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CONTAM HISTÓRIAS
Saberes e Fazeres da Agricultura Familiar
FOTOGRAFIAS QUE CONTAM HISTÓRIAS: SABERES E FAZERES DA AGRICULTURA FAMILIAR
1A EDIÇÃO - RIO DE JANEIRO - 2022
© 2022 - INSTITUTO DE IMAGEM E CIDADANIA RIO DE JANEIRO/ ECOMUSEU RURAL
Realização
Apoio
FICHA TÉCNICA
Organização
Marjorie Botelho e Claudio Paolino
Fotografia
Claudio Paolino
Pesquisadora
Marjorie Botelho
Projeto Gráfico
Marjorie Botelho
Revisão
Nívea Segreto
https://ecomuseurural.wixsite.com/fotografias-que-cont
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos 09
Agricultores de Capim 93
Manuella Saldanha e Tomé Lemos - Trajano de Moraes
Ao longo destes últimos dez anos, tem estado à frente de inúmeros projetos voltados para a
valorização da agricultura familiar, desenvolvendo oficinas de educação patrimonial através
das artes visuais; produzindo livros sobre os saberes e fazeres do campo, além de
documentários abordando a diversidade cultural presente nas cantorias, na produção de
broa no forno à lenha, do fubá na moenda do moinho, entre outros. Produziu
documentários, tais como: Folia da Bandeira do Divino Espírito Santo, Rezas e Ervas, Toninho
– Mestre de Sabedoria Popular, Dona Jacira, Terrã Roma, entre outros. E livros como:
Agricultores do Estado do Rio de Janeiro, Patrimônio Cultural de Barra Alegre, Receitas de
Inhame, entre outros.
O estado do Rio de Janeiro é conhecido por ser o mais urbanizado do país, com 96% de
sua população em ambiente urbano, de acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que se trata da Unidade da Federação com
maior percentual de sua população residindo em área urbana. É também o estado com
maioria significativa da sua população residindo na região metropolitana: 74,0% do total
da população residente no território fluminense. Decerto, muitos fatores nos explicam
esta condição do estado, tais como a cidade do Rio de Janeiro ter cumprido função de
capital do país entre 1763 e 1960, a vinda da família real portuguesa ainda durante o
período colonial, que chegou a dobrar número de moradores na cidade e, por fim, o fato
da atual capital e o interior do estado terem tido ao longo da história diversos estatutos
jurídicos, nem sempre compondo a mesma unidade político-administrativa.
Além destes elementos que fazem parte da geografia histórica do nosso estado, há
outros fatores que nos ajudam a compreender as dinâmicas rurais fluminense: a intensa
urbanização acompanhada da especulação imobiliária, a manutenção da concentração
fundiária e a inexistência e/ou ineficácia de significativas políticas agrárias e alimentares
consolidam este cenário de esvaziamento pelo qual passou o interior do estado e que
levou a uma considerável dependência do interior em relação à sua capital.
Este desafio, que apresenta contornos próprios e bastante críticos para a realidade
fluminense, não é “privilégio” nosso. Frente à tendência de crescimento das cidades e do
processo de urbanização no mundo, ampla literatura acadêmica tem se esforçado para
analisar a forma como estas transformações reverberam no espaço rural e no cotidiano de
quem produz alimentos no campo. Porém, vale destacar que parte dessa literatura mostra
as formas como o rural permanece e se reinventa, fazendo cair por terra o prognóstico
anunciado desde a revolução urbano-industrial sobre seu fim.
Pelo contrário, o que se apreende muitas vezes são manifestações de outras formas de
rural emergindo, que nos provocam a suplantar uma ideia de contradição tácita e
antagônica entre rural e urbano. Inclusive, se historicamente a noção de rural fora implícita
ou explicitamente associada à ideia de atraso e à carência de serviços - visão esta que
compromete a construção e condução de políticas para estas áreas – são diversos os casos
nos quais espaços rurais têm atraído novos habitantes, frente aos dilemas da urbanização.
