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OS PEIXES E A PESCA

NO RIO PIRACICABA | MG

1
A bacia do rio Piracicaba

O rio Piracicaba nasce no município de Ouro Preto a 1.680 m de altitude e


percorre 241 km até desaguar no rio Doce, na divisa dos municípios de Ipatinga
e Timóteo. É um dos principais afluentes do rio Doce. Drena uma área de relevo
bastante montanhoso, onde existem grandes desníveis, formando cachoeiras e
corredeiras, intercalados com trechos de fundo mais arenoso e menor correnteza.

As chuvas são concentradas no final da primavera (novem-


bro e dezembro), indo até fevereiro, seguido de períodos
com menores precipitações, chegando à completa estiagem
nos meses mais frios do meio do ano (outono/inverno).

Caracterização do clima tropical típico – Estações do ano

Foto página à esquerda: Corredeiras de Amorim, rio Piracicaba, Antônio Dias, MG


2 Foto da capa: Rio Piracicaba, Nova Era, MG 1
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
Os processos de degradação ambiental fazem parte da história da bacia do rio 50° 48° 46° 44° 42° 40°

Piracicaba há uma longa data. Esse fato pôde ser constatado em um manuscrito BA
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do século XIX, encontrado sob o altar da igreja de São João Batista, em Barão de

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D.F.

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16° 16°

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Cocais. Nesse documento é feito um relato acerca da redução na abundância de MINAS GERAIS

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peixes em um curso d’água afetado pela exploração do ouro. GO
18° 18°

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“…Hoje é muito diversa a vida dos habitantes de S. João do DO

M. S.
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BACIA DO RIO PIRACICABA

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Morro-Grande (atualmente Barão de Cocais). O rio nada produz, HORIZONTE

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DIVISÃO MUNICIPAL

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à excepção de pequenos peixes como a pirapitinga, trahiras,

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22° EIR 22°
piabas, mandis pescados com mais vantagens durante o princípio 0 200 km RIO DE J
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da estação chuvosa, outubro e novembro. Em comparação o 50° 48° 46° 44° 42° 40°

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Bacia do rio Doce Bacia do rio Piracicaba

b.

Pequ e
povo tornou-se mais dedicado ao trabalho da lavoura, e nem por

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. IPATINGA

isso menos satisfeito que outrora. Para todo mal existe alguma
FABRICIANO

DO
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TIMÓTEO

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compensação.” (Belarmino, J. - sem data - Notas colhidas sobre a tradição ITABIRA
ANTÔNIO DIAS

local. 32 p. Ouro Preto, MG. Transcrição conforme original) DO


JAGUARAÇU

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DO AMPARO MARLIÉRIA

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Apesar de já existir uma preocupação com as condições ambientais naquela


NOVA ERA

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época, também fica claro certo conformismo com as perdas observadas. Outro RIO S.GONÇALO DO
RIO ABAIXO
MONLEVADE
BELAVISTA
DE MINAS
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S.DOMINGOS

fato relevante nesse manuscrito é a citação da ocorrência da pirapitinga na região, DO PRATA

DA
RIO
PIRACICABA

uma espécie de peixe extremamente rara na bacia do rio Piracicaba nos dias atuais. BARÃO
DE COCAIS
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Limite da bacia

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Limite municipal
Sede do município

RIO
ALVINÓPOLIS

TURVO
RIO MARIANA ESCALA-1:1.000.000
OURO B A
PRETO PIRACICA
BASE CARTOGRÁFICA-Mapa das Regiões Administrativas
de M.G. Escala - 1:1.500.000 - 1997 IGA/CETEC e Mapa
43°00'
Rodoviário, Escala - 1: 1.500.000 - 1998 - DER/MG.

1680 m
PERFIL LONGITUDINAL DO RIO PIRACICABA
900

800

SANTA RITA DURÃO 808m

NOVA ERA
700
1 4 3

ANTÔNIO DIAS
600,0
600

CORONEL FABRICIANO
561,0

FONSECA 677m

E.F.V.M.(antiga)
495,0

E.F.C.B.
E.F.C.B.

RIO PIRACICABA
500 445,0 4 3

IPATINGA
JOÃO MONLEVADE

Rib. Santa Bárbara


372,0 2

Rio do Peixe

E.F.V.M.
400

RIO DOCE
255,7
300

200
241 km 220 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0
Fonte: CANAMBRA/CEMIG - 1965 (adaptado)
USINAS HIDRELÉTRICAS
Barramento Casa de força 495,0
Nível d'água (m) Ponte Piracicaba - 1939 Amorim I - 1950 (desativada)

Sá Carvalho - 1949 Guilman-Amorim - 1997

2 Foto página à esquerda: Rio Piracicaba, Lago UHE Guilman-Amorim, Nova Era, MG. 3
A fauna de peixes do rio Piracicaba

Foram relacionadas para a bacia do rio Doce 71 espécies de peixes nativos, onze
das quais ameaçadas de extinção e 28 exóticas, totalizando 99 espécies. Desse
total, pouco mais de um terço (40 espécies) possui registro relatado para o rio
Piracicaba (confira lista das espécies, página 31).

O próprio nome do rio - Piracicaba - que significa em tupi-guarani “lugar onde o


peixe pára” pode representar uma resposta para a existência de menor número de
espécies de peixes neste rio no trecho a montante da UHE Sá Carvalho. De fato,
várias delas, como o piau-branco, o sairú e a cumbaca, possuem registros atuais
somente abaixo da cachoeira do Salto, em Antônio Dias, no baixo Piracicaba
(veja o perfil do rio e a localização geográfica da bacia na página 3).

