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Estudo Comparativo de Cálculo de Lajes

Analogia de grelha x Tabela de Czerny


(1) (1) (2)
Junior, Byl F.R.C. , Lima, Eder C. , Oliveira,Janes C.A.O. ,
1 Acadêmicos de Engenharia Civil, Universidade Católica de Goiás – UCG
edercard4@hotmail.com , farneyjr@hotmail.com

2 Professor M.Sc., Universidade Católica de Goiás (UCG) e Universidade Estadual de Goiás (UEG)
janes@cultura.com.br
Palavras-Chave: Lajes – Métodos Numéricos - Grelha - Czerny

RESUMO

Ao longo dos anos têm sido propostos e aplicados diversos métodos


para análise de lajes de concreto armado de pavimentos de edifícios.
Dentre os processos que possibilitam a consideração da estrutura no
seu aspecto tridimensional, destaca-se o processo das grelhas que tem
como idéia principal a divisão das lajes que compõem o pavimento em
um número adequado de faixas. Esse processo permite reproduzir um
comportamento estrutural bastante aproximado da realidade, podendo-
se variar a geometria e as situações do arranjo estrutural. Neste trabalho
são comparados esforços e deslocamentos de lajes sob várias
condições de contorno. Serão comparados os resultados obtidos pela
analogia de grelha, utilizando o software SAP2000n, com aqueles
obtidos empregando as tabelas de Czerny. Será demonstrado como a
influência de alguns parâmetros (discretização da malha, rigidez a torção
dos elementos, etc), influenciam de forma significativa nos resultados
obtidos.

1. INTRODUÇÃO

Durante muitos anos, o cálculo de pavimentos de edifícios com a


estrutura composta por lajes e vigas foi feito com a utilização de tabelas,
considerando as lajes como elementos isolados e apoiados em vigas
indeformáveis. Com o avanço tecnológico, foram desenvolvidos alguns
softwares de análise estrutural que permitem analisar o comportamento
de um pavimento como um todo, aproximando com o funcionamento real
da estrutura. Neste caso, são considerados na análise alguns
parâmetros importantes como a influência da flexibilidade das vigas e a
rigidez real à torção das lajes e vigas.

O processo de analogia de grelha vem sendo muito utilizado em


programas computacionais de análise de estruturas de concreto armado
e está tendo muita aceitação no meio profissional. Este processo
fornece ao projetista subsídios para a escolha do esquema estrutural
mais adequado, na medida que permite a analise de um mesmo
pavimento sob diferentes situações, fazendo-se adaptações em um
mesmo conjunto de dados. Outra grande vantagem em se utilizar este
processo é a possibilidade de análise de lajes com formatos irregulares.

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2. PROCESSO DE ANALOGIA DE GRELHA

A idéia principal do método das grelhas é a substituição do pavimento


por uma grelha equivalente, sendo que os elementos estruturais (vigas e
lajes) são representados pelas barras da mesma. A grande vantagem
deste processo é a possibilidade de configuração do sistema estrutural
com qualquer geometria abrindo espaço para esquemas sem vigas ou
com lajes nervuradas.

Durante a análise, as lajes devem ser discretizadas em um número


adequado de faixas cujas larguras dependem das dimensões e da
geometria do pavimento. No que diz respeito aos carregamentos, estes
podem ser considerados distribuídos nas barras da grelha equivalente,
de acordo com a área de influência de cada uma. Para que o modelo
numérico reflita o comportamento real do arranjo estrutural, deve-se
avaliar as características geométricas dos dois tipos de elementos
utilizados na malha : placa e viga-placa.

Considera-se então, além da rigidez à torção e à flexão das lajes, a


rigidez à flexão e à torção das vigas, fazendo com que os momentos
fletores no centro da laje na direção perpendicular o eixo da viga se
apresentem maiores quando a viga é de bordo, pois não há uma
segunda laje contribuindo para redistribuir os momentos fletores. Para
as lajes com as mesmas dimensões, os momentos fletores são tão
menores quanto maior for a contribuição de lajes adjacentes. Tem-se a
expressão que permite calcular a inércia à torção da viga, de maneira
simplificada, dada pela Resistência dos Materiais:

h.b 3
It =
3
Onde:
h, a altura da viga e b , a respectiva largura.

No cálculo utilizando as tabelas de Czerny, não são levadas em


consideração a rigidez a torção, simplificando a análise da estrutura
considerando as lajes como painéis isolados, apoiados em vigas
indeformáveis. A compatibilização dos momentos fletores entre lajes
conjugadas se dá utilizando 80% do maior momento entre lajes
contíguas ou a média aritmética entre os dois momentos. A seguir serão
apresentados alguns resultados comparando a análise de painéis de
lajes entre a analogia de grelha e as tabelas de czerny.

3. SITUAÇÕES ESTUDADAS

Algumas situações foram estudadas exemplificando a utilização do


processo de analogia de grelha na análise de lajes maciças de concreto
armado. Os valores serão conflitados com os provenientes do cálculo
pelas tabelas de Czerny. Serão levados em consideração a influência do
refinamento da malha e a rigidez à torção dos elementos. Para a
obtenção dos esforços e dos deslocamentos das placas através do

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processo de analogia de grelha, foi utilizado o software SAP 2000n,
versão 7.12, desenvolvido pela Universidade de Berkeley.