Surge, então, para além da ideia de um rural, a existência de uma ruralidade, que pode ser
compreendida como uma forma de inserção do mundo rural no conjunto da sociedade, o
que significa compreender sua relação com a cidade, cada qual com sua função, numa
relação social de solidariedade. Ela diz respeito a uma forma de organização da vida social,
levando em conta, especialmente, o acesso aos recursos naturais e aos bens e serviços da
cidadania; a composição da sociedade rural em classes e categorias sociais e os valores
culturais que sedimentam e particularizam os seus modos de vida. Outro elemento chave
na construção desta categoria é compreender o espaço rural para além da atividade
agrícola, englobando outras sociabilidades e dinâmicas produtivas. Entendo, assim, que a
ruralidade envolve múltiplas identidades em construção.
Voltando ao nosso estado, frente a tantos desafios: afinal, qual o lugar do rural e do campo
no espaço fluminense? Apesar de, do ponto da construção estratégica de políticas, este
estado historicamente abrir mão de construir uma estratégia de desenvolvimento rural
que coloque o direito à terra e ao território e a produção de alimentos num lugar de
centralidade, a agricultura fluminense existe e resiste. Esta é a tônica que diversos atores
sociais do rural fluminense e suas distintas formas de fazer agricultura têm anunciado e
aos quais faço aqui coro.
Discorrer sobre a agricultura e o rural fluminense é um exercício de equilíbrio entre uma
necessária crítica à fragilidade da ação pública estatal, no tocante às agendas da agricultura
e da alimentação, ao mesmo tempo em que é imprescindível que se visibilize e se valorize
as diversas práticas agrícolas e as formas sociais presentes no rural fluminense, composta
por uma diversidade de sujeitos: quilombolas, indígenas, caiçaras, pescadores/as,
camponeses/as, agricultores/as produtores rurais, dentre outros/as.
EMILIA JOMALINIS
Mulher, feminista e militante pela agroecologia no estado do Rio de Janeiro. É mestra em Geografia pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro e Doutora em Ciência Sociais pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em
Desenvolvimento Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Para mais textos sobre estas discussões:
BITOUN, Jan; MIRANDA, Lívia, SOARES, Fernando, LYRA, Mª Rejane; CAVALCANTI, Jeremias-
Tipologia Regionalizada dos Espaços Rurais brasileiros. In Carlos Miranda (org.) Tipologia
Regionalizada dos Espaços Rurais brasileiros: Implicações no Marco Político e nas Políticas
Públicas. Brasília, IICA, 2017.
CARNEIRO, M.J. Rural como categoria de pensamento. Ruris. 02 (01), março 2008
RIBEIRO, Miguel A. Tipologia das atividades turísticas: o exemplo do estado do Rio de Janeiro.
IN: Geo UERJ Revista do Departamento de Geografia. UERJ, RJ, n. 13, p.27-38, 2003.
RUA, João. Urbanização em áreas rurais no estado do Rio de Janeiro. In: MARAFON, G. J. &
RIBEIRO, M. F (orgs.). Estudos de Geografia Fluminense. Rio de Janeiro: UERJ, 2002. p.43-70.
STRAUCH, Guilherme de F. E.; PALM, Juliano Luis. Uma leitura da trajetória histórica de
construção da política estadual de agroecologia e produção orgânica (Peapo) no estado do
Rio de Janeiro. In.: SABOURIN, Eric et. Al. Construção de Políticas Estaduais de Agroecologia e
Produção Orgânica no Brasil: avanços, obstáculos e efeitos das dinâmicas subnacionais.
Curitiba: CRV, 2019
VEIGA, José Eli da. Nascimento de outra ruralidade. Estud. av. [online], vol.20, n.57, 2006
Maria Oneida Sandra de Castro nasceu no distrito de Barra Alegre e Jorge Castro no município de
Trajano, no vilarejo conhecido como Monte Café. Ambos trabalham na agricultura desde
pequenos, pois seus pais eram agricultores. Eles se conheceram no distrito de Barra Alegre e se
paqueravam indo para a missa, caminhando pelas estradas, mas mantendo sempre uma
distância de quase um metro, pois naquele tempo não podia nem dar as mãos. Também
trocavam cartas já que não havia telefone. Até que Jorge pediu aos pais para namorar com ela e,
depois de quatro anos, se casaram e vieram morar no sítio que estão até hoje.