Com relação à ocorrência de espé-


cies de peixes no rio Piracicaba
duas merecem destaque especial:
a primeira é o piau-vermelho
(Leporinus copelandii), cujos re-
latos disponíveis haviam sido fei-
Leporinus copelandii. tos somente por moradores da
Piau-vermelho região de João Monlevade com
mais de oitenta anos, onde esse
peixe era pescado por volta dos anos 30. Esse fato era condizente com estu-
dos realizados ao longo dos últimos 20 anos no rio Piracicaba acima da Usina
Hidrelétrica Sá Carvalho, onde a espécie nunca havia sido registrada desde
então. Entretanto, dois exemplares foram capturados, em abril de 2011, próxi-
mo à saída de água da casa de força da Usina Hidrelétrica Piracicaba, em João
Monlevade. Ainda não é possível indicar se esses exemplares são provenientes
de ações particulares de soltura ou se da recuperação de alguma população
que se manteve isolada, em longo prazo, em uma seção mais preservada do rio
e agora volta a se dispersar pelos cursos d’água.

4 Foto página à esquerda: Rio Piracicaba, Lago UHE Guilman-Amorim, Nova Era, MG. 5
A outra espécie é a pirapitinga ou pipitinga (Brycon cf. opalinus). Nas últimas A primeira tentativa oficial de peixamento que se tem notícia ocorreu em 1961,
décadas, existia um único registro dessa espécie, datado de mais de 30 anos com o mandi-amarelo (Pimelodus cf. maculatus), uma espécie exótica e trazi-
atrás, para o rio Santa Bárbara, abaixo do reservatório da Usina Hidrelétrica Peti, da originalmente da bacia do rio Paraná. Os peixes foram soltos em Nova Era e
no município de São Gonçalo do Rio Abaixo. Recentemente, um novo exemplar João Monlevade e, ao que tudo indica, não se estabeleceram nesse trecho do rio
foi capturado acima do núcleo urbano de Barão de Cocais. Entretanto, nesse Piracicaba, embora seja comum em várias outras regiões do rio Doce. Com o pas-
caso o peixe foi somente fotografado e liberado, não permitindo uma análise sar do tempo, outras espécies exóticas foram liberadas e o resultado é que hoje
mais adequada. Por essa razão, o nome usado aqui trás um “cf.”, que indica ne- existem pelo menos oito espécies exóticas relatadas para a bacia do rio Piracicaba,
cessidade de conferir a identificação.
sendo algumas com populações plenamente estabelecidas: carpa, barrigudinho,
bagre-africano e as duas espécies de tilápias. Pescadores relatam outras espécies
Outro fato digno de nota é que uma grande parcela dos peixes ainda encontra-
exóticas, mas estas não foram ainda registradas formalmente através de estudos
dos, na calha do Piracicaba, é capaz de suportar grandes alterações ambientais.
realizados. As informações disponíveis indicam que todas as ações de peixamento
Desse modo, além das características naturais da bacia, principalmente grandes
foram feitas com espécies exóticas, em detrimento das nativas.
quedas d’água separando trechos de rios, existem bons indicativos de que a de-
gradação ambiental também representou um fator responsável pela redução da
riqueza da fauna de peixes.

A existência de poucas espécies de peixes na bacia do rio Piracicaba também criou


expectativas na população de que se fizessem peixamentos. Acreditava-se e, ainda se
acredita, que a pesca se tornaria mais farta e a fauna de peixes mais diversa.

Outra forma comum de peixes exóticos chegarem aos cursos d’água é através de
fugas de açudes localizados na bacia. Em um estudo realizado, em agosto de 2009,
foram avaliadas dez propriedades situadas em sub-bacias tributárias do entorno ime-
diato do reservatório da UHE Guilman-Amorim. No total, foram identificados 40 açu-
des que estão sendo utilizados, prioritariamente, como criatórios de peixes para fins
de subsistência e ornamentação. Apesar de abrigarem algumas espécies nativas, a
maioria é de exóticas: piaus, pintado, matrinxã, carpa, tilápia, tambaqui, entre outras.

6 Foto: Rio Piracicaba, Nova Era, MG. 7


Na década de 90 foram liberadas carpas no rio Piracicaba e o resultado demonstra A introdução de espécies de peixes exóticos já foi avaliada amplamente para a
que os peixamentos não representam uma forma de manejo adequado. Após a bacia do rio Doce em Minas Gerais, onde foram confirmadas trinta espécies nes-
soltura desses peixes, sem conhecimento prévio nem da gerência ambiental da sa categoria. Entre os problemas relatados, destacam-se a competição e a pre-
Usina Hidrelétrica Guilman-Amorim nem dos órgãos ambientais, pescadores foram dação, em alguns casos culminando com a extinção de espécies nativas, como
atraídos para pescar na área do reservatório formado pela barragem da hidrelétrica. verificado nas lagoas do Parque Estadual do Rio Doce. Outra questão se refere à
substituição de espécies de peixes nativas, uma vez que a pesca está quase toda
Desde então, através das atividades de educação ambiental implantadas pela centrada em espécies exóticas, tais como: tilápias, carpas, entre outras.
Usina, tem-se procurado sensibilizar e conscientizar os pescadores para os im-
pactos que podem ser causados pelo uso inadequado das margens dos rios e dos Para o futuro, novas adições de espécies exóticas podem ocorrer localmente,
reservatórios: corte de árvores, abandono de lixo, abertura de trilhas, focos de visto que a sua introdução pode ser feita por qualquer pessoa ou por escapes
incêndio a partir de fogueiras, entre outras interferências. de criatórios, o que ocorre de forma aleatória nos cursos d’água. Essas formas
de disseminação de peixes exóticos têm impedido qualquer ação efetiva pelo
sistema de gestão ambiental da UHE Guilman-Amorim, embora amplos esforços
tenham sido empregados através de palestras e ações de educação ambiental
sobre os problemas advindos com essas espécies.