Exemplo 1 – Foi considerada uma laje de um edifício garagem cujos


esforços e deslocamentos verticais foram calculados através da
Analogia de grelha e comparando com os resultados das Tabelas de
Czerny.
Características dos Materiais:
Es=2128,7367 kN/cm² ; ν = 0,2
Dados do carregamento da placa:
carga permanente = 4 kN/m2;
sobrecarga = 3 kN/m2
Na analogia de grelha, utilizou-se uma discretização com espaçamento
entre barras de 50 cm, nas duas direções.
20 488 20

20
L1

480
20
L2

480
20 488 20 480 20 480
20

20
L3 L4 L5 L6
488

488
20

20

L7 L8 L9 L10
480

480
20

20

L11 L12 L13 L14


488

488
20
20

20 488 20 480 20 480 20 488 20

Figura 1- Planta de forma do pavimento tipo do edifício garagem

O carregamento foi considerado uniformemente distribuído nas barras


sendo que o seu valor numérico foi obtido da sobrecarga atuante nos
triângulos (áreas de influência) determinadas através das charneiras
plásticas, coerente com os critérios do item 14.7.4 (NB1 2001):
Para as barras do centro:

3
Para as barras de contorno:

Tabela 1 – Momento fletor (em Kgf.cm/m) e flecha (em cm) do exemplo1


LAJE TABELA DE CZERNY (A) PROCESSO DA GRELHA (B) RAZÃO (A/B)
Mx My FLECHA Mx My FLECHA Mx My F
L1 61083,00 44814,00 0,376 30918,66 46335,62 0,501 1,98 0,97 0,750
L2 54461,00 29954,00 0,262 20497,64 44890,48 0,391 2,66 0,67 0,670
L3 48146,00 48146,00 0,304 33144,24 33272,70 0,389 1,45 1,45 0,781
L4 43657,00 33238,00 0,231 22140,90 34666,58 0,306 1,97 0,96 0,755
L5 43657,00 33238,00 0,231 19671,14 31474,78 0,248 2,22 1,06 0,931
L6 32529,00 43888,00 0,231 34702,40 25470,50 0,351 0,94 1,72 0,658
L7 43657,00 33238,00 0,216 18645,98 33891,12 0,261 2,34 0,98 0,828
L8 33011,00 33011,00 0,171 20610,12 16925,54 0,116 1,60 1,95 1,474
L9 33011,00 33011,00 0,171 20718,66 17869,32 0,123 1,59 1,85 1,390
L10 43657,00 33238,00 0,216 20203,64 33430,88 0,275 2,16 0,99 0,785
L11 48146,00 48146,00 0,304 33429,36 33600,20 0,39 1,44 1,43 0,779
L12 43657,00 33238,00 0,182 21506,34 35394,04 0,299 2,03 0,94 0,609
L13 43657,00 33238,00 0,182 21569,72 35232,94 0,296 2,02 0,94 0,615
L14 48146,00 48146,00 0,304 32105,94 32602,66 0,385 1,50 1,48 0,790

Tabela 2 – Momento fletor negativo (em Kgf.cm/m)


LAJE TABELA DE CZERNY (A) PROCESSO DA GRELHA (B) RAZÃO (A/B)
X X X
L1 - L2 147346,00 44269,89 3,33
L8 - L9 96649,00 41205,89 2,35

Observa-se que os momentos fletores obtidos pelo processo das grelhas


são bem menores em comparação com os resultados encontrados pelas
tabelas de Czerny. Isto pode ser explicado pela melhor redistribuição
dos momentos fletores quando na análise pelo processo das grelhas.

Exemplo 2 – Foi analisado o mesmo painel de lajes do exemplo 1


considerando agora todas as lajes do pavimento sob apoio simples,
desprezando-se a influência do engastamento da laje adjacente.

Tabela 3 – Momento máximo positivo (em Kgf.cm/m) e flecha (em cm)


LAJE TABELA DE CZERNY (A) PROCESSO DA GRELHA (B) RAZÃO (A/B)
Mx My FLECHA Mx My FLECHA Mx My F
L1 71195,00 68691,00 0,558 42343,38 58505,34 0,645 1,68 1,17 0,865
L2 71195,00 68691,00 0,558 37171,00 61722,76 0,593 1,92 1,11 0,941
L3 71157,00 71157,00 0,595 50671,54 49484,78 0,612 1,40 1,44 0,972
L4 71195,00 68691,00 0,595 41818,72 53777,66 0,566 1,70 1,28 1,051
L5 71195,00 68691,00 0,595 40754,36 51966,80 0,528 1,75 1,32 1,127
L6 71157,00 71157,00 0,595 55180,80 44406,28 0,614 1,29 1,60 0,969
L7 71195,00 68691,00 0,558 39918,46 55756,36 0,542 1,78 1,23 1,030

