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AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DO PEELING DE FENOL COM ÓLEO DE CROTON

Bruna Nunes da Silva (PIBIC), Aline da Silva Justo (Coorientadora),Flávio Luís


Beltrame (Orientador), e-mail: flaviobreltra@gmail.com.

Universidade Estadual de Ponta Grossa/ Ciências Farmacêuticas.

Farmácia e Farmacognosia

Palavras-chave: Regeneração, Croton tiglium, Epiderme.

Resumo
A beleza é cultivada pelo ser humano desde os tempos antigos, buscando-se desde
essa época tratamentos para eliminar alterações e imperfeições da pele. Essas
imperfeições/alterações podem surgir pelo envelhecimento desse órgão, que leva
como consequência a degeneração nas fibras de colágeno e elastina constituintes
da derme e diminuição da espessura da epiderme. Entre os tratamentos utilizados
na tentativa de se restabelecer as características da pele, está o uso médico da
fórmula de Hetter que é conhecida na prática médica por peeling de fenol com óleo
de croton (Croton tiglium). O uso dessa formulação visa à regeneração da pele
através da indução da destruição da epiderme e derme, seguido de um processo
inflamatório, resultando assim na reconstrução dos tecidos em questão. Entretanto,
essa formulação apresenta poucos estudos sobre sua concreta ação nas camadas
da pele. Dessa forma, o presente trabalho busca avaliar o efeito da aplicação da
fórmula de Hetter sobre a pele e determinação dos efeitos sobre esse tecido.

Introdução
Desde a antiguidade o ser humano se preocupa com a aparência e busca
métodos para reduzir os danos gerados com o tempo e eliminar o que não considera
como ideal de beleza. Com o passar dos séculos a preocupação e cuidado com a
pele continuaram a ser considerados pelas pessoas e até mesmo tiveram
aumentadas as preocupações e ações, surgindo também, novos produtos que
garantiram ao ser humano uma melhor aceitação e melhora da sua aparência
(AGUERO, STELLA, 2007; MARTÍNEZ-GONZÁLEZ et al., 2014).
A pele é o maior órgão do corpo humano e possui a função de proteção
contra agentes nocivos e se constitui em barreira contra a perda de água; ela é
formada pela epiderme, derme e hipoderme. Com o envelhecimento ocorrem
alterações degenerativas nas fibras de colágeno e elastina da derme e a diminuição
da espessura da epiderme, levando a alterações na elasticidade da pele (VIRMOND
et al., 1997).
Na busca de mecanismos para prolongar as características teciduais da
pele e diminuir a ocorrência de alterações degenerativas causadas pelo
envelhecimento natural, cientistas veem desenvolvendo estudos sobre diferentes
procedimentos. Dentre esses procedimentos, destaca-se o chamado peeling, que se
caracteriza pela ação de substâncias cáusticas sobre a pele que vem a exercer uma
destruição da derme e epiderme, levando a um processo inflamatório seguido da
regeneração do tecido, assim reduzindo os sinais indesejáveis do envelhecimento.
Dentre as substâncias utilizadas para realização do peeling, estão o fenol, ácido
salicílico, resorcinol, óleo de croton e ácido tricloroacético. Essas substâncias
destroem a epiderme e derme de forma controlada e estimulam um processo
inflamatório, induzindo assim a reconstrução do tecido e promovendo a redução de
rugas, cicatrizes, marcas e sinais de envelhecimento (FISCHER et al., 2010).
Tendo o fenol uma ação descamante amplamente conhecida sobre a
pele, em 1960 Baker e Gordon desenvolveram um produto contendo além do fenol,
uma mistura de óleo de Croton tiglium, tensoativo e água, que de acordo com seus
criadores, resultavam uma melhor regeneração e cicatrização da pele (VELASCO et
al., 2004; FISCHER et al., 2009).
Mais recentemente Hetter (HETTER, 2000) propôs alterações nas
quantidades de fenol e óleo de croton baseado na fórmula descrita por Baker e
Gordon justificando alcançar melhores resultados e atender melhor as expectativas
dependendo da região do rosto que era aplicada. Essas novas fórmulas são, nos
dias atuais, utilizadas constantemente pelos médicos dermatologistas apesar de não
existir muitos estudos referentes ao seu real efeito sobre a camada da epiderme e
derme.
Sendo assim, esse trabalho possui com o objetivo avaliar
dermatologicamente o efeito do peeling de fenol com óleo de croton, avaliando a
espessura da epiderme (empregando a corante hematoxilina-eosina (HE)) em
suínos após a aplicação da formulação.