Dessa forma, embora hoje se observe uma situação relativamente estabilizada


com a presença das espécies exóticas, não há qualquer garantia futura de que
a mesma seja mantida. Essa conclusão é feita em função dos impactos estarem
relacionados, primariamente, à espécie que é introduzida, condição que não tem
como ser controlada, efetivamente. Para tanto, é necessário que a população se
torne consciente das interferências causadas por atividades de soltura de peixes,
implantação de açudes e pesque-pagues sem os devidos cuidados técnicos e
orientação dos órgãos de fiscalização ambiental e da vigilância sanitária.

Por outro lado, os estudos de monitoramento conduzidos desde o final da década de


90 no lago da barragem demonstraram que a população de carpas (Cyprinus carpio)
decresceu, acentuadamente, após os primeiros anos de formação do reservatório.
Essa alteração populacional ocorreu de forma natural, ou seja, sem ações de manejo e
refletiu, diretamente, como um fator de diminuição da intensidade de pesca esportiva
local, embora a presença de pescadores junto às margens ainda seja bem significativa.

8 Foto: Exemplar de carpa pescada no reservatório da UHE Guilman-Amorim 9


A legislação e a pesca no rio Piracicaba

É muito importante que todos estejam informados sobre a “lei da pesca estadual”1

No rio Piracicaba só é praticada a pesca amadora, que é feita, principal- O limite para captura e transporte de pescado por pescador amador é de 10 kg,
mente, ao longo das margens. mais um exemplar, conforme a tabela de tamanhos mínimos permitidos e
divulgada pelo IEF. Devem ser observados, também, os limites permitidos
Todo pescador amador deve possuir uma carteira de pescador (Categoria durante a época da piracema, que normalmente são mais restritivos.
A), seja para pescar a partir das margens ou com barco a remo ou a motor.
No rio Piracicaba não existem restrições par-
A carteira de pescador amador é obtida no Instituto Estadual de ticulares para a pesca amadora, salvo as
Florestas (IEF) mediante o pagamento de uma taxa. aqui citadas. No entanto, durante o
período da piracema, que tradi-
Todos os pescadores amadores só podem utilizar, no rio Piracicaba, cionalmente ocorre entre 1º de
anzol, chumbada, linha, vara ou caniço e molinete. novembro e 28 de fevereiro do
ano subsequente, as atividades de
Qualquer embarcação utilizada para pesca deve estar identificada com pesca sofrem restrições. Nesta época, os peixes
o número do registro geral (RG) do licenciado. sobem para as cabeceiras dos rios para se reproduzirem e os pes-
cadores têm que observar, rigorosamente, as restrições para a atividade.
A traíra é o único peixe no rio Como o período de interdição da pesca pode variar entre os anos, quan-
Piracicaba que possui tama- do são editadas novas portarias, é necessário que, anualmente, todos se
nho mínimo para ser pesca- informem sobre o mesmo junto ao IEF (http://www.ief.mg.gov.br/pesca/
do (30 cm). O dourado, que é piracema?task=view”http://www.ief.mg.gov.br/pesca/piracema?task=view).
uma espécie exótica na bacia
do rio Doce, e que, segundo Apesar da lei de pesca parecer, para alguns, muito severa, o objetivo final é muito
alguns pescadores, é ocasio- Hoplias malabaricus nobre: preservar os recursos aquáticos vivos para o uso sustentável! Assim, não
nalmente pescado no baixo Traíra deixe de consultar o IEF para receber orientações sobre a pesca no rio Piracicaba.
Piracicaba, também possui
tamanho mínimo de captura (60 cm). Atualmente, não existem re- Forme grupos para discutir e conhecer a lei de pesca estadual e também os peixes do
gistros da captura de dourados nos estudos ambientais realizados rio Piracicaba. O pescador é o maior interessado e, portanto, o responsável pelas ações
ao longo do rio Piracicaba. que podem tornar a pesca amadora uma atividade viável por longo prazo.

1
Lei Estadual nº 14.181, de 17 de janeiro de 2002. Dispõe sobre a política de proteção à fauna e à flora aquáticas e de
desenvolvimento da pesca e da aqüicultura no Estado, e foi regulamentada pelo Decreto Estadual nº 43.713, de 14 de
janeiro de 2004 - http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=145)

10 11
Conheça alguns peixes da
bacia do rio Piracicaba
Para que possam ser tomadas medidas preventivas, corretivas ou compensatórias
relativas às interferências ambientais causadas pela implantação de usinas hidre-
létricas, a legislação ambiental exige a realização de vários estudos que abordam,
inclusive, a fauna e a flora da área afetada. Por essa razão, no rio Piracicaba, a ictio-
fauna é melhor conhecida justamente nos trechos onde existem usinas hidrelétricas.

Os estudos realizados na área de influência da Usina Hidrelétrica Guilman-


Amorim, localizada nos municípios de Antônio Dias e Nova Era, permitiram am-
pliar bastante o conhecimento sobre os peixes do Piracicaba. Foi durante esses
estudos, na década de 90, que se capturou, pela primeira vez, uma cambeva e um
cascudinho, à época ainda desconhecidos da Ciência.

A cambeva vive somente no leito central do rio Piracicaba e ainda não possui nome
científico definido. O cascudinho vive em trechos de forte correnteza em afluentes
menores e foi descrito no ano de 2009, recebendo o nome de Pareiorhaphis scutula.

