santa Catarina. Mas, com o tempo, a Espa- Espanha nas terras
nha não deu conta de patrulhar uma área tão extensa. Então, do Novo Continente,
Portugal avançou para além da fronteira imaginária e invadiu a América do Sul.

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Estátua do Imperador
romano Júlio César,
no Fórum Romano.

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o território espanhol. Esse avanço teve reflexos no desenho
territorial que o Brasil apresenta hoje. No ano de 1750, o Tra-
tado de Tordesilhas foi oficialmente cancelado e sua atualiza-
ção deu lugar ao Tratado de Madrid.
Ainda hoje, obviamente de maneira saudável e bem-hu-
morada, espanhóis e portugueses mantêm viva essa rivalida-
de, sem que isso prejudique a relação amistosa entre as na-
ções e seus cidadãos.

INGL AT ER R A E FR A NÇ A
Ingleses e franceses protagonizam outro embate histórico que
remonta à Idade Média. Conhecida como Guerra dos Cem Anos,
na verdade, esse evento durou mais de um século. Historiado-
res registram o início em 1337 e seu final apenas em 1453. No
entanto, não foram 116 anos de batalhas ininterruptas. Mas
que motivo poderia haver para uma guerra durar tanto tempo?
A história conta que tudo começou em 1066, quando um duque
francês de nome Guilherme conquistou a Inglaterra. Criou-se
aí uma situação inusitada, pois, ao mesmo tempo em que era rei
da Inglaterra, ele e seus sucessores ainda deviam obediência
e eram submissos ao rei da França. Contudo, não tardaria para
alguém despertar para esse estranho fato. Não deu outra. Em
1328 o rei da França, Carlos IV, morreu e não deixou sucessor. O
então rei da Inglaterra, Eduardo III, viu aí uma chance de unir
os tronos e reivindicou a vaga deixada por Carlos IV, de quem
era sobrinho. Os nobres franceses não gostaram da ideia e, em
assembleia, escolheram outro rei, um conde chamado Felipe VI.
A partir daí, as relações entre Eduardo e Felipe, marcadas por
grandes tensões e disputas por territórios, deram origem à du- A peça Henrique V,
radoura guerra no ano de 1337. de Shakespeare,
retrata a batalha de
Essa primeira fase do conflito foi até 1360. Em 1420, Agincourt, em 1415.
Henrique V, rei da Inglaterra, reivindicou o trono da França, Foi uma grande
aproveitando-se de uma crise na corte daquele país. Começou vitória inglesa na
novamente o conflito entre os países. Ao final, a França se deu guerra. Cerca de
9 mil soldados
bem, Carlos VII e seu poderoso exército expulsaram os ingle- de Henrique V
ses da Normandia, Guiana e Gasconha. A batalha na cidade de derrotaram 25 mil
Castillon, na França, em 1453, é considerada o fim da guerra. cavaleiros franceses.

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“UM PODER SUPERIOR
ME EMPURRA PARA UMA
META, ENQUANTO ELA NÃO
FOR ALCANÇADA EU SOU
IMBATÍVEL, MAS SE NÃO TIVER
MAIS METAS, BASTARÁ UMA
MOSCA PARA DERRUBAR-ME. ”
Napoleão Bonaparte, imperador da França de 1804 a 1814.

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2

A
CHEGADA

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COMEÇ ANDO DO ZERO

N
em toda chegada é um novo começo. Pode ser apenas a conti-
nuidade natural daquilo que estamos produzindo até ali. Mas
é inequívoca a afirmação que são novas chances, oportunida-
des que surgem e que, se bem aproveitadas, definem nosso destino.
Não despreze nem jogue fora tudo que você viu, viveu e aprendeu.
Afinal, foi a soma de todas essas vivências que trouxeram você ao
lugar em que chegou. Da mesma forma, não se apegue ao passado,
olhe para frente e abra sua mente para outras possibilidades.
O ponto de partida para todos que pisam em solo estrangei-
ro – não na qualidade de turista, mas daquele chega aonde será
sua casa pelos próximos meses, anos, talvez, pelo resto da vida – é
marcado por algumas incertezas. Será que me adaptarei? E se não
conseguir trabalho? O dinheiro vai dar? Aguentarei o frio? O que
farei sozinho? E se eu perder meus documentos? São tantos ‘e se?’,
tantas perguntas, que é até natural bater a sensação de que você
entrou numa roubada. Mas isso passa. E rápido, pois não há tempo a
perder. Quanto mais cedo acontecer a adaptação, tanto melhor. En-

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tenda-se por adaptação a compreensão da rotina, do time local, en-
trar no ritmo é algo tão fundamental quanto o domínio do idioma.
A experiência colecionada pelo Euro Dicas, por meio da vi-
vência de usuários e clientes que fizeram essa jornada, atesta que
essa imersão no cotidiano ajuda não apenas no aspecto humano,
mas também no profissional, pois traz a segurança e a autocon-
fiança necessárias para erguer a cabeça e ir à luta, fazer as pergun-
tas certas e obter as respostas desejadas.
Erick Gutierrez, fundador do Euro Dicas, baseado na própria
trajetória e em tudo que presenciou nesses anos à frente do site,
receita planejamento antes do embarque e foco quando surgirem
as adversidades. “Particularmente ignorei muitas coisas na primeira
mudança para a Irlanda. O estilo de vida da cidade que escolhi não con-
templava as expectativas, principalmente as da minha esposa, que não
estava disposta a se adaptar ao nível exigido à época.” Segundo Erick,
o idioma, ao contrário do que imaginaram de início, não foi a barreira
mais difícil. “O clima surpreendeu e foi, sem dúvida, o pior que tivemos
de enfrentar. Não imaginava que seria um ponto que pesaria tanto na
decisão de ficar ou não em um lugar, mas em Limerick foi assim.”
Erick reconhece que ter ignorado esses pontos antes de partir
foi um grande erro, pois negligenciar aspectos como clima e estilo
de vida pode custar o projeto de vida ou abreviar a jornada.
Mas não foi o que aconteceu na história de Erick e Fabiana.
Eles não desistiriam tão facilmente dos planos traçados e outro
caminho surgiu, de forma que o plano foi apenas readequado. É
nesse momento que o foco naquilo que se tem como meta entra em
cena e dá a direção. “É muito importante ter o seu propósito muito
claro, porque ele será o responsável pela maior parte da sua felicida-
de, das realizações que se buscam quando partimos para uma jor-
nada como essa. Se o propósito é mudar para ter qualidade de vida,
mesmo que pequenas situações causem decepção, você continuará
feliz, pois encontrou o que mais procurava. Por isso, recomendo que
se evite carregar expectativas em diversas ‘pequenas coisas’ que fa-
zem você feliz. É melhor focar em coisas maiores pois, sem dúvida
alguma, pequenas coisas vão faltar no dia a dia, em qualquer parte
do mundo”. Eis uma boa estratégia para utilizar quando acontece
o choque de realidade em terra estrangeira.

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O pernambucano João Henrique da Silva, 39 anos, vive há 14
na Europa, em Varsóvia, na Polônia, com a esposa e a filha, ambas
polonesas. A experiência de João em seus primeiros dias na nova
terra reforça os pontos apontados por Erick na fase de adaptação.
João encontrou um país frio, bem diferente de sua amada Recife.
Mas sem muitos problemas, pois foi uma escolha consciente. “Era
isso que eu buscava, algo realmente distante daquilo que eu já vivia.
Antes de morar em Varsóvia, fiz intercâmbio em Bialystok, no nordes-
te da Polônia. Uma cidade pequena, com pouco menos de 300 mil ha-
bitantes, mas encantadora e com uma arquitetura incrível”, recorda.
Não há hostilidade que resista ou abale a firmeza de um pro-
pósito. Isso pode ser facilmente notado nas narrativas de Erick e
João Henrique. “Recomendo a quem tem esse projeto de viver fora
saber que se trata de uma experiência única, portanto não deixe que
problemas cotidianos mexam com suas convicções. É preciso saber
que não existem vida perfeita, país perfeito, cidade perfeita. Assim
fica mais fácil não se desiludir. Com o tempo, sentimos mesmo sauda-
de de coisas positivas do Brasil, e não apenas de amigos e familiares.
Porém, olhe em perspectiva e veja as boas possibilidades que o futuro
lhe reserva”, receita João.

GR A NDE S PER SPEC T I VA S


Ainda na linha do que foi narrado por Erick Gutierrez, podemos
notar nas experiências registradas nesta obra o quanto é impor-
tante valorizar os avanços e perceber as situações boas que acon-
tecem no cotidiano, apesar das dificuldades próprias da jornada.
Cada um de nós parte em busca do algo a mais que normal-
mente falta em nosso país de origem. A busca por uma conquista
relevante para o nosso projeto de vida, para a nossa existência.
Podemos facilmente detectar, nas histórias relatadas neste li-
vro, os primeiros impactos positivos que certamente garantiram a
força de que cada uma dessas pessoas precisou para seguir em fren-
te. A sensação de segurança é o primeiro e mais relevante ganho. Na
sequência, o aspecto cultural – a Europa dá um banho nesse que-
sito, pois é um museu a céu aberto –, as oportunidades de evoluir

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“É PRECISO SABER QUE NÃO EXISTE
VIDA PERFEITA, PAÍS PERFEITO,
CIDADE PERFEITA. ASSIM FICA MAIS
FÁCIL NÃO SE DESILUDIR. COM
O TEMPO, SENTIMOS MESMO SAUDADE
DE COISAS POSITIVAS DO BRASIL,
PORÉM, OLHE EM PERSPECTIVA
E VEJA AS BOAS POSSIBILIDADES
QUE O FUTURO LHE RESERVA. ”
João Henrique, pernambucano que vive em Varsóvia há 12 anos

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profissionalmente, uma melhor remuneração, con-
seguir formação profissional de alto nível, o aprimo- “INTELIGÊNCIA
ramento do currículo e o estudo em renomadas uni- É A CAPACIDADE
versidades entram no rol de conquistas imediatas. DE SE ADAPTAR
O Euro Dicas reúne, em seus artigos, informa-
ções preciosas nesse sentido e que garantem uma A MUDANÇAS. A
maior previsibilidade a quem pretende se blindar e, GENIALIDADE É ANTES
assim, evitar contratempos. DE TUDO A HABILIDADE
Um dos artigos mais lidos do site traz as 10 pro-
DE ACEITAR
fissões mais bem pagas na Europa. Esse tipo de in-
formação é primordial para um planejamento mais A DISCIPLINA.”
certeiro, pois permite que você direcione a escolha Stephen Hawking
do país de destino em sintonia com seu perfil profis-
sional e suas ambições.
Respirando ares mais promissores, a soma desses pequenos,
mas significativos ganhos, tornam mais claras as perspectivas de um
futuro melhor. Um futuro, obviamente, a ser trabalhado, conquis-
tado, construído todos os dias e nem sempre da forma idealizada. É
preciso estar emocionalmente preparado para isso.
“Escolher um país sem nunca ter pisado nele é um grande desafio
e requer um cuidado redobrado. É preciso se municiar de muita infor-
mação, como custo e estilo de vida, idioma, o quanto você e as pessoas
que vão com você estão dispostos a se adaptarem, o clima da região
onde pretende morar. Tudo isso mexe com o lado emocional e pode ser
decisivo para os próximos passos. Pode impactar positivamente, caso
você já esteja preparado para a realidade local, ou negativamente,
caso isso tudo vire uma surpresa. Conhecer o país como turista é bem
diferente. Não se iluda. Ficar 20 dias em um local sem ser um residente
não se assemelha em nada à vida que você terá, pois simplesmente não
existem os desafios do dia a dia nessa experiência”, recomenda Erick.

DESAFIOS DIÁRIOS
Como superar e vencer esses desafios diários? A dica de Erick é sim-
ples e direta: envolva-se com a comunidade local o quanto antes,
estabeleça relações com os nativos e, na medida do possível, evite

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A gelada Polônia desafiou a capacidade
de adaptação e a determinação de João
Henrique, acostumado ao calor de Recife.
João venceu e vive em Varsóvia há 12 anos.

