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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv8n12-124
RESUMO
Umas das inovações que vêm gerando discussões na seara jurídica tratam-se das
criptomoedas, especialmente da bitcoin, que é a criptomoeda precursora e com mais valor
de mercado. A tecnologia da bitcoin garante um funcionamento descentralizado e,
portanto, com total ausência de controle, tornando-a imune à soberania Estatal. Tal
ausência de controle Estatal é visto por muitos como uma oportunidade para o
cometimento de crimes, portanto, o problema e objeto central da presente investigação
trata-se do surgimento da bitcoin, que em razão de suas caraterísticas únicas trouxe
consigo novos desafios ao Direito Penal. Desta forma, questiona-se: pode a bitcoin
facilitar o cometimento do crime de lavagem de dinheiro? Tem-se como hipótese que a
bitcoin em razão de suas características, em especial as relativas à descentralização,
poderia facilitar o cometimento do crime de lavagem de dinheiro, vez que um dinheiro
oriundo de crime poderia se transformar em bitcoins, perdendo, portanto, o vínculo com
o crime anterior praticado, ou seja, ocorrendo neste caso a lavagem de dinheiro utilizando-
se da bitcoin. No tocante a metodologia, será utilizado o método lógico dedutivo a partir
da revisão bibliográfica, buscando conceitos técnicos tanto da tecnologia quanto do
Direito. Como resultado, a pesquisa demonstrou a hipótese como parcialmente
verdadeira, pois, embora a bitcoin seja um facilitador, na realidade não é o melhor
facilitador por ter formas de rastreio das transações realizadas, ficando atrás de métodos
tradicionais utilizados pelo crime, como por exemplo, a lavagem de dinheiro com moedas
correntes.
ABSTRACT
One innovation that has generated discussions in the legal field is cryptocurrencies,
especially bitcoin, the precursor cryptocurrency with the highest market value. Bitcoin
1 INTRODUÇÃO
Com o advento da era digital, o ser humano conquistou a possibilidade de interagir
com o chamado ambiente virtual. Em tal ambiente, tal como o ambiente do mundo real,
também ocorrem práticas delituosas, todavia, ainda mais complexas, haja vista que o
mundo virtual se transforma em uma velocidade ainda maior do que a do mundo real por
meio das novas tecnologias, que geram cada vez mais percalços para o Estado exercer
sua proteção ao que tange ao Direito Penal.
Uma das tecnologias que mais vêm gerando discussões na seara jurídica tratam-
se das criptomoedas, especialmente de sua precursora a bitcoin, que pode ser
compreendida como um ativo digital descentralizado que possui valor econômico
atribuído pelo próprio mercado, ou seja, trata-se de um ativo digital independente de
controle (mesmo por parte de seu criador) e por conta dessa total ausência de controle
(por impossibilidade técnica), tal tecnologia se torna imune à soberania Estatal (incluindo
a Égide Penal).
Destaca-se que tal ausência de soberania Estatal é vista por muitos como uma
oportunidade para o cometimento de crimes, portanto, o problema e objeto da presente
investigação trata-se do surgimento da bitcoin, que em razão de suas caraterísticas únicas
trouxe consigo novos desafios ao Direito Penal. Desta forma, questiona-se: pode a bitcoin
facilitar o cometimento do crime de lavagem de dinheiro?
2 BITCOIN
2.1 ORIGEM
A Bitcoin foi criada em 2008, quando uma pessoa ou um grupo de pessoas,
utilizando-se do pseudônimo “Satoshi Nakamoto” publicaram o trabalho intitulado
“Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System (NAKAMOTO, 2008).
É importante ressaltar o contexto histórico no qual a Bitcoin foi criada, o ano de
sua criação (em 2008) foi marcado como o ano “[...] da maior crise econômica global de
nossa história recente – a maior desde o crash de 1929 [...]”. (TEIXEIRA; RODRIGUES,
2021, p. 13). Em síntese, tal crise se iniciou nos Estados Unidos, que após os atentados
terroristas de 2001 adotaram uma política que visava conter a recessão por meio da
desregulamentação dos mercados, expansão de créditos, diminuição de impostos e juros,
etc. Tal política trouxe como consequência um forte avanço no setor imobiliária, gerando
preços especulativos irreais, que por sua vez, fizeram com que os bancos concedessem
hipotecas em excesso (sem verificar as possibilidades de pagamento dos clientes). Como
consequência deste excesso, tais hipotecas acabaram não sendo pagas pelos clientes,
fazendo com que os bancos tivessem problemas de liquidez, gerando uma
desestabilização econômica que deu origem a crise (que posteriormente se alastrou para
o mundo), que inclusive causou a falência do quarto maior banco da época nos Estados
Unidos, o Lehman Brothers. (HISTORY, 2018).