[a] 1. Piau-branco, piaba-branca


(Leporinus conirostris) [a] e
Piau-vermelho, piaba-vermelha
(Leporinus copelandii) [b]
[b]

Na bacia do rio Doce ocorrem cinco


espécies nativas do gênero Leporinus,
[a] Leporinus conirostris sendo que somente as duas aqui lis-
[b] Leporinus copelandii
Piau- branco / Piaba-branca, tadas possuem registro confirmado
Piau-vermelho / Piaba-vermelha na drenagem do rio Piracicaba. O
piau-branco está restrito ao trecho abaixo da barragem da UHE Sá Carvalho, enquanto
o piau-vermelho foi capturado somente em abril de 2011, na calha do rio Piracicaba,

12 Foto página à esquerda: Rio Piracicaba, Corredeiras do Amorim, Antônio Dias, MG 13


em João Monlevade. Ambas as espécies são migradoras, alcançam mais de 50 cm de bimaculatus se reproduz, praticamente, ao longo de todo o ano e A. scabripinnis
comprimento e peso superior a 1 kg. Ocorrem em rios de maior porte e apresentam durante o período de cheias. Somente A. bimaculatus faz parte da pesca, pois é
hábito reofílico, ou seja, vivem e necessitam de ambientes de água corrente para com- muito abundante nos reservatórios da bacia.
pletarem o ciclo de vida. Conforme dados da literatura, o piau-branco é considerado
um herbívoro e o piau-vermelho onívoro, que se alimenta de vegetais ou de animais. 4. (Characidium aff. timbuiensis)
A reprodução das duas espécies ocorre no período de cheia dos rios.
Espécie de pequeno porte (menor
2. Lambari-bocarra que 10 cm) e registrada no rio
(Oligosarcus argenteus) Piracicaba, somente na calha cen-
tral. É uma espécie que vive junto
Ocorre em todos os ambientes da Characidium aff. timbuiensis ao fundo do rio, encontrada prin-
Espécie sem nome popular local
drenagem do rio Piracicaba. Este cipalmente em associação com
peixe alcança mais de 20 cm e as áreas de substrato rochoso e correnteza moderada a forte. Possui adaptações
fêmeas são bem maiores que os Oligosarcus argenteus nas nadadeiras pares, que permitem a ancoragem no fundo e possibilitam trans-
Lambari-bocarra
machos. Alimenta-se de pequenos por paredões rochosos em locais encachoeirados. Não existem informações so-
peixes e invertebrados aquáticos e terrestres. Sua reprodução ocorre durante bre a alimentação dessa espécie, entretanto, dados disponíveis para espécies do
quase todo o ano. É bastante capturado pelos pescadores. mesmo gênero permitem inferir que a mesma deve se alimentar de pequenos
invertebrados aquáticos. Dados sobre a reprodução não estão disponíveis.
3. Lambaris (Astyanax aff.
[a]
bimaculatus [a] Astyanax aff. 5. Barrigudinhos ou guppys
taeniatus [b] Astyanax aff. [a] (Poecilia reticulata [a] e
scabripinnis [c]) Phalloceros sp.[b])

A primeira e a segunda espécies Ambas as espécies são represen-


[b]
são encontradas em praticamente tadas por peixes de pequeno por-
todos os ambientes da bacia, en- [b] te (menos de 5 cm) e sem impor-
quanto a terceira é característica tância para a pesca. Os machos
dos pequenos afluentes, princi- são facilmente diferenciados pela
palmente em áreas próximas às presença de gonopódio, órgão que
[c]
cabeceiras. Esses lambaris não ul- é formado pela modificação dos
[a] Poecilia reticulata
trapassam 15 cm de comprimento. [b] Phalloceros sp. raios da nadadeira anal e utilizado
Barrigudinhos ou guppys
Alimentam-se, principalmente, de para a fecundação das fêmeas. São
invertebrados aquáticos e terres- [a] Astyanax aff. bimaculatus peixes vivíparos, ou seja, o macho fecunda a fêmea e esta dá a luz aos filhotes
tres que caem no rio. Astyanax [b] Astyanax aff. taeniatus após um período de incubação interna. De forma geral, alimentam-se de algas,
[c] Astyanax aff. scabripinnis
Lambari

14 15
insetos aquáticos e zooplâncton (veja glossário nas páginas 27 e 28). A primeira 8. Cascudinho
espécie é exótica e originária da América Central e está distribuída ao longo de (Neoplecostomus sp.)
todo o rio Piracicaba. A sua liberação nas bacias brasileiras foi feita para com-
bater larvas de mosquitos. A segunda espécie tem registros somente para o rio Espécie com registros somente em
Santa Bárbara que é um dos afluentes do rio Piracicaba e, possivelmente, se trata pequenos afluentes do rio Piracicaba,
de uma nova espécie. em áreas de forte correnteza e fundo
Neoplecostomus sp. recoberto por pedras. De maneira ge-
Cascudinho
6. Sarapó ou espada ral, só habita locais com água de boa
(Gymnotus aff. carapo) qualidade. É uma espécie de pequeno porte (até 13 cm) e pode ser diferenciada de ou-
tros cascudinhos da bacia por um conjunto de placas agrupadas no abdômen. Alimenta-
Ocorre no rio Piracicaba e em seus se de algas que crescem sobre pedras no fundo do rio. As características reprodutivas
afluentes, principalmente entre são desconhecidas. Possivelmente, é uma espécie ainda não descrita para a Ciência.
a vegetação que cresce junto às Gymnotus aff. carapo
Sarapó ou espada
margens. Produz impulsos elétricos 9. Cascudinho
(pequenos choques), com os quais se orienta e localiza seu alimento, que são os (Pareiorhaphis scutula)
pequenos invertebrados e peixes. Na bacia do rio Doce é considerado uma exce-
lente isca para captura de dourados, mas, raramente, é utilizado como alimento. Espécie recentemente descrita para
Grandes exemplares registrados no rio Piracicaba alcançaram até 35 cm e peso a Ciência e que habita somente pe-
próximo a 200 g. Sua reprodução ocorre, principalmente, no período chuvoso. quenos afluentes do rio Piracicaba,
Pareiorhaphis scutula bacia da qual é endêmica. Vive em
Cascudinho
7. Cascudo (Hypostomus affinis) áreas de forte correnteza e fundo
recoberto por grandes pedras. É uma espécie de porte pequeno (até 12 cm) e
Ocorre em toda a bacia. Nas áreas cujos machos são maiores que as fêmeas. Os machos também possuem caracte-
alagadas pelos reservatórios o seu rísticas sexuais secundárias, representadas por uma série de espinhos que cres-
número diminui com o passar dos cem ao redor da cabeça. Alimenta-se de algas que crescem sobre pedras no fun-
anos. Apesar de ser muito abundante do do rio. As características referentes ao período reprodutivo são desconhecidas.
no rio Piracicaba e considerado mui- Hypostomus affinis
to saboroso, raramente é capturado. Cascudo 10. Cascudinho, cascudinho
Isso se deve ao fato desses peixes só barata (Harttia sp.)
poderem ser pescados com redes de emalhar, cujo uso é proibido para pescadores
amadores. No rio Piracicaba existem registros de exemplares de até 40 cm e peso Espécie pouco comum, tendo sido
próximo a 500 g. Alimenta-se raspando as algas que crescem sobre pedras no fundo registrada somente, em 2008, na
do rio. Estudos realizados no rio Paraíba do Sul (fora da bacia do rio Piracicaba) mos- calha do rio Piracicaba, no trecho
traram que esta espécie se reproduz de setembro a março, com pico em novembro. Harttia sp. imediatamente a jusante da casa
Cascudinho-barata