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buscar refúgio e conforto na convivência com pessoas da mesma
nacionalidade que a sua. “O envolvimento com pessoas da sua na-
cionalidade não permite que você se sinta parte do lugar, pois fal-
tará contexto para entender como e por que as coisas acontecem de
determinada forma no novo país. Todos os brasileiros que conheço
e que estão há muitos anos fora têm em comum o fato de levarem
a vida como um morador local, se submetendo às rotinas do lugar
e criando um círculo de amigos nativos. Não fazer isso reforça a
percepção do imigrante tentando ter sua vida brasileira na Europa
e aí, amigo, não acontece nem o lado bom da Europa e nem o lado
bom do Brasil, resta um meio-termo contraproducente. Não adian-
ta mudar pra Europa querendo ter a vida que se tinha no Brasil. Se
é para ser assim, nem embarque, fique onde está.”
A capacidade de adaptação talvez seja o maior desafio que
se impõe a quem decide viver no exterior. E hoje sobram ferra-
mentas que ajudam a compreender melhor a realidade que será
enfrentada logo após o desembarque em terra estrangeira.
João Henrique não perdeu tempo e buscou de cara estabele-
cer conexões com os poloneses. “Eles são frios e ponto. Não seria
eu quem iria mudar essa característica. Então, nunca vi isso como
um problema e fui tentando quebrar o gelo das pessoas o mais rápido
possível. Puxava conversa, mostrava interesse no que eles faziam, em
seus hobbies, enfim, tentava me inserir na rotina deles. Deu certo!”
Erick lembra-se do tempo que dedicou pesquisando infor-
mações e experiências que o ajudassem nesse sentido antes de
desembarcar em Limerick. “Eu me preparei principalmente para
o fato de ter de trabalhar fora da minha área, se fosse o caso.
Essa era uma ideia que incomodava e pensei muito nisso antes de
embarcar. Não estava seguro se eu aceitaria. Temia que isso pu-
1. A palavra
desse mudar meu foco, me fazer mal profissionalmente. Mas fui é resiliência:
mentalizando até admitir que era uma opção a ser considerada e Substantivo
que teria de administrar, caso acontecesse.” feminino. É a
Já em solo irlandês, Erick teve de enfrentar uma realidade capacidade rápida
de adaptação ou
peculiar e fora de suas previsões. Contudo, essa adversidade não
recuperação. Do
chegou a ameaçar a continuidade de seus planos, o que apenas inglês resilience
reforça a ideia do quanto é importante estar bem preparado. “Eu (elasticidade).
acreditava que, tão logo chegasse, conseguiria pelo menos um em- (Michaelis)

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prego para lavar chão, estava preparado para isso. Mas
“MORAR FORA DO o tempo foi passando e eu não encontrava nada, pers-
BRASIL ESTÁ LONGE pectiva zero, não apareceu nem vaga para lavar louça.
DE SER O LUXO Tentando entender a situação, descobri, para minha
surpresa, que era necessário um curso para trabalhar
IDEALIZADO PELOS lavando louças. Foi extremamente frustrante saber
FILMES E SERIADOS; que eu não era habilitado nem para lavar louças. Isso
PELO CONTRÁRIO, mexeu com a minha autoestima e cheguei a duvidar se
tinha feito uma boa escolha ao deixar uma vida estável
SIGNIFICA TRABALHAR
no Brasil. Felizmente o propósito meu e da Fabi falou
MAIS DO QUE ANTES.” mais alto e seguimos em frente.”
Euro Dicas João Henrique recomenda paciência diante
de situações adversas como a vivida por Erick. “É
preciso paciência. Pelo que sei, a maioria das pesso-
as que decide morar no exterior (e não somente brasileiros) acabam
voltando em menos de cinco anos. Muito poucos aguentam morar no
exterior por um longo tempo, na minha visão, justamente por faltar
um planejamento sólido. Daí a pessoa se vê diante de uma situação
difícil e joga tudo para o alto. Vale a pena persistir.”
Pode até ser um clichê, mas, invariavelmente, na construção
de um projeto de vida, você se depara com inúmeros motivos para
desistir. No entanto, o objetivo maior e mais importante de todos
tem de ser suficientemente vigoroso a ponto de fazer você perma-
necer e seguir seu plano. E, acredite, não são poucos os que conse-
guem perseverar com resiliência1 e mantendo o foco.
Se de um lado há a dificuldade com idioma, algum preconcei-
to (sempre há), incertezas financeiras e saudades de quem ficou
no Brasil, do outro há a chance de uma qualidade de vida que di-
ficilmente será encontrada em outro continente. E esse é um dos
principais motivos que fazem com que as pessoas permaneçam e
encarem os desafios da vida de estrangeiro.

V IDA COM QUALIDADE E TR ABALHO DURO


Morar no exterior é um desejo de 6 em cada 10 brasileiros com idade
entre 16 e 24 anos. Foi o que apontou uma pesquisa do Datafolha em

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2018 (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/06/se-pu-
dessem-62-dos-jovens-brasileiros-iriam-embora-do-pais.shtml).
Possivelmente esse número seria maior, caso a pesquisa se repetis-
se, uma vez que as condições de vida no Brasil não melhoraram nos
últimos anos. Mesmo assim é um número bastante expressivo.
Não se sabe ao certo quantos brasileiros vivem fora do país. Há
dados extremamente conflitantes. De acordo com o Relatório Inter-
nacional de Migração do Departamento de Assuntos Econômicos e
Sociais da Secretaria das Nações Unidas (Desa), por exemplo, “1,6
milhão de brasileiros viviam no exterior na primeira metade do ano
de 2017, um aumento de 3,5% em relação a 2015”. A maioria desses
brasileiros buscou países europeus para fixar residência. No ano
desse relatório, estimava-se que cerca de 635 mil imigrantes bra-
sileiros estavam vivendo na Europa. Portugal figurava na primeira
posição na preferência dos brasileiros. Na terra de Camões, havia
136.631 pessoas oriundas do Brasil. Em seguida, vinham Itália, com
106.040, e Espanha, com 100.128. Já para o Ministério das Relações
Exteriores (MRE) esse número era bem maior: estimava-se que 3
milhões de brasileiros estivessem espalhados pelo mundo, quase o
dobro do apontado pelo departamento da ONU; desses, 750 mil só
na Europa. A metodologia do Desa é a mais respeitável para efeitos
estatísticos, pois leva em conta dados oficiais apurados nos países.
A discrepância também se explica pela quantidade de ilegais, uma
vez que é difícil sondá-los, pois não arriscam se expor para evitar
problemas. Seja como for, é um contingente considerável de brasi-
leiros que buscam novas perspectivas no Velho Mundo.
Podemos afirmar que hoje há perto de 1 milhão de brasilei-
ros na Europa e a maioria desses com uma história de superação
para contar.
Outro artigo bastante lido no Euro Dicas é o top 7 dos países
europeus com melhor qualidade de vida (https://www.eurodicas.
com.br/paises-da-europa-com-melhor-qualidade-de-vida/). O
artigo tem como base o ranking publicado pelo US News & World
Report, que considera todas as variáveis imprescindíveis para
elencar onde a vida pode ser melhor e, claro, alinhar com o poten-
cial e as possibilidades de quem resolve mudar não apenas de país,
mas também e principalmente de vida.

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Festas populares são comuns em quase todos
os países. Entendê-las e participar delas é um
caminho para criar laços com a comunidade
local. Na foto, Las Fallas Festival, em Valência,
na Espanha, celebra a chegada da primavera.

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Para definir a métrica de qualidade de vida, esse relatório,
que serve de base para o artigo de Mariele Velloso, no Euro Dicas,
leva em conta indicadores como: poder de compra, esperança mé-
dia de vida, saúde, educação, igualdade de gênero, segurança e
qualidade financeira. Assim, o Euro Dicas listou os sete países
europeus mais bem posicionados nesse ranking e destacou as par-
ticularidades que fazem de cada um deles uma excelente opção.
Esse tipo de informação tem caráter apenas norteador num pla-
nejamento. Não é pelo fato de um país específico, talvez até aquele
com o qual você tem mais afinidades, não estar bem posicionado no
ranking que você deve riscá-lo do seu projeto. O importante é você
acumular informações, não apenas do seu país de destino, mas de
todo o continente, para poder tomar a decisão correta.
Erick desembarcou em Limerick para depois dar o salto para a
cidade do Porto, local onde concretizou praticamente tudo que ha-
via planejado. Se João Henrique tivesse baseado sua decisão apenas
em perfis e pesquisas, talvez não teria construído uma vida em Var-
sóvia, afinal ele chegou a Polônia sem emprego. “Foi difícil tomar a
decisão de pedir demissão no Brasil, mas precisava fazer o pé-de-meia
para encarar os dias difíceis do começo”, comenta João Henrique.
Como bem diz um artigo sobre viver na Europa, do Euro Di-
cas, “morar fora do Brasil está longe de ser o luxo idealizado pelos
filmes e seriados; pelo contrário, significa trabalhar mais do que
antes. Tenha foco para não desistir no começo, onde tudo é difícil.
Mas, acredite, vai valer a pena. A experiência de viver fora e reali-
zar sonhos não tem preço”.

AO TR ABALHO
Um aspecto que merece atenção em nossa programação mental
como tentativa de nos prepararmos para encarar os desafios da
vida no exterior, está relacionado à busca por trabalho. Logo de
cara será preciso entender que o modelo que temos de emprego
no Brasil não existe na maioria dos países. As garantias trazidas
pela nossa CLT são uma realidade muito particular, que faz frente
às necessidades de países em desenvolvimento e, portanto, não

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“QUE OS MEUS IDEAIS SEJAM
TANTO MAIS FORTES QUANTO
MAIORES FOREM OS DESAFIOS,
MESMO QUE PRECISE TRANSPOR
OBSTÁCULOS APARENTEMENTE
INTRANSPONÍVEIS, PORQUE
METADE DE MIM É FEITA DE SONHOS
E A OUTRA METADE É DE LUTAS.
Vladimir Maiakóvski

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oferecem e nem garantem serviços básicos, encon-
trados com razoável nível de qualidade na maioria
dos países da Europa.
“RECOMENDO
O contrato de trabalho tende a ser mais simpli- FORTEMENTE, ALÉM
ficado. Você trabalha, o seu patrão lhe paga e ponto, DO CURRÍCULO, UMA
sem tantos benefícios aparentes e nem garantias, CARTA PESSOAL QUE
salvo exceções negociadas previamente no contra-
to, por exemplo. Essa realidade social exige uma CONTE SUA HISTÓRIA,
capacidade melhor de planejamento e gestão dos SUAS AMBIÇÕES E OS
recursos disponíveis, do tempo e de previsibilidade MOTIVOS PELOS QUAIS
quanto ao futuro.
ESCOLHEU SUA ÁREA
O Estado provê um certo nível de bem-estar
a todos, mas é menos presente no mercado, que DE ATUAÇÃO.”
tem suas regras de acordo com cada setor. A rede Erick Gutierrez
de proteção social já é consolidada nas instâncias
governamentais por meio dos serviços públicos.
Dessa forma, quase não há interferência ou regulações nas rela-
ções de trabalho, o que não significa desamparo ou negligência,
apenas uma dinâmica diferente da qual estamos acostumados. É
fundamental compreender que possivelmente não se encontre o
emprego da maneira clássica que conhecemos no Brasil, mas, por
outro lado, trabalho e oportunidades não hão de faltar.
Erick Gutierrez, ainda em Limerick, começou a buscar traba-
lho para se manter na Europa. Ele já tinha uma base de informação
e chegou preparado, mas há o imponderável no caminho, e nem
tudo sai conforme o planejado. “Inicialmente até pensei que ficaria
na Irlanda, arrumaria trabalho e faria freelance até melhorar o inglês
e encontrar vaga na área de TI. Fiz tudo que era preciso em termos
de documentação e distribuí meu currículo em todos os lugares do
comércio, bares, cafés, restaurantes. Mas Limerick é muito pequena,
eles não aceitam facilmente a mão de obra estrangeira, para qual-
quer serviço exigiam um curso. Um cenário desanimador”.
A Irlanda deixava de ser o local desejado para seguir em fren-
te. Descontente com a situação em Limerick, dinheiro acabando,
clima hostil, Erick enviou currículos para Portugal, Espanha e
Itália, países, em teoria, com adaptação menos complicada. Foi
quase um mês sem receber nenhum retorno. “Os processos seletivos

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na Europa são demorados, é preciso entender isso. Eu estava acos-
tumado a ser assediado pelo mercado no Brasil, então, ficar 30 dias
aguardando um retorno foi desesperador”, recorda ele. Mas não ha-
via remédio que não a boa e velha paciência.
A espera valeu a pena: chegaram duas respostas positivas,
ambas da cidade do Porto. “Não pensei duas vezes. Eu a Fabi resol-
vemos tudo em uma semana, zeramos as pendências na Irlanda, fize-
mos as malas e embarcamos com passagem só de ida para o Porto”.
Passagens apenas de ida indicavam o peso dessa cartada.
E foi na belíssima cidade do norte de Portugal que eles finca-
ram os pés e construíram uma vida. Foi à beira do rio D’Ouro que os
projetos profissionais e pessoais se concretizaram. Foi nessa terra
de vinhos maravilhosos que fizeram novos amigos, tiveram uma
filha, empreenderam e escreveram uma história de sucesso.
É fácil perceber como as dificuldades ajudaram a construir
essa trajetória. Não fossem as peculiaridades de Limerick, possi-
velmente Erick e Fabiane não teriam buscado uma reinvenção de
seus planos. Essa busca, em meio às tempestades irlandesas, foi o
que os levou ao porto seguro que permitiu tantas realizações.