Material e Métodos
Preparo das amostras
Inicialmente, antes da aplicação das amostras, foi preparada uma solução
estoque contendo 4% de óleo de croton e 96% de fenol a 88%. A partir dessa, foram
determinadas as amostras/soluções de aplicação, juntando a solução estoque, água
e Septisol® (detergente e possui ação bacteriostática), formando a fórmula de Hetter
(Controle positivo- C+,). O controle negativo (C-) foi feito associando apenas água e
Septisol®. As amostras/soluções utilizadas para os experimentos foram preparadas a
partir de informações contidas em Hetter (2000).

Avaliação in vivo
Os animais foram tranquilizados com Acepromazina (0,4 mg/Kg), Cetamina
(14 mg/Kg) e Xilasina (0,2 mg/Kg) aplicados via intramuscular, anestesiados por
inalação com Isofluorano em uma concentração alveolar mínima de 1,2 a 1,7% e
foram mantidos inconscientes com Propofol (5 mg/Kg) por via intravenosa. Na
sequência foi realizada a raspagem dos pelos e feita as demarcações na região
dorsal e lateral esquerda dos animais com caneta permanente em medidas de 2x2
cm com espaçamento de 2 cm entre cada área. As amostras foram aplicadas com
swab de forma aleatória e randomizada.
Após 1, 7 e 21 dias, foram retiradas amostras do tecido (biópsias) com
punch de 4 mm de diâmetro. As biópsias foram armazenadas em frascos contendo 5
mL de solução de formol à 10%. Após 72 h, o conteúdo do frasco foi trocado por
etanol P.A até o processamento das amostras no histotécnico (LEICA ® TP 1620).
Após as amostras terem passado pelo histotécnico, elas foram incluídas em parafina
histológica. Os cubos de parafina com as amostras foram cortados com o micrótomo
(LEICA RM 2125RT - foram feitos 2 cortes de cada amostra com espessura de 5 µm
cada). Após isso, as lâminas foram coradas com Hematoxilina e Eosina (HE).

Coloração histológica
Para a coloração HE foram utilizados os seguintes reagentes: Xilol,
Etanol, Hematoxilina de Mayer, água destilada e Eosina. Esta coloração foi utilizada
e a análise dos cortes foi feita utilizando o programa ImageJ ® 1.51j8. Os parâmetros
avaliados foram: espessura do epitélio (fotos ampliadas 200x). Foi obtido um n=80
para cada amostra/solução analisada para cada dia. Esse valor de n se refere a 4
animais, dois lados diferentes de cada animal, totalizando 8 biópsias, para cada
biópsias 2 lâminas e para cada uma foram fotografadas cinco áreas distintas. A
espessura do epitélio foi mensurada traçando uma reta calibrada (conversão de
pixels em µm). A calibração foi realizada com instrumentos do programa, e os dados
eram transferidos para uma tabela no Excel ®.

Estatística
A estatística dos resultados foi realizada pelo programa GraphPad Prism® 5.0
utilizando o método ANOVA (Analysis of Variance).

Resultados e Discussão
Foram realizadas as biópsias nos dias 1, 7 e 21 para a avaliação da
espessura do epitélio e analisadas com ampliação de 200x. No dia 1 não houve
diferença na espessura, entretanto nos dias 7 e 21 observou-se uma grande
diferença com o aumento significativo da espessura do epitélio (figura 1 e 2).
Figura 1: Gráfico referente a espessura do epitélio, após o peeling com fenol e óleo de croton.

