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Luz, Vida, Amor e

Liberdade

Ramo de Ouro

in , in

1
À Frateria

Dos IIr.´. aos que cultivam o Mirto e a Acácia,


Sob a Irradiação do HEXAGRAMA,
Pitagoricamente,
Apolônio de Tyana.
[Gestão MMXI a MMXIII e.v.]

2
Versos de Ouro de Pitágoras.
[Versão Dario Vellozo]

PREPARAÇÃO
Aos Deuses imortais o culto consagrado
Rende; e tua fé conserva. Prestigia
Dos sublimes Heróis a imárcida lembrança
E a memória eteral dos supernos Espíritos.

PURIFICAÇÃO
Bom filho, reto irmão, terno esposo e bom pai
Sê; e para amigo o amigo da virtude
Escolhe, e cede sempre a seus dóceis conselhos;
Segue de sua vida os trâmites serenos;
Sê sincero e bondoso, e não o deixes nunca,
Se possível te for: pois uma lei severa
Agrilhoa o Poder junto à Necessidade.
Está em tuas mãos combater e vencer
Tuas loucas paixões; aprende a dominá-las.
Sê sóbrio, ativo e casto; as cóleras evita.
Em público ou só, não te permitas nunca
O mal; e mais que tudo a ti mesmo respeita-te.
Pensa antes de falar, pensa antes de agir.
Sê justo. Rememora; um poder invencível
Ordena de morrer; e os bens e as honrarias,
Fáceis de adquirir, são fáceis de perder.
Quanto aos males fatais que o Destino acarreta,
Julga-os pelo que são: suporta-os, procura,
Quão possível te seja, o rigor abrandar-lhes:
Os Deuses, aos mais cruéis não entregam os sábios.
Como a Verdade, o Erro adoradores conta.
O filósofo aprova, ou adverte com calma;
E, se o Erro triunfa, ele se afasta, e espera.
Ouve, e no coração grava as minhas palavras:

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Fecha os olhos e o ouvido a toda prevenção;
Teme o exemplo de um outro, e pensa por ti mesmo;
Consulta, delibera e escolhe livremente.
Deixa aos loucos o agir sem um fim e sem causa;
Tu deves contemplar no presente o futuro.
Não pretendas fazer aquilo que não saibas,
Aprende: tudo cede à constância e ao tempo.
Cuida em tua saúde; e ministra com método
Alimentos ao corpo e repouso ao espírito.
Pouco ou muito cuidar evita sempre; o zelo
Igualmente se prende a um e a outro excesso.
Têm o luxo e a avareza efeitos semelhantes.
Deves buscar em tudo o meio justo e bom.

PERFEIÇÃO
Que se não passe um dia, amigo, sem buscares
Saber: Que fiz eu hoje? E, hoje, que olvidei?
Se foi o mal, abstém-te; e, se o bem, persevera.
Meus conselhos medita; e os estima; e os pratica:
E te conduzirão às divinas virtudes.
Por esse que gravou em nossos corações
A Tétrade sagrada, imenso e puro símbolo,
Fonte da Natureza, e modelo dos Deuses,
Juro. Antes, porém, que a tua alma, fiel
A seu dever, invoque, e com fervor, os Deuses,
Cujo socorro imenso e valioso e forte
Te fará concluir as obras começadas,
Segue-lhes o ensino, e não te iludirás:
Dos seres sondarás a mais estranha essência;
Conhecerás de Tudo, o princípio e o termo.
E, se o Céu permitir, saberás que a Natura,
Em tudo semelhante, é a mesma em toda parte.
Conhecedor assim de todos teus direitos,
Terás o coração livre de vãos desejos.
E saberás que o mal que aos homens cilicia,
De seu querer é fruto; e que esses infelizes

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Procuram longe os bens cuja fonte em si trazem.
Seres que saibam ser ditosos, são mui raros.
Joguetes das paixões, oscilando nas vagas,
Rolam, cegos, num mar sem bordas e sem termo,
Sem poder resistir nem ceder à tormenta.
Salvai-os, grande Zeus, abrindo-lhes os olhos!
Mas, não; aos homens cabe, — eles, raça divina, —
O Erro discernir, e saber a Verdade.
A Natureza os serve. E tu que a penetraste,
Homem sábio e ditoso, a paz seja contigo.
Observa minhas leis, abstém-te das coisas
Que tua alma receie, em distinguindo-as bem;
Sobre teu corpo reine e brilhe a Inteligência
Para que, te ascendendo ao Eiter fulgurante,
Mesmo entre os Imortais consigas ser um Deus!