UM DESAFIO CHAMADO CURRÍCULO


Procurar emprego não é uma tarefa fácil nem agradável em qual-
quer parte do mundo. Requer um autoconhecimento que pode
parecer simples, mas não é. Escrever ou falar sobre si mesmo,
seus potenciais e suas qualidades, descrever os resultados que
já produziu profissionalmente, os próprios feitos e propostas ino-
vadoras que concebeu é desafiador. Primeiro pela dificuldade em
fugir dos clichês típicos de currículos como ‘sou ótimo de traba-
lho em equipe’, ‘tenho espírito de liderança’, ‘meu defeito é ser
perfeccionista’, independentemente da vaga pleiteada. Depois,
evitar a qualquer custo que as informações soem autoelogio ou
arrogância, a ponto de perder a vaga por acharem que a função
não está à altura de quem se candidata ela. Essas são cautelas ne-
cessárias em qualquer parte do mundo. Equilibrar o ponto de vis-
ta que temos de nós mesmos, a nossa autoimagem com a realidade

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e o que é de fato relevante para a vaga, é o desafio a ser vencido.
A experiência bem-sucedida de Erick na busca por trabalho
na Europa, serve de guia para quem ainda não tem claro o modus
operandi fora do Brasil, a começar pela montagem do currículo.
“Eles usam o Europass,, uma plataforma que orienta a montagem de
currículos. É meio que um padrão, mas recomendo fortemente acres-
centar uma carta mais pessoal, que conte sua história, suas ambições
e os motivos pelos quais escolheu sua área de atuação. Isso é muito
valorizado”. Para saber como funciona o Europass, acesse o euro-
pass.cedefop.europa.eu/pt.

AS REGRAS DO JOGO
É fato que normalmente tem-se uma remuneração melhor na Euro-
pa, ainda mais se comparada ao Brasil. Quando então as cabeças
são acostumadas a fazer a conversão da moeda e estabelecer a pa-
ridade com o real, aí é que só se veem vantagens. Mas essa prática
pode ser bem perigosa ao criar uma ilusão de que se está ganhando
rios de dinheiro. Lembre-se: ganha-se em euro, mas as despesas
também são em euro.
Em Portugal, por exemplo, o normal é acertar o salário, em al-
guns casos há o vale-refeição, que não é obrigatório, assim como
um seguro-saúde, que também é opcional, a empresa pode não ofe-
recer em seu pacote de benefícios. Lá também há o chamado sub-
sídio de Natal, que corresponde ao 13º salário no Brasil, e férias
remuneradas. Nesses pontos é bem próximo da nossa realidade.
Erick vivenciou os dois lados da moeda, pois trabalhou como
empregado e também foi empregador em Portugal. “Com o tempo en-
tendi que, devido à alta carga de impostos sobre os salários em Portu-
gal, mais alta do que no Brasil, é mais vantajoso negociar o recebimen-
to de benefícios do que aumento. Eu cheguei a receber o pagamento
da escola da minha filha. A empresa arcava com esse custo em vez de
aumentar meu salário. Foi bom para os dois lados. Conheço casos de
executivos de empresas que ganham salários médios, mas, em com-
pensação, a empresa paga a casa, o carro, as compras, tudo que possa
aliviar a carga tributária”, conta.

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Salário é um assunto delicado em qualquer
“AS PESSOAS parte do mundo, tanto para quem recebe como para
quem paga. Para um estrangeiro, a tarefa pode
PREFEREM OUVIR ‘NÃO ser ainda mais complicada, afinal, a necessidade
POSSO FAZER ISSO’ é maior na medida em que o tempo corre contra e,
OU ‘O TEMPO NÃO numa negociação, isso pesa. “Na minha entrevista
SERÁ SUFICIENTE’ DO de trabalho, no Porto, eu sabia que não teria margem
para errar. Eu simplesmente não poderia falhar. Isso
QUE AQUELE JOGO DE me colocou numa posição de desvantagem na nego-
CINTURA TÍPICO ciação, mas eu realmente precisava do emprego. Me
DO BRASILEIRO ofereceram 850 euros, pedi 900. Negaram minha pro-
posta. Acabei aceitando e não me arrependo. Foi meu
QUE SUGERE QUE
primeiro salário na Europa, muito abaixo do que eu
DARÁ UM JEITO.” ganhava no Brasil, mas, como sempre ganhei em real,
Erick Gutierrez a mente estava treinada para ver tudo maior em outra
moeda, tanto que não achei que seria problema lutar
por 50 euros, afinal, no Brasil discutimos por centenas
de reais. Mas 50 euros é bastante dinheiro, com o tempo aprendemos
isso. Sempre existe a possibilidade de negociar, sem grandes mar-
gens, no entanto”, conta Erick.
Como empregador, ele revela que o governo português, sur-
preendentemente, complica mais do que o brasileiro. “Demitir um
funcionário após dois anos é praticamente impossível, o custo para a
empresa é muito alto. Tem de ser feito de comum acordo”. Mas essa não
é uma regra comum a todos os países. Algumas economias são mais
liberais e desburocratizadas do que outras; contudo, a carga de im-
postos é tradicionalmente maior na Europa. Mesmo assim, pelo que
se recebe de retorno, trabalhar ou empreender lá ainda é vantajoso.

MU DA N Ç A DE PA R A DIGM A S
Há uma riqueza enorme nessa experiência de trabalhar e tentar
carreira fora do país de origem. O choque cultural tem aspectos
bem positivos, refletidos em quem chega sem pressa de voltar e
também naqueles que retornam às origens. A bagagem adquirida,
torna-se diferencial.

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A história profissional de Erick conta isso. Estável no Brasil,
num mercado competitivo como São Paulo, foi vencer na Europa
e lá, no primeiro mundo, realizou um projeto que desconhece
fronteiras. Essa convivência diária com mercados mais desenvol-
vidos, com players relevantes e profissionais de todas as partes
do mundo, agregou bastante à sua carreira. “Foi uma mudança de
paradigma. Mesmo tendo atuado numa área específica como a TI,
numa empresa bem aberta, com gente de diversos países e uma cul-
tura empresarial específica que pode não refletir o ‘normal’ de ou-
tras empresas e setores de Portugal, de maneira geral, posso afirmar
que os empresários buscam profissionais que desejam passar anos
na empresa, fazer uma história e não ficar apenas um tempo. Em
média, um profissional fica cinco anos na empresa e tem a oportu-
nidade de mudar de carreira dentro da corporação. Já vi designers
se tornando programadores, gente do comercial migrando para o
jurídico, e isso mostra que as pessoas importam dentro da engrena-
gem. Como colaborador, me fez muito bem entender esse processo
que aproxima a empresa das pessoas que nela trabalham e, conse-
quentemente, faz com que colegas de trabalho se tornem amigos. O
ambiente favorece”, diz ele.
Mudar paradigmas é um dos resultados dessa experiência.
Derrubar, ou reforçar conceitos ou preconceitos, também são tare-
fas que se impõem. Como em qualquer lugar do mundo, alguns po-
vos criam uma determinada ‘fama’. No Brasil, por exemplo, os ja-
poneses são tidos como disciplinados, os alemães metódicos. Mas
como o europeu vê o brasileiro de forma geral? É difícil afirmar
que há um rótulo, um carimbo que defina o profissional brasilei-
ro. Há sim traços de personalidade que, de certa forma, desenham
nosso perfil na visão deles. Normalmente nos veem como versá-
teis, espontâneos, bons no trabalho em grupo e com capacidade
de improviso. Porém, essas expectativas relacionadas à nossa
personalidade podem ser favoráveis ou não, dependendo da área
de atuação e das circunstâncias, obviamente. Daí, buscar o equi-
líbrio é o caminho certo. Em regra geral, uma postura séria, foco e
disciplina, são atributos desejáveis.
Seja direto nas relações profissionais e também na sua vida
pessoal. As pessoas preferem ouvir ‘não posso fazer isso’ ou ‘o

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“TENTE UMA, DUAS, TRÊS VEZES
E SE POSSÍVEL TENTE A QUARTA,
A QUINTA E QUANTAS VEZES FOREM
NECESSÁRIAS. NÃO DESISTA
NAS PRIMEIRAS TENTATIVAS.
A PERSISTÊNCIA É AMIGA DA
CONQUISTA. SE VOCÊ QUER CHEGAR
ONDE A MAIORIA NÃO CHEGA,

FAÇA O QUE A MAIORIA NÃO FAZ.
Bill Gates

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tempo não será suficiente’ do que aquele jogo de cintura típico do
brasileiro que sugere que dará um jeito. “Uma coisa que me deixa
louco como empresário é trabalhar com gente sem a capacidade de
dar uma data e cumprir. Essa é também uma das maiores reclama-
ções que ouço dos estrangeiros sobre nós brasileiros. Seja chato nesse
ponto. Entregar no prazo combinado é um dos principais fatores para
determinar o profissionalismo e a qualidade da entrega”, ensina
Erick, que faz coro com Steve Jobs, quando este explicou o foco
no trabalho como a habilidade de “dizer não às centenas de outras
boas ideias que surgem, e não em dizer sim para aquilo em que se
quer focar”. Sábio e certeiro.
Com base em experiências específicas de brasileiros que tra-
balham ou trabalharam na Europa, algumas linhas gerais de as-
pectos negativos e também dos positivos em relação a como somos
vistos, podem ser traçadas e servirem de sinal de alerta para refor-
çar o que é bom e tentar anular o que é ruim:

Pontos positivos
• Muita experiência prática, ir além da teoria é admirável.
• Disposição em resolver problemas.
• Criatividade e busca por soluções aparentemente fáceis para casos
complexos, ou seja, nossa capacidade de improvisar.
• Facilidade de adaptação.

Pontos negativos
• Falta de compromissos com datas e horários.
• Dizer que domina determinada técnica ou ferramenta e depois
demonstrar conhecimento apenas superficial.
• Baixo nível de exigência com a própria performance.
• Pouca atenção com a documentação legal exigida para trabalhar.
• Troca de emprego muito facilmente.