16 17
de força da UHE Guilman-Amorim. É uma espécie de porte pequeno e corpo 13. Cará (Geophagus brasiliensis)
bastante achatado, característica da qual deriva o nome cascudinho-barata.
Informações sobre alimentação e reprodução são desconhecidas. Não faz parte Encontrado em toda a bacia, chega
da pesca local e pode se tratar de uma espécie nova para a Ciência. a pouco mais de 20 cm. Os machos
alcançam maior tamanho e apre-
11. Mandi ou bagre sentam colorido mais brilhante do
(Rhamdia quelen) Geophagus brasiliensis que as fêmeas, principalmente du-
Cará
rante o período reprodutivo, quando
Embora no rio Piracicaba, e em se forma uma protuberância no topo da cabeça. Embora não seja considerada uma
algumas partes do rio Doce, seja espécie nobre, é bastante capturado por pescadores. Sua reprodução ocorre ao lon-
conhecida como mandi, esta es- go de todo o ano, mas em maior intensidade durante o período chuvoso. Alimenta-
pécie é bastante distinta de ou- Rhamdia quelen se, principalmente, de invertebrados aquáticos que vivem no fundo dos rios.
Mandi ou bagre
tras conhecidas popularmente
por este nome nos rios São Francisco, Paraná e Paraíba do Sul. Ocorre em toda 14. Cará (Australoheros
a bacia do rio Piracicaba. É bastante procurada pelos pescadores e alcança ipatinguensis)
mais de 30 cm e peso próximo a 500 g. Reproduz-se ao longo de quase todo o
ano, com pico entre outubro e janeiro. Alimenta-se de invertebrados aquáticos Espécie recentemente descrita para
e terrestres, e, ocasionalmente, de peixes. a Ciência e encontrada em diversos
ambientes aquáticos da bacia do rio
12. Mussum (Synbranchus Australoheros ipatinguensis Doce, incluindo desde pequenos aflu-
Cará
marmoratus) entes até rios maiores. No trecho sob
influência da UHE Guilman-Amorim é rara e o único registro remonta a estudos realiza-
Espécie nativa na bacia do rio dos em 1997. Não estão disponíveis informações sobre a reprodução e a alimentação.
Doce, mas pouco comum nas
amostragens realizadas ao lon- 15. Cumbaca (Trachelyopterus
[a]
go da mesma. No reservatório da Synbranchus marmoratus striatulus [a]) e Cumbaquinha
Mussum
UHE Guilman-Amorim os jovens (Glanidium aff. melanopterum [b])
são bastantes frequentes e abundantes entre as raízes de aguapé, as quais
são usadas como abrigo. É uma espécie noturna, carnívora e que alcança Espécies com distribuições na ba-
tamanho superior a 1 metro. Não possui nadadeiras peitorais e ventrais e a [b] cia do rio Piracicaba, restritas ao
dorsal e anal são vestigiais. Por apresentarem características morfológicas trecho abaixo da barragem da UHE
distintas da maioria dos peixes, algumas pessoas confundem essa espécie Sá Carvalho. Ocorrem, somente,
com uma cobra. na calha central do rio e afluen-
tes maiores, estando ausentes em
[a] Trachelyopterus striatulus
[b] Glanidium aff. melanopterum
Cumbaquinha, Cumbaca
18 19
pequenos riachos e córregos. A primeira espécie alcança até 20 cm, enquanto a de comprimento e são maiores que os machos. É uma espécie que não possui
segunda é de porte menor (até 15 cm). São peixes que se alimentam, primaria- dentes e é iliófaga, ou seja, alimenta-se da matéria orgânica depositada no
mente, de invertebrados, tanto terrestres quanto do próprio ambiente aquático. fundo dos rios, que, normalmente, é relatada na literatura como detrito. Essa
Não realizam migração reprodutiva e somente a cumbaca é capturada na pesca, espécie forma cardumes e migra durante o período reprodutivo, que coincide
embora não seja uma espécie muito apreciada. com a cheia dos rios. Devido aos hábitos alimentares não é capturada através
da pesca normal realizada com linha e anzol.
16. Serrapinnus aff. heterodon [a],
Knodus sp. [b] e Hasemania sp. [c] [a] 18. Cambevas (Trichomycterus aff.
(espécies sem nome popular local) [a] alternatum [a]; Trichomycterus aff.
immaculatum [b] e Trichomycterus
Espécies de pequeno porte (menos sp. espécie nova [c])
de 5 cm) e com registros somen- [b]
te na drenagem do rio do Peixe, São peixes pequenos que alcan-
afluente do rio Piracicaba, no [b] çam pouco mais de 12 cm e ra-
município de Itabira. A primeira ramente capturados pelos pesca-
espécie foi representada por um [c] dores. Alimentam-se de pequenos
único exemplar obtido em estu- invertebrados aquáticos que vivem
dos de 2002, enquanto Knodus e junto ao fundo do rio e os hábitos
Hasemania representam espécies [c] reprodutivos são desconhecidos.
com registros em poucas locali- Possuem espinhos nas laterais e
dades na bacia do rio Doce. Até o parte inferior da cabeça, que per-
[a] Serrapinnus aff. heterodon
momento, não é possível afirmar [b] Knodus sp. mitem a sua fixação em pedras no
se esses peixes foram introduzi- [c] Hasemania sp. [a] Trichomycterus aff. alternatum fundo do rio e escalar rochas em
Espécies sem nome popular local
dos na bacia e estão em processo [b] Trichomycterus aff. immaculatum ângulo de até 90o. A primeira e a
[c] Trichomycterus sp. espécie nova
de expansão das populações ou se, realmente, se tratam de espécies extrema- Cambevas segunda espécies ocorrem em pe-
mente raras que, anteriormente, não eram detectadas nas amostragens. Não quenos córregos e ribeirões. A terceira é encontrada somente na calha principal
existem dados biológicos disponíveis para essas espécies. do rio Piracicaba, em trechos rochosos e com forte correnteza. Esta espécie é
nova para a Ciência e ainda não possui nome científico disponível.
17. Sairú (Cyphocharax gilbert)
19. Tamoatá (Callichthys callichthys)
Espécie com distribuição restrita
ao trecho do rio Piracicaba locali- Espécie pouco comum, tendo sido registrada somente em 2008 na calha do rio
zado abaixo da UHE Sá Carvalho, as Piracicaba, tanto a montante (acima) quanto a jusante (abaixo) da barragem da
fêmeas do sairú chegam até 20 cm UHE Guilman-Amorim. Ocorre em diferentes ambientes, mas, normalmente, em
Cyphocharax gilbert
Sairú