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Ramo de Ouro

Estâncias ao PEREGRINO EFÊMERO


I
A CAMINHO DA PERFEIÇÃO
Signo: Câncer.
O último dos Discípulos do Filósofo Desconhecido vai algo
recordar ao Peregrino Efêmero.
O Caminho da Perfeição, acidentado e longo, é marginado de
tojos.
A flor do tojo abre o matiz do Desespero: é amarela; as hastes
espontam acerados espinhos.
O amarelo — o ouro — é também a cor simbólica da opulência
material, monetária.
A paixão do bem-estar físico, do luxo, afasta da perfectibilidade.
Que os felizes de corpo e os felizes de espírito, os que
desfrutam e se satisfazem com o utilitarismo do Ocidente e com a
ciência do Ocidente, não tentem palmilhar o Caminho da
Perfeição!
O Caminho da Perfeição é para os Insatisfeitos de coração e
de alma; para os sem conforto e sem alegria; para os Infortunados;
para os que não encontraram resposta às interrogativas, anelos e
anseios do Espírito; para os divorciados do luxuoso e do fútil; para
os Insubmissos ao nemrodismo dos Dominadores; para os que não
acharam o elixir de longa vida nos filtros do Dr. Fausto, nem a
meiguice de Margarida nas sugestões de Mefistófeles; para os
viúvos da Alma-lrmã; para os anacoretas da IDÉIA!
Caminhar para a Perfeição, é almejar ouvir a Voz do Silêncio; é
orientar-se para a Vida Imortal; para a Verdadeira Vida.
Longe de ser o atalho do Aniquilamento, é a alfombra de
Elêusis.
Raríssimos palmilharão a alfombra, raríssimos ouvirão a Voz do
Silêncio: — porque a ronda da Mentalidade não começou ainda
para a espécie. Só os pioneiros do Novo Ciclo escutam a música

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das Esferas; só os vencedores do Plano-físico entram os áditos da
Renúncia.
Aos Instintivos a Renúncia custa; e não vencem o Dragão do
Ádito.
O Dragão simboliza a ânsia do bem-estar material, da volúpia,
da luxúria, do conforto da carne. Renunciar ao Gozo, é, para o
Instintivo, renunciar à Vida. E, quanto mais afunda no Gozo, mais
se afasta de Elêusis, dos hortos da IDÉIA, do Caminho da
Perfeição que conduz aos santuários do Espírito.

Quem leva e guia o Peregrino?


O Destino?
Engano! A vontade.
A Vontade vence, modifica, enflora, domina os Destinos.
Querer, é poder; saber querer, é saber vencer.
Educar a Vontade, purificar as Idéias, é armar-se para a
VITÓRIA.
Pelo domínio da Vontade, obtém-se o domínio da Vida.
A Vontade afasta a própria morte, demora-a, retarda-a.
A Morte é a metamorfose das Formas.
As Formas são efêmeras, e Essência é eterna.
Para a eternidade da Essência existe o Âmbito Infinito.
A seiva da Vontade é a Esperança.
A Dúvida exaure, — porque a Dúvida conturba a Vontade.
Duvidar, é debilitar-se.
A Dúvida é a agonia do Ser. Não duvides!
Sempre que duvidares, teu aura far-se-á vulnerável; e as
vibrações dos inferiores penumbrarão a luz de tua Consciência.
Teu aura é tua égide, a armadura que reveste tua alma.
Para que teu aura seja invulnerável, sê PURO.
Conforma-te à lição de Zaratustra: — Puro em pensamentos,
puro em palavras, puro em atos.
A palavra realiza a Idéia; o ato é a materialização do Verbo.
O verdadeiro delito contra as Normas, não consiste em praticar
a má-ação; o verdadeiro delito consiste em pensar mal; porque é o
mau pensamento que engendra a má palavra ou o mau ato.

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Os delitos morais, contra os quais a Civilização não clama,
constituem o crime: porque, não efeito, mas causa do crime.
As idéias, os pensamentos, bons ou maus, vivem. Quem gera
idéias, gera palavras e atos. Quem gera idéias, fecunda cérebros;
quem gera más idéias, fecunda cérebros malmente.
Os geradores de más idéias, são os verdadeiros responsáveis
dos delitos.
Pensa bem: E, não só ficarás invulnerável ao MAL, como
concorrerás para que o BEM aumente.
Ficarás invulnerável, porque, sendo o mal inferior, só poderá
penetrar onde encontre medo ou afinidade.
A VONTADE aniquila todos os contrários; a boa-vontade não
é violenta: é serena, suave, consoladora.
Atravessa, Peregrino, As Portas de Ouro, e medita,
carinhosamente, os Ensinamentos do Mestre.
As Portas de Ouro levam ao ádito do Instituto; no santuário
fulge a ESSÊNCIA!