Dominar o idioma local facilita a comunicação e, consequen-


temente, ajuda a encontrar trabalho, almejar promoções ou em-
preender. Mas convenhamos que não é lá muito tranquilo falar po-
lonês, como no caso de João Henrique, o pernambucano que vive
em Varsóvia; tampouco se expressar em húngaro, como é o desafio

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diário da mineira de Barbacena, Júlia, que nos contou sua história
lá de Budapeste. Até aqueles idiomas com os quais estamos mais
familiarizados, como italiano, espanhol e francês, têm lá as suas
peculiaridades que dificultam o dia a dia. Para esses casos, a saída
está no universal inglês, a língua da salvação dos estrangeiros em
qualquer parte do globo.
Na Europa, não é raro boa parte das pessoas de todas as idades
dominarem o inglês, nem que seja o básico. Em muitos setores pro-
fissionais, o inglês é o idioma predominante, ou seja, conhecê-lo e
ter excelente grau de fluência pode definir a história de quem vive
no exterior. No caso de algumas atividades profissionais, o nível
de exigência é bem elevado, como conta Erick: “Não quero parecer
grosseiro, mas falar inglês não é assistir filme com legenda em inglês
e entender, ou ler um artigo no Stack Overflow e compreender. Se você
não é capaz de fazer uma ligação por áudio e compreender, se ex-
pressar de forma satisfatória no trabalho, entender e ser entendido,
então você não fala inglês. O ideal é ter um diploma de proficiência.
Invista nisso.”

FAT O R T E M P O
Outro ponto que pode causar estranheza nos brasileiros é que, na
Europa as promoções levam mais tempo para acontecer. Parece ha-
ver um outro ritmo, um processo de maturação antes de as coisas
deslancharem. “No Brasil é comum sair de ‘júnior’ para ‘pleno’ em
um ano e meio ou dois em média. Na Europa, isso pode levar no mí-
nimo o dobro de tempo”, releva Erick. Para ser aprovado, leva-se
muito mais tempo na cultura europeia, eles valorizam o resultado
tanto quanto a construção, a trajetória que levou ao bom resul-
tado, seguem os protocolos, há um método nessa maneira de ser.
A cultura de trabalhar e estudar é outra diferença a ser res-
saltada. Lá não é muito comum essa prática. Erick sentiu o reflexo
dessa realidade, pois no Brasil, começou a trabalhar cedo para pa-
gar os estudos. “No meu primeiro e único emprego na Europa, com
apenas 22 anos, eu já tinha seis de experiência na minha área, con-
tando o estágio que fiz aos 16, uma situação impensável para eles,

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tanto que me deparei com um estagiário de 25 anos na minha equipe,
algo bem estranho para mim, mas bem comum por lá”, recorda o inu-
sitado da situação.
Com tantas diferenças culturais nessa relação, é imprescindí-
vel ser bem claro sobre a sua real experiência profissional e com-
prová-la, porque pode ser difícil para o europeu acreditar, num
primeiro momento, que alguém com tão pouca idade já apresente
tamanha vivência.
O site Euro Dicas traz um artigo bem abrangente sobre esse
tema. Nele, as nuances de uma vida profissional em seu cotidiano
na Europa são reveladas, como a questão dos impostos. O artigo
menciona o choque de receber o primeiro salário e notar o tama-
nho da mordida, e orienta fazer uma simulação de quanto será,
no final, o salário líquido. Dessa forma, o planejamento fica em
acordo com a realidade. “Existem diversas calculadoras em cada
país para ajudar nessa conta, porque varia se você é casado, se tem
filhos”, explica Erick. E é bom seguir esse conselho, pois, mesmo
passando a vida reclamando dos impostos no Brasil, há países,
como a Alemanha, onde o imposto começa na faixa de 14% e pode
chegar até a 45%, numa variação que é definida de acordo com
seus ganhos. Há outros, no entanto, que possuem benefícios para
atrair um número maior de estrangeiros com mão de obra melhor
qualificada. O artigo é bem esclarecedor e vale a leitura no www.
eurodicas.com.br/trabalhar-como-ti-na-europa.

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“ESSE TEM SIDO UM DOS MEUS
MANTRAS: FOCO E SIMPLICIDADE.
O SIMPLES PODE SER MAIS DIFÍCIL
DE FAZER DO QUE O COMPLEXO.
VOCÊ TEM DE TRABALHAR DURO
PARA CLAREAR SEU PENSAMENTO

A FIM DE TORNÁ-LO SIMPLES.
Steve Jobs

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EUROHI S TÓR I A

E SPA Ç O PA R A T OD A S A S R E L IGIÕE S
A Europa é um continente de maioria cristã, mas, salvo episódios
muito localizados e esporádicos, não há problemas para professar
e praticar qualquer fé, pois é possível encontrar templos católicos
romanos, anglicanos e ortodoxos; igrejas protestantes, mesquitas,
sinagogas; templos budistas e hindus, enfim, há lugar para todas
manifestações e práticas e uma convivência pacífica.
As raízes históricas, no entanto, ligam a Europa ao cristianismo,
já que os principais impérios estiveram sempre ligados ao poder da
Igreja Romana e seus papas. Depois do cristianismo, ateus, agnósti-
cos e muçulmanos aparecem em franco crescimento nas mais varia-
das estatísticas sobre religião. Entre os cristãos, o catolicismo ainda
lidera, apesar de ter estagnado seu crescimento nos últimos anos e,
em alguns países, ter até mesmo visto diminuir o número de fiéis.
Para quem muda de país, manter as práticas espirituais e reli-
giosas é também uma maneira de manter suas ligações com aquilo
que ficou para trás quando deixou sua terra. Encontrar pessoas
que professam da mesma crença conforta e dá um importante su-
porte para enfrentar os momentos de dificuldade. Não raro, mui-
tas comunidades estrangeiras surgem desse convívio em espaços
onde a prática espiritual é um elo significativo que mantém as
pessoas próximas de suas raízes.

A RTE, FÉ E MUITA HISTÓR I A


É inegável a influência política e cultural da Igreja nos países da
Europa. Seus templos são monumentos arquitetônicos de absurda
beleza e história, como vemos na não tão famosa, mas exuberante,
catedral ortodoxa do Sangue Derramado, que fica em São Petes-
burgo, na Rússia. Menos conhecida do que a também magnífica

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Catedral ortodoxa do Sangue Derramado,
em São Petesburgo, na Rússia, foi aberta
oficialmente em 1883. Após a Revolução Russa,
em 1917, essa obra de arte foi utilizada como
depósito de batatas e legumes pelo governo.

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catedral de São Basílio, em Moscou, é, no entanto, maior. Seu
nome oficial é Igreja da Ressurreição do Salvador, mas foi popu-
larizada como a do Sangue Derramado por ser o local onde o Czar
Alexandre II foi assassinado. No mausoléu, ainda há pedras com
marcas de sangue do imperador russo. Rica em detalhes, é uma
das únicas do mundo que tem uma imagem de Jesus adolescente.
Entre as mais famosas – são várias e em todos os países - vale
destacar a Catedral de Milão, conhecida como Duomo, cuja cons-
trução começou em 1386 e só terminou quase 600 anos depois,
em 1965. Na França, a catedral de Notre-Dame, em Paris, cuja
construção teve início em 1163, foi inaugurada apenas em 1345.
Recentemente destruída por um incêndio que chocou o mundo,
é outro tesouro da humanidade. Foi nela que aconteceu a coro-
ação de Napoleão Bonaparte. Além da exuberante arquitetura, é
famosa também pelo campanário onde viveu o não menos famo-
so Corcunda de Notre-Dame, personagem fictício imortalizado na
obra Nossa Senhora de Paris, de Victor Hugo, publicada em 1831,
que conta a história de Quasimodo, um corcunda que cuidava dos
sinos da igreja.
Na Inglaterra, a Abadia de Westminster, em Londres, oficial-
mente chamada de Igreja do Colegiado de São Pedro, foi fundada
em 960 d.C. como um mosteiro beneditino. Começou a ser cons-
truída em 1245 sob o reinado de Henry III, mas somente no sécu-
lo XVI deixou de ser propriedade da Igreja Católica, quando o rei
Henrique VIII fundou a Igreja Anglicana, com cultos e
tradições próprios. Desde a coroação de Guilherme, o Detalhe da Capela dos Ossos,
Conquistador, em 1066, a abadia tem sido o local oficial em Évora, localizada na igreja
de São Francisco. Em sua entrada
dessas celebrações no Reino Unido. A última cerimônia há a intrigante frase:
de coroação aconteceu em 1953, quando Elizabeth II, “Nós ossos que aqui estamos
filha de George VI, recebeu a coroa que carrega até hoje. pelos vossos esperamos”.
Lá também se encontram os túmulos de personalidades
da história, como Isaac Newton e Charles Darwin.
A Catedral de Colônia, na Alemanha, já foi con-
siderada o prédio mais alto do mundo (157,4 metros).
Teve sua construção iniciada em 1248 e foi concluída
mais de 600 anos depois, em outubro de 1880. Por falta
de dinheiro, as obras ficaram paralisadas por 250 anos.

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A catedral de Colônia, na Alemanha, abriga uma arca com os restos mortais dos Três Reis Magos.

Em Portugal há lindas capelas, mosteiros históricos e cate-


drais exuberantes, tantas que fica difícil eleger uma. A igreja de
São Francisco, em Évora, é mais conhecida como a Capela dos Os-
sos. Sua construção data do século XVII. Os padres franciscanos
queriam, com esse projeto, lembrar a fragilidade e a transitorieda-
de da existência humana. Na entrada da capela, o aviso: “Nós ossos
que aqui estamos, pelos vossos esperamos”. A Catedral de Santa
Maria da Sé, em Sevilha, na Espanha, é a terceira maior do mundo,
atrás apenas da Basílica de São Pedro, no Vaticano, e da Basílica de
Aparecida, no Brasil. Sua construção teve início em 1401, no lugar
onde antes era uma mesquita, que tem partes de sua construção
preservadas até hoje, como a famosa Torre Giralda, que, reza a len-
da, pode ser vista de qualquer parte da cidade. Patrimônio Mundial
da Unesco, em seu interior, há o túmulo de Cristóvão Colombo.

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3

MISSÃO
CUMPRIDA

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O desafio para quem decide
permanecer na Europa, é manter
a motivação e renovar as metas.
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O PONTO B

A
lgumas frases soam clichê e, mesmo que sejam, não sig-
nifica que estejam esvaziadas de determinadas verdades.
Não raro, refletem a realidade em relação às situações que
tentam traduzir. Talvez a vida seja mesmo um clichê e o desafio
consista em torná-la mais apaixonante, de tal forma que a cada
dia o entusiasmo esteja presente, não apenas nas milhares de boas
ideias que surgem, mas, principalmente, nas atitudes concretas,
que é o que faz a diferença ao fim das 24 horas. Renovar as metas e
não entrar no modo piloto automático é desafiador.
Há uma máxima que diz ‘ser mais difícil manter-se no topo
do que chegar nele’. Eis um clichê que nos ajuda a compreender
a plenitude da Missão Europa, iniciada no primeiro capítulo des-
te livro. É disso que trataremos nas próximas páginas, de como
manter a motivação após conseguir aquilo pelo qual tanto se lu-
tou. Bernardinho, técnico supercampeão do vôlei, acostumou-se
a treinar equipes vencedoras. Erguer taças e ganhar medalhas era
rotina. Para manter o foco e o entusiasmo após tantos triunfos, ele

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colocava na cabeça de seus atletas que, uma vez já tendo supera-
do todos os grandes adversários, o momento era de superar, cada
um, a si mesmos. “Não devemos nos orgulhar de sermos melhores
do que os outros, mas sim de sermos melhores do que já fomos”,
receitava o treinador. Dessa forma e com essa receita, mesmo com
alguns tropeços no meio do caminho, atletas que passaram pelas
mãos de Bernardinho tornaram-se campeões que, além do gosto
por superar adversários, adquiriram a motivação de superarem a
si mesmos, buscarem marcas e se reinventarem. Poderiam ficar
polindo as medalhas e troféus já conquistados, porém o desafio na
busca pelo ‘algo mais’ da vida falou mais alto.
É da natureza humana um certo relaxamento após uma con-
quista. Com o objetivo alcançado, paira o desinteresse, o tédio
pela falta dos desafios intensos que marcaram o período de tra-
balho e dedicação empregados na realização da meta proposta.
Mas essa postura é uma armadilha, um terrível erro a ser evitado
a qualquer custo.
Manter o trabalho conquistado e aprimorá-lo de olho em pro-
moções ou condições mais favoráveis e fazer com que o negócio
viabilizado siga relevante e com novas possibilidades é batalha a
ser encarada e vencida diariamente. Uma situação estável não pode
significar uma atitude de comodismo diante das conquistas, uma
postura como se ‘a parada estivesse ganha’. Essa nunca estará, pois,
para não ser enganosa, a vitória tem de acontecer todo santo dia.
A motivação para que a chama da realização continue acesa e
impulsionando em direção a novos desafios é encontrada olhando
ao redor e respeitando tudo que se conseguiu até então. Não se
pode jamais esquecer do que o levou a sair do ponto A ao ponto C
sem notar o quanto o trabalho duro realizado entre um ponto e o
outro foi importante. Esse caminho entre os pontos A e C é, não por
acaso, o ponto B – B da busca por uma vida melhor, da batalha para
chegar lá, do bem-estar conquistado.
Valorizar os feitos e todo investimento de tempo e dinheiro
naquele que foi eleito o projeto da vida, renova a energia e o entu-
siasmo, abre espaço para que novas metas apareçam. Somos movi-
dos pelos desafios, e esses, sempre existirão, basta manter o foco e
o olhar atento às oportunidades.