Ao longo destes anos, principalmente no início, passaram muitas dificuldades, pois não havia
estradas para carro, e tinham que fazer tudo a pé. Não havia encanamento, a água vinha de
banqueta e não tinha energia elétrica. Eles recordam que a primeira televisão em preto e branco
que compraram precisava de uma bateria de 20 kg, tipo de caminhão. Para carregar, precisava
levar na casa dos pais da Oneida, a fim de botar no gerador, o que permitia assistir apenas
metade das novelas, pois a bateria não dava. Depois compraram a geladeira, que era a gás, um
botijão de gás por mês, e assim foi até chegar a luz, há uns 30 anos, o que possibilitou terem um
pouco mais de conforto.
Eles estão casados desde 1976 e têm um casal de filhos e três netos. Moram no sítio São Jorge e
vivem da agricultura, produzindo diferentes culturas, ou seja, alimentos diversos como repolho,
batata inglesa, banana, taioba, pimentão, laranja, entre outros. Também são conhecidos na
região por conta da Folia de Reis e das inúmeras cavalgadas que realizam em dias festivos em
homenagem aos santos padroeiros.
Atualmente tem sido cada vez mais difícil ter mão de obra para trabalhar no campo. Eles dizem
que, se não colocar a mão na massa, não terá comida para colocar no prato de toda gente. A lida
no sítio é diária, tem serviço todos os dias, de segunda-feira a segunda-feira. Se a roça não
planta, a cidade não janta, diz Jorge Castro, que compartilha que a labuta é dura e, muitas vezes,
as pessoas não sabem o trabalho que dá. No entanto, eles seguem resistindo, dia e noite,
cuidando da plantação, para poder fazer chegar na mesa das pessoas um alimento produzido
com suor e dedicação. Seu filho mais velho e a nora trabalham na agricultura também e, hoje,
são quem garante a renovação geracional no campo.
Além do trabalho na agricultura, eles têm mantido viva uma importante manifestação popular
do nosso país, a Folia de Reis, conhecida na comunidade como Bandeira do Divino Espírito
Santo. A folia nasceu em 1976 e, desde então, nunca mais parou. Apenas no período da
pandemia do Covid-19 interromperam as atividades para manter os protocolos de segurança
previstos. Atualmente a folia envolve 25 foliões e, no período de dezembro a janeiro, visitam
diversos municípios da região serrana, como Duas Barras, Macuco, Cantagalo, Bom Jardim, Nova
Friburgo, entre outros.
Além das saídas da folia pela comunidade com os foliões e da participação nos circuitos pelos
municípios da região, eles mantêm em casa um oratório, o Santuário do Reisado, onde guardam
a bandeira, os instrumentos e o presépio. E realizam encontros de Folias de Reis em São José do
Ribeirão, onde convidam folias de reis da região, que se apresentam no coreto do distrito.
As cavalgadas acontecem há mais de 20 anos. Entre as mais antigas, está a cavalgada de Nossa
Senhora Aparecida, que acontece há 15 anos, sempre dia 12 de outubro, sendo considerada a
maior cavalgada do distrito de Barra Alegre em Bom Jardim, pois envolve mais de 300 cavaleiros.
As cavalgadas movimentam um recurso importante para a região: gera renda para quem
trabalha com selaria, pois vende arreio, para quem vende ferradura, para amansadores de
cavalos, entre outros.
Também fazem o encontro de fusca, conhecida como baratinha antiga, para divulgar o valor do
fusca para quem mora em comunidades rurais. Eles estão sempre lutando para valorizar a
cultura rural, pois acreditam que é importante preservar os modos de vida presentes no campo,
onde conviveram a vida toda.