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II
A BÚSSOLA DA VIDA
Signo: Virgo.
Ouve, Peregrino.
O coração é uma bússola.
A agulha imantada dessa bússola de fogo chama-se: DESEJO.,
Entre dois pólos oscila a agulha: a Inércia e a VONTADE.
Possuir a Vontade, é possuir a chave do Grande Arcano.
Buda ensinou: Cultiva a Força de Vontade.
Cultivar a Vontade, é palmilhar o caminho da REALIZAÇÃO.
Cultivar a Vontade, é traduzir em ATOS os pensamentos e as
palavras.
Não basta conhecer o Bem, é necessário praticá-lo.
Desconhecê-lo é mal; conhecê-lo e não praticá-lo, é crime.
Só não age bem, quem não tem boa-vontade. Conhece-te a ti
mesmo, proclamava Sócrates.
Sê bom; vence-te a ti mesmo! era a lição de Sidarta.
E o materialismo ocidental reconhece: "O domínio de si próprio
e a caridade são as duas pedras-de-toque do budismo."
Quem a si mesmo se não vence, como se poderá fazer guia de
outrem? Quem não percorre o Caminho da Perfeição, como
assinalará aos outros o Caminho?
Cultiva a Força de Vontade.
A criatura sem vontade, é como um cadáver ao fluxo e refluxo
do oceano da vida; é como um cadáver que os maus rolam e
abandonam.
Pergunta a Prentice Mulford, o Magnífico, o segredo de Nossas
Forças Mentais.
E ele te ensinará a formula secreta do néctar dos Deuses.
De teu ansioso coração verás cair os espinhos; verás brilhar as
rosas de teu espírito: e todo o teu Ser ficará impregnado de eflúvios
suavizantes.
Ele te ensinará os Cinco Votos; penetrarás o ádito de Raja
loga, murmurando, ó Peregrino Efêmero:
"Juro não matar homem ou animal;
Juro não roubar;
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Juro não manter ilícitas relações;
Juro não mentir;
Juro não usar tóxicos nem narcóticos."
Dirás: e teu coração se inundará da fragrância das rosas de
Esperança. A serenidade de tua alma bem vale a renúncia dos
prazeres fáceis. Ânimo, Peregrino! Perseverança, meu Irmão!
Depois do gozo abjeto, que te fica? — O nojo, o tédio, a
vergonha de ti mesmo.
Bebes, e és brutal;
jogas, e és cruel;
mentes, e és covarde;
calúnias,e és torpe;
vadias, e és inútil;
quanta degradação, Peregrino!
Caminhas para o ABISMO, os olhos vendados pelo Desejo
Impuro. Reaje! Se queres conhecer a LUZ, evita as trevas. As
emanações do Abismo são sempre deletérias.
Quanto mais densa a atmosfera de tua Mentalidade, mais difícil
subir aos paramos etéreos.
A essência é sutil; o eiter é a região do ESPÍRITO.
Os paramos da IDÉIA não enojam nunca, e nunca entendiam, e
não envergonham.
SÊ PURO!
Cultiva a Força de Vontade!
Segue a lição de Apolônio de Tyana: “Se sois meus discípulos
— disse o Solitário Peregrino — dizei também que nada possuis,
que não trucidais animais, que não comeis carne, que sois livres de
toda paixão, da inveja, da maledicência, do ódio, da calunia, do
rancor; que, finalmente, tendes o nome inscrito entre os dos
homens que alcançaram a liberdade."
Para conquistar a Liberdade,é necessário possuir o domínio de
si mesmo.
O domínio de si mesmo é ato de Energia.
O Solitário deTyana assim falou um dia a seus discípulos:
"Uma vez que vos falta energia, adeus.
Devo partir para onde me levam a sabedoria e meu íntimo
arcano."

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Peregrino, se não queres ficar à beira do Caminho,como coisa
inútil, talvez nociva,
Conhece-te a ti mesmo;
Vence-te a ti mesmo;
Cultiva a Força de Vontade.
A VONTADE é a Bússola da Vida.