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A ZONA DE ‘DESCONFORTO’
Depois que fixou residência e conseguiu a tão desejada estabilidade
econômica na cidade do Porto, Erick Gutierrez viveu essa situação
confortável, que agrada o ser humano desde tempos remotos. É mui-
to uma questão de cabeça, mas também é do organismo, um com-
portamento até certo ponto fisiológico também. Temos a tendência
a evitar o desassossego, o problema, o medo, o desgaste. Um ins-
tinto de preservação que precisa, de forma inteligente, ser domado
para não cair nas limitações trazidas por uma falsa segurança.
Realizadores não temem o desgaste. Antes, o buscam. É a
ideia da lapidação de diamantes que precisam ser desgastados no
limite de sua beleza, com precisão e sabedoria, para revelar seu es-
plendor de joia rara. Somos todos pedras brutas a serem lapidadas
durante a jornada escolhida e, como tal, não podemos fugir das
dores do processo de lapidação. Negar sua vocação, seu potencial
é um desperdício.
Erick e Fabiane se permitiram viver esse estágio de lapidação
em progresso na cidade do Porto. Com a bagagem adquirida nes-
se processo de desbaste desde a saída de São Paulo, intensificado
em Limerick, na Irlanda, eles não enfrentaram grandes problemas
com a vida em Portugal, pelo menos não aqueles comuns aos es-
trangeiros recém-chegados. Estava tudo certo com a documen-
tação, o que já é boa parte do caminho a ser percorrido. A vida,
se não era luxuosa, tinha o conforto necessário e a estabilidade
desejável. Fabiane se adaptou bem à cidade, ao clima. O lugar era
bonito, seguro e promissor. A família estava crescendo.
Mas se acomodar nesse cenário e deixar de lado a busca pelo
‘algo a mais’ que a vida sempre reserva, não seria uma opção. Era
preciso ir além! E foi desse formigueiro interno que provoca a ca-
beça e o organismo, também de forma fisiológica, que o movimen-
to deles fez surgir os novos caminhos.
Para não cair na tentação de ver a vida passar enquanto de-
gustava um vinho local de excelente safra, ao se notar satisfeito
com o lugar onde havia chegado, Erick foi buscar motivação na
sua própria história. “Imagine um garoto nascido na periferia po-
bre da maior cidade da América do Sul onde, desde sempre, o desafio

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“A EXPRESSÃO MAIS INTELIGENTE
QUE EXISTE PARA CRIAR
REINVENÇÃO É A ‘NÃO SEI’. ELA
INAUGURA O NOVO. AQUELE QUE
FOR INCAPAZ DE PENSAR ‘NÃO SEI’,
SÓ REPETE. CUIDADO COM QUEM
NÃO TEM DÚVIDA, ESSAS PESSOAS
NÃO INOVAM, NÃO REVIGORAM
COMPETÊNCIAS, APENAS REPETEM.
Mario Sergio Cortella

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era manter-se vivo. Mas sobreviver nunca bastou. Então, colocar-se à
prova faz parte da minha personalidade. O garoto pobre da Zona Leste
paulistana não havia cruzado o oceano para observar a vida e contar
dinheiro. E eu não estava sozinho, tinha minha esposa, cuja perso-
nalidade também impulsiona para a reinvenção, e isso motiva muito.
Saber o que vamos fazer, bolar os próximos passos, fazer planos é o
nosso cotidiano. Somos uma família de pessoas inquietas e penso que
jamais cruzaremos os braços. Viver sem desafios não é com a gente.”
É também o caso de Julia Discacciati, que nos contou sua traje-
tória e hoje vive em Budapeste. A ‘parada ganha’, em Portugal, não
foi suficiente. Ela precisava ir além, não pelo dinheiro ou por mais
conforto, mas pelo crescimento humano, por novas experiências
que a fizessem se sentir desafiada, por uma vida com a qualidade
imaginada em seus melhores sonhos. E, assim, foi parar na capi-
tal da Hungria, onde atualmente desfruta o prazer quase trivial da
tranquilidade. “É engraçado, mas eu não sabia que
não gostava da vida que levava no Brasil até me mudar
para o exterior. Agora, aprecio momentos bobos, como “VI OS SONHOS
andar tranquila pelas ruas, voltar para casa sozinha SE PROSTITUINDO
de madrugada, caminhando com o celular na mão, fa- NA ZONA DE
zer a troca de estação de trem sem me preocupar. Cada
coisa conquistada, por menor que seja, cada lugar que CONFORTO.”
conheço, cada amizade que faço são vitórias diárias. É Zack Magiezi
isso que me move”, conta.
E é disso que se trata sair da zona de conforto.
Mover-se em direção ao desconforto, ao que traz e possibilita o novo
em nossa vida. Trata-se de não enterrar o talento e o potencial que
se tem, muitas vezes sufocados por um processo de autossabotagem
a que nos submetemos, sob a justificativa de que ‘já deu’, ou pelo
argumento manjado de que ‘fui até mais longe do que eu imaginava’.
Pensar e agir sob esses lemas é flertar com a mediocridade.
Pode parecer pesada essa afirmação, mas o medíocre é produto de
um processo que leva a um estado de espírito que toma conta da
vida e de tudo que fazemos. Ao pé da letra, medíocre é o media-
no, o que está na média, e não há nada de pejorativo nisso, mas,
para os que reconhecem o próprio potencial e têm ciência do ta-
lento que possuem, é inadmissível serem vistos como medianos.

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A zona de conforto está repleta desses que não sobem nem
descem, não queimam nem gelam. É onde reside o morno. Defini-
tivamente, um estado de espírito e uma existência que não com-
binam com quem parte sem olhar para trás. Nenhum dos protago-
nistas das histórias aqui relatadas, teriam vivido o que viveram,
e vivem, e ainda viverão, se tivessem aceito esse processo de ‘me-
diocrização’ em suas trajetórias.

O U T R A S ‘ D O R E S D E C A B E Ç A’
Não há um caminho único na luta contra esse marasmo disfarça-
do do conforto pós-conquista. Também, não se trata de não saber
vencer. Há que se saborear e desfrutar o que foi honesta e justa-
mente conquistado. Esse texto não é uma ode ao mau humor, ape-
nas uma necessária pulga atrás das orelhas dos que chegam lá e lá
pretendem permanecer.
Manter-se focado é um dos antídotos recomendados. Manter
o sonho vivo, ampliá-lo, torná-lo tão gigante quanto possível ali-
menta a motivação. Óbvio que não se trata de um comportamento
juvenil ou descolado da realidade e das possibilidades. Reconhe-
cer limites, também nesses momentos, é saudável e não inibe em
nada o apetite pelo crescimento, desenvolvimento ou aprimora-
mento, caso já tenha encontrado o tamanho exato de seu projeto.
Sair da zona de conforto não significa cair numa zona de des-
conforto. Não que isso seja de todo ruim afinal. Como bem disse
Lee Iacocca, um ousado empresário da indústria automobilística
no século XX, “se a vida estiver amarga, dê uma chacoalhada, o
açúcar pode estar embaixo”. Ninguém, em sã consciência, vai op-
tar por uma vida de preocupações e estresse, mas sempre vale o
esforço de buscar o doce onde quer que ele esteja, disso não há
quem duvide. Não há dilema possível na escolha entre o bom e o
ruim, essa escolha já está feita. Na vida, a verdadeira escolha tem
de ser sempre entre o que bom e o que é ou pode ser melhor. A aco-
modação nunca chegará aos que olham para a vida sob esse viés.
O oposto do conforto é o ambiente criativo, desafiador, esti-
mulante. É nele que ideias e oportunidades ficam claras e que os

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novos caminhos se abrem. Não foi outra coisa que não a necessida-
de de conhecimento, do novo, do algo além daquilo que já conhe-
cemos que fez o homem se permitir dar o passo e ver o que tinha
fora da caverna, além das sombras projetadas, como nos ensina
a alegoria do Mito da Caverna, de Platão. É preciso estar ciente
de que o processo trará sim situações difíceis, incomodas, dife-
rentes, que exigirão outras soluções. Um exercício de gestão mais
amplo, afinal, a busca é por outros resultados que não sejam iguais
aos que já foram colhidos.

PA R A QU EM F IC A . . . P ROV I DÊ N C I A S
Ir para a Europa e nela permanecer por muito tempo – talvez pelo
resto da vida. Este é o plano de boa parte dos brasileiros. Outros,
como Vinícius Ribeiro, que nos contou sua jornada na Itália, pro-
jetam um prazo e retornam. Esses enfrentarão o desafio da readap-
tação a uma realidade bem diferente daquela vivida na Europa, po-
rém, com a vantagem de estarem mais experientes do que quando
partiram, e perto de tudo e todos que ficaram para trás o que, sem
dúvidas, é um tremendo ganho, principalmente emocional.
Já os que decidem ficar terão de enfrentar o desafio de assi-
milar plenamente o que significa uma vida europeia, pressupondo
que houve um importante aprendizado durante o tempo em que a
decisão de permanecer foi tomada. Culturalmente falando esses
pontos já foram abordados nos outros capítulos. Agora, providên-
cias práticas, como cidadania e educação dos filhos, precisam ser
consideradas. Trata-se de um planejamento de longo prazo, que
precisa estar permanentemente no radar.
As regras dos processos de cidadania variam de país para país;
no entanto, o volume de documentos necessários é considerável.
O Euro Dicas trata desse tema de forma detalhada, em diversos ar-
tigos, mostrando, inclusive, o que cada país solicita a quem pre-
tende iniciar o processo. Vale uma leitura atenta. As informações
certamente ajudarão na elaboração do planejamento e, principal-
mente, na busca pelos documentos necessários, uma etapa que
normalmente consome tempo e dinheiro.

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Pegando a cidadania italiana como exemplo, o artigo explica
que a mais requerida é a definida por descendência, aquela que
“presume cidadão todo o descendente de italiano, em linha reta,
sem limitações”. Como se vê, um conceito bem amplo, mas que,
como o próprio artigo mostrará, não significa facilidades ou ga-
rantias de obtê-la.
É preciso ter paciência, planejamento e organização, mas,
sobretudo, agir com muita honestidade e não recorrer a artifícios
que podem comprometer a conquista da cidadania, seja ela de qual
país for. Forjar residência ou documentos com o objetivo de ace-
lerar os trâmites, definitivamente, não ajudará em nada e poderá
decretar o fim de qualquer aspiração nesse sentido.
Informe-se, contrate uma assessoria especializada e confiá-
vel caso não tenha tempo para fazer por conta própria.
Outro artigo esclarecedor do site, é o que se refere às diferenças
entre cidadania e nacionalidade. Dados oficiais nos permitem com-
preender a dimensão da procura de legalizações junto à comunida-
de europeia. Segundo o Eurostat, serviço oficial de estatística, em
2018, mais de 670 mil pessoas conseguiram obter a nacionalidade
de algum país da União Europeia. De acordo com outros dados divul-
gados pelo jornal Público, somente em Portugal, durante o ano de
2018, mais de 135 mil pessoas conseguiram obter a nacionalidade.
De forma objetiva, a nacionalidade corresponde ao vínculo
entre uma pessoa e um país e pode ser obtida de diferentes for-
mas. Por exemplo, os filhos e os netos de portugueses nascidos no
Brasil podem obter a nacionalidade portuguesa com base numa
relação de filiação.
Por outro lado, a nacionalidade também pode ser obtida mes-
mo que não exista qualquer vínculo sanguíneo em relação a algum
cidadão português. É o caso, por exemplo, de cônjuges de cidadãos
portugueses e de indivíduos que residam legalmente em Portugal
durante um determinado período de tempo.
A cidadania corresponde ao conjunto de direitos e deveres de
um indivíduo, que lhe permite participar ativamente na vida e na
governança de um país. Esses conceitos podem parecer confusos,
e em dado momento são mesmo, por isso é aconselhável informar-
-se e buscar assessoria especializada para evitar transtornos.