Na pandemia mantiveram a venda de seus produtos para o CEASA, pois tinha pouco comprador
direto por causa do perigo do Covid-19, mas consideram que não foi ruim, pois puderam se
dedicar mais ao plantio e aumentar sua produção. Mas não tem sido fácil manter a produção,
pois atualmente os insumos estão muito caros. E quando a produção empaca, acabam perdendo
muito dinheiro. Contudo, como o prazer de plantar é grande demais, eles nunca param.
AÇAÍ JUSSARA CONSTRUINDO AUTONOMIA
Ludmila Zaiden e Diogo Busnardo - Vargem Alta - Nova Friburgo
Eles chegaram na região serrana em 2016 e alugaram uma casa durante sete meses na
Fazenda Monte Cristo, no município de Trajano de Morais. Quando perceberam que
haviam encontrado o lugar que gostariam de morar, resolveram comprar um sítio, em
Vargem Alta, no município de Nova Friburgo. Inicialmente não queriam comprar nesta
localidade, conhecida como a segunda maior produtora de flor de corte do país, por
conta do uso intensivo de agrotóxico utilizado na produção de flores. A vida, no entanto,
os levou para essa localidade para plantarem as sementes da agroecologia.
A história do açaí acompanha Diogo, desde quando morava em Viçosa, onde aprendeu
a subir na palmeira e processar o fruto em um projeto que instituiu a Rede Jussara.
Atualmente uma das formas de geração de renda vem da produção de açaí tipo A que,
apesar de levar água na extração, tem uma consistência pastosa que não se encontra
na região.
Eles vivem buscando a maior autonomia possível, pois a missão é serem responsáveis
pelas ações que empreendem, seja no autocuidado, na saúde, na alimentação ou na
educação. O sítio, intitulado um sítio-escola, foi rebatizado com o nome Terra-Sol e a
proposta é ser um laboratório vivo e uma escola de práticas e saberes do bem viver,
fazendo com que o fazer seja sensato e o aprendizado aconteça na lida com a terra, no
cuidado com a saúde, na alimentação saudável e na educação diferenciada, onde o
indivíduo é inteiro e traz seus saberes, trocando e aprendendo com os saberes do outro.
AGROECOLOGIA NA FAZENDA MONTE CRISTO
Nina Ramos e Guilherme Erthal - Monte Café - Trajano de Moraes
Nina Celli Ramos nasceu em 07 de agosto de 1986. Vem de uma família que migrou nos
idos dos anos 80 da cidade do Rio de Janeiro para o sul de Minas Gerais e pode conviver
com unidades de conservação e com famílias que cultivavam orgânicos desde pequena.
Com o retorno da família para a cidade, sentia necessidade de voltar para roça e para
Minas. Foi fazer graduação em Biologia na Federal de Viçosa, onde participou de
movimentos agroecológicos, trabalhou no CTA/ZM (Centro de Tecnologias Alternativas
da Zona da Mata) e concluiu mestrado em Ecologia, focando em Agrofloresta e
Agroecologia. Guilherme Stutz Erthal nasceu em 24 de outubro de 1986 e é descendente
de duas famílias tradicionais do município de Bom Jardim, Stutz e a Erthal. Ele morou na
Fazenda Monte Cristo quando tinha entre 3 e 4 anos de idade, mas viveu boa parte da
sua adolescência e juventude em Nova Friburgo. Depois foi estudar agronomia na
Universidade Federal de Viçosa onde participou do grupo Apeti e de projetos de
extensão e que possibilitaram intercâmbios com os agricultores e mutirões em
propriedades rurais, integrando conhecimento teórico com o prático.
Eles não tinham recursos, mas tinham o principal - a terra -, e também o conhecimento
teórico aliado às vivências agroecológicas vividas junto aos agricultores mineiros. Além
da vontade de querer produzir, da disposição e motivação para regenerar a propriedade
da família, de querer agroflorestar o mundo. E foi assim que começaram as plantações,
os manejos e as reformas. Se tivesse leite, faziam queijo e iogurte. Com a máquina de
desidratar faziam bananas, plantavam broto de girassol, pois tinha um retorno mais
rápido.