20 21
áreas com correnteza moderada. alto rio Grande indicaram que a
A alimentação consiste de peixes, mesma possui longo período re-
insetos e vegetais. Mantém cuida- produtivo e desova do tipo parce-
do parental, o macho guardando lada. A alimentação inclui frutos
os ovos que são depositados pela e partes vegetais diversas. A sua
fêmea em um ninho construído raridade na área de influência da
com bolhas e plantas flutuantes. Callichthys callichthys Metynnis maculatus UHE Guilman-Amorim pode ser
Tamoatá Pacuzinho
Apresenta respiração acessória tomada como um forte indicativo
pelo intestino, o que faculta a capacidade de viver em ambientes pobres em de que o mesmo tenha chegado à calha do rio após o rompimento de tanques de
oxigênio dissolvido na água. Não apresenta interesse na pesca. criação distribuídos na bacia de drenagem, a montante do reservatório.

20. Tambaqui 22. Trairão


(Colossoma macropomum) (Hoplias intermedius)

O tambaqui é originário das ba- Essa espécie foi, durante muito


cias dos rios Amazonas e Orinoco. tempo, considerada exótica na ba-
É cultivado no sudeste do Brasil, cia do rio Piracicaba. Entretanto,
sendo utilizado em peixamentos Colossoma macropomum Hoplias intermedius estudos recentes mudaram a ta-
Tambaqui Trairão
e muito procurado para esta- xonomia do grupo e demonstra-
belecimentos tipo pesque-pague. É um peixe de grande porte, até mais de ram que existem várias espécies denominadas, popularmente, como trairão.
1 metro e 40 kg de peso. Em ambiente natural, a alimentação dos adultos Desse modo, o trairão capturado no rio Piracicaba é uma espécie nativa e
é composta por frutos. Realiza migrações em cardume, deslocando-se rio comum a outros rios do leste do Brasil. Habita, principalmente, a calha do rio,
acima para reprodução. Não existem registros de que essa espécie tenha nos trechos com maior oxigenação da água. Alcança maior tamanho e peso
sido introduzida intencionalmente no lago da UHE Guilman-Amorim. que a traíra e é muito procurado pelos pescadores. No rio Piracicaba foram re-
Possivelmente, o aparecimento da mesma no reservatório esteja relaciona- gistrados exemplares com 60 cm e mais de 2 kg. Esta espécie se diferencia da
do a episódios de rompimento de tanques de criação localizados a montan- traíra por apresentar a “língua” lisa e os ossos na parte inferior da mandíbula
te da barragem. Ao que tudo indica, não possui população estabelecida na paralelos. Alimenta-se de peixes.
drenagem do rio Piracicaba.
23. Traíra (Hoplias malabaricus)
21. Pacuzinho (Metynnis maculatus)
Ocorre em toda a bacia e é um dos
Esse pacu alcança até 20 cm e é originário da bacia do rio Paraguai. Também maiores e mais importantes peixes
é encontrado na bacia do alto rio Grande (alto Paraná), onde é considerado para a pesca. A carne é considerada
uma espécie exótica. Estudos conduzidos com essa espécie (Myleus tiete) no excelente e os grandes exemplares
Hoplias malabaricus
Traíra