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F I L H O S, PA R A E L E S, O ME L H O R
Colaboradoras do Euro Dicas, Andrea Cortês e Ana Eliza contam
parte da experiência de criar filhos na Europa como pessoas que
viveram e vivem essa realidade.
A Decisão: “Uma das decisões mais difíceis após o nascimento do
Luca, mas a procura por segurança, qualidade de vida e educação de
qualidade falaram mais alto”, conta Andrea.
Sem rede de apoio: “Você aprenderá a ir para todos os lugares com
seus filhos juntos. Algumas situações serão mais complicadas sem
sua rede de apoio por perto. Porém, nenhuma situação é intranspo-
nível e tudo se adapta, só é preciso um pouco de paciência até encon-
trar a solução”, diz Ana Eliza, que fez das redes sociais o modo de
manter a família unida aos que permaneceram no Brasil.
Idioma: A experiência de Andrea foi tranquila sobre essa questão.
“Talvez a parte mais fácil da adaptação foi a relação com o inglês. Eu
já falava o idioma de forma fluente, já o meu filho, como ele veio antes
de completar três anos, a adaptação foi incrível. Em duas semanas já
havia trocado o português pelo inglês. Uma grande vantagem de criar
filho no exterior, é ele poder ser fluente em dois ou mais idiomas.”
Diferenças culturais: Ana Eliza ressalta o impacto do choque cul-
tural no cotidiano. “A maior diferença é cultural. Os europeus lidam
com a infância com mais naturalidade e menos complicação. Na Eu-
ropa não há tanta glamourização da infância, com quartos infantis
com decorações profissionais e festas caríssimas em buffet. Porém,
existe muito mais inserção social da infância na vida cotidiana.”
Educação: “O ensino é gratuito na Inglaterra e as crianças são ma-
triculadas a partir dos 5 anos de idade. Os custos que os pais têm
são com uniformes, materiais extras, passeios e outras atividades. O
ensino é de qualidade e as aulas são em tempo integral, ou seja, das
8h50 até às 15 horas”, relata Andrea.
Estrutura favorável: “Nos transportes públicos há espaços para car-
rinhos de bebê. É possível encontrar famílias, inclusive bebezinhos,
em museus, restaurantes e bares”, diz Ana Eliza sobre a estrutura
de suporte às mães nas cidades italianas.
As experiências completas de Ana Eliza e Andrea Cortês podem ser
lidas no www.eurodicas.com.br/criar-filho-no-exterior/.

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Educar os filhos na Europa é uma
experiência incrível com ganhos
culturais e educacionais imensos.

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EMPREENDER

AT I T U D E E CO M P RO M I S S O
Empreender, como todo verbo transitivo, exige complemento para
ter sentido. É transitivo e direto, um verbo de ação, que tem peso,
contundência e chama ao comprometimento. Na prática da vida é
essa a postura exigida daqueles que possuem o espírito empreen-
dedor. E, seguindo na metáfora, o complemento a esse verbo pode
ser compreendido como uma atitude proativa, que leva à realiza-
ção. E tem de ser direto, manter o foco e a determinação. Empreen-
der é mais do que um verbo, é uma atitude de peso, contundente e
que chama ao comprometimento.
No Brasil, o espírito empreendedor é quase que uma impo-
sição aos que pretendem uma vida melhor. São raras as posições
como empregado que oferecem o pacote ganho financeiro, plano
de carreira em sintonia com o projeto de vida que se tem e satis-
fação pessoal. Tampouco oferecem o que talvez seja o mais impor-
tante para quem nasceu com esse espírito: estar no controle, ou ao
menos ter a sensação de que se está no controle. Como empregado,
a ideia do ‘não sou conduzido, conduzo’, o lema da bandeira da
cidade de São Paulo citado na abertura deste livro, simplesmente
não existe e, para o empreendedor, não ter as rédeas do negócio,
abrir mão do poder de decidir rumos e estratégias é praticamente
o inferno na terra.
Não são poucos os brasileiros que partem para o exterior e
carregam esse sonho de ter o negócio próprio. E há espaço para
todos os perfis de empreendedor, desde os mais versáteis, que
fazem de manutenção predial completa, aos desenvolvedores de
aplicativos e tecnologias bem sofisticados para as mais diversas
áreas e setores.

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Empreender requer estratégia,
planejamento e autocontrole.
O próximo lance é sempre seu.

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A única condição inegociável nesse universo é a da qualida-
de. Na Europa não há espaço para o famoso ‘migué’, o ‘meia-boca’,
a ‘gambiarra’, infelizmente tão comum na nossa realidade. Seja lá
o que for produzir, o serviço que for prestar ou a consultoria que
for vender, faça-o com excelência, transparência e honestidade.
Lembre-se da citação de Erick Gutierrez sobre a postura de falar
claramente que ‘o prazo não é suficiente’, ‘nessas condições não
tem como fazer’, ‘por esse valor não tem negócio’. Essa seriedade,
tão comum nas relações pessoais e comerciais, é muito valoriza-
da no Velho Mundo e pode ser o carimbo no seu passaporte para a
criação de um negócio bem-sucedido. Fora desse caminho, não há
história de sucesso viável e, possivelmente, nem segunda chance.
Reputação, uma vez criada, é para sempre.

O QUE NÃO FA ZER


Tão importante quanto saber o que fazer é ter a noção do que não
fazer em hipótese alguma. Muitas regras do empreendedorismo
são universais, porém, quando se está em terra estrangeira, há si-
tuações que simplesmente não podem fazer parte de seu plano de
ação. Vamos falar delas:
Clandestinidade: jamais, em nenhuma circunstância atue de for-
ma clandestina. Formalize minimamente seu negócio. Busque as
informações necessárias junto aos órgãos públicos locais e, caso
seu visto limite sua atuação, adapte seu projeto ou busque um par-
ceiro que possa garantir a legalidade necessária para atuação no
mercado escolhido. Os riscos de agir na clandestinidade são sérios
e podem transformar o sonho de vencer na Europa no pior pesadelo
de sua vida. Então, trilhe o caminho da correção e procure conhe-
cer as regras e as leis locais. Só assim a segurança necessária para
seguir estará garantida.
Sem atalhos: é comum aparecer pessoas que ofereçam ‘almoço
grátis’. E, como sabemos, não existe ‘almoço grátis’. Fuja desses
atalhos. É preferível que as coisas demorem um pouco mais para
se resolverem do que caminhos curtos com potencial enorme de
implosão de projetos. As respostas para qualquer dúvida devem

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“A MAIORIA DAS PESSOAS
ACREDITA APENAS NO QUE
VÊ, MAS EMPREENDEDORES
E LÍDERES DE VERDADE
PRIMEIRO ACREDITAM
E DEPOIS VEEM. NÓS
ACREDITAMOS NO FUTURO E
DAÍ IREMOS VER O FUTURO.
Jack Ma, cofundador do Alibaba Group

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ser buscadas em órgãos oficiais ou com fontes de credibilidade.
Agilizadores de todas as espécies surgem do nada com a solução
para todos os problemas, mediante o pagamento de pequenas ta-
xas. Não ceda. Enfrentar a burocracia, muitas vezes insuportável,
ainda é o melhor caminho a seguir.
Improviso na gestão: administrar poucos recursos financeiros é
tão ou mais complicado do que gerir uma fortuna. A má gestão pode
ser o caminho mais curto para o fracasso. Não caia na armadilha de
ir levando do jeito que dá ou ‘contando com o ovo que ainda não
foi botado’, consumindo um recurso que ainda não entrou. Prati-
car a gestão financeira e controlar o fluxo de caixa, ou seja, saber
quanto entra e quanto sai, são atividades vitais. A desorganização
financeira é a principal causa do fechamento de muitas empresas.
Diferentemente do Brasil, onde não fazemos conta dos centavos do
troco da padaria, na Europa cada moeda conta. Lá também não há
a cultura do cheque especial, que aqui comumente usamos como
capital de giro. É trabalhar com o que se tem. Pode parecer exagero,
mas, sem administrar o fluxo real de seu caixa, qualquer planeja-
mento de curto, médio ou longo prazo fica comprometido e as deci-
sões serão tomadas no escuro, sem base real.
Pessoal X profissional: é um erro capital misturar as contas pes-
soais com as contas da empresa, em qualquer parte do mundo. Es-
tipule um valor que cubra os custos que você estimou para viver
na Europa, o seu pró-labore, e se adeque a ele. Não use o capital da
empresa para pagar suas contas rotineiras e nem use seus recursos
pessoais para cobrir gastos do seu negócio. Essa disciplina é fun-
damental, ainda mais se tiver um sócio.
Preço justo: segure a ansiedade em querer dar certo rápido e fazer
dinheiro a qualquer custo o mais breve possível. Não é assim que
as coisas funcionam. O preço cobrado pelo seu produto ou servi-
ço tem de ser justo, correto e dentro dos parâmetros do mercado.
Tenha planilhado todos os custos de operação e produção, estabe-
leça sua margem de lucro e precifique de forma correta. Em econo-
mias historicamente estáveis, como são as dos países europeus,
não funciona o truque de jogar o preço lá no alto e depois cortar
em forma de desconto para chegar no valor real. Essa prática com-
promete sua credibilidade.

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O QUE SE DE V E FA ZER
Na prática a teoria é outra, já diziam os nossos avós. Isso resume
bem a realidade do empreendedor que se vê diante de uma ideia
que acha brilhante, mas, na hora de realizar, surgem as dificulda-
des e toda sorte de inconveniências que colocam à prova suas con-
vicções. É nesse momento que a autoconfiança e o conhecimento
de causa têm de falar mais alto.
Há boas pistas deixadas por inúmeras histórias de empreen-
dedores para o caminho do sucesso. Elas apontam para o básico a
ser feito antes e durante a implantação do projeto:
Persistência: o tamanho da dificuldade é você quem define. Não
se trata de ignorar o problema e seguir de forma inconsequente,
mas sim de observá-lo e encontrar a melhor forma de resolvê-lo ou
de conviver com ele enquanto a solução não chega.
Simplesmente faça: um bom exemplo da cultura ‘do it’ é Richard
Branson, fundador do grupo Virgin. Em que pese às circunstân-
cias específicas de cada ação que ele teve em sua história, é ine-
gável sua capacidade de fazer o que acredita ser o correto. Antes
de se tornar um ícone no mundo empresarial, Richard colecionou
alguns fracassos, cometeu erros, equívocos, mas jamais se omitiu
diante de uma ideia. Ele foi em frente e fez. Com isso inovou, abriu
mercados e se tornou relevante em diversos setores.
Busque a excelência: não basta ter um discurso ou um slogan so-
bre qualidade. É preciso ter qualidade e excelência no que se ofe-
rece, e essa excelência é uma busca incessante. Se olhar para a
história da Apple de Steve Jobs, veremos essa gana de buscar sem-
pre o melhor, o aprimoramento e a inovação. Jobs era obcecado por
isso: “Mantenha-se fiel à qualidade dos produtos e serviços que
você oferece mesmo durante os tempos difíceis”, costumava dizer.
Step by step: o caminho para o empreendedor se faz ao caminhar.
Muito do que se imagina se mostra diferente no dia a dia. O im-
ponderável é uma constante, por isso a construção de uma marca,
de um negócio é feita passo a passo. A pressa é verdadeira inimiga
desse processo.
Criatividade: preparar-se para tempos difíceis é regra de vida, mas
quem empreende um negócio precisa adicionar boa dose de criati-

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vidade, pois empreender é mais do que vender, é sobre criação, ino-
vação e capacidade de fazer as coisas acontecerem. Em momentos
de baixa para seu produto ou serviço, a capacidade de reinvenção
e adaptação entram em cena; portanto, saiba fazer a leitura do seu
mercado de atuação e de todas as suas possibilidades, veja onde as
habilidades da sua empresa ou as suas podem ser necessárias.
Amor pelo que faz: se você não é apaixonado por seu serviço ou
produto, pule fora e parta para outra, pois dificilmente conseguirá
convencer outro a consumir ou pagar por aquilo em que nem você
acredita. Seja o seu cliente número 1.
A arte de delegar: daí a empresa cresce, o negócio vinga e é preci-
so delegar, confiar em outros para que as coisas sigam em frente.
Esse é um problema para muitas pessoas, mas é preciso entender
que delegar não tem a ver com abrir mão do controle. É a velha
e sempre atual regra do dividir para conquistar. Concentre-se
naquilo que só você pode fazer e deixe que outros toquem os de-
mais processos.