Por fim, o sistema da Bitcoin entrou em funcionamento em 3 de janeiro de 2009,
quando o primeiro bloco, conhecido como Genesis Block, foi minerado dando origem ao
que é conhecido como Blockchain, onde as transações realizadas com a Bitcoin são
armazenadas eternamente e de maneira imutável. (LOCKE, 2022).
2.2 DEFINIÇÃO
Segundo Fernando Ulrich (2014) a Bitcoin trata-se de uma moeda digital, que usa
da criptografia para operacionalizar suas transações por meio de um sistema peer-to-peer
(ponto a ponto), com código fonte aberto e independente de uma autoridade central. Nesse
sentido, a Bitcoin se assemelha a uma moeda, bem como um sistema de pagamento, de
forma que a plataforma seja autossuficiente, ou seja, para se realizar transações não é
necessário de nenhuma autoridade central e/ou terceiros, a plataforma por si só é capaz
de realizar tais operações.
Ademais, a Bitcoin pode ser definida como uma criptomoeda, em razão da
criptografia ser a responsável por garantir a realização das transações, sendo que a
“espécie” criptomoeda faz parte de um “gênero” maior denominado criptoativo, que foi
conceituado pela Receita Federal como:
2.3 CARACTERÍSTICAS
2.3.1 Imutabilidade
Para compreender a característica da imutabilidade inerente a bitcoin faz-se
necessário compreender o sistema que viabiliza o funcionamento técnico da criptomoeda,
conhecido como blockchain.
Nesse sentido, Caldas (2018) esclarece que a blockchain é o mecanismo pelo qual
a bitcoin grava todas suas transações, portanto, utilizando-se de agregados de dados
estruturados em blocos (por isso o termo “block”) tais transações são posteriormente
integradas a algo semelhante a um livro-razão, denominado de blockchain. Tais blocos
são organizados de uma forma técnica que torna possível de identificar sua existência no
espaço e tempo em referência a todos os demais blocos existentes e que venham a existir,
estabelecendo uma conexão entre os blocos passados, uma espécie de elo, que se
assemelha a uma corrente (por isto o termo “chain”). (CALDAS, 2018).
Em síntese, em razão de tais características técnicas mencionadas, o blockchain
pode ser compreendido como uma corrente de dados em bloco estruturados em cadeia,
que garantem tecnicamente a característica da imutabilidade da bitcoin.
2.3.2 Descentralização
Tanto a produção de moedas correntes (moedas soberanas), quanto operações
bancárias existem por meio sistemas centralizados, onde uma autoridade central faz o
armazenamento de informações ao mesmo tempo que as legitima em relação às partes
envolvidas (TEIXEIRA; RODRIGUES, 2021).
Diferente deste modelo centralizado (utilizado por diversos serviços na
contemporaneidade), a bitcoin é totalmente descentralizada, em razão do seu mecanismo
da blockchain que se utiliza de uma arquitetura de rede ponto-a-ponto, no qual inexiste
um servidor e ou autoridade central, de forma que o código fonte dite as regras e os
participantes da rede (por meio de um esforço em conjunto) mantenham o sistema em
pleno funcionamento. (ULRICH, 2014).
Cabe destacar, que tais participantes são iguais e independentes, ou seja, os
mantenedores da rede (conhecido como mineradores) estão em grau de igualdade, e
mesmo que um desses mantenedores por algum motivo se desconecte, a rede continuará
funcionando perfeitamente.
2.3.3 Criptografia
A respeito da criptografia esta pode ser compreendida como técnicas que tornam
mensagens secretas (incompreensíveis) para aqueles que não conhecem o segredo (a
chave) para decifrá-las.