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III
ATRAVÉS DA HARMONIA
Signo: Libra.
Venho dos belvederes da Morte, ó Peregrino. No frêmito dos
Mármores, no enternecimento das covas rasas, nos epitáfios e nos
símbolos encontrei os ritmos da Vida. Os crepes também são véus
de noiva; o Aniquilamento não existe. As estatuas funerárias
evocam, em as fisionomias clássicas, a Helade magestosa. Têm
sorrisos de vida as estatuas dos mortos.
E dá vontade de viver com os Mortos, ou nas manhãs radiosas,
ou nos zênites solarianos, ou nos poentes evocativos, ou no
embevecimento das noites contemplativas, ouvindo a Voz do
Silêncio e murmurando aos astros os versículos do Bagavad-Gita.
Bem aventurados os Mortos, que habitam o Âmbito Infinito, bem
aventurados os Mortos, que são guia dos vivos!
O Cosmos é harmonia: Pitágoras surpreendeu-lhe as vibrações
que afinizam os corpos e as almas; Wagner fixou-lhe os acordes
que enlevam os corações e encantam os espíritos
Ouve, Peregrino, a Música das Esferas: é o supremo arcano
da ESSÊNCIA.
O segredo da Alta Magia é o mistério do Ritmo.
Aprende os arcanos do Ritmo, ó Peregrino, e conhecerás a
proporção das linhas e das formas, o Arcano da Beleza que
imortalizou a ARTE grega, e foi a efialta, a tortura do Vinci.
Aprende os arcanos do Ritmo, e vencerás como Orfeu, pela voz
da lira e pela voz da alma, dominando os Efêmeros, sejam
instintivos como Nero, ou sensitivas como Ofélia.
A lei do Ritmo é a lei do equilíbrio universal: coese os grânulos
de areia que envolvem os oceanos; gera as nebulosas, nas
polarizações magnéticas dos Átomos invisíveis.
O Ritmo faz o minério, a planta, o animal, o astro.
Sempre que o Ritmo se perde, as afinidades se rompem e os
corpos se dissolvem.
As almas também são corpos.
Se queres perpetuar tua alma, sê PURO; não peques contra a
Lei do Ritmo, ó Peregrino Efêmero!

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Quando o Ritmo se perde, morre a simpatia, morre o amor; nem
a amizade resiste.
Por que há simpatias inatas? Por que antipatias irredutíveis?
Estuda os matizes e os ancenúbios dos auras, estuda a
Química Oculta, e receberás a iniciação de Eleusis, marco entre o
profano e o sacro, entre a Ciência e o Mistério.
As afinidades perfeitas realizam a idealidade mística das Almas
Irmãs.
A alma irmã é a suprema harmonia do Ritmo, harpa eólea
vibrando a Música das Esferas: Realiza o tríplice arcano: arcano
físico, arcano mental, arcano divino.
Rebusca as normas da Harmonia Cósmica, e acharás o
segredo das Almas Irmãs.
Vive em a Natureza, e viverás eterno.
Fora do estável, tudo é fictício, decepcionante, rápido e
transitório.
Os Efêmeros não mudam a essência ao ETERNO: passam, e o
Eterno fica.
Cegos os que só vêem em a Natureza o plano físico.
Assim no Homem, assim em a Natureza: Tríplice o Homem,
tríplice a Natura: Físico, Mental, Místico: — Corpo, Substancia,
Essência.
E, como querias tu, Peregrino, fosse o efeito mais perfeito que
a causa?
O Microcosmos é reflexo do Macrocosmos.
Eleva-te do plano físico, e, quem sabe, ouvirás a melodia das
Almas Irmãs.
Viver em a Natureza, não é viver instintivamente, fauno de
húmus que só tivesse boca e ouvidos para dizer e para ouvir o
rugido dos Sentidos.
Procura a comunhão das Estrelas, aprende a sabedoria da
Infância.
As Estrelas ensinam as antinomias, o ínfimo atômico e o infinito
excelsior.
Quando o Pensamento se alcandora entre os Astros, não há
sensismo que subsista; sente-se o vácuo em torno.
Só! só! Peregrino.