22 23
capturados chegaram até 50 cm e 1,4 kg. Sua reprodução ocorre ao longo de todo parental, as estratégias reprodutivas são diferentes: Tilapia rendalli deposita os
o ano, sendo mais intensa durante o período de cheia do rio. Alimenta-se de pei- ovos no substrato, enquanto O. niloticus incuba os ovos e guarda os jovens na
xes, embora exemplares de menor tamanho também utilizem insetos aquáticos. cavidade bucal. Ambas as espécies colonizam com bastante sucesso os reserva-
tórios onde são introduzidas e são bastante procuradas por pescadores, que as
24. Carpa (Cyprinus carpio) consideram de paladar bastante agradável. A reprodução ocorre ao longo de todo
o ano e alcançam tamanhos acima de 40 cm e peso superior a 2 kg.
Na região existem três variedades:
a comum, a espelho e a colorida, 26. Bagre-africano
sendo a primeira a mais frequente. (Clarias gariepinnus)
É encontrada tanto nos reserva-
tórios quanto nos trechos não re- Cyprinus carpio Espécie exótica e originária da África.
Carpa
presados da calha do Piracicaba. Alcança grande porte, chegando até
A carpa é originária da Ásia e foi introduzida no Brasil no início do século XX, sendo, um metro e meio de comprimento e
portanto, uma espécie exótica. Já foi muito abundante no reservatório de Guilman- Clarias gariepinnus mais de 50 kg. Apresenta respiração
Bagre-africano
Amorim, situação distinta do restante da bacia. Entretanto, com o passar do tempo, acessória através do “órgão arbo-
após a formação do reservatório, a sua abundância diminuiu, embora ainda faça rescente”, o qual é composto por arcos branquiais modificados. Essa característica
parte constante da pesca. Os maiores exemplares obtidos durante os estudos che- permite a respiração fora da água, facultando ao animal se deslocar no ambiente
garam a 45 cm e aproximadamente 2 kg. Entretanto, pode alcançar tamanho e terrestre. É uma espécie bastante plástica quanto à alimentação, utilizando uma
peso bem maiores. A carpa alimenta-se, principalmente, de pequenos organismos infinidade de organismos aquáticos, peixes e até vertebrados terrestres. É uma es-
que vivem junto ao fundo, que são obtidos sugando e filtrando o sedimento. pécie que coloniza com facilidade ambientes de rios e reservatórios, não migra
durante o período reprodutivo e não apresenta cuidado parental. Apesar do grande
25. Tilápias (Tilapia rendalli [a] tamanho que alcança, não é muito apreciado na pesca devido ao sabor da carne.
Oreochromis niloticus [b]) [a]
27. Mandizinho (Pimelodella sp.)
As tilápias são originárias da África
e são representadas por quatro gê- Espécie pouco comum no rio Piraci-
neros e, aproximadamente, 70 es- caba e com registro somente em
pécies. As espécies registradas no [b] trechos com águas bastante limpas.
rio Piracicaba são as tilápias mais Não é apreciada na pesca, e por ter
difundidas no Brasil. A alimentação Pimelodella sp. espinho bastante pontiagudo na na-
Mandizinho
inclui organismos encontrados no dadeira peitoral e dorsal, acaba cau-
sedimento e detritos orgânicos, em sando perfurações nas mãos das pessoas que não o manuseiam com o devido cuida-
[a] Tilapia rendalli
menores quantidades. Embora as [b] Oreochromis niloticus do. Alcança até 15 centímetros e peso nunca superior a 100 gramas. Alimenta-se, prin-
duas espécies apresentem cuidado Tilápias cipalmente, de insetos aquáticos e não se possui dados sobre o período reprodutivo.

24 25
Por que não se deve dar alimentos aos
peixes que vivem no ambiente natural?

Glossário

Algas – Organismos vegetais, microscópicos ou não, que vivem aderidos ao


fundo ou livres na coluna d’água nos ambientes aquáticos. Algumas espécies
encontradas nos rios formam aglomerados, que são conhecidos popular-
mente como lodo ou limo.

Baixo Piracicaba – Trecho do rio Piracicaba mais próximo da confluência


com o rio Doce.

Espécie endêmica – O mesmo que nativo de um determinado local.

Os peixes que habitam cursos d’água naturais não necessitam de nossa Espécie exótica – São todas as espécies introduzidas em ambientes onde
ajuda para se alimentar, pois estão adaptados a buscarem comida no pró- não ocorriam originalmente. Um exemplo é o tambaqui, que embora seja
prio ambiente. nativo da bacia amazônica, constitui uma espécie exótica nos rios de Minas
Gerais, onde foi introduzida para pesca.
Esta situação é diferente nos tanques de criação, onde os peixes só irão se
desenvolver se forem alimentados adequadamente. Ictiofauna – Conjunto representado por todas as espécies de peixes encon-
tradas em um determinado ambiente aquático.
Deve-se considerar, também, que o tipo de alimento
jogado na água, normalmente restos de comida, não Invertebrados – Animais que não possuem esqueleto ósseo ou cartilagi-
noso. São exemplos de invertebrados: as minhocas, os insetos, as aranhas,
é adequado aos peixes.
entre outros.

Isso pode causar problemas ou tornar os peixes suscetíveis a doenças, pois


Medidas compensatórias – São as ações realizadas para se compensar as per-
os alimentos contêm gorduras, temperos, aditivos químicos e etc. Os ali-
das no ambiente natural decorrentes da implantação de um empreendimento.
mentos também alteram a qualidade da água, tornando o ambiente inade-
quado tanto para os peixes quanto para os outros organismos aquáticos.

Foto página à esquerda: Rio Piracicaba, barragem e reservatório


26 da UHE Guilman-Amorim, Nova Era, MG. 27
Para saber mais sobre os peixes
e a bacia do rio Piracicaba
ALVES, C. B. M.; VIEIRA, F.; MAGALHÃES, A. L. B. & BRITO, M. F. G. Impacts of non-native fish
Medidas corretivas – São as ações realizadas para corrigir os problemas ge- species in Minas Gerais, Brazil: present situation and prospects. pp. 291-314 In: Bert, T.M.
rados com a implantação de um empreendimento. (eds). Ecological and Genetic Implications of Aquaculture Activities. Springer, Dordrecht, The
Netherlands, 2007.

Medidas preventivas – São as ações realizadas para se evitar que determina- CETEC - Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais. Inventário ambiental da área do
do problema possa vir a ocorrer com a implantação de um empreendimento. reservatório de Peti: ictiofauna. Belo Horizonte: 1989. 34 p. Relatório Técnico.