A bitcoin possui um mecanismo de criptografia de prova de trabalho (“proof of
work”) no qual para autorizar as transações, a rede (descentralizada) propõe cálculos
matemáticos para os mineradores (que são mantenedores da rede), que quando entram em
consenso (no caso mais de 50% da rede), autorizem que de fato determinada transação
ocorreu e por isso foi válida. (ANTONOPOULOS, 2017).
No caso da Bitcoin, a criptografia é o que garante a fidúcia (confiança) a própria
moeda, de forma que tal confiança gera valor de mercado na criptomoeda, ou seja, a
confiança de que as transações de fato são seguras faz com que as pessoas queiram utilizar
a bitcoin, de forma que ela (a criptomoeda) ganhe cada vez mais valor de mercado.
2.3.4 Pseudoanonimato
O que conecta as pessoas a bitcoin são as chamadas carteiras de criptomoedas, tais
carteiras são responsáveis por armazenar as chaves privadas (que dão acesso aos ativos
digitais), portanto, as carteiras permitem que o usuário envie, receba e gaste
criptomoedas, ou seja, com as carteiras o usuário se torna o seu próprio banco, tendo total
único e exclusivo controle sobre seus ativos digitais. (LITTLE, 2021).
Para adquirir bitcoin existem três possibilidades: por meio de empresas que
trocam moedas correntes por criptomoedas, as chamadas exchanges, que no Brasil ainda
não possuem regulamentação; por meio da troca direta entre pessoas; por meio da
mineração, que como contrapartida por colaborar com o mantenimento da rede é pago
uma pequena quantia em bitcoin, para os chamados mineradores. (ULRICH, 2014). Em
todas as situações descritas as bitcoins são armazenadas em carteiras, todavia, no caso da
primeira situação (exchanges) as carteiras estão sob os cuidados de uma empresa
(exchange), e por esse motivo, torna-se possível a penhora de tais valores, desde que a
empresa esteja acessível judicialmente.
A respeito das carteiras contendo bitcoin, em regra, não se é possível identificar
quem de fato é o dono de determinada quantia da criptomoeda, ocorrendo o fenômeno
3 LAVAGEM DE DINHEIRO
3.1 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO
Por volta da década de 1920, nos Estados Unidos havia um grande movimento
proibição de bebidas alcóolicas por força da legislação penal do local, e por esse motivo
(de proibição), surge um comércio ilegal de bebidas alcoólicas que passa a ser
extremamente rentável. (HISTORY, 2009). Essa rentabilidade, por sua vez, deveria ser
declarada ao governo para que os criminosos pudessem se utilizar dos lucros, e por este
motivo os comerciantes ilegais (membros de organizações criminosas, como Al Capone)
começaram a utilizar de uma prática que dificultava o rastreamento do dinheiro, portanto,
eles (os comerciantes ilegais) passaram a se utilizar de lavanderias para transformar o
dinheiro ilícito, em lícito, dando origem ao que é conhecido como lavagem de dinheiro
(GALLERANI, 2014).
A escolha de uma lavanderia para transformar o dinheiro se fundamentou no fato
de ser imensurável de se dizer com precisão quantas pessoas frequentavam e quais eram
os valores gastos por tais clientes nestes comércios. Deste modo, os gangsters2 da época
1
Para fins de conceituação de pseudoanonimização, foi considerado o conceito definido pela Lei Geral de
Proteção de Dados, em seu art. 13, § 4º.
2
O termo gangster é usado para se referir a uma quadrilha ou organização criminosa. Também
conhecidos como “mafiosos”, os gangsters formavam grupos organizados para a prática de crimes.
enxergaram nas lavanderias uma oportunidade para a lavagem de capitais, afinal, todo o
dinheiro levantado com a venda ilegal de bebidas alcóolicas poderia ser facilmente
justificado pelos serviços prestados pela lavanderia.
Apesar de ser uma prática antiga, a expressão “lavagem de dinheiro” só foi
oficialmente utilizada por volta da década de 1970, quando autoridades dos Estados
Unidos investigavam criminosos envolvidos com o tráfico de entorpecentes
(GALLERANI, 2014).
Atualmente, a lavagem de dinheiro é utilizada por vários ordenamentos para inibir
essa prática delituosa que visa dificultar ou impossibilitar o rastreamento de capitais que
provêm de uma origem ilícita, como será visto no próximo tópico.