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É quando se ouve a Voz do Silencio, a Música das Esferas; e
nossos lábios murmuram: Alma Irmã! alma irmã!
Tudo mais se nos apaga da Mente; tudo mais, até que seus
lábios nos dizem, num balbucio de piedade:
— Irmão, façamos o sacrifício de nossa íntima ventura; volvamos à
Terra, auxiliemos o evolver dos Instintivos, indiquemos o Caminho
da Perfeição aos Efêmeros inferiores!
E o sacrifício se faz, na maravilha da FRATERNIDADE.
A Infância é sábia, porque não desaprendeu com os Homens o
Ritmo da Natureza.
Eleva-te, Peregrino! Eleva-te acima dos Carniceiros.
Os Carniceiros trazem a cabeça à altura da espinha dorsal; são
instintivos; no Homem, a cabeça sobre eleva-se ao corpo: é
racional. Não te degrades, Peregrino, nivelando a cabeça à
espinha.
Procura o caminho de Elêusis.
Inquire as normas da Harmonia Cósmica;
E compreenderá a UNIDADE,
E sentirás a fragrância da ESSÊNCIA,
E conhecerás a formula do Elixir de Vida.

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IV
CICLO DE OURO
Signo: Scorpio.

A FRATERNIDADE é a Lei da Vida. Respeita-a na Flor que


perfuma, na Abelha que zumbe, na Linfa que murmura, na Ovelha
que bale. Destruir, é pecar contra o Ritmo; é provocar dissonâncias
que perturbam a vibração das ondas harmônicas, a vitalizante
flutuação cósmica dos Invisíveis da Essência.

As dissonâncias desagregam os corpos, como os ódios


desagregam as almas.

Respeita a Vida para que a solidariedade seja perfeita no


Universo.

O visível é a manifestação do Invisível

Quando ressoa o violino sob a arcada nervosa, por que te


chega o som ao ouvido?

Os invisíveis da ESSÊNCIA são veículos de harmonia...

E o som do violino se propagará pelo Cosmos.

Mas, tu não vês o som do violino.

A imperfeição dos sentidos limita os ambientes.

Meditas... e ouves flébil cicio.

Se ouves a caricia da Ausente, é que a Ausente subsiste e em


ti concentra o pensamento. Quem transmitiu a distância o
pensamento da Ausente?

Os Invisíveis da ESSÊNCIA são veículos de idéias.

Quando um cérebro vibra faz vibrar outros cérebros.

Pensa bem, a fim de que teus pensamentos não conturbem os


Ritmos da Vida.

Não basta evitar o instintivo? Não basta, ó Peregrino!

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Não basta não destruir? Não basta.

Não basta não supliciar? Não.

O caminho de Elêusis é longo e difícil.

Para alcançar a porta do Templo, forçoso o haver já auxiliado o


Instintivo a se tornar consciente; forçoso haver britado a pedra
bruta e auxiliado os Arquitetos de Hiram na propaganda
fraternizadora; necessário ter ouvido a Voz da Renúncia, ter
sentido a piedade do sacrifício, a indiferença do conforto.

Necessário haver-se afastado das iguarias do banquete da


existência, pensando nos míseros que sucumbem à fome; haver
tiritado nas noites de invernia ríspida, pensando nas criancinhas
que soluçam de frio.

Instrui-te, e instrui; educa-te e educa, ó meu Irmão,ó Peregrino


Efêmero!

Sê bom, sê PURO!

Dos gozos, na miragem rápida, os ressábios, não te


acompanharão nem mesmo até o túmulo.

Das jóias custosas e inúteis não te iluminará o reverbero as


trevas de teu espírito.

Dos manjares opíparos e das bebidas embriagantes ficará o


veneno a corroer-te o corpo, a perturbar-te as idéias, a debilitar-te
as energias da alma.

E serás fraco como o vício, inútil como a indolência.

Escuta,Peregrino.

Desde o remoto Egito, as Epoptas que se apiedaram do


sofrimento dos Humanos e pensaram resolver o Problema da
Felicidade, despiram-se do fútil, cultivaram o lótus do CARINHO.

O Carinho é o aroma da Fraternidade; cultivar o Carinho, é


cultivar os lírios da PAZ.

Ouve a lição de Buda: Renúncia e Bondade.

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A lição de Pitágoras: Amizade; A de Sócrates: Dever; A de
Jesus: Amor; A de Apolônio: Vontade; A dos Iniciados: Paz. Ensina,
ó Peregrino! Ensina: — Homens, não vos agrupeis sob os lábaros
das seitas, porque os sectarismos afastam da Verdade; O rótulo
não dá propriedades às substâncias, nem o hábito dá ao monge
virtudes morais; Pode ser virtuoso o ateu, e ser o crente impudico;
Não julgueis pelas aparências, nem recuseis a mão que se vos
estende;

As convicções subjetivas são de ordem secundária nas relações


sociais;

Acima de todos os credos paire sempre a Lei Universal da


SOLIDARIEDADE.