Atualmente moram no Sítio Córrego Alto, que um dia fez parte da antiga Fazenda São
Lourenço, em Trajano de Moraes, considerada uma importante fazenda na região,
tendo sido uma das maiores produtoras de café nos anos 1850 e, posteriormente, de
produção de cachaça, conhecida como cachaça São Lourenço. Quando resolveram
morar na fazenda, quiseram resgatar a tradição, reativando o alambique para a
produção de cachaça, que batizaram de Cachaça do Tomé, mas como a produção não
era muito barata e precisava de muitas pessoas trabalhando, resolveram se dedicar a
outras frentes.
Manu e Tomé desejavam investir em algum tipo de produção que permitisse mais
segurança, por isso foram experimentando possibilidades no terreno, cedido pela mãe,
para ver o que seria mais viável naquelas terras, que estavam abandonadas e que
durante anos serviram apenas para pasto. Passaram um bom tempo plantando
orgânicos, mas enfrentaram um dilema, por conta da quantidade de capim, que por
mais que cortassem, seguia se expandindo.
A sensação que eles tinham era de que estavam sempre perdendo terreno para o capim.
Outro problema que enfrentavam era a ausência de assistência técnica para orientar
sobre práticas de cultivo, adubação, insumos orgânicos, entre outros. A solução que
encontraram foi migrar as atividades para a pecuária, tornando como se
autodenominam: agricultores de capim. A partir daí passaram a estudar e pesquisar
alternativas de assistência técnica e de geração de renda, e encontraram a Cooperativa
de Macuco e o projeto Balde Cheio do SENAR.
No Brasil, a pecuária extensiva tem sido a mais difundida, mas eles optaram por
produzir em áreas de piquete, conhecida como pecuária intensiva, onde o gado fica
numa área demarcada, enquanto as outras áreas ficam descansando por trinta dias.
Esse processo impede o pisoteio no solo, dando tempo do capim se regenerar,
permitindo que sempre tenha capim com uma altura que proteja o solo e que sempre
tenha capim para alimentar os animais. Eles também têm uma produção de bezerros,
pois as vacas precisam parir para darem leite. No entanto, para aumentar a produção,
precisam piquetear todas as áreas.
Outra forma de geração de renda tem sido a venda de bezerros e também a venda de
leite para a Cooperativa Macuco, da qual são filiados, o que permite uma venda
garantida. No início tiravam leite duas vezes ao dia, de domingo a domingo, para garantir
uma produção maior de leite, mas avaliaram que essa rotina era muito cansativa para os
animais e também para eles. Agora seguem o que chamam de “meio-termo”, tirando
leite apenas uma vez por dia, o que diminuiu a produção, mas deu mais qualidade de
vida na rotina. Da produção, uma parte segue para a Cooperativa e a outra eles
processam, o que tem permitido retornar as atividades de comercialização entre amigos
e em feiras.
CUIDADORES DE ANIMAIS E ECONOMIA CIRCULAR
Patrícia Guedes e Paulo Ricardo Rafael - Lumiar - Nova Friburgo
Eles dividem as tarefas para darem conta de tudo: enquanto um cuida da horta e do
horto de plantas (que tem várias espécies de suculentas, antúrios, entre outras
ornamentais), o outro vai tirar capim para alimentar cavalos e cabritas. Também dividem
as tarefas de limpeza do sítio, cuidados com o quintal, arrumação dos quartos da
hospedaria, mais uma alternativa encontrada para complementar a renda da família e
também uma forma de dar oportunidade a outras pessoas de conhecerem esse estilo
de vida.