CHIMELI, A. B. Economia e meio ambiente: uma investigação sobre a poluição hídrica da


Montante / jusante – acima (montante) ou abaixo (jusante) de um ponto de
bacia do rio Piracicaba. 1993. 57p. Prêmio Minas de Economia: Categoria Universitário -
referência no rio. Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A., Conselho Regional de Economia - MG,
Sociedade de Economistas de Minas Gerais, Belo Horizonte. 1994.
Piracema – Palavra de origem indígena utilizada para designar o deslocamen-
FERREIRA, V.; BAUMGRATZ, S. S.; PORTILHO, G. S. O Tempo e o Clima. Belo Horizonte: Usina
to dos peixes na calha do rio para a reprodução.
Hidrelétrica Guilman-Amorim. 2006. 37p.

Plâncton – É o conjunto de organismos (animais e vegetais) que têm pouco GUERRA, C. B. Impactos ambientais na bacia do rio Piracicaba. 77p. Monografia – Instituto
de Engenharia Ambiental, Delf, Holanda. 1993
poder de locomoção e vivem livremente na coluna de água, sendo arrastados
pelas correntes. O plâncton está na base da cadeia alimentar dos ambientes LUCINDA, P. H. F. Systematics and biogeography of the genus Phalloceros Eigenmann, 1907
aquáticos, pois serve de alimentação a organismos maiores. (Cyprinodontiformes: Poeciliidae: Poeciliinae), with the description of twenty-one new
species. Brazil. Neotropical Ichthyology, 6(2): p.113-158, 2008.

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OTTONI, F. P.; COSTA, W. J. E. M. Taxonomic revision of the genus Australoheros Rícan &
Kullander, (Teleostei: Cichlidae) with descriptions of nine new species from southeastern
Zooplâncton – Conjunto de animais, em sua maioria de tamanho micros- Brazil. Vertebrate Zoology, 58(2): p. 207-232, 2008.
cópico, que flutuam ou nadam na coluna d’água. Embora possam nadar, são
OYAKAWA, O. T.; MATTOX, G. M. T. Revision of the Neotropical trahiras of the Hoplias lacerdae
incapazes de vencer as forças das correntes de água. species-group (Ostariophysi: Characiformes: Erythrinidae) with descriptions of two new
species. Neotropical Ichthyology, 7(2): p. 117-140, 2009.

PAULA, J. A. Biodiversidade, população e economia: uma região de mata atlântica. Belo


Horizonte: UFMG/Cedeplar; ECMVS; PADCT/CIAMB, 1997. 672 p. Disponível em http://
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Lista atualizada das espécies citadas e/ou registradas
Neotropical Ichthyology. 8(1): p. 33-38, 2010. para a bacia do rio Piracicaba nos últimos anos
REZENDE, Adalberto C. et al.; Usina Hidrelétrica Guilman-Amorim: Estudos Ambientais. Belo ORDEM FAMÍLIA ESPÉCIE NOME POPULAR
Horizonte: Consórcio Autoprodutor Belgo-Mineira/Cauê (Relatório final, mapas e anexos Leporinus conirostris J Piau-branco
Leporinus copelandii J
Anostomidae
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Astyanax aff. bimaculatus J Lambari
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Metynnis maculatus L Pacuzinho
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Hoplias malabaricus J
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Traíra
Cyprinus carpio L
anexos ECO/GA-472 RMF-20/2009. (Inédito) Cypriniformes Cyprinidae Carpa
Phalloceros sp. J Barrigudinho
Poecilia reticulata L
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Geophagus brasiliensis J Cará
Oreochromis niloticus L
VIEIRA, F.; POMPEU. P. S.; Monitoramento da Ictiofauna. Belo Horizonte: Usina Hidrelétrica Perciformes Cichlidae
Tilápia
Guilman-Amorim S.A./Ecodinâmica, 1999. 46 p. Relatório técnico, mapas e anexos ECO/ Tilapia rendalli L Tilápia
GA-163 RMF-07/99. Trachelyopterus striatulus J Cumbaca
Glanidium aff. melanopterum J
Auchenipteridae
Cumbaquinha
VIEIRA, F.; MARQUES, S.; BORGES, M. A. Z. Estrutura das comunidades de peixes do reservatório Callichthyidae Callichthys callichthys J Tamoatá
Clariidae Clarias gariepinnus L Bagre-africano
de Peti, bacia do rio Piracicaba, MG. ENCONTRO BRASILEIRO DE ICTIOLOGIA, XII, 1997, São Paulo.
Pimelodella sp. J Mandizinho
Rhamdia quelen J
Heptapteridae
Bagre, mandi
VIEIRA, F. A solução para o rio Piracicaba é o peixamento? Boletim Guilman-Amorim Ensina, Harttia sp. J Cascudinho
Hypostomus affinis J
Siluriformes
(15): 3. 1997 Cascudo
Neoplecostomus sp. J
Loricariidae
Cascudinho
Pareiorhaphis scutula J Cascudinho
Pimelodidae Pimelodus sp. L Mandi
Trichomycterus aff. alternatum J Cambeva
Trichomycteridae Trichomycterus sp. espécie nova J Cambeva
Trichomycterus aff. immaculatum Cambeva
Synbranchiformes Synbranchidae Synbranchus marmoratus J Mussum

J Espécie nativa da bacia | L Espécie exótica na bacia | ? Sem informação

30 31
V657p Vieira, Fábio
O peixe e a pesca no Rio Piracicaba / Fábio Vieira, Sônia
Santos Baumgratz; ilustração: Fábio Vieira, Sônia Santos
Baumgratz. -- 2. ed. -- Belo Horizonte: Ecodinâmica
Consultores Associados Ltda., 2011.
32 p. il.
Inclui Bibliografia e Glossário.
ISBN: 978-85-61056-01-8
1. Pesca – Piracicaba, Rio. 2. Pesca – Brasil. 3. Peixe -
Brasil. I. Baumgratz, Sônia Santos. II. Título.
CDU: 639.3
CDD: 597

Elaborada por Sônia Miranda de Oliveira – CRB6 - 1381

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