EDUC AR-SE
A consciência empreendedora precisa ser educada para a realidade
de hoje sem perder de vista as projeções do futuro. É um equívoco
acreditar que empreender é abrir mão do emprego, ter uma ideia
na cabeça e sair por aí, batendo de porta em porta, até que alguém
perceba o quão genial é a sua ideia e que os clientes se estapeiem
por seu atendimento.
Empreender requer consequência. Arriscar-se é importante,
mas fazê-lo de qualquer forma é estupidez e pode custar caro.
Abandonar o emprego, ao contrário do que muitos pensam, não
é o início da realização do sonho ou do projeto. Sonhos e projetos
exigem antes um propósito bem definido, clareza de ideias, saber
o que quer e aonde quer chegar. O próximo passo é o 'como' e pres-
supõe planejamento, uma tecla batida insistentemente em cada
página dessa obra. E, o principal, definir propósito e planejar tem
de acontecer antes de se largar o emprego. É assim que nasce a
consciência empreendedora, de forma consequente e madura.

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“SER UM EMPREENDEDOR
É EXECUTAR OS SONHOS, MESMO
QUE HAJA RISCOS. É ENFRENTAR
OS PROBLEMAS, MESMO NÃO TENDO
FORÇAS. É CAMINHAR POR LUGARES
DESCONHECIDOS, MESMO SEM
BÚSSOLA. É TOMAR ATITUDES QUE
NINGUÉM TOMOU. É TER CONSCIÊNCIA
DE QUE QUEM VENCE SEM

OBSTÁCULOS TRIUNFA SEM GLÓRIA.
Augusto Cury

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EU F IZ!

Erick Gutierrez é uma dessas mentes inquietas que não pa-


ram enquanto não atingem o objetivo traçado ou veem uma ideia
concretizada. A decisão de mudar de patamar em seu projeto Eu-
ropa mostra que zona de conforto e empreendedorismo não podem
conviver num mesmo cenário. Foi o desconforto, o incômodo, que
motivou sua partida do Brasil. Na Irlanda, não fosse
esse mesmo incômodo, jamais teria desembarcado
na cidade do Porto. Depois, com as possibilidades “HÁ DOIS TIPOS DE
surgindo e as oportunidades ficando cada vez mais EMPRESAS: AS QUE
claras, não hesitou em tomar a decisão que viria a TRABALHAM PARA
mudar sua história de vida. Sua jornada permitiu
que ele vivenciasse os dois lados de uma mesma mo- TENTAR COBRAR MAIS,
eda. Ele foi empregado durante um tempo. Aprovei- E AS QUE TRABALHAM
tou para conhecer o mercado em que atuaria e como PARA COBRAR MENOS.
as coisas funcionavam, compreender o país, encon-
SEREMOS DA
trar seu lugar e ter uma certa estabilidade, até que
chegasse a hora de dar o salto. SEGUNDA CLASSE.”
O relato que segue, feito em primeira pessoa, traz Jeff Bezos,
o que de mais relevante tem nessa experiência e que fundador e CEO da Amazon
pode inspirar aos que nutrem essa mesma intenção.

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“Sempre tive vontade de ter um negócio próprio. Em todos os lu-
gares que trabalhei, prestava atenção em como as coisas aconteciam
e como eu faria se fosse o meu negócio. A decisão de ir para a Europa
teve esse ingrediente de tentar ter uma coisa minha.
Primeiramente na Irlanda, tentei viver e me bancar prestando
meus serviços. A ideia era arrumar um emprego qualquer apenas
para complementar a renda e garantir uma segurança. Já em Portu-
gal foi o inverso: eu complementava minha renda fazendo sites, pois
meu emprego era o suficiente. Nesse cenário surgiu a ideia de criar o
Euro Dicas. Tudo que coloquei em prática para viabilizar essa ideia,
foram coisas que ainda estava aprendendo e vivenciando na empresa
em que eu trabalhava.
Mas o projeto cresceu, foi tomando corpo, ganhando importân-
cia. Comecei a fazer mais dinheiro com ele do que com o emprego fixo,
as posições se inverteram. Mas, como eu não tinha a intenção de viver
do site, todo dinheiro que ele gerava eu reinvestia de volta no projeto.
Foram dois anos nessa dinâmica, até que chegou um momento em
que me manter no emprego não era mais viável. Eu dedicava oito ho-
ras ao emprego e quatro ao projeto. Sobrava pouco para minha vida
pessoal e eu tinha acabado de me tornar pai.
Apesar de estar certo de que financeiramente seria bom para
mim, o fato de estar em outro país, sem qualquer tipo de apoio e com
uma filha recém-nascida, adiou por uns meses a inevitável tomada
de decisão, afinal, eu precisava ser muito racional, não havia mar-
gem para erro. Fiz um acordo com a empresa em que eu trabalhava.
Consegui negociar algo que me garantia por seis meses e, com esses
recursos, contratei dois colaboradores. Foi assim que o Euro Dicas
nasceu como empresa. Felizmente, três meses depois, estávamos
organizados e crescemos a ponto de criar uma holding que hoje pos-
sui diversos projetos semelhantes ao Euro Dicas, mas com propósitos
diferentes. Não tenho problemas em admitir que nos tornamos um
case e que o negócio ganhou proporções que jamais imaginaríamos.
O segredo desse sucesso, na verdade, não é um segredo. Pode soar
clichê, mas planejamento e determinação é o que define os rumos de
nossas iniciativas.”

Erick Gutierrez, cofundador do Euro Dicas e CEO da Wcontent

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EUROHI S TÓR I A

NO C U R SO DO DESEN V OLV I M EN T O
A Europa é um continente de maioria cristã, mas, salvo episódios
muito localizados e esporádicos, não há problemas para professar
e praticar qualquer fé, pois é possível encontrar templos católicos
romanos, anglicanos e ortodoxos; igrejas protestantes; mesquitas;
sinagogas; templos budistas e hindus, enfim, há lugar para todas
manifestações e práticas e uma convivência pacífica.
Os rios são partes importantes da construção e desenvolvi-
mento da Europa. Por eles escoam de maneira sustentável, eco-
logicamente correta e economicamente viável boa parte das ri-
quezas do continente. Impressiona o modo como as cidades se
desenvolveram às suas margens e o jeito como as pessoas se rela-
cionam com eles. São locais de lazer, fontes de renda para diversos
setores e pontos turísticos.
As hidrovias implantadas criaram um eficiente e lucrativo
modelo de logística. Suas rotas tiraram das estradas um signifi-
cativo número de caminhões. Isso impacta positivamente a qua-
lidade de vida das pessoas ao diminuir os congestionamentos e
acidentes. Na economia local os efeitos também são sentidos, pois
o transporte pelo rio tende a ser mais barato. Com os custos opera-
cionais menores, os preços finais, como consequência, caem.
O meio ambiente também colhe os efeitos que essas boas
águas provocam. Com a diminuição no consumo de combustíveis e
na emissão de poluentes, o ar fica bem melhor de se respirar.
Para nós brasileiros, essa relação impressiona ainda mais. Em
pouco mais de 500 anos de história, foram poucos os momentos em
que nossos rios tiveram o protagonismo merecido. E nada indica
que essa cultura irá mudar. Apesar de termos muitos rios navegá-
veis cortando nosso país, a prática não caminha para esse modelo

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O rio Tâmisa, que já foi um imenso esgoto
a céu aberto, é motivo de orgulho para os
britânicos e símbolo de um futuro promissor,
que não para de ser construído às suas margens.

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de relação. Estamos muito distantes de entender a hidrovia como
uma saída econômica viável na solução dos nossos graves proble-
mas de logística. E isso não é pouca coisa, afinal, é justamente a
questão logística um dos maiores entraves para o desenvolvimento
do país, como um todo, e de algumas regiões em particular.
Da mesma forma como os reflexos de uma relação estratégi-
ca e saudável acarreta efeitos positivos nos países europeus, os
efeitos negativos se fazem presentes quando a relação é inversa. O
modal brasileiro é basicamente rodoviário, o que encarece toda a
operação e a conta chega para o cidadão, que paga mais caro pelos
produtos. É o chamado ‘custo Brasil’ que, inclusive, não estimula
os que pensam em investir aqui. Soma-se a isso o custo ambiental.
Toda essa análise crítica da nossa realidade serve para subli-
nhar o mérito europeu de entender os recursos naturais disponí-
veis. É assim com o vento, também, na produção de energia eólica.
Ao pisar em solo europeu para construir e viabilizar seu plano
de vida, é recomendável compreender essas diferenças, assimilá-
-las de tal forma que possa ajudar na produção desse plano. Quem,
por exemplo, tem formação em logística, não pode ignorar essa re-
alidade. Serve também para quem atua nas áreas de turismo, ser-
viços e em outras tantas atividades econômicas. Os rios, de certa
forma, moldam a Europa que nos atrai e nos fascina.
O Velho Continente possui uma grande quantidade de rios na-
vegáveis. Seu relevo é formado por terras baixas, o que justifica a
tradição em navegação que, por sua vez, fez com que se desenvol-
vesse o tino comercial de boa parte de seus povos, estimulados pe-
las ligações comerciais entre cidades, países e outros continentes:
o vai e vem de mercadorias sempre foi muito intenso.

FA MOSOS E I M P OR T A N T ES
Historicamente os rios europeus se prestaram ao papel de ser o
‘meio de comunicação’ com o mundo. Foram palcos de conflitos
também. Atualmente, cumprem uma função estratégica na eco-
nomia: quem sabe utilizá-lo em todo seu potencial, leva vantagem
na disputa pelo poder econômico dentro e fora do continente.
A maioria dos países da Europa tem pelo menos um rio como
referência. Pensou em Portugal, pensou no Tejo, no D’Ouro – um

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em Lisboa, outro na cidade do Porto – ambos fundamentais na his-
tória do desenvolvimento do país.
Na França, o Loire e o Sena, esse último famoso pelo charme
e pelo romantismo que envolvem o seu cenário. No verão, o Sena
vira uma praia em plena Paris, quando suas margens são ocupadas
para piqueniques e banhos de sol. Suas paisagens inspiraram pin-
tores, como Monet, escritores como Balzac e um grande número
de cantores e poetas inebriados por sua beleza. O Sena também
é apontado como o local onde foram jogadas as cinzas de Joana
d’Arc, fato de difícil comprovação, mas que caiu no gosto popular,
aquele tipo de verdade que, se não é, bem que poderia ser. Já o rio
Loire corta a França de leste a oeste e é o maior do país. É ele que
irriga uma importante área de cultivo de uvas e de produção de
queijos, o Vale do Loire.
O rio Reno, na Alemanha, atravessa a zona industrial formada
pelas cidades de Bonn, Colônia, Dusseldorf e Essen. Uma região de
grande peso econômico e político. É também a principal ligação
com o maior porto da Europa, o de Roterdã, na Holanda. Durante o
Império Romano, serviu de barreira contra ataques dos bárbaros.
O Reno teve também um papel fundamental na Revolução Indus-
trial. Às suas margens, floresceu o Vale do Ruhr, uma região cujas
reservas minerais beneficiaram o processo de industrialização
nesse período.
Outro gigante alemão, o rio Elba, corta as cidades de Leipzig
e Dresden, desembocando em Hamburgo, uma importante cidade
portuária do norte da Alemanha.
O Tâmisa, em Londres, possui 346 km de extensão e, no passa-
do, era praticamente um esgoto a céu aberto. Hoje, além de limpo,
é navegável. Sua importância para o turismo da capital inglesa é
imensa. As pontes London Bridge e Tower Bridge são as vedetes
entre as mais de 300 que o atravessam em todo seu curso. Às suas
margens, atrações como a London Eye e a Catedral de St. Paul são
vistas espetaculares.
Por fim, o rio Danúbio, que torna a capital da Hungria, Budapes-
te, ainda mais bela. O Danúbio faz fronteira com dez países, o que
lhe confere uma característica muito peculiar e faz dele um impor-
tante canal de comunicação entre as europas Ocidental e Oriental.