Proclama, ó meu Irmão, a todos os Efêmeros: — a unidade


religiosa do gênero humano, através de todos os cultos; a
verdade única, através de todos os símbolos.

É esse, ó Peregrino, um dos princípios básicos do ensinamento


dos Pitagóricos.

Aí começa o ciclo de ouro. O ciclo de ouro é o Ciclo da


Fraternidade

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V
NA ALFOMBRA DA LUZ
Signo: Sagitário.

Vamos, Peregrino!

Venceste o Dragão do Sólio, venceste Maiá; o vício, o


egoísmo, a cólera, o sectarismo esfuminharam-se ao império de tua
Vontade. És PURO. Mais um passo. Estás à porta do Templo da
Sabedoria.

Bate, Peregrino.

— Quem bate?

— O Peregrino Efêmero.

— Que almeja?

— A lâmpada de ouro.

— Para que?

— A fim de rebuscar a VERDADE.

— Irmãos, deixei passar o Peregrino

O Peregrino penetrou no Templo.

— Como te chamas?

— Ahasverus.

— Em teu caminhar insano, que mais te impressionou, Peregrino?

— A majestade de Prometeu encadeado ao Cáucaso.

— Sabes qual o delito do Titã?

— Não houve delito.

— Como, se Prometeu roubou o fogo sagrado?

— A liberdade não se rouba; o Titã ensinou aos Humanos o


caminho da Liberdade.

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— Estás preparado para sofrer o suplício de Prometeu?

— Sim.

— Estás preparado para morrer pela liberdade de consciência?

— Sim.

O Magnífico ergueu a destra.

O Peregrino concentrou-se.

Na abobada azul brilhavam estrelas de ouro.

Era respeitável a assembléia: Ali estavam budistas, pitagóricos,


essênios, mosaistas, cristãos, maometanos, ateus, irmanados em
mesmo pensamento fraternal e amigo: A felicidade dos Seres.

— Peregrino,conheces a Esfinge?

— Sim.

— Algo mais conheces?

— Também conheço a Atlântida.

— Por que almejas conhecer a Verdade

— Para praticar a JUSTIÇA.

— Irmão da coluna da VERDADE, o Peregrino pede ser admitido?

— Sim, meu Irmão; porque é consciente.

— Irmão da coluna da JUSTIÇA, o Peregrino pode ser admitido?

— Sim, meu Irmão; porque é puro.

— Respeitáveis Irmãos, expressai vosso anelo.

As destras se ergueram, num gesto de assentimento.

— Aproxima-te, Peregrino.

E sobre os ombros do postulante caiu o hábito de linho.

— Peregrino, a pureza do linho lembra ao Iniciado a pureza das


idéias, palavras e atos. Instruir-se, para instruir; educar-se, para
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educar, é o fim de toda iniciação superna. Instruir e educar, é
emancipar consciências; é conduzir os seres aos ciclos de ouro da
FRATERNIDADE. Amai: A harmonia cósmica é resultante do
AMOR.

O Magnífico emudeceu; mas, em todo o ambiente havia acordes


pianíssimos: Era o ritmo dos espíritos afinizados ao diapasão da
IDÉIA.

Salve, Peregrino!

Eleva os inferiores, intelectualiza os instintivos; respeita a vida


sob seus múltiplos aspectos.

Quem já bebeu a vida em a taça de Tântalo, não volve à


penumbra do gozo abjeto.

Pelo saber, atinge a VERDADE; e os tojos do caminho se


transmudarão em lírios.

À luz da Razão eleva a JUSTIÇA; e tua consciência imergirá na


beatitude do Nirvana.

Não desfolhes das almas as rosas da Esperança.

A Esperança é o cântico da Vida.

Não apagues nos corações a lâmpada do Sonho; porque o


Sonho ilumina os hortos da Esperança.

Dize aos Efêmeros o Caminho da Perfeição, indica-lhes a


Bússola da Vida, leva-os Através da Harmonia, aponta-lhes o
Ciclo de Ouro, e que penetrem contigo na Alfombra da Luz,
enternecedora e sereníssima.

A Alfombra da Luz é trâmite do Santuário; no Santuário fulge a


ESSÊNCIA.

Adeus, Peregrino!

Pais da Renúncia, — Câncer-Virgo, 1910.

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Em Português:
1° edição-1911(INP)
2° edição-1941(INP)
3° edição- s/ data(INP)
4° edição- 1973(INP)
5° edição- 2012(lval.org)

Dario Vellozo
(Apolônio de Tyana)
(1869-1937)

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