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O Efeito Grelha na análise estrutural de pisos de edifícios de

Concreto.

Hideki Ishitani

A Estrutura de um edifício é composta, basicamente, de quatro grupo de


elementos estruturais:

1. as lajes, elementos de placa de espessura constante e forma, em geral,


retangular, que suportam os pisos dos compartimentos; a solicitação
preponderante é a flexão.
2. as vigas, elementos de barra prismática que conduzem as cargas dos pisos
para a fundação do edifício através de solicitação de flexo-compressão; e
3. os pilares, elementos de barra prismática que conduzem as cargas dos
pisos para fundação do edifício através de solicitação de flexo-
compressão; e
4. as fundações, que transferem as cargas para o solo de apoio da
construção.

Procedimento usual de análise:

1. Lajes. No processo usual de projeto, admite-se como suficiente a análise


do conjunto das lajes, separadamente do restante do piso, considerando-as
“apoiadas” nas vigas que, para esta função, são consideradas
infinitamente rígidas à flexão. O dimensionamento das armaduras é
condicionado pela flexão. O detalhamento final contém armaduras
adicionais, de controle de fissuração junto às vigas externas de apoio das
lajes, e de resistência aos fortes momentos volventes, junto aos pilares de
canto. O efeito das lajes sobre a estrutura é considerado apenas como
cargas uniformemente distribuídas, aplicadas sobre os respectivos vãos

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das vigas de apoio. Dessa forma, a estrutura passa a ser um pórtico
espacial, resultante de um processo evolutivo de construção, normalmente,
iniciado ao nível da fundação.
2. Vigas. Na seqüência de detalhamento, as vigas são, geralmente, analisadas
como vigas contínuas isoladas, com alguns cuidados adicionais para
“cobrir” os efeitos de conjunto provenientes do monolitismo das ligações
entre vigas e pilares.
3. Pilares. Os pilares são analisados, geralmente, lance por lance,
considerando-se as reações acumuladas das vigas sujeitas às cargas
verticais, somadas aos efeitos do vento e aos efeitos de segunda ordem,
estes, provocados pelo deslocamento horizontal dos pisos e suas
respectivas cargas.
4. Fundações. São detalhadas de modo a transferir com segurança as reações
finais ao solo de apoio da construção.

Efeito Grelha
As vigas são, normalmente, apoiadas diretamente nos pilares (apoios diretos).
Eventualmente, elas podem se apoiar em outras vigas (apoios indiretos).
Nestes casos, a decisão sobre quais vigas serão consideradas como apoio
das demais, pode ficar bastante prejudicada. Estes apoios sofrem “recalques”
que podem provocar uma sensível redistribuição de esforços entre as vigas
envolvidas. Este fenômeno pode ser chamado de efeito grelha. Ele aparece
quando se tem cruzamento de vigas hiperestáticas sem pilar de apoio e é
função da rigidez a flexão dos elementos envolvidos. Assim, o detalhamento
convencional pode conduzir a um comportamento inadequado das vigas em
serviço, com a presença indesejável de fissuras muito abertas ou flechas
exageradas. Estas podem provocar, também o aparecimento de fissuras e
trincas nas paredes.
É imprescindível, nestes casos, a análise do piso, modelando-o como grelha.
Os exemplos seguintes ilustram as diferenças de comportamento resultantes
da consideração ou não do efeito grelha.

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6m 6m

V1 (15x50)

P1 (20x50) P2 (20x50) P3 (20x50)


2,5 m

(1,73 tf/m)
P4 (20x50) V2 (15x50) P5 (20x50)

(2,19 tf/m)

V5 (15x50)

V6 (15x50)
V4 (15x50)

P6 (20x50) V3 (15x50) P7 (20x50) P8 (20x50)

Figura 1.1 – Forma esquemática do piso

Conforme mostra a fig. 1.1, não existe pilar no cruzamento das vigas V2 e V5 poderia
ser considerada apoio da V2. Os diagramas de momento fletor correspondente às
modelagens como viga e como grelha estão indicados na fig. 1.2

Figura 1.2 – Momento Fletor

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Resultados (admitiu-se fck = 20 MPa e aço CA50)

V2, como viga :

Mvão = 5,55 tf.m M apoio = -9,86 tf.m

As = 3,94 cm2 (2 φ 16 mm) As = 8,94 cm2

w = 0,29 mm < 0,3 mm a ≅ 0,2 mm (mat. homog.)

V2, na grelha :

Mvão = 6,74 tf.m (+21%) M apoio = -5,15 tf.m (-47%)

As = 4,80 cm2 As = 4,03 cm2

w = 0,36 mm > 0,3 mm ( ! ) a ≅ 0,6mm (mat. homog.)

V5, como viga :

Mvão = 25,91 tf.m V = 12,5 tf

As = 19,55 cm2 Ast/s = 7,75 cm2/m

V5, na grelha:

Mvão = 22,40 tf.m (- 14%) V = 11,6 tf (-7%)

As = 16,72 cm2 Ast/s = 7,02 cm2/m

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A fig. 1.3 ilustra a configuração deformada podendo-se notar o aumento sensível das
flechas na modelagem como grelha.

Figura 1.3 – Configuração deformada

Conclusão:

Na presença de apoios indiretos, a modelagem mais realista do piso como grelha


mostra que os esforços solicitantes e os deslocamentos podem ser
significativamente maiores que os obtidos na análise simplificada de vigas isoladas.
Essas diferenças podem afetar seriamente o comportamento da estrutura em
serviço, comprometendo a segurança estrutural e qualidade final da construção.
Dessa forma, nestes casos, o projeto do piso deve considerar, também, os
resultados da modelagem na grelha.

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Observações:

Em grelhas de concreto armado deve-se adotar valores reduzidos de momento de


inércia com a finalidade de considerar a queda de rigidez provocada pela fissuração.
Em geral, considera-se a rigidez à flexão, e reduz-se proporcionalmente a rigidez à
torção, ou seja mantém-se o momento de inércia da seção á flexão e diminui-se
parcialmente o momento de inércia à torção. Admitindo-se as perdas de rigidez
indicadas a seguir:

Na flexão ≅ 2,5 e
Na torção ≅ 15

Resulta: 15 = 6 , isto é uma redução de 6 vezes para o momento de inércia à torção.


2,5

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