Quando o texto legal utiliza o termo “infração penal”, não apenas diz respeito aos
crimes propriamente ditos, pois trata-se de gênero e não espécie, mas também infrações
de menor potencial ofensivo. Esclarecendo, Nucci leciona: “No entanto, o gênero,
oficialmente acolhido pela Lei de Introdução ao Código Penal, é infração penal, do qual
decorrem as espécies crime e contravenção penal.” (NUCCI, 2018 p. 296).
Ou seja, mesmo delitos que em um primeiro momento não tenham sequer penas
privativas de liberdade, podem estar sujeitos à incidência do crime de lavagem de
dinheiro.
Ademais, é perceptível que a intenção do legislador é vedar a ocultação de bens e
valores provenientes de atividades ilícitas, mesmo que posteriormente seja dissimulado,
tendo a aparência de licitude, ou que até mesmo já esteja integrado no dentro do mercado
(GALLERANI, 2014).
Nesse sentido, consoante a Gallerani (2014, p. 24): “A palavra lavar vem do latim
lavare, e significa expurgar, purificar, reabilitar, daí a ideia de tornar lícito o dinheiro
advindo de atividades ilegais e reinseri-lo no mercado como se lícito fosse.”
Desta forma, se o crime de lavagem de dinheiro pode ser aplicado inclusive em
delitos de menor potencial ofensivo, observa-se que se trata de um crime acessório (bem
como a receptação, por exemplo), que necessariamente exige uma prática criminosa
pretérita para que exista, não podendo ser presumida pelo juízo (LARA, 2018).
Utilizando-se do exemplo de uma infração de menor potencial ofensivo, no caso
o furto de coisa comum, previsto no art. 156 do Código Penal e com pena máxima de 02
anos, poderia (a depender do caso concreto) ser o crime principal de uma ação penal e,
acessoriamente, o crime de lavagem de dinheiro, isto, caso o autor do delito incorrer em
alguma das hipóteses do art. 1º da Lei 9.613/98.
É mister observar a gravidade do crime de lavagem de capitais, pois, enquanto no
exemplo acima descrito (do furto de coisa comum), a pena máxima é de 02 anos, a pena
pela lavagem pode passar dos 15 anos, caso seja cometida em consonância com as causas
de aumento de pena previstas na Lei 9.613/98.3
3
A pena máxima do crime de lavagem de dinheiro previsto no art. 1º da Lei 9.613/2018 é de 10 anos.
Com as causas de aumento de pena previstas no §4º do Art. 1º, que versam sobre a prática reiterada do
delito ou por intermédio de organização criminosa, podem aumentar a pena em até 2/3.
Deste modo, será analisado diversos casos, iniciando por crimes de escala estadual
como foi o caso da operação Publicano envolvendo a Receita Federal do Estado do
Paraná, escala nacional como foi o caso da operação Lava Jato e escala internacional
como foi o caso da operazione Mani Pullite na Itália.
A nível estadual, o caso da operação publicano ocorrida no Paraná. Em 2015 a
operação teve como objetivo a prisão de uma organização criminosa composta por
agentes públicos da Receita Estadual e empresários. O esquema em questão tinha como
finalidade sonegar impostos mediante pagamento de propina. Nesse caso, foram
constatados delitos de corrupção, falsidade de documentos e lavagem de dinheiro.
(MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, 2017)
A respeito do caso à nível nacional, a operação lava jato, resume-se em uma
operação que dizia respeito às irregularidades nos valores das licitações feitas pela
Petrobras e a contratação vultuosa de empreiteiras. A operação em questão teve várias
frentes de investigação, mas em resumo o esquema criminoso apontava a participação de
agentes públicos (gênero), empreiteiras, funcionários da Petrobrás... Dos crimes
constatados, valem a menção a associação criminosa, corrupção passiva e ativa, e
lavagem de dinheiro. (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2021). Ademais, vale a
menção de que a operação lava jato também teve grande repercussão fora do Brasil, vez
que a Odebrecht utilizou bancos internacionais para realizar suas movimentações
financeiras provenientes do esquema de corrupção denunciado pela operação (U.S
MISSION BRAZIL, 2021).