Eles recebem muitos visitantes que se hospedam no sítio para curtir a natureza e
também para acompanhar as atividades diárias, participando de oficinas sobre ervas
medicinais, de produção de remédios caseiros, além de conhecer como se ordenha e se
produz leite de cabra. Eles também gostam de processar os alimentos que cultivam no
sítio e de fazer comida gostosa, com alimentos frescos, orgânicos e com uma carne
totalmente caipira. Então, vira e mexe, quem visita a propriedade, conhecida como Sítio
Recreio, se delicia com geleias, bolos, doces caseiros, galinha caipira, costelinha de
porco, e muito mais.
Ao longo destes anos, eles têm construído o que consideram uma economia circular,
tentando garantir que o sítio seja o mais produtivo possível, ao mesmo tempo que
preservam o meio ambiente e mantêm vivos os saberes e fazeres do campo. Assim, além
de produzir o próprio alimento, a produção de animais e de seus derivados, como
queijo, leite, ovos, entre outros, também têm sido comercializados para a população
local e para os visitantes, contribuindo para a geração da renda familiar.
Outra atividade que adoram fazer, e que fica na responsabilidade do Paulo, é preparar
potros para serem montados, possibilitando que o animal possa participar de
cavalgadas. Durante uns 2 meses e meio, os animais são amansados e ficam prontos
para cavalgar.
A Biblioteca de Artes Visuais Conceição Knupp Amaral foi uma homenagem às mulheres
do campo. Seus livros fazem parte do prêmio Ludicidade do Ministério da Cultura,
recebido pela entidade por conta do reconhecimento do trabalho de valorização da
memória local com fotografia artesanal. Tem também um acervo constituído por livros,
dvd’s, cd’s de artes visuais indicados pela FUNARTE e uma exposição permanente de
máquinas fotográficas antigas. As ações da biblioteca visam fomentar a leitura visual e as
artes visuais, através de oficinas que envolvem diferentes linguagens artísticas, tais como
fotografia, cinema, escultura, pintura, entre outros. Também garante o acesso ao livro e
estimula a leitura através de atividades como contação de história, apresentação teatral,
dança e música, além de oficinas e diversas linguagens artísticas que estimulam a
criatividade e fomenta a produção artística.
O Galpão de Artes foi todo construído de madeira, pelo agricultor Zaga Mafort, e tem na
sua arquitetura a lembrança das construções realizadas pelos antigos moradores. Esse
espaço, batizado como Galpão de Artes Mafort, homenageia a família de mais esse
Mestre, que cumpriu um importante papel para o desenvolvimento dessa região na
época do plantio do café e, também, na preservação das folias.
Esse espaço tem sido ocupado por diferentes atividades, como apresentações de teatro,
de circo, rodas de conversa, ensaios do grupo folclórico, do mineiro pau, encontro de
folias, entre outros. Ele mede aproximadamente 60 m² e tem capacidade para 60
pessoas sentadas em cadeiras e quase o dobro de pessoas sentadas no chão e/ou em
pé.
Ambos são responsáveis pelo conjunto de ações realizadas pelo Instituto de Imagem e
Cidadania, ao longo destes últimos quatorze anos, estando à frente de inúmeros
projetos voltados para a valorização da cultura presente nos territórios rurais, através
de oficinas de educação patrimonial, das artes visuais, da produção de livros sobre os
saberes e fazeres do campo, além de documentários abordando a diversidade cultural
presente nas cantorias, na produção de broa no forno à lenha, do fubá na moenda, do
moinho, entre outros. Ao longo dos anos, produziram documentários, dentre eles:
Folia da Bandeira do Divino Espírito Santo, Rezas e Ervas, Toninho Mestre de Sabedoria
Popular, Dona Jacira, Terra Roma, entre outros. E livros como: Agricultores do Estado do
Rio de Janeiro, Patrimônio Cultural de Barra Alegre, Receitas de Inhame, entre outros. A
produção deste livro integra as ações de valorização da cultura rural e da agricultura
familiar e agroecológica, partilhando histórias de famílias que estão no campo
contribuindo para garantir a produção de alimentos para a sociedade.
Realização
Apoio