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EUROCUR IOS IDADE S
U M A P O T Ê NC I A C H A M A D A E U R OPA
Conhecido também como Velho Mundo, por ser o berço da Os 27 da União Europeia são:
civilização, a Europa é formada por 50 países. É o segundo Alemanha, Áustria, Bélgica,
Bulgária, Chipre, Croácia,
menor continente do mundo em extensão territorial. São
Dinamarca, Eslováquia,
pouco mais de 10 milhões de km2 divididos em quatro regi- Eslovênia, Espanha, Estônia,
ões: Ocidental, Setentrional, Centro-Oriental e Meridional. Finlândia, França, Grécia,
Essa divisão leva em conta aspectos geográficos e políticos. Hungria, Irlanda, Itália,
Letônia, Lituânia, Luxemburgo,
Malta, Holanda, Polônia,
POT ENCI A L ÚNICO
Portugal, República Tcheca,
A população da Europa é de pouco mais de 747 milhões de Romênia e Suécia.
pessoas, segundo dados de 2020 do worldometers (https://
bit.ly/3c4swJW), um site que se tornou referência em esta-
tísticas sobre o planeta atualizadas quase que em tempo.
Esse número representa perto de 10% da população mun-
dial, que é de quase 7 bilhões e 800 milhões de pessoas.

A U N I ÃO QU E FA Z A F OR Ç A
Dos 50 países europeus, 27 fazem parte da chamada União
Europeia. Juntos eles respondem por um território de qua- Dos 27 países, 19 aderiram
se 5 milhões de km2, ou seja, praticamente a metade de à moeda comum formando
todo o continente. A população dessa região é de cerca de a zona do euro. De acordo
446 milhões de habitantes, segundo dados oficiais da UE. com a União Europeia, são
340 milhões de cidadãos
movimentando a economia de
24 LÍNGUA S DIFER EN T ES
moeda única nessas 19 nações.
No bloco da União Europeia falam-se 24 línguas oficiais di- São eles: Alemanha, Áustria,
ferentes: búlgaro, croata, checo, dinamarquês, holandês, Bélgica, Chipre, Eslováquia,
inglês, estônio, finlandês, francês, alemão, grego, húnga- Eslovênia, Espanha, Estônia,
ro, irlandês, italiano, letão, lituano, maltês, polonês, por- Finlândia, França, Grécia,
Irlanda, Itália, Letônia,
tuguês, romeno, eslovaco, esloveno, espanhol e sueco. Mas
Lituânia, Luxemburgo, Malta,
não se preocupe, com um bom inglês dá para conviver bem Holanda, Portugal. O euro
na maioria dos países, mas sempre lembrando que apren- foi introduzido como moeda
der a língua local ajuda na adaptação e é sinal de respeito. comum no ano de 2002.

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O SITE

ER A UM A V EZ UM BLOG...
Euro Dicas é um site de informações sobre como viver na Europa,
escrito por brasileiros para brasileiros. Até aí poderia ser apenas
mais um slogan de qualquer espaço ou publicação voltada aos tu-
ristas ou às muitas pessoas que sonham em fazer a vida fora do
Brasil em algum país europeu. Mas por trás dessa marca forte, cla-
ra e objetiva, que já na primeira leitura diz a que veio, tem uma
história bem costurada pelo destino e por seus protagonistas.
A iniciativa de Fabiane Fernandes foi fruto de uma experiên-
cia pessoal bastante desagradável, que fez com que ela notasse a
lacuna que havia para quem buscava informações objetivas sobre
a vida na Europa. Erick Gutierrez, marido de Fabiane e co-funda-
dor do site, recorda as circunstâncias em que tudo aconteceu: “A
Fabi ficou frustrada ao chegarmos em Limerick, na Irlanda, e encon-
trar uma realidade completamente diferente de tudo que havia lido
em pesquisas antes de embarcar.”
A indignação da Fabiane encontrou abrigo no conhecimen-
to de Erick em tecnologia. Bingo! Nasceu ali, no formato simples
de um blog quase pessoal, um espaço com o objetivo de oferecer
dicas práticas e informações sobre a Europa. “Era tudo muito pes-
soal, falava do cotidiano, as fotos do blog eram de nossas viagens.
Notamos que era preciso ir além para ser, de fato, um espaço que aju-
dasse as pessoas. Esse desejo virou nosso mantra: ‘queremos ajudar
os brasileiros que desejam morar na Europa’. A ideia de evitar que
outros passassem pela mesma frustração que Fabiane tornou-se
algo grande e relevante, influenciou a vida de muita gente e mu-
dou a vida do casal.

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A Gran Via, no centro de Madrid,
é o retrato de uma Europa que não
para. Em destaque, o emblemático
edifício do Capitólio.

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A V IDA COMO EL A É
O Euro Dicas criou seu diferencial em relação aos demais sites e
portais. Seus artigos não falam de modo teórico sobre a realidade,
mas por meio de informações apuradas por pessoas que vivem o
cotidiano nas mais variadas cidades do continente. Esse fato hon-
ra o mantra citado por Erick. “Desde 2014 trabalhamos incansavel-
mente com foco nessa missão. Cada dia vale muito a pena. Lembro
quando batemos a marca de 500 mil acessos em 24 horas, foi e ainda
é uma sensação incrível de realização, de conquista de objetivo. Nes-
te dia compreendi que estávamos no caminho certo.”
Esse caminho apontou para as reais necessidades de quem
vai para a Europa com o objetivo de se estabelecer lá, e não como
turista. Temas como custo de vida, por exemplo, são pouco abor-
dados em outros sites; é o lado espinhoso que foge das maravilhas
oferecidas aos turistas, mas fundamental para o projeto de quem
chega para ficar. “Quem mora na Europa sabe que a rotina é fazer
contas, por todos os gastos na ponta do lápis, mas é o tipo de pauta
que não dá like nas redes sociais. Fomos na contramão e decidimos
atuar de maneira séria nesses temas menos encantadores, afinal,
nosso objetivo é ajudar de verdade, ter relevância e ser referência.
Continuamos nesse caminho”, afirma Erick.
O site traz informações relevantes para quem pretende enca-
rar o desafio de cruzar o oceano em busca de uma realização pes-
soal ou profissional, uma melhor formação acadêmica e cultural,
ou a almejada qualidade de vida que, infelizmente, não encontra
em sua terra natal. Desde como solicitar vistos e cidadania, pas-
sando por dicas sobre a cultura, até informações sobre o custo de
vida e a rotina de cada país, o site colabora de verdade para que
o planejamento seja o mais eficiente e adequado aos objetivos de
cada um. “Oferece conteúdo de qualidade, de fontes oficiais e confi-
áveis. É atualizado diariamente por uma equipe de pessoas que vive
ou que já viveu na Europa e conhece a fundo a realidade cotidiana.
As dicas e os artigos são baseados na própria experiência desses co-
laboradores, e isso é fundamental para cumprir nosso compromisso
de fazer do Euro Dicas uma experiência rica e útil ao planejamento de
quem quer viver na Europa”, define Erick.

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“O SUCESSO NASCE DO
QUERER, DA DETERMINAÇÃO
E DA PERSISTÊNCIA EM SE
CHEGAR A UM OBJETIVO.
MESMO NÃO ATINGINDO
O ALVO, QUEM BUSCA E VENCE
OBSTÁCULOS, NO MÍNIMO,

FARÁ COISAS ADMIRÁVEIS.
José de Alencar

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Fotos utilizadas nesta edição: iStock.com/Delpixart, iStock.com/nimu1956, iStock.com/nixki, iStock.com/rparys, iStock.com/emicristea,
iStock.com/aldorado10 (Capa); iStock.com/sduarte, iStock.com/gianliguori, iStock.com/thegreekphotoholic (4a Capa); iStock.com/
tifonimages (pág. 13); iStock.com/timyee (pág. 19); iStock.com/Faabi (pág. 25); iStock.com/HeiFi (pág. 31); iStock.com/VSargues
(pág. 37); iStock.com/vladacanon (pág. 39); iStock.com/RossHelen (pág. 40); iStock.com/bennymarty (pág. 43); iStock.com/Nicola
Forenza (pág. 49); iStock.com/Roman Babakin (pág. 55); iStock.com/nantonov (pág. 57); iStock.com/Photoservice (pág. 63); iStock.
com/PytyCzech (pág. 65); iStock.com/SasinParaksa (pág. 69); iStock.com/Mustang_79 (pág. 75); iStock.com/Jorgefontestad (pág.
79); iStock.com/scaliger (pág. 93); iStock.com/Estellez (pág. 94); iStock.com/Meinzahn (pág. 95); iStock.com/monkeybusinessimages
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MarianVejcik (pág. 123); iStock.com/juanorihuela (pág. 125).

Fontes de Pesquisa: BBC, O Tempo, Folha de S. Paulo, O Globo, O Público, Eurostat, História do Mundo, Leituras da História,
Gestão&Negócios, O Pensador, www.eurodicas.com.br/europa.eu/european-union/about-eu/figures/living_pt, worldometers.info/,
politize.com.br/migracoes-historia-mundial/; historiaonline.com.br/fronteiras-fortificadas-no-mundo-atual/

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“O PARADOXO DOS IMPREVISTOS
É QUE PODEM SER EVITADOS.
BASTA DAR-LHES UM ESPAÇO
NO PLANEJAMENTO”
Citação do filme Tese sobre um homicídio

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Euro Dicas – O sonho de viver na Europa
foi editado entre abril e junho de 2020 em São Paulo, Brasil, e Lisboa, Portugal.

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O SONHO
DE VIVER NA EUROPA
A Europa de Gaudí, Salvador Dalí e Montserrat Caballé. De Amália Ro-
drigues, José Saramago e Cristiano Ronaldo. De Marlene Dietrich, Goe-
the e Einstein. De Sophia Loren, Federico Fellini e Enzo Ferrari. De Coco
Chanel, Simone de Beauvoir e Charles Baudelaire. De Vicent van Gogh,
Rembrandt e Eddie van Halen. De Amy Winehouse, da Rainha Elisabeth,
dos Beatles e dos Rolling Stones. De artistas de diversas áreas, de gran-
des cientistas e filósofos, de personalidades dos esportes e da política.
Palco de acontecimentos históricos, o continente que ficou arruinado
após as guerras que testemunhou e das quais sempre saiu mais forte.
A Europa que conta a trajetória da humanidade em cada esquina, com
seus museus, praças, igrejas e monumentos. A terra de rios e colinas,
montanhas e praias, castelos e jardins esplêndidos. A Europa que abriga
os sonhos de muitas pessoas que enxergam nela a possibilidade de en-
contrar “o seu lugar no mundo”.

Essa Europa, sempre relevante, pode ser o espaço ideal para você escre-
ver a sua história pessoal e profissional. O lugar que reúne e oferece con-
dições para realizar, evoluir e consolidar seu projeto de vida. Esses são os
verbos mais conjugados pelas pessoas que relatam, nesta obra publicada
pelo Euro Dicas, parte importante de suas jornadas no Velho Continente.

Leia e inspire-se.

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