4
L8 68934,00 68934,00 0,558 45724,88 42694,00 0,459 1,51 1,61 1,216
L9 68934,00 68934,00 0,558 45672,70 43297,78 0,462 1,51 1,59 1,208
L10 71195,00 68691,00 0,595 40963,94 53968,12 0,553 1,74 1,27 1,076
L11 71157,00 71157,00 0,595 50943,30 50955,46 0,613 1,40 1,40 0,971
L12 71195,00 68691,00 0,595 41545,24 55154,50 0,564 1,71 1,25 1,055
L13 71195,00 68691,00 0,595 41706,32 55078,08 0,562 1,71 1,25 1,059
L14 71157,00 71157,00 0,595 49074,14 50822,26 0,611 1,45 1,40 0,974

Em se tratando de momentos fletores positivos, os resultados obtidos


pela analogia de grelha foram bem inferiores aos encontrados pelas
tabelas de Czerny. No que se refere às deformações, foram encontrados
resultados diferenciados, dependendo da posição do painel da laje. Nas
lajes situadas na extremidade da planta, as deformações obtidas pelo
analogia de grelha foram maiores que os valores encontrados pela
tabela de Czerny. Nas lajes centrais, a situação se inverte, sendo os
valores maiores para as deformações determinadas pelas tabelas de
Czerny. Estes resultados podem ser observados claramente analisando
as lajes L3 e L8.

Exemplo 3 – Após as comparações realizadas entre a analogia de


grelha e as Tabelas de Czerny, foram calculadas as armaduras positivas
e negativas das lajes analisadas por ambos os processos. As armaduras
positivas foram calculadas utilizando os momentos máximos positivos
como de prática no meio profissional.

Tabela 4 – Armaduras positivas e negativas (em cm²)

LAJE TABELA DE CZERNY (A) PROCESSO DA GRELHA (B) RAZÃO (A/B)


As + As - As + As - As + As -
L1 4,99 5,61 3,55 1,55 1,41 3,62
L8 5,68 3,64 3,01 1,44 1,89 2,53

Como esperado, a taxa de armadura obtida pela analogia de grelha foi


menor do que a análise utilizando as tabelas de czerny.

Exemplo 4 – Para confirmar a influência do refinamento do modelo nos


resultados obtidos, foi realizada uma comparação de resultados
variando a discretização da malha de uma laje com dimensões 5 x 5
metros, com espaçamento entre barras 100 x 100 cm, 50 x 50 cm e 20 x
20 cm.

Tabela 5 – Momentos fletores (em Kgf.cm/m) e flecha (em cm)


MALHA DA GRELHA EQUIVALENTE Mx=My FLECHA
MALHA 1 (100 X 100) 40255,73 0,500
MALHA 2 (50 X 50) 41395,38 0,530
MALHA 3 (20 X 20) 42625,30 0,546

Utilizando-se uma menor discretização de malha, os resultados dos


esforços e deformações convergem para o valor exato. Observando os
resultados da tabela 5, para os valores de momentos fletores e flechas,
a discretização utilizando espaçamento de 50 x 50 cm entre barras,

5
fornecem resultados bastante satisfatórios no que tange a precisão e
rapidez do processamento dos cálculos.

4. CONCLUSÔES
Com base nos resultados apresentados no item 3, algumas conclusões
podem ser retiradas:
• Os resultados encontrados pela analogia de grelha e pelas tabelas
de Czerny divergem pelo fato de que no segundo processo são
ignorados alguns parâmetros como a influência da deformabilidade
das vigas de apoio e a consideração da rigidez a torção dos
elementos.
• Para os exemplos estudados, na análise pela analogia de grelha, as
lajes mais próximas da extremidade apresentam flechas e momentos
fletores maiores que as lajes centrais;
• Pela analogia de grelha, ocorre uma maior redistribuição dos
momentos fletores entre lajes contíguas. Os resultados são menores
do que os encontrados pela compatibilização realizada quando no
cálculo pelas tabelas de Czerny;
• Na direção onde há menos influência de lajes adjacentes, o momento
fletor é maior pelo Processo de analogia de grelha. Já pelas Tabelas
de Czerny isso não acontece por não serem consideradas as
dimensões das outras lajes, condições de carregamento e
deformações;
• A taxa de armadura obtida pela analogia de grelha é bem menor do
que na análise utilizando as tabelas de Czerny; Devem ser
processados novos exemplos para verificar a validação dos
resultados encontrados;

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2001). - Projeto de


Estruturas de Concreto, Texto concluído da revisão da NB1, Ibracon;

Silva, Marcos A. F., Filho, Jasson R. F., Carvalho, Roberto C. -


Utilização da analogia de grelha para análise de pavimentos de edifícios
de concreto armado. – Artigo publicado no 45° Congresso Brasileiro do
concreto, 2003.

Custódio, V. & Pimenta, A. - Lajes de Concreto Armado e Protendido,


Editora da Universidade Fluminense, 1990, Rio de Janeiro.

Chaer, A. V. – Notas de Aula do Curso de Concreto Armado,


Universidade Católica de Goiás, 2001;

6. AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao professor Janes Cleiton que nos orientou no estudo,


principalmente na modelagem das estruturas no software SAP 2000.

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