Ao que tange ao direito estrangeiro (escala internacional), um dos grandes casos
emblemáticos foi a operazione mani pullite que ocorreu na Itália, que bem como os casos
supramencionados também tinha como objetivo o combate à corrupção e a esquemas de
lavagem de dinheiro, que inseriram os valores adquiridos da prática criminosa
(corrupção) no mercado financeiro, dando a impressão de que eram valores provenientes
de atividades lícitas. (ARRUDA, 2021)
A respeito destes casos de escândalos de corrupção, além de notoriamente ter
ocorrido o crime de corrupção passiva e ativa, houve a incidência de outro crime em
comum, a saber o crime de lavagem de dinheiro. Ora, se o crime de corrupção passiva,
por exemplo, consiste também em aceitar vantagem indevida, e aqui trata-se essa
vantagem indevida recebendo valores (dinheiro), portanto, para que tais valores não
levantem suspeitas, há de se tornar sua origem lícita, por meio de artimanhas, como é o
aquilo que foi registrado, continuará registrado. Por este motivo, se o intuito do crime de
lavagem é esconder o caminho criminoso percorrido pelo dinheiro, é observável que não
é interessante deixar um rastro em um registro imutável dentro de uma plataforma pública
(blockchain).
Desta forma, cabe mencionar que existem empresas e plataformas especializadas
em rastreamento de criptomoedas, como é o caso da plataforma Block Sherlock, que foi
criada pelo Delegado da Polícia Civil do Estado de Goiás chamado Vytautas Zumas, no
qual disponibiliza ferramentas tecnológicas que identificam o caminho percorrido pelas
criptomoedas. (LIVE COINS, 2022). Tal rastreio torna-se possível, pois, embora haja o
desconhecimento entre as partes que transacionam com criptomoedas, não há de se falar
em total anonimidade, haja vista que uma vez identificado o portador da carteira de
criptomoedas, torna-se possível localizar o caminho percorrido pela criptomoeda.
Deste modo, entende-se que é possível a utilização da bitcoin como moeda de
troca na negociação de esquemas criminosos e consequentemente, na eventual prática de
lavagem de dinheiro. Entretanto, de acordo com uma pesquisa realizada em 2019 pela
Messari, não se trata da opção mais utilizada, uma vez que segundo a pesquisa moedas
soberanas são 800 vezes mais utilizadas para a lavagem de dinheiro do que a bitcoin.
(MESSARI, 2019).
Deste modo, torna-se possível compreender que apesar da possibilidade de
lavagem de dinheiro usando a bitcoin, esta não aparenta ser a melhor opção em razão do
registro na blockchain, que traz como consequência um potencial de rastreamento dos
valores.
5 CONCLUSÃO
A Bitcoin hoje é uma tecnologia comumente utilizada pelos diversos setores da
vida civil e a sua compreensão é imprescindível para a sociedade como um todo, inclusive
para os operadores do Direito.
Diante da possibilidade de rastreamento da bitcoin por meio de sua rede da
blockchain, a prática de lavagem de dinheiro utilizando bitcoin representaria um
imensurável facilitador para as investigações realizadas pelas autoridades nacionais
competentes. Afinal, como apresentado, todas as movimentações realizadas ficam
gravadas na rede da bitcoin, podendo ser rastreadas e identificadas.
Sobre o questionamento inicial, se a bitcoin poderia facilitar o cometimento do
crime de lavagem de dinheiro, a resposta é que sim. Entretanto, não é o melhor facilitador,
afinal, é rastreável, identificável. Portanto, embora a bitcoin possa facilitar o cometimento
do crime, seu uso para o crime se torna inferior ao uso das moedas correntes (tal como o
dólar, euro, real, etc). De forma que a criptomoeda em análise acabe sendo um grande
facilitador para a investigação policial que a envolve, auxiliando inclusive para a eventual
realização de uma delação premiada.
Deste modo, a hipótese elencada que a bitcoin em razão de suas características
técnicas, em especial as relativas à descentralização, poderia facilitar o cometimento do
crime de lavagem de dinheiro, se torna parcialmente falsa, pois embora seja um
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odebrecht/#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20acusação%2C%20Weinzierl%2C
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tamente Acesso em: 26 de abr. de 2022.