Figura 2: Microfotografias da epiderme, referente aos dias 1, 7 e 21 (ampliação de 100x). C- (controle


negativo); C+ (controle positivo); D1 (dia 1); D7 (dia 7); D21 (dia 21).

Nas microfotografias do controle negativo não houve diferença com o passar


dos dias após a aplicação da solução, confirmando que os componentes presentes
no controle negativo não possuem atividade pró inflamatória sobre a pele.
Entretanto, comparando o C- com o C+ observa-se a diferença na
espessura da epiderme nos dias 7 e 21 pela ação do fenol e óleo de croton contido
na formulação (controle positivo), confirmando assim o efeito pró inflamatório que os
compostos acima fornecem com o intuito de destruição das camadas da epiderme e
derme e em seguida a regeneração natural e fisiológica das mesmas.
O aumento da espessura da epiderme ocorreu porque houve um processo
inflamatório causado pelas substâncias presentes na solução do peeling e
consequentemente se formou um quadro hiperplásico pseudo–epiteliomatosa na
região de aplicação. Esse processo acontece pelo tratamento ser agressivo sobre a
epiderme que leva a necrose desse tecido. Para remover as células mortas o
organismo desenvolve um processo de eliminação das camadas necrosadas,
ocorrendo a expansão do epitélio hiperplásico e o amadurecimento dos
queratinócitos, para assim o material lesado ser expelido (AKILOV et al., 2007;
LYNCH, 2004).

Conclusão/Conclusões
Considerando que a espessura da epiderme aumentou após a aplicação
da solução de Hetter em comparação ao controle negativo, se pode inferir que
substâncias presentes na solução contendo fenol e óleo de croton promovem um
processo inflamatório. Na sequência ao processo inflamatório gerado, se observa a
regeneração da pele.

Agradecimentos
Agradeço a instituição de financiamento CNPq por proporcionar a bolsa o qual
ajudou com os estudos, agradeço também aos conhecimentos passados a mim pelo
Professor Flávio, a minha co-orientadora Aline Justo e aos demais alunos da pós-
graduação e pela oportunidade de estar inserida ao um grupo de pesquisa.

Referências
AKILOV, O. E.; DONOVAN, M. J.; STEPINAC, T. CARTER, C. R.; WHITCOMB, J. P.;
HASAN, T.; MCDOWELL, M. A.; T helper type 1 cytokines and keratinocyte growth factor
play a critical role in pseudoepitheliomatous hyperplasia initiation during cutaneous
leishmaniasis. Archives of Dermatological Research, 2007.
AGUERO, L. C. L.; STELLA, A. M.. Anesthetic dermatology through the time. Rev Argent
Dermatol, Buenos Aires, v. 88, p.227-233, 2007
FISCHER, T. C., et al. Chemical peels in aesthetic dermatology: an update 2009. Journal of
the European Academy of Dermatology and Venereology, v. 24(3), p.281-292, 2010.
HETTER, G. P.; An Examination of the Phenol–Croton Oil Peel: Part II. The Lay Peelers and
Their Croton Oil Formulas; Plastic and Reconstructive Surgery, Ontario, Canadá, v. 105,
n. 1, p.240-248, 2000, b.
LYNCH, J. M. Understanding pseudoepitheliomatous hyperplasia. Pathology Case
Reviews, 2004.
MARTÍNEZ-GONZÁLEZ, M. C.; MARTÍNEZ-GONZÁLEZ, R-a.; A GUERRA-TAPIA,.
Aesthetic dermatology and emotional well-being questionnaire.Journal of Cosmetic
Dermatology, v. 13, p.336-345, 2014.
VELASCO, M. V. R. et al. Facial skin rejuvenation by chemical peeling: focuson phenol
peeling . AnBrasDermatol, Rio de Janeiro, v. 79, p.91-99, 2004.
VIRMOND, M..Rugas faciais. In: DUERKSEN, Frank; VIRMOND, Marcos da cirurgia
reparadora e reabilitação em Hanseníase. AmericaLeprosyMissions, 1997. p. 141.

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